05:10 PM
Sim, aquele era finalmente o som do sino do colégio, aquele grito agudo ressoando no final das aulas era como música para os ouvidos de Will, que deu graças a Deus quando a aula finalmente acabou. Ele não aguentava mais esperar para falar com Ethan, queria pegá-lo ainda em sala, mas algo lhe dizia que não ia rolar. Ergueu-se de sua cadeira e arrumou suas coisas na mochila rápido como um raio, mas quando ia sair o professor lhe chamou; ele suspirou e foi até o homem ali de pé.
— Sim, senhor?
— Willian, o bimestre está quase chegando ao fim, falta apenas mais um conteúdo a ser dado na próxima semana e como o terceiro ano está revendo esse conteúdo as aulas serão juntas com o segundo ano, então quero que avise a todos que terão as minhas aulas juntos na sala 9. Isso é tudo, você pode ir. Parecia com pressa, me desculpe se lhe interrompi.
— Não senhor, imagina. Eu os avisarei sim.
Will tinha sim ficado com raiva de início, mas depois de receber uma notícia como aquela, como poderia continuar chateado? Afinal, iria ter mais uma aula com Ethan, ou seja, mais oportunidades de se aproximar do garoto. Ao chegar à sala 5, que era onde Ethan estava assistindo aula — sim, Willian tinha pegado o horário do garoto, mas aquilo não queria dizer que ele era um stalker ou coisa do tipo — olhou ao redor, mas já tinha apenas algumas poucas pessoas conversando, na maior parte garotas, então era sinal que ele já tinha ido para a quadra.
A última aula daquele dia era Ed. Física, uma das suas preferidas. Willian desceu as escadas correndo e foi até o vestiário como se a sua vida dependesse daquilo, mas quando chegou ao local, este já estava cheio de garotos tirando a roupa, o que — em sua opinião — não parecia um lugar convidativo de se entrar.
Mesmo com aquela imagem horrível em sua cabeça, ele adentrou no espaço, agora pequeno demais para tanta gente, e foi se arrastando com esforço por entre o amontoado de corpos, tentando visualizar Ethan em algum lugar naquele aglomerado, mas não conseguiu achá-lo. Se ele estivesse ali, provavelmente estava em um dos boxes, ele mesmo estava procurando por um vago e finalmente viu um pequeno espaço aparentemente vazio e foi para lá o mais rápido que conseguiu, porém quando finalmente chegou lá, já estava ocupado e por ninguém menos que Ethan, que aparentemente tinha acabado de chegar lá também, porque só tinha tirado uma peça de roupa, seu casaco.
Willian ficou tão surpreso ao vê-lo que deixou escapar um silvo por entre os dentes, algo como um assovio. O garoto o olhou, também surpreso, mas logo se virou e começou a mexer em sua mochila, ele mesmo estava muito constrangido para falar alguma coisa, então resolveu que era melhor apenas se trocar logo. Porém, ao virar para pegar seu short, Ethan estava de costas meio inclinado para frente e sua regata estava um tanto repuxada para o lado mostrando visivelmente sua nuca, pescoço e início das costas, aquilo lhe fez engolir em seco.
Ele realmente ficou surpreso ao ver o início do que parecia ser uma tatuagem marcando seu ombro e braço direito, a tinta era negra e se destacava na pele pálida, quase translúcida do garoto. Não conseguiu ver todo o desenho, mas viu algo como uma pequena cobra que se enroscava em seu bíceps, como um bracelete e achou realmente bonito, até sentiu vontade de perguntar do que se tratava, mas não era como se tivessem aquele tipo de relação e o garoto não parecia gostar muito dele, então achou melhor permanecer em silêncio.
Willian terminou de se trocar e como Ethan permanecia ali, exatamente da mesma forma que o encontrara quando entrou no box, começou a fingir que fazia alguma coisa, apenas para ficar um pouco mais dentro da cabine com ele, que parecia não ter a intenção de se trocar na sua frente. Ele estava o encarando quando percebeu que o garoto lhe encarava de volta, com olhos estreitos e aquilo lhe surpreendeu tanto que ele automaticamente se virou, deixando ainda mais óbvio que estava mesmo o observando.
Os olhos de Ethan naquele momento estavam mais escuros do que normalmente eram, fazendo Willian perceber novamente o quão incríveis e penetrantes eles eram e sentir-se fascinado por sua intensidade mais uma vez. As pupilas, negras como um abismo, estavam dilatadas, talvez por isso eles estivessem tão escuros; suas sobrancelhas estavam erguidas em sinal de questionamento, suas bochechas estavam rosadas e ele tinha um ar acusador, ou talvez envergonhado? Willian não sabia dizer ao certo, mas sabia que não era nada bom o garoto ter percebido que ele estava o observando.
Quando a tensão finalmente ficou tão forte ao ponto de ele não conseguir mais suportar ficar no mesmo espaço, começou a arrumar rapidamente suas coisas na mochila, pegou sua blusa, em seguida a calça e colocou na bolsa de qualquer jeito, saindo apressadamente sem olhar para trás, mas sentindo aquele olhar aterradoramente frio queimando-lhe as costas, assim como o gelo em contato com a pele.
Willian caminhou entorpecido para a quadra aonde a maioria de seus colegas já lhe esperavam, sentia-se anestesiado com a tensão que havia entre eles dois, engoliu em seco sentindo um gosto amargo na boca por perceber o poder que aqueles enormes e gelados olhos tinham sobre si e o quanto os desejava para si.
***
As coisas começaram a dar errado quando os adversários no jogo de basquete chegaram à quadra; eles jogariam contra o 3º ano C, o que não era nada bom, pois Sebastian era daquela sala, enquanto eles eram do 3º ano A. Como sempre, Sebastian estava com seu sorriso de deboche nos lábios; ele não era um cara extraordinário ou tão mais alto que os outros, mas ao contrário dos outros, tinha confiança o bastante para não olhá-lo de baixo como a maioria fazia, pois sabia que também era bom o bastante.
Ele tinha 1,79 m e Willian tinha 1,88 m e não só a altura como também o físico e Q.I. se assemelhavam, então estavam mais em igualdade que a maioria. Ele tinha cabelos tão negros quanto obsidiana e os olhos estavam mais castanhos do que preto como normalmente eram por causa da iluminação alta da quadra, quase selvagens, sua pele bronzeada se destacava diante das de seus colegas, todos pálidos e sem graça ao seu lado. Sua voz era arrastada e com um leve sotaque e por algum motivo ele costumava encarar muito os outros. Apesar de viver cercado de pessoas, ele era bastante reservado e estava sempre sozinho.
Tecnicamente era apenas um jogo amigável entre as turmas e para a infelicidade de Willian, Sebastian não estava na sua sala aquele ano e não era nada amigável. O time de basquete do colégio St. Louis era particularmente forte e muitos dos alunos de lá ganhavam bolsas ou convites de faculdade renomadas por causa de suas habilidades no esporte, Will não gostava, mas tinha que admitir que Sebastian era um dos motivos do time ter ganhado o campeonato do ano passado.
Seu estilo de jogo era sem igual, muito agressivo e as vezes sem limites, muitas vezes cometia erros e faltas por nunca pensar antes de fazer uma jogada arriscada que poderia levar todo o time a derrota, porém era por esse mesmo motivo que ele jogava tão bem e era quase imparável quando estava com a bola no ataque; era como um animal quando estava na quadra, totalmente o contrário de Will, que era mais inteligente e desarmava o adversário com jogadas bem elaboradas e estudadas minuciosamente.
Não era a toa que ele o tinha escolhido como Às do time. Willian, porém percebeu o olhar que o garoto lançava a Ethan, que estava mais do que fofo naquela farda, que era duas vezes maior que ele, o que dava a impressão de que ele era ainda menor e mais magro. Ele não gostava nada de como Sebastian o olhava, e gostava menos ainda do fato de ter que jogar contra ele, e pela cara que este fazia, estava óbvio que estava planejando alguma coisa.
O começo do jogo foi tranquilo até certo ponto e Willian começou a se animar demais, esquecendo-se de manter a guarda alta, até o professor sair para atender uma ligação e tudo começar a dar errado. Quando Will percebeu o que ia acontecer já era tarde demais. Sebastian olhou para um de seus companheiros de equipe, que lhe passou a bola bloqueando Luka, pivô do time; o garoto, que era um ótimo armador, se posicionou, mas fez um arremesso forte demais mirando não a cesta, mas quem estava sentado no banco próximo a ela e que infelizmente era Ethan.
— ETHAN... Cuidado com a bola...
O garoto não estava esperando por aquilo e não reagiu; a bola de basquete — que já era bastante pesada — lhe acertou no rosto com toda a força do corpo de Sebastian, que tinha usado o corpo para dar impulso no lance. Ethan não teve chance alguma, quando a bola lhe acertou ele caiu para trás batendo a cabeça e cobrindo o rosto com as mãos, virou-se para o chão e ficou deitado daquele jeito por tempo demais.
Honestamente, Willian queria pular no pescoço de Sebastian ali mesmo, ele não teve tempo nem de terminar a frase: "cuidado com a bola" e o garoto já estava no chão. Todos ficaram parados por alguns segundos olhando chocados para a cena de Ethan caído com o rosto virado para o chão e as mãos cobrindo-o enquanto Sebastian encarava sério como se tivesse sido um acidente.
O professor veio correndo logo em seguida, atrás de Gabriel, que tinha ido chamá-lo; aquilo fez Will acordar do seu transe, ele correu até Ethan que ainda estava deitado no chão, imóvel e trêmulo, se ajoelhou ao seu lado e tocou-lhe nas costas da mão se sobressaltando, estava realmente com a pele fria, lembrou-se então que o garoto tinha vindo de uma cidade ensolarada e que provavelmente ainda não tinha se acostumado com o frio que fazia ali.
— Você está bem...? — perguntou, mas não obteve resposta alguma e se arrependeu de tê-la feito, afinal era uma pergunta meio idiota — É claro que não, desculpe.
— Esdaa fudo ban! [está tudo bem]
— Quê?!
Will não tinha entendido uma só palavra do que Ethan tinha falado, talvez porque estivesse com as mãos no rosto, o que lhe surpreendeu quando o garoto levantou a cabeça. Escorria sangue por entre seus dedos e manchava as costas de suas mãos, bochechas e queixo, seus olhos estavam muito vermelhos e ele respirava com dificuldade pela boca.
— Ai meu Deus! Você precisa ir ao médico, AGORA! Acho que é hemorragia nasal... Eu vou te levar até a enfermaria por enquanto...
— Não, eu estou bem... — repetiu.
— Não, você não está! Está sangrando muito... eu vou te levar.
— É sério, não precisa...!
— Eu vou te levar mesmo assim.
— EU DISSE QUE NÃO PRECISA! — Will se sobressaltou com o tom do garoto, o que lhe deixou bastante magoado, afinal ele só estava tentando ajudar — Eu vou ligar para minha mãe, não precisa se incomodar.
— Mas... — ele estava realmente insistente naquele dia e nem sabia o porquê, mas por fim suspirou exasperado percebendo que não conseguiria fazê-lo mudar de idéia — Tudo bem, mas deixa eu te ajudar pelo menos a ir até o banheiro limpar esse sangue.
— Está tudo bem, eu não preciso de ajuda.
Assim que terminou de falar aquilo, Ethan se desequilibrou e caiu por cima de Will, que lhe segurou pela cintura para lhe equilibrar. Parando para pensar com mais calma, naquele momento ele percebia o quanto o garoto tinha um corpo esbelto ao ponto de fazê-lo sentir como se pudesse quebrar seu pulso com apenas um aperto, ou segurá-lo pela cintura facilmente.
— Tá certo... é claro que não. — ele lhe segurou pelos ombros e lhe ajudou a se manter de pé, depois lhe ajudou a andar até o vestiário enquanto ouvia o Sr. Fins ao longe brigando com os garotos e Ethan resmungando baixinho.
Eles chegaram ao banheiro e Willian o ajudou a sentar em um banco de madeira que tinha próximo aos armários dos garotos. O garoto lhe pediu que pegasse seu celular em sua mochila e ligou para a mãe, que disse que só poderia chegar em quarenta minutos, o que, particularmente, ele achou tempo demais considerando o quanto seu filho estava sangrando, mas não iria falar nada, pois o garoto já parecia bastante irritado, talvez com Sebastian, talvez com ele.
Ethan lhe encarou e talvez percebeu seu olhar meio desgostoso, pois disse que não se importava de esperar, que pelo menos teria tempo para tomar um banho decente e limpar aquela bagunça. Willian concordou, apesar de ter sido de má vontade, mas o que podia fazer a não ser consentir? Não mudaria nada ficar reclamando ou insistindo. Ao invés de irritá-lo mais, resolveu usar aquela oportunidade a seu favor e aproveitá-la ao máximo; já que não pôde evitar o incidente, ia se aproveitar da situação que este criara.
Ajudou Ethan a entrar em um dos box e se afastou o observando de perto enquanto o garoto procurava pelo botão da calça tentando abri-la, porém ao olhar para baixo seu nariz começou a sangrar ainda mais, se é que era possível — daquele jeito ele ia morrer sangrando. Depois que desistiu, ele tentou ligar o chuveiro, mas também não conseguiu, sua visão estava desfocada e Will tinha certeza que ele estava vendo tudo girando, mas era orgulhoso demais para admitir e continuou de pé no box, se apoiando na parede e sangrando.
— Ethan, você precisa de ajuda para ligar o chuveiro? — perguntou mesmo já sabendo a resposta.
— Não! — Willian suspirou exasperado, aquilo já estava lhe chateando, porém antes de falar alguma coisa o garoto continuou — Porque você gosta tanto de ajudar as pessoas? O que elas fazem em retribuição? São mal agradecidas e falam de você pelas costas.
— Bom, talvez você tenha razão, talvez não, mas enfim... — Will sentiu-se levemente desconfortável, afinal era muito rancor acumulado em um corpo tão pequeno — Ethan, certo?! Posso te chamar assim, não posso?! Bom, em minha opinião, Ethan, não devemos deixar de fazer certas coisas por causa de uma ou duas decepções.
— Do que você está falando?
— Que não é preciso deixar de oferecer ajuda só porque uma ou duas pessoas foram mal agradecidas; e eu acho que você não faria isso, não estou certo?!
— Não faria o quê?
— Falaria de mim pelas costas depois que eu te ajudasse.
— E por quê exatamente você tem tanta fé em mim se nem me conhece?!
— Você tem razão, nem eu sei, mas de qualquer forma, você está precisando de ajuda e eu sou incapaz de deixar esse fato de lado.
— O que você acha que é? Um maldito herói? Isso é ridículo! Eu nem mesmo pedi ajuda, por quê você acha que eu mereço? Não fale como se me conhecesse.
— E por quê diabos você não mereceria? Por acaso todo mundo não merece ajuda? Por quê você tem que agir assim, como se fosse a pior pessoa do mundo? Por quê tenta tanto afastar as pessoas de você, Ethan? — ele o encarou sério — De qualquer forma, não é por você merecer que eu estou te ajudando e sim por você precisar, e eu já ofereci ajuda a pessoas piores que você, sabe? Disto tenha certeza. Você não é a pior pessoa do mundo e eu não estou falando como se te conhecesse, é apenas o que eu vejo, então por quê fica se martirizando pensando que não é digno nem de ajuda? Você realmente é tão ruim assim? Realmente não merece ou apenas acredita que não merece? Sabe, não é vergonhoso ou errado pedir ajuda as vezes; o que você perde ao admitir que precisa de alguém?
— Eu não preciso! — o garoto cuspiu as palavras com raiva, quase como se tentasse convencer a si mesmo — "O que eu perco", você diz... — riu sem humor — Eu perco tudo o que consegui por meio do meu próprio suor. Perco a minha dignidade, estarei sendo um fraco e eu não vou ser o que todos esperam. Na verdade estou cansado desses estereótipos que as pessoas adéquam a mim, como se eu tivesse que ser o fodido que elas dizem, só porque é só isso que elas acreditam que eu posso ser. Diga, você mesmo não é um deles? Me olhando com desprezo como se eu não merecesse estar aqui nessa escola ridícula?! Que eu sou só mais um vagabundozinho metido a besta que extorque os pais e que se não fosse por isso nem estaria aqui com você? Não é assim que você e sua turminha de CDF's me veem?!
— As pessoas não esperam seu fracasso, Ethan, pelo menos não eu. E não é você que está me taxando de preconceituoso agora?! Por quê acha que eu te vejo dessa forma? Apenas não gosto de alguns dos seus... colegas, mas ainda assim os respeito. Tenho um passado com alguns e não quero que algo aconteça com você por andar com eles, mas tenha certeza que eu torço muito por você e tenho certeza que seu pai se orgulha muito.
— Ráá... Meu pai?! Quem você acha que está no topo da lista, assistindo de camarote eu fracassar?! Só que eu não vou ser o fracasso que ele disse que eu sou, sou melhor que isso.
— Então não os dê ouvidos e acredite em mim quando digo que você pode fazer o que quiser e ser o que quiser, você não é fraco, Ethan, apenas não teve a chance de mostrá-los a sua força ainda.
— Hunf, você é interessante, Willian Mongommory.
— Só Will, por favor.
— Pois bem, Will... você diz isso tudo agora porque ainda não me conhece o suficiente pra falar mais, então você ainda pode falar das partes boas com confiança, mas não se preocupe, mais cedo ou mais tarde meus defeitos vão aparecer para você e você vai acabar se afastando, assim como todos os outros.
Willian piscou algumas vezes encarando o garoto ali na sua frente; quem no mundo o tinha feito ficar daquela forma? Will podia até mesmo ver a enorme barreira de aço que ele criara ao seu redor e não sabia o que fazer para ultrapassá-la. Respirou fundo sem saber o que dizer ante aquelas palavras, então ao invés de falar qualquer coisa, entrou no box e ligou o chuveiro, quando estendeu o braço para fazê-lo, este tocou levemente no ombro de Ethan, os cabelos de sua nuca se eriçaram e todos os seus sentidos acordaram de repente, como se tivessem levado um choque; ele puxou o braço de volta tão rápido que o outro se assustou, murmurou um pedido de desculpas e saiu do boxe, então Ethan fez o impensável, lhe pediu para ajudá-lo com a calça.
Willian respirou fundo e fez o possível para manter a expressão passiva, mas foi realmente difícil controlar a respiração e o tremor das mãos. Ele entrou novamente no box, desligou o chuveiro e se aproximou do garoto, que parecia tão desconfortável quanto ele, colocou a mão no botão da calça e o desfez, depois desceu o zíper.
Sentia-se exatamente do mesmo jeito de quando tinha transado pela primeira vez, como se fosse algo completamente novo pra ele. Nem sabia explicar o que era tão novo e excitante naquilo, não que ele estivesse prestes a transar com Ethan ou algo assim, mas... Droga, ele tinha que mudar o rumo dos pensamentos, porque estava chegando a um lugar perigoso.
Saiu torcendo para que Ethan ainda estivesse com a visão desfocada para não vê-lo corar, então se afastou um pouco do box, que era apenas um pequeno muro com um portão de alumínio de mais ou menos um metro de altura, o que ainda dava para ver perfeitamente bem Ethan, que pelo menos tinha tido o bom senso de permanecer de cueca, pois ele mesmo não tinha muita confiança em seu autocontrole.
Ele observou Ethan entrar debaixo do chuveiro com a água a encharcar-lhe os cabelos e mais uma vez se pegou admirando a sua beleza. A forma como a água caía sobre o garoto era hipnotizante, molhando seus cabelos vermelhos, indo em direção a seus lábios e escorrendo para seus ombros como um filme em câmera lenta.
Ethan não era musculoso, mas seu corpo era ótimo, firme e levemente definido, ele tinha um sinal de nascença próximo ao umbigo, sua barriga lisa tinha músculos firmes no abdômen e era muito pálida, assim como toda a sua pele, o que fazia o sinal se destacar bastante por ser escuro, assim como suas veias, que ficavam extremamente visíveis. Willian percebeu que ele tinha também algumas marcas que não eram bem de nascença, exemplo disso era a tatuagem que marcava sua pele.
Willian ficou impressionado, não tinha prestado atenção mais cedo no desenho, mas agora estava realmente encantado, era realmente lindo. Um dragão negro em pleno voo com as asas totalmente abertas, de sua boca saía uma língua em forma de cobra, que se enroscava em seu bíceps esquerdo, que era o que ele tinha visto antes. Era uma imagem impressionante, como a tinta escura se destacava em sua pele; o desenho também era incrível, tão real.
A cabeça do dragão se encontrava no ombro esquerdo com a boca semi-aberta e a língua para fora, os olhos eram amarelos com fendas como pupilas, as narinas soltavam fumaça, as asas negras de couro estavam aberta tomando uma parte das costas; o corpo do dragão era negro e escamoso e entre suas escamas se via algo como fogo, o corpo se estendia pelas costas e o rabo seguia pela frente do quadril sumindo dentro de sua bóxer.
Ethan estava com os olhos fechados enquanto a água caía, seus cabelos estavam grudados ao rosto, o sangue que ainda insistia em sair se misturava a água e escorria para o seu peito que ficava impressionante, pois destacava ainda mais sua palidez. Sua pele parecia ser tão suave e agora Willian sabia que realmente era, suave e delicada, e mais uma vez se viu pensando que: "Ethan era injustamente bonito."
Willian foi arrancado de seus pensamentos quando Ethan pegou a toalha e saiu do boxe, pediu para que ele virasse enquanto se trocava, depois pegou sua mochila e tirou a roupa que estava usando antes e começou a se vestir jogando a toalha molhada em cima dele, que olhou para trás.
— Hey, essa toalha está encharcada.
— Não olhe ainda.
— Desculpe, mas a culpa foi sua.
Willian se virou novamente, mas ainda viu a cor da cueca que ele vestia, dessa vez era vermelha e não branca. Ethan limpou a garganta e ele virou, mas para a sua surpresa ainda estava sem blusa, com a calça desabotoada e o nariz sangrando novamente; disse que era porque tinha olhado para baixo para abotoar a calça.
Ele lhe ajudou a abotoá-la e tentou estancar o sangramento o melhor que pôde, o mandou sentar e baixar levemente a cabeça segurando-lhe a nuca para lhe ajudar a apoiá-la e apertou o início de seu nariz fazendo pressão, quando começou a estabilizar o sangramento ouviu-se passos no lado de fora e ambos se sobressaltaram.
Ethan acabou se desequilibrando do banco ao tentar se por de pé e Will o ajudou a se equilibrar girando o corpo e sentando-se o segurando pelo quadril, ele também se agarrou aos seus ombros para evitar cair e pôs um joelho sobre suas coxas, então Gabriel entrou no vestiário e encontrou a seguinte cena: Ethan de pé sem blusa e com o cinto desfeito em frente a um Willian ofegante e nervoso pelo susto, sentado no banco e agarrado aos quadris do garoto que segurava seus ombros com força e tinha um joelho apoiado em sua coxa direita.
Will não precisava nem perguntar o que ele estava pensando, pois só o olhar de Gabriel já dizia tudo. O garoto ergueu uma sobrancelha para os dois, mas não era do tipo que falava demais, então não fez nem um comentário maldoso na frente de Ethan, que parecia prestes a explodir de tão vermelho e vestia a blusa, enquanto tentava calçar os tênis apressadamente sem se importar com o fino fio de sangue que escorria de seu nariz, em seguida pegou a mochila colocou nas costas e seguiu para a saída, mas antes de sair parou e virou lhe encarando.
— O-Obrigado, Willian, por agora e por mais cedo também. Mesmo que eu não estivesse precisando da sua ajuda, você me ajudou. Quem sabe depois eu possa te ajudar também, afinal não gosto de ficar devendo favores a ninguém.
— Ah, tudo bem; eu vou cobrar a sua dívida. — Will falou sorrindo, o garoto retribuiu fracamente e desapareceu pela porta.
Só depois que Ethan desapareceu, ele teve coragem de olhar para Gabriel, que lhe olhava com uma sobrancelha arqueada em tom de acusação, Willian não sabia o que ele estava pensando, mas tinha certeza que não era boa coisa, por isso não queria saber.
— O que foi? Não se pode mais ajudar um calouro?
— Bom eu não sei que tipo de ajuda você ofereceu a ele ou ele te ofereceu, mas hey, eu não disse nada cara, quem está falando é você.
— Gabriel, estou te avisando, se isso sair daqui...
— Willian, você me conhece cara, sabe que eu jamais sairia espalhando o que você faz ou deixa de fazer com os calouros nos vestiários da escola, enquanto está todo mundo na educação física.
— Ah, vai se ferrar seu idiota.
— HAHAHAHA, o quê?! Não é da minha conta, só isso.
— Você é um péssimo amigo.
— E mesmo assim, você não conseguiria viver sem mim.
— Fazer o quê, né? Eu tenho um péssimo gosto.
— Não é o que parece! — ele falou apontando para a porta e Willian lhe deu um tapa no ombro, então saíram para a quadra, rindo juntos.
~ C O N T I N U A ~
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