Uma tórrida chuva cai sobre a cidade, quase transformando a manhã que no dia anterior era ensolarado em um fim de tarde cinzento. Os pés de palmeiras que enfeitam a rua n•7 dançam sob a ventania fria e forte daquele dia comum e monótono que todos levam.
Elton Malik mora em uma casa comum com seu padrasto alcoólatra que ele acredita ser o grande culpado pela morte de sua mãe.
Alberto passa as maiores horas do dia bebendo e fumando, coisas essas que deixam Elton bastante incomodado e indignado, visto que em ocasiões “especiais” o grandalhão barbudo e parrudo leva prostitutas para dentro de casa com o jovem ainda ali, sentado no sofá da sala lendo algum livro do Edgar Allan Poe.
Seu quarto era composto por pôsteres de algumas bandas de death metal e góticos dos anos setenta e oitenta, cartazes de filmes clássicos como “O que teria acontecido a Baby Jane”, “O Bebê de Rosemary” e “Um Corpo que Cai”.
Ainda deitado em sua cama e embaixo do edredom que cobria metade do seu rosto, Elton admirava a chuva que caia, e por horas permaneceu com os olhos fixos no lado externo de seu quarto, pensando em como deveria ser bom limpar o corpo e a alma com a água da chuva. Mas estava mentalmente exausto demais para fazer tamanha traquinagem.
Puxou o edredom e sentou-se na beira da cama, espreguiçando-se e bocejando. Caminhou até o banheiro, que fica logo após o quarto de seu padrasto, lavou o rosto e escovou os dentes. Voltou para o quarto, onde retirou de uma gaveta de seu guarda-roupa três peças de roupas: uma camiseta preta de uma banda de death metal, uma calça preta jeans convencional e um par de meias brancas.
Depois de vestido, calçou seus coturnos de couro preto, apanhou sua mochila e foi para mais um dia na escola.
Lembrou-se da chuva, mas não tinha uma proteção que o evitasse de chegar ensopado. Foi então que parou um carro rapidamente em frente à sua casa, um opala cinza.
Sua amiga Sabrina Hidalgo estudava no mesmo colégio e era do mesmo ano em que o rapaz. Imaginou que ele precisaria de uma carona.
-Vamos! O cracudo do porteiro não vai deixar os portões abertos esperando pela gente. - Sabrina falou estonteante e feliz.
A jovem tinha o mesmo estilo que Elton: amava musicas, filmes e culturas em geral. Andava sempre com seus cabelos escuros e lisos soltos e com uma bota preta de salto alto.
-Se ele aceitar uma pedras a gente pode até dividir uns no banheiro. - Elton diz, correndo até o carro e cobrindo a cabeça com sua mochila por conta da chuva.
-Está lindo hoje... está lindo sempre na verdade. - Sabrina começa a ajeitar o cabelo dele.
-Vai para a floresta hoje depois da escola?
Sabrina olha seriamente para ele -Só se você quiser. - Ela liga o carro e acelera.
-Eu quero. É o único lugar melhor do que a própria escola para ficar. Desejos reprimidos é uma droga.- Elton abaixa o vidro da janela do carro para sentir a brisa.
-A Nísia pode ir também?
-Para mim tanto faz. Ela curte mesmo uma loucura.
-Vou falar com ela no intervalo.
-Ninguém pode saber disso. Fique atenta de que ninguém vai estar por perto te ouvindo. A Nísia é porra louca e eu curto isso nela. Ela tem culhões pra fazer de tudo com a gente. - Elton alertou Sabrina.
-Ninguém vai saber Elton. Até porque, quem iria querer saber da gente, não é mesmo?!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.