-O que é, Sean? Você acha que James está no mesmo patamar que vocês? Não digo no propósito de parecer desumilde, contudo acredito que pouco dessas suavizações vocabulares lhe importariam.
-Não. É verdade, James me parece mesmo alguém especial. Do tipo que... se escolhesse coroa e jogasse a moeda cem vezes, veria cinquenta e uma coroas. Do tipo que... parece ter um pequeno empurrãozinho da sorte. Ele é especial, sim.
-Gosto das formas que diz. Não esperava tanto de você. E então? O problema é comigo? Não me acha à altura dele? Não lhe culpo, mal me conhece. Não precisa ser assim, um amigo de James será o meu também! Não me exibirei em demasia, considerá-lo-ei um igual, portanto relaxe.
-Não preciso lhe conhecer melhor. Já entendi bem você. É, não está à altura dele. Vocês podem ser parecidos em uma coisa ou outra, só. Ele talvez seja abençoado, mas ser abençoado... não significa nada.
-Ah, é? – Disse, levantando-se e encarando Sean frente a frente. – Então estão todos no mesmo barco? Os podres têm o mesmo peso que eu e James?
-E o que diferencia vocês deles?
-Chamo de balança divina. - Conan se encheu para continuar. - A grande parte da população se encontra no centro, esses são suficientemente equilibrados, carregam suas pequenas perturbações e qualidades básicas, são os ignoráveis. Se metade deles sumirem amanhã, assim como no filme, não farão real diferença à humanidade. Seus lugares serão ocupados por outros e a vida seguirá. O resto, arredondo pelos cinco por cento, mas aceitaria discutir, dividem-se em dois grupos: o primeiro, que representa quatro quintos desses, são os detestáveis. São aqueles que pecam em qualidades e se abundam de defeitos e perturbações. Os restantes são os louváveis. Os abençoados por Deus para guiarem o resto dos indivíduos, os belos. Os últimos dois grupos são responsáveis pela progressão humana. São os que, de fato, moldam a sociedade, guiando-a ou martelando-a.
-Há quatro vezes mais detestáveis que louváveis. A conta não bate para uma balança.
-É uma balança divina. Uma boa alma é muito mais importante aos céus que uma podre. Melhores também, sim, mas são ambas importantes. O equilíbrio é torto.
-Sinto dizer, mas esses quatro por cento não trazem benefício algum. Eu afirmo.
-Se engana, meu colega! Imagine que somos trens. Como trens, temos trilhas a seguir, pré-definidas. Mas digamos que... – refletiu Conan por alguns segundos – os trilhos se enferrujam ou são enterrados pelas areias, e resta-nos nada. Sem ter sobre o que andar, não andaremos, empacamos. É onde entram os cinco por cento. São eles que sairão das trilhas em busca de novos caminhos. Os iluminados encontrarão a antiga trilha ou uma nova para seguirmos. Os deploráveis, muito mais aventureiros que deploráveis, encontrarão, ao menos, os caminhos que não devemos trilhar, e eu acho isso quase igualmente notável. Eles são os pontos de ignição, os freios e os aceleradores, o resto da população é o motor, um complementa o outro, esse é o ideal. Acho que me perdi em minhas analogias.
-Não consigo acreditar que pode falar essas coisas com seriedade. Cansei de você. – Disse Sean, mordendo os lábios e prestes a ir embora.
-Não há nada de errado em ser ordinário, Sean! – Gritou Conan.
-Não nos encha mais o saco. Não apareça mais na minha frente ou na de Paige.
-Como posso dizer, Sean? - Sorriu. - Eu sou inevitável!
-E eu... eu não ligo. - Concluiu, indo embora.
O jeito com o qual Sean se tornava mais agressivo a cada respostava que dava deixou uma forte impressão em Conan, que continuou sentado e pensando sobre a conversa. Ainda encarando as costas do colega, pensou se aquele não estaria entre os quatro porcento. “Será? Seria ele um? Caso não, para que ficaria tão estressado? Sou irritante, mas não é para tanto. Seria ele? Preciso levá-lo para conhecer alguém” pensava Conan, rindo ao prever tamanho encontro.
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