Mexi na comida em meu prato mais uma vez, com meus pensamentos perdidos.
-Algum problema com a comida? -Minha mãe perguntou, me fazendo levantar o olhar do prato para encara-la.
-Não. -Murmurei, me levantando rapidamente, ouvindo ela bufar.
Subi as escadas rapidamente, fechando a porta do meu quarto e a trancando. O que estava acontecendo não era culpa da minha mãe, mas eu simplesmente não conseguia lidar com ela no momento.
Meu celular tocava na comoda ao lado da minha cama. Senti meu corpo gelar quando vi o nome na tela.
Justin me ligava.
Peguei aparelho com raiva, me esforçando muito para não atira-lo na parede. Desbloqueei a tela, recusando a ligação e indo até seu contato, o bloqueando.
Ele tinha deixado diversas mensagens dizendo que precisávamos conversar, mas eu tinha as ignorado.
Não quero que ele se desculpe por sentir pena de mim. Não se ele realmente pensa que eu inventaria uma coisa daquelas.
Ele acha que eu poderia ser tão egoista a este ponto?
Realmente, desta vez ele tinha conseguido me machucar de verdade.
Li novamente a mensagem que os perseguidores tinham me enviado.
Eles me queriam de volta a Nova York, e com Justin. Eu não deixaria isto acontecer, por mais que me custasse muito caro.
Primeiramente, manter todos afastados desta história me parecia o melhor a fazer. E segundo que Justin não acreditava em mim.
Eu estou sozinha nesta.
Me deitei na minha cama, abraçando meus travesseiros com força, tentando tirá-lo da minha cabeça de todas maneiras possíveis.
Era impossível.
Ele estava grudado a mim, em meu corpo e em minha mente.
...
-Brooklyn, eu estou preocupada. -Minha mãe disse, me acordando. Ela estava sentada do meu lado, na cama.
Franzi a testa, me sentando e a encarando.
-Por que? -Murmurei, coçando meus olhos e me espreguiçando.
-Eu sei que não sou uma boa mãe, mas não sou uma idiota. -Ela falou, bufando. -Eu sei que está acontecendo alguma coisa com você.
Encarei a parede do meu lado. Eu tenho estado trancada no meu quarto e distante nos últimos dias. Mal temos trocado uma palavra.
É claro que ela não seria idiota para pensar que estava tudo bem comigo.
O problema é que eu não posso contar o que está acontecendo, e nem quero.
-Eu estou bem, mãe. Só preciso descansar. -Falei, voltando a me deitar.
Ela me olhou, e eu tinha certeza que ela não tinha engolido esta história.
-Olha, querida, eu sei que tem todo esse drama e segredos de adolescentes, mas se você quiser me contar algo, de verdade, sempre vou estar aqui. -Ela disse, apertando minha mão. Sorri para ela, que se levantou e saiu do quarto.
Me levantei da minha cama, andando até a enorme janela. Puxei a cortina para o lado, observando o lindo e ensolarado dia do lado de fora.
Eu não posso ficar neste estado. Vou acabar me arruinando, entrando em um buraco do qual não poderei mais sair.
Andei até o closet, vestindo uma roupa leve e confortável.
Desci as escadas até a sala, onde minha mãe lia uma revista de decoração.
-Vou dar uma volta no parque. -Falei, e ela abriu um largo sorriso.
-Até iria com você, mas tenho uma reunião em pouco tempo. -Ela disse, conferindo a hora em seu relógio.
-Não tem problema. Eu preciso de um tempo sozinha. -Falei, dando um beijo em sua bochecha e saindo de casa, andando até meu carro na garagem.
Em poucos minutos cheguei no meu parque preferido da cidade. Aquela hora da tarde as ruas estavam praticamente vazias, exceto por alguns turistas.
Fui até uma trilha, no meio do local, onde sempre brincava de esconde esconde com meu pai e minha avó.
Me lembro que uma vez, quando os pais de Justin vieram passar as férias aqui com ele, meu pai trouxe nós dois aqui.
Justin colocou o pé na minha frente no esconde esconde, me fazendo cair e bater nele. Ele me tirava do sério por que não importa o quanto eu o batesse ou xingasse, ele sempre ria de mim.
Sacudi minha cabeça com força, me obrigando a afastar aquelas lembranças de mim. Quem diria que lembranças de infância, tão inocentes, se tornariam em algo tão doloroso.
Encarei o banco em que me escondia com meu pai, quando ele me comprava sorvete perto da hora do almoço, o que deixava minha mãe furiosa.
Nós deixávamos ela sozinha no parquinho e corríamos até aqui, nos escondendo atrás das árvores.
Sempre julguei tanto ela, minha vida inteira, mas não posso imaginar o tamanho do seu sofrimento. Ela e meu pai sempre tiveram suas diferenças, mas pelo pouco que me lembro, eles sempre se amaram muito.
E ela o vou morrer de maneira tão terrível, e ainda teve que arcar com a minha rebeldia.
Dei algumas voltas pelo parque até encontrar o velho sorveteiro. Comprei um sorvete de baunilha, como sempre fazia, andando até o velho banco e me sentando.
Fechei meus olhos, sentindo todo medo, dor e angústia sumirem. Por alguns segundos eu era só uma inocente garotinha de novo.
Senti meu celular vibrar em meu bolso e o peguei, desbloqueando a tela.
Apreciando o velho parque, querida? Uma pena que a paz sempre dura pouco.
Senti meu corpo todo gelar e me levantei rapidamente, olhando para todos os lados. Não tinha ninguém.
Senti as lágrimas de desespero escorrerem pelo meu rosto novamente. Corri com todas minhas forças até o carro, entrando e trancando as portas.
Então eu desabei.
Chorei como nunca, em toda minha vida, tinha chorado.
Eu estou tão cansada de me sentir apavorada e frágil. Tão cansada de me machucar.
Me obriguei a ligar o carro, com as mãos trêmulas, me esforçando para dirigir até em casa sem causar nenhum acidente.
Eu deveria ter ficado naquela porra de banco.
Deveria ter deixado quem quer que fosse vir até mim e acabar logo com isso.
Estacionei o carro desajeitadamente na garagem, agradecendo pela minha mãe não estar em casa.
Subi as escadas até meu quarto, mas desta vez não me deitei na cama.
Andei lentamente até o banheiro, encarando meu reflexo. Era impressionante como uma pessoa podia se destruir tanto em pouco tempo.
Meus olhos estavam inchados, minhas olheiras eram profundas, e meus cabelos estava embaraçados.
Minha aparência refletia exatamente como eu me sentia. Exausta.
Exausta de tudo.
Só queria por um fim a tudo aquilo, a todo sofrimento. Meu sofrimento e das pessoas a minha volta, para as quais eu só trago dor.
As lágrimas voltaram com mais força ainda que antes, quase me impedindo de enxergar. As limpei com raiva de meu rosto.
Encarei meu reflexo, de uma garota frágil e acabada, novamente.
Soquei o espelho com toda minha força, fazendo ele se quebrar, cortando minha mão.
Os cacos se espalharam pelo chão, atingindo minhas pernas e pés, e eu sentia o sangue escorrendo.
Me sentia tão anestesiada que não senti dor alguma.
Peguei um longo e afiado caco do chão, encarando meu reflexo nele mais uma vez. Um simples gesto e tudo acaba, todos ficam em paz.
Desta vez minha paz irá durar para sempre.
Levei o pedaço afiado até meu pulso direito, o rasgando com força.
Senti minhas pernas fraquejarem e cai de joelhos, enquanto o sangue manchava meu corpo e o chão do banheiro.
Fechei meus olhos, perdendo os sentidos, sentindo uma longa e reconfortante escuridão me atingir.
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