Essa era, sem dúvidas, uma das piores noites da vida de Justin. Ele se sentia completamente perdido, como se tivesse sido jogado em um deserto no meio da noite. A sensação era horrível. Nunca, em toda sua vida, ele imaginou sentir tanto medo de perder alguém. Sempre teve medo de ficar sozinho, de perder seu irmão, mas nada se comparava a isso. Não porque as outras pessoas são menos importantes, mas sim pelo o que elas representam.
A pior forma de perder alguém é saber que ela está perto de você, mas ao mesmo tempo longe. Inalcançável. É saber que você quer ficar ao lado dessa pessoa todos os minutos de sua vida, mas saber que ela está melhor sem você.
Esse era o medo de Justin.
No fundo, ele sabia que a culpa era dele. Ele se culpava. Deveria ter ignorado Audrey até ela desistir e seguir a sua vida.
Ele não a amava. Não mesmo. Mas arriscava dizer que esse sentimento beirava o amor. Você só sabe o que sente por uma pessoa quando está prestes a perdê-la. O desespero faz isso. Ele te deixa louco.
Pelo menos Audrey estava viva. E bem. Perfeitamente bem.
Isso era a única coisa que acalmava o coração de Justin.
Ele tinha que se afastar dela.
Era preciso.
Era a única certeza que ele tinha naquele momento. As pessoas se machucam quando ficam perto dele, mesmo que não intencionalmente. Justin precisava mantê-la segura e o faria, custe o que custar. Ele a trouxera para a loucura que era sua vida.
Encarou a parede cinzenta de sua cela e suspirou.
Já fazia mais de duas horas que estava sentado no chão sujo, na mesma posição, encarando o mesmo ponto da parede. Era a segunda vez que ele passava por isso e já não aguentava mais.
Justin só queria que tudo parasse.
Já não aguentava mais dizer “eu sou inocente” e ser ignorado. Pelo menos, dessa vez ele não ficaria ali por muito tempo. Andy já o avisou que Claire está bem e, assim que acordar, irão colher o depoimento dela.
Mesmo sem ele estar com a faca, foi acusado de tentar assassinar Audrey.
Os policiais eram os mesmos que o haviam prendido cerca de um ano atrás. Justin arriscava dizer que eles não estavam surpresos quando encontraram Justin com Audrey em seus braços. E para ajudar, as garotas que saíram dos dormitórios disseram que ouviram gritos e quando chegaram só encontraram os dois.
O que mais desesperou Justin foi ver o olhar no rosto de Andy.
Aquele olhar.
Andy estava com tanto medo quanto Justin. Ele sabia que o irmão não havia feito aquilo e acreditava nele, mas se sentia inútil. Não podia fazer nada.
Audrey abriu os olhos e se assustou. Mesmo estando deitada, deu um pulo para trás, atraindo a atenção de Andy. Claire dormia sentada na poltrona, ao lado dele. Seu pescoço caía para o lado e ela ainda usava a roupa que havia ido para a universidade.
Andy foi até Audrey e ajudou-a a se sentar na cama de hospital. Ela olhou para os lados e depois fez uma careta ao sentir uma pontada em sua barriga. Levou a mão direita até a barra da camisola e subiu-a, não se importando com sua calcinha a mostra.
Haviam seis pontos na lateral da sua barriga a eles doíam como o inferno. A pele em volta estava em um tom de roxo estranho.
— Você se lembra do que aconteceu? – perguntou Andy após ela abaixar a camisola.
Ela acenou que sim. Olhou para um copo de água que estava na mesinha ao lado da cama e tentou pegá-lo. Se encolheu ao sentir dor. Sua boca estava muito seca, ela precisava beber água.
— Essa água deve estar quente. Vou pegar outra, já volto.
Na mesma velocidade que foi, Andy voltou.
Ela bebeu todo o conteúdo do copo e, finalmente, conseguiu dizer algo.
— Cadê o Justin?
Ele olhou para a parede atrás dela.
— Vamos por partes. Tem uns policiais ali fora querendo falar com você. Eles querem o seu depoimento e o futuro do meu irmão depende disso. Eu sei que estou parecendo desesperado, mas é porque eu realmente estou desesperado. Então, diga tudo o que aconteceu para eles e depois nós conversamos, pode ser?
Audrey quis dizer que não, mas cedeu ao ver o desespero nos olhos dele.
Alguns segundos depois um médico entrou, acompanhado por dois policiais. Cada um tinha uma prancheta na mão. Ela foi examinada e, apenas após o médico permitir, os policiais se aproximaram e ela disse tudo o que aconteceu.
Infelizmente, teve que dizer a parte do roubo do disquete também.
Enquanto ouvia tudo o que Audrey dizia, Andy acariciava os cabelos de Claire. A garota estava dormindo até agora, mesmo com todo o falatório, graças ao comprimido que ele havia dado a ela. Era o único jeito que acalmá-la. Claire estava tão nervosa e preocupada com Audrey que suas mãos não paravam de tremer um segundo.
E para melhorar toda a situação, quando Claire descobriu que Audrey estava com Justin ela simplesmente surtou. Ter que lidar com o irmão preso — mesmo que temporariamente —, a única garota que ele podia chamar de amiga desacordada em uma cama de hospital, e a garota com quem ele estava ficando tendo um surto por causa de seu irmão, havia desgastado Andy. Ele só queria apagar esse dia da sua cabeça.
E depois de conversar com Justin sobre Audrey, Andy ficou ainda pior. Ele não deveria ter dito o que disse para a garota alguns dias atrás. Ela não merecia. Mas, ele também não tinha culpa. Se não tivessem escondido isso dele, nada teria acontecido. Só estava tentando proteger seu irmão mais velho.
Quando os policiais saíram do quarto, Audrey continuou olhando para frente em silêncio.
Após uns segundos, ela finalmente disse algo.
— Eu não acredito que ele está em uma maldita cela por minha causa.
— A culpa não é sua. E nem dele – pausou – Não é de nenhum de vocês – murmurou olhando para o teto.
Audrey não disse nada.
— Como ela ainda está dormindo? – perguntou, se referindo à Claire.
— Eu a sedei – pausou por alguns segundos e depois continuou – Se prepare para quando ela acordar. Claire sabe sobre você e meu irmão.
Ela fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, afundando-a no travesseiro. Murmurou um “droga” e olhou para Andy.
— Como ele está?
Não foi preciso especificar quem.
— Sinceramente, eu não sei.
— Pelo menos, agora tudo vai acabar. A polícia vai atrás daqueles caras e vão ver as fitas. Vão ver que o Justin é inocente e tudo vai voltar a ser como antes.
Andy riu.
— Não seja tão ingênua. Nada vai ser como antes. Não importa o que aconteça, não importa se Justin tem provas, eles sempre vão o olhar diferente. Ele ainda vai ser lembrado como o cara que tentou matar uma menina. E ele não vai voltar ao que era antes. Aquele Justin nunca mais vai existir.
Audrey queria lhe dar uma resposta, dizer que Andy estava errado, mas não podia fazer isso. Porque ele estava certo. Nada seria como antes. Justin não seria como antes. Algumas feridas demoram para cicatrizar, outras nunca cicatrizam. Elas ficam marcadas em você como uma maldita tatuagem.
O começo não seria fácil. Todo aquele assunto viria à tona novamente. As pessoas iriam fazer perguntar que, talvez, fossem impossíveis de serem respondidas. Uma vez que aquela história foi espalhada, seria difícil colocar a verdade na cabeça das pessoas. Elas sempre ficariam com um pé atrás.
Como um estalo, uma dúvida se plantou na cabeça de Audrey.
— E meu pai?
— Nós preferimos não avisá-lo. Você é de maior, então não foi preciso.
Audrey suspirou de alívio.
— Fizeram bem. Ele ficaria louco.
Audrey já havia recebido alta, porém teria que ficar alguns dias sem trabalhar e ir à faculdade. Mais especificamente, dez dias. Não podia fazer muito esforço, ou os pontos poderiam abrir. Andy se ofereceu para levá-la embora e Claire já estava acordada.
Desde o segundo que despertou, suas únicas palavras foram “Audrey está bem?”, e após Andy responder, a morena ficou quieta. Ela furiosa e, acima de tudo, chateada. Não sabia se tinha o direito de ficar chateada com isso, mas não estava nem aí. Estava chateada e pronto.
Ela preferia ter descoberto sobre Audrey e Justin pela amiga, e não do jeito que aconteceu.
Audrey ficou completamente confusa quando Andy parou o carro em frente ao prédio do apartamento de Justin. Mas ficou feliz em saber o que isso significava.
Ele já estava solto e estava esperando por ela.
Mas essa felicidade deu lugar a confusão assim que adentrou o apartamento e percebeu que ele estava vazio. Olhou para Andy.
— Cadê ele? – perguntou.
— Deve estar saindo da delegacia agora. Vem para o quarto, você precisa se deitar.
Ela viu Claire entrando na cozinha com Gato no colo e abriu um sorriso. Ela cuidava dele como se fosse um bebê. Assim que Claire olhou para ela, seu sorriso morreu. A amiga estava completamente séria.
Claire não sabia que o animal estava no apartamento de Justin.
Pensando melhor, Claire não sabia muita coisa.
Audrey seguiu Andy até o quarto de Justin e franziu a testa ao ver suas coisas no local.
— Por que minhas malas estão aqui?
Perguntou enquanto se sentava na cama com cuidado.
— Você vai ficar aqui por uns dias. Ordens de Justin.
Ainda bem que Audrey estava sentada. O tombo seria feio.
— Desculpe?
Ele parou o que estava fazendo e cruzou os braços, olhando para ela.
— Você precisa de um lugar calmo, Audrey. Precisa ficar de repouso e confortável. Os dormitórios não são calmos e nem confortáveis. Essa é a sua melhor opção.
Audrey fechou os olhos e contou até dez. Ele tinha razão. Na verdade, Andy estava tendo muita razão ultimamente. E também, ela não podia vir até o apartamento colocar comida para o Gato todos os dias. Mal conseguia andar sem fazer careta.
— Tudo bem. Quando Justin chegar eu converso com ele. Não vou ficar aqui de graça.
Andy a olhou receoso.
— Audrey... Justin não vem.
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