Orochimaru não disse nada por alguns momentos.
-Se tem algo a dizer, diga de uma vez.
-Sinto que ela é uma ameaça para nós.
Nunca tive tanta vontade de arremessar alguém escada abaixo. E era meu criado mais fiel. Contudo, mantive-me controlado.
-Porque cismou com a baronesa agora?
-Porque está cego com os sentimentos que nutre por ela.
Parei. Desta vez, considerando jogá-lo da escada.
-Como pode afirmar tal coisa?
-Pela forma como olha para a senhorita, ou ainda, pela forma como reagiu a sua ausência o dia todo.
-Creio que lhe falte discernimento para interpretar certas coisas.
-Ao contrário, meu senhor. Creio que eu seja o único a ver as coisas com clareza por aqui. – Ele disse. – Devia manda-la embora antes que ela arruíne a sua vida.
-Claro. No mesmo dia em que eu fizer o mesmo com você.
-O quê?!
-Foi terrivelmente grosseiro com a baronesa, Orochimaru. Com que finalidade? Ajude-me a entender o seu objetivo.
-Oh, meu senhor! Minha atitude não é perniciosa. Meu único objetivo é protege-lo.
-Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim. – Virei-me para ele. – E não ouse fazer mau julgamento de lady Sakura ou perderá o meu respeito.
-Mas, meu senhor...
-Não espero dizer uma segunda vez.
-Então, devo acatar como uma ordem?
-Eu nunca lhe ordeno nada, apenas sugiro. – Disse a ele. – Creio que me conheça o bastante para saber a diferença.
-Certamente, excelência.
-Se não tem mais nada a tratar comigo, com licença.
Meus olhos a procuraram enquanto descia as escadas rumo ao salão principal. Desapontei-me por não tê-la encontrado. Pensava em bater à porta de seu aposento e fazê-la me acompanhar até aqui, quando a esposa de Itachi se aproximou.
-É um prazer revê-lo, lorde Bedford. – Curvou-se elegantemente.
-Sem formalidades, Izumi. – Sorri. – É bom tê-la outra vez em Wolburn Abbey.
-Faz algum tempo desde a última vez.
-Sim. E se me permite dizer, está bonita como sempre.
-Não precisa exagerar. – Riu.
-Só porque é minha cunhada favorita.
-Que eu saiba, sou sua única cunhada Sasuke.
O sorriso em meu rosto arrefeceu com a aproximação de seu marido, que antes conversava com Sai. O que fazia muito sentido, já que traidores se merecem e de certo, possuíam a habilidade de reconhecer uns aos outros.
-Foi muita gentileza ceder a carruagem para que eu pudesse busca-la na estação mais cedo. – Ele disse.
-Não o fiz por você.
-Ainda assim, agradeço. – Insistiu.
-Onde está lady Sakura? – Indagou Izumi apenas para impedir que uma discussão entre nós tivesse início, eu supunha. Mas como se tivesse encontrado a resposta para a própria pergunta, a vi sorrir enquanto olhava para a escada a minhas costas e acompanhei seu olhar. Senti meu coração falhar uma batida. Eu não usaria linda para descrevê-la. Talvez deslumbrante fosse uma palavra mais adequada. Naquele momento, reconheci o vestido vermelho com que havia presenteado Ino certa vez e ela nunca usou. Aquela cor, no entanto, havia combinado tanto com Sakura que tive a certeza de ter feito a escolha certa.
-Boa noite.
Não a respondi. Era como se houvesse perdido repentinamente o dom da fala. Também não conseguia pensar no futuro. Tudo o que sempre imaginei, esperei e desejei parecia confuso agora. Quando foi que perdi o controle? De repente, senti vontade de troçar de mim mesmo. Não havia nada de confuso em meus pensamentos, apenas haviam mudado de direção. Nos últimos dias, resumiam-se a uma mulher.
Sakura fitava-me com intensidade, os cabelos rosados cintilando a luz do ambiente, os olhos imensos e curiosos.
Eu não estava interessado nas conversas aleatórias ao redor da mesa, mas estava atento a Sakura. A cada detalhe da pessoa encantadora que ela era. Sua risada suave, o modo como se portava à mesa, a delicadeza em agradecer os criados que serviam o jantar. Contudo, algo desviou minha atenção dela.
-Vai se juntar a nós na caçada no sábado? – Ouvi Naruto perguntar a Itachi.
-Serei bem-vindo?
-Apenas responda à pergunta. – Intrometi-me.
-Não precisa se esforçar para ter uma resposta, uma vez que não deseja realmente que eu vá. – Provocou. – Minhas desculpas porém, por não aceitar o convite.
-Eu não me importo.
-Não desacredito. Essa sua atitude tornou-se previsível. – Ele disse. – Apesar de olhar para você e não o reconhecer, vejo que a criação venceu a natureza nessa batalha.
-Cale-se antes que eu mande escolta-lo para fora daqui e proíba sua presença definitivamente. – Me coloquei em pé. – Se não o fiz ainda, foi em respeito a sua esposa.
-Já chega! – Bradou Sakura. Havia um brilho diferente em seu olhar. Como uma chama que parecia capaz de carbonizar tudo ao seu redor. – Seu irmão o ama. Ele tem feito o que pode para compensar os anos de ausência e você não tem retribuído com nada além de ódio e desprezo.
-Sakura... – Eu não sabia o que dizer.
-Seu irmão o ama. – Repetiu. – E só quer se reaproximar de você. Ele teria cuidado de você, mas as responsabilidades que teve de assumir tão cedo o tomaram. Ele está pagando por algo que não é culpa dele e você o está punindo com um fardo que ele não merece carregar. – Suspirou e então pareceu envergonhar-se. – Sei que não deveria me intrometer num assunto que não me diz respeito, mas me entristece ver que dois irmãos, que são a única família um do outro, não se dão bem por conta de um mal-entendido.
Antes de sua interrupção, a raiva espiralava dentro de mim. Agora, toda a tensão havia se dissipado do meu corpo dando lugar a outro sentimento. Sabia que era mais do que admiração o que estava sentindo. Talvez estivesse deslumbrado demais para tentar compreender, mas aquela sensação crescente não podia ser ignorada. Contudo, percebi que olhavam-me ansiosos enquanto esperavam que eu esboçasse alguma reação.
Me afastando da mesa, deixei a sala de jantar. Não esperava porém, que Itachi fosse me seguir até o escritório.
-Ela é mesmo fascinante.
Concordei tentando não demonstrar tensão. Ele, no entanto, parecia calmo. Itachi sempre parecia muito calmo em qualquer situação, o que me irritava profundamente. Fitava a noite através das janelas do cômodo, não se incomodando com o meu silencio.
-O que ela disse é verdade? - Eu quis saber, rompendo a quietude.
-Sim.
-Porque nunca me contou?
-Eu lhe disse a mesma coisa muitas vezes ao longo de todos esses anos, irmão. No entanto, você se recusou a acreditar em mim. Porque ouvir o mesmo da baronesa o afetou?
-Talvez porque ela tenha sido contundente, enquanto você sempre se expressou com calma em demasia.
-Ah, preciso ter isso em mente daqui em diante. É preciso gritar para atingi-lo.
-Desculpe-me.
-Pelo quê?
-Por acreditar que você havia me abandonado e que não se importava comigo.
-Isso nunca foi verdade.
-Agora, eu sei que não.
-Mais de vinte anos se passaram e eu, sinceramente, não espero que me perdoe. – Ele disse. – Mas peço, por favor, que me deixe fazer parte de sua vida meu irmão.
Rompi o espaço que nos separava e o abracei. Algo que já não experimentava há anos. A barreira que havia criado para afastá-lo, não existia mais. Graças a Sakura, pude ver aquilo para o que vinha fechando os meus olhos. Ela parecia ter sua própria luz. Tão brilhante e capaz de iluminar tudo ao seu redor. Na verdade, era mais do que isso. Para mim, ela era como a luz do sol na primavera.
-Obrigado, irmão.
-Agradeça a baronesa. – Disse-lhe enquanto servia-nos uma dose de conhaque.
-Farei isso. – Ele riu. – Ela significa muito para você, não é?
-Eu a conheço há pouco tempo, portanto ainda não sei o que sinto. É perigoso julgar as emoções tão precipitadamente, sem que uma boa avaliação seja feita. Na verdade, isso seria um erro.
-Ela parece gostar muito de você.
Não precisei perguntar de onde ele havia tirado aquela ideia.
-Assim como gosto dela. Você mesmo constatou que Sakura é uma mulher fascinante.
-Quando foi que você e Ino deixaram de se gostar? Quando a baronesa chegou?
Quase engasguei com a bebida.
-Como já afirmei, acabamos de nos conhecer. Sakura e eu não somos amantes.
-Eu acredito. Mas não foi essa a minha pergunta.
-Você é meu irmão e acabamos de fazer as pazes. Mas acredite, há coisas na vida que são privadas, não importando se você é um nobre ou um criado. Isso é algo que eu gostaria de manter particular.
Depois de tanto tempo, havia me esquecido que nada passava despercebido aos olhos dele.
-Como quiser. – Ergueu seu copo num brinde. – À lady Sakura.
Ah, sim. Eu gostaria de brindar com ela mais tarde. Iria agradece-la apropriadamente por sua intervenção. Muito embora, soubesse que ela deveria estar acreditando que eu estava zangado consigo por isso.
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