Escrita por: LomelindeCalaure
Calaurë está presa nos pulsos por algemas ligadas a correntes que descem do teto. Ela tenta se firmar da perna que não está quebrada e no braço que não está deslocado. Um grande orc entra na masmorra. Segura ela pelo queixo, ela tenta se soltar e ele segura com força. Fala em um élfico embolado, as palavras saindo rudes e raspadas: "Eu sou o chefe por aqui. Vejamos, então você é uma Noldo? Estava sendo escoltada, então deve ser da realeza. Acho melhor você me dizer logo quem é você, parente de qual Rei e onde fica seu reino."
A elfa nega com a cabeça. O orc olha para seu braço e sua perna, sorri e vai até a parede e puxa as correntes, deixando ela pendurada, que geme quando a dor do ombro deslocado a atinge. Ele solta de uma vez as correntes e ela, sem estar preparada, põe seu peso na perna quebrada, mesmo cerrando os dentes o gemido sai mais alto.
O orc torna a perguntar e Calaurë nega a resposta novamente. Nervoso, ele estala um chicote no chão e faz vários golpes seguidos na sua perna boa, o que força ela a apoiar na perna quebrada ou em seu ombro. Morde os lábios até sangrar na tentativa de não gritar, sabe que vai perder o controle quando fizer isso. Ele fala sorrindo: "O que diz dessa sessão? Não precisava estar passando por isso. Você vai falar, mais cedo ou mais tarde." A elfa responde, controlando a respiração para não gritar: "Não, nunca!". Ele gargalha: "Hmm, então você fala, achei que fosse muda. Já estamos tendo um progresso. Agora só preciso fazer você gritar para soltar mais a língua."
Calaurë começa a cantar com os olhos fechados a música Eldalielindotaurë, mesmo com sua voz rouca, a lembrança é forte. Ela sente uma forte pancada nas costelas e é arremessada contra a parede mesmo acorrentada e perde completamente o ar depois de soltar um grito. O chefe dos orcs segurava uma clava ensanguentada e agora grita, enraivecido: “O que você estava dizendo mesmo?” Ela luta para respirar com suas costelas novamente quebradas. Lágrimas escorrem de seus olhos e seu corpo treme. “Sim, isso mesmo, melhor não dizer nada, a não ser para responder as perguntas. Acho que estou pegando muito leve com você. Fica cantando e tendo boas lembranças porque ainda não conhece a Mensageira, o Tenente e o Capitão de Angband. Eles logo dedicarão um tempo com você e tenho certeza que tudo se resolverá.” Ela consegue erguer a cabeça para ver ele mirar um golpe em sua perna quebrada e sente o osso romper a pele após o segundo golpe. Ela grita a planos pulmões e ao ouviu o próprio som se lembra de sua irmã.
*
Está em Aman, usava um vestido longo em tons de verde e tem um diadema dourado na cabeça com pedras Opala de Fogo, que ela sempre usava e que combinava com seus cabelos dourados que ultrapassavam a cintura e estão metade presos. Caminha escondendo entre as árvores da floresta de Oromë, ao Sul da Taniquetil, perseguindo a irmã mais velha.
Do nada Elenwë se vira, vê Calaurë, e solta um grito histérico entre dentes, irritada, exatamente como a mais nova também tinha mania de fazer. Ela diz: “O que você está fazendo aqui? Era só o que me faltava! Nossos pais não estão em casa, como conseguiu fugir? Não importa, devia ter te mandado para o vovô! Tá bom! Você pode me acompanhar, mas vai ter que ficar longe e manter segredo, que significa não contar para ninguém, nem mesmo para...” Calaurë interrompe, aborrecida: “Posso ser mais nova que você, mas não sou burra! E acho que já sei do que se trata seu segredo.” A mais velha faz uma careta para a mais nova e segue seu caminho. Quando chegam próximos a um riacho, avistam um elfo de cabelos escuros, sentado na margem. A árvore Gameleira próxima onde elas estão forma, com suas raízes, um banco. Elenwë fica estudando sua posição, que dá ao contrário para o riacho. Calaurë acompanha seu olhar, suspira e diz: “Ta bom, eu já entendi, vou ficar aqui. Ainda bem que trouxe minha harpa.” A mais nova senta e a mais velha sorrindo e vai se encontrar com Turgon.
Uma única vez Calaurë vira para espiar quando o elfo, ao ver a elfa se aproximando, levanta para cumprimentá-la em uma reverência, segura suas mãos e a beija, para depois se sentarem juntos próximo ao riacho. A mais nova suspira novamente e começa a tocar a harpa, de início fazendo um vocalize acompanhando os sons da floresta. Escuta os pássaros cantando, borboletas voando, latidos de um grupo de enormes cães e cavalos relinchando ao longe... Fecha os olhos, começa a compor uma música sobre aquela linda floresta, esquecendo de todo o resto.
Notas são tocadas em uma flauta, ela abre os olhos soltando um grito abafado de susto. O elfo sorridente está em pé próximo a ela, seu semblante divertido: “Peço desculpas senhorita, não queria assustá-la. Estava apreciando sua melodia sentado depois daquelas árvores e não me contive, queria me unir ao seu som, por favor, continue”. Ela, por um momento, ficou admirada com a voz forte de tenor que aquele elfo esguio tinha, era um som que ela não queria parar de ouvir. Ainda se recuperando do susto, ela olha apreensiva para trás onde sua irmã ainda está sentada conversando e rindo com Turgon e diz “Tudo bem, é que eu estou...” e não completa, sua voz aguda de soprano saindo levemente histérica de nervoso. O elfo quebra a tensão e fala animado: “Ah sim, acho que entendi. Estou aqui acompanhando Turucáno [Turgon]. Sou Ektelion [Ecthelion], meus pais, Sailien [Homem sábio] e Morefindwen [Donzela de cabelos negros] e eu seguimos a casa de Ñolofinwë [Fingolfin], é um prazer te conhecer.” Ele faz uma reverência e estende a mão. A elfa nervosa segura sua mão para que ele a beije. O cabelo preto azulado do elfo, que refletem as luzes em volta, estão metade presos em uma trança com um acessório de prata com pedras azuis, as mechas soltas caem sobre a mão da elfa durante aquele cumprimento. Ele não desvia os olhos dela e ela vê de perto seus olhos cinza, característicos dos Noldor. Mas diferente dos olhos cinza escuros e profundos que ela viu em Turgon e no resto de sua família, os de Ecthelion são claros como as estrelas, como Telperion. São os mais lindos que ela já viu. Ela não entende o motivo de estar pensando assim, engole em seco e responde: “O prazer é todo meu, Ektelion [Ecthelion] da casa de Ñolofinwë [Fingolfin]. Sou Calaurë, filha de Ingwion e Insil [Lírio], neta de Ingwe e irmã de Elenwë.” Ele se curvou novamente em respeito e disse “Princesa dos Vanyar”. Ela sorriu em resposta. Após um pequeno silêncio, ele finalmente soltou sua mão, mas não desviou o olhar e sorria, parecendo sonhador.
Ela deu espaço no banco-árvore e disse: “Sente-se ao meu lado. O senhor também gosta de compor?” Ele agradecendo se sentou, mais perto do que ela imaginava que iria, mas ele parecia alegre com a situação, como se estar ali escondido para que seu senhor tivesse um encontro fosse uma coisa muito divertida, diferente de Calaurë e sua irmã. O elfo respondeu: “Sim, adoro tocar flauta, sinto como se ela fizesse parte de mim, do meu corpo. Mas Findecano [Fingon] fala que é um desperdício, já que segundo ele, minha voz é forte e bela para o canto, lembro que isso me deixou envergonhado, pois meus pais falam que minha voz parece um trovão, principalmente quando fico nervoso. Mas agora gostaria de saber sobre você.” Ele diz rindo, o som saindo já como uma música. Ele olha para ela com interesse. Ah, aqueles olhos, ela com dificuldade desvia deles para pegar a harpa que tinha deixado do outro lado do banco de raízes e dedilha suas cordas levemente. “Sim, eu também adoro compor. Gosto muito de poesia e adoro a harpa, pois com ela consigo cantar junto. Aprecio como os sons das palavras podem ser pontuados pelas suas notas, principalmente quando falam da natureza. Sobre minha voz, já me falaram que grito exatamente como minha irmã quando estou irritada, o que pode ser extremamente agudo e ouvido a uma longa distância.” Nessa última frase ela ri e olha para ele para ver sua reação, ele também ri, imaginando como poderia ser. Ele admira a elfa, seus cabelos dourados brilhantes como Laurelin, seus olhos azuis como as águas das fontes de Tirion.
Parecendo desconcertado, como se tivesse saído de um encanto, ele pega a sua flauta de um suporte na cintura e diz: “Acho que podemos voltar a sua composição, pois seu riso já é música para meus ouvidos. E seu sotaque Vanyarin é muito bom de ouvir. E se me permite, me juntarei a você.” Ela concorda com um aceno de cabeça e diz: “Pode se juntar a mim. Mas eu falo Quendya** normalmente e não tenho sotaque! Você é que tem”. Rindo, fecha os olhos e tenta prestar atenção novamente nos sons da natureza, mas uma imagem está em sua mente, olhos cinza brilhantes, ela sorri, tocando a harpa. Quando um belo som de flauta une a sua melodia, ela começa a cantar. Não só sobre a natureza, mas também sobre a beleza dos Eldar. Turgon e Elenwë se juntam aos dois após um tempo e eles compõem o Eldalielindotaurë [Floresta dos elfos cantantes].
*
Calaurë perdeu as contas de quantos golpes foram. É arrastada de volta para a cela. Só não perde a consciência porque as lembranças de Ecthelion e da música a fortaleciam.
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