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História Editora Sharingan - Parte XXXVIII


Escrita por: ksnrs

Notas do Autor


Naruto não me pertence e seus personagens também não.
O intuito dessa fanfic é totalmente interativo e sem fins lucrativos.
Por isso, não me processem, por favor. Não tenho como pagar uma fiança e da cadeia não dá pra postar.

Amor!

Boa leitura!

Capítulo 38 - Parte XXXVIII


Se eu disser que não foi estranho dormir sozinha depois de tanto tempo, seria mentira. Demorei um tempão pra pegar no sono, sentindo falta do corpo do Kakashi em volta do meu. Depois, acordei de madrugada pra fazer xixi e fui pro lado contrário. Aqui, o banheiro é na direita. Lá, era na esquerda. E acordar, bom... Acordar sem o cheiro dele grudado no travesseiro também foi esquisito.

Mas quando eu despertei, a sensação é a mesma de ontem. Isso, se não tiver mais forte. O “costume” vai passar. Eu não vou mesmo conseguir lidar com essa dele de tacar coisa do arco da velha na minha cara. E, depois de saber da história dele com a Ino, com o Gaara e até com os meninos, a minha decisão tá ainda mais certa. Não tem mesmo como eu continuar com alguém que, depois de tudo, ainda me vê como uma incapaz de qualquer coisa.

O que ele faz não é proteção, tá longe de ser isso. É a maldita posse, que reapareceu do pior jeito possível. Isolamento. Desconfiança. Humilhação. Ofensa do jeito velado. E eu, lá, achando que o que me cabia, nesse relacionamento, era fazer o Kakashi feliz acima de tudo. Ele nunca estaria feliz. NUNCA. Sempre ia precisar de algo a mais, que eu não estava pronta pra dar mas que daria mesmo assim, só pra agradar.

Tô fora.

Aliás, tô dentro. Do carro, parada no estacionamento da Editora, tomando coragem pra subir e enfrentar a ira do monstro que eu despertei. Não tenho a menor ilusão de achar que o Kakashi vai estar tranquilo ou, quem sabe, arrependido. Não vai. Ele deve estar é me culpando por alguma coisa e vai gritar que eu tava bêbada ou que eu sou ingrata. Quer gritar, querido, berra. O problema é que, pelo que eu notei nos últimos tempos, ele não vai evitar fazer isso na frente dos meninos e isso, definitivamente, eu não queria. Minha merda é toda minha e já respingou neles demais.

- Vai ficar aí o dia inteiro?

PUTA QUE PARIU, QUE SUSTO!

- Porra, Gaara! Tá tentando me matar, caralho? – tô até com o coração disparado pelos dois socos que ele deu na janela.

Agora, tô com o coração disparado por causa da risada que, aliás, é um excelente modo de começar meu dia de cão.

- Sai daí logo, Sakura. Sobe duma vez e enfrenta. – fácil falar, né?

Mas eu obedeço porque eu tenho dessas de não contrariar o belezão. Primeiro, porque o Gaara tem esse tom autoritário na voz e eu, por dezessete anos, fui daquelas crianças que tinha medo de voz brava. Depois eu me lasquei toda. Segundo, porque ele tem total razão. Eu preciso mesmo enfrentar e só eu, EU, posso fazer isso.

Só que eu tô me cagando toda. Eu tô tão apavorada, que a cada estalo que o elevador dá, eu rezo pro vampiro descer e me transformar naquela massa de carne e cabelo rosa. Questão triste da minha vida: nem o vampiro sugador de alma tá me querendo. Seria tão mais fácil virar uma poça de Sakura... Não dá, cara. Tô até sem ar. De novo, eu vou ter que escutar o Kakashi me chamar de ingrata. De novo, eu vou ver ele tentar reverter qualquer situação e me por como uma culpada de tudo. De novo, eu vou me martirizar por ter estado, todo esse tempo, no piloto automático, só reagindo à ele. De novo, ele vai dar a entender que a minha decisão é baseada na volta do Gaara. De novo, eu vou ficar chateada.

Eu não quero nada disso.

Tô tão desnorteada, que desenvolvi uma asma aguda. Essa porra desse lugar não tem uma ventilação e eu tô morrendo. Sinto isso. Vou morrer.

Ou não.

Aquele mindinho. Aquele dedo pequeno, o menor de todos, se enrolou no meu. O dono dele nem me olha, continua encarando a porta de metal, com aquela cara de bravo. E no sétimo andar, faltando dois pra chegar na Editora, minha força começa a voltar. Engraçado isso. Um dedo. No começo, quando isso aconteceu a primeira vez, eu achei que fosse porque a nossa relação ainda era de um dedo só. Hoje eu acho diferente. É porque a nossa relação não precisa de mais que um dedo.

O ar voltou, eu parei de tremer e tô me sentindo levemente confiante pra encarar o Kakashi e sua grosseria travestida por palavras bonitas. Respira fundo, Sakura. Respira fundo que você consegue.

- Eu tô aqui pra te ajudar.

E então aquela voz grave, forte, dura, invade o ambiente pequeno, reverberando em cada pedaço de metal e explodindo nos meus ouvidos. Meus olhinhos se fecharam imediatamente, sentindo o impacto que as palavras, ditas especificamente por ele, geram na minha capacidade de confiança. O único dedo. A voz. E quando o elevador chegou no nosso andar, eu simplesmente tô pronta.

A porta do Kakashi tá aberta e... ELE NÃO TÁ AQUI! Fogos! Tá, sei que sou uma bosta como pessoa e que achei que tava pronta e tals, mas tô é adorando que ele não esteja!

Beleza, Sakura! Joga pra depois! Agora, foca nos lindinhos. Sentei na minha cadeira e tô olhando de um lado pra outro, com o coração apertado pela minha merda ter explodido até neles e, quer saber?

- Oi, meus amores!

Olha cada carinha lindinha me olhando, até assustados. É isso aí, minhas delícias de estimação, EU VOLTEI! E voltei com os dedos nas bochechas.

- Quero beijo! – porque eu posso. Fechei o olho e só ouvi as cadeiras rolando pro meu lado. Depois disso, é só aquela pressão boa de boca gostosa beijando minha bochecha e o cheiro bom de homem limpo se misturando com o de homem naturalmente cheiroso.

- Que saudade, moça bonita... – oh, Deus. No ouvidinho assim, é dureza.

- Que bom que tá animada assim, princesa... – e tem do outro também.

E eu, com aquele sorriso imenso. Fala aí, essa é a vida que eu pedi a Deus! Esses sussurros que já subiram de nível, e viraram uns beijinhos delícia no meu pescocinho que se seduziu fácil, fácil. Na direita, o Sasukinho me beijando com a boquinha perfeita. Na esquerda, o Narutinho me beijando com seus beijinhos que tem gosto de eternidade. E eu no meio, pensando em quão legal seria nós três sem roupa rolando numa cama ao mesmo tempo.

Isso não vai dar certo... Nove e cinco da manhã e eu já tô excitada.

- Chega os dois. – até pararam de beijar mas tão me esmagando num abraço duplo e com sorrisos felizes demais. – Vocês são muito safados!

Se fosse pra ser uma reprovação... Falhei miseravelmente. Os dois se olharam e... lá vem.

- Ela voltou, Naruto!

- A princesa tá com a gente de novo!

Falo o quê? Nada, né?

- Vai, afasta. – porque eu tô querendo os dois. – Já beijou, já abraçou, agora é hora de trabalhar.

Saí daqui ontem precisando escrever uma cena de luta e querendo uma de sexo, voltei precisando escrever uma cena de luta e AINDA    querendo uma de sexo.

Foca, Sakura. Foca que seu emprego já tá na corda bamba. Tomei uma aguinha pra baixar os hormônios, um cafezinho pra dar uma espertada e... vamo lá.

Seria uma injustiça tremenda se o Kakashi me mandasse embora, isso é óbvio pelo óbvio. Minha escrita, modéstia a parte, é impecável. O desenvolvimento da minha personagem é linear, nada fodido, e, em comparação com os dos meninos, é o mais honesto porque ela tá crescendo por ela sem nenhum poder paralelo. Tem noção do quanto isso é difícil? Fazer ela ser foda sozinha, sem nada de magnífico que tá enfiado na barriga dela ou um olho fodidão que é herança de família? Pois é. Minha Sakurinha é poderosa assim. Por ela mesma. E ia eu ficar bem triste de ser separada dela.

O que é bem claro que vai acontecer, agora que eu vi o Kakashi entrar! Jesus Cristo! Alguém me socorre. Nem me olhou. Dez e vinte e cinco, aparece aqueles dois quilômetros de homem com uma cara...

Olá, desemprego!

- Nossa, acho que o Kakashi nunca chegou tão tarde. – Sasuke e sua perspicácia. Fica quietinho, lindo. – Aconteceu alguma coisa, Sakura?

Sei lá eu!

- Sei não, Sasuke. – vou falar o quê? Eu não sei se é por causa do término. As vezes ele foi ter um café da manhã com cliente, ele é cheio disso.

- Bom, vou ver se eu descubro. Tava precisando que ele chegasse pra levar essas revisões.

Boa, Sasukinho! Vai lá! Se você voltar inteiro, vou também. Ou não. Tenho o que falar? Se ele me chamar, eu até vou, senão vou ficar aqui na minha, trabalhando quietinha.

Ou nunca.

Que visão dos céus, meu pai! Um demônio sorridente pulando na minha mesa e girando minha caneta nos dedos. Por meses, eu sonhei com isso e agora é real. Pisca, Sakura. Antes, quando você piscava, ele sumia. Não sumiu!

- Tem alguma coisa no teu olho? – tem. Felicidade.

- Veio cheirar o que por aqui, Gaara?

Não devia ter falado isso. Hoje, o nível de malícia que em volta de mim tá alto demais.

- Não posso responder isso em público. – ô, Deus. E esse sorrisinho maldito? – Falou com ele?

- Ainda não. Chegou agora e o Sasuke foi lá levar coisa pra ele.

Eis que me surge um moreninho dando risada alta e me olhando com a maior cara de puto do mundo. É treta, quer apostar? Ninguém que me olha com essa cara vem falar que tá rolando promoção de Ferrero Rocher. É sempre paulada. E, em 99% dos casos, me envolve.

- Sakura do céu! Que que aconteceu no rosto do Kakashi?

Ah, lá. Falei que me envolvia.

- Como assim? – fiz a dissimulada.

- Ele tá com o beiço inchadão e tem um corte nervoso. Quem fez isso?

Eu sei a resposta. E um certo demônio ruivo que tá gargalhando também deduz.

- Você fez isso?! – não me julgue, Gaara. Você tá sempre ameaçando bater em alguém. – Eu tenho que ir lá ver de perto!

A velocidade que ele pulou da minha mesa só não foi maior que a minha agarrando o braço dele.

- Não, por favor. Se você for lá e tirar sarro, vai piorar pro meu lado. – isso é fato.

É raro demais o Gaara demonstrar qualquer sentimento que não seja o desdém mas tá me olhando com uma cara de quem entendeu o que eu quis dizer. Valeu, demoninho. Não põe mais lenha nessa fogueira, não.

Acontece que a minha fala pra ele, a dele pra mim, e meu ato desesperado de segurar o furacão ruivo despertou os instintos detetives do Sasuke Holmes.

- Foi você que fez aquilo, Sakura?!

Oh, Deus.

- Pode ser que sim. – pode ser que claro.

Esse menino tá rindo tão alto, que vai engasgar. E a culpa vai cair em mim disso também, porque, pelo visto, a culpa é minha até do ataque de 11 de setembro.

- Por quê?! – nisso vem o loirinho, me encarar. Tô me sentindo numa delegacia fajuta.

- Isso interessa vocês por...

- Porque é óbvio que a gente quer saber se vocês terminaram! – Naruto e seus escândalos. Olhei até pros lados pra ver se a galera do financeiro escutou.

- Talvez...

Falei pra desbaratinar mas teve duas reações no meu grupo de inquisidores. Naruto e Sasuke tão batendo palma e comemorando com high-five. Já o Gaara tá com uma cara nada boa. Nada, nada boa.

- Talvez? Não vai me dizer que você tá pensando em...

- Não tô pensando em nada, Gaara. – não mesmo. – Mas a resposta pra sua pergunta é não.

Pronto. Agora tá comemorando também.

- E isso significa que...

- Isso também não significa nada, Gaara. Eu já te falei ontem. – sem enrosco pro meu lado, por amor à Buda. A bolinha dele deu uma baixada, mas os meninos ainda tão animadinhos. E eu, esperta pra caramba e culpada pra caralho, sei que isso não se resume só à atualização do meu estado civil. – Vamo almoçar todo mundo? Eu tô querendo falar com vocês dois.

Provavelmente até sabem o porquê, já que o riso acabou e ficaram sérios. Mas o Naruto é o Naruto, né? Clima ruim, com ele por perto, dura cinco segundos.

- Você tá devendo um almoço pra gente, mesmo! Ontem deixou o Sasuke e eu lá plantados!

Amém. Ainda bem que tenho amigos assim.

- E eu? Tô convidado também?

Caralho, viu? Com esse sorrisinho e essa carinha de quem quer se convidar pra minha cama é foda até pra responder. Ele podia dar uma trégua. Podia demais. E eu podia tatuar no braço o motivo de não aceitar as investidas do Gaara, porque tá cada vez mais complicado de ficar lembrando.

- Ih, Sasuke... começou a rodear.

- Tô sacando... -  o bom que o moreninho fala e olha pra mim. Sasuke tá ligado na minha capacidade de leitura labial e se aproveita demais disso. “Mais uma chance? Por favor.”

Porra, vai de leve vida. Vai de leve, que tá hard aqui. Nem respondo, bonitinho. Você tem que me provar muita coisa antes de eu pensar em te dar outra chance. Já pro meu loirinho preferido, vulgo rei do oral...

A questão é que a presença maligna de um demônio ruivo acaba destruindo todos os meus pensamentos sexuais pro lado do Narutinho.

- Tô rodeando demais. E, se ela ficar tonta, eu pego. – olha as coisas.

SORRIA E ACENE.

- Lógico que tá convidado, Gaara. Inclusive, você sabe o assunto.

O clima tava começando a pesar de novo por causa disso. Mas, tá ligado naquela lei de aproximação? Tem uma fila de homem feio, todos muito feios. Quanto mais você olha, mais você consegue achar um deles bonitinho? É a aproximação. Sempre tem um menos pior no meio dos horríveis. O “assunto” passou a ser o bonitinho no instante que o Kakashi apareceu perto da gente. Ele virou parâmetro de comparação e nada, NADA, vai ser tão feio quanto a cara dele encarando um por um de nós.

Sasuke e Naruto viraram pros computadores. Agora o Gaara... é um desgraçado. Antes de sair dando aquela gargalhada maldita, ele teve que olhar o corte. Só faltou levantar o polegar pra mim, em clara aceitação ao meu ato descontrolado.

- Eu preciso falar com você.

Simples assim. Me olhando com essa cara de merda e dizendo que “precisa” falar comigo. Minha vontade é perguntar se a palavra certa não é “quero”, ou então questionar se é o patrão que tá me chamando. Mas não vou fazer nada disso.

Okay, Kakashi. Precisa falar comigo? Vamo falar, então. Sigo em silêncio porque tenho a nítida sensação de que essa conversa vai ser explícita demais pra sala inteira ouvir.

É agora, Deus. Ilumina meu pensamento aí.

- Senta, Sakura. – faço isso. – Acho que a gente precisa conversar sobre o que aconteceu ontem e eu não vou conseguir esperar até a noite.

Admito. Essa expressão triste dele tá me dando um apertinho no coração.

- Quer falar o quê, Kakashi? Sobre as coisas que a gente cuspiu um na cara do outro, ou sobre o fato de que eu vou passar no seu apartamento mais tarde pra buscar minhas coisas?

- Nosso apartamento, Saky. Nossa casa.

Baqueei aqui. Dessa vez, o suspiro longo é meu.

- Pára com isso...

- Não, amor! A gente só precisa se acertar, só isso. – acho que a gente já passou desse ponto, Kakashi. – Olha, eu falei besteira, você tava bêbada e...

Parou aí. De novo essa história de “você tava bêbada?”

- Eu tava bêbada a ponto de ter alucinado com você dizendo que eu sou ingrata, já que você fez o “favor” de publicar meu conto?

Essas perdas de cor do Kakashi tão começando a me preocupar. Esse homem deve tá com algum problema no sangue.

- Você tá distorcendo minhas palavras, Sakura... eu não quis dizer isso. – ah, não?

- Quis dizer o quê, então? Porque a parte do “quem tinha que ter impulsionado a sua carreira é o Gaara porque você tava sendo feliz com ele” eu acho que é bem auto-explicativa. – fato. – Eu nunca te pedi nada, Kakashi. Nunca me aproveitei da sua situação como dono de qualquer coisa pra tirar vantagem. Você dizer aquilo pra mim, é quase como se dissesse que me comprou com uma porra de uma publicação.

O que, agora, me parece bem óbvio.

- Mas não foi o que eu quis dizer, Sakura! – okay. Gritou. Isso não é um bom sinal. – O que eu quis dizer é que eu fiz pra te ajudar!

- Por quê...

- Porque... sei lá! Eu gosto de você, sempre gostei, queria que você despontasse e eu, tendo essa chance, fiz! Achei que você ia gostar disso!

E onde isso não é “te fiz um favor?”

- A resposta certa pra isso, Kakashi, seria “eu fiz porque você é um escritora legal.” Qualquer coisa que não envolva a minha capacidade de escrita, vira protecionismo. – tô errada?

- É, mas a gente nunca teve esses limites, teve? Sempre foi essa confusão de eu te pegando e te pagando, ao mesmo tempo.

Sakura, não entenda que isso faz de você uma prostituta.

É... não deu.

- Você tem noção que me pagava pra escrever, né? O resto, eu fazia porque queria e porque te achava alguém legal o bastante pra não misturar uma coisa com a outra. – agora não acho mais.

O melhor de tudo é que ele faz cara de ofendido. ELE.

- É lógico! – gritou de novo. – Olha só como você distorce as coisas!

Isso tá indo ladeira abaixo.

- Olha, eu acho mesmo que o melhor é a gente parar por aqui, antes que tudo piore... – inclusive o papo. Tô até em pé, já.

- Sakura, olha no meu olho e me diz que essa sua historinha de terminar não tem nada a ver com o Gaara.

Jesus Cristo... respira, Sakura. Respira. Inspira devagar e expira do mesmo jeito.

RESPIRA É O CARALHO!

Quer que eu te olhe? Eu olho. Nunca consegui te mentir olhando nos seus olhos. Eu olho. Olho profundamente, com meu rosto pertíssimo do seu, pra você, seu cretino, captar toda a verdade do meu olhar.

- Isso não tem nada a ver com o Gaara. Tem a ver com você me rebaixando e achando que não tem nada demais. Tem a ver com a minha infelicidade só pra poder te fazer feliz. Tem a ver com a ameaça velada que você fez à Ino, sobre me afastar dela. E, Kakashi, tem a ver com o fato de você estar implicando até com o Naruto e o Sasuke por minha causa. Então, querido, quem tá misturando as coisas aqui é você. Você era, ERA, meu namorado. Nunca foi meu dono.

Tá claro? Porque agora só faltou eu desenhar. O que ele faz? Puxa meu rosto pra me forçar um beijo. Eu sei lá que tipo de filme o Kakashi anda assistindo ou que tipo de livro ele anda lendo, mas eu, como a personagem beijada a força, tô a uma gota de dar outro corte pra essa boca.

- Me larga! Enlouqueceu, agora?

- Pára com isso, Saky! Eu te amo, você me ama! A gente só precisa se entender!

À força?!

Tô pensando seriamente em sair daqui e ir contar pro Gaara desse beijo escroto. Quero ver o estrago que o Kakashi vai virar.

Não, melhor não. Eu vou só sair daqui mesmo. Na porta, ele me chamou. E, pela voz, eu sei que não vai mais me falar de romance.

- Você vai mesmo por sua carreira em risco por causa de meia dúzia de palavras fora de contexto?

Okay. Isso foi uma ameaça, né? Gentil, cortês, mas foi uma ameaça. No melhor estilo Kakashi. Beleza... Vai lá, Sakura. Responde essa.

- Pôr a minha carreira em risco? Você tá querendo me dizer alguma coisa?

- Só tô dizendo que agora eu vou parar de fazer vista grossa pras coisas que não me agradam.

Ai, puta que pariu!

- E isso se refere ao meu trabalho ou ao meu comportamento?! – tô perdendo a linha aqui.

- Ao seu comportamento, claro. Seu trabalho, eu gostando ou não, é impecável.

Eu gostando ou não. É o máximo de elogio que saiu dessa boca de merda.

- Bom, quanto ao meu comportamento você não tem mais influência nenhuma. Tchau, Kakashi.

- Ah, eu tenho sim. – parei de novo. E eu até imagino o que ele vai falar. – Essa Editora é minha, Sakura. E eu não vou mais admitir esse seu comportamento vulgar de ficar agarrando seus colegas de trabalho.

Não tem como ficar séria. Não dá. A risada saiu sozinha.

- Você vai me mandar embora porque eu não tô mais dando pra você?

- Não falei nada disso. Você só sabe dist... – cansei.

- Cala a boca, Kakashi! Seja honesto! Pára com essas palavras manipuladas e haja com verdade pelo menos uma vez! Você vai mesmo me prejudicar porque o nosso relacionamento não deu certo?!

Nunca tem silêncio.

Nunca.

Por isso, quando eles surgem é fácil entender o que tá subentendido.

- Eu passo no RH no fim do dia. Vou só terminar um capítulo que eu tô no meio. Quem pegar, pega ela quase pronta já.

- Você fica até o fim do livro.

Eu quero berrar um NÃO tão alto na cara dele, mas o meu projeto, o meu amor pela Sakura de Konoha falou mais alto. Falta pouco mesmo. Mais um mês, se eu escrever sem parar. Depois, se Deus quiser, nunca mais piso aqui.

- Você que manda.

E saí. Batendo a porta e sentindo o corpo se despedaçar. Eu lutei tanto pra chegar até aqui... Uma faculdade impecável, só com nota alta. Um trabalho sem erro nenhum, recomendação de gente foda. Um amor... eu abri mão de um amor por causa desse trabalho, por causa da minha carreira e agora, tá tudo descendo pelo ralo por causa de um homem que não consegue entender que o que ele diz tá me ofendendo.

Eu não tô nem ligando do papelão de chorar que nem uma louca, sentada no chão, no meio da sala da Editora. Até tô vendo todo mundo me olhar com cara de medo, sei lá se escutaram os berros, mas não tô nem aí. O Kakashi me deve isso. Me deve esse acesso de loucura. E vai pagar por mais esse vexame.

Mas, ainda bem, que quem trabalha aqui entende as entrelinhas das coisas. É claro que foram pedir ajuda. E, por terem sacado algo de muito errado, buscaram a única pessoa que pode me tirar dessa bad.

- Vem cá.

A asa. Ela chegou. Me puxou do chão e se colocou em cima de mim. Aqueles olhos verdes me olhando com tanto medo, com tanta dor, e eu aqui, só admirando a vista. A vista dele. A vista do Gaara me abraçando e me levando pro elevador. Eu não devia subir, não mesmo. Kakashi tá procurando um jeito de me chutar daqui e não me achar na minha mesa é um ótimo motivo pra me mandar embora sem direito a nada. Mas não tem a menor condição de eu escrever qualquer coisa. Até porque, meus olhos tão lotadinhos de água.

Ele saiu comigo, sentou encostado na parede e me encostou no seu peito, entre as pernas. E só. Não falou nada, não perguntou nada, só o silêncio que eu tanto aprecio.

E, de repente o choro passou. De repente, eu foquei num prédio lá longe e notei que aquelas nuvens podem virar chuva. De repente, eu reparei que o peito do Gaara faz o mesmo movimento que me relaxa, que eu tinha encontrado no Sasuke. De repente, eu senti que a testa dele tá apoiada na parte de trás da minha cabeça. De repente, eu percebi que os braços rabiscados tão apoiados nos joelhos, sem nem encostar em mim. E, de repente, eu senti que quero eles me envolvendo.

- Me abraça.

Não foi um pedido. Foi um complemento desse momento em que ele, só ele, consegue me dar a paz. Um demônio. Um maldito demônio ruivo que só bagunçou a minha vida, é a pessoa que me faz ver que tem mais coisas, coisas simplórias, do que uma carreira e o fim de um relacionamento conturbado. É ele que me dá abrigo quando a merda acontece. É ele que, com toda a pose de durão, desapega do próprio orgulho pra me amparar pelo fim de coisas que ele deveria comemorar. E é ele quem complementa o que eu faço.

Os braços rabiscados me envolveram devagar, me afundando ainda mais naquele peito. A testa levantou e agora o que tá apoiado no topo da minha cabeça é o queixo metido.

- Ele te mandou embora?

- Ainda não. Mas deixou claro que assim que eu terminar o livro, tô fora.

- Então mandou. – sempre inteligente. – Falta o quê? Três meses?

- Em um eu termino a minha parte.

- Quase um aviso prévio... – e isso é tão absurdo que não tem como não rir. Olhei pra cima pra achar aquela risada boa do Gaara e fiquei perdida um minuto, vendo ela diminuir aos poucos. Ia voltar a falar. Não faz isso demoninho. Continua rindo que é melhor. – Quando você sair, eu vazo também.

Eu sei que não vai adiantar, mas...

- Nada a ver, Gaara. O Kakashi gosta do teu trabalho, você gosta daqui...

- Eu gosto mais de você, Sakura. – isso é bom de ouvir. – Só voltei pra ficar por perto, pra momentos como esses de agora. Quando você não tiver aqui, não tem mais porquê eu estar.

Eu sabia que não ia virar nada eu falar.

- Vou sentir falta dos meninos. – vou mesmo.

- Conversa com eles hoje. Explica o que aconteceu. Eles são teus brothers, também. Merecem saber que você vai vazar daqui há um mês.

- É... eu vou fazer isso.

Mas agora eu vou ficar em silêncio mais um pouquinho, só vendo as nuvens cinzentas lá longe e curtindo esse abraço com cheiro de Gaara.

Tô pronta. Tô firme. Olhei pra cima e encontrei olhos que entenderam o que eu quero dizer. Gaara levantou e eu... bom, eu vou fazer um charme. Estendi a mão.

- Porra, mas é folgada demais... -  e você adora. Nem vem. Me puxou num tranco tão forte que eu acho que desloquei o ombro.

- Caralho, Gaara... precisava disso tudo?

- Precisava pra te trazer pra mais perto de mim. – ai, Deus. As garras já me envolveram pela cintura e a boca brava tá muito, muito perto. – Você sabe que eu não faço as coisas de graça, Sakura...

Ai.

Meu.

Deus.

- Tá falando do quê? – nisso eu tô hipnotizada nesse sorriso de canto e nesses olhos estreitos. Puta merda de um homem lindo!

- De ter ficado aqui com você, ao invés de ir arrebentar a cara do Kakashi. – gelei. Mas entendi onde ele quer chegar.

- Vai custar o quê, dessa vez?

Não teve mais palavra. E quando elas faltam assim, eu adoro. ADORO! Aquele beijo louco, aquela luta, aquela garra me apertando pelas costas, me dobrando pra trás, me obrigando a enfiar minhas mãos no meio de um monte de cabelo vermelho. Aquela loucura que sempre foi os nossos beijos. Aquela coisa que me desestrutura e que, quando as bocas se soltam, chegam a formigar.

QUE SAUDADE DO BEIJO DO GAARA!

E aí vem as nossas conversas de sempre.

- Isso não significa nada... – tô até sem ar e significa sim. Significa que meu corpo ainda implora pelo dele.

- Eu sei que não. Mas tá bem foda ficar perto de você sem te beijar, folgada... Eu sou viciadão no teu beijo.

Oh, papai do céu...

Ainda bem que ele é bom de finalização, né? Sabe que nada que preste vai sair da minha boca imbecil agora, então só me soltou, dando uma mordidinha bem soft no meu lábio. Que gostoso, deuses! Que demônio gostoso!

- Vamo descer. Já tá quase na hora do almoço mesmo.

Dessa vez a vida me deu uma trégua porque o caminho todo eu me caguei de medo do Kakashi estar bem na porta do elevador e gritar “Ah, rá!”, quando a gente saísse. Apesar de que deve saber o que aconteceu e, quer saber?

FODA-SE!

Só fui pra minha mesa e encontrei dois delicinhas me olhando sérios demais.

- Ele te mandou embora? – Sasuke com essa carinha de pavor é coisa mais linda.

- Já tá na hora de almoçar?

- Falta dez minutos. Mandou ou não?

- No almoço a gente conversa, pode ser?

Aí entra um Naruto desolado.

- Te falei, Sasuke. – eles e essa mania de comentar sobre mim.

Aguentei esses dez minutos sentindo o corpo ferver de vontade de sair dali e, quando rolou, já tinha um Gaara esperando atrás de mim e olhando pra porta do Kakashi. Se ele inventasse de sair ali, ia dar merda. Melhor ir logo, né?

Agora pensa a sensação: eu, linda e rosa, andando do lado dessas três perdições que andam. Coisa louca!

Fomos no mesmo restaurante da lasanha e a moça do caixa só falta colocar um broche de arco-íris. Ela encanou mesmo que o Sasuke e o Naruto são um casal. Tadinha. Faz nem ideia dos homãos!

- E aí, Sakura? Mandou embora ou não? – sempre direto o moço bonito.

- Ainda não...

- Mandou sim. Pára de merda, Sakura. Se é pra ir agora ou daqui a um mês, mesma bosta. Mandou embora sim.

Demônio ruivo intrometido! Fofoqueiro da língua bifurcada. Já mando logo o dedão do meio pra ver se se emenda e ele faz o quê? Ri. Porque é um demônio.

- Porra, que que o Kakashi tá arrumando? – Narutinho inconformado. – O cara era tão ponta, começou com essas coisas esquisitas...

E aí entra a minha deixa.

- Ele tá de implicância com vocês? – a resposta não veio, mas os olhos de ambos baixando tem um significado óbvio. Tá. – Que que aconteceu?

- Deu uma chamada de atenção, só isso. – e eu não conheço os meus delícias? Naruto começou a falar e a olhada do Sasuke foi fulminante. Gaara, então, tá com aquela cara de “eu te falei”.

- Fala logo, porra! Eu tô encanada com isso desde ontem! Não tava sabendo disso, gente! Olha, vocês me desculpam se foi por minha caus...

- Não é culpa sua, Sakura. – ah, não? Tá bom. – O que chapou tanto eu, quanto o Naruto, foi a insinuação de que a gente tava te levando pra algum tipo de coisa errada.

A cara do Kakashi... Quer dizer, depois de ontem é a cara dele essas merdas. Até ontem, eu duvidaria disso.

- Como coisa errada?

- Ah, que a gente ficava tentando te pegar, mesmo sabendo que você tava comprometida e...

- Deu, Naruto.

DEU É O CARALHO!

- Fala tudo.

Os dois se olharam igual em faroeste. Quando o Sasuke recuou, a boca do Naruto abriu.

- Ele deu a entender que se a gente não ficasse longe de você, ia ser mandado embora também.

Não acredito nisso.

- Puta que pariu... -  sou a própria imagem da degradação, com a mão enfiada no cabelo e o cotovelo apoiado na mesa. Quem é esse Kakashi, meu Deus? – Eu vou sair assim que terminar a minha parte no livro.

- A gente só não saiu por sua causa, Sakurinha. Ia vazar há um tempo já, depois do lançamento do livro da Rin. – nossa, tão aguentando a todo esse tempo. – A gente só não vazou porque o Gaara me ligou e pediu pra ficar de olho em você até ele voltar.

- Por que isso, Gaara?

- Porque eu conheço o Kakashi e eu sabia que depois daquele negócio que você escreveu lá no livro da Rin ele ia pirar. O Kakashi adora falar de mim e da minha possessividade, mas ele é mil vezes pior que eu. Eu, pelo menos deixo aberto. Ele, vem com aquelas coisinhas dele e não abre mão. Foi por isso que eu pirei com o lance da caneta, lembra? Aquele é o jeito do Kakashi de dizer que você ainda era dele.

- Mas ele deu uma caneta pros meninos também... -  deu, não deu?

- Deu mesmo. Mas a nossa não chega nem perto da tua. Você tem ideia que aquela caneta que o Kakashi te deu vale uns três pau?

Ô louco.

- Mentira, Sasuke... – a cara de pamonha em vida.

- Nop!

- Sacou, Sakura? Ele vem com essas coisas que parecem normais, mas por trás tá cheio de intenção.

Isso ainda não justifica o acesso do Gaara que resultou no nosso término, mas já explica a irritação exacerbada por aquilo.

- Por que você não me contou na época, Gaara? – tô puta com isso.

- Porque não ia adiantar! Ele já tinha avançado a ponto de você achar que eu tava sendo só ciumento! Eu tava mordido de ciúme, mas tava mais era encanado com o movimento manso dele!

Sou ou não sou a perfeita desgraçada dentro de um roteiro de filme trash?

- Vocês largaram mesmo, Sakurinha?

- Largamo, Naruto. E a cada palavra a chance de voltar vai se tornando nula.

- E tuas coisas? Ainda tão na casa dele? – por infelicidade, sim.

- Vou buscar hoje. - essas caras. Por que tão se olhando assim? Os três? – Que que foi? Fala, logo.

- Pede pra porca ir com você, Sakura. O Sai também. – tô assustando.

- Por que, Gaara?

- Porque, se eu conheço o Kakashi e eu conheço, ele vai tentar uma última vez e, assim... Se você realmente não quiser voltar... – bonitinho, tristinho. Mas foca.

- Como assim?! Você tá me apavorando, porra! Ele vai me bater, me amarrar, sei lá?!

- Não, longe disso. – entra o Sasuke Holmes. – Ele vai tentar te conquistar de novo.

Oh, Deus. Não quero isso aí não.

- Prepara pra metralhadora de romance, Sakurinha. Ele, quando quer, é insuperável.

Me preparar pra uma investida romântica do Kakashi. Não era pra isso ser bom? Por que eu tô morrendo de vontade de largar minhas coisas lá e comprar tudo novo?

Ah, é. Porque agora eu tô desempregada.

Kizashi, Mebuki, arrumem meu quarto. Eu tô voltando!



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