História Doce Diário - Cap 4....................... 14.05.20..

Bom dia, diário, estou de volta, indo à escola, com caraminholas na cabeça pelo que aconteceu ontem, eu não sou muito de acreditar em fantasmas, mas olha, não tem explicação pro que eu ouvi ali, afinal, Nathaniel disse que nunca tem ninguém na escola de noite. Estava usando uma blusa lilás com babados na frente, e como não dormi muito bem, estava com preguiça de colocar acessórios, então coloquei apenas uma calça legging preta e botas vitorianas pra combinar.

Chegando na escola, me deparo com Ken, sentado bem em frente à entrada do corredor, com um bichinho de pelúcia nas mãos. Ele parecia triste.

-Bom dia, Ken, como vai? – perguntei, e ele então ergueu os olhos melancolicamente até mim.

-Bom Dia, Veronica, não vou muito bem – ele me estendeu o ursinho , e eu o peguei sem entender nada.

-O que houve? Você parece péssimo.

- Ontem, enquanto todos iam embora, Ambre e suas colegas pegaram meu material, e sujaram tudo com tinta preta, roubaram meu dinheiro, e quando eu tentei me defender, Ambre me jogou no chão com força, e então me chutou...num lugar...que digamos...dói muito. Ela disse que era uma pequena vingança.

- E por isso você não quer entrar na escola hoje?

-Não, não é que eu não quero, é que assim... eu disse à diretora o que havia acontecido, mas como não havia provas, ela não pode castigar Ambre, mas ligou pros meus pais, e isso foi uma desculpa para meu pai fazer uma coisa que ele tinha vontade há tempos, mas eu nunca deixei...

- O que?

-Me transferiu para escola militar! – MASOQUE? – Eu não estudo mais aqui, mas não se preocupe, eu voltarei em alguns meses, talvez daqui a um ano, mas eu volto, prometo. Meu pai disse que vai me tirar de lá quando perceber o resultado, até lá, fique com esse ursinho, pra você se lembrar de mim.

- Eu sinto muito pelo que aconteceu, meio que foi culpa minha isso, quando você voltar, vamos comer biscoitos, ok?

-Ele abriu um sorriso, me olhou com os olhos cheios de lágrimas, e assentiu.- fiquei muito triste por ele, mas fiquei mesmo é com raiva daquela patricinha, por isso ela sorria tanto ontem.

Eu entrei na escola como um furacão, fui direto a sala do grêmio, entrei de supetão, e lá vi Nathaniel mostrando uma papelada a Melody. Eles assustaram comigo.

-Posso falar com você?- perguntei muito séria a Nathaniel.

- Pode voltar daqui a cinco minutos? Estou meio ocupado aqui.

-Não, não posso esperar, é urgente! – Ele suspirou, ele e Melody se entreolharam, ele sussurrou algo pra ela como “já falo com você, tá?”, ela então se levantou e foi para fora, para nos deixar à sós, mas não parecia muito contente com a ideia, na verdade, parecia bem triste, não sei por que.

-Pronto, o que foi?

- Sua irmã humilhou, roubou e bateu no Ken, ontem.

-O QUE? – Eu expliquei toda a história, e ele ouviu pacientemente, boquiaberto, quando terminei, deu sua opinião.- Olha, eu não duvido de você, eu sei que depois que cresceu minha irmã não é mais flor que se cheire, mas realmente, a diretora não podia fazer nada sem provas, e sem que ninguém mais tivesse visto, mas eu vou falar com ela, e com nossos pais também, vou fazer o possível pra ajudar, pois achei muita crueldade da parte dela. Posso te ajudar em mais alguma coisa.

-Obrigada, não preciso de mai... NÃO, espera, eu quero saber mais uma coisa – e então contei a história do fantasma.

-Fantasma? Aqui na escola? Hahahahahahaha, ok, essa foi boa.

-É sério Nathaniel, pergunte a sua irmã, ela estava comigo.

-Olha...não fica ninguém aqui de noite, nem mesmo um guarda noturno, mas eu recomendo que você deixe isso pra lá, alguém pode ter tentado pregar uma peça em vocês, e se for pego aqui depois do horário, vai se meter numa bela enrascada. Bom dia. – Porra, Nath, você nem pra ajudar, né? Mas enfim, ele me pareceu muito desconfortável naquela hora.

Eu fui pra aula, e Rosa não estava lá hoje, porque tinha que terminar um trabalho de crédito extra por matar aula, eu estava com a cabeça tão longe que nem senti a falta dela ou de Ken, mas Castiel sentou-se ao meu lado alguns minutos antes da aula começar.

-Ei, que que houve com seu amiguinho nerd? – Eu expliquei a ele o que houve.- Tá de brincadeira, né? Nunca pensei que ela fosse capaz disso. Eu sei que ela é uma peste, mas também... a sei lá.

- É, na verdade, nunca pensei que ninguém fosse capaz disso, muito menos com alguém tão doce...Aliás, eu e Ambre quando estávamos pagando o castigo, ouvimos uma cantoria na escada de noite, uma voz muito bonita de homem, aquilo foi muito medonho, e então alguém saiu do porão.

-Voz bonita, é? Hahahahahahahah – ele tentou olhar pra trás pra ver alguém, não consegui ver pra quem ele olhou. – e vocês viram quem saiu do porão? ...Assim, só por curiosidade.

- Não, nós...é...saímos correndo...como se não houvesse amanhã.

-HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHA, QUE COMÉDIA!

- Fala baixo, idiota, eu sei que foi ridículo. Mas o que você acha que é? Pode ser um...fantasma?

-FANTASMA? HAHAHAHAHHAAHHAHA

-CASTIEL!

-Claro que não, haha, essas coisas não existem, deve ter sido a imaginação de vocês. Mas por via das duvidas, fique longe do porão de noite – ele disse isso com uma cara assustadora. E se sentou no fundo da sala.

Já era, eu estava decidida a ficar na escola de noite e ver o que estava acontecendo, esperei todos irem embora num lugar escondido, quando ficou bem escuro sai. Indo ao porão, derrubei minha mochila no chão, e ouvi barulho de passos indo ao porão, como se tivesse se assustado, corri para ver o que era, mas não vi nada, apenas um bloco de notas na escadaria que fica acima do porão. Eu abri o bloco, e na contracapa havia desenhos muito bonitos, tipo arabescos, dentro havia poemas, canções e anotações de todos os tipos, algumas páginas também foram preenchidas com esses arabescos lindos. Seja lá de quem fosse, parecia ser de alguém muito especial. Eu ouvi a porta do porão abrindo, me escondi no andar de cima, e então ouvi uma voz, muito familiar:

- Veronica, saia, eu sei que é você. – era Castiel. Coloquei minha cabeça para fora, e vi que era ele mesmo, e bem ao lado dele,  Nathaniel,  eu desci as escadas confusa, mas eles me explicaram melhor o que estava acontecendo – Eu roubei a chave do porão pra poder ensaiar com meu amigo nossas músicas, fiz uma cópia da chave, mas quando fui devolver, esse puxa-saco descobriu, e pra nós dois não ficarmos encrencados, escondemos isso de todo mundo, e eu e esse meu amigo continuamos ensaiando aqui de noite, foi ele que você ouviu cantando outro dia, VEM AQUI, LYSANDRE!

Saiu então do porão um garoto bem alto, mais alto que Castiel, ele usava belíssimas roupas vitorianas clássicas, sem nada de moderno nelas, uma camisa branca, um colete cinza escuro com vários botões dourados, um fraque da mesma cor, um par de calças pretas, botas e um lenço no pescoço verde água no pescoço, simplesmente fantástico, nem consegui ver o resto até ele chegar mais perto.

- Castiel, acho que perdi novamente meu bloco de notas. – ele realmente é o dono daquela voz linda.

-  DE NOVO? PORRA LYSANDRE... essa é a Veronica, aquela que eu falei, era ela que estava aqui enchendo o saco.

- Pronto – Nathaniel acendeu as luzes – não é bem menos sombrio assim?

-Muito prazer, bela senhorita – ele pegou minha mão e a beijou, corei ao receber o beijo – Eu sou Lysandre – Terminou sorrindo gentilmente. Cabelos brancos ondulados, com as pontas da parte da frente escuras, o lado direito mais comprido que o esquerdo, seus olhos por incrível que pareça eram um de cada cor, um dourado e um verde da cor de seu lenço. Ele tinha um rosto muito gentil, e bonito, me lembrava o Sebastian**, é o fantasma mais bonito que vi até hoje, hahaha.

-O prazer é todo meu, eu me chamo Veronica. – ele me olhava da cabeça aos pés, parecia que minhas roupas o intrigavam também.

- Ei, eu vou pegar o violão e a mochila, quer que eu pegue a  sua também? – perguntou Castiel.

- Sim, por favor.

- Eu também vou pegar minhas coisas, estão no segundo andar. – disse Nathaniel. Eu e Lysandre ficamos sozinhos no corredor, ele olhava para os lados intrigado, procurando algo no chão.

-Senhorita Veronica, você viu um bloco de notas preto com uma fivela prateada?

-Esse aqui?– Mostrei a ele o bloco que encontrei na escada. – E...me chame apenas de Veronica por favor.

-Oh, sim, é esse mesmo Senhori-perdão...Veronica. Eu sempre o perco...Por acaso, leu o que havia dentro?

-Bom, eu o abri e dei uma folhada, sinto muito.

-Eu não gosto muito que as pessoas leiam o que há nele, mas tudo bem, você não sabia.

-Você faz desenhos muito bonitos Lysandre, eu gostei muito, na verdade, achei o bloco todo muito especial. Meus parabéns.

- Muito obrigado – ele corou, e olhou para baixo.

- Suas roupas também são simplesmente fantásticas, eu adoro o estilo do século XIX, é o meu favorito.

-Muito obrigado, também percebi que suas roupas são inspiradas nessa época, nunca havia visto uma moça tão bem vestida, nem mesmo a namorada do meu irmão se veste assim.

-Obrigada, e, seus olhos são naturais? -A felicidade desapareceu de seu rosto por um segundo.

-Sim, eu sofro de uma doença chamada, heterocromia, ela não é grave só altera a cor dos olhos mesmo, sou assim desde pequeno, e por ser assim, e usar esse tipo de roupas, as pessoas normalmente pensam que sou uma atração de circo.

-Não, não, não, eu não penso nada disso, eu achei tudo em você muito legal, sério mesmo – coloquei a mão no seu ombro tentando faze-lo se sentir mais confortável, e ele sorriu meio de lado -  ontem quando te ouvi cantando, pensei que fosse um fantasma, porque não pensei que um ser-humano poderia ter uma voz tão bonita – ops, acho que falei de mais – quer dizer...eu te acho muito talentoso, quero ser sua amiga. – Ele sorriu, meio sem graça e tocou minha mão, que ainda estava em seu ombro, os meninos apareceram bem nessa hora, e nós fomos embora, os três me levaram até em casa, depois, cada um tomou seu rumo, acho um trio muito engraçado, Lysandre é tão calmo, Castiel e Nathaniel se odeiam e ficam se atacando toda hora, achei muito divertido ter a companhia dos três.

Amanhã quero falar com Lysandre de novo, ele me pareceu a pessoa mais interessante que conheci nessa escola, se não, a pessoa mais interessante que já conheci até hoje.

Boa noite, diário.