História El Bigote. Taekook, Vkook. - No quarto da Taeli

Depois de tomar banho, eu me sequei e vesti uma calça larga e uma blusa do mesmo jeito pra poder passar a noite.

Antes de dormir tinha a janta ainda.

Amanhã cedo eu ia ver meu chefe. Ou meu ex chefe. Ele provavelmente me chamou lá pra me matar, mas mesmo assim eu ia.

Porque era só o que dava pra fazer, mesmo.

Eu desci as escadas depois de passar um creme por meu bigode, ouvindo o som dos meus passos quando caminhei até a cozinha.

— vem, filho. Vem colocar sua comida. Seu amigo já tá no segundo prato.

Minnha mãe disse, apontando para Jungkook.

O menino estava comendo sem parar.

Parecia uma máquina.

Parecia que estava passando fome.

E deveria.

Ontem não comemos nada direito na cela.

— tá gostoso, Jungkook? — perguntei, puxando a cadeira ao seu lado pra me sentar. Aproveitei pra pegar a concha e colocar um pedaço de carne no prato.

— muito gostoso! — ele sorriu pra mim, fazendo com que ruguinhas aparecerem em seu nariz. — sua mãe cozinha muito bem.

— e quando seu amigo disse que gostava de torta irlandesa, eu precisei fazer. Assei rapidinho! — minha mãe falou, toda animada, usando suas luvas coloridas pra tirar a torta do forno. O cheiro era tão doce e gostoso que me fez suspirar. — ele disse que é da terra dele!

— sim. Minha mãe fazia. Ela é feita com uma massa doce crocante com maçãs verdes . Minha mãe colocava canela, era muito gostoso.

— só não tem um tal de molho de creme que ele pediu, e eu nem sei o que é isso, mas eu bati um pouco de leite condensado com alguns pedaços de maçã caramelizarda.

— sério? A senhora colocou maçã caramelizada mesmo?— Jungkook perguntou, sorrindo tão largo que seus olhos quase se fecharam por completo.

O menino largou a comida pra comer a torta, suspirando quando deixou uma mordida e um pouco do recheio escorreu por seu lábio inferior.

Me segurei muito pra não limpar aquilo com minha língua.

— e por que você não trouxe sua mãe pra cá também? — a mais velha quis saber, comendo o frango desfiado temperado com muita pimenta.

— minha mãe não tinha motivo pra vir.

— e o seu motivo? Qual foi?

— eu? Ah. — ele se enrolou um pouco, colocando mais um pedaço na sua boca. Agora sua voz enrolada pelo sotaque forte e pelas bochechas cheias. — vim pra cá pra buscar trabalho. Lá tava difícil demais.

Murmurou, dando um sorriso sem graça.

Algo me dizia que não era por isso.

Se eu for seguir minha intuição e paranoia, não foi mesmo por isso que Jungkook veio pra cá.

— você deve estar com saudades. — comentei, enrolando macarrão no garfo.

— estou. Estou com muita saudade, mas... pé rud. — dei de ombros, falando naquela língua.— quem sabe um dia eu não volte pra lá?         

Ele fez um bico, acho que involuntariamente, enquanto olhava para a torta em suas mãos.

Eu não me aguentei.

Me aproximei de si, ouvindo minha cadeira ranger sobre o piso de madeira, e levei minha mão até sua orelha, começando a acaricia-la.

— não fica assim, bebê. — o apelido saiu naturalmente de meus lábios, e eu ainda afagava sua pele, notando seu olhar em mim. — você vai conseguir voltar. Ou ela vem aqui com seu pai. Não precisa ficar triste.

— não estou triste, só estou com saudade, hyung...

— eu sei, bebê, mas você vai trabalhar muito e vai poder trazer seus pais pra cá pra dar uma visitinha. Não fique assim.

Deslizei minha mão por seu rosto, dando alguns toques embaixo do seu queixo.

Quando eu olhei pro lado, eu vi minha irmã e minha mãe confusas, ambos de cenho franzido, encarando aquela cena.

Antes que eu pudesse me explicar, elas voltaram a comer como se nada tivesse acontecido.

— depois do jantar você pode ir no meu quarto. — disse Taeli. — vou mostrar pra você minhas HQs. Quem sabe você fica mais animado.

— tem do Homem de Ferro?

— tem.

— vou querer ir.

Eles sorriram um pro outro, e eu tirei minha mão de Jungkook, passando a língua por minha bochecha interna.

Eu não queria que Jungkook fosse pra lá.

Taeli era uma sem vergonha. Com certeza ia dar em cima de Jungkook.

Não estou dizendo que ele é todo inocente e por isso que não os quero junto.

Eu só não gostava da ideia de eles terem alguma coisa.

— Jungkook não pode ir. Depois do jantar ele tem que ter uma conversa séria comigo, não é? — o olhei, estreitando meus olhos.

Jungkook apenas ficou assim, me encarando, comendo o terceiro pedaço de torta a ponto de sua mão estar toda suja de doce.

Ele juntou as sobrancelhas.

Tinha entendido meu recado.

No entanto, ele falou:

— não é tão séria. Vou ir no quarto de Taeli. Depois a gente conversa.

Desviei o olhar, talvez apertando meu garfo com força demais.