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História Duas Luas - Meu dia, seu dia


Escrita por: CChanism

Notas do Autor


Bom galera, basicamente, desculpem pelo susto
É, eu excluí todos os capítulos após o primeiro, e não se preocupem, irei repostá-los, provavelmente um por semana pra eu me organizar
Eu achei melhor fazer isso, já que mudei algumas coisas na história que poderiam afetar o andamento futuro dela
Não desistam de mim
pra quem não queria ler a fic pq ela estava mt avançada, esse é seu momento
no mais, eu estou passando por um momento bem complicado com a minha família, vida acadêmica e afins, então né
Não vou me alongar aqui, qualquer coisa podem me encontrar no twitter ou curious cat (LINKS NAS NOTAS FINAIS)

Capítulo 3 - Meu dia, seu dia


☽✦☾

 

 

Baekhyun resmungou e se remexeu minimamente sobre o colchão macio quando sentiu tímidos raios de sol iluminando seu rosto. Confuso e sonolento, olhou à sua volta, não identificando muito bem o local. Respirou fundo, sentindo o cheiro marcante daquele alfa, e por isso não demorou em lembrar-se de onde estava e o que havia feito na noite anterior. Suspirou baixinho, esticando seu corpo nu e rindo soprado ao notar que havia um braço largado sobre sua cintura.

Delicadamente, empurrou o braço para que saísse de cima de si e se sentou, colocando os pés para fora da cama grandiosa e sentindo sua pele se arrepiar pelo friozinho que veio do chão brilhante e liso. Respirou fundo por alguns segundos, sua cabeça doía, latejava como o inferno, se sentia tonto.

Tentando ser o mais silencioso quanto possível, resgatou suas roupas sob o chão do quarto, vestido sua cueca e calça rapidamente. Não queria acordar o alfa adormecido. Encontrou seus pertences devidamente guardados em seus bolsos, praguejando ao ver na tela de seu celular que já passava das onze da manhã.

Seguiu à passos sorrateiros para a sala ao lado do cômodo, tendo tempo de reparar melhor no local enquanto ia terminando de se vestir, encontrando suas meias e sapatos ao lado da porta, portanto, não demorando em se calçar. O apartamento era grande e espaçoso, e mesmo que a decoração e os móveis fossem simples, era notável o quanto tudo ali era caro demais para seu orçamento. Dando uma espiada pelo corredor, pôde ver que além do quarto do alfa e da sala, haviam mais três cômodos fechados e uma cozinha.

‘’Grande demais’’, falou para si mesmo.

Tentou abrir a porta de entrada sem fazer muito barulho, acabando por resmungar ao notá-la trancada.

Vasculhou o local com os olhos, bufando por não encontrar nada. Com um estalo em sua mente, voltou a andar silenciosamente até o quarto, olhando pelo chão e vendo o molho de chaves brilhando perto da cômoda após terem sido jogados de qualquer jeito. Sorriu ao abaixar-se e pegar o objeto, se encolhendo ao ouvir as chaves tilintarem quando levantou. Ficou imóvel por alguns segundos, segurando a respiração enquanto via o ruivo se virar sobre a cama, e suspirou aliviado ao ver que este não acordou. Voltou para a sala e testou três chaves na fechadura antes de conseguir destrancá-la, a abrindo devagar.

Olhou para a sala atrás de si, mordendo o lábio inferior e sorrindo. ‘’Eu vou mesmo sair sem nem ao menos dizer algo?’’, questionou mentalmente à si mesmo. Revirando os olhos por seus próprios pensamentos, olhou pela sala até ver o telefone colocado sobre uma mesinha delicada ao lado do sofá, um bloquinho de post-its coloridos e um copinho com alguns lápis e canetas bem ao lado do aparelho. Sorriu minimamente, caminhando até ali e, com uma caneta vermelha que havia no copinho, rabiscou algumas palavras e um singelo desenho.

Arrancou a folhinha que havia usado e titubeou por alguns instante sobre onde poderia colocá-la, sorrindo ao notar que o celular do alfa estava sobre o sofá.

‘’Perfeito’’, sussurrou, pregando o papelzinho ali antes de seguir até a porta. Tirou do molho de chaves aquela que se encaixava na fechadura, saindo e trancando a porta com o pequeno objeto antes de passá-lo pelo vão sob a porta de volta para dentro.

Sem receios ou preocupações, o pequeno Byun seguiu pelo corredor largo e simples, assobiando uma canção qualquer enquanto metia as mãos dentro dos bolsos, alcançando seu celular novamente para digitar uma mensagem no grupo de conversas que mantinha com seus dois melhores amigos. Avisou que estava bem e que já estava indo para casa, e sorriu internamente ao imaginar como o alfa adormecido no apartamento número 340 iria reagir ao seu bilhetinho.

 

‘’Adorei a noite e a companhia.

Mas você ronca >:(

Beijinhos >.<

Byun ♥’’

 

E saiu todo sorridente do prédio, não demorando a se localizar e se lembrar de onde estava. De fato, o apartamento de Lu Han era muito bem localizado, em um dos melhores bairros da cidade e, infelizmente, um tanto longe do seu próprio.

 Foi seguindo pelas ruas largas e bonitas até que encontrasse o ponto de ônibus que havia localizado pelo mapa do celular, onde prontamente se postou, cumprimentando educadamente as poucas pessoas que estavam por ali.

De súbito, sentiu um leve mal estar o tomando, algo incomodando em seu peito. Decidiu por balançar a cabeça e tentar ignorar aquilo, dizendo para si mesmo que se tratava de fome somada à ressaca que com certeza o assolaria durante aquele domingo.

Mesmo que não fosse nada relacionado a isso.

 

 

☽✦☾

 

                                            

‘’Cara, você está com olheiras terríveis!’’, ouviu a voz zombeteira de Sehun soando atrás de si. Encarou o mais novo através do reflexo no espelho e revirou os olhos antes de começar a espalhar um pouco de corretivo líquido sob as manchas escuras em sua pele, espalhando com a pontinha dos dedos. ‘’Precisa tudo isso de reboco?’’, a voz rouca e baixa voltou a se pronunciar.

‘’Acabou de falar que estou horrível... ‘’, resmungou. ‘’É meu primeiro dia dando aula, Sehun. Eu quero estar apresentável para a diretoria, para meus colegas e para os alunos, não quero que vejam a minha cara de quem bebeu todas no sábado e passou o domingo de molho’’, Baekhyun tentou explicar, vendo o outro rir.

‘’Sehunnie, não implique com ele ok? Ele está nervoso’’, Kyungsoo surgiu no banheiro, empurrando o mais novo para que este saísse do caminho e dando uma sutil cotovelada na cintura do mais velho para que este abrisse espaço para si na pia. ‘’Relaxe, ok? Você vai ser ótimo’’, encorajou, vendo Baekhyun sorrir pequeno e suspirar animado. ‘’Só termine essa maquiagem ‘pra não ficar com a cara pintada de duas cores’’, falou antes de colocar sua escova de dentes lotada de pasta na boca.

‘’Quem tem cara é cachorro’’, o mais velho resmungou de forma que o mais novo dentre os três riu.

‘’Exatamente’’, Kyungsoo completou com sua fala desengonçada por estar escovando os dentes. E os três continuaram na normal rotina de se arrumarem cada um para seus afazeres do dia, e Baekhyun mal podia esperar para dar entrada naquela nova etapa de sua vida.

 

 

~*~

 

 

‘’Olá, meu nome é Byun Baekhyun, sou o novo professor de história de vocês. Eu tenho 23 anos, sou recém formado e esse é o meu primeiro ano lecionando, espero que possamos aprender muito juntos. Como hoje é o nosso primeiro dia, eu queria tirar essa aula para conversarmos. Vou perguntar o nome de vocês e não garanto que lembrarei todos de início, mas aos poucos vamos trabalhando nisso. Logo em seguida estarei aberto para perguntas’’, Baekhyun repetiu o discurso que tanto ensaiou mentalmente durante dias pela quinta vez naquela manhã. Havia passado por diversas turmas, desde os mais novos do ensino fundamental II, até os veteranos do último ano do ensino médio, turma a qual estava no momento.

Escutou atentamente cada nome que foi dito. Tinha todos anotados em seu diário de controle, mas queria interagir com seus alunos. Acreditava que se daria melhor naquela sala, por ser formada por alunos mais velhos que não possuíam idade muito inferior à sua própria, portanto acreditava que se sentiria mais à vontade ali, e notou logo estar certo quando a rodada de perguntas começou.

‘’Você é ômega?’’, um dos alunos perguntou tímido.

‘’Sim! Aliás, quantos ômegas temos na sala?’’, questionou bem humorado, contando doze alunos que levantaram a mão. ‘’E alfas?’’, contou mais um total de quinze alunos. ‘’Betas?’’, finalizou a contagem com mais oito, totalizando trinta e cinco alunos. ‘’Temos mais variedade aqui do que na minha classe do último ano’’, riu, sendo acompanhado pelos alunos.

‘’O senhor é marcado?’’, uma aluna alfa perguntou e Baekhyun sentiu-se envergonhado.

‘’Não, não sou marcado’’, riu tímido, apoiando seu quadril na borda de sua mesa.

‘’Tem namorado?’’, um outro garoto perguntou do fundo da sala.

‘’Isso é mesmo relevante?’’, riu novamente. ‘’Eu sou solteiro’’, respondeu mesmo assim, rindo ao ver uma meia dúzia de alfas se remexendo nos assentos. ‘’Se aquietem, meninos’’, brincou. ‘’Façam perguntas menos íntimas’’

‘’A qual tribo pertence?’’, um garoto questionou.

‘’Ah, eu não faço parte de nenhuma tribo ou clã. Vivo na área neutra’’, explicou, vendo o menino assentir para si.

‘’Por que escolheu estudar história?’’, uma menina ômega a qual Baekhyun se lembrava chamar Sunhee perguntou.

‘’Bom, eu sempre me identifiquei muito com a matéria, e mesmo que tenham períodos que eu não goste muito de estudar, me interesso por todos os ramos da história, sem contar que sempre fui muito curioso sobre os assuntos do passado que levaram até a formação do nosso povo como é hoje’’, explicou, seus olhos brilhando em animação ao falar sobre o que tanto gostava. ‘’Saber é poder, e saber sobre tudo é poder sobre tudo!’’, finalizou.

‘’O senhor parece gostar muito da matéria’’, ela riu baixinho, vendo o mais velho assentir veemente, animado.

Alguns outros alunos pareciam querer perguntar algo mais, mas o sinal anunciando o fim da aula tocou. Os estudantes passaram a juntar seus materiais com pressa, afinal, era o início do horário de almoço, e logo se levantaram e pararam de pé ao lado de suas mesas, esperando que o professor os liberassem para sair.

‘’Certo, adorei conhecer vocês, muito obrigado pela atenção. Não se esqueçam que os horários estão fixados no quadro do pátio, lá verão que teremos aulas todas as segundas, quintas e sextas, então, até quinta!’’, anunciou. ‘’Estão dispensados’’, finalizou, vendo os alunos se curvando antes de seguirem eufóricos para o intervalo.

Começou a arrumar suas coisas com um sorriso satisfeito no rosto antes de seguir sorridente para fora de sua sala. Fechou e trancou a porta, guardando a chave em seu bolso enquanto caminhava pelos corredores lotados de alunos. Cumprimentou alguns que lhe direcionavam a palavra durante o caminho até o andar térreo, seguindo até a ampla sala de professores.

O local era espaçoso e arrumado, uma das paredes servindo de local para manterem os aventais em período fora de aula, uma jeitosa e simples mini cozinha com geladeira, pia e micro-ondas na parede oposta e alguns armários além de uma estante com divisórias para diários e provas serem colocados, além de duas mesas redondas médias e uma mesa longa e retangular, as duas primeiras sendo para refeições e a terceira para reuniões.

Cumprimentou alguns de seus novos colegas de trabalho e deixou sua bolsa numa das cadeiras disponíveis em uma das mesas dispostas ali. Um pouco acanhado por não ter intimidade com o local e nem com os outros professores, que lecionavam ali havia anos, seguiu até a geladeira, pegando a pequena malinha térmica que havia deixado ali quando chegara pela manhã. Esquentou sua comida rapidamente e se direcionou para onde havia deixado sua bolsa, se sentando e pondo-se a comer silenciosamente.

‘’Ah, Byun, não?’’, um professor de aparentemente vinte e cinco anos questionou ao sentar ao seu lado, também com uma marmita em mãos. Viu o menor assentir, cobrindo a boca que estava cheia enquanto se curvava meio sem jeito. ‘’Kim Junmyeon, sou professor de matemática avançada para o ensino médio’’, o homem se apresentou, sorrindo cordialmente.

‘’Ah, sim. Muito prazer’’, sorriu assim que engoliu a comida e tomou um gole de seu suco para garantir que não teria nada nos dentes.

‘’E então, é seu primeiro ano dando aulas, não é?’’

‘’Sim! Hoje é meu primeiro dia’’, Baekhyun falou animado.

‘’E como está indo?’’, Junmyeon perguntou animado, contagiado pelo humor alheio.

‘’Eu honestamente estou adorando. Sempre achei que ficaria nervoso, suaria e gaguejaria, mas consegui fluir com as aulas super naturalmente!’’, o mais novo sorriu animado antes de continuar a comer.

‘’Fico feliz que esteja se dando bem. Lembro que levei meses até conseguir agir naturalmente durante uma aula’’, riu. ‘’Você ainda tem muitas após o almoço?’’

‘’Não, só mais duas, depois vou fazer uma entrevista em outro colégio’’, informou, sentindo seu corpo vibrar em leve ansiedade e nervosismo.

‘’Espero que dê tudo certo’’, o mais velho desejou sinceramente, segurando uma das mãos do mais jovem.

‘’Obrigado’’, Baekhyun sorriu radiante, terminando sua refeição com calma antes de se ajeitar para mais um período de aulas.

 

 

☽✦☾

 

 

‘’Aí eu respondi a professora da forma certa e todos os meus colegas ficaram surpresos! Se arrependeram de terem me subestimado por ser biológico de betas!’’, o pequeno menino falou animado, fazendo Baekhyun sorrir. ‘’Além do mais, eu falei que o meu nome e o seu tem o mesmo começo, o que é um sinal claro que eu sou tão inteligente quanto você, hyung’’

‘’Baek Ah*, você é um amor’’, sorriu para o menor, acariciando os cabelos lisos e escuros de seu pequeno aluno. ‘’Mas você é inteligente apenas por mérito seu, ok?’’, falou sério e ele assentiu.

Baek Ah era um pequenino alfa de onze anos não completos para quem Baekhyun dava aulas. Havia prestado atenção no menino ao notá-lo distante de seus colegas de classe e isolado, e ao questioná-lo, Baek Ah logo explicou toda a questão de não ser considerado bom o bastante para andar com os alfas, por ser pequeno e aparentemente frágil, nem com os ômegas de sua idade, por ser diferente. Baekhyun não pôde deixar de se compadecer com o garoto, afinal, já havia passado por uma fase exatamente como aquela, e ao descobrir que o pequeno vivia numa casinha que ficava cerca de duas quadras antes de seu prédio, não pensou duas vezes antes de se oferecer para acompanhá-lo de volta para casa todas as segundas, terças e quintas, quando dava aula no colégio do pequeno.

‘’Aqui é minha casa, hyung!’’, Baek Ah apontou para a bela casinha que mesmo no escuro da noite parecia aconchegante. A fachada e o portão de ferro eram pintados de azul claro, a luz acesa do jardim indicava a espera por alguém.

‘’Baek Ah?’’ uma voz suave soou e logo um alfa alto e de feições gentis apareceu.

‘’Papai!’’, o pequeno sorriu, se pendurando nas grades do portão. ‘’Eu esqueci minha chave’’, sorriu, vendo o maior balançar a cabeça negativamente e se aproximar do portão. ‘’Olha, meu professor-hyung me trouxe em casa!’’, apontou para o maior, que apenas sorriu.

‘’Boa noite, senhor’’, Baekhyun se curvou em respeito, e o alfa repetiu o resto.

‘’Agora entre, Baekkie, seu pai estava ficando preocupado’’, o maior falou sério, sorrindo ao ver o pequeno entrando animado

‘’Até amanhã, hyung!’’, Baek Ah se despediu, deixando um beijo estalado na bochecha de seu professor antes de correr para dentro de casa.

‘’Muito obrigado por trazê-lo’’, o alfa sorriu gentil.

‘’Tudo bem, eu não moro longe e não queria deixá-lo vir sozinho’’, sorriu gentil. ‘’Amanhã cedo eu posso acompanhá-lo também, já o avisei sobre isso’’, completou e abanou as mãos, se curvando enquanto se afastava.

‘’Obrigado! Vá com cuidado e tenha uma boa noite’’, o alfa desejou e sorriu agradecido, vendo o pequeno acenar e seguir seu caminho.

Não demorou a chegar em seu prédio, os lances de escada pareciam cada vez maiores conforme avançava até o quarto andar, o cansaço já tomava seu corpo e quase gritou em alegria ao que pôde vislumbrar sua porta.

‘’Família, cheguei!’’, Baekhyun anunciou ao passar pela porta de entrada do apartamento, vendo que Sehun estava na cozinha preparando algo enquanto que Kyungsoo não estava no ambiente.

‘’Ei hyung! Como foi o dia?’’, o mais novo cumprimentou sorridente, recebendo um beijo na testa do mais baixo.

‘’Cansativo, mas maravilhoso’’, sorriu de volta. ‘’E o Soo?’’

‘’No banho’’

‘’Hm... E o que está fazendo de bom hoje?’’, perguntou ao espiar as panelas em que o maior mexia.

‘’Bibimbap*, arroz puro, carne e...’’, ponderou por uns instantes. ‘’Olhe para mim se tem kimchi*’’, pediu, vendo o menor assentir antes se seguir até a geladeira.

‘’Tem... De nabo’’, respondeu, tirando o vidro meio vazio da geladeira e o colocando sobre a pia, suspirando ao ouvir a porta do banheiro se abrindo. ‘’Vou tomar um banho, me espere pro jantar’’, pediu, vendo o maior assentir.

Cumprimentou Kyungsoo pelo corredor antes de passar em seu quarto apenas para separar algumas roupas e tomar um bom banho. Não se importou em demorar um pouco, sabia que seus amigos não jantariam enquanto não estivesse junto a eles na mesa e decidiu torturá-los pelos dias em que teve que esperar o casalzinho terminar os banhos em conjunto para poder jantar.

Já devidamente limpo e vestido, se encaminhou para a sala, vendo os dois mais novos arrumando a pequena e baixa mesa que possuíam no centro desta. Parecia cafona de se dizer, mas mesmo com toda a modernidade que lhes era disponibilizada, os três meninos ainda preferiam comer da forma a qual foram ensinados durante a infância na pequena aldeia em que cresceram: sentados no chão da sala com a comida colocada sobre a mesinha.

Sehun jogava algumas almofadas pelo chão e Kyungsoo ajeitava os copos sobre a mesa, e logo os três se sentaram, passando a comer animadamente, conversando sobre o dia de cada um. Kyungsoo contava sobre como estava acompanhando alguns casos em seu estágio da faculdade de Direito e Sehun parecia entusiasmado com suas aulas em laboratório do curso de Medicina, já Baekhyun contava sobre suas primeiras experiências dando aulas e do nervosismo que sentiu na entrevista de emprego pela qual tinha passado naquele dia.

‘’Meninos, não comam demais, ainda tenho que colocar o arroz e a carne no almoço de vocês para amanhã’’, Sehun avisou ao ver os dois mais velhos comendo desenfreados, e ambos logo se encolheram e murmuraram algumas desculpas. ‘’Infelizmente, o almoço de amanhã vai sem tempero e sem graça, já que a pasta de pimenta, o curry e o kimchi acabaram, não tem nem uma cebolinha digna’’, notificou, vendo os dois largarem seus jokaraks* sobre a comida e o encararem incrédulos. ‘’O que? Eu avisei que precisamos fazer compras, mas vocês me escutaram? Não. O que tinha só deu para temperar metade do bibimbap. Em dois dias só vamos ter arroz e moyashi* pra comer’’

Kyungsoo e Baekhyun se encararam desesperados, totalmente perdidos. Como dois seres comilões que eram, prezavam não apenas pela boa quantidade de comida em suas marmitas, mas também pela boa qualidade dessa, e assumiam sem vergonha: eram amantes de temperos, e comida sem tempero com toda a certeza estava fora de cogitação.

‘’O que faremos?’’, Baekhyun perguntou nervosamente.

‘’Vamos comprar!’’, Kyungsoo falou como se fosse óbvio.

‘’São nove da noite!’’, o mais velho reclamou. ‘’Eu estou cansado’’

‘’E daí? Mercado 24h tá aí pra isso’’, o menor deu de ombros. ‘’Eu não vou sozinho’’

‘’Ok, vamos acabar aqui e compramos’’, Baekhyun suspirou longamente.

‘’Não voltem tarde, não vou cozinhar depois das dez e meia’’, Sehun deu de ombros, vendo os dois mais velhos engolindo a comida de uma vez antes de levantarem com pressa.

‘’Já voltamos, tranque a porta!’’

 

 

~*~

 

 

‘’Kimchi, kimchi, kimchi...’’, Kyungsoo cantarolava enquanto olhava as prateleiras da imensa geladeira do supermercado, suspirou longamente, escolhendo dois vidros grandes da conserva de acelgas antes de colocá-los no carrinho pequeno que guiava. ‘’Oh, pimenta!’’, sorriu ao ver Baekhyun chegando com os braços carregados de diversos tipos de tempero. ‘’Quero ver o Sehun falar que não tem nada em casa’’, sorriu convencido, voltando a empurrar o carrinho pelos corredores enquanto tinha o mais velho se escorando em suas costas largas.

‘’Sabe que encher o armário de temperos não adianta de nada se não tivermos comida, né?’’, este murmurou, sua fala saindo estranha por estar com os braços pendurados sobre os ombros do mais novo e com a bochecha amassada em suas costas. Baekhyun praticamente se permitia ser arrastado pelo corpo forte do outro. ‘’Temos que fazer compras’’, completou.

‘’Tá, tá, mas seu cartão de alimentação só chega em trinta dias e eu não tenho mais um centavo, Sehun ainda está sem emprego, as economias dele só vão dar pra pagar o aluguel e ele vai ficar chateado se nos ouvir falando disso...’’, o menor resmungou, seu tom saindo mais preocupado do que irritado.

‘’Vamos pensar nisso depois, ok?’’, o ômega pediu, sorrindo ao ver o mais novo bufar. ‘’Vá escolher algumas maçãs, daquelas bem vermelhas do jeitinho que nossa branca de neve gosta’’, sugeriu, vendo o alfa assentir antes de ir atrás das tais frutas. Ficou por escolher alguns vegetais para o dia seguinte e estava concentrado em procurar defeitos em um pequeno pé de alface quando ouviu uma voz que conhecia minimamente soando atrás de si.

‘’Ora, ora. Olha quem eu encontrei por aqui’’, o tom parecia brincalhão e Baekhyun sentiu um arrepio estranho correr seu corpo. Virou-se e deu de cara com aquele sorriso, aquele que recheou sua noite de sábado bem como a madrugada de domingo, juntamente com gemidos grossos e mãos firmes.

Desviando de suas lembranças, sorriu de canto para o ruivo. Ele estava vestido quase que formal demais se comparado à noite em que se conheceram. Parecia sério, mais velho e maduro, mas de um jeito bom. Baekhyun odiava admitir, mas a camisa branca desabotoada no pescoço e punhos e a calça social preta deixavam o alfa deveras... Tentador.

‘’Wow, que coincidência, não?’’, sorriu. ‘’Estamos bem longe do seu bairro’’, observou, referindo-se ao bairro onde o outro vivia.

‘’Nem tanto, se levar em conta que esse mercado é da família Sook’’, o maior deu de ombros.

‘’Ahh, wow...’’, Baekhyun murmurou. ‘’Então...’’, falou sem jeito, sem saber exatamente se deveria iniciar uma conversa ou não.

‘’Então, você vive por aqui?’’, Lu Han perguntou curioso.

‘’Dez minutos andando’’, o menor respondeu simples.

‘’E você costuma sempre fazer compras durante a noite?’’, perguntou, vendo o outro dar de ombros e sorrir. ‘’Você nem deixou seu número’’, falou um pouco mais baixo, se aproximando um pouco, tendo então apenas o carrinho que o moreno levava separando seus corpos.

‘’Pois é...’’, Baekhyun coçou a nuca e o ruivo sorriu.

‘’Relaxe, garoto’’, mordeu o lábio inferior. ‘’Só que...’’, ia falar algo, mas se interrompeu ao ver outro alfa se aproximando, cutucando o menor e colocando alguns objetos no carrinho que este levava.

‘’Vamos logo, eu estou cansado e... Ah, oi...’’, Kyungsoo cumprimentou sem jeito ao notar que era observado por outro alfa. ‘’Baek?’’, chamou, esperando que o maior os apresentasse.

‘’Ahn, Luhan, esse é o Kyungsoo, meu amigo. Kyungsoo, esse é o Lu Han, ahm... Um conhecido... Do fim de semana’’, falou um tanto sem jeito, vendo o mais novo assumir uma postura mais séria e imponente para caso sentisse algo que pudesse ameaçar o ômega ao seu lado.

‘’Prazer’’, sorriu minimamente, estendendo sua mão para o outro e se curvando. Lu Han repetiu o gesto, sorrindo amigável. ‘’Então, estão falando de coisas que não posso ouvir?’’, brincou, virando para Baekhyun e olhando de soslaio para o outro.

‘’N-não, nós só...’’

‘’Nah, eu até ia tentar algo, mas acho que perdi minhas chances’’, Lu Han interrompeu, forçando um tom chateado para falar. ‘’Afinal, eu ronco, não é?’’, riu com a cara envergonhada que Baekhyun esboçou. ‘’Tenho que ir, prazer em conhecê-lo, Kyungsoo. Te vejo por aí, Baek’’, finalizou com um sorriso enigmático, curvando-se antes de se afastar e acenar brevemente, saindo das vistas dos outros dois.

‘’Então?’’, Kyungsoo perguntou num tom sugestivo.

‘’Nem um pio’’, o menor resmungou antes de puxar o mais novo pelo braço até os caixas. Passaram as compras rapidamente e logo já estavam a caminho de casa, as sacolas pesando um pouco nos braços de ambos.

Estavam a uma quadra de distância quando um grupo de homens definitivamente estranho chamou a atenção de Baekhyun. Todos estavam em um bar recém aberto no fim daquela quadra, falando alto e conversando, mas entraram em um silêncio total ao verem os dois se aproximando.

‘’Soo... Não gostei daqueles caras... Vamos dar a volta’’, sussurrou, sabendo que se fossem lupus, provavelmente poderiam escutá-lo se falasse em seu tom normal.

‘’Você está perto do cio?’’, o menor respondeu da mesma forma, vendo o outro negar com a cabeça. ‘’Tudo bem então, me dê a sua mão’’, pediu, pegando parte das sacolas que o menor levava e enlaçando seus braços. ‘’Apenas aja naturalmente’’, falou sério, ajeitando sua postura para parecer maior.

Andaram até o fim da rua, passaram pelo grupo e logo que se aproximaram, Kyungsoo pode sentir pelo cheiro que se tratavam de alfas e betas lupos, e pareciam agitados. Baekhyun se retesou ao seu lado, agarrando-se ao seu braço forte, mas assim que viraram a esquina, relaxaram.

Apertaram o passo até chegarem no prédio onde viviam, subindo as escadas com pressa, visto que se tratava de um prédio antigo, sem elevador. Chegaram ao quarto andar ofegantes, trancando a porta e a segunda tranca.

Sehun se assustou ao ver os dois entrando afobados daquela forma, levantando-se do sofá onde, até então, estava sentado. ‘’O que houve?’’

‘’Sehun... ‘’, Baekhyun murmurou choroso, correndo até o maior e o abraçando.

‘’Baek hyung, o que...’’

‘’Um grupo de caras... Estranhos... Estavam naquele bar depois da esquina’’, Kyungsoo esclareceu, colocando as compras sobre o balcão da cozinha. ‘’Tinha algo estranho neles, ruim’’, balançou a cabeça e tremeu rapidamente os ombros, como se para espantar aquela sensação ruim..

‘’Algo estranho? Eles exalavam maldade! Eu senti!’’, Baekhyun falou alto ao se afastar do maior. ‘’Senti algo... Familiar. Ruim, mas familiar’’

‘’Mas... Fizeram algo?’’, Sehun questionou, olhando o mais velho e vendo este negar com a cabeça. ‘’Mas... Soo...’’, chamou preocupado, aproximando-se de seu namorado e o abraçando com força. ‘’Da próxima vez, eu vou com vocês’’, murmurou, beijando o alto da cabeça do outro.

‘’Pra quê, Sehun? Se machucar?’’, o menor o afastou delicadamente, beijando sua bochecha antes de começar a desembalar as compras. ‘’Eu sou o alfa, e se eles fizessem algo eu não teria como reagir, o que dirá um beta’’, deu de ombros, guardando alguns saquinhos de tempero n o armário

‘’Certo, tem razão... o que um simples humano faria, não é mesmo?’’, o maior falou num tom irônico e o alfa respirou fundo. Baekhyun apenas assistia tudo de longe, preocupado. ‘’Eu sou só um inútil mesmo, não? Num caso como esse eu apenas seria um peso morto’’, deu de ombros, tomando o lugar do mais velho para desembalar as compras, o empurrando levemente com um braço. ‘’Podem ir dormir, vocês têm que trabalhar amanhã cedo’’, falou sério, sem encarar nenhum dos mais velhos.

‘’Sehun... Deixe isso pra lá, você também tem que ir para a faculdade amanhã’’, Kyungsoo tentou, envolvendo a cintura fina com seus braços, mas tudo o que recebeu foi outro empurrão e a voz chorosa do mais novo, que tentava falhamente não parecer grosseiro.

‘’Vá dormir logo!’’, falou alto, sem olhar para o outro. ‘’Eu tenho a tarde toda para dormir, já que não consigo um emprego’’, respondeu.

‘’Sehun... ‘’, Kyungsoo chamou enquanto tentava se aproximar, mas a mão delicada de Baekhyun em seu pulso o deteve.

‘’Vamos, Soo. Deixe ele sozinho por um tempo’’, este sussurrou, puxando-o em direção aos quartos.

Kyungsoo foi com o mais velho, ainda que um tanto hesitante. Olhou para trás diversas vezes, tentando ver se Sehun esboçava alguma reação. ‘’Droga, Baek... Eu não posso deixá-lo lá!’’, resmungou num tom baixo ao que chegaram na porta do quarto do mais velho.

‘’Pode sim, foi você quem deixou ele daquele jeito!’’, Baekhyun suspirou, colocando uma mão sobre o ombro do melhor amigo antes de falar. ‘’Kyungsoo, Sehun é o nosso bebê, ele pode não ser mais tão jovem, mas é sensível e tem um coração de ouro. Ele te ama demais, e ele já sofre muito por ser um beta estéril pra você, um alfa puro. Betas na condição dele já são não são muito bem aceitos na nossa sociedade, você ficar ressaltando como ele não poderia fazer nada em alguma situação por ser como é não o ajuda!’’, explicou, vendo o mais novo coçar a nuca envergonhado.

‘’Droga... Eu não sei lidar bem com isso!’’, o alfa resmungou. ‘’É que ele quer se mostrar como forte, e ele é, mas... E céus eu tenho tanto medo de que algo aconteça com ele...’’, passou ambas as mãos pelo rosto num comum traço de nervosismo e ansiedade. ‘’Eu deveria ir pedir desculpas, não é?’’

‘’Você o conhece quase melhor do que eu, sabe que se ficar encima dele agora ele irá se irritar, então apenas vá deitar, espere por ele, faça um carinho e peça desculpas’’, o mais velho sugeriu, vendo o outro acenar em sequência.

Após um beijinho de boa noite sendo deixado na testa do alfa por parte do mais velho, cada um seguiu em direção ao próprio quarto. Kyungsoo ajeitou os cobertores e travesseiros sobre a cama que dividia com Sehun e se jogou ali após apagar a luz, mantendo apenas o abajur aceso.

Esperou dez, quinze, vinte e cinco minutos completos, de acordo com relógio digital sobre sua mesinha de cabeceira, até que seu namorado adentrasse o quarto. ‘’Oi’’, falou baixo, um pouco acanhado.

‘’Achei que já estivesse dormindo’’, Sehun respondeu simplista, tirando as meias que usava e as colocando dentro do pequeno cesto de roupas sujas ao lado da porta.

‘’Eu quis esperar você...’’, o menor murmurou, vendo o mais novo calmamente tirando suas roupas até que estivesse apenas de cueca pelo quarto. Permitiu-se morder o lábio inferior com a cena, mas se concentrou em não perder o foco do assunto que queria tratar. Viu que o maior não diria nada ao que este vestiu uma calça leve e se deitou ao seu lado em silêncio, cobrindo-se rapidamente e virando de costas para si, apenas o montinho de fios negros sendo visível. ‘’Sehun... Eu queria pedir desculpa’’, cutucou a cintura do mais novo, ouvindo este resmungar.

‘’Por?’’ Sehun questionou sem dar muita atenção ao mais velho. Estava triste, magoado, já se martirizava por não ser considerado como um parceiro ideal para seu namorado e o que menos precisava era que ele também ressaltasse isso.

‘’Sehun, olhe pra mim... Por favor’’, Kyungsoo pediu baixinho, naquele tom de voz que sabia ser bom o bastante para começar a amolecer seu namorado. Respirou fundo e sorriu pequeno quando viu o rostinho cansado virando para si, a iluminação do abajur sendo o suficiente para que o mais velho pudesse admirar o brilho dos orbes pequeninos e úmidos. ‘’Me perdoa, meu amor...’’, pediu, deixando um carinho suave na pele macia da bochecha alheia. Alisava ali com sua palma e polegar, desenhando o contorno do nariz redondinho. ‘’Eu não quis dizer que você é fraco ou incapaz, ok? Me perdoa se foi o que pareceu, me perdoa por te magoar’’, pediu, deitando-se e se ajeitando para ficar na mesma posição que o mais alto, de frente para ele.

‘’É o que eu sou... Fraco e incapaz’’, Sehun murmurou, desviando o olhar para baixo enquanto sentia os olhos umedecerem. ‘’Você não disse nada além da verdade. O que mais eu poderia fazer?’’, sussurrou dolorido e Kyungsoo sentiu um aperto no peito.

‘’Ei... Não fale assim, ok?’’, começou, vendo que o outro já abriria a boca para falar. ‘’Eu sei, eu sei que fui eu quem disse que você não poderia fazer nada, mas é que... Eu preciso te explicar que...’’, respirou fundo, tentando buscar inspiração para colocar em palavras o que sentia. ‘’Você é forte, corajoso, valente, e tem o maior coração do mundo’’, falou calmo, pausadamente. ‘’E eu sei que não hesitaria em ajudar a mim ou a qualquer outra pessoa... E é isso que me assusta’’, continuou, levando seu braço à cintura fina do mais novo e o puxando para perto. ‘’Você é meu namorado, meu bebê, você é tão delicado e precioso em minhas mãos que eu tenho medo... Medo de você acabar se machucando, sabe?’’, tentou explicar, vendo que o outro apenas mantinha os olhos fixos nos seus. ‘’Você tem a força de vontade, mas a força física nem eu tenho, e eu tenho tanto medo de que algo aconteça com você que involuntariamente acabo por te desmotivar nesse sentido pra que você não se sinta... Forte o bastante para enfrentar’’, suspirou por fim.

‘’Kyungsoo...’’

‘’Eu sei que é ridículo e super errado da minha parte fazer isso, e eu te peço perdão... Só que você... Você é tudo pra mim’’, apertou mais o abraço envolta do outro. ‘’Você e o Baek são meu tudo, minha família, e você é a pessoa com quem quero dividir a minha vida toda... Eu não posso perdê-lo’’, beijou-lhe os lábios de leve, sendo correspondido da mesma forma. ‘’Você não é inútil. Eu não te amaria mais se fosse um beta lupus ou um ômega. Eu te amo do jeitinho que você é’’, encarou seu namorado no fundo dos olhos, tentando passar ali toda a imensidão do que sentia, e o mesmo parecia ter captado isso, Kyungsoo sentia, mas havia algo em Sehun que o impedia de tomar todo aquele amor para si e converter em autoconfiança.

‘’Eu não posso te dar filhotes’’, sussurrou. ‘’Se me marcar, só eu sentirei seu cio, mas não terei forças para te saciar’’, acrescentou, seus dedos trêmulos buscando os fios de cabelo curtos e escuros do mais velho. ‘’As pessoas nos veem na rua... Elas sabem que tem algo errado. Qualquer um consegue ver que, ao meu lado, sempre vai estar faltando algo em você’’, a esse ponto sua voz já soava embargada, dolorida, ele se segurava para não desabar em pranto. ‘’Eu sou ciumento e entro em colapso quando qualquer um se aproxima de você... Mas é porque eu sinto que não sou digno de estar contigo’’, soluçou, se assustando ao ver o menor se erguendo e se posicionando sobre si com os braços apoiados na cama e metade do tronco sobre o seu.

‘’Oh Sehun...’’, Kyungsoo resmungou baixinho, tomando uma das mãos do mais novo e a levando até seu peito, fazendo com que ele sentisse as batidas aceleradas de seu coração. ‘’Sente isso?’’, perguntou, vendo o outro assentir. ‘’É meu coração batendo em desespero depois de ouvir você dizer todas essas merdas. Me dói tanto ver que pensa assim...’’, lamentou verdadeiramente. ‘’Oh Sehun, você é o único que se importa e machuca a si mesmo com isso. Eu não me importo se você pode me dar filhotes biológicos ou não, e você sabe muito bem que me satisfaz mais do que completamente na cama e, além disso, um relacionamento vai muito além, não é só sexo. É amor, Sehun, é companheirismo, amizade, segurança, força, paixão, confiança, e tudo isso nós temos de sobra. Pare de se preocupar com os outros, as pessoas na rua não pagam nossas contas’’, sussurrou, secando as lágrimas que se desprendiam dos olhos alheios e se aproximando, mordendo de leve seu lábio inferior. ‘’Sehun, eu amo você e não te trocaria por nada nem ninguém nesse mundo. Eu sou o alfa mais sortudo dessa terra por ter você, por ser o seu escolhido. Você é perfeito pra mim em todos os sentidos. Entende isso?’’, perguntou, pressionando mais a mão do maior contra seu peito. ‘’Agora está batendo assim por você, porque olhar pra você me tira de órbita, porque olhar pra você faz com que eu me sinta completo, porque seus olhos possuem uma imensidão que faz com que eu queira me perder eternamente em você, por isso e muito mais. Porque eu te amo e nada nunca vai mudar isso’’, proferiu contra os lábios finos, seu tom se tornando mais desesperado a cada frase.

Não se demorou em afundar-se naquela boca com gosto, não precisando pedir para obter a passagem livre para que sua língua buscasse pela alheia com pressa. Beijaram-se intensamente, longo e gostoso, molhado, quentinho, macio. Entregaram-se um ao outro de uma forma que já se tinham, mas não cansavam de se conquistarem mutuamente várias e várias vezes. Entre toques e carinhos, não evoluíram.

Se acalmaram.

Kyungsoo acalentou o mais novo entre seus braços, entre suspiros e pequenos beijos.

Exteriorizaram o amor que tinham um pelo outro.

E adormeceram.

 

 

☽✦☾

 

 

‘’Han, pode revisar esses documentos, por favor?’’, a voz calma e bondosa de seu primo soou em seus ouvidos, e Lu Han já podia sentir a dor de cabeça chegando.

‘’Tem que ser agora?’’, questionou frustrado, parando no meio de sua subida pela escada. ‘’Eu estou indo ver meu pai’’, explicou, vendo o mais novo suspirar.

‘’Tudo bem, mas não demore muito. Vou deixar na sua mesa’’, Yixing informou, vendo o mais velho assentir.

Lu Han sabia que era mais velho, sabia que, teoricamente, ele eram quem possuía o direito de governo, mas as circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas deram o ‘’trono’’ ao seu primo mais novo, Yixing. O mais novo era bom no comando da família, não poderia negar, mas o sorriso meigo com direito a covinha na bochecha e o tom doce não mais o enganava. Yixing já havia sido um jovem doce e calmo, cheio de ternura, porém o passar dos anos e a influência de seu pai em sua vida o fez se tornar cada vez mais autoritário e mimado, queria o que queria e no exato momento que queria, e nem ao menos continha-se na presença de seu primo mais velho.

Lu Han decidiu deixar esses pensamentos de lado enquanto se aproximava da última porta daquele imenso corredor do último andar da grandiosa mansão Sook. Abriu a porta com cuidado e devagar, não querendo assustar quem estava ali dentro.

Observou o cômodo vazio, suspirando e sorrindo de canto. ‘’Papai?’’ chamou, não obtendo resposta alguma, a cadeira de rodas estava ao lado da cama. Viu que as portas duplas da varanda estavam abertas e que o vento fresco da noite adentrava o local, por isso não demorou-se em seguir até lá. Viu o imponente lobo branco equilibrado sobre a mureta, os olhos azuis como um céu de verão miravam as estrelas que cintilavam na imensidão escura. ‘’Hey, meu velho’’, sorriu, se aproximando sem receios do animal e lhe acariciando os pelos macios com cuidado.

O lobo o olhou firmemente, seu olho direito ostentando a marca de alguma de suas muitas lutas. Soltando um resmungo fraco antes de virar-se com cuidado para o outro, oferecendo suas duas patas dianteiras à Lu Han, que não demorou em pegar o animal grandioso em seus braços. Rapidamente o levou até a cama, depositando o corpo debilitado sobre o colchão macio. Levantou-se, indo até o armário em busca de uma muda de roupas limpas enquanto ouvia os típicos barulhos da transformação. Quando voltou-se para a cama, viu ali o velho que conhecia tão bem. A pele pálida e enrugada ainda mantinha suas cicatrizes, os olhos azuis tornando-se um negro tão profundo quanto a imensidão do mar em noite sem lua.

‘’Menino... Está frio’’, ele resmungou, tentando alcançar o cobertor dobrado no fim de sua cama.

‘’Calma, calma. Eu já vou vesti-lo’’, o menor respondeu, aproximando-se do mais velho. O ajudou a vestir uma cueca e as calças de moletom, mas o homem se recusou a receber ajuda para vestir a camiseta. ‘’Ok, senhor independente, vista-se sozinho’’, Lu Han sorriu, vendo que seu pai parecia realizado por conseguir colocar a camiseta sem ajuda.

‘’Sabe, eu jurava que minhas pernas estavam boas, eu acabei de usá-las!’’, reclamou, puxando com ambas as mãos a perna esquerda.

‘’Eu sei, eu sei’’, o menor sorriu. ‘’O que fez hoje?’’, perguntou doce, acariciando os fios ralos e totalmente brancos.

‘’Eu fui até a Muralha* hoje! Corri em volta dela toda com minhas patas!’’, ele falou entusiasmado.

‘’É mesmo? E o que mais você fez?’’

‘’Ah, nada de importante’’, o velho deu de ombros, sua voz assumindo um tom de mágoa. ‘’Eu tenho um filho, sabe? O nome dele é Han...’’, desviou o olhar para a paisagem do lado de fora de sua varanda. ‘’Ele disse que viria me ver hoje... Mas não veio’’, sussurrou triste.

Lu Han engoliu em seco e tomou as mãos de seu pai entre as suas, as acariciando com carinho. ‘’Eu estou aqui, papai. Você não consegue me reconhecer, não é?’’, perguntou retoricamente, sabendo que seu pai não o ouvia plenamente. ‘’Ah, papai...’’, engoliu em seco e forçou-se a dissipar as lágrimas que queriam cair de seus olhos.

‘’Ah, não tem problema, sabe? Eu tenho uma namorada, o nome dela é Thai, e quando eu a vejo tudo o que sinto de ruim vai para longe... ‘’ o velho Lu Yuo sorriu abertamente e o filho permitiu sorrir com isso. ‘’Ela virá me ver logo, então eu vou ficar feliz’’, ressaltou.

‘’Eu tenho certeza que vai...’’, Lu Han sorriu, deixando um beijo na bochecha do mais velho antes de se levantar. ‘’Eu vou mandar servirem seu jantar, ok?’’, perguntou retoricamente, vendo o outro acenar.

Andou pelo corredor longo, encontrando a enfermeira responsável por cuidar de seu pai pelo meio do caminho, a mesma confirmando que estava indo preparar seu pai para a refeição. Voltou a seu andar cabisbaixo, descendo as escadas até o segundo andar, onde seu escritório ficava entre as numerosas salas. Entrou no local arejado e se sentou em sua cadeira, apoiando seus braços sobre a mesa e sua cabeça em suas mãos.

Silenciosamente, permitiu que algumas lágrimas de tristeza caíssem de seus olhos, indo direto para a madeira fria e escura de sua mesa. Havia três anos que seu pai começara a exibir os primeiros sinais da terrível doença chamada Alzheimer*, esta chegando junto à uma paralisia dos membros inferiores devido à problemas nas vértebras. Eram nomes científicos demais para Lu Han, ele não fazia questão de lembrar todos, o que importava para si era o cuidado com seu velho, que já havia desfrutado demais da longevidade que sua espécie o oferecia, já estando perto de completar seus cento e oitenta e cinco anos.

Sentia-se mal por assistir à gradativa descida dele até o total esquecimento. Por vezes, o homem acreditava ainda ser um adolescente, por isso frustrava-se e chorava quando via que não poderia sair correndo pela casa ou pelos campos de sua cidade natal que há tanto havia sido deixada para trás, na China. As vezes acreditava ainda ser um jovem nos primeiros meses de relacionamento com o amor de sua vida, alegando que devia ficar bonito para recebê-la. As vezes dizia como sentia falta do único filho, e era o que mais machucava Lu Han.

‘’Ele pensa que eu não me importo... Que nunca vou vê-lo, mesmo que eu esteja sempre lá...’’, murmurou entre fungadas. Tentou se acalmar arrumando alguns papeis espalhados por sua mesa. Encontrou o pendrive com os documentos que seu primo queria e checou sua lista de afazeres para aquela semana. ‘’Inspecionar colégios, visita no hospital central...’’, falou desanimado, passando os olhos pelos outros itens da grande lista. ‘’É, há muito o que fazer...’’, suspirou. ‘’Isso será cansativo’’, sentenciou em seguida.

E mal Lu Han sabia o que aquela semana reservava para si.

 

 

☽✦☾

 

 

 

 


Notas Finais


Quando pensarem no Baekah, lembrem-se desse homi bunito aqui, e tentem imaginar ele como criancinha: https://pbs.twimg.com/media/C3QkVRHWQAADXP5.jpg

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