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História Donghae in the Sky with Diamonds - Sixième


Escrita por: heartquake

Notas do Autor


Eu dormi com seu nome em meus lábios.

Capítulo 6 - Sixième


Olhei o relógio velho preso à parede tiquetaqueando, senti o calor do sol de fim de verão me tocar o rosto em sua carícia morna, ouvi alguns berros ao longe e em seguida eu senti um baque diretamente em meu ombro direito, forte o suficiente para me levar ao chão e detonar o local onde só o tecido fino da camiseta amarela me cobria. Minha cabeça rodou no momento em que eu senti o sangue começar a jorrar e macular minha roupa, mas eu estava me sentindo fraco demais para olhar o estrago que havia sido feito.

Foi daquele jeito que eu concluí que o dia realmente não estava indo bem. Continuei jogado no chão, sentindo algumas pedrinhas encravarem em minhas costas sem piedade. Fechei os olhos e tentei respirar direito, mas eu me sentia um asmático tuberculoso com o peito doendo por causa da queda.

Talvez o calor que eu sentia não colaborasse para que eu tentasse permanecer acordado. Meus músculos latejaram quando os caras da borracharia vieram me ajudar a levantar e me arrastaram – quase em sentido literal devido minhas pernas fracas – até a pequena saleta que o velho Choi chamava de escritório de negócios. Na verdade, ele só sentava lá para fumar de vez em quando.

Fechei os olhos quando me deitaram no sofázinho capenga com o estofado se desfazendo, que deixava à mostra a espuma meio amarelada e suja. Tentei me mexer e pressionar o local onde eu havia ferido, mas uma mão segurou meu pulso no meio do caminho e eu soube de quem eram aqueles dedos em razão daquele toque meio termo que só pertencia a uma pessoa. Eu quase sorri, mas acabei somente gemendo de dor. Sua mão estava meio gelada, como se tivesse acabado de lavá-la e aquilo foi o suficiente para que um arrepio lambesse minha espinha.

Abri os olhos e encontrei os de Hyukjae olhando em minha direção, quase perto demais para que eu precisasse controlar minha respiração que começava a descompassar novamente. Eu juro ter corado diante aquela aparente preocupação em suas feições, mas talvez fosse delírio meu.

- O que você está fazendo aqui? – demorei um pouco para completar a frase, visto que eu estava brigando com as palavras em meu cérebro.

- Me chamaram para ver alguém que tinha se machucado. Só não imaginei que fosse você – disse ele enquanto tirava um punhado de cabelo que caía sobre meu olho. Seus dedos resvalaram em minha testa em um carinho sutil demais, que quase me fez pedir para que ele aprofundasse o toque. – Vou dar um jeito nisso.

O ventilador de teto que fazia um barulho estranho se misturava a musica que tocava na rádio capenga durante as rotações e eu aguardei enquanto Hyukjae perambulava na saleta com uma mochila nas costas. Em silêncio, eu me perguntava como tudo havia acontecido minutos antes. Eu queria nem ter levantado naquele dia.

Eu havia dormido demais por ter ido tarde para a cama. Durante a noite anterior eu tinha remoído sobre grande parte dos sentimentos que me assolavam tão de repente. O papel sujo com três linhas de poesia pesava em meu tapete na noite passada do mesmo jeito que estava pesando agora em meu bolso, mas nem aquelas palavras traduziam o turbilhão de coisas que se passavam em minha cabeça.

Quando cheguei à escola, a primeira pessoa que veio me perturbar antes mesmo de meus amigos foi a Jessica e, assim que encontrei seus olhos maliciosos, me arrependi de ter falado sobre ela para Hyukjae. Ela não havia desistido dele e aquilo me irritava. Em casa eu encontrei um Donghwa meio estropiado, com um braço partido em dois e um bocado de arranhões no corpo – e eu não sabia se sentia pena ou caçoava do coitado. E agora era a minha vez de ser agraciado com uma pereba enorme no ombro.

A dor era suportável, mas incomodava como o capeta. Segurei o lábio inferior entre os dentes para que eu não acabasse resmungando mais do que o necessário. Hyukjae voltou até onde eu estava deitado e pediu para que eu me sentasse. O sangue escorria em minha camisa e uma náusea tomou conta de mim. Eu meio que não gostava de ver sangue.

- Está doendo muito? – Hyukjae perguntou, massageando com aquela voz preocupada os meus ouvidos. Suas mãos tentavam afastar o tecido em meu ombro e eu procurava não olhar aquela ferida jorrando um vermelho escarlate pelo corte. – Não vai dar pra fazer muita coisa assim, acho que você vai ter que tirar a camisa.

Meus olhos antes semisserados dobraram de tamanho ao ouvir suas palavras. Não que eu não ficasse sem camisa em casa, mas era diferente. Eu conseguia sentir o sangue fluir em meu rosto, esquentando minha pele do jeito que o verão fazia. Nem tinha certeza se conseguiria tirar a roupa, visto que eu estava ali, esculhambado demais pela dor e sem coragem alguma de me mexer. O que eu fiz mesmo foi encarar Hyukjae meio sem jeito e tentar abrir um sorrisinho que provavelmente parecia torto e deslocado demais.

Hyukjae riu e bagunçou o cabelo daquele jeito que somente ele sabia fazer, deixando que eu admirasse o modo como seus dedos flexionados se embrenhavam nos fios com perfeição. Tentei afastar qualquer tipo de pensamento além daquilo. Sinceramente, eu já tinha coisas demais para me envergonhar. A ideia de ficar seminu na frente de Hyukjae me constrangia, até porque eu não tinha metade das qualidades físicas que ele possuía e, saber que seus olhos ficariam focados em mim o tempo todo, me deixava nervoso ao quadrado.

- Quer que eu te ajude? – por alguns segundos eu me esqueci do latejar insistente em meu ombro e minha mente se tornou um borrão em branco. Fiquei estático. De alguma forma eu também esqueci como falar.

Antes que eu pudesse lembrar o alfabeto para tentar formular uma palavra, Hyukjae tocou a barra da minha camisa. Seus dedos encostaram de leve em minha pele e meu autocontrole se tornou admirável quando consegui segurar o tremor que queria subir por meu corpo. Remexi-me e respirei fundo quando o tecido cobriu minha visão enquanto Hyukjae continuava a deslizá-la para cima. Sem preparação alguma eu o encarei diretamente em seus olhos escuros. Eu me senti pequeno demais. Literalmente pelado. Era esquisito deixar alguém me encarar tão de perto e durante aqueles segundos eu continuava sangrando como se não fosse nada.

- Agora sim – disse ele. Quis me enterrar, mas ele foi logo embebendo uma gaze em água oxigenada e enfiando no corte. Quase eu solto um grito. Quase.

- Porra, Hyuk, podia ter falado que ia passar esse negócio – em outra situação eu teria desferido algum golpe fatal na cara dele, mas só protestei. Não que fosse lá muito higiênico, mas Hyukjae soprou de leve sobre meu ombro e o ardor foi diminuindo consideravelmente. Eu gostava desses atos que significavam mais que um punhado de palavras. O que eu mais precisava eram coisas como aqueles olhos riscados e os lábios que sopravam por preocupação por mim.

Tá que não tinha razão alguma para eu fantasiar, mas era como se eu estivesse começando a viver sob uma eterna trilha sonora meio brega e cafona, que deixa qualquer situação sutil demais e agradável o suficiente para que eu não quisesse sair dali nem a pau.

Enrolei os braços um sobre o outro meio que cobrindo minha barriga que se remexia quando Hyukjae tocava minha pele e eu passei a imaginar se eu merecia aquele tipo de carinho meio errado de um cara ou se eu simplesmente merecia carinho algum. Minha cabeça deu alguns nós e eu tentava não perturbar meu cérebro com perguntas sem fundamentos. Definitivamente estava tudo bem comigo.

Mas daí eu concluí que eu deveria me machucar mais vezes para ter certeza. Coisa que não era comum alguém querer.

Aquela imagem de Hyukjae fazendo o curativo em mim, com os olhos tomados de uma apreensão espontânea enquanto soprava o cabelo castanho da cara ou cantarolava junto com a música que tocava na rádio estava registrada em minha mente como a melhor fotografia que poderia existir. Eu estava satisfeito com aquilo.

- Pronto – Hyukjae falou quando terminou com as parafernálias. – Toma isso aqui para passar a dor. Não vai demorar tanto para sarar. Bem, eu acho.

Ele se levantou e deixou em minha mão uma cápsula de algum remédio que eu não sabia o nome e começou a guardar as coisas na mochila.

- Desde quando você paga de enfermeiro, Hyukjae? – caçoei dele antes mesmo de agradecer. Eu ri meio envergonhado e dei um jeito de colocar a camisa de volta ao corpo antes que ele virasse de frente para mim.

- É só quando tem alguém precisando – disse ele. – Você é um mal-agradecido, hein?

- Hey, não é assim – me esquivei daquela conclusão injusta e sorri. – Eu só não esperava que você soubesse fazer esse tipo de coisa.

- Tem muita coisa que eu faço que talvez você não saiba.

- Tipo o que?

- Coisas que talvez você nunca tenha feito – Hyukjae começou a se aproximar de mim e quase sem consciência do ato, eu dei um passo para trás. Seus olhos se fixaram em mim e ele sorriu de um jeito um tanto envergonhado, um sorriso brincalhão, quase de criança. Ele remexeu o cabelo com os dedos bonitos armando um pseudo topete e pareceu ter percebido algo que eu não fazia a mínima ideia. – Deixa para lá.

Minha curiosidade falou mais alto, como se tivesse vida própria e eu só queria saber o que ele faria. Meu coração deu marteladas erradas dentro do meu peito e me fez esquentar mais rápido do que deveria. Ele voltou a andar em minha direção e minha língua estalou quando abri a boca para falar algo que ficou pendurado ali, não dito, esperando para escapar.

- Não quero deixar para lá – voltei um passo, ficando mais perto dele.

Eu não tinha jeito pra muita coisa na vida. Nem com gente, nem com coisas. Eu ao menos sabia o que fazer com as mãos, mas Hyukjae me ajudou, me poupando o trabalho de ficar mais aflito do que estava, enlaçando meus pulsos com os dedos que acariciavam minha pele. O ponteiro corria e nesse período Hyukjae chegou perigosamente perto de mim, como poucas vezes eu tinha imaginado estar. Como nas situações que eram criadas só no meu subconsciente e que eu nunca revelaria à ninguém.

Naquele momento, a minha certeza estava ali. No jeito como a minha boca formigava e meu coração disparava do jeito mais incomum e quase patológico. Em como eu queria que ele se colasse a mim até nos fundirmos. Naquele modo como minhas pálpebras queriam cair até se fecharem. Em como eu ansiava.

- Você tem certeza de que quer saber? – perguntou ele, puxando-me para mais perto, ficando com o rosto agradavelmente à centímetros do meu, roçando o nariz em minha bochecha. Só consegui mover a cabeça em concordância, desacreditado na minha cara dura em estar prestes a fazer algo brutalmente fora dos meus princípios e a coisa toda que mamãe havia me ensinado.

Não era muito romântico, mas o que eu tinha no momento era o som do ventilador querendo cair do teto, cheiro de graxa e um calor dos infernos até começar a tocar Beatles na rádio depois de muita coisa ruim rodando naquela fm.

- Oh, darling, please believe me. I'll never do you no harm – senti quando os lábios de Hyukjae tocaram os meus de leve quando ele cantou junto à música bem baixinho, de modo que somente eu podia ouvir. Tinha um acorde exclusivo para mim. Eu, Donghae.

Quando aqueles lábios macios como nuvens se fecharam sobre meus lábios, eu senti o chão escapar de meus pés e o ar se perder no meio do caminho até meus pulmões, mas eu não me importei, porque foi como se eu estivesse esperando aquilo a minha vida toda. O toque era molhado e quente, me abraçava e comprimia muito além de minha boca. Abri uma brecha entre meus próprios lábios quando Hyukjae deslizou a língua sobre minha carne de um jeito muito bom. Aquele era definitivamente o meu lugar certo no mundo.

Dentro de um escritório fajuto, todo esfarrapado e machucado, com a boca colada à boca do cara mais do caralho que eu havia conhecido e com um Beatles tocando no fundo.

Em algum momento, Hyukjae deslizou a mão grande para a minha cintura, posicionando a palma na base da minha coluna, de um jeito como os galãs seguram as mocinhas nas novelas da televisão. Eu não consegui me sentir menos homem naquela hora, eu só quis que ele me apertasse mais contra o próprio corpo e foi com essa vontade que eu avancei com os braços ao redor do pescoço dele lentamente, calculando a velocidade que não faria meu ombro doer tanto.

Os lábios poéticos dele continuavam a explorar os meus e pensei que aquele poderia ter sido meu primeiro beijo de verdade, porque não tinha algo mais concreto do que o beijo que trocávamos.

Com um suspiro, ele me soltou e permaneceu de olhos fechados, respirando com tanta dificuldade quanto eu, pela boca. Concluí que o céu era bem ali. Misturado aos beijinhos que Hyukjae ainda deixava sobre os meus lábios.

- Matou a curiosidade agora? – perguntou ele enquanto enfiava a mão na cabeça para tentar arrumar a constante bagunça que ele chamava de cabelo. Percebi que eu estava com vergonha demais para responder alguma coisa e acabei ficando calado do jeito mais patético possível. Balbuciei algo que nem eu mesmo entendi e Hyukjae se afastou. – Tá tudo bem.

Fiquei alguns segundos pensando que eu era um idiota e só saí do meu transe particular quando o velho Choi apareceu no escritório perguntando se estava tudo bem e me mandando ir para casa. Hyukjae me olhava de esguelha e eu percebi que ele ria da minha cara de bicho grilo ainda sem reação.

Eu não sabia o que fazer.

- Donghae – Hyukjae me chamou quando ficamos à sós de novo. Ele chegou mais perto, levando meu coração aos extremos mais uma vez e tomando meu rosto entre suas palmas. – Eu gosto de você. Mesmo. Me desculpa se foi muito rápido. Eu não vou fazer nada que você não queira. Tá tudo bem.

- Hyuk... – se meu coração bombeasse mais um pouco de sangue para o meu corpo, eu cairia ali mesmo, no chão. Mordi o canto da boca e tentei não surtar. Era muita informação.

- Eu te levo em casa, okay?

Era palpável em seus olhos que ele também estava nervoso. Parecia que nós dois éramos adolescentes outra vez, que não sabíamos lidar com nada – o que era verdade, no meu caso – e ver que eu não era o único aliviou minha crise interna.

- Ei, Hyuk...

- O quê?

- Acho que ainda estou curioso – ainda consegui ver o olhar confuso que Hyukjae me lançou quando saí da sala às pressas.

Ele que tratasse de entender que eu queria que ele pintasse meu mundo com aquelas cores que só ele conhecia.


Notas Finais


Alguém me diz o que eu estou fazendo acordada à 2 da manhã, por favor.
Sério, eu gosto muito desse capítulo. Eu fiz ele todo à base de AM e as faixas 1 e 9 do disco novo do Coldplay; são músicas calmas, e eu gosto dessa ideia de música que parece nuvem como fundo para as minhas palavras. As pessoas chamam isso de romântico. (eu só concordo)
Pela milésima vez, desculpa pela minha falta de jeito.
Vocês que estão lendo são maravilhosas e eu amo cada jeitinho que vocês mostram que gostam desse troço aqui.

cos tai would give you all her diamonds, with love.


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