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História É Errado Te Amar? (em revisão) - O Passado Veio Dizer "Oi"


Escrita por: Akisa-sann

Capítulo 3 - O Passado Veio Dizer "Oi"


Ethan encarava o nada com um interesse gigantesco, já tinha desistido de ouvir, na verdade, não aguentava mais a conversa fiada que fluía daqueles dois sentados à sua frente. Já havia se passado mais de quarenta minutos e já era quase 09:00 AM, exatamente o horário em que ele deveria estar indo para a sala de aula.

Seu pai, porém, se mantinha sentado confortavelmente em uma das poltronas enquanto falava a diretora o quão exemplar seu querido filho era ou em como ele teria o prazer de patrociná-los se o aceitassem ali, e em como aquelas notícias que haviam saído há algum tempo atrás eram uma coisa absurda: "Algo criado da cabeça de pessoas que não podem ver o sucesso das outras".

O homem nem sequer mudava a expressão de seu rosto ao contar uma mentira descarada daquela. Era verdade que era tudo uma invenção da mídia e que a história tinha sido muito aumentada, mas quando era seu pai que desmentia aquilo? Seu pai, que o desprezava mais que tudo? Aí sim ele preferia acreditar na mídia, afinal Edmund Fitzgerald jamais perdia seu tempo falando sobre o filho, pois segundo ele, não valia a pena o tempo gasto falando de alguém do qual não há nada de bom para se dizer.

Por aquele motivo, Ethan ficou surpreso, afinal o homem sabia como criar uma figura perfeita de um filho ideal para seu perfil, ele podia ser ridiculamente bom no que fazia, o que fez Ethan suspirar lhe olhando e ao mesmo tempo o admirando, não era a toa que ele havia construído seu império a base de mentiras, negociações duvidosas, sagacidade, estratégia e inteligência, e, claro, também um pouco do seu charme.

Quem era aquele homem que sorria e conversava com a mulher a sua frente como se fosse algo natural? Ethan não sabia. Era para, de fato, ser algo natural aquele sorriso, mas quanto tempo fazia que ele não via seu pai sorrir em casa? Isto é, quando ele estava em casa. Será que um dia o homem sorrira com sinceridade ou já naquela época também não passava de sorrisos vazios? Não se lembrava mais.

Quando o garoto pensou que não aguentava mais ficar sentado ouvindo-os conversar, os dois se levantaram e apertaram as mãos. Ele não sabia se sorria ou fazia cara feia, mas de uma coisa tinha certeza, estava mais do que grato por sair daquela sala sufocante. Quando a diretora fechou a porta, seu pai assumiu novamente a sua postura séria e mal-humorada de segundas-feiras, sua verdadeira face se mostrou e por algum motivo aquilo foi como um tapa para Ethan, que chegou mesmo a quase ter esperanças de que, quaisquer que fossem as palavras ou atitudes que ele demonstrara a seu respeito, haviam sido sinceras.

Eles caminharam lado a lado pelo corredor, agora deserto, e na primeira curva à direita, Ethan entrou, enquanto isso seu pai seguiu em frente, em direção a saída. Por um estranho momento o homem lhe encarou e abriu a boca como se fosse chamar seu nome, mas não deixou escapar nem um som, então o garoto simplesmente resolveu ignorá-lo, seria mais fácil para os dois evitar aquela despedida ridícula. Se eles não se parecessem tanto, poderia jurar que não se conheciam. Bem que o garoto gostaria de poder esquecer seu parentesco com aquela pessoa, e, se fingir que não o conhecia amenizasse sua decepção, o faria sem pestanejar, mas aquilo só fazia a ardência em seu peito ainda pior.

Ethan não olhou para trás e nem disse ao pai o que gostaria que seu orgulho lhe permitisse dizer, que sentiria falta da casa, de sua mãe... e sentiria falta das discussões com ele. Seu pai aparentemente não se incomodou com a sua atitude fria, o que lhe deixava extremamente chateado, afinal era como se para ele, Ethan fosse só mais um problema e agora que o tinha resolvido, já podia ir embora.

Porém, enquanto o garoto seguia em frente sem olhar para trás, nem percebera seu pai lhe encarando do lado de fora dos portões com olhos em chamas, mais calorosos que qualquer outra vez; naquele momento um turbilhão de sentimentos inundava o coração de Edmund Fitzgerald, pois pela primeira vez teria que deixar seu filho ir, sair de debaixo de sua vista e começar a trilhar seu caminho sozinho; naquele momento seu coração encolhia a cada passo mais distante de seu garoto, mas Ethan jamais ficaria sabendo daquilo.

O garoto engoliu em seco a massa quente que se formava em seu peito, não sabia bem o que era que estava sentindo, mas sabia que não era bom; seguiu em frente com um gosto amargo na boca e para piorar ainda mais o seu humor, o colégio St. Louis não era do tipo acolhedor. Era uma enorme construção dos anos 80, mas em ótimo estado.

Tinha sido construído afastado da cidade, em uma zona rural, por isso a única forma de chegar até lá era por uma longa estrada de terra batida e negra, com grama morta dos lados. Era próximo às montanhas, para manter os estudantes na linha, e havia uma floresta que rodeava uma parte do local, ao longe, já dando na encosta da montanha mais próxima. Honestamente, o lugar parecia ser apenas um hotel de estrada grande e velho demais, até um tanto macabro, mas ao chegar perto, Ethan tinha se impressionado.

A estrada terminava em um grande e alto muro de pedra, com um portão negro. De cada lado do portão haviam arandelas no estilo antigo, presas a parede, o que era bem antiquado, para dizer a verdade. A estrada se dividia em duas e uma delas ia até um segundo muro, este tinha um portão de alumínio também negro e o nome "Estacionamento" em letras de fôrma bem trabalhadas em algum material prateado; era por aquele lugar que eles haviam entrado.

No portão havia um caminho de pedras que seguia da rua para dentro, guiando-os para um enorme prédio marfim e lustroso, com alguns andares. Na frente havia algumas colunas altas, largas portas duplas de madeira e vidro — era óbvio que haviam feito uma reforma recente, porque haviam colocado coisas modernas que não se encaixavam com a arquitetura antigua do lugar —, um saguão muito espaçoso e muito bem iluminado se abria e a frente uma escada circular branca que levava aos andares superiores divididos em corredores que conectavam as salas de aula.

Mais para frente ainda havia um corredor que ia de encontro com a sala da diretora, que era aonde há apenas alguns minutos ele estava. Havia uma placa de gesso bem grande em frente a construção com o nome do colégio e uma escultura masculina de um homem velho e carrancudo em um pedestal desgastado, talvez o fundador daquele lugar horrível. O pátio era enorme e espalhados ao longo do vale haviam quadras de basquete, vôlei e campo de futebol, mais ao longe uma quadra de baseball e um redondel. Para o lado um deque muito espaçoso e uma piscina com água cristalina, porém estava coberta com uma tela, provavelmente era inutilizada por causa do frio que fazia.

Mais afastado do deque havia uma placa com o nome "refeitório", que consistia em um enorme espaço claro a céu aberto, com uma cozinha coberta que ele não conseguira ver direito e algumas mesas espalhadas ao redor do que parecia uma fogueira central. A floresta ficava a apenas alguns metros do refeitório, o que dava uma sensação de liberdade e ruralidade ainda maior, mais afastado havia um enorme prédio com uma plaquinha de rua escrita "dormitórios" e seguindo a diante uma plaquinha que se lia "Faculdade St. Louis". Os arredores da faculdade e parte do caminho para a floresta era cortado por um lago de canoagem que refletia o cinza-chumbo penetrante do céu daquele dia.

Apesar de lá fora a grama ser amarelada e seca, dentro dos portões do colégio era verde e viçosa. Havia bastante verde ali, Ethan percebeu, mas algo lhe chamou a atenção. O verde era a única cor vibrante que ele havia visto. Até agora tudo o que tinha lhe deixado feliz no local, apesar de toda a sua majestosa grandiosidade, era saber que era um colégio interno e que ele não precisaria ir muito em casa por conta disso.

Claro que era opcional ficar nos dormitórios, mas ele não perderia a oportunidade de sair daquela casa sufocante, e também, quem no mundo escolheria fazer todo aquele percurso todos os dias pra ir e voltar das aulas? Porém até mesmo aquela notícia estava começando a perder a graça, pois agora que caminhava por dentro do local percebia que o colégio, na verdade, estava mais para uma prisão.

Os largos e amplos corredores eram brancos, assim como todo o resto, o piso era de mármore claro, as paredes perfeitamente limpas e as luzes fortemente brancas e aglomeradas deixavam tudo excessivamente claro; estas seguiam pelo teto até onde ele conseguia ver; não havia nada nas paredes a não ser alguns quadros em tons pastéis aqui e ali e algumas esculturas de gesso em pedestais no estilo grego. Ethan não havia passado nem mesmo um dia ali, mas já odiava tudo.

Ele seguiu andando por um corredor, não precisou andar muito de onde estava para chegar a sua sala, então não tinha como explorar, mas algo lhe dizia que a paisagem não mudaria muito de um corredor para o outro. Uma escada à direita dava fim ao corretor em que estava, do lado esquerdo da escada haviam três cadeiras azul-escuro confortavelmente acolchoadas, o que contrastava muito com todo o branco do lugar.

Havia ainda um quadro de avisos, que por algum motivo não possuía aviso algum e na parede de frente para a escada um enorme banner com as regras da escola e um manequim vestido com a farda, o que era meio assustador. Fora isso o colégio, por algum motivo, parecia vazio, não só pelo fato da precariedade de objetos em seus corredores ou barulho de coisas vivas nos arredores, mas faltava algo que ele não sabia explicar.

Ethan subiu as escadas e começou a andar novamente por um corredor igual ao anterior, assim como suspeitara. As salas tinham portas de alumínio com uma pequena abertura de vidro, aquilo parecia mais um hospital psiquiátrico ou um presídio, ou a junção dos dois. O colégio todo tinha aquecedor, mas eles não mantinham uma temperatura alta o suficiente, o que não era nada bom levando em conta o fato de que a cidade era fria até demais.

Ele tinha ficado na sala 3, então continuou andando até avistar a placa branca com o número, caminhou até lá, era a última sala do corredor, já ia entrar quando se deparou com a enorme janela de vidro a sua frente. Ethan se aproximou cauteloso e prendeu a respiração; era um vista maravilhosa, a vista para um jardim enorme. O verde-pastel das plantas abaixo contrastava com o cinza do céu; o dia estava escuro e nublado por isso lâmpadas amarelas estavam acesas lá embaixo deixando o lugar com ar aconchegante e sonolento, lá no jardim não tinham apenas flores, mas também árvores enormes, a grama estava verde apesar dos dias chuvosos.

Ao chegar ali com seu pai não estava chovendo, mas agora grossos pingos de chuva caíam sobre as folhas fazendo-as balançarem, alguns galhos das árvores mais altas estavam com uma fina camada de neve e apesar de não gostar do frio, ele tinha que admitir que aquele era um show espetacular da natureza.

Ethan estava impressionado demais com o jardim, já imaginando que aquele seria seu refúgio e só percebeu que tinha alguém atrás de si tarde demais; quando se virou para olhar quem era, esqueceu-se momentaneamente como se respirava, seus olhos se arregalaram tanto que parecia que saltariam das órbitas e ele ficou branco como papel. Afinal como era possível? Tinha que ser uma brincadeira de mau gosto.

Ele estava de pé na frente do garoto que tinha lhe agredido em um beco na sua antiga escola do ensino fundamental, era daquele garoto que ele tinha precisado fugir, era aquele garoto que tinha lhe batido tanto ao ponto de ele precisar de meses para se recuperar. Desta vez, ele estava pelo menos dez centímetros mais alto, seu corpo, antes magro e infantil, agora já era o corpo de um jovem formado, com músculos definidos e firmes pelo treino no clube de basquete.

Apesar de ainda ser mais esbelto e gracioso que a maioria dos garotos do seu tamanho, agora parecia muito mais ameaçador que antes, fazendo Ethan tentar engolir a saliva que já não tinha mais em sua boca. Ele sentia seu coração em todos os lugares possíveis, seu pulso era perceptível até na ponta dos dedos, lhe mostrando o quão assustado estava.

O garoto não tinha mudado muito, continuava com a mesma aura quieta e reservada ao seu redor. Seus olhos, lindos e delineados olhos de íris incrivelmente negras, ainda possuíam toda a raiva do passado e ainda pareciam tão na defensiva como ele se lembrava, porém enquanto lhe encarava possuíam uma inquietação alarmante que o fazia parecer insano, totalmente fora de si, era quase como se fosse ele quem estivesse com medo de vê-lo ali e não Ethan, o que era novidade. Ele não sabia se podia chamar aquilo de fragilidade, mas se fosse para nomear o que via em suas íris, seria isso; o garoto parecia... frágil, com um medo muito visível em suas íris negras, e ainda mais hostil.

Agora que estava mais alto, seu corpo parecia se encaixar melhor e ele já não era mais desengonçado ou estranho e sim gracioso em seu jeito despreocupado de andar, sua pele ainda era mais morena que a da maioria ali e mesmo ele estando menos bronzeado que no passado, seu tom de pele levemente dourado, como se viesse do litoral, ainda chamava atenção e se destacava em uma cidade onde tudo e todos eram pálidos como ossos velhos, se misturando a paisagem e ao horizonte cinza pelas nuvens de chuva, passando despercebidos... Todos iguais.

Ele aparentemente tinha deixado os cabelos crescerem e algumas mechas lisas caíam negras e sedosas emoldurando-lhe o rosto de traços afilados e queixo fino — ele tinha pai asiático e mãe ocidental e isso tornava seus traços marcantes e únicos lhe fazendo se sobressair dos demais. O restante dos fios ele mantinha presos em um coque frouxo e aquele estilo lhe caíra muito bem, mesmo que só chamasse ainda mais atenção para ele, já que sua beleza era exótica e muito chamativa, bem invejável por ser o único a poder oferecer alguma cor àquele lugar sem vida. Pena que ele tinha que ser um babaca, pensou Ethan.

Naquele momento em que ele se encontrava tão perto, Ethan pôde perceber dentes incrivelmente brancos e alinhados por trás de lábios vermelhos; estes eram bem desenhados e cheios, e ele possuía um sinal abaixo do olho direito, assim como grossas sobrancelhas bem expressivas e muito bonitas, que lhe chamavam a atenção para os olhos únicos, incrivelmente delineados.

Sebastian não era feio, definitivamente era uma das pessoas mais bonitas que Ethan já vira na vida e agora que a puberdade havia passado e seu corpo tinha adotado uma forma mais máscula e nada restara de infantil, ele estava dez vezes mais belo do que se lembrava, o problema era que ele tinha tanto medo e raiva do maldito garoto que não conseguia achá-lo nada mais nada menos que horripilante. Talvez em outras circunstâncias o houvesse achado tão bonito quanto ele, de fato, era e até desejado sua beleza exótica para si, de várias formas.

— O que diabos você está fazendo aqui? — o garoto perguntou com uma certa urgência na voz, quase desesperado — O que droga você faz aqui? Você devia ter continuado lá! Tinha que me seguir para me atormentar aqui também? O que aconteceu com minha família não foi o suficiente? Quando você vai estar satisfeito?

— D-do que você está falando? — perguntou Ethan confuso, sua voz saindo como um sussurro — E que história é essa sobre a sua família? Quem devia perguntar o que merda você está fazendo aqui era eu!

— Bem, eu estudo aqui, não é óbvio?! — ele falou com um tom tão frustrado que Ethan por um momento se sentiu estúpido por ter perguntado aquilo. — Agora eu não consigo entender o por quê... Você tinha tudo lá, por quê vir pra cá? Por quê logo esse colégio? É algum tipo de piada entre você e sua turminha de filhos da puta? Vamos lá, cadê os outros?

— Você... — ele precisava enrolar enquanto pensava em como fugir novamente, mas sua cabeça estava em branco pela surpresa e pelo medo daquela situação, afinal que chances haviam de um reencontro como aquele acontecer? — Então, você quer me pedir desculpas por aquele acontecimento?!

— Desculpas?! Eu vim parar nesse fim de mundo por causa de você e dos seus amiguinhos. Tudo porque você começou a brincadeira e não aguentou, e por isso meus pais pagaram o preço. O único que me deve um pedido de desculpa é você, maldito! Me fez parecer um idiota, sempre me fazendo de brinquedo, me transformando em motivo de piadas, tem ideia de quanto tempo eu passei surtado? Quanto tempo levou pra eu conseguir me relacionar novamente com alguém? Eu só quis que você provasse do próprio veneno ao menos uma vez. Eu fui legal em só te bater, quando foi comigo ninguém pensou assim, pensou? Não! Acharam engraçado me fuder na frente de todo mundo e gravar a porra daquele vídeo... — Ethan encarou o garoto atônito, pois não fazia ideia do que ele estava falando. — Foi engraçado me fazer parecer um idiota patético e covarde? — seus olhos estavam vermelhos e cintilantes, mas Ethan não acreditava que aquilo eram lágrimas, afinal por quê diabos ele estaria chorando?

— E você precisava da minha ajuda para parecer um idiota?! Que eu me lembre, você fazia isso muito bem sozinho... Esquisitão.

— Não brinque comigo, Fitzgerald. — ele estreitou os olhos e Ethan se encolheu — Eu sei quem você é de verdade, sei que não passa de um covarde e se você bobear, eu vou te pegar de novo, dessa vez vai ser só eu e você, e você não vai escapar. — ele se aproximou ao pronunciar a última frase, Ethan tentou se afastar, mas não tinha para onde ir e acabou caindo sentado no parapeito da janela, o que lhe obrigou a olhar para o garoto de baixo, ele colocou uma mão em cada lado de sua cabeça, apoiando-as no vidro, e passou a língua pelos dentes, seus lábios formando um sorriso irritado.

Ethan sentia suas pernas tremendo insistindo em não lhe obedecer, tudo em sua mente gritava para que ele corresse, mas não podia se dar ao luxo de demonstrar fraqueza ou medo na frente daquele desgraçado, já tinha sido humilhado o suficiente naquela época, seu orgulho não lhe permitiria fugir como um covarde novamente.

— Sai fora, seu pervertido! Por quê está tão obcecado por mim? — uma veia na testa do garoto saltou.

— Pervertido? — repetiu como se a palavra não fizesse sentido — Fui eu quem se divertiu vendo um cara sendo fudido contra a própria vontade, enquanto gravava a porra de um vídeo para ameaçá-lo depois e praticar mais bullying do que já praticava? — o garoto apertou a mandíbula — Você acha que sabe alguma coisa?! Desde a primeira vez você me olha de cima. Você me humilhou e pisou em mim como se fosse muito melhor do que eu, só porque seu pai tem alguns milhões a mais que o meu. Naquele dia eu disse a mim mesmo que seria o último dia que aceitaria o abuso de você e seus amigos de merda, e arrancaria aquele sorrisinho da sua boca. No final, quando você mais precisou deles, nem um veio te ajudar.

— O que você quer?

— Eu só quero vingança, afinal você ferrou com a minha vida! Desde o colegial você e a sua maldita família fode com a minha... Por mim, nunca mais eu olharia pra essa sua cara, mas você parece sentir prazer em me atormentar, então agora eu quero a minha vingança! Olhar pra você fez a raiva e trauma que eu já tinha quase esquecido, acordar de novo. Você me deixa doente.

— Você é louco, por acaso?! Eu nunca fui arrogante ou orgulhoso, seu imbecil, e eu não tenho culpa pelo que os caras faziam com você, não era como se eu os obrigasse a fazer qualquer coisa, e a culpa não era minha se você agia como um esquisito. Você sabia que as pessoas falariam se você agisse daquele jeito, então não venha com essa merda pra cima de mim. Que história é essa de "acabar com a sua vida"? Não foi você mesmo que se ferrou?!

— Está se fazendo de inocente agora? Eu só dei o troco pelo que você me fez passar durante três anos consecutivos. Não se faça de desentendido, não aja como se não soubesse o que eles fizeram! Como você acha que meu pai ficou quando aquele vídeo se espalhou entre os filhos dos sócios dele? Minha vida virou um maldito inferno. Não tinha um dia que eu passasse sem ter alguém arremessando algo em mim ou me abordando no banheiro da escola. Não importa se eu agia ou parecia uma garota ou se eu era esquisito, que direito vocês tinham de me expor daquela forma? De me tratar como uma... Vadia? Você tem ideia do que é fazerem um vídeo seu naquele estado? Eu nem sei qual de vocês dormiu comigo. Eu ainda passei um dia inteiro drogado depois de tudo. — Ethan encarava Sebastian em pânico, tinha uma ideia de sobre o que o garoto estava falando, lembrava dos amigos comentando sobre algo do tipo, mas nunca procurou detalhes do que os caras haviam feito ao garoto, porém começava a perceber que a coisa havia sido muito mais séria do que ele havia pensado, bastava olhar para o quando ele parecia abalado; seus olhos brilhavam com lágrimas — Daquela vez você conseguiu fugir, mas já que o destino me trouxe a oportunidade de me vingar, eu a aceitarei, e aí você vai ver como é ficar por baixo dessa vez. Tudo que eu quero é ver você implorar por desculpas, assim como me fizeram implorar e...

Ethan fechou os olhos e torceu para que um raio caísse na cabeça do garoto, o que ele não esperava era que alguma coisa, de fato, acontecesse para lhe salvar daquela situação terrível. Porém, por mais incrível que pudesse parecer, quando o garoto pegou seus pulsos, segurando-os com uma força quase ridícula, ao ponto de quase lhe fazer gritar, pois tinha certeza que ele os quebraria, a porta da sala ao lado se abriu e de lá saiu um garoto. Não, não um garoto, mas o garoto.

Ele já tinha visto garotos como aquele, mas não um tão fascinante assim, até mesmo a beleza rara de Sebastian era ofuscada pela dele. Nem um garoto tinha lhe feito perder o fôlego antes com apenas a presença. Na verdade, Ethan tentava manter-se longe de garotos como aquele, eles significavam problema, mas aquele era uma mistura ridícula de duas coisas que não deviam dar certo, mas que nele ficava no ponto certo. Era como se um garoto mau de repente quisesse se comportar e mesmo com roupas normais, cabelos normais e óculos ridículos, seu lado travesso ainda pudesse ser visto por trás daquelas lentes e da fachada de bom garoto.

Ele tinha os cabelos negros penteados cuidadosamente para trás, óculos de grau e a farda muito alinhada, porém seu olhar era penetrante e, de certa forma, muito sexy, quase provocador para um cdf normal, sob as lentes de seus óculos, sua boca estava apertada em uma linha fina e severa, mas ao suavizar a expressão deu um leve sorriso, foi bem rápido, mas nesse curto espaço de tempo ele lhe olhou e ergueu a sobrancelha e aquilo pareceu a Ethan um sorriso realmente malicioso e cheio de "algo mais", lhe fazendo até mesmo corar.

O garoto não parecia nervoso ou chateado, na verdade, parecia bem tranquilo, era muito alto também, alto até demais para o gosto de Ethan, até Sebastian, que tinha no mínimo 1,80 m ficava algumas polegadas abaixo. Sua pele era clara como a de todos ali, sua mandíbula forte e suas bochechas levemente proeminentes; sua presença ali o deixava estranhamente desconfortável. Na verdade, era mais como se ele lhe deixasse exposto.

Sendo sincero, Ethan sentia que já o conhecia, mesmo que aquilo não fizesse sentido algum em sua cabeça. Talvez aquela sensação de alguém conhecido era porque Ethan só vira alguém que lhe atraíra tanto, uma vez, há alguns anos atrás e em outra cidade, por isso era quase impossível ser a mesma pessoa. Porém, ambos eram exatamente o seu tipo ideal de pessoa, ou de beleza.

— Hã... Com licença, Sebastian, espero não estar interrompendo nada, mas eu quero avisar ao... Sr. Fitzgerald, certo?! — ele correu os olhos de Sebastian para Ethan, que engoliu em seco vendo aquelas íris que eram uma mistura perfeita de dourado e verde. Quartzo revestido em ouro — Quero avisá-lo que o Sr. Tomas não aceita alunos atrasados em sua aula, nem mesmo calouros.

— Não interrompeu nada. Obrigado pelo aviso, e não me chame de Fitzgerald, por favor, só Ethan já está bom. — não precisava que todos soubessem sobre sua família, apesar de ser meio difícil alguém não ter visto o pequeno showzinho que seu pai fizera ali naquela manhã, na frente de todos aqueles idiotas curiosos no corredor.

— Na verdade, você interrompeu sim, ele só é educado demais para falar a verdade. — Sebastian falou lhe lançando um olhar que Ethan achou realmente engraçado, algo como uma mistura de frustração, raiva e... desejo — Você, como sempre, chegando na hora errada não é mesmo, Willian?! Fazendo as escolhas erradas...

— Já chega, Sebastian, volte para a sua sala. — ele falou calmamente, sua voz saindo como um sopro entre dentes apertados, mas por algum motivo, seu tom fez Ethan se arrepiar.

— Eu já disse o quanto gosto da sua expressão quando você está com raiva?! Sei lá... é só que você fica tão sexy... — Sebastian falou debochadamente, mas ele continuou o que estava falando sem dar importância ao garoto, na verdade era como se ele não tivesse sido interrompido.

— Você, como veterano, devia ter avisado ao seu amigo que...

— Nós não somos amigos! — as palavras saíram em sincronia perfeita da boca de ambos os rapazes, que após uma breve pausa se encararam. Ethan odiava o fato de Willian pensar que eles eram amigos e aparentemente Sebastian também.

— Ah, desculpe; eu imaginei que...

— Você imaginou errado. — não, não era assim que era para aquilo sair, droga.

— Eu só estava tentando ajudar. — ele pareceu magoado.

— Eu não preciso da sua ajuda e eu não a pedi, então não faça coisas desnecessárias por mim. Enfim, eu sei me virar sozinho, tenho feito isso até hoje muito bem, não estou tão desesperado a ponto de precisar da ajuda de qualquer um; isso é ridículo e me irrita. — por quê ele sempre tinha que fazer as coisas da forma errada? Era só ter agradecido, mas não, tinha que ter explodido logo agora e enquanto isso, Sebastian lhe olhava com os olhos brilhando com divertimento, nada parecido com a fragilidade de alguns momentos atrás.

— Bom, acho que apresentações são totalmente desnecessárias, certo?! — Sebastian falou por fim, tentando segurar o riso.

— Não enche. — Ethan falou já se afastando dos dois garotos.

— Bom, depois de tudo, o que eu disse antes foi apenas frustração acumulada, Ethan... — Ethan virou para encarar Sebastian, não entendera do que ele estava falando — Depois vamos sair para conversar com mais calma, okay?! Quem sabe você não se desculpa apropriadamente, então eu também farei, e aí, talvez, possamos começar a nos dar bem, hum?! Sem ressentimentos, okay?! Afinal não somos mais crianças! — o garoto falou adotando uma postura séria de repente e lhe pegando de surpresa; naquele momento, suas palavras pareciam realmente sinceras e aquilo fez Ethan sentir-se confuso.

Sem olhar duas vezes nos olhos cor de mel que mais uma vez lhe encaravam com tanta intensidade que parecia que o faria queimar, Ethan deu as costas se afastando dos dois garotos, que ainda lhe olhavam com um misto de sentimentos e entrou na sala, que era branca, fria e desprovida de qualquer objeto a não ser a lousa e as carteiras, assim como todo o resto daquele colégio ridículo. Até mesmo os alunos pareciam sem vida, mesmo enquanto conversavam entre si, liam um livro ou mexiam no celular. Era como se aquele ambiente mórbido sugasse a energia das pessoas.

Ao sentar-se em uma carteira na última fileira da sala, Ethan se deu conta do quanto tinha sido grosseiro e mal-educado com Willian e aquilo lhe fez ficar ressentido, com a consciência pesada e irritado, lhe impedindo de pensar em qualquer outra coisa o resto do dia, mas o que estava lhe deixando realmente nervoso não era o fato de ter sido mal-educado com alguém e sim com quem ele tinha sido.

Aqueles olhos cor de mel que lhe olhavam no corredor apinhado de alunos continuavam gravados no fundo de sua mente como uma tatuagem é marcada na pele e naquele momento ele tentava acalmar o coração que batia ainda mais rápido que antes o fazendo ter dores de cabeça, não por causa do encontro com um antigo inimigo, mas pelo fato de que aquele garoto do lado de fora da sua sala, que tinha lhe salvado, mesmo sem ele admitir, tinha os olhos cor de mel intensos e atentamente sagazes, com cílios longos e belos, como uma pequena chama pulsante, que lhe fazia sentir vivo.

Eram como lavas de um vulcão em erupção. Exatamente o mesmo olhar penetrante e constante no corredor lotado mais cedo, os mesmos olhos que haviam lhe encarando no meio de uma multidão em uma festa, anos trás; olhos verde-dourados que lhe aqueciam por dentro como lareira alguma conseguiria fazer, ateando fogo ao seu coração e reacendendo desejos há muito adormecidos, trancados a sete chaves em seu coração.

~ C O N T I N U A ~




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