Michael bateu a porta por volta das sete, Lauren apenas se virou para o lado e cobriu a cabeça, era o primeiro dia de aula e ela só queria dormir mais.
O homem voltou dez minutos depois e repetiu o ato.
-Lauren, acorde! - disse virando o trinco e bufou - O que eu disse sobre portas trancadas?
Ela bufou jogando o travesseiro na porta e ele desistiu ao ouvir o barulho no assoalho, ela estava de pé pelo menos.
A garota olhava o teto sem interesse algum, se arrastou até o banheiro, não antes de ligar o som que invadiu o quarto trazendo ânimo, agora sim seu dia podia começar.
A voz inconfundível da banda ACDC soava alto enquanto ela tomava banho e cantarolava Black in Black, dançava como se estivesse em um palco jogando o cabelo sensualmente. Sorriu para si mesma no espelho.
-Pronta para seu primeiro grande dia, Lauren? - disse seriamente e abriu um largo sorriso em seguida - Completamente! Vamos sacudir esse lugar - riu alto - They gotta catch me if they want me to hang. 'Cause I’m back on the track and I’m beatin’ the flack. Nobody’s gonna get me on another trap. So look at me now, I’m just a makin’ my pay. Don’t try to push your luck just get outta my way.
Continuou a sua dança enquanto colocava sua roupa, uma camisa enorme quadriculada em azul e vermelho escuro que virava um vestido, e nós pés seus velhos coturnos, passou uma maquiagem básica e bagunçou o cabelo molhado, estava sem tempo para secar o mesmo e não se importou.
Desceu dando de cara com o pai sentado a mesa e por incrível que pareça, havia comida de verdade, um verdadeiro café da manhã, mas não seria assim tão fácil para ele.
-Você não vai comer? - perguntou quando ela desviou da cozinha e seguiu para a saída.
Ela o olhou com um olhar falsamente culpado e disse:
-Sinto muito, papai. Não posso me atrasar no meu primeiro dia - olhou no relógio e fez uma cara de espanto - Faltam só quinze minutos e a velha caminhonete não é muito rápida. Quem sabe amanhã!?
Virou as costas e saiu deixando o homem com o maxilar travado.
Paciência era o que ele repetia mentalmente para si mesmo, Lauren estava testando a sua todos os dias.
Ela ligou novamente seu iPod já que era a única coisa que podia usar, estava sem celular e sem qualquer outro meio de comunicação ali. Era um inferno.
A sequência de ACDC continuava e ela batucava no volante cantando a plenos pulmões, o caminho não levava mais que cinco minutos, então ela parou em uma lanchonete e comprou um café e um cockie para amenizar a fome.
Ficou tentada a comer na casa do pai, mas não daria esse gostinho à ele, ela odiava comida de lanchonete. Mas odiava mais ainda dar abertura ao homem.
De volta ao caminho da escola, ela passou por várias pessoas e ao estacionar e ter olhares sobre si, revirou os olhos e encostou no banco, respirou fundo e pegou a mochila. A caminhonete velha era decadente, mas trazia boas lembranças, o pai a tinha quando ainda morava com ela, ela lembrava bem de mexer no motor com ele e ficar toda cheia de graxa.
Sorriu fraco passando a mão pelo painel de madeira antiga.
Um barulho do lado de fora a fez tirar a mão bruscamente e sacudir a cabeça. Estava ficando louca, era isso, ela não deixaria que lembranças bobas fizessem com que todos os anos longe fossem apagados assim.
Desceu do carro, as pessoas a encaravam com curiosidade, alguns com medo, era realmente ridículo. Bateu a porta e ajeitou a mochila caminhando para a entrada, os meninos a olhavam com cobiça e ela mantinha o olhar alto, ninguém ali era bom o suficiente e ela sabia disso.
-Que gata - um garoto que provavelmente era do time de futebol disse e ela se virou minimamente o olhando de cima abaixo com desdém, aquela jaqueta era horrível, ela detestava atletas.
-Você tira essa jaqueta ridícula pra lavar ou simplesmente a usa todos os dias? - perguntou alto e o garoto ficou vermelho de vergonha, os amigos do time começaram a vaiar - Foi o que eu pensei! Babacas. - concluiu e deu as costas adentrando o prédio.
Camila e Dinah estavam paradas observando tudo com risadas contidas.
-Ela me dá medo - Dinah disse brincalhona e Camila enroscou o braço ao dela puxando a garota para dentro do colégio.
-Ela é inofensiva, DJ - disse convencida disso e ajeitou o suéter verde - Mas tenho que admitir, ela é bonita.
-Eu disse - a maior empurrou suavemente o ombro dela com o seu, o olhar dela procurava por Lauren, mas a mesma havia sumido na multidão - Aposto que até o fim da semana ela estará fazendo hora extra na detenção.
Camila riu concordando e seguiu, os alunos a cumprimentavam sorridentes, a garota era presidente do Grêmio estudantil do colégio, aplicada e também filha de militar.
A garota era tipicamente certinha e doce, ninguém a via de mal humor, era amiga de todos, sua fama era perfeita ali.
Dinah assim como Camila, era uma garota exemplar, um pouco mais solta, mas também um amor de pessoa. Andavam despreocupadas até a primeira aula, tinham todas em comum, isso graças a vantagens que ser do grêmio trazia.
A sala de biologia era um laboratório completo e elas odiavam aquela aula, dissecar sapos não era bem algo que elas apreciavam.
Lauren estava com os horários em mãos depois de ouvir toda a baboseira que o diretor tinha a dizer, o homem fez questão de deixar as regras claras e garantir que ela estaria na biblioteca depois da aula.
Uma recepção digna de Lauren Jauregui, ela causava efeito.
Jogou os livros sem cuidado algum dentro do armário e uma garota morena pigarreou chamando a atenção dela.
-Primeiro dia difícil? - indagou com receio e Lauren a encarou, era a primeira pessoa que não a olhava com cara de julgamento antecipado. Ela só a olhava com expectativa e ela gostou disso.
-Não.. tranquilo, nada que eu não esperasse desse buraco de cidade - disse sorrindo e a garota concordou, também era nova ali e estava um pouco perdida - É o seu primeiro dia também?
-Sim, é um saco essa merda toda - confessou andando ao lado de Lauren - Qual é a sua aula? - perguntou estudando o papel nas mãos da garota.
-Biologia e a sua? - respondeu ajeitando a alça da mochila e jogando o cabelo, era a sua obsessão particular mexer nos fios.
A garota suspirou aliviada mostrando o papel com os horários, teria biologia também.
A sala era no fim do corredor e ninguém estava mais por ali, estavam atrasadas. Lauren abriu a porta sem rodeio algum e a professora a encarou com o cenho franzido.
-Alunas novas - a garota que ela não sabia o nome disse entrando ao lado dela e a professora sorriu amistosamente.
-Oh. Claro. Esperem aí - disse e elas pararam em frente a sala - Pessoal, essas são..? - indicou com a mão e Lauren revirou os olhos, aquilo era sério?
-Veronica Iglesias, Nova York - Lauren sentiu uma espécie de alívio ao ouvir a garota dizer isso, pelo menos alguém civilizado.
A professora assentiu e Lauren respirou fundo com os olhares sobre si.
-Lauren Jauregui, Miami. - Camila a olhava mordendo o lábio, analisava tudo e ao ouvir a voz da garota ela podia jurar que os pelos do seu braço se arrepiaram - Não é Jergi e não é Jaguar, é Jauregui - disse tediosamente, odiava que errassem o seu nome, Veronica riu indo para o fundo da sala e Lauren a acompanhou.
Senhorita Forbes era uma jovem professora, muito comunicativa e anotou mentalmente o nome da garota. Já os alunos se dividiam em olhar para Lauren com uma cara estranha, algumas pessoas realmente achavam que ela havia matado um cara. O que era ridículo, mas se espalhou.
Ao sentar no fundo, ela notou do outro lado da sala, perto da mesa da professora, as garotas que estavam na casa ao lado e isso chamou a sua atenção. Camila virou discretamente o olhar em direção a ela e foi pega, Lauren a encarava fixamente sem disfarçar.
Ela se virou e mordeu o lábio, Lauren Jauregui era uma perdição, um colírio para os olhos.
-Ela não para de olhar para cá - Dinah cochichou e Camila fingiu que não via.
-Sério? Eu nem tinha notado. - anotou algo no livro e olhou para Lauren novamente que agora olhava para a mesa com um certo nojo, o sapo estava morto pronto para ser dissecado e ela só sabia sentir nojo daquilo - Para de encarar, DJ. Meu deus.
Ralhou com a amiga que deu os ombros.
-Meu bem, eu tenho olhos para olhar mesmo - respondeu pegando o bisturi e colocando sobre o sapo, Camila engoliu em seco a vontade de vomitar, Dinah parecia sentir o mesmo nojo, mas não se importava em abrir até as entranhas do animal - Isso é meio macabro - sem delicadeza alguma ela golpeou o animal e Camila saltou levemente.
Lauren respirava fundo controlando a respiração.
-Eu faço isso - Veronica disse dando os ombros e abrindo o sapo agilmente - Prontinho.
A garota encarou o sapo e colocou a mão na boca. Aquilo era nojento demais.
-Desculpa.. eu não consigo - disse antes de correr para fora da sala, todos olhavam para a porta confusos.
A professora levantou as sobrancelhas e escaneou a sala.
-Cabello - chamou e Camila fechou os olhos já prevendo o que ela iria pedir.
-Sim?
-Você pode fazer o favor de ver se a sua colega está bem? - ela assentiu ouvindo Dinah rir ao seu lado - Leve-a a enfermaria se preciso, não posso deixar a classe agora.
-Tudo bem. - disse simplesmente deixando os óculos na bancada, e andando até o banheiro mais próximo, entrou calmamente ouvindo barulho na última cabine - Ei.. - sorriu sapeca - Jergi? - chamou debochada.
Lauren estava vomitando até a alma, mas sentiu o sangue ferver ao ouvir aquele tom de deboche. Apertou a descarga e saiu fuzilando a garota, era a sua vizinha.
-É Jauregui - disse abrindo a torneira e tomando água, Camila a encarava agora mais de perto - O que você quer? - disse rudemente.
-Ver se está tudo bem e sim, está - disse irritada pela grosseria - A enfermaria fica perto do ginásio, se não estiver bem pode ir até lá.
Lauren secou a mão e a boca e passou ao lado de Camila que a encarava incrédula.
-Você não vai mesmo me agradecer? - disse indignada e Lauren parou ao lado dela.
Ela olhava as pessoas de baixo a cima, era uma mania quando estava irritada, era como colocar a pessoa em posição inferir.
Sorriu sem mostrar os dentes.
-Eu te pedi para vir aqui? - perguntou e Camila abriu a boca - É.. não pedi. - saiu do banheiro e a latina furiosa saiu atrás dela.
-Você é muito grossa, garota - rosnou apertando os punhos, o que a garota tinha de bonita tinha de estúpida. Ela provocou, mas foi apenas uma brincadeira.
Lauren se virou andando de frente para ela e deu os ombros.
-Cada um tem de mim aquilo que merece, babe - disse despreocupada e deu as costas a latina mais uma vez.
Camila soltou uma lufada de ar e andou atrás dela. Os passos rápidos logo ultrapassaram Lauren que andava despreocupadamente olhando as paredes. A latina parou em frente a sala e a encarou.
-Espero que se engasgue com o vômito na próxima - desejou amarga e Lauren riu alto negando com a cabeça.
-Espero ter uma câmera pra filmar a sua dancinha na próxima - Camila cerrou os olhos e entrou na sala decidida a não dirigir a palavra a garota mais. A professora olhou para ela, e quando Lauren entrou na sala ela sorriu em direção a morena - Eu estou bem - disse antes que ela perguntasse - Deve ser o bebê - deu os ombros e a professora a encarava com os olhos arregalados. Lauren ria discretamente indo para o fundo da sala e Veronica a olhava com a sobrancelha arqueada.
-Não tem bebê nenhum, não é? - perguntou baixo e Lauren assentiu.
-Mas ninguém precisa saber disso - concluiu sapeca.
Dinah olhava Camila enfiar o bisturi no sapo com raiva, estava um pouco assustada. A latina havia voltado vermelha de raiva.
-Vamos com calma - disse retirando o objetivo da mão dela e ela respirou fundo - Ele já está morto, ok? - riu.
-Ela é uma babaca grossa, DJ - disse irritada e Dinah olhou brevemente para Lauren que evitava olhar para o sapo.
-Não pode ser tão ruim assim, vai.. - disse animada e Camila a fuzilou.
-É pior, ela é grossa. Disse que vai me gravar dançando, dá para acreditar?
A morena riu alto recebendo olhares, Camila revirava os olhos a cada segundo, sua amiga era horrível.
-Camila, o nome disso é.. - esperou a garota olhar pra ela e sorriu convencida - Atração - silibou baixo e Camila parecia um pimentão vermelho de tanta raiva da amiga.
-Não ouse - disse entredentes. Não era isso e ela sabia, sacudiu a cabeça decidindo ignorar a garota e também a amiga se precisasse - Não repete isso!
-O pior cego é aquele que não quer ver - disse sabiamente e voltou a tarefa.
Camila era muito ingênua se achasse que Dinah não a via olhando para Lauren, dali a garota era a única que a conhecia verdadeiramente e ela sabia que aquilo era só o começo.
[...]
Lauren entrou na biblioteca até animada, era uma pessoa culta e lia bastante, então ficar ali não seria ruim, a tortura seria ter que lidar com as pessoas.
Ruth, a senhora que ficava na biblioteca explicou tudo em poucos minutos e ela apenas assentia. Sentou-se na cadeira atrás da bancada e colocou os fones.
Tinha odiado o primeiro dia, de tudo apenas Veronica se salvava, a garota era divertida e um pouco louca, falava alto e rápido. Lauren tinha mesmo gostado dela, até contou a história de como foi parar ali.
Ruth tinha saído para tomar café e não tinha voltado mais, Lauren podia apostar um dedo da mão que a mulher estava fofocando com a moça da recepção.
Empilhava os livros para guardar quando uma garota entrou praticamente correndo ali. Lauren levantou o olhar e seu queixo caiu, a garota era linda.
Ela pigarreou pois a garota também a olhava um pouco surpresa.
-Oh, claro.. você é? - perguntou só para confirmar mesmo, ela já sabia quem Lauren era.
-Lauren Jauregui - respondeu simplesmente e a garota abriu um largo sorriso - Posso te ajudar?
Era incrível como ela sabia ser simpática com quem era com ela, ou pelo menos com quem ela desejasse ser.
-Preciso de um livro - disse o óbvio e Lauren riu - Tá.. isso está na cara, então.. você vai ficar aqui agora? Cadê a Ruth? - estava puxando conversa e Lauren não se importou com o papo furado.
-Digamos que sim, estarei aqui depois do horário e a Ruth vai estar.. muito provavelmente na máquina de café da secretaria - riu sendo acompanhada pela garota, ela tinha um sorriso bonito, olhos bonitos, cabelo bonito, ela era toda linda.
-Que interessante - disse analisando a sala.
-Ruth ser viciada em cafeína? - perguntou divertida e ela negou.
-Você aqui depois do horário - Lauren sorriu mordendo o lábio, ela definitivamente estava mudando o pensamento de ninguém ali ser bom para ela.
Podia e iria se divertir. Já sabia até como.
-Qual livro precisa? - perguntou rindo e a garota mostrou a anotação.
Ela pesquisou e após achar andou até a prateleira pegando sem esforço o livro, a garota esperava na mesa com o sorriso discreto, ela encarava Lauren sem delicadeza alguma.
-Obrigada, Lauren - disse pausadamente.
-Ei.. o seu nome? - ela arqueou a sobrancelha e sorriu - Preciso anotar aqui - explicou.
-Ah! Keana Marie - estendeu a mão e Lauren segurou suavemente - Foi um prazer, Lauren.
-5 dias pra devolução - disse simplesmente e Keana saiu.
Se tinha algo que Lauren não era, é atirada, ela apreciava o flerte e a desenvolvimento de uma paquera. Estava longe de gostar de ficar com qualquer pessoa que conhecesse, ainda mais ali.
Mesmo assim de todas as pessoas daquela escola, Keana era a única interessante até agora.
Voltou a sua tarefa de ouvir músicas e recostou sobre a cadeira.
-Eu sei ser gentil quando quero - disse a si mesma lembrando da garota de mais cedo - Não tenho culpa de estar cercada por imbecis sem cérebro.
Falar sozinha era uma mania que não largava nunca, isso era resultado de uma infância solitária.
[...]
-Como foi o primeiro dia, meu bem? - Alejandro indagava durante o jantar.
A garota sorriu passando tranquilidade.
-Tudo perfeito, papá.
-E a vizinha nova? - Sinu disse curiosa, Alejandro sendo amigo de Mike, sabia da confusão e de como Lauren era rebelde. Isso a preocupava - Digo.. ela não causou nenhum problema? Mike vive dizendo como ela é difícil. - divagava e Camila comia pensando no que dizer.
-Mamá, ela é um doce de pessoa - mentiu convincente, era boa nisso afinal - Muito educada, sabe? Um exagero tudo que dizem..
Eles a olhavam sem acreditar e ela manteve a expressão séria.
-Isso é ótimo então - Alejandro disse dando mais uma garfada - Ela me parece bem.. moderna pra essa cidade.
Sinu concordou e continuaram a comer.
Camila ajudava sua mãe com a louça quando ela se virou entusiasmada.
-Hija, sexta podemos ir ao boliche, o que acha?
Camila engoliu em seco.
-Mamá - disse com pesar - Esqueceu que sexta eu vou com a DJ cuidar da Megan - a mulher soltou um ah é desanimado - Mas sábado podemos ir - disse tentando animar a mãe.
-Perfeito, Kaki!
Camila soltou o ar, estava ficando difícil mentir para a mãe e sair todas as sextas-feiras com a desculpa de cuidar de Megan. A garotinha era filha da prima de Dinah, e a mesma ajudava as garotas nas maluquices delas.
Ao subir ela abriu minimamente a janela e seu queixo foi ao chão.
Uma câmera estava apontada diretamente para a sua janela, ela abriu a persiana e colocou a cabeça na janela, o quarto escuro não mostrava a garota lá. Aquilo só podia ser uma piada.
Marchou a passos pesados até o lado de fora, iria bater na porta da frente quando avistou a garota e sua cabeleira branca no jardim dos fundos.
Lauren estava deitada na grama olhando o céu distraída que nem sequer notou a garota parada a observando.
-Deve ser tão fácil ser uma estrela - a voz baixa de Lauren fez Camila franzir o cenho, ela estava com um mini telescópio encarando o céu e falando sozinha - Você não precisa de ninguém, de nada.
Camila ouviu aquilo e sentiu uma coisa estranha, a melancolia na voz dela era clara.
-Mas estrelas são mortas - disse chamando a atenção de Lauren que virou a cabeça em direção a ela sem se abalar, ela soltou um sorriso anasalado.
-Eu também sou, mas elas brilham - disse para encerrar o assunto e Camila acenou - Quer alguma coisa, estranha?
Lauren não sabia o nome dela.
-Claro! - disse lembrando o motivo de estar ali e fechou os punhos com raiva - Tire aquela merda que está apontada para a minha janela. - ordenou e Lauren voltou a olhar o céu - Você ouviu?
Ela suspirou e encarou mais uma vez a garota parada ali.
-Sim, mas estou ignorando você - Camila abriu a boca chocada pela petulância.
-Vai ser assim então? - indagou com os braços cruzados.
-Vai! Você pode entrar e ir correndo reclamar com o papai e a mamãe, pode reclamar com o Michael, mas eu sou grossa e uma pessoa grossa não faz o que os outros querem - debochou e Camila suspirou.
Ela olhou em volta desistindo e voltou para casa, não iria dar o gostinho de provar a Lauren que ela era assim, ia correndo para os pais, pois ela não era.
Manteria a janela fechada até Lauren parar com aquela idiotice.
[...]
Estava em uma ligação com a amiga e contava o que havia acontecido. Ela ria sem parar, estava adorando Lauren sem nem a conhecer.
-Confessa, Mila. Ela tem estilo - disse divertida.
-Seu cu, DJ - disse brava - Ela é prepotente, nojenta, grossa-
-E gata, muito gata - cortou a amiga que revirou os olhos - Por que não faz um showzinho para ela? - sugeriu casualmente e Camila riu alto.
-Ata, eu vou sim. Que ideia, Dinah! - massageou as têmporas - Como diz a minha avó “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.
-Você é estranha, Camila, muito estranha - disse fazendo uma careta e a latina mostrou a língua - A câmera está lá ainda?
Ela pediu um momento e foi verificar.
-Não só a câmera como a dona também - respondeu brava - É sério, DJ. Eu odeio essa garota!
-Você nem a conhece - Dinah disse negando.
-E eu preciso? Olha o que ela está fazendo!? - disse ofendida e Dinah cerrou os olhos.
-Ah, Chancho. Você quem começou. Agora aguenta ou pede desculpas - deu os ombros lixando a unha e Camila bufou.
-Até amanhã, Dinah Jane.
Fechou o computador brava e o colocou ao lado da cama. Apagou as luzes e espiou mais uma vez, Lauren estava sentada na janela com um caderno em mãos, ela escrevia algo e Camila sorriu negando com a cabeça.
-Você quer me testar, Lauren Jauregui, pois veremos se você é tudo isso mesmo!
Mordeu o lábio arquitetando formas de matar a garota, ela era irritante.
Camila se praguejava por ter achado a garota interessante ao ouvir Alejandro falar dela.
E Dinah podia até ter razão, ela começou, mas foi apenas uma brincadeira, Lauren estava sendo invasiva e mais que isso, estava atrapalhando seus ensaios.
[...]
01/08/17 - Minha vida é uma merda. Eu odeio esse lugar e só queria a minha casa. Sobrevivendo ao dia 6 de 365. Vai ser uma longa jornada.
Escreveu sem muito ânimo e secou as lágrimas, aquele lugar a desestruturava de um jeito que ela não podia controlar. Era como estar em um liquidificador de emoções e ser jogada para lá e para cá.
Olhou brevemente para a casa ao lado e viu o casal sentado lado a lado vendo tv.
Ao subir mais os olhos, a janela da garota estava aberta mas com a persiana fechada.
Riu baixo, a câmera do pai era tão velha que nem ligava mais, mas precisava admitir que o seu novo passatempo era provocar a garota que perdia a linha tão facilmente. Era engraçado ver a expressão incrédula dela a cada vez que Lauren era desagradável.
Ela ainda não sabia o nome da garota, mas assim que soubesse colocaria o mesmo no tópico das coisas mais interessantes dali.
Viu a luz acender e a sombra parecia estar dançando. Ela sorriu, a garota dançava mesmo, e dessa vez não parecia ser desengonçada. Muito pelo contrário, era algo sincronizado, ensaiado.
Colocou os fones e ao som de Muse-Uprising soltou mais algumas lágrimas, lágrimas amargas e duras. Sedona era com certeza o pior lugar do universo, e ela estava ali, presa com pessoas estranhas que a julgavam a todo momento.
Isso só podia ser castigo da vida para ela.
Era algum tipo de carma ruim.
Estava pagando seus pecados em vida. E ainda tinha muitos dias a encarar.
-Força, Lauren, força - disse a si mesma se jogando na cama.
Adormeceu dando fim aquele dia bizarro.
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