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História DOBRA NO TEMPO - Thomas Shelby - Capítulo 012


Escrita por: Istref1

Capítulo 12 - Capítulo 012


Fanfic / Fanfiction DOBRA NO TEMPO - Thomas Shelby - Capítulo 012

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Quando o dia amanheceu, uma chuva impiedosa castigava Birmingham. Amara espiou da janela, tentando reunir coragem para pôr os pés para fora de casa. Voltou atenção para o Watson em suas pernas, fazendo anotações no caderno sobre a família Shelby e o esquema que provavelmente havia dado todo o poder para Thomas. As armas roubadas da Líbia com toda certeza teriam trazido ainda mais ambição para o líder da gangue Peaky Blinders, e colocado o inspetor Campbell em seu pé como um cão de caça. Ela se recordou das próprias pesquisas, ainda que poucas, sabia que mais ou cedo mais tarde, Thomas alcançaria o glorioso sucesso se tornando assim, um homem quase invencível, ficando mais aliviada em saber que o inspetor não levaria a melhor nessa briga.

Seu interior aqueceu ao lembrar-se do beijo da noite passada. Thomas realmente estava mexendo com sua cabeça, tirando todo o foco que ela deveria manter enquanto estivesse presa aquele tempo. Gritou internamente para manter o foco e venceu por algumas horas. Quando o tempo ruim pareceu dar uma trégua, Amara fez o caminho para a casa dos Shelby, a fim de saber o estado de Ada e do bebê que havia ganhado. Ainda se lembrava bem do percurso que havia feito até lá, antes de ser deixada em casa. Antes que pudesse bater na porta, ela foi aberta por Polly. Amara ergueu o queixo e exibiu o melhor dos sorrisos para a mais velha, mesmo que não recebesse o mesmo.

— O que quer? — Polly perguntou, não se preocupando em disfarçar o semblante de desgosto do rosto.

— Vim saber como Ada e o bebê estão. — Disse. Tentou espiar por cima do ombro da mulher, mas foi inútil. Polly fechou a porta atrás de si, colocando todo o corpo para fora de casa.

— Ela foi embora com o bebê. — Respondeu a mais velha.

— Aconteceu algo? — Perguntou ela, preocupada.

— Não é da sua conta, garota. — Disse lentamente. Amara soltou um suspiro nasal. Polly era tão arisca e fechada quanto Thomas, talvez ele tivesse herdado isso dela.

— Eu só quero saber como ela está.

— E eu quero que minha família volte a ser como antes, mas não podemos ter tudo que queremos. — A mulher disse, ameaçadora.

— Você tem razão. — Amara deu um meio sorriso. Desviou o olhar para baixo, percebendo que Polly carregava uma cesta com frutas, legumes e pães, praticamente uma cesta básica para prover boa saúde a alguém. — Acho que você estava de saída, eu também preciso ir.

Amara abriu caminho para Polly, recebendo um olhar julgador que a intimidou. A mulher conseguia causar um efeito amedrontador com poucos movimentos. Amara deixou que a Shelby mais velha fosse à frente, algo dizia que ela a levaria até Ada. E de fato, o caminho feito por Polly levava ao lugar onde provavelmente a Thorne se escondia com o filho. Amara aguardou alguns minutos próximo a uma floricultura. Polly não demorou tanto quanto a Flynn esperava. Minutos depois a mulher saiu carrancuda, com passos firmes e rígida, enquanto segurava a mesma cesta de mantimentos. Algo desagradável havia acontecido naquele curto período.

Antes que pudesse descer as escadas, Amara se certificou que ninguém a veria. Se Ada estava abrigada naquele porão, era por um motivo óbvio: Thomas ou qualquer outra pessoa jamais deveria saber sua localização. À medida que descia aquelas escadas, sentiu o frio e a escuridão envolver seu corpo. Quando um rato grande e cinza cruzou seu caminho, se perguntou como Ada estava vivendo naquelas condições, mas com certeza, ela faria qualquer coisa para manter distância da família Shelby.

— Ada! — Amara chamou, batendo algumas vezes na porta. Mesmo que o silêncio fosse ensurdecedor, Amara sabia que alguém estava do lado de dentro. — Eu sei que está aí, abra, eu estou só. — Fez uma pausa quando ouviu passos serem dados do outro lado. — Eu vim por conta própria! — Concluiu.

Não houve resposta. Amara bateu o pé no chão, impaciente. Ouviu um barulho baixo de bebê, seguido por um choro. Ada com certeza estava ressentida por algum motivo. Algo caiu do lado de dentro, fazendo a criança se assustar e chorar ainda mais alto. Aquela situação era angustiante, Amara odiava o choro de crianças e principalmente quando não podia fazer nada a respeito.

— Eu posso ajudar você. O bebê parece inquieto. — Disse, tentando outra abordagem. — Eu queria ter ficado para ajudar você, mas sua tia não permitiu. — Amara girou a maçaneta, na esperança de achá-la aberta. Sem sucesso. — Fique sabendo que ficarei aqui até você abrir.

— Por Deus, você é mais insistente que a Polly — Ada reclamou ao abrir a porta. — O que quer?

A palidez estampava a face de Ada, o que assustou ainda mais Amara. A criança em seu colo chorava, apertando as pequenas mãos rosadas em volta da roupa maltrapilha da mãe. Amara piscou algumas vezes assimilando tudo. O odor que vinha daquele quarto também não era mais o agradável, então teve que abrir os lábios para poder respirar.

— Vim ver se está bem. — Amara disse. Seguiu Ada para dentro, notando a bagunça que havia no pequeno cômodo.

— Meu irmão contou para você? — Ela se virou, furiosa. Balançava a criança no colo, ainda sem jeito. Ada era uma jovem mãe, pedindo por socorro por detrás de todo seu orgulho estampado em seus olhos cinzas.

— O que aconteceu? — Amara uniu as sobrancelhas. Ada bufou.

— Thomas entregou o meu marido para as autoridades, agora ele vai ser sentenciado à morte por lutar pelo que é certo. — Lágrimas escorreram pelo rosto jovem de Ada. Amara engoliu seco, não sabendo o que dizer. — Não fique surpresa, Thomas é capaz de eliminar qualquer pessoa para seu proveito, até seus melhores amigos e família.

— Thomas é movido pela ganância e isso não me surpreende mais. — Amara deu um passo largo até Ada. Não sabia uma forma melhor de consolar a jovem. Ela desviou o olhar para o bebê, era um garotinho, forte e saudável. — Eu sinto muito por seu marido. A propósito, tem um belo filho.

— Ele se chama Karl, em homenagem a Karl Marx. — Disse Ada, com orgulho. Amara exibiu um riso curto, estendendo os braços.

— Posso segurá-lo? — Pediu.

— Ah! Por favor. — Disse ao entregá-lo. — Não sabia que ter um filho seria tão exaustivo. Ele só chora, mama e faz coco, sem o Freddie aqui, fica tudo mais difícil. — Se lamentou. Amara balançou o bebê, murmurando uma música de ninar. — Você parece ter tanta prática com bebê, já teve filhos?

— Não, nunca tive. Ele ficou quieto, pois não sente o cheiro de leite em mim. — Amara explicou. — Posso te ensinar alguns truques, fui babá na época do colegial. — Disse. Então mordeu a língua ao receber um olhar confuso da Thorne.

— Por favor, eu aceito todas as dicas que me der. — Ada cruzou os braços. Naquele momento, ela queria apenas algo para acalmar a criança, do que explicações sobre o passado de Amara. — A propósito, como me achou?

— Não foi o Thomas que me mandou aqui e não se preocupe, ele jamais saberá sobre esse lugar. — Amara se sentou na cama de colchão fino e surrado, colocando o bebê entre dois travesseiros pequenos. — Fiquei preocupada com seu estado, sei que não era a hora desse garotinho vim ao mundo. Fui visitá-la, mas sua tia disse que você tinha ido embora, então a seguir. — Amara falou, enquanto empurrava suavemente as pernas do bebê em direção ao abdômen.

— Foi um parto difícil, mas a nova esposa do John me ajudou. — Ada se aproximou da cama, percebendo que aos poucos o garotinho adormecia. — O que você fez?

— Ele precisava dormir, estava chorando devido às cólicas. Além disso, crianças também sentem os estresses dos pais, no seu caso, principalmente. — Amara disse antes de encará-la. — Sobre a acusação... Tem certeza de que o Thomas fez isso? Mandou seu esposo para cadeia?

— Quem mais delataria que o Freddie estava na cidade? — Ela disse atravessada. — Nunca vou perdoar o Thomas por isso, ele nunca vai conhecer o sobrinho.

— Essa é uma decisão que só cabe a você. — Disse ao se levantar da cama. Amara passeou o olhar pelo cômodo, era pequeno, escuro e abafado. Aquele ambiente não estava fazendo bem a Ada e muito menos para o pequeno Karl.

— Eu sou tão ignorante. — Ada murmurou com raiva, tomando atenção de Amara. — Não ofereci a você um chá, mas pensando bem, não tenho ervas para preparar um. — Ada caminhou até uma prateleira quase vazia. — Não tenho nada...

— Talvez não devesse recusar as cestas da sua tia. — Amara sugeriu. — Você está amamentando, precisa se alimentar bem.

— De onde você caiu, Amara? — Ada a encarou por cima do ombro. — E por que trabalha para meu irmão? Sabe que é boa demais para estar no meio desse fogo cruzado. Faça um bem a si mesmo, vá embora dessa cidade enquanto é tempo!

— Eu não trabalhava para seu irmão antes. — Amara caminhou até a porta, ignorando as outras palavras de Ada. Ela poderia ir embora se ao menos tivesse para onde, mas era tarde para isso. — Quando o Karl chorar, mesmo amamentado e limpo, faça uma compressa de água morna e ponha na barriga dele ou massageie suavemente com movimentos circulares, provavelmente são cólicas. — Ela disse. — É bom saber que está bem, mesmo que seja na medida do possível.

— Se importa realmente comigo? — Ada ergueu uma sobrancelha.

— Por que eu não me importaria?

— Nunca tive amigas de verdade. — Ela sorriu sem graça. No fundo, aquele riso representava o desgosto que sentia do tratamento que recebia das pessoas apenas por ter irmãos e um sobrenome perigoso. — Todos sempre tiveram medo de mim e dos meus irmãos. Como sempre, todos temem os Shelby, mas diferente deles, eu prefiro ser amada a temida.

— Que bom que não tenho medo dos seus irmãos e garanto a você que é muito amada pelo seu esposo e por sua família também. — Amara retribuiu o sorriso. — Fique bem, Ada e pequeno Karl.

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As palavras de Ada ainda latejavam na mente de Amara. Duvidava muito que Thomas tivesse delatado o próprio cunhado, aquilo parecia algo armado, o Shelby não deixava de ser um homem cercado por inimigos. Sendo verdade ou não, sabia que essa traição dificilmente seria perdoada. Ada estava certa sobre uma coisa, Amara era boa demais para estar no meio daquele fogo, mas esse era um caminho sem volta. O pub estava quase vazio, exceto pelas vozes que vinham do escritório. Amara encarou o balcão de bebidas observando o modo habilidoso que Harry tinha em servir clientes. Ele gostava do que fazia, certamente, não teria sido fácil vender o Garrison para os Shelby ou ter entregado por uma quantia significativa.

— Não vou decepcioná-lo, Thomas. — A voz feminina disse do lado de dentro. Amara esticou o pescoço para o escritório, tentando espionar quem falava de modo tão íntimo com o senhor Shelby.

Poucos segundos se passaram até que uma mulher loira saiu de dentro da pequena sala. Usava peças simples, mas ainda bem apresentadas. Ela sorriu e acenou para Harry, como se o conhecesse de velhos tempos. Seu olhar pousou sobre Amara e a avaliou por poucos tempo. Um riso fino se formou nos lábios femininos, antes de abrirem para falarem.

— Deve ser a Amara. — Ela se aproximou do balcão. Estendeu a mão coberta por uma luva branca para a garçonete. — Me chamo Grace.

— Grace... — Amara murmurou o nome.

Amara fitou a mão, mantendo as próprias bem presas em volta de uma caneca. Grace encolheu o braço, ainda sorrindo afetuosa para a garçonete, uma encenação barata que costumava fazer sem muito esforço. Tinha algo estranho naquela mulher, embora Amara não soubesse ainda. No entanto, algo gritava em seu interior que Grace com certeza não era quem dizia ser, uma energia densa e traiçoeira a cercava. Amara sentiu a tensão nos ombros quando Thomas saiu do escritório segundos depois. Ele a encarou, quase exibindo um pequeno riso de canto, mas manteve a seriedade quando percebeu outras pessoas no lugar.

— Thomas, posso começar o trabalho hoje, se preferir. — Grace se adiantou, fazendo Thomas parar no meio do caminho.

— Ótimo. Preciso que organize minha agenda. — Ele disse, sem encará-la nos olhos.

— Algum compromisso importante que devo deixar em vermelho? — Ela perguntou. Thomas desviou o olhar para Amara, pensativo.

— Sim, direi mais tarde. — Respondeu rapidamente.

— É bom voltar a trabalhar aqui. — Ela disse. Amara piscou, saindo aos poucos do estado catatônico. — Obrigado pela oportunidade, Thomas.

— Já trabalhou aqui antes? — Perguntou Amara, um pouco mais alto do que pretendia.

— Ah! Eu não diria que trabalhei. — Ela sorriu sem achar graça. — Foi uma experiência rápida, antes do Harry decidir que eu era melhor como cantora do que como garçonete.

O tic estalou na mente da viajante. Amara se recordou do que Harry havia dito, logo após sua chegada ao Garrison. Grace tinha sido a primeira candidata ao cargo de garçonete, mas não conquistado a vaga. Naquele momento, o interior de Amara congelou ao criar uma teoria a respeito da loira à sua frente. Grace poderia ser a tal espiã, amando de Chester, ela retornará para terminar seus serviços, agora, trabalhando pessoalmente para Thomas. Aos poucos, o quebra cabeça se montava, se tornando o jogo mais arriscado que Amara podia presenciar.

— Vou voltar ao escritório, com licença. — Disse a loira, girando os calcanhares para os fundos novamente.

— Podemos conversar? — Thomas perguntou a Amara, percebendo como a novaiorquina parecia pálida.

— Sim. — Amara respondeu baixo, ainda mantendo o olhar na porta do escritório.

Com passos quase automáticos, Amara seguiu Thomas para fora do Garrison, olhando para trás hora ou outra, para saber se não estavam sendo seguidos. Uma coisa era certa para Amara, aquela situação estava ficando cada vez mais fora de controle. Eles pararam próximo a um canal aos fundos do Garrison. Thomas levantou a boina, querendo de alguma forma, desvendar o que a mulher a sua frente sentia.

— Você não parece bem. — Disse ele. Amara sorriu sem graça.

— Eu estou... Só não esperava ver que iria arrumar uma secretaria tão depressa. — Ela deu um passo para trás. Thomas franziu o cenho.

— Eu tinha urgência. — Ele segurou o pulso de Amara, impedindo que ela se distanciasse ainda mais. — Grace era garçonete em outro pub que eu costumava frequentar, ela é bem... Prestativa.

— Prestativa? — Amara se soltou dele, erguendo as sobrancelhas.

— Não da forma que pensa. — Ele deu um meio sorriso. Embora Grace também fosse bela e despertasse certos desejos, Amara era a única que invadia seus sonhos no meio da noite.

— Vai dizer tudo a ela? — Amara olhou para os lados. — Principalmente sobre seus... esquemas?

— Haverá coisas que ela precisará saber, mas ela vai cuidar somente da parte da empresa e da economia do Garrison. — Ele disse. Era óbvio que Thomas não entregaria todos seus negócios a uma quase estranha, apesar de precisar passar algumas informações a ela. — O que você achou dela?

— O quê? — Aquela pergunta a pegou de surpresa.

— Preciso de uma opinião feminina, e no momento a pessoa que costuma fazer isso me odeia, então, só me resta você. — Thomas disse. Embora Polly sempre se atrevesse a dar opiniões até quando não era chamada, sentia falta de quando ela não fazia isso. Ele dava ouvidos a ela, quando se sentia perdido no meio das próprias decisões, algo que raramente acontecia.

— Acho que não deve confiar nela. — Amara disse rápido. Thomas travou o maxilar, intrigado. Por mais que Amara quisesse revelar o que havia deduzido a poucos instantes, sabia que também colocaria a própria cabeça na guilhotina, ela também estava espionando Thomas. — Digo, o quanto você realmente a conhece?

— Não se preocupe com isso, serei cuidadoso com a senhorita Burgess. — Ele disse. Levou uma mão para o queixo dela, puxando-a para frente. Thomas se lembrava do sabor que aqueles lábios rosados possuíam e gostaria de podê-los experimentar novamente. — Tenho mais uma coisa para falar com você.

O coração de Amara acelerou com aquelas palavras. Por que de uma hora para outra se sentia tão nervosa com cada palavra que Thomas dissesse? Se achou uma tola, quase como uma adolescente apaixonada, o que não era seu caso, não naquele momento.

— Meu irmão Finn faz onze anos em alguns dias, gostaria de levá-lo ao campo, tirá-lo um pouco dessa cidade cinza. — Disse.

— Como um piquenique? — Amara questionou. Thomas confirmou, em silêncio. — É uma boa ideia. Precisa de ajuda com as coisas?

— Eu gostaria que você fosse, sinto que também precisa sair um pouco dessa cidade caótica. — Ele a encarou, esperando alguma reação. Amara exibiu um belo sorriso.

— Thomas Shelby me fazendo um convite para um passeio decente? Isso está mesmo acontecendo? — Ela brincou.

— Você aceita?

— Com uma condição. — Ela disse. — Levarei a Sarah.

— A Lowry mais nova? — Thomas questionou.

— Ela e o Finn são amigos, além de crianças, merecem um lugar calmo para brincarem. — Disse. Thomas deu de ombro.

— Tudo bem. Boa sorte com isso, sabe que Ariana me detesta, não é? — Ele disse ao se aproximar dela.

— Eu dou meu jeito. — Deu de ombro.

Amara sentiu o coração acelerar quando Thomas serpenteou sua cintura com um único braço. Encarar aqueles olhos azuis com o oceano fazia com que seus desejos e pecados fervessem em uma só sintonia. Por um momento, O Shelby parecia outra pessoa, um homem qualquer que buscava o sucesso e não um criminoso calculista e temido por toda Birmingham. Amara gostaria de dizer que não estava se deixando seduzir, mas não podia negar que se sentia atraída pelo gangster. Em toda sua vida, nunca havia sentido tal sentimento. O perigo que Thomas exalava, a excitava de uma forma selvagem e perigosa. Contudo, se apaixonar por um homem como ele estava fora de cogitação, no entanto, desejá-lo não soava errado. Thomas Shelby era atraente em todos os modos e ela era uma mulher com desejos e hormônios queimando a flor da pele.

Thomas a beijou de forma leve, saciando o desejo de experimentá-la novamente. Gostava da combinação dos lábios macios e firmes que Amara possuía, eles o excitavam antes mesmo de trocá-lo. Thomas se afastou dela, segurando algumas mechas de cabelo escuro que voavam devido ao vento. Ainda havia questões que ele gostaria de levantar, Amara não deixava de ser um enigma em sua vida. No entanto, não sabia ainda se realmente gostaria de ouvir tudo que ela possivelmente tinha para dizer. Pela primeira vez em muito tempo, ele estava sentindo algo que acreditava ter se apagado com a guerra.

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TRÊS DIAS DEPOIS

Os dias passaram rápidos. Com o fim do expediente, Amara se preparava para partir. Seu olhar se prendeu a Grace sentada sobre uma cadeira, concentrada enquanto organizava algo nas agendas. A encenação da mulher incomodava, mesmo que nenhum diálogo tivesse sido trocado entre elas o dia inteiro ou durante os dias que se passaram. Grace era discreta, chegava cedo e saía tarde, não era de conversa tanto, pelo menos, não com a garçonete. Amie também notou a ausência de Campbell lhe pedido por mais informações, fazendo que todas suas teorias se encaixem perfeitamente: Grace realmente era uma espiã. Amara nunca pensou que um dia fosse se sentir péssima por ajudar a derrubar um criminoso, mas Thomas não merecia tanta traição. A chegada de Grace ao Garrison a havia pegado desprevenida, mas demonstrava o quanto Chester estava desesperado para derrubar os Peaky Blinders.

Grace levantou o olhar, abrindo um riso para a garçonete quando surgiu à sua frente. Ela era exatamente como Campbell havia descrito. Realmente era bela, o suficiente para chamar atenção de Thomas e roubar a função que cabia somente a Burgess, ao menos, Grace tinha se poupado de ir para a cama de gangster para conseguir informações. Amara desviou o olhar para as agendas sobre a mesa, voltando atenção para a nova secretária novamente. A porta do pub foi aberta, assustando as mulheres. Por um momento, Amara esperou que fosse Thomas, mas quem entrava pelas portas duplas era Arthur. Ele cumprimentou as duas, indo direto para a caixa registradora com certa inquietação.

— Senhoritas. — Ele disse. — Pegarei cinco libras no caixa.

Amara desviou o olhar para Grace, confusa.

— Não tem cinco libras no caixa. — Amara respondeu.

— Pegarei o que tiver. — Arthur não esperou por respostas. Precisava do dinheiro para uma boa causa, assim acreditava.

— Não esqueça de deixar um recibo. — Grace disse. — Arthur, tem algo que não bate nos livros.

— É o que é, Grace? — Ele perguntou, entediado e impaciente.

— Toda semana pagamos uma libra e dez xelins por correio para um tal de Daniel Owen em Londres. — Grace perguntou. Amara ergueu uma sobrancelha surpreendida com tamanha naturalidade que Grace usava naquele momento. Torceu internamente para Arthur não falar demais, sabia que ele dava com a língua nos dentes facilmente.

— É o Danny Whizz-Bang, ele é responsável por vigiar os nossos outros Pub. É um bom homem. — Arthur disse, enfiando todas as moedas para o bolso.

— Achei que ele estava morto. — Grace pareceu surpresa.

— Achou errado. — Arthur disse, voltando atenção para ela. — Foi só um teatrinho barato que o Thomas fez para agradar os Italianos.

— Então... Quem está na cova dele? — Ela perguntou. Arthur bufou, dando a volta no balcão.

— Como se já não bastasse uma garçonete curiosa, agora o Thomas me contrata uma secretária ainda mais curiosa. — Ele disse, mal-humorado. — Escuta, Grace, se você for esperta, não vai fazer perguntas sobre o que não é da sua conta, nunca mais, me entendeu? — Seu tom de voz saiu ameaçador, fazendo Grace engolir seco. Amara sentiu que o recado também era dado a ela, já que Arthur desviou o olhar na sua direção. — Vou deixar duas moedas para as moças não me delatarem para o Thomas, estamos entendidos?

— Sim. — Responderam elas, juntas.

Arthur saiu do pub tão apressado quanto entrou. Grace voltou atenção a uma agenda, dando olhares vazios para as páginas. Amara conhecia aquele olhar, a espiã do Chester estava ligando os pontos que Arthur havia deixado escapar. Ele deveria ter mais controle sobre a língua ou acabaria com os negócios do irmão, antes que começasse de verdade.

— Você ainda está aqui. Posso ajudá-la? — Grace perguntou notando a presença da garçonete. Amara arrastou os dedos sobre a mesa, puxando um papel para ler, era uma tabela de valores de bebidas, nada importante para Grace.

— Vai informar a ele o que acabou de ouvir? — Questionou, erguendo uma sobrancelha. Aquela era uma boa hora de jogar verde.

— Perdão? Informa a quem? — Grace forçou um riso. Amara revirou os olhos, deixando a folha sobre a mesa.

— Podemos pular a parte que você tenta esconder quem realmente é. — Amara disse. O riso de Grace se desfez para uma linha dura, não tinha mais o que disfarçar. — Diferente deles, eu não caí no seu truque.

— Tem tanta certeza, querida? — Grace se levantou da cadeira, ficando alguns centímetros mais alta que Amara. De uma hora para a outra, a nova secretária havia perdido o personagem, revelando quem realmente era. — Sei muito sobre você, principalmente que matou um homem.

— Por legítima defesa. — Amara deu um passo.

— Ainda assim, o matou. — Grace rebateu. — Foi seu pior erro, você se colocou nas mãos de Campbell e não tem como fugir disso ou pelo menos, não sabe como. Qualquer vacilo que der, cairá dos dois lados. Thomas não perdoa traidores e Campbell adora prender malfeitores. — Grace sentia prazer em dizer aquelas palavras, os olhos verdes da garçonete pareciam fuzila-la. — E você minha querida, é as duas coisas.

— Eu não sou uma peça de tabuleiro, Grace. — Disse entredentes. — Eu faço meu jogo e não o inspetor ou Thomas Shelby. — Amara deu mais um passo, a encarando de perto. — Não queria desapontá-la tão cedo, mas Chester nunca vai conseguir derrubar o Thomas.

— Como tem tanta certeza? — Grace perguntou.

— Intuição. — Amara sorriu secamente. — Quando encontrar seu chefe, e eu me refiro ao verdadeiro, diga a ele que eu não faço mais parte desse esquema. E eu torço muito para que o Thomas tenha piedade desse seu lindo rostinho.

— O que vai fazer? — Grace se levantou quando viu a garçonete caminhar para a porta. — Você está se colocando em perigo, sabe disso.

— Eu sei me cuidar, ou esqueceu que já matei um homem fazendo isso? — Soou ameaçadora. — Não cruze meu caminho ou pise na minha sombra, eu estou aprendendo muito vivendo entre os Peaky Blinders. — Ela sorriu mais uma vez. — Pense bem no que dirá a Campbell quando for vê-lo. Às vezes não é o destino quem decide nosso futuro, querida.

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Amara não esperava receber tantos olhares feios ao perguntar o caminho do cemitério, aquele era um lugar que ninguém gostaria de ir. Ela sabia que teria que ser mais rápida de Grace, seria questão de tempo para que a espiã falasse algo a Chester. Amara pulou sobre alguns matos e praguejou ao pisar em esterco. Mas todo seu esforço tinha um propósito, ver com os próprios olhos o lugar onde Thomas escondia as armas. Arthur era um grande fofoqueiro, mas naquele momento, a havia ajudado.

O sol estava se pondo. Amara apressou os passos entre as lápides, procurando pelo nome Danny Whizz-Bang ou Daniel Owen, como Grace mencionará. Sua atenção se prendeu a uma pequena estaca de madeira, separada de todas as outras lápides de concreto. O nome Daniel Owen estava pintado de preto assim como a data de nascimento e morte. Ela se ajoelhou, não se importando em sujar as roupas. A terra escura era fria, não havia mato o que significava que aquela cova era nova e mais fundo do que deveria. Um material estranho a cobria, como se protegesse o que estava no fundo. Não tinha tido oportunidade de conhecer Daniel para saber de fato a importância dele para Thomas, mas Grace sim, ela estava na cidade muito antes da chegada de Amara.

— O que faz aqui? — Aquela voz a pegou de surpresa. Amara evitou soltar um grito de susto ao ser surpreendida por Thomas.

— Eu... — Tentou fórmula as palavras. Seu olhar parou em Finn, ainda mais curioso. — Thomas, eu preciso falar algo para você, em particular.

— Precisa? — Ele disse. Tirou a boina da cabeça e coçou o espaço entre as sobrancelhas. — Finn vai para casa.

— Mal chegamos... — O garotinho disse, emburrado, se calando ao receber um olhar ameaçador do irmão mais velho. — Tudo bem.

Amara uniu as mãos em frente ao corpo, o vento frio contribuiu para seu nervosismo, deixando a palma da sua mão ainda mais gelada. Pensou como contaria tudo a Thomas, mas aquele era o momento e não tinha mais como fugir disso.

— O que quer me dizer? — Perguntou ele, impaciente.

— Tem a ver com o que me perguntou há alguns dias. — Ela começou. — Sobre Grace, ela realmente não é quem diz ser.

— Não? — Ele não parecia surpreso. — Quem ela é, Amara?

— Uma espiã. — Disse de uma vez. Thomas desviou o olhar para o horizonte. — Ela sabe sobre seus negócios, você precisa agir antes que...

— Campbell chegue até mim? — Ele completou. A encarou novamente. — O que você sabe sobre ele?

— Sei que um homem que age pelas linhas tortas da lei. — Amara disse. O vento soprou seu cabelo para o rosto. Thomas deu um passo até ela.

— O que mais sabe sobre ele? — Questionou.

— Que está atrás de você. — Amara sentiu o coração acelerar. O olhar inexpressivo que recebia de Thomas a assustava. Sua calmaria a deixava em pânico.

— Como sabe de tudo isso? — Ele inclinou o rosto, a encarando profundamente.

— Porque ele me procurou para espionar você. — Disse de uma vez. Thomas parou onde estava, boquiaberto, assimilando tudo. — Na primeira vez eu não aceitei. Mas na segunda, não tive como recusar, ele me ameaçou.

— O que contou a ele, Amara? — Thomas perguntou lentamente, parecia controlar a raiva com toda força que podia.

— Nada que entregasse você. — Disse rápido. — Ele queria eu me envolvesse com você para achar as armas que roubou da Líbia. — Thomas puxou o ar para o pulmão, se decidindo se estava com raiva ou não da mulher a sua frente. — Ele quer derrubar você, levá-lo à forca por qualquer merda que fizer.

— E, porque só agora está me falando isso, porra? — Thomas disse alto, não tinha mais como controlar a raiva. — O que te fez mudar de ideia? Poderia ter me entregado, ou talvez, eles já estejam aqui para me prender. — Olhou em volta, de braços abertos.

— Não haja como um cuzão. — Amara deu um passo até Thomas, segurando o rosto do homem entre as mãos. Ele a olhou como se reprovasse o palavreado. — Eu nunca quis fazer parte disso, mas depois de ver a Grace no Garrison, percebi que esse homem é capaz de tudo, ele está desesperado, Thomas. Não quero ver você cair logo agora.

— Só por isso? — Perguntou quase em um sussurro. Ele estava decepcionado e ela entendia bem aquele sentimento. — Como sabe que as armas estão aqui?

— O Arthur, ele fala muito. — Amara respondeu, se afastou de Thomas, encarando o túmulo. — Tem que tirar as armas daqui a Grace vai contar ao inspetor e ele vai ter um motivo para levá-lo para cadeia.

Thomas não respondeu, seu coração se encontrava acelerado. Amara voltou a encará-lo, esperando por alguma reação. Ele estava quieto demais, pensava calculadamente no que faria. Caminhou de um lado para o outro, sentido a brisa soprar seu sobretudo para trás. Thomas passou a mão pelo cabelo, sabia que tinha algo errado em Grace, assim como sabia que algo muito errado acontecia quando Amara sumia dando desculpas esfarrapadas ou fazia todas aquelas perguntas sobre os negócios. Agora tudo estava explicado, ele estava sendo traído.

— Qual a minha sentença? — Ela perguntou. Thomas uniu as sobrancelhas, encarando-a novamente. — Trair sua confiança, mas de redimir, então mereço um desconto da raiva que com certeza está sentindo agora.

— Tem certeza de que Grace é uma espiã? — Ele perguntou. Amara confirmou em silêncio. Thomas passou a mão pelo cabelo, pensativo. — Eu vou te confessar uma coisa, realmente estou com as armas e elas se tornaram um fardo. Preciso me livrar delas. — Ele deu um singelo riso a Amara, um plano se formava na sua cabeça.

— E quanto a mim?

— Você vai me ajudar. — Disse. — Sinto que não teremos tempo para o piquenique, mas o Finn vai entender, negócios em primeiro lugar.

— Tommy, tenho outra coisa para te dizer. — Ela se aproximou dele novamente. — O motivo de Campbell ter me obrigado a fazer isso foi...

— Você matou o cigano Tom, eu sei. — Ele disse rápido, travando o maxilar. Ela não esboçou qualquer reação, no fundo, sentia que Thomas já sabia desse ocorrido. — Deveria saber que tudo que acontece aqui, chega até mim de uma maneira ou de outra.

— Nunca duvidei disso. — Ela disse. O sol se pôs completo no horizonte, trazendo uma brisa suave, porém gelada, assim como uma sutil escuridão.

— Que bom que o matou ou eu mesmo teria feito isso. — Ele disse, encarando o túmulo falso. — Eu quero que pegue essa raiva que sente no seu interior e use contra Campbell, é capaz de fazer isso?

— Sim! — Respondeu, firmemente. — O que vai fazer com a Grace?

— Eu vou cuidar dela, não se preocupe, ela vai continuar sendo minha falsa secretaria. — Thomas não parecia satisfeito com aquela decisão, mas conhecia os riscos que correria se a demitisse cedo, sabia que Amara era quem pagaria o preço mais alto. — Ela vai ficar pelo tempo necessário até eu derrubar o Inspetor.

— Não acha arriscado?

— Coragem e perigo dançam juntos. — Disse ele. — Vou mandar alguns homens ficarem de guarda onde você está vivendo, não diga nada a Ariana, ela já me odeia, não quero que ela passe te odiar por minha causa.

— Então, isso quer dizer que você não está com raiva do que fiz? — Amara perguntou. Thomas desviou o olhar para o céu limpo de nuvens. Era claro que sentia raiva dela, mas seus outros sentimentos falavam mais alto.

— Quando vi você pela primeira vez, achei que era uma ovelha entre lobos famintos. — Thomas a encarou novamente, um brilho sereno saía do seu olhar. — Mas agora vejo que você é mais um lobo caçando por algo. Eu a subestimei, Amara.

— E mesmo assim, sendo uma loba em busca de algo, não ficou com medo de que eu o matasse em algum momento? — Ela questionou, deixando um riso deslizar pelos lábios.

— Você não teria tanta sorte. — Disse ele, dando um passo para trás. — Vou voltar a confiar totalmente em você quando fizer exatamente o que eu mandar.

— O que eu tenho que fazer? — Ela perguntou alto. Thomas deu as costas, deixando claro o fim da conversa e enumeras questões não respondidas à mulher.

— Você vai saber quando a hora chegar. — Foi a última coisa que disse, fazendo o caminho para fora do cemitério. 

De tudo que podia presenciar naquele momento, aquelas palavras foram as que Amara mais detestou ouvir. Trabalhar para os Peaky Blinders, ou melhor, Thomas Shelby, era como está entre leões, Amara poderia ser uma boa domadora, mas uma hora poderia ser atacada cruelmente pelo líder do bando.


Notas Finais


Me sigam no Twitter às vezes solto uns spoiler por lá como gif e tals: Istreff1
https://twitter.com/Istreff1

Se gostam de ouvir musicas, saibam que fiz uma playlist muito boa no spotify para Dobra no Tempo, o link tá aqui:
https://open.spotify.com/playlist/2XFyVFCb8FyJvb0fcFGt87


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