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História Ele é Como Rheya - Ele é como uma Cereja


Escrita por: coly-unnie

Notas do Autor


Olá, boa tarde 💜

Espero que todo mundo aqui esteja tendo umas férias gostosinhas. Obrigada pelos 1.5k de favoritos, vocês são demais!!!

Tenham uma boa leitura~

Capítulo 16 - Ele é como uma Cereja


JIMIN

 

— E então ele… — Seokjin suspirou, se segurando muito para conseguir terminar a fala sem rir. — Ele disse que não tinha sido ele, até inventou uma baboseira sobre ter sentido uma presença estranha! Cara, fiquei com tanto medo que o fiz me dar as mãos. Começamos a rezar para que o espírito não tentasse nos matar!

— Ai, Jin… — Jeongguk tampou metade do rosto com as mãos, visivelmente envergonhado com o relato.

Já eu apenas presto atenção em seu amigo e sorrio, gostando da sensação de ouvir histórias sobre Jeongguk.

— Tem uma marca de tesoura na minha porta até hoje. O Jeongguk só foi confessar que foi ele um ano depois — Seokjin terminou, dando risada, e não posso evitar rir também ao imaginar um Jeongguk mais novo inventando mentiras para se safar de problemas.

Estávamos sentados na cantina, com Yoongi ao meu lado, e do outro Jeongguk e Seokjin, que contava uma história muito engraçada que acontecera anos atrás.

Acontece que, em 82, eles marcaram de fazer um trabalho na casa do Jin, em um dia que faltou luz na cidade inteira. De acordo com Seokjin, naquela época Jeongguk estava com uma mania horrível de girar a tesoura nos dedos, e ele girou tanto, tanto no escuro, que ela acabou escapando de seus dedos e voando longe. Então, fez um barulho estranho e eles ficaram assustados.

A mãe de Seokjin chegou com uma vela momentos depois e foi quando eles perceberam que a tesoura estava fincada na porta do quarto (sim, na porta do quarto!!!), Seokjin já havia pedido para Jeongguk parar de girar a tesoura por aí, já que isso poderia causar um acidente e tudo mais. Jeongguk ficou tão sem graça que jurou não ter sido ele, e não parou por aí: ele inventou coisas para encobrir a mentira, disse que sentiu uma “presença estranha” e que tinha certeza de que havia sido um espírito, e Jin — aparentemente — morre de medo disso. Então, acreditou na hora. Eles rezaram para o tal espírito ir embora e, um ano depois, Jungkook confessou tudo.

Eu estava rindo tanto, ao mesmo tempo que me sentia culpado, porque Jeon estava com as bochechas vermelhas, completamente envergonhado com a situação. 

Mas é que é impossível não rir. Jungkook é tão fofo. Desde que Seokjin começou a contar a história, eu não consegui parar de relacionar a imagem atual de Jungkook com uma mais antiga, mais nova, com ele mais baixinho e mais fofo do que já é, enquanto mente sobre tesouras e fecha os olhos parar rezar por um espírito inexiste.

Isso é incrivelmente fofo!

Eu já disse, e não me canso de repetir que é injusto Jungkook ser tão fofo assim, eu não consigo me aguentar quieto. Me sinto tão descontrolado e balançado. Se eu não rir, vou começar a estapear alguém, e por algum motivo, quero causar uma boa impressão, já que Seokjin está aqui. Eu nunca fui de tentar causar impressões — ou pelo menos eu acho que não —, mas Jin parece ser tão legal, e Jungkook gosta tanto dele que é quase impossível não querer impressioná-lo.

— Eu pedi desculpas, tá? — Jeongguk retrucou, um tempo depois, e não sei se está falando para mim ou para Seokjin. É fofo de qualquer jeito.

— Eu sei, eu sei, mas continua sendo uma história engraçada — disse Seokjin, e eu afirmo com a cabeça, mantendo o sorriso na boca.

Yoongi dá uma risada espontânea.

— Essa tesoura poderia ter pegado no olho de alguém! — diz, um pouco mais alto que o normal.

É, ele fica assim quando toma café.

— Mas não pegou! — Jungkook rebateu, com um biquinho fofo.

Afff. Ele é fofo demais da conta.

— Mas poderia! — Yoongi repete, e sua voz está tão engraçada que não posso evitar começar a rir. Jin ri também.

Jeongguk parece bravo, mas quando nossos olhares se cruzam, ele não se segura. Sua boca bicuda se abre em um sorriso e ele termina por rir também. Então, viramos uma bagunça de risos.

Jin balança as mãos, como se pedisse para nos acalmarmos. Então, diz:

— Foi um papo muito bom, mas agora precisamos ir para o clube de música. — Ele lembra, reunindo os copos vazios onde bebemos café, suco, e chocolate quente, pela mesa.

— É verdade! Acho que estamos atrasados — eu disse, pensativo, procurando algum relógio na parede para checar.

— Devemos estar mesmo. — Jin pondera brevemente. — Vou jogar isso aqui fora e então a gente vai — ele disse, se referindo aos pacotinhos e copinhos, que agora são lixo.

Nós afirmamos com a cabeça, e no meio tempo em que Jungkook se levanta, e eu também, Yoongi agarra meu braço e chega perto. Como se quisesse que apenas eu escutasse, ele sussurrou:

— Preciso conversar com você sobre uma coisa. — Sua voz está rouquinha e ele parece muito másculo agora. Huuh. — Mas em particular.

Olho para ele de perto e balanço a cabeça, afirmando.

— Já volto — eu digo para Jeon, já que Jin não está mais perto, e sim lá do outro lado do refeitório.

É, estavam limpando aqui, então retiraram quase todas as lixeiras. Só nos deixaram sentar porque prometemos não fazer bagunça — e não fizemos.

— Tudo bem… — Jeongguk afirma, enfim.

Meu coração fica apertado. Na boa, não quero ficar longe dele agora…

— Vem.

Mas então, Yoongi corta minha linha de pensamento e impede as vontades do meu coração de serem realizadas. Elas se resumem em: ficar com Jeongguk, ficar com Jeongguk, só ficar com Jeon Jeongguk.

Conformado, apenas olho para Jeongguk enquanto meu amigo e eu andamos para longe, saindo do refeitório logo depois.

Yoongi suspira quando estamos fora, se encostando no primeiro armário que apareceu. Eu apenas o acompanhei, lhe observando, já que ele é meio imprevisível quando bebe muito café.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto de uma vez, já que estou me sentindo ansioso.

Por causa de Jeongguk. É claro que quero voltar pra lá.

— Sim! — Ele está falando alto e engraçado. — Aconteceu que eu estou quase ficando de recuperação em história — explica, então, e sua voz soa um pouco quebradiça e desafinada, e essa mudança de tons é um pouco divertida de ver. Seguro o riso de novo. — Eu preciso muito da sua ajuda para fazer o meu trabalho.

— É sobre o quê?

Yoongi fica em silêncio. Então dá um gemido frustrado.

— Eu me esqueci… — Fez uma careta de pura dor e sofrimento. — Mas eu preciso reunir fatos, contar histórias, pegar livros na biblioteca, e você sabe que eu não funciono com toda essa besteira. Eu não vou conseguir sozinho.

Hmm. Ele pode funcionar se ele realmente quiser, mas é um preguiçoso, e eu entendo a sua preguiça. 

— O trabalho é pra quando? — indaguei.

— Semana que vem. — Ok, esse é um prazo muito curto. — O Sr. Jun disse que não precisava ser muito elaborado, mas ele é mentiroso! O prazo curto é pra ferrar a gente. Você me ajuda?

— Bom, eu amo história... — eu disse, pensativo. — Eu também adoro fazer pesquisas e ler livros… — Eu já sei que vou ajudar, mas um pequeno suspense sempre é bem-vindo. — Ok, eu ajudo — digo, enfim.

Yoongi solta o ar pela boca, como se tivesse acabo de descobrir que está curado de uma doença fatal.

— Ótimo, ainda bem! — Sorriu aliviado, e também dou um sorriso por causa das suas gengivas salientes. — Quando você tá livre?

— Basicamente todos os dias — digo, e ele ri um pouco.

— É, eu também. — Ri. — Então, pode ser sexta-feira? Depois das aulas?   

— Pode ser!

Antigamente saíamos muito tarde na aula na sexta-feira, mas um professor se mudou. Então nós estamos saindo mais cedo nesse período, e esse fato é basicamente perfeito para a ocasião. Uhu.

— Ok, então você vai lá em casa sexta — ele disse.

Quê.

Ah.

Opa.

Sem me segurar, dou um sorriso, já animado com a ideia. Vou para a casa de um amigo pela primeira vez na minha vida!

Fico tão animado, que dou uma risadinha. Yoongi dá uma risada também e damos um toque de mão repentino.

— Então tá! — falei.

Yoongi ainda está sorrindo, mas logo retoma a fala:

— Ah, é, tem mais uma coisa: não vou ao clube de música. — Enfiou a mão dentro do bolso do casaco. — Vou passar no meu armário e ver o tema do trabalho, depois vou na biblioteca pegar uns livros.

— É isso aí, esse é o espírito! — Banquei o positivo, porque adoro quando ele decide levar os estudos um pouquinho mais a sério. Yoongi riu. — E vê se não esquece o tema dessa vez!

— Tá bom, tá bom! — Dá mais um sorrisinho, e começa a se afastar. — Tô indo. Até depois.

— Até! — Sorrio, acenando enquanto ele se afasta, agitado como sempre fica com a cafeína correndo pelo corpo.

Quando ele desaparece diante dos meus olhos, continuo sorrindo enquanto volto imediatamente para dentro da cantina. Jungkook e Seokjin já estão vindo em minha direção, então eu decido apenas esperar paradinho até eles me alcançarem.

— E Yoongi? — Jin perguntou.

— Foi fazer um trabalho importante. Ah, ele não vai no clube.

— Ah — Jin soltou um barulho engraçado, mas logo sua carranca sumiu e ele começou a falar de outra coisa.

É um papo aleatório entre ele e Jungkook, mas eles me incluem na conversa a todo momento enquanto andamos juntos até o clube. Tem algo de diferente nisso tudo, porque ao invés de querer participar, sinto vontade de apenas observar eles conversando. Ou quase isso...

É vontade de observar ele falando.

Tenho sido tão bizarro que, agora, gosto de ver Jeongguk falando com outras pessoas. Ultimamente, quando ele fala comigo, fico confuso e tonto, porque eu quero observar ele por completo, mas não consigo, então sinto que não estou aproveitando o momento... Acabo só ouvindo sua voz e me perdendo nela, por mais estranho que pareça e — provavelmente — seja.

Jeongguk me transformou em um bizarro, e o legal é que eu gosto pra caramba disso.

Logo os dois começaram a falar de Kim Taehyung, e isso me distraiu dos pensamentos, já que dou até um sorriso por lembrar dessa figura que é Kim Taehyung.

Taehyung foi super legal comigo, tipo, muito mesmo! Ainda me lembro de quando ele me abordou na semana passada. Eu estava bebendo água depois do lanche, e Yoongi nem estava comigo. Tae estava muito animado em me conhecer, e foi tão adorável e engraçado. O amigo dele quase não conseguiu segurar ele, porque ele pulou e pulou, e começou a falar sobre meu cabelo, e que eu era mega legal, e fiquei todo amaciado com sua presença inusitada e extremamente familiar.

Claramente, eu me senti muito familiarizado porque já conhecia Taehyung. Eu o vi caminhando por aí e cantarolando, em um dia que agora é distante, mas eu nunca me esqueci. É memorável quando alguém feliz aparece quando estamos tendo um momento difícil.

Quando ele me deu a prancheta para assinar meu nome, vi a caligrafia de Jeongguk, junto de seu nome, lá. Isso me fez sentir tanta coisa… eu não demorei um segundo para assinar também, ainda mais feliz.

No fim, me lembro dessa sensação... de ver o nome de Jeongguk de maneira inusitada. E é claro que eu nem estou mais pensando em Kim Taehyung.

Só em Jungkook, sempre em Jungkook...

Suspirei. Me perco tanto pensando nele tanto, tanto. Enquanto andamos, meus olhos ficam tão sonolentos ao olhar para Jeon, como se quisessem se fechar e empurrar meu corpo para perto dele. Eu sinto que estou ficando maluco e, ao mesmo tempo, irresponsável por causa de todos esses desejos...

Afinal, as vontades estão tão fortes... E se elas saírem do controle?

Tem tanta coisa que eu quero fazer... E se eu acabar fazendo?

Hm...

— Acho que é aqui.

Estou com uma cara pensativa.

E logo percebo que os não-gêmeos estão ambos me fitando, como se esperassem por alguma coisa.

— Ahm? — Faço essa espécie de ruído confuso.

Jin ri de mim.

— É aqui? — Apontou para a sala. Parei para ver a numeração na porta.

Eu realmente não faço ideia se é, mas mesmo assim, dou de ombros, porque estava pensando e fico lerdo quando me tiram do meu meio de pensamentos.

— Ah. — Eu observo a sala. Realmente não faço ideia. — Temos que pagar pra ver.

Sem hesitar, dou duas batidinhas na porta. Dei dois passos para trás, esbarrando propositalmente em Jeongguk. porque quero pedir desculpas baixinho e ouvi-lo dizer, tudo bem, baixinho também. Eu gosto quando a gente fala baixinho.

Mas então, a porta é aberta, e quem aparece, é o amigo de Taehyung, que não tive tempo de conhecer ou saber o nome, mas sua aparência chama minha atenção.

É que ele é bonito. E parece surpreso com nossa aparição, porque as sobrancelhas estão erguidas e os lábios levemente abertos.

— Uau. Vocês realmente apareceram — falou, e depois riu. O sorriso dele é indescritível. —  Ou será que se confundiram?

— Nós aparecemos mesmo, Hoseok. — Seokjin sorriu, e agora sei que o nome dele é Hoseok, que sorriu também.

Essa combinação de sorrisos é muito contagiante e poderosa.

— Sério? — Riu, e nós balançamos a cabeça, afirmando. — Entrem, então! Sejam bem-vindos ao clube de música!

Após sua frase de boas vindas, Hoseok se afastou da porta, a abrindo e dando espaço para nós entrarmos. Ele parecia muito animado, com um sorriso feliz, nos cumprimentando ao que passávamos por ele.

Hoseok fechou a porta assim que estávamos dentro. Observei o lugar, percebendo as carteiras bagunçadas e Taehyung, que está com fones de ouvido, sentado de costas para nós. Ele nem nos percebeu.

— Tê — Hoseok chamou, se aproximando e tocando o ombro dele. Taehyung o olhou, sem tirar os fones. — Tem gente aqui.

Taehyung pareceu entender o que ele disse sem pausar sua música, virando a cabeça e olhando para nós. Ele nos analisou e sorriu abertamente quando me viu, tirando os fones da cabeça.

— Ei, vocês! — Sorriu feliz, se aproximando em um salto.

Fiquei surpreso e feliz quando, depois de alguns passos saltitantes, Taehyung me deu abraço apertado. Depois ele apertou a mão de Seokjin e de Jungkook, com um sorriso enorme.

Mas no fim, ele apenas me puxou para perto e me fez sentar ao lado dele em uma cadeira, como se eu fosse o seu favorito. Hihi.

— Oi... — falei, sem graça.

É incrível como mal o conheço e gosto tanto dele quanto ele parece gostar de mim.

— Oi! — diz de volta, animado. — Eu não pensei que vocês fossem aparecer!

— Nem eu... — Hoseok diz.

— Ah, foi uma decisão repentina. — Jin ri, dizendo. Já Jungkook não diz nada.

— E não é que apareceram em uma boa hora? — Hoseok é quem fala, perto de nós, enquanto arruma algumas cadeiras. — O diretor idiota está pensando em fechar quase todos clubes, porque acha que não servem pra nada. Ele disse um lance aí sobre mandar um representante de classe para analisar nossas atividades e, bem, ver se o clube vale a pena.

— Ah... — Seokjin ponderou, se sentando na cadeira. — E quais são as atividades?

Hoseok parou por um momento, pensativo.

— Pra falar a verdade, não tem atividade nenhuma, mas agora que vocês estão aqui vamos ter que inventar algumas.

Sua fala nos faz rir, todos nós, até Jeongguk. Quando escuto o som da risada dele, olho em sua direção para ver seu sorriso. Ele está sentado perto de Seokjin, e parece muito tímido, mas é tão querida a maneira que ele dá risada…

Ele olhou para mim também, e seu sorriso diminuiu, de um jeito sutil. Então ele abaixou a cabeça e começou a ficar vermelho. Aposto que percebeu que eu estava olhando, então começou a pensar demais e ficou com vergonha.

Ele sempre pensa demais. Dá pra ver na maneira que ele age...

E, na boa, eu adoro quando ele fica vermelho. Demais.

— Então vocês não fazem nada? — Jin voltou a perguntar, abafando a sensação gostosa que a existência de Jeongguk me dá, mas não sumindo com ela.

— É, às vezes jogamos cartas, mas como sempre foi só Taehyung e eu, a gente não tem nada fixo. Vocês vieram pra ficar?  

Jin balançou a cabeça, afirmando, e Jeongguk o faz junto. Quando Hoseok me olhou, também afirmei.

Taehyung deu um sorriso.

— Que bom! Vão nos ajudar a enganar o representante que vir, né?  — Taehyung perguntou, muito animado.

— É, precisamos inventar algumas coisas para não suspenderem o nosso clube. — Hoseok fez uma careta ansiosa, se sentando também. — Vocês precisam dizer como é estar no clube, e para o que ele serve também.

— E para o que ele serve? — perguntei.

Hoseok deu de ombros e Taehyung respondeu:

— Pra matar aula, né.

— Mas não podemos dizer isso — Hoseok retrucou, e dou uma risadinha. — Tem um piano aqui, vocês querem aprender a tocar?

— Um piano? — Jin olhou em volta, procurando ele. Também faço isso.

Taehyung se balançou, apontando para trás.

— Aqui.

Olhei para trás e me surpreendi, porque realmente tem um piano aqui. Mas as teclas estão cobertas por essa espécie de proteção que é de madeira e que eu não faço ideia de como se chama.

— A gente também lancha, e o Taehyung tem umas revistas internacionais muito legais, ele sabe de tudo sobre a vida de uns artistas, podemos dizer que aprendemos sobre a música de hoje em dia e… é, sei lá, a cultura dos americanos — Hoseok deu de ombros.

— Ainda bem que vocês apareceram. Tipo, sério. Estávamos desistindo do clube já — Taehyung disse, com a voz mais grave do que antes. — Eu também canto! Vocês cantam, né?

— Só no chuveiro — respondi, porque é uma grande verdade.

— O Jeongguk traduz músicas o tempo todo — Jin diz, apontando para Jeongguk, que não disse nada até agora.

Toda a atenção é voltada para ele depois disso e ele abaixou a cabeça, constrangido.

— Tá aí uma coisa para dizer: praticamos o inglês com as músicas! — Hoseok dá essa ideia que, na minha opinião, é brilhante.

— Pronto! Aulas de canto, piano, e inglês — Taehyung fala, sorridente. — Esse clube é um estouro, né?

Os meninos riem com sua fala, e eu não posso evitar sorrir, animado com a ideia de sermos todos amigos em um clube tão legal.

Ficamos em silêncio por um tempo, rindo baixinho. Até que Hoseok se moveu, abrindo um dos armários e tirando um toca-fitas de lá, que é um luxo.

Eu realmente nunca me deparei com um toca-fitas desse tamanho, assim, tão perto.

Eu vi um desses na loja, e ele é bem mais potente que o walkman, então não posso evitar arregalar os olhos por vê-lo ali.

— Essa belezinha aqui foi providenciada pelo diretor — disse ele, feliz, enquanto exibe o toca-fitas. Logo o coloca em cima da mesa, passando a mexer em sua mochila. Tira de lá uma fita. — Se bem que ele comprou pro clube de teatro, que é um fracasso.

— Só tem gente do mal lá — Tae falou, com um sorriso ladino.

Hoseok coloca a fita no aparelho, e mexe nos botões.

— Bom, eles não mexem mais com a gente — Hoseok disse, rindo, como se lembrasse de uma história engraçada e antiga. Taehyung deu um sorriso maligno e riu também.

Quero perguntar sobre, mas quando a música começa a tocar, fico muito surpreso e animado.

Que música é essa e por que ela é tão perfeita?!

— Ei, qual é o nome dessa música? — perguntei, endireitando minha postura.

— Hum… — Hoseok pegou a fita, forçando a vista para ler a letra. — Eu não sei falar em inglês e o nome dessa banda é muito doido, então vou anotar pra você.  

Assenti, esperando enquanto ele pegava papel e caneta. Depois veio até mim, colocando o papel em minha mão, como se fosse um bilhete. Li rapidamente.

“Love My Way” da banda: The Psychedelic Furs

 

Dou um sorriso, porque realmente amei essa música. É um pouco diferente do que estou escutando ultimamente, mas continua sendo tão bom… tem esse barulho que me faz querer bater meu pé no chão e balançar o corpo no meio da noite como se eu fosse doido e adulto.

Guardo o papelzinho no bolso para não perder, e apenas curto a música, batendo meu pé no chão e me segurando muito, muito mesmo para não fechar meus olhos. Eu sempre faço isso quando gosto da música. Mas eu admito que é um pouco esquisito...

— E nós…

Antes que Hoseok completasse a frase, escutamos um barulho. Ele abaixou a música e Jin e Jeongguk pararam de conversar, atentos ao que, aparentemente, são batidas na porta da sala.

Três batidas na porta, mais especificamente. Estamos quietos porque, de cara, sabemos que...

— É o representante! — Hoseok completa, sussurrando, abaixando a música ainda mais.

Taehyung se levantou e eu também. Hoseok ajeitou os cabelos — que já estão arrumados — e caminhou calmamente até a porta. Enquanto isso, eu me sinto tenso e, ao olhar para os meninos, fico surpreso porque eles parecem tensos também.

Pois é, parece que já estamos bem familiarizados com o clube… que nada dê de errado.

Hoseok olhou-nos mais uma vez antes de colocar sua mão na maçaneta. Ele abriu um sorriso quase forçado, mas que continua brilhante como sempre e, enfim, abriu a porta, que revela para nós o representante de turma.

Mas… para a nossa surpresa, o representante é, na verdade, uma garota.

Uma garota… e ela é bonita.

Ficamos quietos, a observando. E ela nos observa de volta.

Ela pigarreia, parada na porta.

— Hm. Olá…? — ela diz, enquanto todos nós continuamos boquiabertos e nervosos.

Ou eles só estejam surpresos. Eu, pelo menos, me sinto nervoso, porque talvez ela possa acabar com o nosso clube. Ah, e daí que eu entrei agora? Eu já sinto que esse clube é meio meu...

Hoseok tomou as rédeas da situação, parecendo ser o mais normal entre nós ao sorrir calmo, dando espaço para ela entrar.

— Oi! Eu sou Jung Hoseok…

— E eu Kim Taehyung — o Tae diz, se aproximando dela.

— A gente fundou o clube juntos.  

Ela deu um sorriso, e agora até ela parece nervosa.

— Tudo bem, é... eu só vim checar se está tudo certo com o clube de vocês — disse, e Hoseok fechou a porta após ela entrar.

Quando caímos no silêncio novamente, a representante aproveitou para olhar em volta. Acredito que deve ser assustador como estamos todos olhando para ela, surpresos.

Eu admito… ela é muito bonita.

— Só tem garotos nesse clube?

Sua pergunta quebra um pouco o gelo e nós damos risada.

— A Niuke aparece de vez em quando — Hoseok disse, se sentando novamente perto de Jin e Jungkook. — Conhece?

Me sinto surpreso com essa informação, imediatamente me lembrando que Niuke é a garota que Yoongi gosta. Uhh, então ela frequenta o clube?

A representante fez que sim com a cabeça, dando um suspiro, como se conhecesse Niuke até demais.

— É, ela é da minha sala. — Ri, ajeitando os cabelos sutilmente.

Fico a observando. Os cabelos dela são bem curtinhos, e muito bem alinhados, como se ela tivesse feito o corte no melhor salão da cidade. Ela está de saia, sapatilha, e tudo mais. Parece até que ela saiu de um livro…

E quando ela passou por mim, e eu sussurrei um Oi, ela deu um meio sorriso que me fez perceber covinhas fundas nas bochechas. Que são quase desproporcionais. Ela tem cheiro de garota, é doce, e é bom...

— Hm. Ah, é! Eu nem me apresentei. Meu nome é Kim Namsoon. Mas me chamem de Nam, por favor, eu prefiro. — A representante, enfim, se apresentou. Sua voz é melodiosa, fina e baixinha.

Um segundo depois, ela ajeitou a saia para se sentar a uma cadeira de distância de Hoseok, Jin e Jeongguk.

— Meu nome é Jimin — digo, me perguntando de onde ela saiu, porque eu nunca a vi pela escola.

Eu me lembraria dela.

— Eu sou o Seokjin — Jin diz, se levantando apenas para apertar a mão dela.

— Jungkook… — Jungkook diz, baixinho, sem se mover.

— É legal conhecer vocês — ela falou, com um sorriso. — Bom... E o que vocês fazem de bom por aqui?

— A gente tem aula de piano, com o Tae — Hoseok mentiu e parece nervoso.

— É! E às vezes umas quase-aulas de inglês, com ele, com a ajuda de músicas — Tae também mente, apontando para Jeongguk, e parece nervoso do mesmo jeito.

Nam afirma com a cabeça, analisando os fundadores do clube.

— E escutamos músicas também! — Hoseok decide falar uma verdade dessa vez.

— Vocês fazem debates? — ela pergunta, alheia.

— É! Isso também — Taehyung respondeu, e agora parece muito nervoso mesmo.

— Sobre coisas importantes?

— Sim, tipo a música do John Lennon sobre paz — o Taehyung disse, como se tivesse sido a primeira coisa que o veio na cabeça. Nam parece confusa de primeira. Logo ele trata de… explicar: — Imagine all the people... living for today... ah, ah, aaah... — cantarolou.

Nam estalou os dedos no ar, como se lembrasse da música imediatamente.

— Ah, sei! Essa música é incrível. 

— Eu sei! — Ele sorriu, animado. — Vem aqui, vou te ensinar ela no piano agora — Taehyung parece mais confortável agora, mas ainda é um pouco estranho como ficamos quietos após uma garota bonita entrar na sala.

O único que está normal é Jeongguk, que é quieto sempre.

— Agora? — Nam perguntou, se levantando.

— Claro! Vem cá — Tae disse, abrindo o piano, batendo na cadeira do lado dele.

Nam assentiu, indo até ele e se sentando ao seu lado. Quando eles começaram a conversar, falando sobre assuntos diferentes, usando palavras bonitas e tudo mais, o restante de nós… observou.

A gente suspirou também, como se pudéssemos, enfim, relaxar agora.

Felizmente, Nam está com Taehyung. Acho que esse é um sinal de que tudo vai ficar bem.

— Vou aumentar a música… — Hoseok falou, indo até o toca-fitas, fazendo a música soar novamente, mas agora é uma diferente.

Na boa, eu adorei ela também. Essas músicas são muito animadas, me deixam em um modo muito bom.

Hoseok e Jin começaram a conversar e eu fiquei observando Tae mostrar técnicas para Nam. 

Não por muito tempo, porque quando vi que Seokjin se levantou para ir até o armário, no fundo da sala, com Hoseok, eu não perdi tempo. O lugar do lado de Jeongguk estava vago e é claro que eu apressei meus passos, ocupando ele.

Nossos joelhos se tocam instantaneamente e Jeongguk virou o rosto para mim. Deu um sorrisinho lindo.

— Clube maluco, não é? — falou, com a voz macia e baixinha.

— É, mas eu curti — falei, me segurando para não derreter, ou explodir, ou sei lá o quê. Jungkook me deixa maluco. — Você curtiu?  

— Sim... — respondeu.

Nós ficamos em silêncio. Só com os joelhos tocando-se e a sensação engraçada de que estamos meio, sei lá. Excluídos.

— Ei, vocês. — Quase excluídos, quero dizer, porque um segundinho depois Hoseok nos chamou. — Vocês querem jogar alguma coisa?

Jungkook não falou nada, então sou eu que pensei e igualmente respondi:

— Tem cartas aí?  

— Que tipo de cartas?

— Pra jogar Buraco.

— Tem!

— Então eu quero!

Jungkook deu risada, me olhando indignado.

— Você quer me massacrar de novo? — perguntou e, ora essa, que pergunta besta.

A resposta é óbvia:

— Claro!

Jeongguk riu ainda mais. Hoseok veio até nós e nos deu as cartas. Nenhum deles vai jogar, então somos só eu e Jungkook mais uma vez.

Eba.

— Você topa? — perguntei para ele, olhando as cartas.

Ele não hesitou em fazer que sim com a cabeça, com um sorriso pequenininho, mas muito fofo e significativo para mim.

Nós nos levantamos daquelas cadeiras e fomos para o canto da sala. Organizamos uma mesa para separar-nos e sentamos um de frente para o outro. Comecei a embaralhar as cartas, com uma nova música começando no toca-fitas.

— Você acha que foi bem na prova? — puxei assunto, fingindo estar concentrado em embaralhar as cartas.

— Acho que sim, eu me perdi no começo, mas depois consegui me concentrar.

A verdade é que eu só estou prestando atenção na sua voz.   

Lembrar de algumas horinhas antes, quando começamos a fazer a prova, e como Jeongguk ficou tão envergonhado me deixa maluquinho da cabeça. Ele ficou se mexendo o tempo todo, e só porque eu disse que ele era muito lindo. A sua nuca ficou toda corada. Deu pra ver tudinho.

— Eu também me perdi no começo — falei, separando os jogos.

Jungkook franziu o cenho, e sua expressão é claramente de dúvida.

— Sério?

— Uhum.

— Mas por quê?  

Ai, porque você é muito lindo e tal…

— Hmmm... — Fingi pensar. — Não sei, deve ser porque a gente tava conversando — respondo essa mentirinha que, em linhas gerais, não é uma mentirinha.

Também foi por isso. Mas a verdade absoluta é muito mais direta e simples é: eu não consegui parar de pensar em Jeongguk e seu rosto lindo por um segundo sequer.

Foi isso aí.

Mas é claro que eu não vou dizer isso, porque se eu continuar falando que ele é lindo, ele vai ficar doido de novo. Mais do que ficou na hora da prova, talvez…

Se bem que não seria má ideia… ele fica tão fofo…

— Ah sim… — Jeon disse, com um sorriso calmo, encerrando o assunto.

E, como sempre, seu ato de sorrir me faz sorrir também. Assim que terminei a organização das cartas, nós dois começamos a jogar Buraco.

Mas eu não deixo o silêncio reinar entre nós dois. Logo estou falando sobre outra coisa:

— Hoje de manhã minha mãe comprou bolo — disse. — Lembrei do bolo de aniversário da sua mãe. Ele era muito mais gostoso.

Jungkook deu um sorriso. Quando a mãe dele fez aniversário, ele me perguntou se eu queria um pedaço de bolo, e eu disse que sim. E no dia seguinte, ele trouxe!

Era delicioso…

— Jungkook! — Jin chamou, lá de trás. — Essa música que tá tocando é do Queen?

Ele estava se referindo a música que começou há um tempinho no toca-fitas. E nos interrompeu, mas tudo bem.

— Sim! — Jungkook respondeu, alto.

— Qual é o nome mesmo?

— Cool Cat.

Ah... ele falou em inglês.

— Tá bom!

Vou derreter aqui.

Jungkook voltou a olhar para as cartas. Enquanto fazia sua jogada, fiquei balançado, com a música soando pertinho de nós. O cantor fazia Uhhhh o tempo todo, e eu mal conseguia me segurar com isso, porque combinava muito com a sensação de olhar para o rosto de Jeongguk.

Ai ai...

— Então você gostou? — perguntou ele, jogando uma carta fora. 

Demorei um pouco para saber sobre o que ele estava falando. Ah, é. O bolo.

— Sim, era perfeito e docinho — digo, aproveitando que ele está olhando para as cartas para olhar fixamente para seu rosto. — Obrigado por me dar aquele pedaço.

— Não precisa agradecer, puxa… — disse ele, enquanto compro uma carta. — Você já tinha agradecido no dia.

— Ah, é mesmo… — Lembrei, rindo levemente nervoso. — É que estava muito bom mesmo. Quem foi que fez?

Jungkook sorriu mais, com as bochechas ficando cheinhas por causa do sorriso.

— Eu fiz…  

Ah, ele fez.

Ai meu Deus.

Me lembro do bolo. Estava realmente delicioso. Me sinto idiota por não ter comido ele com mais cautela. Eu deveria ter apreciado o gosto por mais minutos na minha língua, porque foi Jungkook que fez. Droga!

A comida de Jeongguk… preciso apreciar ela a cada segundo que está na minha boca.

— Sério mesmo? — perguntei, chocado. Ele fez um macarrão tão delicioso quando foi lá em casa também. Ele também fez aquele bolo perfeito?

Caramba…

— Sim — disse, mantendo o sorriso no rosto. Suas bochechas estão ficando cor de rosa. — Eu não fazia bolo há muito tempo, então pensei que tinha ficado horrível.

— Ficou perfeito! — eu disse, espontaneamente.

Jeonggukie deu de ombros e seu sorriso é  muito fofo. Não paro de olhar para ele um segundo sequer, jogando uma carta fora sem nem olhá-la, só para observar sua expressão.

— Até que não ficou tão ruim — Jeongguk disse, olhando para as cartas.

Ahh, Deus, quero tanto abraçar ele agora…

Continuamos jogando em silêncio, apenas murmurando coisas quando pegamos cartas boas. Estou demorando para fazer uma canastra real e, provavelmente, é porque mal vi minhas cartas durante a partida. Estou muito ocupado e distraído prestando atenção em Jeon Jungkook e sua existência alucinante (do jeito bom).

É difícil jogar corretamente porque eu só quero saber de olhar e olhar e olhar pra ele. O que é uma grande surpresa, já que eu sempre jogo corretamente quando o assunto é Buraco.

Ah, mas e daí? Eu quero é ouvir a voz dele!

— Hm, esse casaco é novo? — perguntei, puxando assunto.

— Sim — Jeongguk respondeu, olhando suas cartas.

Só consigo olhar para ele, só ele. Não quero mais jogar, quero olhá-lo.

— É bonito… — eu disse, mexendo os pés no chão, inquieto. — Caiu muito bem em você…  

Ai, o que estou fazendo? Se segura, Jimin, ele vai ficar envergonhado.

Xiuuu.

Jeongguk olhou em meus olhos. Isso, olhe pra mim.

Ele ficou encabulado, deu pra ver. Dei um sorriso. Ele devolveu com um sorriso também, trêmulo.

Em seguida, Jungkook voltou a fitar suas cartas, normalizando sua expressão aos poucos. Percebi que ele engoliu em seco.

— Hm… Obrigado… — respondeu um tempinho depois.

Joguei sem olhar mais uma vez… quero tocar ele.

Continuamos jogando e mais uma outra música começou.

Em certo momento da partida, passei a tentar jogar apenas com uma mão, porque deixei a outra sobre a mesa, espiando a sua, querendo que ele me desse uma brecha para darmos as mãos.

Ele continuou jogando com as duas, aparentemente alheio, sem perceber minhas intuições. Caramba…

— Oba — ele diz de repente, olhando suas cartas, com um belo sorriso.

Olha. Ele é tão gatinho. Eu não sei mais o que fazer da minha vida!!!

Joguei enquanto olhava para suas mãos.

Ele sorriu, jogando mais uma vez, organizando as cartas no colo. Seu cabelo caiu sobre os olhos e prestei atenção no nariz dele. O nariz dele é lindo.

Ele levantou a cabeça e jogou de novo. Suas sobrancelhas são lindas.

Joguei. Ele jogou. Suas mãos são lindas, seus dedos são lindos, suas unhas são lindas…

Dessa vez, Jeongguk demorou mais tempo para jogar. Ele ficou pensativo enquanto olhava para suas cartas e, Deus, que injusto, ele está mordendo sua boca. Sua boca é linda.

Não. É mais que isso. Sua boca é… algo que não consigo definir. Mas é linda…

Ultimamente tenho gostado tanto da sua boca.

Ele jogou a carta. Eu sequer vi o que ele jogou.

Joguei a minha, alheio, comprando, apertando os dedinhos do pé escondidos dentro do meu sapato.

— Você ainda não bateu? — ele perguntou, curioso.

Sei o motivo de ele estar curioso. Da outra vez que jogamos, eu venci ele bem mais rápido.

Mas agora ele me venceu. Só porque ele é ele.

Não consigo jogar com ele. Não consigo fazer nada, só quero dar umas (ou várias) olhadinhas nele...

— Ainda não… — eu disse, e fico surpreso por quase ter gaguejado na hora de pronunciar o “não”.

Jungkook também notou, me analisando momentaneamente. Só até jogar de novo.

— Então tá bom.

Depois da minha vez, Jungkook descansou a mão na mesa para pensar em sua próxima jogada. Mordi o lábio, olhando para seus dedos longos, muito longos...

Olhei em volta para ver se estavam prestando atenção em nós dois. Quando percebi que todos estavam ocupados, me empenhei em pegar na mão de Jungkook.

Mas antes que eu chegasse até sua pele, ele voltou a mão para suas cartas, sem perceber absolutamente nada do que acabei de tentar fazer.

Seus olhos ainda estão focados no seu jogo.

Um segundo depois, sua risada fina cortou meus sentimento vago de indignação.

— Eu tô com um jogo muito bom, mas tô com medo. Você tem certeza de que ainda não bateu? — ele perguntou para mim, logo depois de jogar mais uma carta.

Ri, olhando para ele.

— Você é fofo — falei aleatoriamente.

Foi a única coisa que se passou pela minha cabeça.

Jeongguk pareceu surpreso com minha confissão repentina. Puxei minha mão para as cartas novamente. Ai meu Deus, enlouqueci.

— Quê?

Balancei a cabeça, rindo nervosamente enquanto jogo mais uma carta aleatória.

— Você é bobo! Se eu tivesse batido, eu já estaria comemorando! Sabe como é, né, eu sou bem metido às vezes! — eu menti, rindo nervosamente.

Eu falei que ele é fofo do nada! Forças superiores, estou perdendo o controle aqui!

— Ah! Ah tá! — Riu, dando um suspiro, quase aliviado. — Sorte a minha.

Seu sorriso voltou. E com ele, eu começo a ficar lento, lento, lento…

Durante os próximos segundos, Jeongguk levantou os olhos de suas cartas, para mim, três vezes seguidas.

Depois ergueu uma das sobrancelhas, como se estivesse esperando eu fazer algo.

Eu o encarei de volta, arqueando uma única sobrancelha também, esperando ele fazer algo igualmente.

Jeongguk remexeu suas mãos e riu, aparentemente incrédulo.

— Você tem certeza de que não bateu?

— Tenho.

Jungkook deu um grande sorriso e então olhou para as suas cartas. Me pergunto o que ele está esperando para jogar…

Isto é: até ele batê-las na mesa.

— Puxa! Então, eu bati!

Ele baixou suas cartas, todinhas, mostrando todas as canastras que formou durante sua partida. Perfeitas. Limpas. Só uma suja.

Ai meu Deus, ele ganhou, ganhou de lavada!

— Wow! — gritei, olhando para meu jogo.

Eu não fiz nenhuma canastra! Não tenho nada para baixar aqui!

— Somando todas, tenho 500 pontos — disse ele, com um sorriso enorme. — E você?

Dei uma risada nervosa, mostrando minhas cartas para ele, derrotado, mas não realmente decepcionado ou surpreso por isso.

— Zero — eu admito.

Ver seu sorriso faz meu orgulho de jogador profissional ir pro beleléu. Não me importo de perder, ora essa, olhe para esse sorriso… não me importo com mais nada.

— Jura? Puxa! — Sua voz continuou agitada e feliz. Ele bateu palmas sozinho, e começou a fazer uma dancinha da vitória, sentado na cadeira.

Outra música começou após isso, e ela combina tanto com o momento, porque é tão animada e feliz. Fiquei em silêncio, vendo Jeon comemorar, sorrindo para a cena como um idiota. Porque Jungkook me deixa idiota. Muito idiota.

Na boa, o que minha vida se tornou para eu virar um idiota e adorar ser um?

Eu quero saltar nele.

— Você venceu mesmo, Jeonggukie — eu disse, sorrindo, e ele ainda está se mexendo.

— Isso é chocante! Ainda não me esqueci do jeito que você me massacrou das outras vezes...

Dou uma risadinha, porque vê-lo tão incrédulo deixa tudo mais adorável.

— É verdade, mas dessa vez você me massacrou do início ao fim — eu disse, e não posso evitar ficar tão atento a sua mão, que acabou de descansar na mesa.

Olhei para ela. Ela está bem ali.

— Eu mereço um prêmio! — Jungkook falou, e ele parece muito alegre com a situação.

Mal paro pra olhar em volta dessa vez e, imediatamente, coloco minha mão sobre a sua.

E quando minha palma toca sua pele, tudo parece fazer sentido, enfim.

— Vou fazer qualquer coisa pra você, e comprar qualquer coisa também até o fim do dia — eu disse, alegre. — Esse é o seu prêmio!

Jungkook ficou quieto muito de repente. Ele olhou para minha mão sobre a sua… eu ainda não segurei a dele, só coloquei em cima, como se estivesse descansando-a ali.

Ele não respondeu, mas riu, completamente sem graça. Seu rosto está todo vermelho de agitação, e quando ele se moveu, meu pé tocou-lhe embaixo da mesa.

Meu pé formigou com esse pequeno detalhe, só por ter entrado em contato consigo, tão de repente...

Eu não consegui me segurar. Quando vi, já tinha levantado meu calcanhar, guiando-o por baixo da mesa até ele chegar no tênis de Jungkook.

Por fim, não consegui me segurar. Eu subi meu pé, fazendo carinho em seu tornozelo com ele, sem pensar duas vezes em minha atitude.

Jeon ficou ainda mais quieto depois disso. E eu nem sei por que decidi fazer isso tão de repente. Eu só precisava tocar ele, ainda mais, pois não está parecendo o suficiente. Do começo ao fim. Eu quero mais porque gosto tanto dele...

— H-hum… — Gaguejou.

Seu rosto está bem baixo agora. Posso vê-lo engolir em seco, e ele pressiona os lábios, fazendo as covinhas aparecerem nas bochechas e seu nervosismo ficar claro como água.

Enquanto faço todas essas coisas e vejo Jeongguk reagir, fico embaraçado comigo mesmo. Porque penso: é errado fazer isso? Tenho medo de estar o deixando desconfortável comigo por perto. Pensei nisso até hoje de manhã…

Mas… tem isso.

Tem o momento em que Jungkook levanta a cabeça pra mim e sua expressão está completamente satisfeita. Os olhos dele ficam brilhantes, embora sejam sempre assim. As ruguinhas dele aparecem. Mas é de um jeito sutil, diferente de quando ele sorri muito. As bochechas dele ficam rubras, mas é diferente de quando ficam quando ele parece estar com calor. É uma coisa só dele.

Ele fica assim só nessas situações, só quando toco ele… Eu sempre acho tão bom. Ele parece gostar...

Foi exatamente por isso que perguntei para ele, mais cedo, se era bom ou não. E ele estava tão nervoso, mas quase gritou ao dizer que era bom, sim!, e isso me deixou aliviado e duplamente agitado, porque agora que tenho 100% de certeza de que ele gosta. Então eu quero continuar e fazer muito mais.

Sorri, sabendo que, claro... vai além desse fato, também. É algo que eu estou inconscientemente pedindo. Quando eu levantei o meu pé, e quando movi minha mão para perto, eu percebi que já estava com vontade de tocá-lo desde que começamos a jogar. Ou antes. Talvez, desde que fizemos contato visual. Porque Jeongguk me deixa tentado. É a única palavra para definir o que sinto agora...

Ele me deixa com muitas vontades… Sendo a maior delas querer tocar nele e fazer muito, muito carinho. O que é insuportável quando sai do controle, porque agora quero fazer carinho em tudo que ele tem. No tornozelo, no cabelo, no rosto, nas mãos. Sorte a minha que gosto tanto de suas mãos, porque elas são o suficiente para eu ficar entorpecido, só de entrar em contato… isso me deixa menos doido… ou mais. Não sei!

Em suas mãos, meus dedos estavam parados, mas agora estou acariciando sua pele com muito carinho. Meu coração bate tão forte, como se dissesse que sim, isso, finalmente, eu queria tanto fazer um cafuné em Jungkook, desde que vi ele essa manhã e todas as outras manhãs de todos os outros dias da semana…

E esse misto de sensações tão malucas cresce ainda mais quando, além do desejo de tocá-lo ser tão bem saciado, eu vejo nas orelhas vermelhas de Jungkook que ele está gostando disso. Quando ele abaixou a cabeça e começou a bater o pé no chão, tentando olhar pra mim, mas não conseguindo direito, deixou óbvio... isso mexe tanto com ele quanto mexe comigo.

Isso me deixa tão… eu não sei. Parece que posso começar a flutuar por aí a qualquer momento, como um balão.

Tenho consciência de que esse momento tem tudo para ser estranho. Afinal, ficamos em silêncio de repente, minhas bochechas estão queimando, meu coração batendo forte e meu estômago gelando de um jeito loucamente bom. E ele também está todo vermelho. Mas não estou nem aí se é um momento estranho. Eu estou inquieto e quero gritar que a culpa é toda do Jungkook…

Mas… se fosse para gritar, seria para agradecer Jeongguk e sua existência, porque gosto tanto disso, que a palavra certa nem seria “culpa”. Talvez “graça”. Eu com certeza gritaria “É graças ao Jungkook!”.

Nam e Taehyung estão rindo de alguma coisa no piano, mas estão distraídos. Seokjin e Hoseok estão do outro lado da sala, mas eu não me importo. Quando estou com Jeongguk, o mundo é totalmente outro. É diferente, eu sei que é.

— E-então… — Jeongguk começou a falar, de repente, e ainda estou fazendo carinho no tornozelo dele. — Então, hm… puxa… hm…

Esse puxa… eu não faço ideia do porquê ele diz sempre puxa e não poxa, mas isso é tão ele, e é tão perfeito. Quando ele diz puxa, minha mente repete: puxa, puxa, puxa…

Ele é tão fofo.

— Hm? — murmurei, pedindo para ele continuar.

Jungkook, ainda olhando para nossas mãos, deu um riso nervoso.

— Hm… a gente pode comprar uns doces na cantina e dividir, só entre nós dois, lá fora? — sugeriu, finalmente. — S-sabe… meu prêmio...

Só depois dessa pergunta Jungkook olhou para mim. Só nós dois e doces.

— Então… comer lá fora? — eu perguntei.

Ele assentiu.

Em um movimento rápido, ele colocou a outra mão sobre a minha, fazendo um sanduíche de mãos. Minha canhota é o recheio.  

— Sim — respondeu verbalmente.

— Tá bom. Vamos? — É claro que não preciso pensar duas vezes nisso.

Eu quero estar com Jungkook. E só com ele. Aceitei na hora.

— Sim.

Ele respondeu, tão rápido quanto eu.

Essa semelhança me faz perceber… ou pelo menos me perguntar se Jeongguk está se sentindo tão estranho quanto eu.

Eu espero que sim. Eu realmente espero que sim.

Nós dois ficamos parados, sem dizer nada. Eu queria que ele tivesse segurado minha mão assim antes, porque poderíamos ter ficado por muito mais tempo desse jeitinho do que, agora, vamos ficar, já que vamos sair e tudo mais…

Essa é mais uma coisa que vive acontecendo entre nós dois. Eu quase sempre tenho a iniciativa de tocar Jungkook, e embora isso seja bom, quando é ele que faz, eu fico muito mais derretido do que o usual...

Qual é, ele está segurando minha mão… será que podemos ficar mais um tempinho assim?

Como se o universo não ligasse para o que eu quero ou para o que eu sinto: uma coisa aconteceu. Essa coisa é o som e a fita, que começou a dar problema bem do nosso lado, já que o toca fitas está pertinho da gente.

Todo mundo olhou pra ele, e quase olharam pra gente também, aos carinhos… Jungkook não moveu um dedinho, e nem eu.

Isso é: até Hoseok saltar do lugar e gritar:

— Tira a fita, tira a fita!

Na mesma hora, Jeongguk entendeu o que estava acontecendo e se levantou rapidamente da cadeira, deixando só o recheio do sanduíche. Não vou ficar chateado porque o valor da fita é realmente significativo.

Jeon correu até o som e removeu a fita do toca-fitas.

Soltamos um muxoxo em conjunto ao ver que, miseravelmente, a pobre fita já estava toda enrolada. Hoseok, principalmente, estava decepcionado; ele veio resmungando de lá até cá, pegando a coitada na mão de Jungkook.

— Essa bagaça engoliu a fita toda! — disse, e é verdade, o rolo da fita saiu todinho da caixinha. Hoseok deu um suspiro. — Eu deveria ter imaginado, o som tava chiando...

— Eu disse que essa fita aí ia enrolar toda — Tae disse lá do piano, e agora todo mundo já está meio distraído. Menos Jin, que se aproximou.

— Você limpa esse toca fitas com o quê? — perguntou, apontando para o aparelho.

— Um paninho, ou cotonete — Hoseok respondeu, suspirando. — Essa coletânea é super boa, ai... que saco.

— Deixa eu colocar de volta aqui dentro. É melhor você limpar com o cotonete mesmo — Jin disse para ele, e eu acabei me levantando também, enquanto eles começam a trabalhar na arrumação da fita embolada e o aparelho de música aparentemente sujo.

Os dois começaram a conversar entre eles, e Jungkook e eu acabamos ficando de lado momentaneamente. Aí percebo que Taehyung e Namsoon também estão no próprio mundinho deles, tocando piano.

Eu estava prestes a falar para Jeongguk para irmos. Ele se aproximou de mim e tirou todas as palavras da minha boca:

— A gente pode ir agora?

Eu balancei a cabeça, animado e entorpecido.

— Eu ia sugerir isso — eu disse, me virando para ele. — Sim. Vamos agora.

Dito isso, nós nos encaramos e fomos lado a lado até a porta. Ninguém perguntou-nos para onde íamos, então não nos importamos em apenas sair do clube, sem deixar explicações.

— Eu estava pensando — Jeongguk começou a falar assim que eu fechei a porta atrás de nós. — A gente podia ouvir música e comer lá naquele parquinho, né?

No segundo que ouvi a palavra parquinho, me lembrei do lugarzinho que eu frequentava no começo das aulas. Às vezes passo por lá quando preciso usar o banheiro, porque me dá nostalgia.

Mas… eu estaria mentindo se dissesse que prefiro como era antes, quando precisava ficar lá a todo momento. É melhor agora que estou sempre com Yoongi. E com Jungkook. É muito melhor do que ficar tão solitário.

— Sim, é uma ótima ideia — eu disse, alheio aos pensamentos, olhando para Jeon. — Vamos ouvir no seu walkman?

— Sim, ele tá no meu armário... Vamos comprar os doces de uma vez e ir pra lá?

— Claro!

Ele assentiu com a cabeça, com uma expressão amigável. A lojinha na cantina fica pro lado oposto do parquinho e do armário de Jeongguk, mas isso não parece incomodá-lo, e não me incomoda também. Nós só começamos a andar, perto um do outro, até a cantina. Tenho sorte do meu cartão estar sempre comigo...

No caminho, encontramos algumas pessoas da nossa sala, sentadas por aí. A aula que tivemos foi a última do dia. Mas ela também é a mais longa da semana. Temos no total de três aulas com esse professor, então é um tédio quando terminamos a prova e podemos sair, porque o horário de aula ainda não acabou. Não podemos ir para casa, precisamos esperar dentro da escola. Tééédio.

Sorte a nossa que, agora, temos um clube.

Olhei para o lado, observando Jeongguk caminhar, com as mãos no bolso de seu casaco. Sorte a minha que sempre tenho Jeongguk.

Ele percebeu que estava sendo observado e deu risada. É legal que agora ele nem se importa mais, só fica com a pontinha das orelhas rosa e continua andando, como se tentasse fingir que nada está acontecendo para não ficar tímido.

Adoro isso.

— Não vai perguntar por que estou te olhando dessa vez? — perguntei, de bobeira, porque sou muito espertalhão nessas horas. Eu admito isso.

Jungkook riu, negando com a cabeça.

— É melhor não…

Ri.

— É?

Jeongguk afirmou com a cabeça, e antes que abrisse a boca para falar o porquê, nós fomos interrompidos por uma figura feminina.

Literalmente. Viramos o corredor e demos de cara com a Micha.

Ela quase pulou quando me viu.

— Você tá aqui, então! — Micha exclamou, para mim.

— Sim…? — Eu ri, engraçado.

Micha é a garota mais legal que conheço (tirando minhas primas). Ela é engraçada e espontânea, diz coisas doidinhas do nada e tem uma risada muito engraçada. Além de que o corte de cabelo no ombro dela é super fofo.

— Não diga nada. — Ela apontou pra mim, ignorando o meu “Sim” interrogativo anterior. Afinal, ela nos parou do nada... — Só escute ela.

Antes que eu pergunte o que ela quis dizer com isso, Micha desviou de nós e saiu correndo, aos risos.

Um segundo depois, Jieun também apareceu na nossa frente, virando o mesmo corredor. Ouvi Micha rir, ainda correndo, e Jeongguk fez um barulho estranho com a boca quando garota se aproximou de nós dois.

Quê? Na boa, são muitas informações de uma só vez! Não estou entendendo nada.

— Oi… — Jieun disse para mim, bem baixinho. Depois se virou na direção de Jeongguk. — Olá, Jungkook.

Jungkook continuou quieto. Então, suspirou… ele nem está olhando para mim.

— Oi — ele respondeu para ela, desanimado.

Na verdade... parece proposital o jeito que ele virou a cabeça para o outro lado, sem me deixar olhar para ele. Essa atitude repentina me deixou ainda mais confuso...

E infeliz também. Não gosto quando ele vira o rosto assim…

— Hm, oi — eu disse para Jieun, um tempo depois, ainda olhando Jeongguk, de lado.

Quando me virei pra frente, vi uma coisa ainda mais esquisita do que esse Jungkook introvertido. Essa coisa esquisita é a Jieun, que parece vermelha e tímida demais para o gosto do universo.

— Hm, é, eu queria muito te dizer uma coisa — disse, com a voz baixa. Na verdade, ela está falando muito baixo ultimamente. Dificilmente é do feitio dela. Só quando estamos só nós dois ela fala assim. É sempre tão estranho. — Podemos… falar? Quer dizer, fazer alguma coisa?

Hm…

— Agora? — perguntei.

— Sim, é meio importante — disse. — Não importante tipo uma emergência, sabe? Mas importante tipo uma coisa diferente, para você, eu acho… a gente podia comer alguma coisa na cantina, ou ir na biblioteca, dar uma volta…

Fiz um biquinho, mexendo na minha camiseta.

— Bem… — eu falei, apertando meus dedinhos. — Não é uma emergência, né?

— Não…

— Então pode ser outro dia?

A verdade é que eu adoro a presença de Jieun. Na boa, ela é muito legal, e fala muito bem sobre livros comigo. Às vezes parece que somos gêmeos de alma, porque gostamos de várias coisas, temos gostos e manias em comum, e ela é muito simpática e gentil. Ela foi uma das meninas que sempre me disse Oi, Bom dia, e Tchau, desde o meu primeiro dia de aula. Então é claro que possuo enorme carinho por ela.

Mas… quando ela e Micha apareceram, eu cheguei a me sentir culpado com o pensamento que tive. Porque eu realmente não queria que elas falassem comigo, nem nada disso. Eu gostava mais quando era só eu e Jungkook, prestes a comer doces, e ficar só nós dois, ouvindo música...

Isso é irresistível. Mesmo que fosse apenas ficar com Jungkook, já seria irresistível. Eu me sinto culpado por negar Jieun com o que ela quer agora, e até fico curioso sobre o assunto, mas nada supera a vontade de adiar isso para ficar somente com Jungkook.

Nada supera.

Jieun olhou para mim, e as bochechas estão muito vermelhas. Mas elas sempre estão assim, então não vejo diferença.

Ela deu uma risada, coçando os cabelos longos e bem arrumados de maneira nervosa.

— Ahm, sim, tudo bem, então… — ela disse, enfim, sem insistir. Ufa!

— É que eu tenho algo muito importante pra fazer agora, sabe? — eu disse, puxando Jeongguk pelo braço, porque quero que ele volte a olhar pra cá. — Com o Jungkook — completei.

— Ah, claro! — disse ela, sorrindo engraçado. — Tudo bem. Outro dia, então?

— Sim, Jieun. — Sorri, e ela ficou com uma expressão engraçada ao ver meu sorriso. — Até depois!

— A-até!

Ela sorriu de novo, coçou a cabeça, e saiu andando de um jeito extremamente divertido. Na verdade, ela está bem engraçada hoje…

Dei uma risada soprada, soltando o braço de Jeon. Voltei a olhar pra ele, e ele ainda não virou o rosto totalmente para mim, mas sua postura parece menos tensa agora.

Ah...

— O que foi? — indaguei, parando em sua frente para olhar seu rosto.

Ele está um pouco diferente. A bochecha direita está funda, porque ele está a mordendo por dentro, e está vermelho só no nariz. Parece até que ele vai chorar...

Um segundo depois, Jeongguk olhou pra mim. E balançou a cabeça negativamente.

— Não foi nada… — disse. E respirou fundo. — Puxa…

Ele está mentindo. Alguma coisa aconteceu…

— Tem certeza?

— Tenho.

Suspirei. Se ele está mentindo, é porque não quer falar sobre isso. Portanto, não vou insistir no assunto — embora esteja morrendo de curiosidade, já que ele ele ficou todo borocoxô de repente.

Jeon, seguidamente, parou de morder-se e ajeitou os cabelos, andando ao meu lado assim que voltei a caminhar. Esse lado da escola é praticamente deserto à essa hora.

Esperei ele dizer alguma coisa, mas ele não disse.

Soltei um muxoxo. Agora quem está ficando borocoxô sou eu. Qual é... estávamos sendo espertinhos e ficando vermelhos há uns minutinhos atrás… agora estamos tão calados.

Eu queria que Jieun e Micha não tivessem aparecido.

Já perto do destino, Jungkook segurou minha mão. Ele parou no lugar. E eu parei também.

Agora estou olhando seu rosto, esperando ele dizer alguma coisa. Jeongguk não parece mais amuado, só… confuso e constrangido.

No fim, ele pigarreou, olhando para baixo, perguntando em um sussurro quase mudo:

— Por que você não foi com ela? — Assim que escutei-lhe, franzi o cenho. Ele ainda está olhando para o chão. — E o que de muito importante você tem para fazer?  

Ele ficou quieto. Fiquei quieto. Mas depois, só consegui dar uma risadinha. Como ele é bobo...

— Não fui com ela porque estou com você — eu disse, e é tão óbvio.

Apertei sua mão magrinha com mais força.

— M-mas é a Jieun.

— Isso importa? — O fitei. — Afinal, é você...

É você com quem vou ficar. Isso é especial.

— O que é muito importante?

Eu ri de novo, porque ele está tão tímido que é… bonitinho.

— Comer doce e escutar música com você — eu disse. — Só nós dois, lembra?

Ele resfolegou. Ficou em silêncio por mais um tempinho, mas depois sua aura se iluminou. Jungkook deu um daqueles sorrisos significativos: todas as marquinhas voltaram a aparecer em seu rosto, os dentes avantajados chamaram minha atenção, lindamente. Ele até começou a se remexer.

— Jimin. — Levantou a cabeça, finalmente olhando pra mim, com aquele sorriso brilhante. Estou quase vidrado de tão bonito que é. — Você tá falando sério?

— Gguk. — Eu dei risada, o chamando por um apelido repentino, mas é fofo e parece lhe agradar pela maneira que ele sorri mais. Segurei a mão dele com mais firmeza. — Claro que eu tô falando sério. Assim que elas apareceram fiquei tenso. Estava com medo delas se convidarem.

— Eu também! — disse, e agora que ele está rindo de novo, toda minha felicidade voltou. — Puxa… desculpa. Eu pensei que você ia me deixar pra ficar com ela.

Estranhamente, sua fala foi a coisa mais idiota e adorável que já lhe ouvi dizer. Ainda mais para mim mim… é tão bobo. É como nos livros, quando um personagem parece tão pateta que chega a pensar que algo possível de acontecer nunca vai, de fato, acontecer. É impossível eu deixar Jungkook pra ficar com alguém, e isso é óbvio.   

Ele parece tão sincero ao achar o contrário, e eu… eu acho engraçadinho.

— Bocó — eu disse, rindo baixinho. — Ficou doido? Eu nunca vou deixar você pra ficar com ninguém.

A verdade precisa ser dita em voz alta. Eu o fiz.

— Sério? — perguntou.

— Sim.

— Sério mesmo?

— Claro que sim.

Jeongguk deu mais um sorriso que quase não cabe no rosto dele. Ele começou a mexer os ombros.

— Ainda bem… — Riu, e é um riso tão amável e alegre. — Puxa… ainda bem mesmo…

Dou mais uma risada, soltando a mão dele para dar um tapinha em seu braço.

— Vem — falei, apontando para a lojinha. — Vamos comprar doces.

Jeongguk é doidinho. Deve ser por isso que eu gosto tanto dele.

***

— Você se lembra do dia que gravou essa fita?

Fui eu que fiz essa pergunta. Diferente da última vez que ouvimos música juntos no walkman, nenhum de nós estava com os fones plugados no ouvido. Apenas deixamos no volume mais alto e ficamos escutando a música vindo do fone. Como o lugar estava silencioso, dava pra ouvir perfeitamente.

Eu estava com frio desde que o sol se foi. Não estava de noite, mas estava nublado. Eu e Jeon estávamos aconchegados sob a árvore, com papéis de balas, chocolate, e doces em nossas mãos.

A gente até improvisou um lixinho. Usamos uma sacolinha para colocar as embalagens vazias, que estava embaixo do walkman, para o vento não a levar ao soprar. A última coisa que queremos é sujar o lugar de lixo.

— Não sei — Jeongguk respondeu minha pergunta, fazendo uma pausa para comer a bala grudenta que acabou de abrir. — Eu peguei uma que já estava no meu armário. Eu devo ter gravado ano passado, ou esse ano, eu não sei. Ou talvez seja do meu pai. Essas músicas não são muito minha cara...

— Sei... — Lambi os lábios. — Como essas fitas vão parar no seu armário? — perguntei, porque da última vez ele me deu todas que estavam lá.

Jeon fez um barulho pensativo, mastigando a bala.

— Eu sempre trago alguma para ouvir no ônibus, ou na sala de aula, quando termino alguma atividade e tenho que esperar Seokjin terminar a dele para conversar — dizia ele, enquanto eu o ouvia atentamente. — Então eu enjôo da que eu trouxe na maioria das vezes, então guardo no armário. Às vezes esqueço elas lá. Aí sempre tenho umas aqui para ouvir de novo depois.

— Hmmm... — Pressionei os lábios, pegando mais um doce na sacola de papel. Um doce de caramelo e banana, dessa vez. — Você deve ter uma quantidade enorme de fitas. Eu nunca gravei nenhuma… — eu disse, pensativo. — Eu vivo das suas…

Isso era verdade. Ele me emprestou um bocado de fitas há um tempo e disse para eu devolver quando enjoasse, e que ele iria gravar outras coisas e me emprestar de novo, se eu quisesse. Mas nunca consegui devolver nenhuma delas.

Eu ainda não enjoei de nenhuma. Estou sempre ouvindo de novo, de novo, e de novo…

— Quando você gravar uma, vai ver como é um saco — ele disse, dando risada. — Brincadeira. Odeio dizer que é um saco, porque é como se a fita me escutasse e ficasse chateada comigo.

Dei risada.

— Isso é estranho... — eu disse.

— Eu sei! — Riu também. — Mas… é que dá um trabalhão. Mas também é muito legal. É tipo… ficar sozinho, mas ocupado. Sabe? Você meio que fica com você, mas não é um tédio. É legal…

Eu balancei a cabeça positivamente. Jeon pegou um mini Push Pop de cereja.

— Acho que me sinto assim lendo — eu disse, o vendo abrir a embalagem. Eu sabia que a boca dele ia ficar toda vermelha depois que ele acabasse com aquilo. — Mas eu viajo muito, fico pensando, pensando e pensando. E eu também tenho medo de magoar os livros quando acho eles ruins… os autores também. Eu sempre tenho a sensação de que eles vão sentir que não gostei de seus livros e vão ficar tristes.

— Viu? Você também faz essas coisas estranhas — disse ele, com um sorrisinho no rosto. Dei de ombros e sorri, como se me entregasse. — Mas é bem legal, não é? — Olhou para mim, com um pequeno sorriso.

Essa concordância simples que sinto sempre que falo com Jungkook é simplesmente incrível. Me identifico tanto. É muito calmo e relaxante...

— É… — Sorri.

Ele começou a comer seu doce. Depois de um tempo, ele já estava mordendo todo o pirulito, mas o de cereja é o que mais tem corante, então ele ficou corado nos lábios mesmo assim.

Suspirei. Ai ai.

Me mexi no gramado, chegando para trás. Encostei as costas no tronco da árvore, tirando meu óculos para limpar a lente na minha camiseta, relaxando.

Quando veio uma corrente fria no ar, eu estremeci. Mesmo com meu suéter, sinto frio desse vento gelado… sou bem friorento.

Acabei fazendo um barulho com os dentes, o que fez Jeongguk olhar para mim de imediato.

— Tá com frio? — indagou. Fiquei minimamente surpreso por ele ter notado tão facilmente.

Eu sorri pequeno. Jeongguk chegou para trás, se encostando no tronco também, bem ao meu lado.

— Só um pouquinho, quando ventou — respondi, me aconchegando mais. Fui mais para o lado dele, até nossas pernas estarem se encostando.

— Você quer entrar? — perguntou, me olhando com preocupação. E lábios vermelhos.

— Não. Eu quero ficar aqui — eu disse, enfiando a mão no saco de doces. Peguei dois chicletes horríveis. — Quer tentar agora? — Mostrei os dois na palma da minha mão, olhando para Jungkook bem de pertinho.

Ele deu um sorriso travesso, pegando um dos chicletes na minha mão, sorridente.

— É claro que eu quero — disse.

Esse chiclete definitivamente é horrível. Ele tem uma mistura estranha, que arde, e arrepia, e faz a gente se contorcer, e é a pior coisa do mundo.

Mas e daí? Vamos comer mesmo assim, porque é engraçado.

Enfim, nós abrimos os chicletes. Nos olhamos, com a goma de mascar nos dedos.

— No três — eu falei. — Um. Dois. Três.

Enfiamos na boca e ficamos observando as reações um do outro. Jeongguk foi o primeiro a morder e, consequentemente, o primeiro a fazer uma careta de desgosto.

— Ewww!

Mordi também.

— Hmnnm!

Cobri meu rosto com as mãos, sentindo o amargo que vem dentro do chiclete começar a fazer espuma. Senti aquele gosto horrível por baixo da língua, no céu da boca, e todo meu corpo ficou arrepiado. De um jeito nervoso e desconfortável.

Jungkook segurou meu braço e começou a rir enquanto mastigava mais rápido, e eu o fiz também, mas não aguentei e comecei a rir demais. Jeongguk cuspiu o chiclete, quase gritando:

— Eca, eca, eca! — exclamou, pegando um chocolate, abrindo, e colocando metade na boca. — Meu Deus, ugh… — sussurrou de boca cheia.

Tirei o chiclete da boca logo depois, fazendo uma careta, com os ombros tremelicando. Meus olhos até lacrimejaram, fazendo um Jungkook risonho e vermelho me dar metade de seu chocolate.

Assim que mordi o chocolate e ele derreteu na minha boca, o gosto ruim amenizou, me fazendo gemer de alívio. Me acalmei, e Jeongguk começou a dar risada enquanto eu dava vários suspiros, me encostando nele, muito risonho também.

— Nunca mais — disse ele, jogando o chiclete na sacolinha.

Joguei o meu também.

— Nunca mesmo.

Ficamos em silêncio, ainda aos risos. Assim que cansamos de rir, começamos a respirar em conjunto. Ofegantes, e depois, apenas calmos. Só com a música de fundo, e o vento passando de vez em quando.

Outra música começou. Jeon riu.

— Essa fita com certeza é do meu pai — disse ele, provavelmente por causa da música que começou a tocar.

Era bem lenta… mas até que gostosa. Eu curti.

— Seu pai tem músicas boas também — eu disse, me lembrando do dia que ouvi a outra fita que, de acordo com Jungkook, foi gravada por seu pai. — Eu gostei daquelas.

— Quais?

— Aquelas que tocaram no ônibus, quando estávamos indo para a loja de discos… — respondi, com um pouco de saudade. Aquele dia foi perfeito. — Eram músicas calminhas e tão boas…

Percebi que minha voz estava saindo mais rouca que o normal. Provavelmente porque Jeon estava bem do meu lado e, por isso, eu não precisava elevar meu tom como normalmente faço para conversar.

— Uhum… — murmurou.

Ficamos em silêncio, presenciando a música soar deliciosamente. Em certo momento, ouvi uma parte que gostei no tom de voz da cantora. Então eu perguntei:

— Qual é o nome dessa música?

Jeongguk ergueu o braço, pegando o papel que anteriormente estava dentro da fita. Antes de colocar ela pra tocar, ele tirou o papel da caixinha e deixou dobradinho debaixo do walkman.

Será que Jungkook já sabia que eu ia querer saber os nomes?

— “Love And Affection” — disse ele, lendo o papel. — Realmente é do meu pai, essa letra é dele...

— Ah… — eu disse, concordando. Assim que ele se encostou na árvore de novo, meu braço voltou a ficar quentinho, entrando em contato com seu casaco. — O que significa? — perguntei, vendo o papel descansar em sua perna.

— “Amor e afeição” — respondeu, sem dificuldade nenhuma para traduzir.

Por algum motivo, eu sorri pelo nome da canção. Me encostei mais em Jungkook.

— Que bom... — eu disse, pensativo.

O corpo de Jungkook não estava tenso por eu ter me encostado nele. Mas ele parecia um pouco tímido.

— Bom...? Por quê? — perguntou.

Notei uma movimentação sutil. Ele também estava se encostando mais em mim, mas muito lentamente, como se não quisesse que eu percebesse…

Sorri.

—  É melhor do que aquela outra — falei, me lembrando do dia que ouvimos música aqui pela primeira vez. — “O amor vai nos destruir” — falei.

Estamos tão perto que me sinto quentinho. Com nossos ombros tocando, os braços, as pernas, e os pés…

— Do Joy Division? — indagou, e sua voz está ficando bem baixinha.

— É, isso aí.

— Ah...

Depois que ele disse “Ah…”, eu percebi que gosto muito de sua voz. Não é como se eu não soubesse antes. Mas agora pensei e, bem, eu gosto muito da voz dele… e a prova é como me sinto diferente ouvindo os suspiros que ele dá, e os Ah que ele solta de repente. E quando ele fala palavras em inglês também. E quando diz meu nome...

Adoro, adoro, adoro sua voz.

— Eu gosto dessa banda — eu falei para ele, continuando a conversa sobre Joy Division. — Eu gostei de todas as músicas que ouvi até agora. Mas… eu curto mais como soa “Amor e Afeição” do que como soa “O amor vai nos destruir”. — Peguei cuidadosamente a folha na perna de Jeongguk. — Entende?

Jeongguk balançou a cabeça. Eu não vi. Só senti os cabelos dele balançando, duas vezes.

— Também… — disse.

Comecei a ler a coletânea. Quase não conseguia me concentrar, porque o som da respiração calma de Jeongguk me parecia mais interessante. Quando ele lambia os lábios e mordia mais algum pedaço de doce, era mais interessante...  

Jungkook existindo era mais interessante.

No entanto, eu suspirei e balancei a cabeça levemente. Tempos depois, me atentei a lista de música. A letra do Sr. Jeon e de Jeongguk são parecidas, mas a de Jeongguk é mais bonita.

Percebi que Love And Affection é do mesmo artista que a música logo abaixo. Assim que notei, a música começou a tocar.

— Jeongguk? — chamei, apontando para a música número oito. — E essa? O que significa?  

Jeongguk se inclinou para frente e, eu juro por Deus, quando ele tentou ler o que estava na minha mão, eu senti todo o seu cheiro. Cheiro de shampoo, de chocolate, e de outra coisa que já senti antes enquanto com Jeongguk… algo muito, muito bom.

— “Eu gosto quando estamos juntos”.

Ele disse isso. Eu sabia que ele estava falando o nome da música, mas adorava quando coisas assim saíam da boca dele.

— O quê? — perguntei, baixinho. Sua voz está tão perto.

Eu entendi o que ele disse, mas queria que ele falasse de novo.

— Eu gosto quando estamos juntos.

— Eu gosto…?

E de novo.

— Gosto quando estamos juntos.

— Você gosta...?

Só mais uma vez...

— Eu gosto quando estamos juntos.  

Eu queria gravar uma fita só disso. De Jeongguk dizendo “Queria que você estivesse aqui” e “Gosto quando estamos juntos”.

Não consegui segurar meu sorriso. Me sentia tão satisfeito e amaciado por dentro. Sentia as maçãs do rosto ficarem quentes, os meus pés se remexeram automaticamente e a felicidade palpitar em meu coração, me dando o sentimento de que hoje foi um dia muito feliz.

— Também gosto de como isso soa... — eu disse.

Eu sabia que se eu virasse o rosto, ia dar de cara com ele. Não queria que ele se afastasse por nada nesse mundo. Nada mesmo.

No fim, percebi que eu não estava nem aí. Foi exatamente por isso virei o rosto para ele, no mesmo segundo.

Quando o fiz, pensei que me depararia com Jeon olhando para baixo, na direção da folha que estava em minha mão. Tamanha a surpresa ao perceber que seus olhos não se moveram, que já estavam fixados em mim antes, em meu rosto… Ele estava olhando para mim, estava me observando... Isso me fez sentir vivo em todas as partes do meu corpo.

Nas bochechas e no coração, principalmente...

Ele não disse nada, e eu não disse nada, e nós ficamos olhando um para o outro, tão intimamente. Porque estamos tão perto...

Prendi a respiração, com medo de estragar aquele momento tão perfeito. Nossa. Nossa. Nossa.

Eu estava olhando para ele e podia ver todo o nervosismo subindo em sua expressão. O rosto de Jeongguk começou a ficar mais vermelho a cada segundo que se passava, e ele nem piscou. Seus olhos permaneciam vidrados em mim, seus ombros não se moveram e nem seu corpo...

Ele também prendeu sua respiração?

Outra música começou e a respiração dele atingiu meu rosto sutilmente. E com isso, todo o frio foi embora.

Igualmente, fica calor. Mas é um calor bom... um calor no estômago diferente, mas que já está acostumado a dar as caras quando estou com ele. ele.

Jeon está petrificado, mas eu não. Eu não me seguro, começo a olhar para ele… olho seu rosto e tudo que ele possui tão singularmente. Tudo. As sobrancelhas. A manchinha no rosto. A pintinha no nariz. E é tão insuportável porque estou sempre com vontade de tocá-lo. Quero encostar, ver como é a sensação de colocar as mãos na sua pele…

Eu só... não me permito olhar para seus lábios vermelhos. Eu sinto que é perigoso demais. Eu não sei por quê. Mas é perigoso, é muito perigoso.

Tentado, começo a respirar mais uma vez. Consequentemente, estou ofegando por ter prendido minha respiração por tanto tempo. Jeongguk me deixa todo diferente...

Um pouco tímido, eu abaixei minha cabeça. Eu só abaixei minha cabeça. Eu não pensei que abaixar a cabeça seria tão… incrível.

Não que ficar cabisbaixo seja incrível. Foi incrível porque Jeongguk fez aquilo. No exato momento em que inclinei meu rosto, ele se curvou em minha direção. Eu senti seu cabelo em minha testa, os fios se arrastando por minhas bochechas. Até que ele deixou sua testa pousar em meu ombro, bem pertinho do meu pescoço, que está coberto pelo meu moletom de lã…

Ele está… deitadinho no meu ombro...

— V-você me deixa tão nervoso… — murmurou trêmulo, com o rosto escondido em mim. Eu juro que meu corpo entrou em pane. — Puxa, Jimin...

Meu coração começou a sair da estrada. Ele não estava batendo de um jeito normal. Estava loucamente anormal, e começou a ficar cada vez mais maluco. Parecia que as batidas estavam altas demais, como quando a gente liga a TV de noite e o volume está alto, e temos que diminuir correndo para não acordar ninguém.

A diferença é que o coração não me deixa diminuir o volume. Ele bate, bate e bate. Tum! Tum! Tum! Bem rápido e bem alto. Pulsando em todo meu corpo, estou entregue, e acho que Jeongguk, com a testa e o nariz tocando meu ombro, está o sentindo bater e se perguntando se eu não sou completamente maluco.

E eu sou! Eu sou, Jeongguk! Desculpa!

Minhas mãos estavam ficando suadas, mais suadas do que já ficaram em todos os meus quinze anos de vida. O pé de Jeongguk estava quase em cima do meu, e eu me peguei pensando se ele podia ou não podia sentir que eu estava apertando os dedinhos do meu pé de nervosismo. Sim? Não?  

Minha mente girou, girou e girou. Sentir ele pertinho me deixou com tanta saudade. Fiquei com tanta saudade de Jeongguk. Isso me fez suspirar, deitando minha cabeça na dele, e agora Jeongguk está com o rosto bem protegido por mim, meu ombro, meu rosto e meus cabelos ruivos. O cheiro do seu shampoo está mais forte e sua pele está gostosamente quente. Minha pele também está quente, então é como se pudéssemos abrigar qualquer um do frio em nosso enlaço. Poderíamos colocar um filhotinho entre nós e protegê-lo do frio assim.

Ou um ovo que ainda não quebrou — não, eu não sei por que me veio a suposição na cabeça, eu só senti tanta coisa, e uma delas foi que estamos tão quentinhos que poderíamos abrigar filhotes aqui, entre nós dois.

Sua voz trêmula me veio a cabeça, e deixei para pensar em filhotes em outro momento. Eu o deixo nervoso...

Meu coração ainda está pulsando de uma maneira que posso o sentir e o ouvir. Jeongguk está ofegante, e eu estou ofegante, e uma onda nervosa sobe pelo meu corpo e eu fico ainda mais tonto. Como se tivesse comido uma comida deliciosa e ficado com sono, com a sensação amorosa. Isso, é isso, essa sensação é amorosa. Estou sentindo isso.

Quando percebi, estava sorrindo muito. Muito. Me sinto tão feliz.

Eu não sabia se era um abraço, e não me importei com a possibilidade de não ser. Eu não me importo, eu quero tanto abraçá-lo agora... eu faço isso em um segundo, ergo meus braços e o puxo ainda mais para mim, segurando seu corpo pelas costas e pelos ombros.

Quando Jungkook ergueu seus braços e me abraçou em cima do quadril, eu me desequilibrei totalmente em minhas emoções. Eu queria rolar pela grama enquanto abraçava ele.

Eu o abracei, eu o apertei, e ele me abraçou e me apertou na mesma intensidade, e sua voz até soou alta quando ele suspirou bem forte. Eu o deixo nervoso. Eu respirei bem alto também.

Seu abraço é como um cobertor quentinho, mas muito melhor. Acho que não tem comparação, esse abraço é melhor do que qualquer coisa que existe, até mantas quentinhas.

As palavras voltam como um abraço: v-você me deixa tão nervoso. Puxa. Puxa. Jimin. Minha mente se enche de: eu deixo Jungkook nervoso. Ele deveria saber que me deixa tonto e fraco, não deveria? Deveria saber que estou com saudade dele quando ele ainda está aqui. Eu sempre estou com saudade dele. Principalmente quando estamos perto.

Sei que vou ficar inquieto o resto do dia quando chegar em casa hoje. Porque vou me lembrar da sensação de acariciar seu tornozelo. De tocar sua mão. De abraçar seu corpo. De sentir sua respiração no meu rosto. Vou sentir tanta falta do seu rosto no meu ombro...

— Você me deixa… — eu disse. Minha voz está soando tão calma, e fina, e doce. O apertei mais. — Estou com saudades de você…

Jeongguk me apertou mais também e nem ligo pro fato de que ele está sentindo todas as minhas gordurinhas agora.

— Mas estou aqui... — falou, abafando a voz em meu moletom.

— Eu sei...! — disse. — Mas daqui a duas horas não vai estar, e já estou morrendo de saudades de você…

É verdade. É verdade. Não quero que essas duas horas passem, quero ficar abraçado com ele até amanhã, até depois de amanhã, até não aguentarmos mais e a saudade for embora…

Eu me pergunto... será que a saudade iria embora? Ou nós ficaríamos abraçados para sempre porque não tem chance de eu não querer estar sendo abraçado por ele?  

Eu não faço ideia, e acho que não me importo, porque abraçar ele aqui é o suficiente.

Jeongguk não respondeu e eu amaldiçoei todas as figuras sagradas que existem quando o sinal tocou lá da escola. Isso resultou em meus braços saindo de Jungkook, e os braços de Jungkook saindo de mim, então nós dois chegando para trás e nos afastando. A gente parou de se abraçar. Algumas pessoas passaram pela passagem do parquinho, perto de nós dois. Não dava mais pra ouvir a música por causa da conversa de quem passava, e das risadas, e éramos invisíveis para todos eles. Eles não nos olharam. Fiquei feliz quando eles foram embora.

Ficamos assim por um tempinho. Jeongguk não falava e eu não falava. A gente só respirava, perto, mas não tão perto quanto antes…

As coisas voltaram ao comum quando ninguém mais apareceu. A música era escutada novamente.

Eu ia dizer alguma coisa, mas meu corpo estava com a sensação dormente e cansada, talvez por causa da intensidade de tudo que senti quando o abracei, ou talvez porque fiquei triste por não estarmos mais abraçados… eu não sei, eu não consegui falar mais nada.

Isso resultou em, surpreendentemente... Jeongguk falando primeiro.

— Jimin… — chamou.

Eu enfiei a mão no saco de doce, porque precisava ocupar minha boca com alguma coisa.

Eu olhei para ele. Ele é tão bonito.

Será que esse é um dos motivos pelo qual meu corpo está dormente agora?

— Oi...? — perguntei.

Ele está encostado no tronco da árvore. Peguei uma bala de abacaxi ruim. Mas coloquei na boca mesmo assim.

Eu prestei atenção em Jungkook, e só nele, um momento depois. Eu não quero ficar mais nervoso, ou chateado com o universo por não estarmos mais abraçados. Eu só quero estar com ele. Não quero esses sentimentos ruins...

Ele balançou a cabeça de repente.

— Não tenho ideia do que dizer... mas não queria que ficássemos em silêncio.

Fiquei surpreso. E ri. Sua confissão é tão adorável que eu não consegui segurar meu riso, porque também não quero que fiquemos em silêncio.

Depois eu me encostei no tronco da mesma maneira que ele, voltando para a posição inicial...

— Também não — eu disse. — Eu gosto quando a gente conversa.

— Eu também gosto! — disse, e posso perceber que ele ainda está nervoso. Mas se acalmando aos poucos… — Hm… Jimin? — eu murmurei em resposta. — Posso te ligar quando chegar em casa hoje?

Dei um sorriso. Fitei seu rosto, tendo de virar completamente minha cabeça para isso.

— Pode… — Por favor, me ligue para sempre, sua voz fica linda no telefone.

— Então eu vou ligar... — diz, sorrindo tortinho de novo, com a boca toda vermelhinha.

Às vezes morro de curiosidade só de olhar para ela... ela parece uma cereja agora. Aquelas que ficam no topo do bolo.

Na verdade, Jungkook inteiro parece uma cereja. Ele é doce e brilha. E ele fica vermelho às vezes.

Nós ficamos quietos, bem ali, até a fita terminar. Então decidimos que era a hora de voltar.

Fomos caminhando, batendo os ombros um no outro levemente, e terminando com os doces aos poucos. Desculpa, dentes, quando eu chegar em casa vou tirar todo o resquício de açúcar de vocês.

Quando entramos na sala, do clube de música, estavam todos diferentes. A música não estava mais tocando, Namsoon estava sentada no banquinho em frente ao piano e Hoseok e Taehyung dividiam uma cadeira, perto dela.

Estavam todos concentrados no piano. Seokjin também estava ali, olhando para eles tocando, e eles se viraram para nós quando entramos.

Pensei que iam estranhar, mas Taehyung apenas mostrou um sorriso e disse:

— Nam aprendeu a tocar a primeira parte de Imagine! — disse ele. — E ela decidiu ficar com a gente.

— O clube precisa de uma garota — disse Nam, com um sorrisinho.

— Isso aí é verdade, mas você vai ficar porque gostou da gente, né? — Tae falou para ela.

Ela deu um sorrisinho feliz, e suas covinhas apareceram de novo.

— Pode ser que sim — disse ela, com as mãos no piano.

Eu olhei para Jeongguk, e ele sorriu. Nós nos aproximamos, e ficamos observando todos conversando. Taehyung falava para ela sobre a concentração, e ela seguia ele, e eles tocavam as teclas juntos. Jin fazia comentários e parecia muito bem introduzido junto com eles. Hoseok também falava.

Nós nos sentamos um pouco atrás deles, um do lado do outro, e ficamos observando. Eles riam e Nam ficava frustrada quando errava, e Hoseok a acalmava dizendo tudo bem. Então Tae falava que ela estava indo bem. Em certo momento, Jin se sentou também, então os quatro estavam espremidos em dois bancos.

Era divertido como todos pareciam já se conhecer há anos.

— Tá bom — Nam disse, suspirando nervosa. — Vou tentar.

Ela colocou as mãos. E começou a tocar, lentamente.

Enquanto a sala era preenchida com o som do piano, eu respirava fundo. Sentia que estava mais calmo em relação a antes. Meu rosto não estava mais tão quente, e meu coração batia mais suavemente.

Descansei a mão na minha perna, sorrindo ao ver Nam e os meninos comemorando porque ela tocou a primeira parte direitinho. Então ela começou a tocar de novo. E foi ainda melhor dessa vez.

Até eu conhecia aquela música. Fiquei batendo os dedos na perna por um momento, fechando meus olhos sutilmente, porque o som do piano era maravilhoso...

Senti minha franja fazer cosquinha na minha testa. Então ergui minha mão, coçando sutilmente, e no mesmo momento Jeongguk tocou minha coxa, bem onde estava minha mão.

Ele tirou a mão dali um segundo depois, rapidamente, como se tivesse acabado de fazer uma grande besteira.

— D-desculpa — disse, e sua voz está trêmula. — Foi mal...

Hoseok estava falando alto, então ninguém se virou para ver o que aconteceu.

Eu ri um pouco da reação de Jeon, tentando entender o que ele estava tentando fazer, e por que se arrependeu tanto.

— Agora toca você, Tae! — pediu Hoseok, animado. Ele se virou para nós dois, dizendo: — Vocês todos deveriam ouvir Taehyung tocando e cantando. Ele é muuuuito bom!

Taehyung remexeu os ombros, e deu pra ver o sorriso dele quando ele se virou para Hoseok.

— Você tem razão, eu sou muito bom — disse, e sua confiança nos fez rir. — Eu vou tocar.

Então, todos estavam virados para frente novamente, fitando Taehyung. Ele respirou fundo. E começou a tocar.

Quando a música chegou em meus ouvidos, vi uma diferença notável entre ele e Nam. Ele tocava muito bem, com mais sutileza, e a música se tornou ainda mais familiar para mim...

Assim que ele começou a cantar, eu percebi o que Jungkook tinha tentado fazer na hora que tocou minha coxa. E enquanto me maravilhava com a voz de Taehyung, tão grave, me virei para Jungkook mais uma vez...

— Você ia segurar minha mão? — eu sussurrei, me inclinando levemente para que ele me ouvisse.

Jeon engoliu em seco, mas não hesitou em balançar a cabeça, afirmando.

Dei um sorriso. Ele vai segurar minha mão, então...

Sequei minha palma na calça para ter certeza de que ela não está mais suada. Lentamente, coloquei ela na perna de Jeongguk, com a palma virada para cima, como se dissesse para ele: por favor, pegue minha mão...

— You may say I'm a dreamer… — Taehyung cantou.

Jeongguk tirou a mão dele de trás do corpo. Encaixou ela na minha, com os dedos deslizando entre os meus, até estarem encaixados e juntos. Quentes. As palmas se abraçando. Como nossos abraços e nossos rostos.

— But I'm not the only one…

Os meninos começaram a balançar o corpo de um lado para o outro, como se estivessem em um show. Eu ergui o polegar, afagando a mão macia de Jeongguk, até a música acabar, até nossas mãos suarem e eu perceber que, mesmo assim, era bom estarmos de mãos dadas.

And the world will live as one.

Meia hora depois, o sinal tocou. A aula de terça-feira havia terminado.


Notas Finais


Playlist do clube de música: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/2Qz6IOFBOuZ1x6afOTKoLT?si=Lpju7w38SPCd8f1YGu41lg

E aí? Alguém tem um palpite sobre quem é a Namsoon? Ela é essa lindinha aqui ó: https://68.media.tumblr.com/49260a35a054cbff3a180fd0e73a4870/tumblr_onpp71KXAT1unltn5o3_540.gif XDD acho que vocês já sabiam...

E esse foi o capítulo de hoje! Não se esqueçam de usar a tag #PuxaPuxaPuxa no twitter se forem falar de "Ele é como Rheya" por lá! Eu vou estar vendo tudinho.

Até o próximo capítulo, beijinhos e abraços! 💜

Reclamações, surtos e porradaria por aqui: https://curiouscat.me/nickunnie

Trailer de 'Ele é Como Rheya': https://youtu.be/USNNkvR-7ds

Chat da fic 'Ele é Como Rheya' (e outras fics minhas): https://chat.whatsapp.com/43aK0eVtNu22aIfr9cejuT

Falem comigo pelo meu twitter @gatodacoraline
+ Link da playlist de Ele é como Rheya: https://open.spotify.com/user/nickuchanx/playlist/7ujImtkR0sT87egM1HLdsv

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