Um dos soldados da torre principal, foi cutucado com certa insistência. Antes que o homem pudesse reclamar, notou a direção apontada pelo colega que o importunara.
Uma forasteira muito suspeita se aproximava dos portões da fortaleza. A pobre infeliz parecia não se importar com o fato de que, todos os soldados colocavam-se de prontidão com a sua aproximação.
— Nem mais um passo, maldita! Não pense que por ser mulher, terei alguma piedade.
— Que bom saber disso, meu bravo soldado. - o manto foi retirado da cabeça da jovem mulher, revelando ser na verdade, o futuro rei de Pars; o príncipe Arslan. – Fico feliz que meus homens não se deixam levar pelas graças de qualquer forasteira, mesmo assim, gostaria de um pouco mais de compaixão de vossa parte.
O soldado se ajoelhou ali mesmo, sentindo o pânico dominá-lo. Tinha plena consciência de que seu ato rude poderia lhe custar a vida.
— Oh, jovem príncipe de Pars! Sou um cego inútil, e não mereço nenhum tipo de clemência de vossa parte.
— Eu o perdoo se abrir o portão imediatamente e me trazer água bem fresca, jovem soldado. - Arslan apenas sorriu cansado. Jamais puniria alguém por estar alerta a invasores.
Assim que foi devidamente acolhido pelos soldados, Arslan viu Narsus correr aflito ao seu encontro.
— Sua Alteza!! - o homem o abraçou com força, passando a examiná-lo em seguida. – Você está bem, graças aos céus! Estávamos todos preocupados.
— Me perdoe, Narsus! Fui descuidado e causei problemas a todos. Me sinto tão envergonhado pelo que fiz! - imediatamente a imagem de Jaswant lhe veio a mente, causando um forte rubor em sua face.
— Não se preocupe, Alteza. Não causou problemas a ninguém. - a expressão de Narsus de repente se tornou tétrica. – Bem, não exatamente a todos. - ouve um longo silêncio, em que Narsus refletia se devia ou não prosseguir com o assunto. – Jaswant encontra-se agora sob custódia; na prisão.
O rosto de Arslan se contorceu em uma mistura de angústia e fúria. Por que não pensou nos problemas que poderia causar ao shinduriano? Por que apenas não foi até ele para conversar abertamente, como sempre havia feito antes? O que diabos tinha mudado tanto, a ponto de fazê-lo correr, ao ver o moreno dormindo tranquilamente perto do lago, naquela noite?
— Posso vê-lo, Narsus? - seu pedido saiu mais como uma súplica.
— Óbvio que sim, Alteza! Depois de cuidarmos do seu ombro. - Narsus apontou para o ferimento que voltava a sangrar. – Não se preocupe, Daryun está com ele agora.
Logo depois, os dois foram em direção a prisão, que ficava em uma parte isolada, na fortaleza.
Arslan e Narsus, desceram a imensa escadaria de pedras, até chegarem ao primeiro pavimento, onde os prisioneiros menos problemáticos aguardavam o Julgamento Real.
Assim que se aproximaram, Arslan pode ver Daryun, Gieve e Falangies sentados no chão, próximos a cela que na verdade estava aberta, e que, em um primeiro momento, o garoto preferiu ignorar, temendo a reação do shinduriano.
Todos se calaram quando notaram a presença de Arslan ali.
— Jaswant!! - havia dor em cada letra do nome pronunciado.
O belo homem de olhos verdes o fitou, sem realmente encará-lo diretamente. Arslan não soube dizer que expressão o shinduriano exibia, parecia ser nenhuma delas; pelo menos não por fora.
— Jaswant, e… eu sinto muito… por favor me perdoe! Eu não sei o que deu em mim, fiquei muito envergonhado, eu… eu… - o futuro rei de Pars atropelava as palavras em um visível nervosismo.
— Por favor não diga mais nada, Arslan-dono; eu insisto!
Desta vez, Arslan teve certeza de que o “por favor, não diga mais nada!” se referia aos fatos da noite que tiveram juntos. O garoto se calou rapidamente sem saber o que mais dizer para se redimir de sua culpa.
— Alteza! - Daryun que estivera quieto até agora, decidiu interferir. – Só estamos aqui por mera formalidade, se for de sua vontade, podemos deixá-los a sós.
— Acho que devemos. - Gieve se levantou observando o jovem príncipe. – Aqui não se trata de uma reunião de guerra qualquer, mas sim de casos do coração, certo, Arslan-sama? Não devemos ouvir nada que nossos ouvidos não possam suportar!- Gieve sorriu malicioso ao arrancar um olhar encabulado de Arslan.
— Gieve! Não seja tão impertinente com Vossa Alteza! - Narsus se enfureceu com a ousadia do músico, que apenas levantou as mãos em sua defesa.
— Sua Alteza? - Falangies esperou pela confirmação do garoto, que veio apena com um leve aceno de cabeça.
— Desculpe a todos, prometo que isso não se repetirá novamente. - Arslan fez uma pequena reverência aos amigos, que deixaram o local em seguida.
Arslan esperou a porta ser fechada para se dirigir novamente a Jaswant. O garoto entrou na cela onde Jaswant permanecia sentado, e a fechou de leve. Ficou por um tempo com a cabeça baixa, sem conseguir dizer algo decente ao moreno, que apenas o observava sem também dizer nada.
— Como está o seu ombro? - Jaswant fez menção de tocar o ferimento de Arslan, mas o garoto afastou-se do moreno, evitando seu toque. Jaswant se sentiu ridículo por tentar tocá-lo assim; sem permissão. – Desculpe, Arslan-dono!
Antes que o shinduriano pudesse recolher sua mão, o jovem príncipe a segurou com força, trazendo-a de volta para si.
— Meu ombro ainda doí muito. Narsus teve trabalho para enfaixá-lo. - Arslan levou a mão do homem aos seus lábios, deslisando-a por sua bochecha, e, em seguida, a levando até sua nuca. – Mas, há outros lugares em que você pode me tocar.
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