História Dois Reis (Sterek) - Derek é um grande ator

   As arenas costumavam ser uma bagunça, quando o sol brilhava e todos estavam apostando em seus campeões preferidos. Ao cair da noite se tornavam silenciosas, a contagem de dinheiro começava e a bagunça era substituída por uma segurança minuciosa, homens armados em lugares estratégicos enquanto os lutadores descansavam próximo a sala do dono.

O problema era que todos esperavam por um ataque de um batalhão, suas balestras estavam carregadas prontas para matar mais de cem homens. Esperavam que os ladrões tentassem escalar os portões ou que invadissem o beco ao lado. E quando Stiles desceu até aos túneis, se esgueirando entre as sombras e sendo silencioso, eles não puderam fazer nada.

Stiles conhecia cada planta de todas as arenas. Os escritórios dos donos e seus dormitórios ficavam próximo aos túneis, para uma fuga rápida e segura. Tudo o que precisava fazer era apagar os dois guardas que guardavam a entrada dos túneis antes que dos alarmes.

O escritório era bem iluminado, mas fechado. A única saída e entrada era a porta. Stiles olhou ao redor, o dinheiro estava intocado sobre a mesa, havia alguns documentos e uma lista de nomes.

A lista tinha dois nomes riscados em tinta vermelha. Stiles não precisou de muito para saber que era Liam Dunbar e Tristan Zadi. Os dois assassinos que falharam.

Ouviu passos do lado de fora da sala. Foi silenciosamente até a porta, onde ficou parado, esperando que ela se abrisse e o escondesse. Quando o homem a fechou novamente, teve o vislumbre de uma lâmina afiada apontada na direção de sua garganta. Não houve tempo para gritar, Stiles empurrou o dono da arena até a mesa e o prendeu entre a lâmina e madeira escura.

— Majestade... — Tesmond gaguejou, os olhos arregalados e a boca trêmula causou uma satisfação em Stiles.

O rei se afastou devagar, mantendo a lâmina na altura dos olhos. Tesmond sabia que seria imprudente gritar, pois antes de seus homens chegarem ao escritório, seu pescoço seria uma fonte de sangue.

— A cidade quatro não é uma das minhas preferidas, Tesmond. E depois do que soube, acredite, estou ainda mais decepcionado — a voz de Stiles soava calma e serena, como numa conversa agradável com um amigo de infância.

Andava pela sala em passos lentos. O modo teatral como agia deixava Tesmond ainda mais apreensivo.

— Adoraria ajudar se soubesse do que está falando!

Stiles parou. Girou sobre seus calcanhares e encarou Tesmond.

— Meu marido foi caçado como uma presa qualquer. Colocaram uma corda em meu pescoço. Sei que seus lutadores estão por trás de tudo isso.

— Majestade, eu juro que....

— Não tente negar, Tesmond. Isso vai me deixar de mal humor.

Tesmond, um homem alto e corpulento encarou o chão. Seus cabelos longos caindo em seu rosto, escondendo os olhos vermelhos de raiva e o desejo que matar Stiles ali, naquele momento.

— Eu poderia dizer que pagaria o dobro do que Deucalion pagou, essas besteiras. Mas meu marido vai voltar para Lupus e eu desejo que ele retorne em segurança, sem a surpresa de nenhum grupo de assassinos.

Tesmond levantou a cabeça. Encarou Stiles com surpresa.

Antes que conseguisse formar uma frase, a lâmina que Stiles segurava atravessou a sala. Acertou o alvo em cheio. Tesmond encarou a pequena adaga cravada em sua barriga. Ao olhar Stiles foi para trás. O rei estava com outra adaga nas mãos.

Enfurecido, o homem partiu para cima de Stiles. Ignorou a arma na mão do rei, tentando enforcar o menor. Com habilidade, Stiles conseguiu escapar, evitando ser sufocado, mas não previu o soco em sua boca.

Sentiu o gosto salgado do sangue. Seu lábio inferior estava cortado. Olhou para Tesmond, deixando de lado toda a ideia de uma morte rápida.

Derek respirou fundo. As lembranças da noite anterior o fez gritar contra o travesseiro. Como poderia culpar Stiles se ele se deixou levar, até mesmo ficou excitado com ele sobre seu colo, as lembranças tinham um efeito parecido. Para piorar, o Stilinski não voltou durante a noite. A preocupação o fez se levantar cedo.

Prometeu a si mesmo que iria ocupar sua mente com qualquer coisa que não fosse Stiles mas acabou perguntando a um guarda sobre o paradeiro do rei. O guarda não sabia responder, o que deixou Derek ainda mais preocupado. Se o plano era não pensar em Stiles, falhou miseravelmente pois ficou a manhã inteira se perguntando onde ele estaria.

Apesar da situação em que acabou naquela noite, não conseguia esquecer o olhar no rosto de Stiles, ele parecia estar preparado para enfrentar tudo. O que realmente era preocupante, pois mesmo receoso Stiles se colocava em perigo.

— Achei que ia viajar com seu tio! — Ouviu a voz de Lydia. A ruiva estava caminhando em sua direção, preocupada em arrumar a manga de seu vestido.

Derek parou de andar. O corredor estava vazio, os guardas que deveriam estar cobrindo as entradas deveriam estar trocando de turno.

— Não, preferi ficar. Aliás, você viu o Stiles? — Esperava ouvir uma resposta evasiva, típico de Lydia quando não confiava em alguém, mas a ruiva assentiu.

— Ele está no campo de treinamento, está examinando os novos soldados.

Agradeceu a informação e foi embora antes que tivesse que estender sua conversa com Lydia. Se sentiu um completo idiota por achar que alguma coisa iria acontecer a Stiles.

O campo de treinamento não deixou as melhores impressões na primeira vez que esteve ali. Um grupo de cem homens estavam formados em dez fileiras. Na frente estava Stiles.

O rei estava vestindo uma roupa simples, mas as botas de couro e a cota de malha deixava mais parecido com um soldado. Derek se debruçou sobre a balaustrada do camarote, observando cada homem. Todos pareciam impacientes e nada contente em estar ali, entretanto, notou Derek, bastava um olhar de Stiles para eles ajeitarem a postura e engolir em seco.

— O que ele está aprontando? — Deaton o surpreendeu, mantinha atento em Stiles e tentava entender o que ele dizia. Depois de alguns segundos desistiu e se voltou para Derek, entregando um papel onde uma mensagem havia sido escrita. — Tesmond, dono de duas arenas da cidade quatro morreu na madrugada. Apunhalado na barriga, no coração e pendurado pelo pescoço.

O olhar de Derek foi para Stiles. O papel era um desenho de um corpo humano com algumas partes marcadas em vermelho, onde Tesmond havia sido golpeado.

— A rivalidade entre donos de arenas é algo comum em todos os lugares, posso notar. Tem um culpado? Assassinato é um crime grave.

— Não viram ninguém. Cinquenta homens e ninguém viu nada.

Derek cobriu a boca com a mão.

— Será que ele fez isso a si mesmo? — Pareceu surpreso, até assombrado. — Que tipo de crime ele cometeu para se punir dessa maneira?

Alan abaixou os olhos para Stiles. Tirou uma carta da manga de sua túnica e entregou a Derek, dessa vez estava relutante.

— O antecessor de Stiles, Noah, mandou essa carta. Entrega pra ele?

Sem dar tempo para uma resposta, Deaton saiu do camarote. Derek sentiu suas mãos formigar com a vontade de abrir a carta e ler, embora a curiosidade fosse grande não iria quebrar a recém confiança de Stiles.

Assobiou, chamando a atenção do rei. Stiles se virou em sua direção e um sorriso apareceu apareceu sem que ele pudesse evitar. Derek levantou a mão, balançando a carta e esperou que ele fosse até o camarote.

Lá embaixo, Parrish continuou com a leitura do juramento de lealdade. Não demorou muito para que Stiles aparecesse na porta, um pouco ofegante por ter subido as escadas tão depressa.

— Onde foi durante a noite? — Derek perguntou, se recusando a entregar a carta sem ouvir a resposta.

Stiles revirou os olhos, em um gesto rápido conseguiu pegar a carta.

— Não estava com nenhuma companhia agradável, não fique com ciúmes — deu de ombros.

Abriu a carta. Não conseguiu ler nada, pois a mão de Derek segurou seu queixo, o forçando a olhar para cima. Os olhos esverdeados pararam sobre a ferida.

— Você estava na companhia de Tesmond, o homem que foi achado morto esta manhã?

Stiles assentiu.

— Você insiste em se arriscar dessa maneira — a voz de Derek ficou mais grave que o normal, fazendo Stiles sentir um arrepio subir por sua espinha. — Ele teve o que mereceu.

No calor do momento Derek se aproximou rápido, deixando um beijo na testa de Stiles e se afastou. Sua admiração por Stiles estava crescendo, ver ele se revoltando contra Deucalion, sendo selvagem e ao mesmo tempo discreto.

Stiles abriu a carta. Um sorriso cresceu em seu rosto. Guardou a carta e voltou para o campo.

Os preparativos para o baile começou. Com isso, muitas encomendas chegavam ao castelo. Um provador real foi designado para provar todos os ingredientes que chegavam, temiam conter veneno. Depois disso, apenas a equipe da cozinha podia entrar na ala oeste, onde toda a comida seria preparada.

Stiles estava de mau humor. Lydia sugeriu que o baile fosse adiantado, pois os novos acontecimentos poderia deixar Deucalion enfurecido e ainda mais ousado. Em outras palavras, ela queria que Derek fosse logo embora de Arietes, para o desagrado de Stiles.

A carta que seu pai mandou estava guardada com cuidado dentro de um dos livros grossos da biblioteca. As palavras escritas de modo tão bruto e bagunçado foi o suficiente para fazer Stiles tomar uma decisão.

Se seu pai estava dizendo que não deveria se preocupar com os sentimentos, e sim aproveitar deles da melhor forma, ele faria. O último conselho que recebeu foi totalmente diferente, mas como o próprio Noah disse, ficar preso num cela faz o homem pensar e refletir sobre seus arrependimentos, principalmente. Para Noah, seu maior arrependimento foi não ter demonstrado o quanto amava sua esposa, ela partiu nos braços de Sedna achando que seu marido amava mais a coroa.

Stiles não tinha mais o que fazer. A personalidade de Derek era um desafio, teimoso e bruto, gostava de pessoas assim até dominá-las e ter seu ego inflado, contudo o carinho raro por parte de Derek fazia seu coração acelerar e sentia completamente rendido a ele.

A beleza de Derek também deixava Stiles inebriado, a primeira vez que viu Derek sentiu uma atração física, que foi ignorada por toda a adrenalina e pressão.

Agora, depois de tudo o que passaram, alguém estava dizendo que tudo bem se apaixonar por Derek. E embora Stiles gostasse de discordar de seu pai, daquela vez assumia que Noah tinha razão.

Um novo dia amanheceu e Stiles estava na biblioteca. Ficou tão animado em ser descarado sobre seus sentimentos com Derek que adormeceu entre os livros. Aquela nova fase estava dando um pouco de medo. Não da rejeição, depois de anos sendo chutado por Lydia não conseguia mais se importar com isso, mas do que viria a seguir.

Preferia ouvir um não do que se decepcionar no futuro.

Saiu da biblioteca e encontrou com Derek em seu quarto. Assim que abriu a porta, Derek o encarou procurando por alguma outra ferida.

— Não me fala que foi atrás de outra pessoa para matar.

Stiles sorriu.

— Eu só dormi na biblioteca. Estava cansado depois de tanta coisa ontem.

O Hale o encarou. A fala suave de Stiles e a forma casual como gesticulava parecia um alarme em sua cabeça. Quando Stiles não estava sendo arrogante ou fingindo ser um idiota completo, era agradável.

Derek se sentou na cama. Tinha escolhido aquele dia para polir suas armas. Sua missão foi ficando de lado conforme observava Stiles.

O Stilinski agora estava com a bochechas mais rosadas, a boca tinha uma cor mais avermelhada, o que se tornava chamativo e desconcertante para Derek. Stiles parecia bem, e Derek sentiu alívio ao notar isso.

Por alguns minutos, Stiles se sentiu tão confortável mesmo na presença de Derek, que esqueceu de suas cicatrizes. Desesperado para tirar a roupa, que agora tinha cheiro de mofo da biblioteca, acabou levantando tirando o casaco de pele e levantando a blusa.

Ao se lembrar, abaixou rapidamente, se virando para Derek torcendo para que ele não tivesse visto. Mas o Hale o olhava atentamente.

Não pergunte! — Stiles desejou com todas suas forças.

Derek voltou sua atenção para a lâmina.