História Don't you remember? - Capítulo 8

Dias depois, era de tarde quando Sérgio foi em casa para ver como Raquel, Paula e Mariví estavam, já que era de costume fazer isso para ver se elas queriam ou precisavam de alguma coisa, estava até pensando em levar Paula para sair e se divertir um pouco com a filha, afinal fazia um tempo que não tinham um tempo de pai e filha. Marivi foi quem atendeu a porta.

- Oi meu querido, quanto tempo! Como está? - Marivi o recepcionou com seu sorriso acolhedor e carinhoso de sempre.

- Olá, dona Marivi! Estou bem, e a senhora? Vim para ver se vocês estão bem e precisam de algo.

- Eu estou ótima. Paula está dormindo pois ontem o dia na escola foi de gincanas e ela ainda está cansada.

- E Raquel?

- No quarto, meio desanimada. Ela está com cólicas, algumas dores, você sabe, esse tipo de problema. - Sérgio balançou a cabeça, entendendo.

- Bom, então eu vou buscar algumas coisas pra ela e já volto.

Com isso, Sérgio voltou para o carro e, antes de ir para o mercado, passou na farmácia para comprar o remédio que ele sabia que Raquel não tinha em casa, pois ela sempre esquecia de comprar. No mercado, ele compra o sorvete preferido dela, que é o sabor morango, e depois passa numa confeitaria antiga da cidade que ela adora e compra um bolo de prestígio, o favorito de Raquel.

Voltando para casa, Marivi atende ele novamente, com um sorriso no rosto ao ver que ele havia comprado coisas para ajudar a filha dela. Ela se despediu dele, alegando que estava esperando ele voltar para sair com umas amigas para jogar bingo.

Sérgio se dirigiu para a cozinha, pegou um prato e nele colocou um pedaço do bolo e um pouco de sorvete, pois Raquel gostava de comer os dois juntos. Ele pegou a cartela de comprimidos que havia comprado e também um copo de água. Depois, colocou tudo numa bandeja e subiu os andares da casa, dando uma rápida passada no quarto de Paula, que estava com a porta aberta, apenas para ver a filha dormindo um sono profundo.

Sérgio parou na porta do quarto de Raquel e, enquanto segurava a bandeja com uma mão, com a outra ele bateu levemente.

- Pode entrar, mama. - Raquel respondeu com uma voz baixa, achando que era a mãe.

Quando ele entrou, viu Raquel enrolada na cama feito um tatu e abriu um sorriso torto. Ele sabia que ela sentia muita dor nesse período, e sempre fazia o possível para ajudá-la, porque sabia que ela não reclamaria uma única vez, pois ela costumava apenas se deitar e ficar quietinha. Ela levantou a cabeça do travesseiro quando ouviu a voz dele.

- Hola. - ele disse, baixinho.

- Sérgio. - ela respondeu, surpresa. - Não esperava te ver aqui.

- Eu vim para ver como vocês todas estavam e Marivi acabou me dizendo que você não estava bem, então decidi te comprar algumas coisas.

Ela se sentou na cama, olhando a bandeja que ele tinha em mãos. Ele tinha realmente se dado ao trabalho de fazer aquilo por ela? Raquel resolveu culpar os hormônios da tpm por sentir seu coração tão amolecido.

- Meu Deus, Sérgio... - ela começou, vendo que ele havia comprado bolo de prestígio e sorvete de morango para ela, uma combinação que ela adora desde que se entende por gente. - Não sei nem como te agradecer, muito obrigada!

Ele ajeitou os óculos, dando um sorriso tímido, colocando a bandeja na mesa de cabeceira que havia ao lado da cama. Antes que ela pudesse se apressar para pegar o prato com o bolo, Sérgio interviu.

- Calma ai, mocinha. - ele disse, num tom brincalhão. - Tome o remédio primeiro. - continuou, destacando um comprimido da cartela e entregando para ela, juntamente com o copo de água.

- Sim, senhor. - ela respondeu no mesmo tom, rapidamente engolindo o remédio. - Agora eu posso? - ele assentiu sorrindo enquanto a observava comer.

- Quer que eu coloque O Diário de Bridget Jones pra você assistir?

Raquel franziu a testa, confusa.

- É seu filme de comédia romântica preferido. - ele explicou.

- Sério? Não me lembro.

- Bom, muitas coisas mudaram depois que nos casamos. - ele sorriu e ela sorriu de volta.

- Assiste comigo então? - ela pediu, olhando para ele com olhar de cachorrinho abandonado que, ela ainda não sabia, mas sempre tirava dele tudo o que ela queria.

- Tudo bem.

Ele colocou o filme na Netflix da televisão do quarto deles e foi buscar o pote de sorvete na cozinha quando viu que ela já tinha acabado o dela. Quando voltou, sentou-se ao lado dela. Sérgio ficou imensamente feliz ao ver ela sorrindo e se divertindo com o filme, coisa que o lembrava dos velhos tempos. Assim que ela riu e deitou a cabeça no ombro dele, ele pensou que seu peito poderia explodir de tanto amor que sentia por ela.

Quando o filme acabou, Raquel ainda estava com a cabeça no ombro de Sérgio, e parecendo se dar conta disso somente naquele momento, ela se afastou, endireitando-se na cama. Naquele exato instante, um flash invadiu sua mente, fazendo-a parar de se mexer.

Eles estavam em uma situação parecida, porém na sala, no andar de baixo. Eles estavam no sofá, a cabeça de Raquel no colo de Sérgio enquanto ele fazia carinho em seus cabelos.

- Sabe que é a milésima vez que você assiste esse filme só esse ano, não é? - ele comenta.

- Sim, mas você se importa? - ela rebate.

- Sinceramente? Não.

Os dois dão risada e ele dá um beijo na bochecha dela.

De volta ao presente, Sérgio percebe que de repente ela ficou paralisada.

- Raquel? Você está bem? - ele pergunta, preocupado.

- Sérgio, eu acho que tive uma lembrança.

- O que? É sério? - ele perguntou, completamente chocado.

- Sim! Bom, não é a primeira vez, eu já te contei que já tive alguns sonhos, não contei? - ele assentiu, ainda sem palavras. - Mas é a primeira vez que acontece enquanto estou acordada.

- E como foi? - Sérgio questionou, ajeitando os óculos.

Raquel contou em detalhes sobre a memória, porque achava importante que Sérgio soubesse. Ele ficou calado durante aqueles minutos em que ela relatava o que estava em sua mente.

- Eu sei que parece não ser nada demais, mas pra mim é tudo novo e... - Raquel começou a se explicar, mas Sérgio a interrompeu.

- Raquel, isso é ótimo! - ele abriu um largo sorriso. - É muito bom, de verdade. Seu cérebro está se recordando aos poucos.

A felicidade dele contagiou ela, que acabou por dar um abraço apertado nele.

- Vai ficar tudo bem, Sérgio. Eu sei que vai. Eu vou me lembrar, você vai ver. - ela disse num tom tão baixo que mais parecia um sussurro, com os braços em volta dele e a cabeça em seu ombro.

- Eu sei, Raquel. - ele respondeu no carinhosamente, no mesmo tom, ao mesmo tempo que acariciava o cabelo dela.

- Papai, você tá aqui! - eles ouviram a voz de Paula de repente, que entrou no quarto.

[...]

Algumas horas depois que Sérgio foi embora, Raquel estava se sentindo bem melhor depois dos cuidados que recebeu dele. Ela foi surpreendida pelo toque da campainha.

- Ora se não é a minha cunhada mais guapa! - Andrés disse sorrindo.

- Hola, Andrés, que surpresa! E, bom, que eu saiba você não tem outra cunhada, não é mesmo? - ela disse, já se sentindo contagiada pelo humor do cunhado.

Raquel conhecia Andrés pelas fotos de família que estavam pela casa. Quer dizer, ela sabia que o conhecia bem antes disso, mas não se lembrava, então era como estar conhecendo ele pela primeira vez. Sérgio havia falado dele para ela, inclusive contou que ele e Alicia namoravam, e os cunhados já haviam se encontrado pessoalmente em um dia que Sérgio foi até sua casa com o irmão a reboque e apresentou-os formalmente.

- Você continua sendo a mais bonita das cunhadas, te garanto. - ele piscou, arrancando uma risada de Raquel.

- Vale, vale. Vamos, entre.

Andrés se acomodou no sofá enquanto Raquel foi buscar um vinho para ele beber. Quando ela voltou, ele começou a falar.

- E minha querida sobrinha, como está? - ele perguntou enquanto bebia um gole do vinho.

- Está bem, lá em cima brincando com a avó.

- Ótimo! Vim aqui para falar contigo sobre o aniversário do Sérgio, que é semana que vem. Quero fazer algo pra ele.

- Sérgio não me parece do tipo que gosta de festas. - Raquel comentou, fazendo uma careta.

- Parece que você já está familiarizada com o jeito chato do meu hermanito. - ele revirou os olhos. - Não leve isso em conta, no começo ele resiste, mas depois acaba aceitando. E acredito que ele mereça se divertir e se distrair um pouco, não?

- Bom, sim, isso é verdade. - Raquel respondeu, pensando em como toda a situação atual deve estar sendo estressante para ele.

- Vai ser algo simples, só com os mais próximos, pode ser aqui? Vai ser mais fácil de arrumar tudo sem ele ver, já que ele passa mais tempo na minha casa agora.

- Claro, sem problemas, conte comigo.

- Perfeito! Ah e... Raquel?

- Sim?

- Obrigado por não afastar o Sérgio. - Andrés disse, um pouco mais sério agora. - Você é tudo o que mais importa pra ele, e ele sempre vai querer o que for melhor pra você, mas ele também está sofrendo, e é um consolo para ele ainda poder estar perto de você.

Raquel ficou surpresa com o rumo para o qual a conversa tinha ido, e foi impossível não se sentir emocionada pelas palavras sinceras de Andrés, que ela pôde perceber que era brincalhão na maior parte do tempo mas sabia ser sério quando a situação pedia.

- Sérgio é uma pessoa muito especial. Eu gosto muito de ter ele por perto, não pretendo tê-lo fora da minha vida. - ela respondeu, as palavras saindo do fundo do seu coração.

- Isso é muito bom de ouvir. O amor de vocês é muito maior do que tudo isso.

Raquel apenas assentiu, absorvendo as palavras do cunhado.
Eles conversaram mais um pouco enquanto Andrés terminava o vinho, depois, Raquel acompanhou ele até a porta.

- Muito obrigado Raquel, vamos nos falando durante a semana para acertar os detalhes.

- Vale, pode me contatar a qualquer momento.

- Ok. E, Raquel, sobre o que conversamos antes: não tenha medo. A vida está aí para ser vivida.

Ele deu seu sorriso estilo Andrés de Fonollosa e foi embora, deixando Raquel refletindo sobre a conversa que tiveram. A tarde com Sérgio veio em sua cabeça enquanto ela apenas reafirmava em seu coração que não queria Sérgio longe, isso não era sequer uma hipótese. Ela só esperava que ele continuasse sendo paciente para esperar por ela.