Tudo começou em um dia qualquer. Eu estava limpando o balcão do café onde eu trabalho, o calor estava infernal, a porta da cafeteria abria e batia sem parar, garçonetes corriam contra o tempo para agradar os clientes impacientes. Então ele sentou em minha frente, pôs suas mãos no balcão recém limpo e me olhou, olhou todo meu corpo e sorriu fraco enquanto eu revirava os olhos pensando ser mais um cliente tarado.
— Café preto e sem açúcar - disse ele, assim, sem nenhum bom dia ou um por favor. Peguei a cafeteira e o servi.
Fiquei de costas para ele e continuei meu trabalho agora separando os sachês de açúcar e adoçante. Eu sentia seu olhar queimar em minha pele, olhando parte por parte, analisando como se eu fosse um maldito pedaço de carne grande e suculento.
Babaca.
Foi o que eu pensei.
Mas quando me virei para trás ele já não estava mais lá, apenas a xícara vazia.
Babaca e ladrão ainda por cima.
Mas aquela não foi a última vez que o vi, ele esteve lá, presente em cada momento da minha vida, inclusive nos piores, mas eu não podia culpá-lo. Ele salvou a minha vida, salvou tantas vezes que sequer tenho dedos para contar quantas. Ele salvou a minha vida e me salvou de mim mesma.
Entretanto nem tudo foram flores até porque em Sonora só se vêem flores nos túmulos e talvez eu mesma tenha cavado o meu.
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