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História Dragão de Gelo - Rhaenys II


Escrita por: Guard

Notas do Autor


Está ai o retorno do capítulo e provavelmente um dos mais intrigantes que já escrevi. Principalmente porque eu escrevi uma parte da história de Westeros que sempre me deixou intrigado, além de criar uma visão dúbia sobre diversos personagens da trama.

Capítulo 12 - Rhaenys II


Fanfic / Fanfiction Dragão de Gelo - Rhaenys II

- Tire essa menina de perto de mim Rhaella. Ela não é minha neta. - o rei Aerys II vociferava para a esposa enquanto Rhaenys se agarrava na barra da saia da avó e tentava sair da visão monstruosa do homem. - Há muito mais de Dorne nela do que Targaryen, espero que Rhaegar consiga me dar uma descendência digna com aquele outro filho que a dornesa espera.

    Rhaenys se lembrava das lágrimas correrem por seus olhos ao ouvir todos aqueles insultos do rei Louco. Fora a última vez que o avô havia lhe dirigido a palavra, também foi na época dos últimos momentos do reinado de Aerys II. Aegon era muito jovem para lembrar, mas os dois e a mãe deles Elia foram mantidos praticamente em cativeiro na Rebelião Baratheon para que assim o Príncipe Doran Martell garantisse apoio total à causa Targaryen na guerra contra Robert Baratheon.

    Esse era o primeiro pensamento de Rhaenys sempre que acordava. Os Targaryens a haviam rechaçado. Sua vó Rhaella era amorosa com a neta, porém não pensou duas vezes ao zarpar rumo a Pedra do Dragão e deixar os netos ainda crianças na Fortaleza Vermelha. Ela poderia ter nos levado Rhaenys sempre pensava nisso, a mim e ao Aegon, minha vó poderia ter nos levado, mas preferiu levar o filho Viserys e a filha Daenerys que ainda estava na barriga da mulher. Só que Aegon e Rhaenys não eram dignos, afinal, eles fediam a Dorne.

Aegon conseguia disfarçar, pois era uma cópia quase exata de Rhaegar. Com seu cabelo prateado, olhos lilases, compleição forte, um sorriso encantador - porém quando ele nasceu Aerys já estava à beira da loucura. Nunca teve tempo para olhar o neto de um ano, pois vivia vendo sombras que queriam lhe matar por toda à parte.

Ainda conseguia ouvir os berros que ecoavam por toda a Fortaleza Vermelha e os soldados dos Mantos Dourados andando depressa pelos corredores. As primeiras vezes Rhaenys os perseguia para saber o que estava acontecendo, ainda nutria a esperança que seu pai tivesse finalmente voltado para lhe buscar e tirar o velho Louco do trono. Porém, a única coisa que ela sempre encontrava era seu avô preso entre as espadas do trono de ferro. Sangue e urina escorriam pelo homem e ele não parava de berrar que isso era culpa de Rhaegar e dos traidores. Dizia que iria matar o Príncipe Herdeiro quando ele voltasse para King’s Landing, mas iria deixar que ele primeiro matasse todos os seus inimigos. “Rhaegar ainda tem uma missão para mim” sussurrava o rei para ninguém em especial.

- Não! - Rhaenys berrou ao ouvir aquelas palavras e todos os Mantos Dourados voltaram-se para ela. - Você não vai matar o meu pai! - Sempre lhe disseram que era uma criança inteligente. Mesmo aos três anos ela conseguia se expressar com facilidade e imposição também.

Alguns soldados um pouco confusos tentaram agarrar o braço da menina, mas ela conseguiu se desvencilhar deles e ficou correndo pelo enorme Salão do Trono.

- As vozes voltaram, Rhaegar vai voltar pra me matar! - berrava o rei em desespero enquanto o chefe dos Mantos Dourados, Sor Melkias Stokeworth tentava subir no Trono de Ferro para agarrar Aerys e impedir que se cortasse mais do que já estava nas espadas derretidas. - Rhaegar quer me matar, mas eu vou matar ele antes! - ele quase gargalhava.

- Meu pai vai queimar você quando voltar! - Rhaenys rosnou. Ela já sabia que o avô ignorava toda sua existência. Para ele era como se estivesse ouvindo vozes do vento. - Seu velho maldito!

- Fogo! - berrava Aerys. - Fogo! Fogo é meu campeão, mas a voz diz que ele vai me queimar. Eu vou queimar todos antes. - As unhas enormes dele quase perfuraram sor Melkias e após ser segurado, o velho urrava mais alto ainda. Parecia que a enorme cabeça de Balerion havia ganhado vida e começado a gritar por perceber que não possuía mais corpo. Mais Mantos Dourados subiram no trono para ajudar a imobilizar Aerys.

Rhaenys sentiu júbilo ao ver que o avô tão cruel estava sofrendo. Uma parte sua se alegrou com isso e estava preparando novas ofensas para continuar. Antes que ela conseguisse pensar em novas palavras dizer, foi impelida para trás por uma mão envolta de uma manopla dourada. Rhaenys havia tentando gritar, porém com todo o alarde que estava acontecendo na Sala do Trono ninguém a ouviu.

Tentou então lutar contra o homem que a estava puxando para longe de toda aquela gritaria. Ela queria continuar, mas não tinha forças para impedir que fosse arrastada. Só quando viu-se atravessar as enormes portas do Salão é que viu a pessoa que a estava carregando. Era um garoto de 14 anos na época, vestia dourado e usava um manto branco espalhafatoso. Seus cabelos dourados como ouro desciam até os ombros e tinha olhos verdes que pareciam esmeraldas preciosas. Era sor Jaime Lannister, o único membro da Guarda Real que permanecia na Fortaleza.

- Garota burra, quer ser morta? - ele resmungava sussurrando com Rhaenys. - Acha mesmo que o rei se importa por ser neta dele?

Muitos podem dizer coisas sobre o Regicida, mas Rhaenys viu o olhar de desespero dele. O medo de um garoto que estava longe de casa e não sabia o que fazer, o peso de uma responsabilidade que aceitou por orgulho, mas logo depois se desesperou ao ver no que tinha se metido. Ele tinha tanto medo de estar ali quanto ela.

- Eu não sou neta dele. - Rhaenys conseguiu dizer e lágrimas desceram dos seus olhos.

Jaime nada mais falou e a escoltou direto para os aposentos de Elia. A mãe estava lhe esperando com a porta aberta e vestia uma camisola laranja. Seus olhos ardiam de terror ao ver a filha vindo da direção do Salão do Trono e quando Rhaenys chegou perto suficiente dela para que pudesse se tocar agarrou no braço da filha, mas ao invés de berrar pelo sumiço, ela a abraçou. Um abraço quase desesperado, como se não soubesse se iriam se ver novamente.

Com um breve agradecimento e uma despedida Sor Jaime se afastou das duas a fim de lhes dar privacidade. Logo após, Balerion o gato de estimação de Rhaenys saiu do quarto e ficou dando voltas pela perna da menina ronronando feliz.

- Nunca mais faça isso! - Elia a puxa para frente a fim de que a filha pudesse visualizar a seriedade em seu olhar. - Não siga mais os gritos dele.

Elia Martell fora uma pessoa gentil e alegre. Rhaenys conseguia se lembrar muito bem disso. De como sua mãe era sorridente e sabia se portar como uma verdadeira rainha, sem parecer uma pessoa cheia de falsas lisonjas. Só que dias antes da guerra eclodir, ela recebeu um carta de Rhaegar. Naquele dia Rhaenys precisou ficar tomando conta do jovem Aegon pelo o dia inteiro. A mãe não parava de gritar e chorar, os filhos tiveram que ser retirados do quarto pela Septã do castelo.

Rhaenys queria protestar, contudo, ela sabia que a Septã Celine iria lhe repreender por questionar uma ordem vinda dos mais velhos. Carregando seu irmão pelo castelo e com Balerion miando feliz a sua frente a garota passeou pelas masmorras  da Fortaleza. Lembrava das risadas de Aegon ao ver as caveiras dos dragões diminuindo gradativamente e de vez em quando ela tentava lhe dizer qual dragão pertencia a cabeça, mas ela não sabia essas informações ainda e duvidava muito que o bebê se importasse com isso.

- Você é um verdadeiro Targaryen. - ela comentou ao passarem pela caveira que parecia ser um quarto da de Balerion, o Terror Negro. Aegon balbuciava e tentava fazer gestos quase incompreensíveis para que se aproximasse da caveira. - Acho que esse é Quicksilver, foi um dragão que pertenceu a um Aegon.

Anos depois ela descobriu que havia pertencido ao Aegon conhecido como o “Sem Coroa”, que fora morto ao cair do seu dragão destroçado pelo próprio Balerion sendo montado pelo rei Maegor I. Ela preferiu nunca comentar isso.

Após passarem horas passeando pelas masmorras Rhaenys decide voltar com o seu irmão para os aposentos da mãe. Não sem antes passarem na Cozinha Real onde as cozinheiras do castelo deu uma torta de limão cujo os limões vieram da Campina numa das provisões recebidas especialmente pelas passagens do castelo. Aegon foi alimentado por sua ama de leite. Ao voltarem para o quarto a garota percebeu que a sua mãe nunca mais seria a mesma.

Na época ela achava que tudo era por causa da guerra que eles estavam passando, que o Rebelde malvado estava ameaçando a vida de seu pai e ele em seu desespero havia mandado uma carta dizendo para mãe que estava bem. Anos depois Rhaenys descobriu que aquela era uma carta informando que Rhaegar havia se casado novamente.

Para muito poderia parecer normal, os Targaryen haviam sido por muitas vezes poligâmicos. Porém, aquele homem era o Príncipe Perfeito. Ele jamais faria algo que pudesse ofender a Fé dos Sete e os Meisters. Aquela havia sido uma carta onde Rhaegar informava a Elia que estava pedindo um divórcio também. Elia fingia bem, poucas foram as vezes que deixou transparecer qualquer sentimento de raiva pelo ex-marido em todo o tempo que ficaram aprisionados no castelo. A mulher havia inclusive queimado a carta após ter lido o seu conteúdo inoportuno.

E por meses eles passaram dessa forma. Com medo, desesperados sem saber o que iria acontecer com eles. Elia vivia infeliz, mas dava seu melhor para cuidar de Aegon e Rhaenys achava que sua infelicidade era porque estava presa com o terrível Rei Louco.

Até que um dia, eles começaram a ouvir um grande alvoroço pelo castelo e gritarias sem fim na rua. Rhaenys se encheu de esperança, mas Elia em seu desespero lhe entregou Aegon nos braços e jogou os dois dentro de um armário que parecia ter um fundo falso. A garota tentou protestar, mas a força da mãe havia se multiplicado por muito.

- Não saia até eu mandar! - ela praticamente gritava. A sua mãe gentil e graciosa havia morrido, no lugar estava surgindo uma mulher triste e desesperada. - Você me ouviu Rhaenys? Não saia de jeito nenhum desse armário, pode acontecer qualquer coisa comigo, mas não saia.

Rhaenys queria chorar, mas engoliu tudo antes que a mãe percebesse seu desespero e nervosismo. Ela então assentiu silenciosamente e se  escondeu dentro do armário, rezando a todos os Sete para que o bebê continuasse sonolento e não chorasse. Rhaenys então esperou, aguardou o que foi uma eternidade. Via a mãe orando em silêncio para a Mãe, pedindo proteção enquanto segurava uma faca pequena e orava para o Pai para lhe dar forças quando aquela porta se abrisse.

A gritaria de repente começou a cessar no castelo e do lado de fora as pessoas pareciam ir ao delírio. King’s Landing inteira parecia comemorar alguma coisa. De repente um passo silencioso começou a ser ouvido ecoando do corredor e o coração da menina se acelerou, já estava apertada para ir ao banheiro e com fome, além disso, sabia que o bebê havia feito necessidades, pois estava fedendo. Era uma questão de tempo até que começasse a chorar por estar se sentindo incomodado com as fezes.

A porta então se abriu e Elia soltou um grito avançando para cima da pessoa misteriosa. Rhaenys não tinha visão nenhuma do que estava acontecendo, mas ouviu outro grito da mãe.

- Desgraçado! - a mãe gritou em fúria.

- Elia, sou eu, se acalme. - os olhos de Rhaenys ficaram marejados de felicidade ao ouvir aquela voz. Ela esperou mais de um ano para ouvir aquela voz novamente. Às vezes achava que era sua imaginação e que ela nunca havia a ouvido. Era a voz de seu pai.

Com um golpe só ela abriu o fundo falso do armário e o armário e saiu para o lado de fora. O barulho foi tão forte que Aegon acordou e começou a chorar, mas ela antes conseguiu ver a expressão de ódio da mãe e a de culpa do pai. Logo depois Rhaegar abriu um largo sorriso e correu para os filhos. Ele envolve Rhaenys de uma forma que tanto ela quanto o irmão conseguem sentir o calor do pai.

Rhaegar fedia. Ela se lembrava disso, parecia feder numa mistura de suor, sangue e algo pode. Ele também estava manchado com alguma coisa vermelha, que depois descobriu se tratar de sangue - o sangue do seu avô Aerys. Rhaenys não se importou mesmo assim, ela afagava seu rosto na barba por fazer do pai e deixava as lágrimas escorrerem abertamente.

- Papai - ela soluçava de tanto chorar. - que saudades de você  - ela conseguiu dizer.

Sentiu algo quente escorrer pelo seu couro cabelo e então percebeu que eram as lágrimas do pai. Rhaegar a olhava com alívio “eu também estava com saudades de você, meu amor” ele disse e então pegou Aegon em seus braços e o levantou alto. O bebê gritava de alegria sem se importar por estar sujo.

- De você também meu Aegon. - ele dizia com orgulho e Rhaenys não sentia ciúmes naquela época. Ela via que o pai não tinha um favorito.

Elia no entanto permaneceu silenciosa o tempo todo. A garota se lembrava de ver a mãe encarando Rhaegar brincando com Aegon e viu que a mãe se sentia muito triste com aquela cena. Aquela seria a última vez que os quatro estariam juntos não somente como uma família, mas desde sempre. A Martell jamais voltaria a King’s Landing.

Aegon finalmente se lembrou que estava sujo e voltou a chorar sem parar. Rhaegar olhava confuso para ele e só nesse momento que Elia decidiu se mover, ela com cuidado se aproximou dos dois e pediu para que Rhaegar lhe entregasse o filho, pois sabia o que estava acontecendo. Os dois trocaram um sorriso triste e a mãe de Rhaenys então saiu do quarto a fim de procurar um local para dar banho no filho e alimentá-lo. Então ficaram somente filha e pai naquele quarto.

Rhaenys queria pular nos braços de Rhaegar, mas as forças do homem pareciam ter sido drenadas. Ele olhava triste para a janela que agora mostrava o que seria o seu Reino. Ele visivelmente parecia estar envelhecendo. Quando foi embora estava de armadura negra brilhante e um elmo em formato de dragão, os rubis com os três dragões da casa Targaryen reluziam para o sol, juntamente com seu sorriso que alegrava a qualquer um. Esse homem de agora vestia uma túnica negra manchada de vermelho, estava com os olhos inchados de tanto chorar, seu cabelo loiro prateado estava duro e sujo, onde antes era liso e cintilante. Havia cicatrizes também, Rhaenys descobriria mais tarde sobre elas.

-Por que você e a mamãe brigaram? - perguntou em sua inocência infantil. - Aconteceu alguma coisa? O velho disse algo sobre a gente que te deixou com raiva?

Ela temia que Aerys tivesse contado a Rhaegar que a filha havia o atormentado enquanto ele estava tendo um dos seus surtos.

-Querida, o seu avô morreu. - a voz de Rhaegar tinha um pesar. Deveria ser a única pessoa que em toda Westeros sofria pela morte do Rei Louco. Rhaenys embora tivesse três anos naquela época, teve que se esforçar para não sorrir de alegria. O homem que a havia maltratado e aprisionado estava morto. - Mas o problema não é esse, você é muito nova… - ele parecia querer chorar. - eu e sua mãe não estamos mais casados.

Rhaenys não entendeu o que aquilo significava. A verdade era que pouquíssimas pessoas eram divorciadas em Westeros. Somente pessoas muito ricas ou Lordes e Reis conseguiam fazer com que Oldtown aprovasse tais pedidos, ainda mais que alguém casasse logo em seguida com outra pessoa. O mundo da garota parecia girar ao seu redor e o quarto parecia cada vez encolher mais, ela só havia percebido que estava andando para trás quando sentiu seu pequeno corpo encostar na cama. E seu pai se aproximava agora todo ereto em sua direção, ele parecia agora um gigante em comparação a ela.

- Minha querida, eu sinto muito - Rhaegar tentava dizer algo, mas não sabia como falar. Rhaenys pode perceber suas mão se contraindo para fazer um punho e abrindo por causa do nervosismo. O cheiro do sangue incrustado na roupa dele começou a dar náuseas na menina. - Eu disse que sua mãe poderia morar aqui na Fortaleza Vermelha, ou até em algum castelo nas terras da Coroa… - ele parecia medir muitos as palavras, estava conversando com uma criança de três anos, mas suas explicações estavam se tornando muito complexas. a mente da garota estava ficando confusa. - Sua mãe vai querer voltar para Dorne, ela está se preparando para ir com uma comitiva do seu tio Oberyn. - Rhaenys não sabia o que era comitiva naquela época, mas lembrava-se vagamente de Oberyn Martell. Mesmo assim, ainda olhava para o homem com confusão.

- Quer dizer que eu e Aegon vamos para Dorne também? - Só conseguia pensar nessa pergunta a fazer para o pai.

- Não meu amor. - Rhaegar tentou se abaixar para poder pegar a filha no colo, mas ela desviou e foi para o lado. De repente o pai parecia uma versão do Rei Louco aos seus olhos. - Você e seu irmão vão ficar aqui em King’s Landing comigo, eu e sua mãe concordamos com isso.

- Não quero! - rosnou Rhaenys. - Não quero ficar sem minha mãe, eu quero ir com ela! - O choque nos olhos do pai eram aparentes. Ele provavelmente não esperava uma atitude não violenta vinda de uma menina de três anos, mas Rhaenys tinha sangue de dragão e sangue dornês. Ela não poderia ser domada.

Rhaegar tentou se aproximar novamente da filha, mas ela o empurrou para longe e quase caiu no chão por causa disso. Rapidamente recuperou o equilíbrio e saiu correndo pela porta do quarto que ainda estava aberta. O pai gritava por ela, mas Rhaenys não parou. Continuou a correr em disparada pelos corredores da Fortaleza e chorava sem parar por causa disso, ao mesmo tempo em sua cabeça se arrependia de ter corrido, nem esperou a resposta ao dizer que queria ficar com Elia. Apenas fugiu de raiva e frustração, porque achava que agora sua solidão estava acabando, mas era apenas o começo.

Se alguém a viu correndo pelos largos corredores não a parou. Quando finalmente se cansou de fugir percebeu que estava na masmorra onde os dragões menores ficavam, os Targaryens não gostavam de exibir as pequenas criaturas disformes que antes foram seu grande poderio para os outros. No final daquela masmorra havia a maior vergonha da sua família, o último dragão. Um pequeno esqueleto deformado do tamanho de um gato, um animal que nunca cresceu, segundo o que dizem já nasceu morto, porém sempre houve o que acreditava que fora  Aegon III, a Perdição dos Dragões que o havia matado. Aquela fora a primeira vez que percebeu o quão patéticos os Targaryens estavam se tornando, afinal, os animais estavam ficando cada vez menores porque claramente representavam a decadência daquela casa.

Rhaenys sentou-se um pouco distante do esqueleto do animal morto e começou a arfar e chorar de tão cansada que estava. Ela queria se esconder ali pela vida inteira, deixar que toda aquela podridão adulta morresse com aquelas pessoas e viver sozinha nas masmorras. Então pensou no seu irmãozinho - o pobre Aegon iria ficar solitário sem ninguém para cuidar dele naquela disputa de poder. Ela viu os ossos de dragão se mexerem naquela e praticamente pulou em pé com nervosismo. Balerion, o gato surgiu ao lado da asa deformada e deu um miado ao ver que estava olhando para a dona. Ele andou até sua direção e ficou dando voltas em suas pernas até que Rhaenys o pegou no colo e o ergueu até sua altura. O gato era totalmente preto, exceto pelos olhos verdes que se destacavam um pouco na escuridão de onde estava e soltou um leve ronronar ao ser erguido. Claramente não estava gostando do que a menina estava fazendo com ele.

- Por que eu não posso ter minha família unida? - questionou ao gato, mas ele continuava a lhe olhar incomodado. - Por que eu tenho que ficar nessa cidade horrível? Eu quero ir embora daqui, quero ir para longe de King’s Landing. - A essa altura ela já estava chacoalhando o animal freneticamente enquanto gritava com ele. O gato finalmente se irritou e com um miado irritado enfiou uma pata na bochecha de Rhaenys a arranhando. Ela gritou de dor e o largou na mesma hora. Balerion caiu sem problemas no chão e fugiu pela escuridão da masmorra desaparecendo para sempre da vida da Targaryen.

Ela se sentou no chão e suas lágrimas se misturavam agora com o sangue que escorria do seu machucado. Rhaenys deixou de se importar com isso e apenas ficava murmurando “por que todo mundo me abandona?”, “por que ninguém consegue gostar de mim?”. Todos esses questionamento viam em sua pequena cabeça enquanto ela enfiava o rosto mais fundo entre as pernas. Ficou assim pelo que pareceu serem horas, chegou ao ponto de sua vista de acostumar completamente a escuridão e seus questionamentos começaram a mudar.

- Eu odeio essa cidade - murmurava para o vento - odeio os Targaryens, odeio meu avô, minha avó, meu pai - não parava de atacar tudo e a todos. Só parou ao sentir quando sentiu uma mão lhe tocar no ombro.

Por um momento ela achou que fosse seu pai que veio lhe buscar e se surpreendeu com a alegria que sentiu ao pensar que Rhaegar estava ali. Mas não era ele - era um homem com cabelos negros e um olhar igualmente escuro, o homem lhe lembrava algumas espécie de cobra, talvez uma serpente ou uma víbora, seu nariz era pontiagudo e ele lhe olhava sem que houvesse um pingo de pena. Era como se ele conseguisse ler todos os sentimentos da criança. Ele não se abaixou, apenas a ficou encarando até que Rhaenys por desconforto levantou e retribuiu o olhar.

- Não se lembra de mim? - o homem perguntou.

- Você é o irmão da minha mãe. - Rhaenys respondeu se lembrando vagamente daquele olhar ofídico que lhe causava medo quando era mais nova. - Você é meu tio Oberyn Martell.

Pela primeira vez ela viu o homem sorrir. Ele não lhe olhava como uma criança, pelo contrário, ela se sentia uma adulta ao falar com o homem.

- Sim, sou seu tio. - Oberyn então arrancou uma parte do pano de seu gibão laranja e o usou para limpar o sangue que estava começando a secar no pequeno rosto da menina. - Sabe, quando sua mãe me disse como você era eu fiquei muito feliz. Dorne sempre superou os Targaryens, não importava como fosse. Nós nunca fomos conquistados por eles. A única forma de nos unirmos foi através de um casamento. Vários reis tentaram, mas Dorne nunca se curvou.

- Não entendo, por que ficou feliz ao ver como eu era? - ela quis saber ainda confusa com a forma adulta que o tio se dirigia a ela.

- Você é mais Martell que Targaryen menina. O sangue roinar de Nymeria corre forte em suas veias, posso sentir isso. - Rhaenys não entendia o que o aquele homem queria dizer, mas ficou fascinada pela admiração que ele falava em relação a algo que ela sempre teve vergonha. - O nosso sangue venceu a linhagem do seu pai.

- Mas eu não quero ficar em King’s Landing! - disse se empolgando como uma criancinha alegre. - Quero ir para Dorne com vocês.

Oberyn a olhou com um pouco de tristeza pela primeira vez e isso partiu o seu coração. Ela então percebeu que nada poderiam fazer em relação a decisão de Rhaegar, afinal, foi o rei que decretou. - Você tem que ficar aqui minha sobrinha - ele disse. - Dorne precisa de você aqui.

    - Dorne? - ela não entendeu o que aquilo significava.

    - Seu pai insultou minha irmã, seu avô humilhou meu povo para que nós lutássemos em seu nome. E nós fomos obrigado a fazer isso por causa de Elia e de você. - Rhaenys de repente sentiu uma alegria enorme ao saber que havia uma região inteira que a amava tanto ao ponto de morrer por ela. - Aerys nos obrigou a fazer algo que não queríamos, e sabe qual o lema da nossa casa?

    - Insubmissos, Não curvados e Não quebrados. - ela recitou aquelas palavras e não sabia de onde as havia gravado. - Esse é o lema da casa Martell. - logo em seguida ela percebeu que Oberyn falou “nossa” casa e não a casa dele, ou a casa da mãe. Ele estava dizendo que ela era um deles e não uma Targaryen.

    - O dragão quando aparece batendo suas enormes asas e cuspindo fogo faz com que todos seus inimigos saibam onde ele está. - Oberyn a ergue do chão como se fosse uma bonequinha de pano e Rhaenys o percebe sorrindo. - mas a serpente minha querida, ela surge onde o inimigo menos espera e quando ele perceber, o veneno já o matou. Te ensinarei a ser uma serpente.

 

    Rhaenys estava atravessando andando pela Travessa da Sombra Negra a partir da Colina de Aegon e nenhuma pessoa a notava. Estava usando uma das armaduras que os Imaculados que o seu pai havia comprado para serem os guardas pessoas da sua família, felizmente eles tinham armaduras de sobra e nenhum deles nunca a questionou quando pediu armaduras sobressalente alegando que iria fazer um boneco de treino para o irmão. A caminhada fora silenciosa e a maioria dos cidadãos da cidade se distanciaram por receio de quem eles achavam que ela era. Poucos eram os que se sentiam confortáveis com a presença dos soldados sem emoção que poderiam matar sem sentir nenhum remorso ou júbilo.

    Viu algumas tabernas abertas e homens gritavam uns com os outros lá dentro, provavelmente já estavam muito bêbados. Toda a celebração dos torneios havia acabado e agora a vida de King’s Landing estava voltando ao normal. Cerveja velha sendo servida, homens aparecendo mortos a facadas em becos sem que ninguém consiga descobrir quem fez aquilo. As pessoas da Baixadas das Pulgas agora podem andar livremente sem serem rechaçadas pelos soldados para deixarem alguma família nobre passar primeiro. Embora Rhaegar tenha tentando ajudar a reduzir a desigualdade da cidade, ela jamais cessaria.

    Rhaenys finalmente chegou na Rua da Seda e a mudança do aroma do local era visível. Incensos lysenos podiam ser inalados a cada passada que dava e as casas de prazer mais baratas iam desaparecendo de vista e o aroma melhorando. Existia essa discrepância naquela rua, os locais mais baratos ficavam logo no início, toda pessoa pobre que queria prazer rápido não iria querer procurar no final da rua, além disso, evitava que bêbados entrassem em locais mais renomados e que tivesse uma clientela mais selecionada. Grandes senhores e mercadores ricos não gostavam de ter que dividir as mesmas mulheres que soldados rasos e homens da Baixada das Pulgas. Nenhum daqueles locais era o que a Targaryen estava procurando.

    Na parte mais nobre da rua ela encontrou o bordel que procurava, era um casarão enorme de três andares decorado com as sedas mais caras do Mar de Jade, havia também um aroma de canela e sidra que vinha de Essos que encantou as narinas da mulher. Rhaenys conseguia entender o motivo daquele local ser o mais caro de todos, ele cheirava a um prazer nobre. Não ao que parecia mais lembrar a cachorros trepando.

    Ao entrar no bordel foi logo recepcionada por duas mulheres lindas que vestiam camisolas coloridas e adereços de ouro. Elas vieram sorrindo alisar a armadura que Rhaenys usava, mas logo em seguida se afastarem rindo ao perceberem que se tratava de um Imaculado.

    - Olha só, parece que temos um soldado do rei perdido por aqui. - uma ruiva de seios fartos se aproximou e sorria alegre com o que ela achava ser uma presa exótica. - Sabe, eu sempre fiquei louca pra saber como os Imaculados tentam fazer essas coisas. - ela se aproximou de forma sedutora até se encostar no peitoral da armadura.

    O elmo impedia que qualquer pessoa pudesse ver seu rosto, então nenhuma das pessoas conseguiria ver quem estava por baixo da máscara. Mesmo assim, Rhaenys não quis se arriscar muito e afastou a mulher suavemente a empurrando na altura da barriga para longe dela. A ruiva ficou espantada com a atitude, mas sabe ser rejeitada por um homem que não a queira.

    - Talvez eles prefiram homens. - uma loira cochichou em seu ouvido achando que Rhaenys não ouviria.

    Ela continuou a andar pela enorme casa e via vários locais onde tinham alguns homens ricos olhando mulheres lindas e exóticas dançando para eles. Segundo o que ela sabia - pela boca de Aegon. Nesse bordel a pessoa poderia encontrar todo o tipo de mulher que quisesse no mundo. Menos você, você é única, ele lhe dizia ao pé do ouvido enquanto lhe abraçava depois de terem feito sexo. Rhaenys então começou a subir as escadas para o andar superior e ninguém a tentou impedir, logo ela presumiu que nenhuma pessoa iria tentar atrapalhar um soldado que era claramente da guarda pessoal do rei Rhaegar I. Ainda mais achando que se tratava de um homem sem desejos sexuais.

    O segundo andar parecia mais vazio que o primeiro, este era o andar onde ficavam os quartos então certamente todas as pessoas que estavam nele já deviam estar fazendo o que vieram fazer aqui. A exceção era algumas camas pequenas que ficavam organizadas em U onde tinham homens que mascavam folhas diferentes que Rhaenys jamais viu, alguns riam e outros conversavam animados com meninas mais novas da casa que pareciam rir de tudo que eles falavam. Um dos homens tentou se aproximar e sussurrar algo no ouvido da garota e ela levantou num gritinho o levando para o quarto mais próximo de Rhaenys que viu estar vazio. Ela olhou para a armadura de Imaculado que estava vestindo e percebeu que era praticamente invisível naquele local. Viu um homem alto e de armadura escura que guardava a entrada para o terceiro andar, ele a olhava com uma expressão carrancuda.

    Ela teve que se aproximar dele ficou parada lhe encarando, foi uma das poucas vezes que teve receio em falar algo. Aquele homem poderia ser de confiança ou não, mas por sorte, ela sabia muito bem o que ele queria para lhe deixar passar. Ela puxou um saco de moedas que estava escondido na bainha da espada que não possuía. Deveria haver 6 dragões, o suficiente para que o homem não precisasse trabalhar por 3 meses. Rhaenys entrega as moedas na mão dele que em seguida sorri ao sentir o peso do saco.

    - Muito obrigado milady. - ele murmura baixo com um tom presunçoso e Rhaenys não demonstra nenhum choque. Esse tipo de homem venderia a informação se soubesse qualquer evidência real de quem ela fosse.

Ao subir para o terceiro andar da casa ela encontra um aposento gigantes, mas praticamente sem nenhuma pessoa. Há mobílias caras por todo o lugar e tapeçarias retratando vários acontecimentos ao longo da história do mundo, estranhamente nesse local só existia um aroma bem leve de jasmim. Rhaenys via imagens retratando a cidade de Valíria e em seguida a Perdição, o colossos de Bravos e outras imagens. Ao fundo da sala havia uma enorme mesa e um homem sentado junto com uma mulher mais velha e alguns homens que pareciam ser seus sócios. Eles estavam entretido olhando para algum pergaminho e comentavam sobre alguma nova oportunidade de negócio em Essos - ela tentou ouvir, mas não conseguiu captar nenhuma palavra e se repreendeu por isso.

O homem mexia sem parar em seu cavanhaque triangular e gesticulava para os outros, mas a mulher que estava entre eles percebeu a presença silenciosa de Rhaenys na mesma hora. Ela cochichou algo e o homem que estava sentado na ponta com o cavanhaque olhou para ela e deu um sorriso mostrando uma discreta animação.

Sem que nada precisasse ser falado os outros membros daquele pequeno conselho se calaram e começaram a caminhar para a direção de Rhaenys. Eles nada falaram com ela e simplesmente continuaram a andar em direção da escada, enquanto a princesa andou na direção das cadeiras que agora estavam vazias. Ela sentou na ponta da cadeira que dava uma visão direta para aquele homem. Tinha um nariz um pouco ponto e cabelos já ficando grisalhos, um olhar de apostador e certamente era um. Tinha uma fisionomia que lembrava discretamente uma pessoa estrangeira talvez, mas bem pequena. usava uma roupa negra e tinha um broche com dois tordos presos. Ele olhava pacientemente para Rhaenys enquanto ouviam o barulho das pessoas descendo as escadas.

Somente quando os passos pararam de serem ouvidos foi que ela retirou o elmo de sua cabeça. Seus cabelos caíram na mesma hora em cascata em seu ombro e a princesa sentiu que estavam suados e grudando em sua pele.

    - Princesa Rhaenys. - o homem falou com gracejo. - Estou surpreso em ver a milady em meu humilde estabelecimento.

    - Senhor Baelish. - Rhaenys retribui a formalidade e quase quis fazer uma reverência, como se o homem fosse um Lorde importante, ou algo do tipo. - O senhor não está realmente surpreso com a minha vinda, afinal, vive recebendo minhas emissárias.

    Petyr Baelish se levanta da cadeira e começa a caminhar pela sala. Ele para e fica olhando para um mapa enorme de Westeros que parece ser bem antigo e feito por algum cartógrafo há décadas, talvez mais. O homem puxa suavemente o cavanhaque como se estivesse pensando.

    - De fato milady, mas estou genuinamente surpreso desta vez. Não esperava lhe ver, ou melhor, não estava esperando que viesse tão rápido. Achei que continuaríamos nosso jogo às escondidas. - a verdade era que Rhaenys e Petyr estavam em contato através de emissários há pelo menos três anos. Aegon logo tomou gosto pelo local caro onde daquele homem e Rhaenys descobriu que aquele era o local mais frequentado por pessoas poderosas, e ela desde cedo soube que homens se sentiam com a língua solta depois de fazerem sexo com uma mulher linda. Principalmente os poderosos que queriam se vangloriar daquilo que tinham.

    - Meu plano estava nas sombras por bastante tempo, mas acredito que o senhor tenha muitas informações depois do evento de Aegon. - ela comenta. - Decidi vir falar com diretamente porque sei que podemos orquestrar uma aliança que beneficiaria nós dois.

    Petyr riu daquelas palavras, uma risada verdadeira, mas comedida. Ele era um apostador, um filho de um senhor praticamente dono de nada na terra dos Dedos e que aos poucos foi ascendendo em King’s Landing, de um nobre pobretão até se tornar o dono do bordel mais bem frequentado de toda Westeros.

    - Conhecimento é poder. - ele murmurou consigo mesmo. - De fato, Lady Rhaenys, eu tenho muitas informações valiosas para a senhorita e estarei disposto a negociar por elas. Sei que acharemos um valor justo.

    - Posso providenciar um baú com dois mil dragões pelas informações agora e mais cinco mil se descobrir que foram todas verdadeiras. - Rhaenys joga seu valor. Homens como Mindinho não precisam de gracejos leves, eles querem saber logo o que irão ganhar.

    - Isso é muito dinheiro. - ele fala voltando para a direção da mesa e dando um longo assobio. Petyr caminha até a direção onde Rhaenys está sentada - mas eu não quero dinheiro. Não, eu já consigo isso facilmente. - Ele pousa seus braços suavemente nos ombros de Rhaenys e se aproxima do ouvido da garota. - Eu vou te dar toda a informação agora, mas em troca eu quero que você me dê um posto de poder quando virar a Rainha de Westeros.

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado do capítulo. Nele eu tentei contar a história da infância de Rhaenys. Imagine uma criança que foi criada perto do Rei Louco? tudo que ela passou naquele "cativeiro" provavelmente iria alterar sua visão de vida pra sempre, além do fato dela ter sido rechaçada pelo rei Louco pela sua falta de genes Targaryen. Isso é dito nos livros de GoT.
Quanto ao Rhaegar, eu acredito que todos nós amemos o amor dele pela Lyanna, mas eu quis retratar um pouco os sentimentos de Ellia Martell. Uma mulher que foi sempre gentil e carinhosa, mas sofreu muito pelas decisões do marido. E com certeza também teria sequelas se tivesse sobrevivido.

Então é isso, espero que tenha feito um retorno digno de vocês meus leitores. Muito obrigado pelas mensagens de incentivo. O próximo capítulo será do Jaeherys (JON) - não aceito que ele se chame Aegon hahahaha


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