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História Drowning Lessons - We are young and we don't care


Escrita por: Gayestx

Notas do Autor


Olá, gente ♡

Esse ep é divertidinho, gosto dele. Ele é mais longo que os outros também, o que é legal. Ele teve influência de um ep de The Dove Keeper, de certa maneira.

Vocês repararam que fiz uma capa nova pra fic? Eu tava cansado daquela antiguinha, além de não curtir muito ela, então decidi criar uma nova. Eu fiz uma montagem com uma foto do Ville Valo e uma do Gerard porque, sei lá, eu curtia a foto original do Ville e imagino o Gee nessa fic com o estilo dele (apesar de que na capa ele tá com uma camiseta aleatória do Aladdin, mas enfim). Não sou muito bom com edição, nunca fiz curso disso nem nada do tipo, então só espero que não esteja terrível.

Outra coisa: ao longo desse ep vai aparecer o termo "homossexualismo". Eu usei ele propositadamente porque ele reflete a mentalidade do Frank nessa época: um cara que tá tentando entender sobre o assunto, mas que ainda é extremamente desinformado.

É isso. Espero que gostem, boa leitura.  ♡

Capítulo 13 - We are young and we don't care


Fanfic / Fanfiction Drowning Lessons - We are young and we don't care

Gerard estava deixando a sala de Berger. Havia lhe contado hoje sobre Frank e quando se encontraram e o psiquiatra o parabenizou pelo seu avanço. Gerard, apesar da aprovação do médico, ainda deixou claro que não se sentia seguro sobre o seu relacionamento com Frank e nem sobre se queria levar isso à diante. Pensou que seria repreendido, mas ele fora até bastante compreensível, aconselhando-o a respeitar seu próprio ritmo.

_Não é como se fosse uma oportunidade única, Gerard. _Berger assegurou, cruzando os dedos sobre o seu colo. _Você não precisa aceitar absolutamente tudo só porque ele demonstrou interesse em você. Apesar de você não ser a pessoa mais carismática do mundo, _Berger o olhou com um desdém falso e engraçado, deixando claro que estava brincando. _tenha certeza de que outras pessoas se interessarão por você. Só não aceite tudo achando que precisa disso porque não é assim. Você é um garoto legal, vai conseguir outros amigos mesmo se essa amizade não der certo. _ele disse, soando positivamente paternal pela primeira vez em inúmeras sessões, o que imediatamente remeteu Gerard à conversa sobre pessoas terem camadas e o fez se questionar se Berger tinha filhos e se falaria com eles assim todo o tempo, guardando toda a ironia para os pacientes.

Havia sido a melhor de suas sessões, a única na qual ele não havia surtado até agora - mais tarde ele provavelmente pensaria em alguma recompensa para se presentear, talvez cigarros melhores. Além disso, conseguiu ter seus remédios de volta. Berger receitou-o Elavil para possíveis ataques de pânico e ansiedade e Anafranil para depressão e tê-los tranquilizava-o de formas que ele não podia dizer. Podia começar a tomá-los hoje mesmo.

Virava o corredor quando se deparou com Frank encostado na parede, próximo à sua aresta, com um dos joelhos dobrados e um do seus pés apoiado nela. Olhava para baixo distraído quando percebeu Gerard, olhando-o um pouco envergonhado e gaguejando algumas sílabas.

_Oi, eu... _começou, parecendo nervoso. _Como foi? _perguntou, acenando com a cabeça em direção à sala de Berger. Gerard franziu as sobrancelhas, sem compreender como ele poderia saber do psiquiatra. _Ah, alguém me contou que você estaria aqui. _tratou imediatamente de se explicar, percebendo a evidente hesitação de Gerard. Havia realmente escutado de algumas pessoas no internato que Gerard fora obrigado a participar de sessões semanais (provavelmente por toda essa questão de homossexualismo, ele imaginava), por isso, quando não o encontrou em outros lugares, imaginou que ele estaria ali. Gerard não respondeu, então Frank decidiu ir direto ao ponto. Suspirou. _Eu queria falar com você.

_Bom, então você conseguiu. _brincou, sorrindo. _Sobre?

_Você já tem par pro trabalho de artes? _perguntou Frank, se repreendendo mentalmente por soar tão desesperado.

_Não. Na verdade, _emendou. _eu estava pensando em fazer sozinho.

_Você não gostaria de, de repente, fazer comigo? _sugeriu Frank, passando as mãos pelos cabelos escuros, desajeitado. Haviam crescido bastante nas última semanas. _É que os meninos vão fazer juntos, então eu meio que fiquei sem par.

_Ah. Bem, eu... _começou. Foi um convite um tanto inesperado, Gerard não sabia exatamente como devia reagir, o que devia fazer. Seguir o seu ritmo, Berger disse. Mas que merda, como poderia se Frank não parava de apressar tudo? E qual o limite entre aceitar as sugestões de Frank por disposição em fazer a relação deles funcionar e desespero por amizades? Que droga. _Tudo bem. É, tudo bem. _repetiu, como se precisasse reafirmar para que pudesse se convencer do que estava fazendo. _Podemos fazer juntos. _Frank sorriu de forma genuína, parecendo mais animado do que devia com algo tão irrelevante.

_Ótimo! Então hoje, no meu quarto, às oito?

_Oito? Não é muito tarde? _perguntou Gerard.

_É que eu tinha que fazer algumas coisas antes. _mentiu. Ele apenas precisava de tempo para que Jeph conseguisse o que precisavam e para se preparar também, porque estava nervoso. _Podemos continuar outro dia, se de repente hoje não conseguirmos acabar. Não sei se você dorme cedo ou...

_Não, não. Você está certo. Okay então. _concordou, arrumando a mochila em seu ombro para começar a ir embora, quando se lembrou do colega de quarto de Frank. _Calma, e o outro cara do seu quarto?

_O Jeph? Não se preocupe, ele me disse que também ia fazer o trabalho hoje. Muito provavelmente o Bert também vai estar lá. Não vão se incomodar.

Frank não entendeu a sua preocupação. Gerard estava apreensivo não com o fato de ser o convidado, mas com a possibilidade de se irritaram por Frank ter chamado um viado para ajudá-lo no trabalho. De qualquer forma, ele resolveu deixar isso pra lá. Frank já devia ter contado a eles que queria fazer o trabalho com ele, não precisava se preocupar em como reagiriam ao vê-lo lá, precisava? Porque, de qualquer jeito, nenhum dos dois tinha mexido com ele outra vez, talvez não ligassem pra ele afinal. Ele só esperava estar certo e nenhum daqueles caras começar a infernizá-lo.

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《Lapso temporal》

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Frank andava de um lado para o outro, impaciente. Jeph estava demorando muito, Gerard estava para chegar. Havia acabado de tomar banho, mas sentia seu corpo pregar por baixo de todo aquele tecido. Suas bochechas estavam coradas, parte pelo nervosismo, parte pela atmosfera gelada que preenchia seu quarto naquela noite de inverno. Havia arrumado o quarto hoje, pela primeira vez em algumas semanas, mas o cheiro de poeira persistia. Estava ansioso. Precisava fazer parecer o mais natural possível, mas ainda nem sequer havia combinado com Jeph como fariam tudo. Precisavam conversar antes que Gerard aparecesse.

Finalmente, alguém bateu na porta. Frank a abriu rapidamente - o que, pensando bem, não foi tão inteligente porque ele não sabia quem estava do outro lado -, deparando-se com Jeph e Bert. Bert parecia animado e Jeph sorriu maliciosamente para Frank, balançando duas sacolas ao lado do rosto. Frank puxou-o pela gola da camisa para dentro do quarto.

_Você tá maluco? Alguém pode te ver aí! _disse, averiguando o corredor enquanto Jeph deixava as coisas na cama.

_Calma, cara. _disse Jeph, levantando as palmas das mãos em sinal de rendição. _Você tá muito nervosinho. _disse, debochadamente. Frank bufou.

_Então? Como nós vamos fazer? _Bert perguntou e Jeph não pôde impedir-se de rir ruidosamente.

_Alto lá, nós? Eu passo, Frank pode fazer as honras. Eu me recuso a chegar perto daquele cara. _Jeph desdenhou, desviando o olhar antes de encontrar os olhos cortantes de Frank o fuzilando. Bert limpou a garganta, emitindo um ruído alto em repreensão aos dois. Frank bufou, cedendo, e balançou a cabeça para voltar ao que era importante.

_Desculpe. Então...? _Bert tentou outra vez.

Frank apertou a o lábio inferior entre seu polegar e indicador, tentando se manter concentrado para pensar. Após alguns segundos inúteis, o próprio Bert revirou os olhos, propondo:

_Acho que devíamos chegar um pouco depois dele. _sugeriu, já que ninguém mais parecia ter ideias ou disposição para começar. _Aí o Jeph fala que tava pretendendo fazer uma festinha hoje, que podíamos deixar o trabalho pra outro dia e toda essa conversa fiada.

_É, boa. _disse Jeph, fazendo um high five com Bert, que pareceu feliz quase como uma criança com a aprovação. _Mas eu acho que devíamos dar pelo menos meia hora pros dois. Pro Frank deixar ele mais à vontade, né, Frank? _ele insinuou, movendo suas sobrancelhas freneticamente e recebendo um olhar glacial de Frank em resposta. Bert o repreendeu e ele virou-se para o amigo, explicando-se: _O que é? Frank está tomando aulas com o novo amiguinho, vai saber se virar. Você sabe, preliminares. _insinuou, sussurrando apesar de obviamente querer que Frank o escutasse. _Só espero chegar aqui e ele estar vestido porque não quero ver as bolas de ninguém hoje. _zombou, suas bochechas infladas tentando reprimir uma enorme gargalhada dentro da sua boca. Frank chegou a dar um passo para frente, bufando, os seus punhos fechados ao lado do corpo, o que foi o alerta vermelho parar Bert interferir antes que um avançasse no outro.

_Mas, enfim, _interrompeu Bert, tentando aplacar a tensão entre eles. Ele tinha esse costume de sempre falar "enfim" em absolutamente qualquer situação na qual se sentisse sem graça. _a gente devia ir. Não é, Jeph? _disse, empurrando-o em direção à porta. Então, virando-se pra trás e sorrindo gentilmente, desejou: _Boa sorte, Frank. _e saíram ambos, levando o que haviam comprado.

Frank viu-se novamente sozinho. A ansiedade não havia passado, mesmo após decidirem o que fariam. Parado no centro do quarto por um momento, continuou olhando a porta, sentindo-se quase como que abandonado pra morrer ali pelos seus melhores amigos. Ele nem sequer bebia, nem sequer usava nada. Aquilo seria desastroso. Gerard perceberia que ele era apenas uma grande farsa e que aquilo era armação. Porra, ele tava fodido.

Foi até o banheiro, fincando suas palmas na pia e olhando-se no espelho. Havia começando a hiperventilar um pouco e a porcelana sob suas mãos estava úmida de suor. Analisava seu rosto. Seus lábios eram finos e o nariz curto e levemente arrebitado, o que dava a ele um certo ar de prepotência. Seus olhos eram verde-oliva e se destacavam por entre toda aquela maquiagem vermelha e olheiras. Seu sidecut estava pouco aparado e seu cabelo escuro ondulava, emoldurando sua pele pálida e seca. Frank se olhava, mas por algumas frações de segundo não pôde reconhecer aquilo. Em que merda você tá se metendo, cara?

Ouviu batidas na porta e isso o fez arrepiar um pouco. Olhou seriamente seu reflexo em uma espécie de auto ameaça e respirou fundo, como se quisesse apreender todo o ar do dormitório. Virou-se, andando lentamente até a porta. Tocou a maçaneta gelada e girou-a devagar.

_Olá. _Gerard cumprimentou, sorrindo envergonhado e ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

_Oi. _Frank respondeu, permanecendo parado por alguns segundos sem se lembrar que devia deixar Gerard entrar. _Ah, é mesmo. _resmungou, lembrando-se, e abriu mais a porta, afastando-se para que Gerard pudesse passar.

_Legal seu quarto. _disse Gerard, olhando ao redor e vendo alguns posters e pilhas de quadrinhos e alguns livros amontoados em uma escrivaninha. Frank não respondeu, apenas seguiu-o com os olhos enquanto fechava a porta atrás de si. _Então... _começou, virando-se para Frank. _Onde vamos fazer o trabalho?

_Ah, sim. _ disse, apressando-se um pouco em direção à sua cama e tirando de cima dela alguns livros e canetas que havia deixado espalhados. Nunca fui pra cama de ninguém tão rápido assim, Gerard pensou, rindo-se nervosamente consigo. _Pode sentar.

Gerard então sentou-se, dobrando uma das pernas e colocando-a sob a outra, que permanecia estendida. Estava nervoso. Não se lembrava da última vez que havia feito dupla com alguém em algum trabalho escolar e o fato de sua primeira experiência ser com Frank era assustador. Havia tomado seus remédios antes de vir e só esperava que surtissem efeito suficiente para não deixá-lo surtar. Ajeitando os livros e folhas sobre seu colo, pigarreou um pouco e então perguntou, tentando romper o silêncio constrangedor no qual estavam imersos.

_Por onde quer começar? _Gerard perguntou e Frank gesticulou com os ombros, suas mãos nos bolsos de sua calça.

_Você decide. _ele delegou, fugindo ao encontro da visão de Gerard. Parecia nervoso, o que Gerard entendeu como sendo pelo fato de ele ter trazido um cara viado ao seu quarto sendo que claramente não estava 100% confortável com o assunto.

_Tem certeza? Acho que a gente pode pensar em alguma coisa legal juntos. _ele ofereceu, tentando soar tranquilizante, o que não pareceu funcionar muito porque Frank apenas meneou a cabeça indiferentemente. Então Gerard suspirou, decidindo mudar sua abordagem, e modulou sua voz para torná-la o mais falsamente magoada possível. _Você não vai nem fingir que não está me usando só pra conseguir a nota que precisa? Caralho, eu te imaginava egoísta, mas nunca tão preguiçoso.

Aquilo definitivamente pegou Frank de surpresa, fazendo Gerard imediatamente recuperar a sua atenção. Não é possível que ele tivesse demorado só alguns segundos para perceber que aquilo tudo era uma farsa. Ele sentiu seu peito subitamente esfriar e seu coração parecia bater em suas têmporas. Frank buscou o rosto de Gerard, o qual o havia abaixado em direção ao seu colo enquanto cutucava insistentemente os jeans com a caneta, buscando algum indício do que diabos havia acontecido ali, de como ele havia descoberto. Foi então que ele percebeu, por baixo da franja de Gerard que escondia quase a totalidade de seu rosto naquela posição, um sorriso que soava quase debochado e ele percebeu que havia caído em uma armadilha.

_Porra, Gerard! _ele reclamou, despencando na cama na frente do outro e estapeando o colchão, mais aliviado do que irritado, fazendo o outro rir dele. Seu coração desceu novamente para a sua caixa torácica, onde ele pertencia.

_Desculpe, mas eu precisava te fazer parar de agir como um idiota envergonhado. _Gerard se justificou, olhando apropriadamente para ele dessa vez, sorrindo triunfante pelo seu êxito.

_E achou que era melhor me fazer agir como um idiota assustado? Sério? _Frank perguntou, ainda tentando normalizar as batidas do seu coroação com o quase flagra, e Gerard gesticulou com os ombros.

_Se tiver funcionado... _ele argumentou, lavando suas mãos.

_Bom, _ele parou para respirar, engolindo uma enorme lufada de ar para preencher seus pulmões novamente. _então você vai ficar bem decepcionado. _Frank contou e Gerard arqueou uma das sobrancelhas divertidamente, confuso e curioso. _Eu não ia te deixar fazer o trabalho sozinho porque eu sou preguiçoso. _Gerard o olhou cético. _Certo, também por isso, _ele admitiu. _mas mais porque eu não queria atrapalhar o casal. _ele afirmou, sorrindo provocativo para Gerard.

_De que merda você está falando, cara? _Gerard curvou as sobrancelhas.

_Você e o professor. Eu pensei que você gostaria de impressioná-lo, por isso ia te deixar fazer o trabalho sozinho e eu ficava sendo a nota de rodapé. _Frank explicou e Gerard soltou um "pfff" descrente. _Qual é, você quase o come com os olhos. Não tente negar, é ridiculamente óbvio.

_Ah, cala a boca! _Gerard riu, empurrando Frank. _Eu não sei o que você tem ouvido sobre mim por aí, mas eu te garanto que eu não tenho tanto complexo paterno ao ponto de me interessar por pessoas com o triplo da minha idade. _Gerard garantiu, fazendo Frank corar vergonhosamente, e sorriu vitorioso. _Eu gosto da aula, cara. É só isso, sério. _ele disse e Frank engoliu em seco, tentando ignorar o calor em suas bochechas para redargir com uma piada que pareceu tentadoramente conveniente.

_Disso e dos dedos ágeis de artista do professor. _ele acusou, com a voz alguns decibéis mais baixa e desviando o olhar para o lençol da cama, usando com dificuldade todo o atrevimento que nem ele mesmo sabia que tinha porque ele não costumava ter tanta desinibição quanto Gerard para esses assuntos. Mesmo nervoso, no entanto, não pôde impedir-se de sorrir um pouco, espantado e satisfeito com a sua coragem. Gerard também precisou sorrir porque a mudança de postura de Frank foi odiosamente fofa e ousada, o que acabou o fazendo esquecer-se de se sentir ofendido ou constrangido com a observação, limitando-se a apenas balançar a cabeça como uma leve repreensão.

_Okay, certo, você é um imbecil, mas tem o seu ponto: eu gosto de artes. Mas e você? Do que você gosta? _Gerard perguntou após alguns segundos de silêncio, enquanto folheava o seu caderno em busca de uma página em branco.

_Hm... _Frank resmungou, ajeitando-se na cama e pensando um pouco. _Eu não sei.

_Então aquilo não é seu? _Gerard perguntou, indicando um violão encostado próximo à cabeceira da cama de Frank.

_Sim, é, mas... _Frank gaguejou algo que deveria ser uma resposta, tentando esquivar-se da possibilidade de tocar para Gerard.

Ele havia ganhado o instrumento aos 12 e, por dois anos, tomou lições de violão clássico para poder tocar na igreja e outros eventos formais. Depois disso, seus pais perderam um pouco o entusiasmo com a sua música, um desinteresse que veio bem a calhar porque ele também se sentia totalmente impaciente para o gênero. Não que ele não gostasse da música, exatamente. Ele só a achava morta, de certa maneira. Ele era um pré-adolescente experienciando toda aquela angústia jovem e impaciência e ele simplesmente não se sentia confortável escutando coisas bonitas, harmônicas e elaboradas porque ele não era isso. Ele era um garoto estranho, feio, medíocre e passando por todas as mudanças físicas e emocionais imagináveis. Ele não era linear e coerente, ele era oscilante, destoante, desagradável. Nada naquela sonoridade o permitia se identificar mais, exceto, talvez, o fato de ela parecer tão tediosa quanto ele.

Além disso, aquelas músicas remetiam a memórias nada agradáveis de infinidades de missas. Frank era religioso, obviamente, e ele rezou a Deus explicando o motivo de parar de tocar porque não queria gerar um desentendimento divino. Ele apenas preferia uma fé mais intimista, menos vocalizada, menos musical, menos... Externalizada. Era esse -- ou ao menos foi o que ele preferiu acreditar ser -- o motivo para se aposentar do instrumento. A verdade, no entanto, era que ele não se sentia mais 100% certo sobre sua fé porque ela não saciava mais as suas dúvidas sobre nada. Não havia nada que ele houvesse aprendido na catequese ou na escola dominical na infância que preenchesse, que suprisse as questões que gritavam em sua cabeça naquele tempo. Fora que a ideia de castidade não soava nada atrativa, servindo apenas para martelar a sua culpa depois de toda punheta, e isso era irritante. De qualquer maneira, independentemente dos motivos, apenas não fazia mais sentido tocar para coisas que não o representavam mais, então ele guardou o violão no fundo de seu armário.

O instrumento ficou órfão por alguma meses a partir dali, apenas sendo resgatado quando ele percebeu que poderia tocar sobre coisas que de fato acreditasse. Ele trocou as cordas de náilon por cordas de aço, comprou uma palheta e substituiu o som elaborado e melódico para algo tecnicamente mais simples e barulhento. Seus pais não aprovariam nunca (possivelmente, nem mesmo a imagem de Cristo que vigiava sua cama aprovaria), então ele começou a treinar na garagem da casa de seus amigos que realmente não ligavam para as merdas que ele tocava ou ouvia. Vez ou outra ele inclusive escrevia alguma coisa. Não era nada grandioso, não era nem mesmo muito coerente ou fazia qualquer sentido, mas era dele e isso era o suficiente. Mesmo que muitas vezes a melodia não comportasse os versos ou que as cordas ganissem com o deslizar descuidado de seus dedos ou que sua voz de garoto na puberdade distoasse ao ponto de ele sentir que poderia ensurdecer cachorros. Foda-se, isso realmente não importava. Não havia mesmo qualquer plateia para sanciona-lo, a bebida e o desinteresse de seus amigos os fazendo totalmente surdos a tons.

Ele começou a trabalhar mais nisso, compondo qualquer coisa sempre que sentia que iria explodir. Ele demorava horas para escrever qualquer coisa aproveitável, rabiscava e amassava muitas folhas, gritava pra caramba com o seu violão que às vezes parecia estar conspirando contra ele ou com os seus dedos que pareciam desengonçados e inábeis, mas era justamente esse processo doloroso e desgastante que parecia ajudar. Não era exatamente o produto final disso, a música (apesar de muitas vezes ele se sentir orgulhoso pra valer do que conseguia), mas todo o processo de tentar verbalizar e responder às dúvidas que ninguém mais parecia capaz. E era um processo muito pessoal, muito íntimo. Ele não estava preparado para mostrar isso a ninguém. Ao menos não para alguém realmente disposto a ouvir, como Gerard estava. Seria como pedir a Gerard que explicasse suas cicatrizes, era quase sádico de tão invasivo.

_Mas você não vai tocar pra mim. _Gerard adiantou, parecendo, felizmente, ler a mente de Frank, o qual limitou-se a gesticular com os ombros em desculpa. _Certo, eu entendo. Não se preocupe. _Gerard o tranquilizou.

_Eu posso colocar alguma coisa pra tocar ao invés disso, se você quiser. _Frank ofereceu. _Eu faço mixtapes. Não são a mesma coisa, mas...

_Parece ótimo. _Gerard concordou.

Frank então levantou-se e foi até uma boombox Lloyd Dobler* sobre a sua escrivaninha, abrindo uma gaveta a procura de seus mixtapes. Havia feito uma ótima seleção de músicas para festas quando ainda morava na casa de seus pais e seus amigos decidiram dar uma. Gostava de sempre se responsabilizar pela trilha sonora de qualquer evento que participasse porque a música era essencial para criar a atmosfera perfeita pra cada situação. Por isso, se ele queria que Gerard se sentisse confortável, deveria recorrer à mesma playlist que fez para a outra festa em uma espécie de estratégia subliminar para persuadi-lo a aceitar a situação que se seguiria quando seus amigos chegassem.

Pegou uma cassete no fundo da gaveta, na qual havia escrito Party Poison**, e colocou-a em seu boombox, modulando o volume para não acordar todo o pavilhão, mas deixando-o suficientemente alto para reverberar por todo o quarto. A primeira música era Ça plane pour moi. Frank não tinha ideia de como a havia conhecido - provavelmente em algum mixtape de flea market* - e, pelo pouco que compreendia de francês, sabia que a letra não dizia exatamente alguma coisa, era apenas um tipo de história cortada com sentenças curtas. De qualquer forma, aquele era seu esforço máximo em músicas de festa porque ele sabia que as pessoas não dançariam com o que ele normalmente ouvia (a menos que moshs** acidentais possam ser considerados uma dança). Além disso, aquela música, apesar de fugir um pouco do seu gosto pessoal, ainda era relativamente boa então totalmente dava para engolir.

Frank andou até a cama onde Gerard estava, sentando-se na sua frente outra vez.

_Certo, mas e você, amante das artes? Você desenha ou qualquer coisa do tipo? _Frank supôs.

_Bom, todo mundo desenha. _Gerard se esquivou.

_Tá, okay. Mas você entendeu o que eu quis dizer. _Gerard se fez de ingênuo outra vez e Frank revirou os olhos. _Você faz isso bem?

_Lamento te decepcionar, Frank, mas eu sou péssimo. Só consumo e admiro.

_Então o que você faz? _Frank perguntou, mais interessado na conversa do que gostaria de admitir para si mesmo. Gerard meneou negativamente com a cabeça.

_Nada, na verdade. _Frank o lançou um olhar cético, que fez Gerard rir. _O quê?

_Existem sete tipos de arte, Gerard. Ninguém falharia totalmente em todas, isso é quase impossível. _Gerard suspirou com o que pareceu ser rendição.

_Okay, você me pegou. _ele admitiu, crispando os lábios. _Eu atuo. _Gerard revelou, fazendo Frank soltar uma interjeição involuntária de surpresa. _E eu sou bom nisso, pra valer. _ele alegou, meneando veementemente a cabeça. _Por exemplo, estou nesse projeto agora que consiste em você tentar enganar alguém, sabe? É pra aprimorar minha atuação em campo, no cotidiano mesmo. Meu record foi uma vez que enganei uma cara fingindo que ligava pro que ele falava por tipo _Gerard fechou o punho e consultou um relógio imaginário em seu pulso. _meia hora, por aí. _ele disse, quebrando totalmente a expectativa de Frank, que acertou um soco em seu braço. Mesmo assim, Gerard não pôde impedir-se de rir pra caralho porque a cara de Frank, caramba, aquilo foi impagável.

_É a segunda vez hoje, cara! A segunda droga de vez! _Frank reclamou, tentando soar ofendido, mas incapaz de sustentar uma expressão convincente porque Gerard estava encolhido, apertando seu estômago e rindo de uma forma quase infantil. _Você tem problemas com mentiras. O seu psiquiatra sabe disso por acaso?

_Mas eu não menti! Você literalmente acabou de provar meu ponto. E isso é Stanislavski*, se você quer saber. _Gerard se vangloriou, arrancando um olhar impaciente de Frank. _Ah, cara. Desculpa, sério. _Gerard pediu, tentando recuperar o fôlego. _Eu só não sabia o que você esperava que eu dissesse. _ele se justificou, ainda sem conseguir o perdão de Frank. _Não tenho culpa se não sou o que você esperava, Frank, mas eu sou bem medíocre, se você quer a verdade. Eu não sou como você, você... _Gerard começou, parando e inclinando ligeiramente o rosto para o lado, sorrindo. _Você é um garoto notável.

O fato de Gerard repetir as mesmas palavras de quando foram àquele pub fez Frank corar assim que olhou para ele, o qual estava apoiando o corpo sobre uma das mãos e o olhando de forma doce. Ele não tinha total certeza se aquilo havia sido proposital (ele suspeitava seriamente que sim, porque agora Frank não se sentia disposto a sequer fingir estar com raiva), mas com certeza o havia feito se sentir envergonhado e subitamente vulnerável. Frank se remexeu desconfortavelmente no colchão e desviou o rosto, sentindo o olhar orgulhoso de Gerard queimar sobre ele por alguns segundos antes de ele também desviar sua atenção para caderno em seu colo.

_Hm, c-certo, por onde quer começar? _Frank perguntou, tentando mudar de assunto e gaguejando infantilmente. Gerard ainda ergueu o olhar a ele rapidamente mais uma vez, divertindo-se um pouco com a situação.

_A gente po- _tentou sugerir, sendo interrompido por batidas na porta.

Eram eles. Havia chegado a hora.

 

* Lloyd Dobler é um personagem de um drama e comédia romântica adolescente chamado Digam o Que Quiserem e também é o título de uma música da banda Pencey Prep.

** Party Poison é uma referência ao líder dos Fabulosos Killjoys, reconhecível pelos cabelos vermelhos brilhantes, jaqueta azul e pistola de raios amarelos.

* Flea Market (ou Mercado das Pulgas, em português) é um tipo de mercado de rua que oferece espaço para os vendedores venderem mercadorias de segunda mão.

** Mosh, também conhecido como mosh pit, roda-punk, ciranda-punk ou apenas poga, consiste numa forma de dança associada à gêneros musicais mais agressivos como o punk rock e o thrash metal.

* É uma técnica onde o ator procura desenvolver em si mesmo os pensamentos e emoções da personagem procurando criar uma apresentação similar a da vida. Esta procura desenvolver o trabalho do ator sobre suas próprias emoções e memórias vividas, auxiliados por uma série de exercícios e práticas incluindo a memória sentimental e a memória afetiva.

 



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