História Duas Semanas - Café da manhã

Acordou ofegante. Olhou ao redor. Estava no seu quarto, sozinha.

– Como eu vim parar aqui?

Tateou no escuro em busca do celular, e o achou ao lado do travesseiro. Eram 2:30.

Shikamaru havia tirado uma foto deles no sofá, com ela dormindo encostada em si e ele beijando sua testa, e colocado como papel de parede. A foto estava realmente fofa.

Uma mensagem dele notificava na tela.

Shikamaru

"Não tive coragem de te acordar. Dorme bem minha princesa"

Ela sorriu. Era tão difícil ficar brava com ele.

Será que deveria mesmo ficar? Seu sonho bizarro ainda voltava na sua mente.

Mesmo um tanto atormentada pelo sonho estranho que a despertou, o sono ainda falava mais alto, e antes que aquela sonolência fosse embora, se forçou a voltar a dormir.

Segunda-feira tende a ser um dia ruim e sextas-feiras tendem a ser melhores, é a vida. Mas terça-feira tem um potencial bruto que é muitas vezes ignorado. Pode ser desde um dia razoavelmente bom, ou um desastre completo, daqueles dias que nos fazem desejar ter ligado no serviço dizendo estar doente. Terças-feiras são perigosas.

E Temari começou a terça em um ótimo estado. As aulas começam as 7:00. Ela acordou 6:45 com Tenten perguntando se não iria trabalhar. Amaldiçoou seu despertador traiçoeiro, e se arrumou na velocidade da luz, mas mesmo assim chegou alguns minutos atrasada na turma do segundo ano, onde daria aula na terça de manhã.

Era sua turma menos favorita, não se atreveria a dizer que não gostava deles. Mas era a turma que mais lhe lançava olhares atravessados, pelo menos da parte feminina. E isso por que? Por que a loira tinha algo que aquelas meninas não tinham. Atenção total e exclusiva de um elemento preguiçoso, e perigosamente lindo, do terceiro ano. E os olhares se davam sem que as pessoas soubessem do envolvimento deles. Imagina se soubessem?

– CHEGUEI! – Ela abriu a porta em um baque, ofegante – Desculpa o atraso gente, perdi a hora, dormi demais.

Pousou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.

"A necessidade de me exercitar é real e urgente." Disse em pensamento.

Enquanto ela travava uma batalha contra seus pulmões, notou que os olhares vindo dos alunos estavam em partes mais raivosos que de costume e em partes maliciosos. Ajeitou a postura e foi se cenho franzido em direção à sua mesa. Ia questionar o motivo, direta como sempre, mas seus olhos pousaram sobre algo incomum. Chegou mais perto para ter certeza.

Na mesa do professor estavam: uma sacola de papel do Starbucks e um cupcake ao lado. O cupcake tinha colado em sua embalagem uma tag dizendo:

"Bom dia professora mais linda do colégio"

Ao olhar dentro da sacola, encontrou um pacote com o que verificou ser um croissant, e um copo térmico de café. Nesse, o recado na embalagem era:

"Uma vez na aula, você disse que gostava do café 'mocha com chocolate branco' deles. Espero ter acertado na escolha."

Foi inevitável sorrir, e ela achando que aquela turma não gostava dela. Se bem que eles não estavam com cara de quem tinham acabado de dar um presente para alguém.

– Foram vocês? – arriscou.

– Não – Shiho respondeu seca – fui a primeira a chegar e já estava aí.

– Mas ninguém viu quem foi? – perguntou, embora já imaginasse quem tinha sido o autor daquilo.

– Como eu disse, já estava aí quando cheguei – a mesma aluna respondeu pausadamente, nada educada.

Temari ergueu uma sobrancelha, sorrindo divertida. A menina sabia quem tinha sido. Mas Temari se fingiu de desentendida obviamente.

– Mas eu vi o Shikamaru, do terceiro ano, chegando com uma sacola dessa na mão. E ele nunca carrega nada – uma outra menina apontou, maliciosa.

Mesmo que não houvesse nada confirmado, aquele escândalo no dia anterior deixou todos com muitas pulgas atrás da orelha. Onde já havia uma certa suspeita, agora havia um mar de olhares desconfiados.

– O que diz?? – uma menina das poucas que não olhava torto, e sim achando fofo perguntou a respeito dos recados.

Ela leu os dois recados, e a sala virou um coro ensaiado de "Huuuuuuummmm"

– Shikamaru não perde tempo hein! – um aluno disse.

– Esse é determinado – outro respondeu rindo.

Sentiu o rosto arder levemente. Pigarreou.

– Bom, se for ele, eu... eu agradeço depois pela gentileza. Eu realmente não tive tempo de tomar café hoje. Se importam se eu comer? – disse calmamente.

"Controle da situação reestabelecido com sucesso. Eu acho" pensou duvidosa.

Os alunos balançaram a cabeça em negação. Algumas alunas apenas a olharam com ódio.

– Certo. Então agora vou pedir que alguns de vocês leiam o texto que passei de tarefa na última aula. Quero um voluntário para começar e cada um escolhe que irá ler em seguida.

Era a mesma atividade que ela havia passado para o terceiro ano na semana anterior. Mas nessa turma a aula era esperada que transcorresse bem, sem desmaios. Ao invés de um voluntário, recebeu apenas o silêncio.

Já sentada, cruzou as pernas enquanto vasculhava o mimo que havia ganhado.

– Se não tiver um voluntário eu vou ter que escolher... – disse sem os olhar.

Silêncio.

Tentar mendigar atenção com aquela turma era uma missão perdida, ela havia aprendido da pior maneira. Então ela usava uma abordagem diferente. Finge que não se importa, eles vão atrás. Funcionava toda aula.

Ela sorveu sua bebida quente favorita, apreciando cada gole. Ao procurar pelo croissant com as mãos, encontrou um papel solto.

"Oh mais um recado?" Pensou ao abrir.

"Queria mesmo era ver o seu sorriso agora.

E não, não estou fazendo isso para conseguir sua confiança, antes que me pergunte. Apenas fiz algo que queria fazer a tempos, mas não tinha como :)"

Nisso ela sorriu mais abertamente, provavelmente com as bochechas coradas. Não deveria dar tão na cara assim. Mas sinceramente, quem ao se deparar com aquele gesto tão doce não sorriria?!

– Voluntário pra quê? Obviamente isso aí está mais interessante – Shiho alfinetou, com uma carranca no rosto. Ela quem queria aquele tratamento especial.

– Claro que está, quantas vezes você recebeu um café da manhã surpresa? Não sei você, mas essa é a minha primeira, então logicamente está mais interessante do que textos de alunos que nem querem participar na minha aula – Temari respondeu rindo, alguns alunos a acompanharam – assim que quiserem, minha atenção é toda de vocês. Lembrando que participar na aula conta nota... Ai fica a critério de vocês se alguém vai ler o texto que fez ou se vamos só fingir que estamos fazendo alguma coisa hoje – disse e deu ombros, mordendo um pedaço do seu croissant.

Claro que depois das palavras "conta nota" a sala explodiu em voluntários. E assim a aula se passou.

Depois de três aulas, o sinal escandaloso anunciou o início do intervalo. E independente da idade, as turmas saiam correndo da sala como se a comida estivesse em falta no mundo e a cantina fosse a única fonte de alimento.

Temari, já em outra turma, organizou suas coisas calmamente, passando na sala dos professores, deixando o material que carregava e indo com o seu cupcake – com sua embalagem fofa porém comprometedora devidamente guardada – e um livro para o pátio. Por que ela é dessas.

Sentou tranquila em uma mesa, que era ocupada por apenas o professor Kakashi. Um respeitava o silêncio do outro e isso estava tudo certo.

Ino passou do seu lado e falou maliciosa:

– Bom dia professora mais linda do colégio!

Ela sorriu e corou.

Kakashi a olhou curioso. Pigarreou.

– Fiquei sabendo que foi um dia agitado aqui ontem. Aliás obrigado por me substituir outra vez.

– Por nada. É, ontem foi um tanto... Tenso.

– Imagino que você ficou sabendo...

– De você e da Sakura? Sim – respondeu rindo levemente

– Acho que nós dois podemos nos poupar de julgamentos não é? – ele perguntou com a sobrancelha arqueada, o sorriso dela sumiu – fique tranquila, sei que assim como eu, o que aconteceu com vocês virou algo mais forte que um caso com aluno. Não vou falar nada. Embora um estacionamento de supermercado não seja o local mais indicado para um encontro...

Ao contrário do que ela pensou que faria, ele apenas avisou em um tom tranquilo. O que não a impediu de arregalar os olhos.

– Conheci seu carro e a moto dele – ele explicou.

Como ele estava tão tranquilo?

– Não está com medo de perder seu emprego? Ou ser preso?

Ele abaixou o livro que lia.

– Ser mandado embora por algo que não tem prova alguma, a não ser a palavra de uma professora com o psicológico e histórico duvidosos, e por um diretor com a ficha ainda pior que a minha? Não. Tem muito mais contra eles do que nós. Pode ficar tranquila.

–Faz sentido. Mas você disse que virou algo mais forte que um caso com aluno? – perguntou deixando a questão subentendida. Ele suspirou e bagunçou os cabelos.

– Muito mais do que deveria. Sou louco por aquela menina... Mas não posso impedir ela de ter um relacionamento normal, com alguém da própria idade... Além de que ela gosta daquele moleque mimado, o que posso fazer? – perguntou retoricamente, com um tom derrotado.

– Olha, cada um reage de um jeito a um término de namoro...

– Eles terminaram? – perguntou com a voz supresa.

– Sim – disse animada, e eles endireitaram a postura, engajados na conversa. Os dois pareciam duas amigas fofocando no momento – ele terminou com ela no meio do pátio, parece que foi o maior escândalo. E eu vi ela ontem. Kakashi, ela não estava nem triste. Não chorou, estava rindo. Parecia tranquila. E eu já vi ela chorar até por causa de uma matéria triste que levei para uma atividade.

– Que vontade de dar um soco naquele moleque... Como que ele tem uma mulher daquelas como namorada e não valoriza? Se fosse comigo eu ia fazer de tudo por aquela menina...

Sakura passou atrás dele nesse momento, e ele não viu, mas ela ruborizou com sua fala, e em uma troca de olhares rápida com Temari confirmou que era sim, sobre ela.

Outros professores se juntaram à mesa, fingindo que nada havia acontecido. Provavelmente comemorando que não haviam sido descobertos em algo que faziam.

Todos têm seus defuntos no armário, vida que segue.

Temari só concluiu o que dizia sem citar nomes. Embora todos soubessem. Se fazer de desentendido era uma habilidade necessária para trabalhar naquele lugar.

– Ela disse que sempre comparava. Via a diferença entre um moleque e um homem. Que se ele gostasse mesmo dela, tinha se esforçado em entender, deixar pra lá, por que isso foi antes dele. Se ele não podia se esforçar não era ela que ficaria chorando atrás dele. – foi fácil lembrar, aquelas palavras ecoaram seus pensamentos nas últimas 18 horas.... – E pelo visto ele não está disposto a se esforçar, nem deu as caras... talvez seja a chance que precisa...

– Chance pra que? – Guy perguntou querendo entender o assunto.

– Nada – responderam juntos, receberam apenas olhares questionadores, que ignoraram. Kakashi entendeu o que ela quis dizer. E por dentro da aparência serena, ele já maquinava o que faria para ter de volta aquela rosada, que tanto alegrou seu coração.

Tayuya se juntou à mesa, fingindo não ver os olhares odiosos de todos. Ela havia entregado muita gente. Olhou torto para o cupcake que Temari removia a forminha para dar a primeira mordida.

Ela mordeu e fechou os olhos apreciando o sabor. Exagerou um pouquinho no som de aprovação para o bolinho só para irritar a ruiva? Talvez.

Seu celular vibrou. Olhou em direção ao moreno numa mesa próxima, e ele sorria ladino e preguiçoso, com as costas apoiadas na mesa.

Shikamaru

"Eu poderia te ver comer cupcakes o dia todo"

Temari

"Assim logo eu iria ter a forma de um cupcake kkkk aliás, Nutella? Boa pedida"

Temari

"E eu amei a surpresa, obrigada"

Shikamaru

"Fico feliz em saber... E vc poderia ter a forma de um cupcake que continuaria linda... só dizendo"

Riu e negou com a cabeça.

Shikamaru

"Presentes são um erro?"

Shikamaru

"Se for me desculpa. Eu não quero te pressionar. Só queria te agradar. Desculpa"

Ela sorriu. Ele novamente mostrando aquela faceta levemente insegura por trás de toda a maturidade que tinha.

Ao lado dele, Ino bisbilhotando a conversa disse:

– Só não exagera. Agradar é uma coisa, querer comprar a confiança é outra e não funciona – ela disse apontando uma colher de forma ameaçadora.

Temari

"Algo me diz que a Ino respondeu por mim rsrs fica tranquilo, está tudo bem"

– Sabia que isso é uma bomba calórica? Vai direto pro quadril – Tayuya apontou para o cupcake, sem realmente tirar os olhos do próprio celular.

Aquela mulher já estava lhe tirando do sério de uma maneira insuportável.

Mordeu mais um pedaço. Ao engolir, disse se fazendo de dissimulada.

– Ah é comigo?

Tayuya estreitou os olhos para a loira.

– Que interessante Tayuya, eu queria saber... qual pesquisa diz que o cupcake que eu como vai para o seu quadril?

A mesa dos professores virou uma mistura de riso abafado e engasgo com suco pela resposta cínica, malcriada e merecida.

– Algo me diz que o problema não é somente o cupcake – Um dos professores provocou.

Claro que o problema não era só o cupcake. A notícia do seu café da manhã surpresa tinha se espalhado.

Ela se limitou a grunhir de raiva e sair pisando duro do pátio.

Bem madura.

- Atenção alunos e professores – a voz da coordenadora ressoou nos auto falantes – foram definidas as datas para o conselho de classe e entrega de boletins. A reunião dos professores para o conselho será na quinta-feira, e a reunião com os pais interessados e a retirada dos boletins na sexta-feira, portando não haverá aula nesses dias. Qualquer dúvida podem falar comigo.

Uma vez que o anúncio barulhento terminou, Temari recebeu uma nova mensagem.

Shikamaru

"Justo quinta e sexta? Que maldade"

Temari

"Ai você pode dormir sem ser interrompido, qual a maldade nisso? Rsrs"

Shikamaru

"Huuum, maldade por que você não vai interromper meu sono. E nem vou ver você"

Ela corou e abaixou a cabeça tentando reprimir o sorriso que ele cismava fazer brotar em seus lábios.

"Se controla. Você já passou da idade de rir pro celular" Temari disse para si mesma.

"E você está brava com ele." O subconsciente disse, e o próprio respondeu.

"Está mesmo?"

As duas aulas seguintes do intervalo passaram como de costume, sem nada anormal. No final da última aula, Shikamaru resolveu mandar mensagem novamente, arriscando pedir o que tinha em mente.

Shikamaru

"Seria muito abusado da minha parte te chamar pra um segundo encontro?"

Ela respondeu após alguns minutos

Temari

"Shika eu não sei..."

Shikamaru

"Não vai acontecer nada, juro. E ninguém vai nos ver. Só queria ficar um pouco com vc"

Temari

"Não sei..."

Shikamaru

"Se não quiser eu entendo tá?

Mais alguns minutos depois ele recebeu sua resposta, que abriu rapidamente.

Temari

"Ainda vou me dar mal por não saber dizer não pra vc"

Sorriu pela resposta positiva dela.

Shikamaru

"Isso nunca minha loira, te garanto. Amanhã a noite?"

Temari

"Não se atreva a tentar me seduzir senhor Nara. Amanhã a noite então"

Shikamaru

"Combinado senhorita Sabaku"