História Dois Mundos - Capítulo 32

Leonard Vargas 

Olhei para a fotografia em minha mão e observei um pingo de água tocar na foto impressa. Uma lágrima minha. 

Passei o dedo por cima do seu rosto angelical e sorri observando seu sorriso espontâneo. A forma como o seu sorriso é doce, como o seu olhar é intenso, e como cada detalhe é perfeito - até as suas imperfeições são a mais pura perfeição para mim. 

Violetta é literalmente um anjo que atravessou meu caminho, que me tornou uma pessoa melhor. A forma como ela é espontânea e é doce com todos ao seu redor esquenta o meu coração. 

No primeiro dia em que a vi, a achei linda, isso não posso negar. Mas como o filho da mãe que sou, deixei meu lado babaca se sobressair e me arrependo totalmente hoje.

A Violetta foi, é, e sempre será, uma peça importantíssima e fundamental na minha vida. Sempre me senti uma merda por causa dos meus erros do passado, e sempre pensei que eu não conseguiria me libertar do passado que sugou boa parte da minha vida. 

Mas Violetta me ensinou que há uma segunda chance para quem quer mudar. 

Quando menos esperava, percebi que estava completamente atado a ela. Estava apaixonado, queria passar o maior tempo possível ao seu lado. 

Quando nos beijamos debaixo da chuva, naquela praça, foi a primeira vez, em muito tempo, que senti meu coração acelerar ao sentir um toque de alguma garota. 

Todas as vezes em que estava com ela, pensava, nem que fosse por dois segundos, em como seria quando ela voltasse para o Brasil. 

Pensei em preparar a maior surpresa para ela como despedida, porém tudo foi por água abaixo quando um imprevisto aconteceu na sexta-feira. Eu não posso falar, ainda, sobre isso, mas espero que o tempo que eu preciso para terminar todo o meu plano não interfira mais ainda em nós dois, mais do que já interferiu. 

Voltei a observar as diversas fotos espalhadas por minha cama, todas nossas. As que ela está sorrindo são as minhas favoritas. 

Desviei o olhar para o relógio na parede e senti meu coração apertar ao lembrar que ela está dentro de um avião agora. Mas também estou um pouco feliz, por ela. Sei que estava com saudade do seus pais, da sua família e também daquele seu melhor amigo. 

Peguei uma pilha de fotos e fui olhando uma por uma. Não imaginei que tínhamos tirado tantas fotos nesses seis meses, mas agradeço por tê-las, assim poderei ver seu rosto todos os dias para amenizar a saudade. 

León: eu preciso salvar o meu relacionamento - sussurrei para mim mesmo ao ver o meu anel em meu dedo. O nosso anel. 

Juntei todas as fotos e coloquei na mesma caixa, guardando no guarda-roupa. Peguei as chaves do carro em cima da mesinha e desci as escadas correndo, atraindo o olhar da Fran assim que cheguei na sala. 

Fran: para onde você vai? Nós temos aula… - "dane-se as aulas" - pensei. 

León: Eu irei salvar o meu relacionamento. 

Fran: salvar? Você sabe que ela está magoadíssima com você, não é? Sabe que ela te ama e chorou muito hoje no aeroporto quando percebeu que você não foi se despedir, uma última vez… - respirei fundo me amaldiçoando  mais uma vez por dentro. Não queria fazê-la chorar. 

León: Por favor, não me julgue - seu olhar firme foi mudando aos poucos, e ela me olhou de um jeito diferente, parece que realmente percebeu que eu nunca quis feri-la - avisa para o pai e para a mãe que eu vou resolver umas coisas, tá? não vou para o colégio hoje, aliás… - me dirigi até porta e a abri - irei faltar amanhã também, preciso resolver umas coisas e ir me resolver com a Violetta - atravessei a porta e senti ela vindo atrás de mim. 

Fran: como assim "ir me resolver com a Violetta", León? - perguntou assim que abri a porta do meu carro. Não respondi, apenas entrei e dei partida. 

Olhei o relógio digital no painel e abri um pequeno sorriso, sentindo o meu coração doer ao mesmo tempo. Ela deve ter pousado e ter encontrado os pais, sei que ela deve estar mais feliz, está em casa agora. Que saudade do meu amor… 

Parei em frente ao mesmo prédio que frequento há três meses. O prédio o qual está o motivo de tudo que não posso falar revelar agora. Quero fazer uma surpresa, quero que seja uma surpresa, só espero que não seja tarde demais… 

{...} 

Demorei no prédio mais do que eu esperava. O pessoal me encheu de mensagens e ligações, tive que responder algumas e atender outras para confirmar que estava vivo e que eles não precisavam se preocupar. 

Estou achando que preciso contar o que está acontecendo para eles, pelo menos para eles. 

Recolho os papéis em cima da mesa e volto para o carro quando o meu horário chega ao fim. No caminho de volta mudo a rota, e passo pela mesma praça a qual a beijei naquela noite. 

Sorri lembrando do seu sorriso bobo naquela noite e voltei com meu coração aquecido para casa. Estou parecendo um bobo apaixonado, e sei que o León de anos atrás riria disso e diria que isso é a maior ilusão da vida de alguém, mas hoje eu sei que o amor é uma das melhores coisas da vida de alguém. Violetta me faz sentir isso. 

Voltei para casa e olhei a hora no relógio em meu pulso assim que saltei do carro. Já eram sete e cinquenta da noite e estou exausto, mas preciso de forças para terminar tudo o que planejo. 

Peguei minhas chaves e abri a porta, só havia a lâmpada do corredor acesa, sinal que não há ninguém em casa, a não ser a Fran.

Subi as escadas e entrei no meu quarto. 

León: mas que merda é essa? - olhei para eles incrédulos. Todos estavam no meu quarto, e me encaravam atentos. 

Diego: isso somos nós preocupados querendo saber qual a loucura que você está pensando em fazer dessa vez - respirei fundo e me sentei ali mesmo no chão. 

Acredito que o León de antigamente começaria a gritar e brigar com todos por terem invadido o meu quarto, e por não estarem respeitando minha vida pessoal. Mas agora eu só sinto gratidão por ter pessoas leais comigo. 

Lud: você sabe que pode contar com nós, não é? 

Maxi: e que iremos te ajudar sempre que precisar. 

Naty: calma, gente - pediu um tempo com as mãos - deixa ele falar no tempo dele. 

León: prometem que não vão falar nada para a Violetta? Eu sei que ela está muito chateada comigo, e que eu sou um puto de um canalha, mas eu preciso manter em segredo… 

Eles se entreolharam e cada um assentiu para mim. 

Respirei fundo e comecei a contar do começo. O motivo do meu sumiço que ficou mais frequente há algumas semanas, o porquê omiti isso da Violetta e qual era, e é, minha surpresa para ela. 

Fiquei com medo deles não aceitarem me ajudar, mas eles aceitaram. 

Depois de contar tudo, pedi para ficar só e aos poucos eles foram saindo. 

Cami: León, posso falar contigo? - se virou para mim assim que todos saíram. Apenas assenti e sentei na cama. 

León: como ela está? Chegou bem? - disparei as incógnitas que estavam presas dentro de mim durante o dia inteiro. 

Cami: chegou, já me mandou foto com os pais e com o amigo maluco lá - brincou rindo. 

León: posso ver? - supliquei, e com receio a Cami me deu o celular. 

Olhei para a foto e sorri ao ver seu sorriso. Parecia estar feliz ao lado dos seus pais, que inclusive também pareciam ser pessoas boas. 

Passei a foto para o lado e sorri mais ainda quando vi uma foto apenas dela, jogada em uma cama, provavelmente a dela, dormindo. Passei mais uma vez para o lado e percebi que quem tirou a foto anterior foi o tal Caio, pois a próxima era uma selfie dele, mostrando no fundo a violetta dormindo na cama. 

Entreguei o celular a Cami e mordi os lábios. Eu queria estar ali, com ela. 

León: Eu preciso aguentar isso por apenas uma semana - falei para mim mesmo. 

Cami: Eu não sei se ela vai aguentar uma semana assim, León. - a encarei sem entender - Violetta está fragilizada por ter terminando assim com você, e ainda mais por você não ter dado uma explicação decente a ela. 

Fechei os olhos e apoiei minha cabeça nas duas mãos. Eu não sei nem o quanto chorei de sexta-feira para cá pensando nisso. Fui eu quem desmoronou o meu próprio relacionamento, e sou eu quem está fazendo a Violetta sofrer nesse exato momento. 

León: eu sou uma merda mesmo, porra - passei a mão pelo meu cabelo e encarei a Cami - você acha que ela vai me perdoar? 

Cami: ela te ama, e aliás, sei que o coração dela irá amolecer quando descobrir o que está acontecendo… - ficou de pé - tenta descansar, amanhã nós vamos acordar cedo.

León: Eu não vou para o colégio - dei de ombros. 

Cami: nós também não - piscou fechando a porta do meu quarto após sair. 

Fechei os olhos e me joguei na cama.

Que saudade, princesa…