1. Spirit Fanfics >
  2. Editora Sharingan >
  3. Parte XXXVI

História Editora Sharingan - Parte XXXVI


Escrita por: ksnrs

Notas do Autor


Naruto não me pertence e seus personagens também não.
O intuito dessa fanfic é totalmente interativo e sem fins lucrativos.
Por isso, não me processem, por favor. Não tenho como pagar uma fiança e da cadeia não dá pra postar.

Boa leitura!

Capítulo 36 - Parte XXXVI


Não preciso nem olhar pra ele pra saber que o Kakashi tá nervoso. E é comigo, óbvio. Como se eu tivesse fazendo muita coisa errada...

- Sakura, será que dá pra você vir comigo, fazendo favor?

- Tô ocupada, Kakashi. Daqui a pouco eu vou.

Dessa vez ele não suspirou. Deu foi uma bufada mesmo. Eu fico puta de ter que passar por isso na frente dos meus colegas de trabalho, que não tão nem respirando aqui do meu lado. Foda de verdade.

- Eu preciso dizer que você tá ocupada trabalhando pra mim? E que se eu tô te chamando, você pode muito bem parar aí pra vir ver o que eu quero?

Não acredito nisso.

Alguém me explica uma coisinha aqui porque eu não tô entendendo: quem tá me chamando é meu noivo ou meu chefe? Porque claramente ele tá misturando uma coisa com outra, não tá? Sério, se ele tiver chamando a noiva, usando desse poder de chefe, tem alguma coisa muito errada. Agora se ele tiver chamando a funcionária e tiver sendo grosso desse jeito...

Eu só vou pra poder mandar ele à merda com privacidade. Os meninos não precisam ver isso.

- Fala, patrão. – também não vou deixar passar em branco. E ele, claro, ficou ainda mais puto, sentado lá na cadeira chique dele.

- Credo... um dia perto do Gaara e você já tá igualzinha a ele. – é mole?

- Pra isso que me chamou, Kakashi? Pra fazer comentários sobre a minha personalidade que combina com a do Gaara?

OH, FUCK YEAH! Dessa vez, quem deu o tiro fui eu! Esse homem ficou até pálido e foi PERFEITO! Porque se ele disser que não, eu deixo claro que ele disse isso. Se ele disser que sim, ele mesmo vai estar confirmando.

Tiveram poucas vezes na vida que eu fui tão foda falando e não escrevendo. Queria que tirassem uma foto desse momento.

Pela expressão, ou o Kakashi vai me xingar até cansar, ou vai recuar. Conhecendo esses padrões de instabilidade dele, aposto no recuo. É sempre assim: ele me força até o limite e quando eu grito, ele volta atrás fazendo de conta que não era intencional.

- Nossa, linda.  – ih, magoou. – Não fala assim que eu me sinto até mal...

- Tá. Me chamou por quê?

- Por nada, Saky... Eu só queria te ver um pouquinho. Já é quase seis horas, depois eu vou ficar aqui até mais tarde... Vem cá.

RESISTA, SAKURA! Esse colo é onde tudo se embosteia de vez.

- Vamo ver o que você vai me responder, Kakashi. Dependendo da resposta, eu até sento no teu colo. – gente, acabou a paleta de cores dele. Tá variando entre branco e cinza. – Eu vou pra casa da Ino depois que sair daqui.

Ah, lá. A cara fechou.

- Vai fazer o quê, lá? – arrumar meu antigo quarto.

- Conversar, Kakashi! Faz tempo que eu não falo com ela.

- Sei. Vai ser igual sexta, que você vai chegar em casa com aquela cara de “desculpa, menti pra você?”

Essa é a parte que eu entro em conflito. Porque ele tem razão de me atacar mas se me desculpou, desculpou. É, Sakura... negócio tá feio pro teu lado. Daqui a pouco tá jogando coisa na tua cara de quando você era só a aluna retardada dele.

- Você quer ligar pra ela, pra ver se eu vou mesmo, ou já vai falar que não quer que eu vá direto?

- E eu lá te impeço de fazer alguma coisa, Sakura?! Se eu tivesse esse poder todo, passava bem menos raiva...

Eu não acredito que ouvindo isso.

Alguém rasgue meus tímpanos, por gentileza. Ou os dele, porque dessa vez eu vou rir. Tô segurando essa risada irritada pro Kakashi faz tempo demais.

- Tem razão, eu sou péssima. Não sei nem porque você insiste em ficar comigo.

Mais uma vez a expressão ficou estática. Mais uma vez ele empalideceu. E, mais uma vez, eu vi aquela cara ridícula de boca abrindo e fechando, tentando por voz na merda clichê que vai me mandar. E que eu vou cair, porque eu sou uma asna que sempre cai.

- Porque eu te amo, minha linda. – ah, lá. Até levantou pra combinar o ataque de palavras com as mãozonas me abraçando. Não tô curtindo. – Eu só não quero que você escape de mim de novo.

O “de novo” não precisava. Nunca escapei, sempre saí pelas minhas próprias pernas.

- Tranquilo, Kakashi. E aí, você vai achar muito ruim se eu for lá na Ino?

- Não, amor... Pode ir. Você vai demorar muito?

Olha só... Tá mansinho, né?

- Não. Eu vou ficar lá com ela. O Sai tem umas aulas, sei lá... E você também tem que adiantar seu Kakashi-sensei, não tem?

- Tenho, tenho.

- Quando sair daqui, você passa lá pra me pegar. Pode ser?

Caraca eu vi o exato instante em que o rosto dele saiu do bonzinho pro desconfiado. Lá vem.

- Sakura, vai ser só vocês duas, né? – vixe. – Porque sexta tinha gente lá na casa dela que eu não quero que você tenha contato.

Ai, saco.

- A pessoa que você não quer que eu tenha contato, mas que contratou pra trabalhar perto de mim? – sem paciência pra essas gracinhas, Kakashi. – Não. Essa pessoa que você não quer que eu tenha contato mas que trabalha perto de mim não vai estar lá.

O bom é que ele já sacou que eu não tô pra brincadeira.

- Não acha ruim comigo, linda... – fácil falar. – Vocês não querem ir lá pra casa? Eu ia ficar tão mais sossegado...

- Ah, Kakashi, tem dó! É sério mesmo?

Agora me explica. Eu ligo pra Ino e falo assim: ó, Kakashi achou ruim de eu ir aí mas vem aqui em casa, onde ele fica de olho pra saber se somos só nós duas e depois pede um relatório pro porteiro. Pensa bem no que que a porca ia falar.

- Só dei uma ideia, Saky. Guarda suas facas que hoje elas tão todas apontadas pra mim. – ah, querido. Não fala isso, você ainda não viu nada. – Quer ir pra casa da Ino, vai. Só espero que, dessa vez, não tenha nenhuma mentira envolvida.

Essa é a minha deixa. Sei que errei, mas não vou pagar por isso a vida inteira. Não mesmo.

- Beleza, Kakashi. Me pega quando sair daqui.

Não fiquei nem pra escutar o que ele tava falando. Voltei pra minha mesa pra encontrar os problemas da minha vida conversando numa boa, como se nada tivesse fodendo com a minha cabeça.

Alguém precisa explicar pro Gaara que a minha mesa não é território dele.

- Sai daí. – sem saco. Nem pra ele.

- Vixe, brigou com o noivo. – você ia achar bem ruim, né?

Só que é a segunda vez que ele vem com essa de noivo e tem gente esperta demais por perto, pra deixar passar de boa.

- Que negócio é esse de noivo? – Sasuke adora um mistério.

- Não é nada.

Falei isso porque tentei ficar na minha, né? Pois é. Um certo demônio maldito achou que significava alguma coisa. Me mostrou aquele monte de dentes lindos dele e, assim, esse cacete desse Gaara nunca tomou antibiótico? Porque fuma e toma café e esses caralhos desses dentes podiam fazer propaganda de clínica de dentista.

A do antibiótico é porque a Mebuki dizia que ele estraga os dentes. Doce também. Mas era melhor comer bala do que tomar remédio. Ainda acho.

- Tá me olhando com essa cara de bobo, por quê?

- Não sei. Tô só pensando numa coisa aqui. – sei o quê. – Não tem mais noivado?

- Cala a boca, Gaara. – eu queria ter dito isso sem rir. Mas tô aqui, a própria pamonha, cheia de risadinha.

Corta minha vibe, Sasuke.

- Você e o Kakashi tão noivos?!

- Porra, Sakura! Nem combinando com você de casar, você vai me dar uma chance?! – olha o outro, dando close errado. – Casa comigo, Sakurinha! Vamo adiantar pra 24 e 23. Olha aí! Fiz vinte e quatro hoje! Você tem que casar! Rá! Chupa, Kakashi!

Tem como não rir de um maluco desses? “Chupa, Kakashi?”

- Cala a boca, Naruto. – vixe, entrou o sibilo. – Vai casar com você porra nenhuma, não.

- Ih, Naruto... vai entrar na briga. – alguém diz pro Sasuke não pôr pilha. – Se da outra vez, que ele falou que não ia disputar, levou ela embora, imagina se o Gaara quiser brincar a sério?

Tamo todo mundo lascado, moço bonito. Eu, inclusive.

- A Sakura não é do tipo que casa. – ah, lá. Pensa numa pessoa que me conhece: Gaara. – Tava achando até estranho essa história de casamento mesmo.

- Mas você vai casar, Sakurinha? Não me fala isso, pelo amor de Deus! Hoje é meu aniversário, não me dá essa notícia terrível! – exageraaaaado.

- É, Sakura... é sério isso?

- Não, Sasuke... Quer dizer, não teve pedido formal, nem nada. O Kakashi só comentou de a gente casar, sei lá.

MORRENDO DE VERGONHA DE FALAR ISSO.

- Ô, louco. Você não é muito nova? – close certo é de família.

- É, então... por isso tem que esperar mais.

E chega, né? Por favor.

- Gaara, dá licença. É sério, qual seu problema com a minha mesa?

- Gosto dela. – já notei. Pra tirar você daí é punk. Saiu, graças. Mas... oh, Deus. Ele não tinha falado que ia parar de me atormentar? Parou, não. Tá aqui, agachadinho, atentando meu ouvido com o sibilo e meu nariz com o cheiro de enxofre com... a todo mundo sabe o que ele cheira! – Gosto da dona dela. Acho linda. Inteligente. Um pouco mal educada, mas dá pra relevar. E queria falar pra ela que eu acho que essa história de noiva, aí... furada. A dona dessa mesa é livre demais pra colocar uma argola no dedo.

Chega, Gaara. Entenda pela minha cara que eu não tô gostando desse papinho. Uma vez o Kakashi falou a mesma coisa sobre você, que eu era livre demais pra viver sob a sua tutela, e olha onde eu vim parar.

- A dona dessa mesa precisa terminar o trabalho. Pode ser? – filho da puta com uma risada desgraçada de deliciosa.

- Fala sério, Sakura. Vocês brigaram?

- Pára, Gaara. Acho que você é a última pessoa pra quem eu falaria isso.

Hoje eu tô boa de tiro. Acertei um nele também. Acertei tanto, que o maldito tá até fazendo gracinha, com a mão no peito. Isso aí demônio! Atiro mesmo. E com bala de sal. Aprendi com os Winchester. Ou é bala de Colt? Sei lá. Só curto ficar vendo a bundinha do Dean.

- Se eu não te conhecesse, diria que ainda tá tentando ficar na vibe de escolher as palavras. – vixe. Fala isso e levanta. Mas vai parar aí? Vai nada. – Mas como eu te conheço... – no meu ouvido. Precisa disso? Eu ouço bem, lindo. Não precisa vir tão perto. - ... eu sei que essa sua irritação é porque entendeu que tem alguma coisa errada com essa Sakura apavorada que você virou. E, assim, se for pra eu apostar, deve ser por causa de um mauricinho que quer casar.

E eu achando que o meu tiro tinha sido bom. Tomar no cú, viu. Gaara precisava ser escritor.

- E desde quando você aposta?

- Só não aposto dinheiro e o corpo, amor. O resto, aposto qualquer coisa. Quer apostar comigo que você não vai mais aguentar muito tempo essa vidinha mais ou menos que você tá levando?

É o tipo de aposta que ele sempre faz. Aquelas que, se eu perder é bom e se eu ganhar é ótimo.

Mas não vou apostar nada. Apesar de a minha vida realmente estar sem graça e mais ou menos, eu vou honrar isso. Mesmo que a minha carne esteja doendo, eu vou honrar o Kakashi.

- Você pode me dar licença, por favor? Eu tô precisando trabalhar aqui.

Ele até sai. Mas sai rindo aquela risada demoníaca, de quem sabe que me quebrou em mil partes. Filho da puta... E eu fico aqui, precisando escrever uma cena de luta e querendo escrever uma de sexo. Ele mexe com a minha sanidade. Ô, se mexe. Ainda bem, AINDA ÓTIMO, que faltam menos de dez minutos. É só enrolar. Amanhã, com os hormônios no lugar, eu escrevo essa parada aí.

Vou enrolar.

Olho pro lado e tem um loirinho bicudo. Olho pro outro, tem um moreninho sem graça.

Eu curto essa de ser recheio de homem bonito.

- E essas caras?

- Sakurinha, posso te mandar a real? – sempre pode. – O Gaara não tá tão errado dessa vez, não.

Não pode mais mandar nada.

- Você tá meio apagada mesmo, Sakura. Hoje você até tá mais animada, mas esses últimos tempos, nossa... Chega, senta, nem olha pro lado. Só responde o que pergunta e, mesmo assim, só umas respostas vagas... Sei lá. A gente não ia falar nada, mas já que o Gaara pôs na roda...

Eles tão comentando entre eles sobre a minha vida? Coisa esquisita, hein?

- Ô louco, eu tô como sempre. – sei que não, mas... – É porque o livro tá na fase final e eu tô preocupada com isso.

- Sério, princesa? É só isso mesmo? Parece que você tá sempre ligada no que falar e, principalmente, no que não falar. Honestamente, depois do enquadro do Kakashi hoje de manhã, eu até entendo. Não tinha rolado antes porque você mal tava brincando com a gente. Na primeira vez que aconteceu...

Oh, Deus.

- Ah, mas não é legal mesmo eu ficar de brincadeirinha com vocês namorando o Kakashi, né?

- Não, Sakura. – vixe, Sasuke quando fica sério assim... – Não é legal você beijar a gente, namorando o Kakashi. Agora, conversar, rir, falar idiotice, isso não tem nada a ver. Porra, quando você tava com o Gaara...

Okay, parou aí.

- Sem comparar, Sasuke. Eu entendi o que você quis dizer.

- Tá, foi mal.

- Bom, a gente não tem a ver com isso, Sakurinha. Só vou dizer que foi um bom presente de aniversário ter você legal assim de volta. Nem que seja só hoje, né? – nossa. Olha a situação. Até meus amigos tão sofrendo. Essa carinha do Naruto... Nossa.

Que merda eu tô fazendo?

Eu não sou assim. Eu não sou o tipo de gente que chega, senta e só responde o que perguntaram. Porque eu tô fazendo isso?

Ainda bem que hoje eu tenho ajuda especializada. Seis horas em ponto, desliguei o note e peguei a bolsa. É só sair e ser feliz.

Não. Não é.

- Você vai como? – lá da porta da sala dele, falando bem alto pra todo mundo ouvir, com cara de bosta. VOU VOANDO, KAKASHI! – Quer ir de carro? Pega a chave aqui.

A noite envolve tequila. Se eu me relacionar com ela e com o carrão, tem chance de dar merda.

- Vou de táxi. - aí me chega um Naruto bonzinho, perguntando se eu preciso de carona pra algum lugar. Olha o meu “noivo”, lindinho. Vê bem se eu posso pegar essa carona com você.

- Eu vou tentar terminar o mais rápido possível.

Por mim...

- Tô te esperando lá. – e saí. Não vou nem perguntar porque tá com essa cara de monstro, porque eu sei o motivo e assim, falando sério, eu não vou mesmo deixar de ver a porquinha. Não mesmo.

Desci com o Naruto, rindo das besteiras dele mas não aceitei a carona. Tô puta, tô puta, mas é melhor não pôr lenha nessa fogueira. Pedi pro porteiro que não me curte chamar um táxi e agora é só esperar.

Sozinha? Não. A vida, aquela que também não me curte, tá louquinha pra ver o circo pegar fogo.

- Ué. Tá sozinha aqui? Cadê o... – silêncio! Ele não perde uma oportunidade de cutucar também. Já catei aquele lábio com a mão e fiz calar a boca. Agora eu tô apavorada, porque não tinha nada que ter posto a mão na boca dele, né?

Solta, Sakura. Solta, antes que dê problema.

A questão é que ele não briga mais. Ele sorri. E o sorriso do Gaara é uma maldita arma de guerra. Eu não devia ter encostado, não mesmo. Porque agora ele tá em silêncio, com aquela arma apontada pra mim, com aqueles dois demoníacos olhos estreitos, pensando em como esse problema seria interessante. Como eu sei disso? Algorítimo. Por mais que eu não queira esse problema, não dá pra fingir que ele é um problema ruim. É um problema que eu amei ter. Se eu tô pensando nisso, ele tá pensando a mesma coisa. A diferença é que ele pode dar voz ao pensamento e eu não.

- Você é muito folgada, fazendo isso. – ai meu Deus... Ai. Meu. Deus. – Não é mais seu pra você ficar apertando assim.

E essa é a parte onde o problema começa a se instalar como um vírus de computador. Ficar longe, é fácil. O duro é impedir que entre na mente.

E eu, Sakura Haruno, sou mestre nas duas coisas: pegar vírus e me meter em problema.

- Não é mais meu mesmo? – o ímã começou a agir. Só a aproximação do Gaara faz meu corpo tremer em uma violência insana. Cada célula minha tá fazendo força pra encostar nas células do corpo dele.

- Volto a ser seu quando você puder ser minha. – perto demais.

Tão perto, que meus olhos se fecharam pela rajada do cheiro dele que entrou no meu nariz quando o Gaara saiu, pisando firme, com o capacete na mão.

Eu não vou fazer nada, já decidi. Mas sentir, cara... isso não dá pra controlar. A gente teve uma história, querendo ou não.

Com a graça de algum deus, o táxi chegou a tempo de impedir ele de vir me atormentar de novo. Quando eu tava saindo, vi pelo vidro do carro, ele aparecer na porta e me olhar com aquela cara maldita de “você fugiu”. Fugi, Gaara. E vou continuar fugindo. Vou correr como se não houvesse amanhã. Dessa vez, eu não vou fazer merda. Não é como antes, que eu posso me valer de uma falta de palavras e um não-combinado de exclusividade. Não é mais um namoro escondido. É um relacionamento estável, certo, que envolve bem mais que atração física.

Um relacionamento onde eu tenho mais dado que recebido. Não é com joia que eu quero o retorno. Nem com restaurante chique. Nem com apartamento ricamente decorado. É com aquele Kakashi que cantava comigo no sinal. Aquele que me dava beijos na têmpora. Aquele que me propunha os combinados de “namorada por uma noite”. Aquele que me tirava do ar, que eu desconectava quando beijava e que, quando voltava, tinha uma mãozona dentro do meu sutiã.

Onde ele tá? Onde tá o meu professor? Eu não gosto desse Kakashi. Eu gosto do professor...

Bom... vou falar sobre isso com a minha porquinha, que já chegou e, pela animação, já até bebeu a tequila.

- Ai que saudade, linda rosa!

Só quando eu entrei no abraço da Ino, é que eu senti o baque de verdade. Minha vida mudou a ponto de eu não lembrar mais que ela usava esse perfume doce pra caralho. Minha vida mudou a ponto de eu começar a achar bonitinha essa pantufa de sapo que ela usa. Minha vida mudou a ponto de eu não ter visto que ela cortou um franjão. Eu vim aqui na sexta e ainda assim não vi nada disso. Nada.

Eu me afastei de todo mundo. Até da pessoa que fez a minha vida valer a pena por cinco longos anos.

Nem respondi que eu tô com saudade também. Eu só comecei a chorar. Só isso. Sem controle, sem culpa, sem medo de desagradar. Só o choro pelo choro. Choro de desabafo. E, como sempre, a mão que me afaga já me puxou pro sofá e tá cuidando da minha dor, enquanto faz carinho na minha cabeça.

- Sem reserva, testuda. Põe tudo pra fora. Se quiser chorar até amanhecer, eu fico aqui com você.

Eu não desobedeço a Ino. Então eu chorei. Chorei pela primeira meia hora, sem parar. Só pensando em tudo que eu me tornei. Ou no nada. Em tudo que eu tenho. Ou no nada. Em tudo que eu consegui sendo assim.

Ou no nada.

Quando finalmente meus soluços pararam, eu não precisei falar. A porca só me estendeu um copo e colocou uma garrafa de tequila na minha frente.

- Agora já dá pra começar a pensar, não dá?

Porra, Ino. Dá.

- Por que eu tô sentindo isso, porquinha?

- Sentindo o quê, testa?

Sentindo o quê. O que eu tô sentindo? Raiva, mágoa, decepção. Não com ninguém, além de mim mesma.

- Eu tô...

- Frustrada? – perfeito. Eu tô frustrada. - Não sei, Sakura. Quer dizer, eu até deduzo o porquê. Mas acho que, mais do que saber o porquê, você devia pensar em desde quando está se sentindo assim.

Desde quando. Desde quando eu comecei a me sentir frustrada?

Quando eu disse que amava o Kakashi por pura pressão de momento.

Quando eu aceitei ir morar com o Kakashi sem querer realmente.

Quando eu vi que tinha virado a “patroa” de uma porra que eu nem sabia o que era.

Quando eu cheguei na festa de lançamento e descobri que era a “acompanhante de Kakashi Hatake.”

Quando eu menti pra ele, achando que não poderia dizer a verdade.

Quando eu aceitei a missão de fazê-lo feliz, mesmo que passasse por cima da minha natureza.

Quando eu aceitei um pedido informal de casamento, apesar de não passar nem perto da minha ideia.

Quando eu tive que ser colocada nesse papel de alguém que não consegue respirar sem medo de desagradar o companheiro.

Porra... eu não devia ter voltado com o Kakashi. Preciso beber mais. Muito mais.

- Faz mais tempo do que eu pensava, porca... – e eu tô em choque por ter permitido que as coisas chegassem à esse ponto. – Que merda eu tô fazendo?! Tava tudo bem e... – é uma memória tão viva a Ino levantando o dedo pra me interromper, enquanto faz careta pra engolir a tequila, que chega a ser confortável.

- Mentira. Tava nada. Nunca esteve. – agora ela vai despejar. – Você que não quis enxergar e isso é o que me machuca, Sakura. Você sempre foi tão forte, independente, peitou teus pais, veio pra cá sozinha, sem conhecer nada, disposta a morar com qualquer um só pra não ficar na tutela de ninguém... E isso não faz tanto tempo assim. Não é possível que em cinco anos as coisas tivessem mudado tanto.

Pois é. Não é possível que, em seis meses, as coisas tivessem mudado tanto.

Mais tequila.

- A culpa não é do Kakashi, Ino. É minha.

- Não discordo, testuda, não mesmo. Você abriu as pernas de verdade. Mas que o seu professor aproveitou disso, ah, ele aproveitou. – ah, não gosto que começa com isso, com essas coisas que criticar sem saber. E ela sabe. E pela cara, não vai parar aí. – Sakura, eu me segurei e fiquei quietinha na minha. Mas você entrou aqui em casa chorando de desespero e acabou de me falar que tá fazendo merda. Agora eu vou falar tudo, linda rosa. – ai, caralho. Vou até mandar mais uma pra ideia, porque o soco vai ser forte. – Você não sabe o quanto eu me arrependo de ter te falado sobre a gente morar junto com os dois. Porque, depois disso, você apagou em um nível extraordinário!

- Não sei se foi depois disso, Ino. – não mesmo. – E o ruim não é estar morando junto, o ruim é o que isso tá representando.

- Aquela história de ser patroa, né? – exato. – Sakura, no primeiro dia você tava puta. No primeiro dia, o Sai e eu, a gente tava trepando em cada cômodo desse apartamento. E você? Brigando.

- Cruzes... aqui no sofá também? – que nojo.

- Também, mas isso não vem ao caso. O que eu quero dizer é que na lua de mel você tava sofrendo com uma coisa que não tinha que ter acontecido. – tomou mais uma dose numa fúria, que eu sei que vem mais bomba por aí.

- Mas o Kakashi não teve culpa daquilo...

O riso dela, esse estridente, irônico, me assusta.

- Tá. Vamo dar um crédito pra ele nisso aí... – vixe. – Vamo pro lançamento. Você ficou uns quarenta minutos resmungando na minha cabeça sobre o jeito que você foi listada na festa.

- Uai, Ino! É lógico que eu tava puta! Eu escrevi uma parte daquela porra! No lançamento do livro com o meu texto, eu tô na lista como acompanhante do Kakashi?! – aí não, né?

- Pensa um golinho, testudinha... quem fez a lista?

- O pessoal que organizou a recepção. Não sei o nome do buffet. – até devo saber, mas tem um pouco mais de tequila nos meus receptores neurais e eu não vou gastar tempo pra pensar.

- É? O povo que fez os canapés e serviu a champagne é o mesmo que convidou as pessoas? – irônica. – Sério que eles têm contato com editoras do país inteiro pra ter organizado aquela lista?

Okay. Cheguei onde ela queria. Não foi o buffet que organizou a lista.

- Foi o Kakashi... – ai, merda. Como eu não pensei nisso antes? – Foi ele que me colocou como acompanhante.

- BINGO! – a careta da tequila da Ino é melhor que a minha de pavor. – E sabe quem chamou minha atenção pra isso? O Michelângelo. Ele escutou você xingar pra cacete e veio me perguntar porque que o Kakashi não tinha escrito a lista com o seu nome, pra evitar essa irritação toda. Você conhece o Sai, ele é sossegadão. Evita brigas... – o Sai percebeu isso. E eu não. Burra! – Por isso que eu fui embora cedo. Na hora que ele me chamou atenção pra isso, eu queria ir tirar satisfação com o tal do professor, mas o Sai não deixou.

- Puta que pariu, Ino... Eu não tô acreditando nisso...

Esquece o copo, tequila. Vem pra mim no gargalo.

- Desde esse fato que eu e o Kakashi já não tamo muito às boas, não. – deduzo mesmo. – Mas tem como piorar isso aí tudo.

- Tem?! – ô louco. – Como assim, porca?!

E toma a garrafa, miga. Solta tudo. E me arrebenta de vez.

- Sábado ele me ligou de manhã. – pra quê?! – Disse, com aquela empáfia dele, metido pra porra, que você tava passando até mal e que eu, por favor, parasse de ficar arrumando encontro pra você e pro Gaara.

- Ele não fez isso.

- Eu te menti alguma vez nessa vida, Sakura? – até ofendeu. E não, nunca mentiu.

- Mas o Kakashi foi mal educado com você?

- Claro que não! Veio com aquela voz mansinha, falando as palavras bonitas dele. Mas o teor do papo foi, mais ou menos, “olha, eu tô te chamando de cafetina e se você não parar, eu afasto a Sakura de você.”

Meu coração tá saindo pela boca. Isso não tá acontecendo. Então, quando ele me deu o telefone e ficou por perto, não foi pra saber se o papo ia pender pro Gaara. Foi pra controlar os danos se ela me contasse isso.

- Por que você não me falou nada?

- Eu ia te contar pessoalmente, no barzinho. Mas aí você disse que os seus pais tavam vindo, achei melhor não fazer nada. Depois, eu ia te ligar no domingo, pra gente conversar, e você me manda aquele terror de mensagem, falando que ia casar.

Jesus Cristo. Tô me sentindo no meio de um roteiro de suspense. Sem clichê. Sem nenhum confortável clichê, onde eu saberia como lidar.

- Sakura, eu não armei encontro nenhum! Já fazia seis dias que o demônio tava na cidade e eu nem te falei nada! E quando você chegou aqui, eu ainda tentei te mandar embora! – tá em pânico.

- Eu sei disso, Ino! Não precisa me justificar seus atos porque você é uma das pessoas mais íntegras que eu conheço. – se não for a mais, porque a outra era o Kakashi e eu tô seriamente decepcionada.

E, pela primeira vez, surge o suspiro. O cansado. Aquele que ela passa a mão no rabo de cavalo.

- Sabe, linda rosa, eu tentei me controlar, tanto que você não sabia de nada do que eu tô te contando aqui. Mas você tá moída, amor... E pela sua cara, aconteceu mais coisa.

Aconteceu.

- Em ordem: ele falou pro Gaara do noivado, mesmo eu pedindo segredo até o livro sair. Hoje é aniversário do Naruto e ele me pediu pra não abraçar o delícia loira. Depois, não deixou eu ir almoçar com eles porque o Gaara ia também. Por fim...

- Por fim, implicou que você ia vir aqui.

- Exato.

- Dá pra imaginar o porquê dele não querer que você viesse, testa?

Opa, se dá.

Nossa. NOSSA. Eu tô dentro de uma rede tão emaranhada de coisas, que eu até entendo não ter querido enxergar. Se eu tivesse pensado um pinguinho, talvez... Maldito clitóris que pensa mais que o cérebro. Puta que me pariu!

O problema é: o que fazer agora?

- Ino... que merda que virou... – okay, tequila. Precisamos de você mais do que nunca.

- Qual foi a última foto que vocês tiraram juntos? – quê? – Uma foto. A última.

- Pra quê?

- Só mostra, caralho! – vixe. Peguei o celular e mostrei. – Quando foi?

- No restaurante, domingo.

- No almoço de noivado? – e essa risadinha?

- Foi. Por quê? – por que ela saiu correndo? Vixe, trombou na parede. Eu ri. Achei engraçado. Tá meio bêbada, já. Ai, cacete... por que ela tá trazendo a caixa que eu deixei aqui, com as fotos minhas e do Gaara? – Ino, eu não gosto de comparar as coisas.

- Cala a boca, testuda! – nossa, agressiva. – Eu não vou comparar os dois. Vou comparar você. Dá essa merda desse celular aí. – obedeço, claro. É a general, né? – Você tinha acabado de aceitar se casar. Olha seu sorriso que feliz. – tá mesmo. – Agora olha essa aqui que você tirou na casa do delícia do Itachi.

Uau. UAU. Na minha com o Kakashi, eu tô sorrindo, linda, do lado dele que tá sorrindo também. Agora, na outra...

- Cara, eu nem sabia que eu conseguia abrir tanto a boca. – e agora eu tô tentando, mas tá difícil mesmo assim.

- Foi o dia que vocês começaram a namorar, testa. Você lembra, não lembra? – claro que sim. – E você tá mais feliz com um namoro do que com um casamento.

Isso é bem óbvio. É aquela foto na piscina, com os dois desarrumados, molhados, e que eu tô abraçando o Gaara pelo pescoço. A Temari é foda mesmo. Essa foto é linda.

- Você tá querendo dizer o quê, porca? Que eu era mais feliz com o Gaara do que com o Kakashi?

- Não, Sakura. Se é um ou outro, isso não interessa. O que interessa é que você era mais feliz! Porque você pensava no seu bem-estar. Só aceitou namorar com o demoninho depois de pensar muito e quando tomou a decisão, tava satisfeita com ela. Agora, com o tal do Kakashi, você toma as decisões pensando em agradar ele.

Tá errado.

- Eu não sei o que fazer, Ino... As coisas chegaram em um ponto muito avançado. – pronto, a tequila bateu. Já quero chorar e tô fazendo jutsus com as mãos. – Como eu reverto isso nessa altura do campeonato? Se eu tacar tudo pro alto, o que eu faço com o livro?

Até se ajeitou pra falar.

- Duas coisas, testa: se ele te prejudicar por causa de namoro, larga mão de Sharingan e vai ser foda em algum outro lugar. Você já tá reconhecida, não precisa da piedade de ninguém. Agora, o que você precisa pensar é: você ama o Kakashi a ponto de conseguir fazer ele enxergar que tá te sublimando? Se você achar que vale a pena uma conversa séria, só vocês dois, sobre tudo isso... Sei lá, miguinha. Tenta mais uma vez.

Esse é o ponto crucial. Amar, eu amo. Mas até que ponto isso não se tornou um relacionamento só confortável, onde eu caminho pelo seguro? Quer dizer, confortável pra ele. Pra mim... Como se as bombas comigo não bastassem, eu descubro que o Kakashi fez um fosso em volta da gente, pra ninguém passar.

- O que você faria?

- Eu não vou te responder isso, porque eu não quero te influenciar. É você que tem que tomar sua decisão.

Pela primeira vez, a Ino não me disse o que fazer.

É, tá na hora de eu assumir as rédeas.

Foi bem a tempo de a tequila acabar e uma mensagem seca chegar no meu celular, dizendo que o Kakashi tava lá embaixo e pra eu não demorar pra descer que ele tava cansado e queria ir embora. Tadinho dele, né? Que dózinha... nossa.

Dei um último abraço na minha porca loira e linda, que me ama.

- Meu quarto tá vago, Ino? – o sorriso dela é um dos meus preferidos. Batendo palmas, então...

- Sakura, eu te amo tanto, que nem se não tivesse, eu colocava o Sai pra dormir no sofá e você ia ficar agarradinha comigo toda noite! – e não tem nada de sexual nisso. É amor puro. De irmã.

Já tinha até levantado, quando vi as fotos na caixa. Não resisti a olhar de novo. Todas. Uma mais linda que a outra, com um sorriso maior que o outro. Tanto meu, quanto dele. E, caído no fundo, um cartão de memória. Esse eu peguei. As fotos eu não levo, mas a música, essa eu vou ouvir sim.

Cheguei no carro pra encontrar um Kakashi de cara feia, que tava me mandando outra mensagem pra descer logo.

- Porra, Saky... que demora. Tô louco pra ir pra casa.

- Devia ter ido, Kakashi. Depois eu me virava, pegava um táxi... – ficava por aqui mesmo.

Ué? Estanhou? Achou que eu ia me descabelar porque você tá nervosinho?

- Bebeu, amor?

- Uma garrafa inteira de tequila. – não minto mais, lembra?

- E o papo com a Ino? Foi bom?

Tá tão mansinho, comendo pelas beiradas, me olhando pelo canto do olho enquanto dirige. Ah, querido...

- Esclarecedor, Kakashi... Esclarecedor.

Aprendi as falas espetaculares do Gaara. Ainda coloquei o mesmo sorriso dele, aquele bem demoníaco, e a música que ele ouve.

- Uau... nossa, Black Sabbath? Não imaginei que voc...

- É, tem muita coisa que você não imagina sobre mim. Eu adoro Black Sabbath. E Korn. E Pantera. Talvez eu passe a ouvir mais.

É. Talvez eu volte a ouvir.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...