História Dormindo com o inimigo - HIATUS - Capítulo XIV

Eu não sabia como reagir a aquela situação, eu realmente nunca me imaginei numa situação dessas, então tudo que pude fazer foi atravessar aquele cômodo e ir para o quarto onde eu estava ficando. Eu tentei várias vezes “desver” aquela imagem do Yoongi, que era um colega de trabalho, e do Hoseok que eu até então considerava um amigo. Eu acabei de sair praticamente correndo da casa de um cara por ter beijado ele, só um maldito beijo, e chego em casa e me deparo com dois homens entrelados.

Aquilo ali me fez pensar no óbvio. Hoseok também gostava de homens então. Eu nunca dei oportunidade a ele para me perguntar sobre qualquer coisa relacionada a minha vida amorosa. E também nunca demonstrei interesse na dele, mas agora eu me perguntava como que teria sido a experiência do mais velho com pessoas do mesmo sexo, devido a cena que vi, acredito que ele tenha experiência o suficiente. 

— Taehyung? — Ouvi batidas na minha porta e falei um “entra” um pouco sem ânimo. Eu confesso que eu estava super sem graça de ter pego o Jung naquela situação, e queria muito não ter pego. 

Ele se sentou na cama e me encarou, demonstrando o máximo de sua preocupação. Eu encarei o advogado de volta e ele se aproximou se sentando ao meu lado. 

— O Yoongi foi embora, ele disse que vocês se conhecem. Me desculpe por você ter visto aquilo, eu pensei que você fosse passar o dia fora. — Ele falou um tanto sem graça e eu não sabia bem o que falar. 

— Bom.. a casa é sua né. — Comentei forçando um sorriso. Vi Hoseok se mexer um pouco inquieto e esperei que ele falasse algo. 

— Sim, mas você mora aqui agora e.. eu não sei nem o que você acha disso, eu nunca comentei com você sobre ser gay. — Ele encolheu os ombros e eu resolvi me virar para ele. 

— Eu.. recentemente eu acho que estou me descobrindo bisexual. Na verdade, eu só voltei aqui porque eu beijei o Jungkook, e eu não sabia como agir. — Confesso um pouco sem jeito. Julgar ele não iria, então eu não vi problema em ele saber sobre. 

— Eu desconfiava de vocês dois. Só que parecia um pouco reprimido por sua parte. Imagino que foi bem louco beijar um homem pela primeira vez. — Ele pareceu se animar um pouco e falou divertido. Sorri com sua fala e aquiesci. 

— Eu não pensei que teria que passar por isso com quase trinta anos. Eu acho que nunca me conheci o suficiente para entender isso, e gostando também de mulheres, nunca me fez pensar tanto se gostava ou não de homens. — Eu realmente sei que no fundo eu sabia, mas eu evitava isso, e aproveitava o fato de gostar de mulheres. 

— Não tem uma idade para se descobrir. E com o tempo tudo fica mais fácil de entender. Só é difícil ser assim hoje em dia. Principalmente aqui. Por isso eu não carrego um relacionamento sério. Yoongi não é meu namorado, caso tenha se perguntado isso. Nós só.. estamos a disposição um do outro. É mais fácil assim, você é policial, entende como podemos acabar se assumirmos algo. — Ele comentou. De fato, era um problema tão grande, que já vi colegas de trabalho machucarem pessoas por causa disso. Uma pena eu não poder me queixar, eu sairia como o errado. 

— Acho que foi por isso que vim correndo. Eu não quero me apaixonar, e não quero que o Jungkook se apaixone, isso seria um desastre, somos parceiros, e estamos sempre juntos. Cacete, eu não sei o que fazer. — Falei derrotado e me deitei na cama encarando o teto com o cenho franzido. Eu só queria uma resposta para meus problemas. 

— Não quero desanimar você, só que, eu temo que o Jungkook goste muito de você. Talvez você devesse conversar com ele para decidirem alguma coisa. Claro que você não precisa dar um fora nele, o primeiro cara a gente nunca vai conseguir, você vai se apegar sem ver. Só.. não deixem a amizade de lado, e não ignora as suas vontades. De verdade, reprimir qualquer sentimento vai fuder com você, e nem é do jeito legal. — Ele comentou divertido. Me arrancando uma gargalhada. Hoseok tinha um jeito diferente de dar conselhos, eu gostava disso, não me deixava confuso. 

(...)

Já de noite, indo para a delegacia, eu vi o Jeon sentado à sua mesa, olhando alguns arquivos que estavam ali, e eu me aproximei, ficando de pé ali do lado. Certo, eu não deveria fugir, mas também não poderia mergulhar em águas rasas. 

— Eu não vou evitar você, e você também não precisa fazer isso por achar que eu estou incomodado com você perto ou algo assim. Somos adultos afinal. — Comentei pegando uma das pastas que estavam na mão do mais novo e folheei algumas páginas, e logo retornei a pasta para seu lugar, acariciando discretamente a mão do mais novo que abriu os olhos surpreso. 

— Okay então. — Ele falou desnorteado. Jungkook era um cara legal, talvez não fosse má ideia ter algo com ele, mas claro, na medida do possível. — Hyung, você voltou a interrogar seu irmão? 

Naquele instante eu senti como se eu tivesse recebido um soco no estômago, eu estava me forçando a esquecer aquilo, e de fato eu esqueci por algum tempo, mas era inevitável pensar naquilo tudo. 

— Eu só vim aquele dia com o Hoseok. E na verdade, apenas ele conversou com o Minseok, eu não consigo encarar ele, mas, eu vou ter que fazer isso em algum momento. — Dei de ombros e falei insatisfeito. Minseok parecia me conhecer melhor que eu conhecia ele, então, seria de muita utilidade falar com ele. 

— Entendi. O Hoseok parece ser uma ótima pessoa pra isso, acredito que ele possa ajudar você de alguma forma, mas eu acredito que Minseok vai ter coisas a falar que só falará a você. O capitão passou horas ontem tentando tirar algo dele, ele diz que só responde a você. — Encarei o mais novo curioso. Namjoon não havia comentado sobre nada comigo, será que ele descobriu algo e estava me escondendo.

— O Namjoon passou realmente muito tempo com ele? — Perguntei levando meu olhar para o Kim em sua sala, ele parecia despreocupado, não tinha nada além de sua expressão séria. Eu só consegui imaginar a Ahn babando naquele homem, e bastou olhar para o lado e confirmar meu pensamento. 

— Foi um tempo bem considerável, quando digo horas, foram realmente horas, mas, ele não disse nada, e nem pareceu preocupado. Porque você ‘tá rindo enquanto olha a noona? — Ouvi a fala de Jeon, e me virei imediatamente, assim que notei que seu tom de voz mudou junto da pergunta feita. Aquilo era ciúmes? 

— Jeon Jungkook, isso em sua voz é ciúmes? — Falei baixinho e apontei para ele com um sorriso divertido, vendo ele me encarar com os olhos ríspidos. 

— Vocês transaram, não me culpe. — Ele encolheu os ombros e falou irritado. Um sorriso involuntário brotou em meu lábios por aquilo. Ele estava realmente com ciúmes de mim. 

— Se te tranquiliza, não vai mais acontecer. Acredito eu que nosso capitão e a Hye vão sair esse final de semana. — Comentei animado com a novidade. Os dois eram um casal bem compatível, e claro, eu adorava a ideia de vê-los juntos, mesmo que eu já tenha tido um pequeno lance com a menor. 

— Eu nem posso te cobrar nada, foi meio que algo involuntário, desculpe. Agora, voltando ao assunto, você deveria falar com seu irmão, aproveite essa noite, não temos absolutamente nada para fazer além de preencher papéis. — Ele comentou apontando para as pastas sobre a mesa. Concordei em silêncio com sua sugestão. 

Eu realmente deveria ir atrás de respostas, mas, eu tinha tanto medo das mesmas, que me sentia encurralado. Por um lado eu poderia saber mais sobre minha família, e por outro, meu problema era exatamente aquele. 

— Eu preciso ver o que faço. Não estou confortável com a ideia de encarar ele sozinho. Eu não sei, sinto que se for até lá, algo ruim vai acontecer. — Confessei. Eu andava tão estranho ultimamente, e me recordar dos meus irmãos 

não ajudavam em muita coisa, eu me sentia ainda mais encurralado. 

— Isso deve ter uma razão Taehyung, você não quer saber o porque disso? Ele é a resposta para a maioria das suas perguntas, disso eu tenho certeza. Talvez seja isso que esteja assustando você. — Ele abriu um sorriso fraco, e então eu aquiesci silenciosamente. Por mais que eu não quisesse, eu tinha certeza que não era uma boa ideia. 

Resolvi sair dali, e então eu encarei a porta da sala de interrogação. Eu sabia que evitar aquela situação não era o correto. Por mais que a verdade me assustasse, eu merecia e deveria saber sobre. Me assustei ao perceber que Namjoon estava próximo a mim e coloquei minha mão sobre o peito recobrando minha respiração. 

— Caramba Namjoon. — Falei deixando clara minha indignação sobre aquilo na fala. 

— Você não vai interrogar seu irmão. — Aquilo não era uma afirmação. Era uma ordem. Encarei o capitão a minha frente e não disse nada, afinal ele era meu capitão. 

— Como seu subordinado, eu irei obedecer, mas, como seu amigo. Que merda você quer de mim? — Comentei um pouco alterado. Não era possível que ele faria com que eu mantivesse todas minhas dúvidas me rondando como fantasmas. 

— Taehyung, é complicado, mas sozinho você não entra lá. Você pode acabar morto por isso. — Ele comentou sério. Até demais para minha opniao. Ele realmente sabia de algo. 

— Aposto que me matar ele não vai. — Comentei com um sorriso debochado e encarei o mais velho com os lábios crispados. 

— Não, mas você vai acabar se matando por causa dele. Você não precisa se envolver, não precisa fazer isso Taehyung! — Ele falava tudo aquilo com pesar na voz. Se fosse uma pessoa qualquer eu o mandaria ir a merda e largaria ele ali mesmo para desobedecer, mas ele era muito mais que só meu chefe. 

— Você está falando como meu capitão ou como meu amigo? — Perguntei receoso. 

— Um pouco dos dois. Se você for até lá, eu juro que te suspendo, e se você for e isso acontecer, eu não quero ver você se tornar o que ele tanto deseja. Isso vai muito além dele, se trata de você Taehyung, e eu tenho que cuidar de você. — Ele segurou meus ombros e apertou-os de forma dramática. 

— Tudo bem, não vou então. Eu posso pelo menos entrar lá com o Hoseok? — Resolvi perguntar. Hoseok não era um policial, não poderia receber uma ameaça de suspensão, e de quebra, eu poderia me juntar a ele. 

— Com ele sim, você pode sim. Ande logo com isso, ele pode ser solto a qualquer momento, não sabemos quem são os contatos da família Kim. — Comentou enquanto pigarreava. Eu sabia que ele estava mentindo para mim, sabia que era para me proteger também, então não comprei uma briga por isso. 

Me afastei dali e peguei meu telefone indo para a sala de arquivos. Eu não me sentia bem no meio de todos os colegas de trabalhos, tinha alguma coisa realmente acontecendo. Apertei o contato salvo do advogado e demorou pouco mais de três chamadas para ele atender. 

— Tae..Taehyung, você está bem? — Ouvi a voz rouca do advogado e uma risada escapou de meus lábio, imagino a cara de espanto que ele estava por ser acordado com o toque do celular. 

— Estou sim, me desculpa acordar você, mas eu preciso da sua ajuda. Namjoon não me deixa sozinho com Minseok, preciso que você esteja na sala comigo para conversar com ele. — Me sentei sobre uma mesa empoeirada e encarei as prateleiras da estante velha com arquivos esperando uma resposta do mais velho. 

— Não vejo problema nisso, mas tem alguma razão para ele aí querer vocês a sós? — Ele questionou. 

— Na verdade ele não disse nada, ele só não quer deixar, disse que me suspenderia se eu o fizesse, e ele costuma não alertar duas vezes. — Dei de ombros e sorri sozinho. Olhando aquelas prateleiras, vi o sobrenome Kim em destaque e me aproximei enquanto tocava a caixa empoeirada. 

— Já estou indo. — Antes mesmo dele desligar a chamada e larguei meu telefone de lado e peguei a caixa. 

Abri a caixa, e dentro da mesma haviam várias fotos, vários documentos escritos e uma porção de anotações. Virei tudo que tinha na caixa, várias fotos de Minseok e Junmyeon juntos, e a mesma data estavam nas fotos, e eu não entendia porque aquela data me trazia a sensação é Dejavu, todas as fotos pareciam ser de um mesmo dia. Uma por uma, todas de momentos distintos , aparentemente de uma festa, e como se não bastasse aquilo, havia uma foto minha, com meus irmãos. Não era uma foto antiga, eu estava mais novo, mas não menos que dois anos, era eu naquela foto, e eu parecia me divertir com eles, devido ao sorrisos em nossas faces fotografadas. 

Encarei aquilo espantado. Como eu poderia ter vivido esse momento sem que eu me recordasse. Como eu consegui esquecer a existência daqueles dois se eu já havia estado com eles?

A cada segundo que passava minha cabeça parecia que iria explodir, e a essa altura meus olhos estavam ardendo com as lágrimas, dolorosas que escorriam pelo meu rosto. Eu devo ter sofrido algum tipo de acidente, não havia explicação para aquela situação, eu não podia me esquecer das coisas dessa forma.