EDEN
Parte XIV - Rock and Roll
“But I don't wanna lie to tell myself
I’m more than all the mistakes I've out run”
Acordar é como despertar de um pesadelo: você sobressalta-se e todos os seus instintos parecem estar em estado de alerta.
Inspira fundo, tentando normalizar a respiração. Seus olhos medem o perímetro e não demoram a localizá-la. O pescoço inclina-se levemente para o lado.
Então, estar acordada é um pesadelo.
Yoongi dorme em um sono profundo ao seu lado. Fitá-lo tão serenamente a remete às cenas que o cansaram tanto.
Uma, duas, três marcas. Você conta enquanto são visíveis no peito nu dele — há muitas outras sob o lençol. O fluxo respiratório trava novamente quando você se volta ao próprio corpo.
Sua mente se torna lembranças e elas se resumem a suor e corpos e gemidos e beijos e traições.
A presença de Jungkook em tais memórias a leva a procurar pelo moreno. Você inspeciona visualmente cada canto do quarto e, se não tivesse certeza de que o ouviu arfar em seus ouvidos durante longos momentos desta madrugada, diria que ele nunca esteve no local.
Mas ele esteve. Jungkook esteve em cada centímetro deste lugar. E, assombrosamente, isso a inclui.
Jungkook esteve dentro de você. E Yoongi também. E, como se o fato por si só já não fosse o suficiente, não é ele que a perturba.
O que a perturba é que eles, aparentemente, não estavam alheios ao corpo um do outro; conheciam-se bem.
E você quer morrer. Quer morrer porque se sente uma idiota. E quer morrer porque Yoongi a fez de idiota. E quer matar Yoongi por isso.
Seu peito sobe e desce em um ritmo completamente descompassado; seus cílios tremem e a visão fica turva ao tornar a mira para o loiro outra vez. Você comprime as pálpebras com força ao perceber o quão fácil seria asfixiá-lo com um travesseiro. Ou colocar fogo no recinto e deixá-lo para trás conforme queima.
Você ri ácida com o pensamento. Sabe que é ridículo porque nunca conseguiria executar algo assim. Seu corpo se encolhe, coberto apenas pelas peças íntimas maltratadas, e suas costas encontram a cabeceira atrás de si.
Sua consciência perde o controle e você se faz em desordem. Ao mesmo tempo, lágrimas quentes e silenciosas começam a escorrer por seu rosto, em caminhos sinuosos e arrependidos.
Desde quando isso acontece? E por que ele nunca a falou? Por que ele deixou que você acreditasse em mentiras? E por que diabos ele as contou? Mentiroso. Um filho da puta mentiroso.
Um filho da puta mentiroso no qual você despejou seus sentimentos e confiança.
O número de palavrões e ofensas pelos quais você se referiu a Minha Yoongi já é enorme no instante em que passa a desbocar sua frustração no garoto de sobrenome Jeon também.
Todos uns fodidos. Pessoas que você deseja encontrar no inferno.
E Namjoon? Não é diferente. Nada legal que ele a disse é válido se o rapaz contribuiu com o seu papel de otária ao não dizer a verdade.
Talvez incendiar o hotel não seja uma ideia tão absurda assim. Mas só com os três dentro. Quatro, cinco: Seokjin e Catarina também merecem.
Você seca as lágrimas com raiva; os dedos tremendo em nervosismo e frustração. Seu queixo treme quando você pisa para fora da cama. E você tem certeza de que a única coisa que continua a te mover nos minutos seguintes são provenientes de todo o tipo de sensação suja que a embrulha o peito.
Recusa-se a olhar no espelho e a fazer qualquer barulho enquanto abre a porta do banheiro e o adentra. Não quer ter de encarar Yoongi e muito menos a si mesma. Ainda assim, sente-se tremendo e sabe que não vai parar tão cedo.
A porta é trancada e você não faz pausas, já removendo o sutiã e a calcinha que a cobriam no caminho para o box. Desvia o olhar quando ergue a mão para abrir o chuveiro e levanta o pescoço enquanto lava o seu corpo.
Não quer ver. Não quer lembrar. E não quer acreditar.
O que não muda o avermelhado em cada parte de si onde fora tocada por eles. Você quis isso. Francamente, você se recorda dos muxoxos que soltara e de ter tido mais orgasmos do que conseguiria contar.
Yoongi fez isso. E Jungkook fez isso. E você fez. Os três. Juntos. Absurdamente juntos e querendo isso.
Todavia você estava bêbada — eles também, uma vez que tenham ingerido álcool em sua ausência. E, sóbria, só consegue ponderar quantas vezes a saliva de Jungkook não fora parar em sua boca sem que você soubesse ou quisesse. Quantas malditas vezes eles se tocaram e, sem dizer-lhe, Yoongi veio tocá-la em seguida?
Quantos palavrões mais existem no dicionário? Você ainda acha que não é um número suficiente para canalizar sua raiva.
Você não olha para a cama até ter certeza de que pegou tudo, mas não faz questão de levar as roupas que usara no dia anterior. Seu cabelo está molhado e suas coisas estão desajeitadamente enfiadas dentro da bolsa. Tudo foi guardado tão rápido quanto você conseguia, mas não tão rápido quanto você gostaria.
A alça grossa é jogada por cima dos seus ombros e, finalmente, você consegue olhar em direção a ele.
Yoongi ainda dorme. E você ainda está acordada — gostaria muito que estivesse dormindo e tudo não se passasse de um sonho.
Foi real, no entanto. E é por isso que você engole cada sentimento junto com o pranto a espreitar sua garganta de novo e saí pela porta, desejando que o baixista suma da sua vida assim como você planeja deixar a dele.
É cedo. Tão cedo que boa parte dos comércios locais nem se encontram abertos. Até a recepcionista do hotel está dormindo sentada quando você passa pela recepção — e agradece por isso, já que não está a fim de encarar a ela ou a qualquer um.
Anda de cabeça baixa pela rua. O céu acende azulado e aberto, num indício de um iminente dia ensolarado que você no momento abomina.
Algo dentro de si quer que chova e troveje a tarde inteira. Talvez porque você se encontra assim emocionalmente e talvez porque não consegue aceitar que as coisas estejam bem. É inaceitável que o sol saía e que as floriculturas abram. É completamente inadmissível que o universo siga com o seu fluxo habitual sem se importar com a dor que você sente agora.
Seus pés, anteriormente fracos, iniciam passadas fortes e quase perigosas. Você está furiosa e saber que o problema é todo e inteiramente seu somente agrava tamanha ira.
Você para em um ponto de ônibus. Todas as nuvens que não estão no céu cobrem sua mente e a impedem de pensar antes de agir. Um dos veículos passa e você nem verifica o destino, dando sinal e entrando nele. O motorista não tem certeza se deve perguntar o porquê de você estar chorando.
Não tem convicção de onde está. Desceu do ônibus quando não aguentou mais os olhares estranhos para a garota descabelada e chorando com a cabeça apoiada na janela. Sinceramente, você não entende o espanto dos terceiros. Também chorava assim de vez em quando, indo para a faculdade, e ninguém ligava. Talvez fossem os chupões enormes em seu pescoço ou a mala de viagem no banco ao seu lado. Que seja.
No momento, você não sabe dizer nem que horas são mais. Nem como encontrou este café, tampouco quantas doses o atendente já a deu. Mas você tem certeza do que disse para ele assim que chegou:
— Tem como você colocar álcool no café?
O rapaz atrás do balcão não acreditou no que ouvira. Você não se incomodou em repetir. De todo modo, os dois ficaram satisfeitos em testar as habilidades dele para com o chamado “café cubano” cuja teoria ele aprendeu durante seu treinamento.
E quem diria que rum e cafeína seriam uma mistura tão boa.
Você se sentou em uma mesa próxima à janela e bebeu. Então bebeu de novo. E de novo.
O garoto começou a contestar a decisão de ter dado álcool para uma moça chorando antes de a entregar o segundo copo, mas só parou definitivamente após o terceiro.
Já havia álcool o suficiente em sua corrente sanguínea para todo um final de semana agitado. E seus finais de semanas não costumavam ser agitados antes de Yoongi chegar.
Você não sabe quando voltou a chorar porque nem se lembra de ter parado. Seu cérebro grogue apita num pedido urgente para que você ligue para Yerin e peça para ela vir a Seul te buscar, porém é um alarme longínquo demais para ser notado e seguido.
As lembranças com e de Yoongi ainda estão muito perto. E, que droga. Que droga de mãos incríveis e de olhos lindos; que droga de beijo maravilhoso e de língua sem caráter.
Como diabos alguém pode beijar tão bem quanto mente?
Desnecessário. Redondamente desnecessário. Odioso. Repugnante.
Você quer pegar suas coisas e sair dali no momento em que o jovem atendente de sobrenome Jung recusa-se a serví-la mais álcool. Ele é uma boa pessoa, afinal:
— Eu não vou deixar uma garota bêbada por aí. Sabe como é perigoso? — adverte. Ele não a toca enquanto arrisca o próprio emprego, colocando-a dentro da cozinha da cafeteria. Mas segura sua bolsa pesada e mede cada passo seu com zelo e preocupação. — De jeito nenhum. Onde está seu namorado?
— Com sorte, ardendo no fogo do inferno. — replica, arrastada e desajeitadamente. — Aquele cuzão. Filho de uma puta. Puto. Escroto. Vagabundo mentiroso. Aquele ca-
— Okay! — interrompe-a. — Calma. Escosta ali — indica o balcão da cozinha apertada. Você faz o que a foi pedido. — Ótimo. — respira fundo, parando no canto oposto do recinto. Mira-o, quase rindo da expressão preocupada dele. Seus olhos se estreitam e você consegue ler o nome no crachá com certa dificuldade: Jung Hoseok. — Não devia ter te dado o café cubano. — repete pela enésima vez.
— Claro que devia. — revira os olhos, o que acaba a deixando tonta. Você segura no balcão atrás de si antes de continuar — Eu ia beber de qualquer jeito. Se não tivesse álcool no café, eu bebia o álcool depois. — explica. E é a vez de Hoseok rir.
— Você brigou com seu namorado? — ele indaga, cuidadoso.
— Você deixou a cafeteria sozinha? — rebate.
— Virei a placa antes de vir pra cá — esclarece, tentando soar o mais claro possível para a sua mente varrida a rum.
É como ser Jack Sparrow por toda uma manhã.
— Ele não era meu namorado — começa, resmungando —. Mas, sabe, achei que estivéssemos juntos. Até falamos que estávamos mesmo…
— E não estavam?
— Mais ou menos. Não sei se estar com duas pessoas ao mesmo tempo é estar junto de alguém. — dá de ombros.
— Uou. — ele sopra, surpreso.
— Eu sei. — ri, afobada. — Eu me senti a Taylor Swift — gargalha. Mas não demora a sentir outro nó se formar em sua garganta — Olha, não indico, não. Foi bem ruim.
— O que você fez? Digo, com ele e a outra. — continua, engolindo a seco.
— Outro — corrige — E... Transei com os dois. — é ridículo: você está rindo e chorando. — Eu tinha bebido. Não me passou na hora o que aquilo significava. Eles também beberam. E fumaram. Antes de eu chegar, sabe? Porque o quarto estava com cheiro de maconha.
— Você não precisa me dar tantos detalhes — ergue as mãos, indicando que pare.
— Foi ótimo. Eu não sabia que conseguia fa-
— É sério! — cobre os ouvidos e fecha os olhos, exasperado — Você não precisa! Meu Deus. Eu vou pedir reforços. — diz, ainda comprimindo as pálpebras.
— Tá bom. O rum tá acabando, mesmo. — sorri entre as lágrimas. Uma loucura.
— É só rum que você quer? — relaxa o corpo ao perguntar.
Seus lábios tremem e você balança a cabeça para lá e para cá, meneando-a em negação.
— O que você quer, então?
— O Yoongi — responde de imediato —. No inferno. Idiota. Idiota! Eu sou muito burra!
Hoseok suspira.
Algumas horas se passaram até o “reforço” chegar. Você já dormiu sentada no chão e desesperou Hoseok várias vezes nesse meio tempo — não é difícil alarmá-lo, na verdade. Mas o Jung também a fez ingerir pelo menos dois litros de água e comer alguns lanches, o que a ajudou a voltar ao estado são. Ele até a medicou quando reclamou de dor de cabeça.
E ainda é ridículo.
— Ela está lá dentro. Chegou aqui de manhã. — ouve a voz do atendente dizer. Sua cabeça lateja, em pontadas que refletem todos os erros que você cometeu desde que Yoongi adentrara aquela outra cafeteria pela primeira vez.
São muitos erros. Incontáveis. Como você deixou tudo isso acontecer?
— Qual o nome dela, hyung? — outro timbre questiona. Sua cabeça dói ainda mais intensamente; os olhos arregalam-se o mais largamente que o desconforto permite.
— Bae. — Hoseok retorque. A porta da cozinha se abre em sequência. E você quer morrer de novo.
— Kim Taehyung? — sopra, descrente. E ele parece tão surpreso quanto você.
— Bae? — ouvir seu nome sair pelos lábios dele é a mais esquisita das nostalgias, uma vez que ele nunca saira neste tom: o chocado.
Você nunca chocou Kim Taehyung enquanto sua namorada. Sempre fora uma pessoa tediosamente previsível.
— O que aconteceu com você? — ele dá outro passo para dentro, dando espaço para que Hoseok entre também.
— Você conhece ela? — O Jung pergunta, confuso.
— Bae foi minha primeira namorada. — não olha para ele ao dizer. Taehyung mede-a de cima a baixo.
Você se sente envergonhada. Fraca. Indigna.
O Kim está ótimo: os trajes sociais e o cabelo bem penteado. As logos caras em suas peças indicam o quão bem sucedido ele se tornou.
Você ri sozinha, irônica, porque sempre soube que não poderia ser diferente.
— O que aconteceu com você? — ele repete. E você não sabe responder essa pergunta.
Kim Taehyung e Jung Hoseok moram juntos. Eles dividem um apartamento cujo o aluguel é pago com o salário de seus respectivos empregos, meio a meio. Também fazem faculdade juntos.
Você quer rir do seu azar até explodir. De tantos cafés em Seul, foi escolher entrar bem no que o melhor amigo de seu ex trabalha.
Taehyung pediu-a seu telefone celular e para que colocasse a senha nele. E por mais idiota que pareça, você o fez.
Olhar para o Kim agora é muito diferente de olhar para o seu namorado do ensino médio. Vocês não se reconhecem mais, são pessoas completamente diferentes. Entretanto, você, estranhamente, confia em Taehyung. Ou apenas não se importa o suficiente para desconfiar.
A verdade é que você é pura ira e desinteresse; explosão e letargia.
Tanto faz para você.
Pela primeira vez em anos, você experimentou sentir algo. Apostou cada uma das suas fichas nesse sentimento. Deixou a faculdade, a cidade, o emprego e a melhor amiga. Tudo.
Sente-se de bolsos e peito vazio.
Você suspira, observando Hoseok e Taehyung conversarem mais ao canto. É grata a eles. E, acima de tudo, sente-se confusa.
Mirar Taehyung é como mirar um reflexo distorcido de seu passado.
— Vamos. — O Kim a chama após alguns minutos — Já liguei pra ele. Vou te levar até lá.
— Não pedi para que me levasse a lugar algum — rebate, com o cenho franzido.
— Espera que deixemos você assim? — arqueia as sobrancelhas em sua direção. Então para, respirando fundo e abaixando o rosto. — Bae… — fita-a sob os cílios. — Eu não sei bem o que aconteceu com você. Mas eu me lembro de quem você era. — faz uma pausa — Você não se orgulharia disso. Volte para casa — estende-a o celular. — Estude. Se forme. Consiga aquele emprego que sempre quis. Mas… Por favor, não estrague a sua vida por uma mentira.
Um soco no estômago. Não, vários socos: o discurso é como uma partida de UFC e Taehyung acabou de a nocautear.
Você não responde. Não olha. Não reage. A única coisa que faz é aceitar seu celular, apanhar sua bolsa e sair pela porta da cozinha.
— Aonde você vai me levar? — não olha-o por cima dos ombros para perguntar.
Taehyung não tem um carro. Mas o Uber já estava os esperando do lado de fora. Você agradeceu Hoseok e o pagou pelos cafés cubanos — ele não aceitou dinheiro por mais nenhuma de suas cortesias.
“Não se paga por gentileza”, lembra-se de ouví-lo dizer.
Mas se paga por erros. E você está cheia deles em sua bagagem.
Taehyung sentou-se no banco da frente, ao lado do motorista, deixando-a sozinha para pensar atrás.
É uma vergonha que você não tenha se esquecido da imagem de Yoongi em momento algum. Nem dá de Jeon. E da raiva pelos dois. E de… Saco.
Você suspira pelo que deve ser a milésima vez em poucas horas. Assiste o sol se pondo e percebe que foi um dia inteiro se metendo e saindo de confusões.
— Disse-me que estava vindo te buscar. Vou esperar com você. — o Kim notifica ao chegarem ao destino, pagando o motorista enquanto o faz.
— Não. — você nega. — Por favor, por respeito ao que tivemos, peço que me deixe fazer isso sozinha — responde.
Ele a mira sobre os ombros, sinuoso.
— Não gosto dessa ideia.
— Vou ficar bem. Acredite — afirma, querendo sair o mais rápido possível deste carro e ficar sozinha enquanto Yerin não chega para salvá-la.
— Okay… — murmura. — Salvei meu número em seu celular. Me ligue caso precise de algo. — diz. Você assente, já saltando pra fora do carro.
— Pode deixar. Muito obrigada e desculpe-me por te causar problemas — pede, verdadeiramente acanhada. Ele sorri.
— Está tudo bem.
Você se afasta do carro rapidamente, escutando Taehyung solicitar uma corrida avulsa para o motorista. Eles se vão e você se apressa em alcançar o celular.
Não lê o número do Kim antes de excluí-lo.
Um alívio toma conta de seu corpo. Espera que ele não tenha salvo o seu número no telefone dele também.
Tudo o que quer é apagar os dois garotos de seu passado. Kim Taehyung já fora há muito esquecido.
Min Yoongi está longe disso, no entanto.
— Bae? — o timbre soa atrás de si. Você reluta, apertando a alça da bolsa contra o corpo e fechando os olhos. O sol termina de se pôr ao horizonte e o vento a enrola num abraço melancólico. — Bae? — repete. E você quer chorar de novo.
O destino ao qual Taehyung se referia é um hospital. Você está parada em frente a ele, com os pés fixos na calçado como se concreto houvesse os unido. E você não havia contestado o lugar até este instante. É um local grande e conhecido. Ótimo ponto de encontro para que Yerin a busque, certo?
O único problema é que Yerin não está aqui. E você checa o registro de chamadas ao perceber que Taehyung sequer citara o nome dela durante a conversa: o contato de Yoongi foi o único discado na última hora. E a te ligar por todo o dia.
Porra. Você deseja não ter deletado o número do Kim apenas para telefonar o amaldiçoando.
— O que você tá fazendo aqui? — pergunta, ainda congelada na mesma posição. — Que porra você tá fazendo aqui, Yoongi? — sua voz começa a embargar outra vez.
— Bae, por favor… — sente-o aproximando-se. Você cerra os punhos, nervosa. — Você tem que me deixar explicar.
— Eu não quero ouvir mais mentiras, Yoongi. — ergue o rosto, fitando o céu cor de início de noite acima de si.
Ainda faz calor. E mesmo a noite é límpida como a água. Os prédios se estendem sobre você; as luzes ligando-se pouco a pouco enquanto você se apaga.
— Eu não menti. — a voz dele soa baixa e aturdida. Ele está mais próximo e sua respiração, mais ofegante.
— Vá se foder. — tenta não deixar o choro transparecer, mas seus vocábulos saem trêmulos e inconsistentes.
— Bae, olha pra mim — implora, numa lamúria seca e perturbada.
Você se vira como um robô: o tronco duro e os braços rígidos. Seu rosto não soube o que é estar enxuto durante todo o dia e não é diferente neste instante; o cabelo castanho e seco naturalmente esvoaça-se numa libertinagem comandada pelo ritmo da brisa morna. Você é nuvem carregada. E, assim que se depara com Yoongi, faz-se em tempestade.
O loiro está acabado. É uma imagem completamente distinta da que vira na cama hoje de manhã: tudo o que ele não sente é serenidade. Yoongi treme e parece ter chorado tanto ou até mais do que você.
A fragilidade inesperada a desperta uma vontade de cuidá-lo. E tal vontade a faz querer socá-lo até que ele desmaie.
São muitas coisas e muitos desejos e muitos pensamentos. E você não está conseguindo filtrá-los como devia.
— Eu odeio você. — sopra, chorosa e frustrada. — Yoongi, eu odeio você! — seus pés, finalmente, se erguen do chão, empurrando-se contra o mesmo em seguida, numa corrida curta até o corpo masculino em sua frente. — Você é ridículo. Mentiroso. Nojento. Você ferrou a minha vida — a cada passo, um ponto final.
— Eu sei. — é tudo o que ele diz. Todo o seu corpo treme quando você levanta o olhar, prendendo-o ao dele.
E, mais do que qualquer coisa que ele tenha feito, você odeia continuar apaixonada, mesmo assim. Completa e ridiculamente apaixonada.
— Eu odeio você. — reafirma, deixando as lágrimas caírem livremente por seu rosto. Ele balança a cabeça, concordando. — Você ferrou com a minha vida. Toda ela. Você me fodeu. Em todas as ocasiões e sentidos possíveis. E eu odeio você — agarra o cabelo com força, quase soltando seu celular no processo. — Céus! Eu odeio você! — grita. E ele apenas concorda novamente.
Você ferve. Quer que ele diga alguma coisa. Quer que ele tente explicar. Quer que um raio caia nele. Quer que ele morra. Quer que ele a abrace.
Quer que ele suma. E quer que ele fique.
— Eu odeio você. — torna a repetir. Yoongi está assentindo sem parar. E, surpreendendo-a, ele também começa a chorar — E eu odeio o Namjoon. Odeio Seokjin. Odeio a Hani. Odeio o Dawon. Odeio. Odeio! Odeio você e odeio o Jungkook! — as pessoas começam a olhar torto. Você não liga. — Me responda! — sente seu peito tremer. — Diga alguma coisa! Você não quer dizer mais nem uma mentira? Nem umazinha?! Não quer me dizer o que acontecia com Jungkook? Me contar onde aquele filho da puta está?! — arrasta a mão até seu rosto, pressionando-a contra a pele com certa força.
Yoongi desvia o olhar. As lágrimas dele são silenciosas, como a de alguém que já se cansou de chorar. Em silêncio, ele ergue o braço esquerdo, apontando para dentro da construção.
— Que porra, Yoongi! Me responda! — insiste, exasperada, não compreendendo o gesto do rapaz.
— Ali dentro. Ele está ali dentro. — enfim diz, rouco. Você para, confusa; surpresa pela resposta baixa demais para os seus gritos.
— O que quer dizer? — respira fundo, dando um passo para trás.
O Min ergue o olhar, sorrindo lúgubre:
— Jungkook teve uma overdose.
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