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História Doce Vingança - Psychosis


Escrita por: UchihaSpadari

Notas do Autor


Genteeee! Saudades d'eeeu?? Sinto muito pela demora ok???? Mas hoje fiquem felizes, tem tretaaaaa

Capítulo 16 - Psychosis






     -- Você não me escuta!


  Certo falatório tomava a galeria de fogos e produtos de artifício ao lado do salão principal, mesmo que alheios ao assunto que era tratado dentro daquela sala de dispensa afastada de onde o acúmulo de pessoas era maior. Shizune mantinha certo receio enquanto atendia dois jovens que estavam animados para o campeonato da NFL, sendo assim queriam incontáveis utensílios de pirotecnia para a partida que seria disputada essa noite, a mesma que estava sendo muito falada no decorrer da semana. Contudo, o receio partia quanto a conversa iniciada com ânimos elevados, isso desde que Sasuke chegara no trabalho trajando suas costumeiras roupas rebeldes.

 

  Sorriu para os rapazes entregando três caixas médias que acabara de lacrar, não gostaria de admitir, mas tinha que saber de uma vez sobre o rumo que aquela conversa estava tomando, ainda mais por reunir duas pessoas nada amistosas quanto a exaltação de ânimos. Girou a placa da porta alertando o fechamento do estabelecimento, enquanto desatou as persianas ao lado de dentro, dando então passos rápidos até os fundos da loja que mais parecia uma geladeira de tão fria. Escorou as mãos finas na barra gélida enquanto inclinou os seios rente ao cimento da parede tentando escutar o que ambos falavam, isto é, com mais precisão, afinal vez ou outra a voz alarmante de Tsunade se fazia presente mesmo estando afastados.


  Engoliu seco olhando a postura empertigada e farta de Sasuke. O moreno mantinha a mão ao queixo e outra a cintura, enquanto sussurrava palavras de deboche para si mesmo durante a sessão de desculpas dadas pela loira de decote enorme. Possuía certa incredulidade mista a raiva enquanto andava de um lado para o outro subindo as mãos finalmente até os cabelos negros, em um gesto de irritação prontamente visível pelos dentes rangendo gradativamente mais.


     -- Você destruiu a minha vida... -- O sussurro do moreno soou meio embargado enquanto Shizune fincou as unhas na madeira da porta. Realmente sabia que sua amiga extrapolou todos os limites dessa vez, mas ainda sentia pena a vendo assim. Permanecia acuada, certa tristeza no olhar enquanto tentava de maneira frustrante se justificar se aproximando dele. -- Eu tinha quinze anos! -- Tsunade se encolheu no instante em que Sasuke rasgou um grito ensandecido dentro daquela dispensa. Seus olhos mostravam ódio, totalmente diferentes do costumeiro imparcial e intransponível. -- Quinze anos quando me humilharam publicamente! Quinze anos quando passaram a me torturar diariamente! Foram dez anos de tortura... dez anos de castigos físicos... mentais... dez anos... Sabe quantos invernos como esse eu passei largado debaixo de grades? Quantas vezes me colocaram amarrado no pátio da prisão sem roupas e debaixo de neve? Faz idéia?

     -- Sasuke, e... eu não...

     -- Claro que não sabe! Não foi com você! Não foi com a sua filha ou sua mãe! -- O elevar daquele grito causava arrepio e susto para ambas, ainda mais para Tsunade, que permanecia estática e com a garganta seca ao unir as mãos ao peito. Ensandecido, completamente diferente do Uchiha sereno que cruzou a porta do estabelecimento com um sorriso frouxo e sem motivo essa manhã. Passava terror apenas pelos olhos. Completa agonia e medo. -- Tsunade... pela sua covardia eu perdi tudo. Minha juventude, felicidade, saúde. -- Sussurrou inclinando as costas na parede enquanto nem mesmo aguentava o próprio corpo naquele momento. -- Tenho os mesmos pesadelos todas as noites... Sabe o que é sentir pânico até de fechar os olhos quando deita? Pânico de estar sozinho em casa numa noite escura? Pânico de escutar vozes e não saber de onde elas vêm? Faz idéia de quantas imagens caóticas me assombram durante o sono? Eu não consigo dormir sem lembrar daquela Ilha... entende isso? Entende o que você fez? Eu sou o resultado disso, Tsunade. Isso foi o que você criou!

     -- E... Eu sinto... Sinto mui...

     -- Não sabe o quanto eu gostaria de matar você. -- Suas pernas tremeram no momento em que cruzou seu olhar nos orbes opacos e que transmitam exacerbado gelo. Os cabelos negros pairando lentamente pela face branca, como uma figura angelical e demoníaca por portar tanto ódio. -- Quero matar você... Quero matar Hiaishi... Quero matar Orochimaru... Quero matar Gaara. -- Sasuke se aproximou dela cuspindo essas palavras com um olhar indiferente e brutalmente imparcial. Caso não possuísse escrúpulos, acabaria matando a mesma nessa sala, mas não passavam de palavras ditas na raiva, ao menos no que se referia a ela. -- Obrigado por me destruir, não só acabou com a minha vida, você é a culpada por toda a desgraça que aconteceu com a minha mãe nesses últimos anos. Culpada pela doença dela estar tão grave...

     -- Não sabe o quanto eu me arrependo.

     -- Me faz um favor. -- Tsunade olhou nos olhos dele não negando o medo que esfriou sua espinha. Arfou quando sentiu o respirar dele, quente, pesado, furioso. -- Enfia esse seu arrependimento de merda no... -- Respirou fundo olhando os olhos marejados enquanto apertou a carne das mãos pressionando os punhos. -- Quero que carregue essa culpa até o dia da sua morte e sofra com ela. Quando então morrer, vá pro inferno com a sua covardia repugnante... Seu lixo imundo.

 

 

  O baque alto ao chão revelou a haste de aço caída, deixando para trás uma Tsunade com lágrimas aos olhos e certo tremor pelo excesso de raiva que presenciou do moreno. Observou o mesmo saindo com os ombros retraídos e passos rápidos até bater de maneira forte a porta de vidro do estabelecimento. Shizune correu em direção a loira a abraçando enquanto o soluço da mesma inundou a dispensa gélida dessa manhã de nevasca. Falhou, era tão culpada quanto Hiaishi, omitiu a verdade, guardou os fatos. No fim das contas, merecia o ódio dele.


  Sasuke, por sua vez, apenas apertou o passo sem rumo naquela calçada de cor cinza, sob a neve silenciosa e com as mãos trêmulas afundadas nos bolsos do casaco grande. Todas as ruas sentiram a madrugada, todas cobertas por camadas espessas de brancura extensa e atraente. Olhava os carros enquanto atravessava a avenida molhada que era tomada por incontáveis enfeites, desde as caixas enfeitadas com lâmpadas, até as mais belas árvores espalhadas por cada esquina de comércio. Contudo, nem mesmo lembrar de Hinata nesse instante conseguia amenizar a derrota que seus ombros sustentavam ao caminhar com lentidão, nem mesmo seus lábios rubros e macios, ressecados por tanto gemer palavras desconexas durante a madrugada, o interior quente e apertado que penetrou por ótimos momentos, seguido dos olhares tórridos que ela lançava.

  Tão frágil, única em riqueza de detalhes.

  Filha de Hiaishi.

  Primogênita do homem que o destruiu...

  Bufou o ar frio que acumulava dureza em seus lábios e nariz, sentindo de maneira rápida uma pressão forte na cabeça, a mesma que o forçou a se sentar naquela espécie de quiosque bem enfeitado com luzes e pequenos globos, uma bela e pequena cafeteria de esquina. Sua garganta rangia enquanto uma intensa vontade de chorar parecia se fazer presente a cada imagem sangrenta que o atormentava.

  Não poderia ceder. Tinha de ser forte.

  Chorar demonstrava toda sua fraqueza escondida, todo o declínio de sentimentos que as circunstâncias da vida lhe causaram, cada machucado, trauma, ferida, fosse ela corporal ou emocional. Lembrava como em flashes cada sessão de choque que recebeu, as duas vezes em que acordou da morte causada, ofegante e desesperado em uma ambulância suja daquela Ilha, sendo cuidado por paramédicos que pareciam mais querer que ele morresse de uma vez.

 

  Tantas injúrias que faziam a seu irmão, ameaças a saúde de sua mãe, assim como deboches pelo estado precário em que ela se encontrava agora sozinha. Sussurros imundos que marcavam a cada dia sua cela.

 

  Traidor.

 

  terrorista.

 

  maldito.

 

  Cada tortura que Orochimaru o causou, desde os castigos físicos como passar dias de neve em uma vala de esgoto com água até os joelhos, como traumas mentais. Tantos natais que passou limpando banheiros úmidos e imundos, dias sem refeição para que falasse de uma vez o paradeiro do irmão, brigas e motins que incitavam dentro dos refeitórios e pátios com o único intuito de o machucar e o agredir, sendo até mesmo organizados por guardas e chefes do presídio. Pessoas que deveriam zelar pela ordem.

 

  Tremeu sozinho sentindo uma pontada em seu peito corroído.  Sua respiração vacilou quando segurou de maneira forte a camisa contra a pele, desalinhando o tecido e sentindo a visão turvar pela exaustão, cansaço, lágrimas. Queria abraçar o ódio, queria se agarrar a vingança que tanto orquestrou diariamente, guerra e caos. Queria torturar, matar Hiaishi e fazê-lo provar cada parte, tudo o que causou em sua vida, fome, miséria, a incessante busca interna pela própria morte. Como aconteceu consigo. Quantas vezes chorou sozinho e em silêncio? Quantas vezes pediu aos céus uma misericórdia para que morresse de uma vez? Quantas vezes quis cometer suicídio dentro da própria cela, mas ainda olhava aquelas grades enferrujadas tentando imaginar Mikoto, tentando imaginar como a ajudaria caso saísse. Caso tivesse uma segunda chance.



     -- Com licença senhor, deseja pedir?


  Olhou para a atendente vestida de maneira natalina, verde e vermelho, a mesma que ruborizou apenas por vislumbrar de perto a beleza dele, mas também preocupada com a única lágrima que percorria o rosto pálido de sobrancelhas unidas em feição de ódio. Espremia as mãos na mesa enquanto o coração parecia bater de maneira gritante. Seus olhos estavam cristalinos e apenas forçou um sorriso mentiroso para a atendente sussurrando um sôfrego e rápido " agora não " tentando afastar qualquer pessoa que o pudesse ver caindo. Se sentia fraco, sem qualquer capacidade, nu e abandonado.

  Sua mente estava em Hinata, a mulher que o fizera delirar de maneira única durante essa noite, mas que também representava sua inconstância. Sua batalha de sentimento e razão. Não poderia tê-la, mas faria o suficiente para ajudar o sonho que ela nutria com tamanha ingenuidade e singeleza, como também não possuía culpa por ser filha dele. Mas era inevitável, parecia estar negando a si mesmo enquanto se forçava mentalmente a não maquinar o ódio, tentando viver uma vida normal a qual não pertencia, mascarando todas as marcas que a injustiça lhe causou. Tinha que vingar o próprio sangue, tudo o que sofreu, era sua obrigação. Ninguém poderia o parar nesse sonho, nada poderia se opor a sua vingança contra o homem que o destruiu.

  Jamais, ninguém. Nem mesmo Hinata.












     -- O talento dela é realmente indiscutível.

     -- Bom, quem sou eu pra discordar. -- Sasuke emitiu um sorriso mínimo para o ruivo sentado ao seu lado. Permanecia em silêncio desde o momento em que chegou, até mesmo mandando Hinata seguir antes para a casa do Akasuna, tentando evitar qualquer interação com ela. Sasori, por sua vez, permanecia atento e com as pernas cruzadas, uma das mãos apoiadas ao queixo escutando o som que os dedos da Hyuuga causavam quando confrontavam as cordas finas do violino em mãos. -- Mas o que acha? Penso que ela conseguirá se apresentar, estou certo?

     -- Indubitavelmente. Não lembro de tratar pessoalmente com uma pessoa tão talentosa para cordas, como também para musicalidade erudita, e digo isso em uma experiência de longo prazo. O mais próximo disso foi um conhecido meu da época de academia musical, ainda em Londres. Hatake Kakashi. Posso dizer até que ela possui certa semelhança ao estilo de movimentos brandos. -- O ruivo comentou com os olhos ávidos a cada movimento que ela causava, percebendo então a certa falha que ela apresentou ao decair a nota. -- Um momento, Hinata.



  Sasuke mantinha um certo inchaço ao rosto, coisa que mantinha a perolada preocupada desde que chegou, de certa forma, isso estava até atrapalhando sua concentração, estava preocupada quanto ao que estava se passando com ele. Deslizou a madeira pelo ombro colocando sobre o colo enquanto percebeu o ruivo parado em sua frente alguns minutos. Mãos ao queixo, feição direta em seu ombro esquerdo enquanto parecia ponderar coisas que pensava sozinho. Uma espécie de discussão interna. Como músico e artista, Sasori possuía um gênio forte.

  Os olhos perolados caíram sobre o moreno afastado ao canto, estava realmente mais interessada sobre o que ele estava pensando, percebia que em alguns momentos ele acabava se perdendo sozinho em pensamentos pesados, a deixando com certo receio e apreensão. Afinal, lembrava perfeitamente do moreno que acordou completamente aninhado ao seu corpo, repleto de sorrisos frouxos e carícias que até mesmo a fazia ruborizar a cada segundo. Contudo, agora aparentava estar aflito, e mesmo que não fosse um problema seu, ainda causava certa preocupação por vê-lo tão abatido.

 

 

     -- Hinata, vem tomando seus tranquilizantes com frequência exagerada? -- Virou o rosto na direção do ruivo que aparentava ter uma observação concreta quanto ao assunto. Suas mãos tremeram ainda mais contra as pernas, sentiu um certo arrepio na espinha, com um suor gélido umedecendo sua testa. -- Hinata... essa medicação é prescrita, sabe que vítimas de Parkinson tendem a se prejudicar ainda mais com o excesso de medicação. Em outras palavras, está cavando a própria cova cada vez mais rápido. Quantos tomou hoje?


     -- Eu ainda não tomei essa manhã. -- Hinata sussurrou se negando a olhar Sasuke, mas sabendo pelo ranger da cadeira que o mesmo estava mais atento ao assunto. -- Ontem eu tomei três.

     -- Você não tomará ele nos próximos dias, entendeu? -- Comentou meio pensativo, como se fizesse cálculos, enquanto olhou para o moreno com certa ameaça, tendo rapidamente um sorriso dele como resposta. Como se o mandasse se certificar quanto ao cuidado. -- Ele está anestesiando até certo ponto, mas o constante uso pode acabar se tornando vício e dependência da droga. Isso está dificultando ainda mais, em breve pode até mesmo perder o efeito no seu metabolismo, então eu aconselho que não o tome até a véspera da sua apresentação, entendeu?

     -- Claro. -- Sussurrou um fio de voz olhando para Sasuke, que nesse momento apenas lhe sorriu assentindo com a cabeça, como se lhe mandasse forças. -- Eu farei isso.

     -- Ótimo. Mas agora falarei quanto ao erro. Seu ombro está enrijecendo pelo constante peso e concentração de postura, também é um fator da medicação. Isso está acabando por atrapalhar em certos momentos, quando você desce o movimento, acaba por dar um certo empurrão corporal involuntário, causando o erro da nota.

     -- Então o quê devo fazer?

     -- Bom, seu treino amanhã não será comigo. Deidara cursou fisioterapia na Universidade, então pode ficar calma, primeiro trataremos seu ombro com cuidado, tentanto estimular e conter a certa rigidez excessiva. Sem medicamentos ou drogas anestésicas. Então, quando chegar o último dia antes da apresentação, estará pronta. -- O ruivo comentou pegando o telefone da sala e ligando para o loiro, afinal o mesmo estava trancado em seu ateliê desde que chegaram. -- Você tem um potencial absurdo devo dizer, espero que não faça o contrário ao que estou dizendo. Conseguirá se apresentar, eu lhe garanto.

     -- Obrigado, Sasori.



  Sasuke sorriu colocando a mão ao ombro do Akasuna enquanto o mesmo retribuiu o gesto falando algumas palavras em francês para Deidara. Olhou a perolada sentada enquanto se aproximou dela sentando na cadeira ao lado, com as mãos ainda dentro do bolso. Lembrava de como a noite de ambos fora prazerosa, regada aos mais castos sorrisos e palavras, olhares quentes como cada movimento que precedeu e sucedeu aquilo. Toda a quentura que expulsou o frio e imperou na sala, os gemidos, tudo isso em uma fração de segundos que o fizera sorrir olhando o piso de madeira da residência. Sua primeira vez, Hinata fora sua, haviam não apenas conhecido um ao outro, experimentaram uma relação e sentiram a calma da presença um do outro. Certamente ele aproveitou essa parte em demasia, afinal em todas as últimas noites, essa fora a melhor que tivera.

  Sem medos, receios ou sonhos ruins.

  Se entreolharam alguns segundos alheios aos assuntos do ruivo falante, apenas emitindo fracos sorrisos um ao outro enquanto nem mesmo sabiam o que falar ao certo após a noite que tiveram e nem sabiam explicar, ainda mais estando tudo tão recente, tudo tão perfeito na mente de cada um. Continha a vontade, mesmo sabendo que há poucas horas estava decidido a não fazer isso novamente. Queria poder beijá-la sem receio, provar aqueles lábios quentes e abraçar aquele corpo frágil, afinal isso seria até mesmo um alívio para toda a carga tensa que emanava de seu corpo pesado. Mas estava decidido, não daria mais esperanças a ela, nem a si mesmo. Hinata seria sua amiga, uma pessoa para ajudar, sabendo que até mesmo isso seria perdido após a apresentação dela. Esperaria até a conclusão disso, afinal queria vê-la brilhar naquela noite, partilhar a realização de seu sonho, para então selar seu destino matando Hiaishi, e fatalmente sendo odiado para sempre por ela.



     -- Sasuke... Eu posso fazer uma pergunta? -- O sussurro doce e inocente rasgou seus ouvidos trazendo calmaria e alento. Olhou as próprias mãos as tirando do casaco, enquanto apenas tentava entender se estava certo de fato quanto ao que faria. Olhou as lindas bochechas vermelhas subindo até aqueles olhos perolados e tímidos, mas que emanavam um brilho intocável. E ele, que totalmente alheio ao sentimento dela, nem sabia que o motivo daquele brilho aceso era unicamente sua presença. Ganhou um assentir dele enquanto gaguejou duas vezes o início da frase vendo o sorriso de canto aparecer. Somente aquilo era o suficiente para descompassar seus batimentos. -- Que... Quero saber se está arrependido sobre ontem...

     -- Hime. -- Frisou soltando um suspiro até mesmo pesado, mais pesado até que o esperado. Sentia uma estranha energia vinda dela, não que acreditasse nessas histórias de forças espirituais e afins, mas era inegável a sensação que transbordava dela. Sorria de maneira larga, os olhos brilhosos e os lábios reluzindo como se o chamassem para um lento e terno beijo. Por um segundo sua mente pesou, estava prestes a perder Hinata... mas quando teve ela realmente? Poderia a chamar de sua? Mas se não poderia, então como sentia tanta dor em imaginar perder algo que nem era seu? -- Por que está perguntando?

     -- Você não falou comigo até agora, fiquei preocupada com o seu silêncio... está quieto, distante, indiferente. -- Seus olhos arderam, apenas os fechando por segundos mais demorados, tentando apenas desfrutar daquela voz acreditando estar no paraíso por ao menos um minuto. Mas dessa vez, pareceu escutar a voz dela entristecida. Como se estivesse embargada com uma possível resposta negativa. -- Se está arrependido eu...

     -- Eu não me arrependo de nada. -- Abriu os olhos terminando de escutar aquela hipótese absurda. Quem em sã consciência se arrependeria afinal de contas? Era a mulher mais linda que lembrava ter visto, dona de uma inteligentes e um talento que o fazia querer apreciar, mesmo nunca tendo sido adepto a música erudita. -- Nunca me senti tão bem... Hime.



  Olhou o rubor facial da pequena enquanto deslizou os dedos pelo rosto quente e perfeitamente delicado, apenas causando uma carícia que a mesma aceitou de bom grado. Sentinto o mesmo cuidar de sua pele e de seus cabelos, completamente atento aos próprios gestos. Se aproximou apenas mais um pouco até descer a mão pela perna lisa da Hyuuga com cuidado, tocou os lábios no rosto dela selando devagar a região, sentindo de pronto o arrepio facial que causou dela. Inevitável também não ter visto a face abruptamente vermelha que a tomava nesse instante em que se afastou.


     -- Eu realmente quero o seu bem. -- Estranhamente não se sentia arrependido do que dissera. Poderiam até mesmo o chamar de sem caráter nesse momento, mas apenas ele sabia o quanto sentia vontade de falar o que seu corpo queria responder. O que tinha de relatar, independente de seus anseios. Sua voz parecia pesada ao próprio peito, afinal ela era a pessoa que chegou mais perto de fazê-lo sentir paz, sentir o amor. Nunca sentiu nada parecido por outra pessoa, essa sensação de calor e quentura corporal, tremores e espamos apenas pelo olhar perolado sobre o seu, suor frio por vê-la sempre tão linda e desejável diante de seus olhos. E claro, a incessante sensação de completude por apenas falar com ela alguns minutos causava. -- Quero que consiga, quero que consiga seu sonho.

     -- Quero que esteja ao meu lado, quando eu conseguir. -- Sua mão sentiu a fina e macia mão da Hyuuga, a mesma que tremia contra sua pele, mas isso não fazia sequer diferença, ainda mais olhando diretamente aqueles orbes perolados com um brilho que ele nem mesmo entendia. Sentia apenas a conexão, o que para ele era uma ligação, mas para ela possuía apenas um nome, algo que jamais sentira por outro homem. Paixão. -- Obrigada por tudo, por confiar em mim, ninguém mais confiava...

     -- Eu posso dizer o mesmo, pequena. -- Hinata entrelaçou seus dedos entre os dele enquanto um aperto delicioso tomou o peito dele, sentindo até o coração desalinhar em meio aos constantes pensamentos de não poder tê-la. Isso era amar. Como escutou sua mãe falar de quando era jovem, o quanto amou Fugaku. Contudo, mesmo não querendo e odiando a atitude de seu pai, teria que fazer como ele fez, sumir da vida dela.



  Sasori sorriu apertando o telefone enquanto parecia entretido quanto ao assunto com Deidara, afinal o loiro sempre era difícil de se manipular, ainda mais quando entrava em seu " santuário ", buscando inspiração e transmitindo isso em suas telas e esculturas. Mas fora espectador de tudo o que sucedeu naquela sala, desde as mãos unidas, até os dedos finos subindo até a gola do casaco dele ao encostar de ambas as faces em meio ao silêncio que trocavam olhando vidrados um ao outro.

  Escutou a batida na porta de entrada, assim como o breve desligar do telefone que fora resultado do loiro indo diretamente ao primeiro andar da residência para abrir a porta. Percebeu a maneira como Sasuke a olhava também, a ternura, o carinho e certo cuidado que ele tinha de contornar a cintura dela e afundar lentamente a ponta do nariz, como também os lábios úmidos no pescoço resfriado e branco da menor. Causou um tremor visível, coisa que ruivo conseguiria ver de longe, como também escutarno gemido tímido que ela soltara quando ele separou os lábios pressionando os seus na testa dela. Com cuidado e carinho.

  Segurou a risada fingindo não ter visto. Ela estava vermelha, mas não separava as mãos das dele, ao contrário, apenas mantinha seu olhar duas vezes mais apaixonado ao dele. Percebeu também que mesmo ele estando atônito, não fazia idéia da paixão que ela exalava naquela sala, afinal, Sasuke não era nem de longe um especialista em sentimentos, então até mesmo o entendia. Ponderou a ironia da vida com um sorriso de comicidade. Mesmo que errado, eram lindos juntos, a bela representação de um sentimento tão complexo. O homem sem sorte, que perdeu tudo ao longo da vida, encontrou seu único alento justamente nos braços da filha do algoz que o destruiu.



     -- Mas ainda sobre seu ombro, vale lembrar...

     -- Meu amor, temos um problema. -- O tom esbaforido de Deidara culminou aquela descida apressada de passos na escada de madeira. O loiro mantinha os cabelos presos enquanto deixava a camisa bem manchada estampada frente a todos. Quando então os passos rápidos de outra pessoa adentraram o ambiente. Conhecia aquele tom, como também a personalidade de seu amante, não lhe chamaria dessa forma tão fácil. Transbordava preocupação, certo desespero.

     -- Sasuke! Sabia que estaria aqui... precisa me ajudar!

     -- Itachi...

     -- Tem notícias da Ino? Qualquer notícia, ela passou no clínica da nossa mãe ontem não foi?

     -- Sim, mas qual o problema?

     -- Eu liguei pro hospital e nem sinal dela. -- O moreno comentou passando as mãos pelos cabelos, ganhando certa preocupação de todos, afinal estavam tratando do homem mais frio para certas questões, ainda mais de raciocínio. Itachi estava puro desespero, mantinha certos tremores e gaguejava andando de um lado para o outro. -- Quando liguei pro celular dela... Ino...

     -- Qual o problema Ita?

     -- Um homem atendeu, Sasuke! Um homem atendeu e disse estar com ela.










  Bastante alvoroço culminava aquele ambiente, ainda mais sendo fim de tarde no Centro da cidade mais movimentada do mundo. O hospital também guardava incontáveis pacientes, um corpo de médicos amplamente competente e de respeito, ainda mais com vagas inviáveis dentro do ramo medicinal. Qualquer profissional da área adoraria ser contratado, sendo bastante disputada cada vaga de emprego. Falatório, saída de médicos e clamores de pacientes saindo e entrando em salas de cirurgia. Contudo, no final do corredor, uma sala em especial mantinha calmaria, ainda mais por sua paciente estar sedada, havendo acabado de ser tratada pelo doutor que cuidava de sua situação.

  O ambiente permanecia escurecido, o vidro do quarto nem mesmo evidenciava movimentos dentro. Somente uma silhueta de perdia dentro do ambiente, permanecendo de pé com as mãos dadas as de Mikoto enquanto sussurrava uma música baixinho, algo que apenas ambos sabiam. O frio do quarto nem mesmo o afetava, ainda mais usando um sobretudo tão largo, amenizava qualquer tendência ao gelo que era esse fim de tarde. Mantinha seus dedos entrelaçados aos dela enquanto escutava o barulho dos aparelhos, também frente ao jarro de flores belas postas ao lado da maca.



     -- Sabe que eu poderia matá-la, aqui e agora. -- Sussurrou olhando os cabelos negros da mulher pairando sobre o rosto brando. Rosto que ele tanto desejou sendo seu, sendo ela a personificação ideal de Hikari. Tão meiga, doce, amável. Contudo, centenas de vezes mais bela, isso claro aos seus olhos cobiçosos e que ansiavam por um relacionamento extraconjugal forçado -- Mas eu realmente te amo, sua...

     -- Hi... Hiaishi...

    -- Quanto tempo, meu amor. -- Beijou a bochecha de Mikoto se aproximando dela, realmente ansiando selar aqueles lábios, mesmo após tudo o que manchou a relação de ambos. Relação que existia apenas na mente dele. -- Esteve sumida por alguns anos.

     -- O que... O que faz aqui?

     -- O que acha? Queria ver minha garota. -- Escutou o barulho da risada dele, sabendo que o homem não mudara nada nesses últimos anos. Ainda nutrindo essa obsessão doentia que insistia em chamar de amor. Hiaishi sempre teve tudo, dinheiro, uma esposa maravilhosa, mas também, sempre quis mais, obviamente não se contentaria sem, nunca aceitaria um " não ". Sua ganância era sua queda, como também a queda da bela Uchiha que, por negar tal relação, fora repudiada a ponto de estar na linha de fogo. Sendo mandada então para cuidar de uma área cuja periculosidade era extremamente conhecida, não sendo recomendada. -- Senti saudade, sua cadela maravilhosa.

     -- Eu vou chamar...

     -- Tenho um recado pro seu filhinho. Ou melhor, filhinhos. -- O homem sussurrou interrompendo a voz fraquejada da Uchiha. Se apoiou na maca sentando na cadeira de metal, para então estar nivelada a ela, olhando aqueles orbes negros e cansados pelas várias batalhas que ele mesmo causou. -- Não sei qual o plano deles, nem faço idéia do que estavam pensando quando armaram essa fuga da Riker's... Mas, se ficarem no meu caminho, posso afirmar que vou acabar não apenas com um, mas destruir os dois.

     -- Fu... Fuga?

     -- O quê? -- Indagou de maneira irônica enquanto destilava os cabelos dela entre os dedos grossos que a causavam medo. -- Pensou que Sasuke sairia daquele presídio com vida? Eu realmente subestimei seu primogênito, não é apenas um acéfalo terrorista, ele é bastante inteligente. Caso não fosse ele, seu filhote ainda estaria trancafiado esperando a morte. Entendeu?

     -- Hiaishi... por... por que está...

     -- Pergunte a si mesma, afinal, nada disso teria acontecido se não fosse uma funcionária tão desobediente. Comigo, teria amor, uma casa, um império para dar uma condição descendente a esses bastardos infratores. Mas preferiu ser progenitora de duas merdas odiadas da sociedade. -- Passou o rosto pelo dela sentindo a fraqueza corporal da Uchiha. Realmente era absurda sua obsessão, ainda mais por desejá-la tanto, mesmo estando nessas circunstâncias. -- Mão não pretendo esperar uma atitude deles. Cuidarei rapidamente, garanto que não farão a menor falta.

     -- Como assim?

 

     -- Melhor dizer adeus aos seus filinhos, Mikoto.


Notas Finais


Sasuke virou bichoo hqhahah


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