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História Ele é Como Rheya - Ele é como o Universo


Escrita por: coly-unnie

Notas do Autor


Boa noite, anjinhos!

Vou deixar pra falar mais nas notas finais, então, boa leitura~~

Capítulo 24 - Ele é como o Universo


JIMIN

 

Minhas bochechas clamaram por ajuda assim que eu cheguei em casa.

Na boa… acho que elas não me aguentam mais! Estão doendo e ardendo porque eu simplesmente não consigo parar de sorrir, desde que a aula de história acabou, que saí da escola, que peguei o ônibus, que desci dele... eu estou "só sorrisos" e nada consegue me fazer parar de sorrir cada vez mais.

E por quê?

Porque Jungkook me levou à utopia hoje. 

E é impossível não sorrir em utopia. 

Poxa… fala sério! Acho que estou em utopia até agora. E é tão, tão bom, que sinto que amo Jeongguk ainda mais. Acho que o amo de uma forma muito mais intensa que o normal, tipo amor de almas gêmeas ou noivos. Tipo… realmente amor, mesmo. 

É que ele é simplesmente surreal. Sério, como Jungkookie conseguiu me levar a um estado de felicidade tão intenso em plena segunda-feira, na escola e logo depois de ter sido chamado de baleia por meninas que me odeiam? Como?! 

É um mistério, mas… eu não me importo. Eu não poderia estar mais feliz que isso.

Apesar de não ter conseguido dar um beijo em sua boca, Gguk tornou o dia inteirinho especial ao segurar minha mão por baixo da mesa, me fazendo sentir aquela felicidade surgindo em meu peito e se alastrando por todo meu coração. Por causa do calor e do toque de sua mão macia, tudo se transformou em magia. Jeongguk consegue fazer tudo isso sem ao menos perceber, e ainda por cima disse aquilo no refeitório... 

“Eu acho lindo”.

Ahh.

Será que ele estava falando da apresentação? Ele parecia tão distraído. Eu percebi que Jungkook estava olhando para mim o tempo todo, e até tentei agir de um jeitinho fofo, só porque ele estava prestando atenção em mim, mas não consegui. Só que… ele olhou nos meus olhos e disse a palavra lindo. Isso me fez explodir por dentro.

Na boa… lindo. Lindo. Ele olhou nos meus olhos e disse lindo.

Isso é tão, tão fofo e romântico. Eu fico até confuso. Afinal, como consigo agir normalmente quando tudo entre nós está tão diferente? Queremos nos beijar e agora, Jeongguk me disse algo tão… tão… tão perfeito! Tão… Jeon Jungkook.

Eu estou sorrindo que nem um bobo porque os acontecimentos circulam pela minha cabeça como lembranças abençoadas. Jungkook elogiou meu corpo! Ele disse que é bonito, que tenho um corpo bonito, e isso me fez virar de ponta cabeça... aqui, dentro do meu peito, e dentro do meu cérebro, eu senti amor. Senti amor com todo meu ser. 

Acho até que dei tilt dentro da sala de aula…

Por incrível que pareça, eu nunca pensei que Jungkookie poderia fazer um elogio assim, ainda mais tão espontaneamente. Eu acho que nem sabia que queria tanto que ele me elogiasse até ele o fazer...

Eu sempre penso no quanto Jungkookie é extremamente bonito. Lindo. Perfeito. A pessoa mais linda que eu já conheci em todos os meus quinze anos de vida... Eu amo seus olhos, seu cabelo, e até suas sobrancelhas. Mas nunca pensei em como me sentiria com ele me elogiando, mesmo que aos pouquinhos, mesmo que indiretamente e de uma maneira atrapalhada… por isso eu entrei em pane. Mexeu tanto comigo! Me deixou louquinho…

Fiquei fora de órbita o resto do dia, até quando passei meu telefone para o Taehyung, depois da reunião do clube de música. Não consegui prestar atenção, também, em nenhuma palavra que saía da boca do Yoongi no estacionamento. Tudo era sobre Jungkookie e como ele me via dentro da cabeça dele. Sou bonito? Sou bonito aos olhos dele?

— Ai ai… — Suspirei, tirando os sapatos e deixando perto da porta. Menino apareceu miando. — Oi, Menino. O Yoongi não veio hoje.

Ah, é. Yoongi deveria estar aqui também, mas sua mãe apareceu de surpresa lá na escola e ele decidiu ir para casa com ela. Assim, ele deve vir aqui em qualquer outro dia que ela não esteja na cidade...

Meu Menino passou entre minhas pernas, ronronando e eu fui com ele até a cozinha, enchendo seu pote de ração e trocando sua água, rindo baixinho quando ele começou a comer desesperadamente. Até parece que passa fome!

— Comilão.

Antes de guardar o saco de ração, saí de casa mais uma vez, apenas de meias. Fui até o canto da minha varanda e enchi a vasilha que tem ficado ali, junto com um cobertor velho e outro potinho com água. É para aquele gatinho preto, felpudo e gordinho que encontrei durante o recesso de duas semanas. Ele tem nos visitado bastante desde a última vez que o alimentei e apesar de não vê-lo, já o gosto muito...

Mamãe chegou a ver ele duas vezes depois daquele dia, então montamos um cantinho para ele. O cobertor sempre fica infestado de pelo preto, e as vasilhas esvaziam toda hora, por isso sabemos que ele continua vindo. O único problema é que ele nunca dá as caras quando estamos por perto… 

Pensando nele, enchi seu potinho de ração, depois peguei o pote de água e entrei em casa para trocá-la. O que me surpreendeu fora sair, e então, me dar de cara com o gatinho preto. Poxa!

Ele apareceu do nada!

Ele já estava olhando para mim quando o notei, perto do pote de ração, mais gordinho do que da última vez que o vi. Fiquei parado, o fitando, mas logo me mexi. Me aproximei lentamente, segurando sua água com firmeza e chamando:

Pspsps… — sussurrei. — Vem cá, vem. Vem cá, neném…

Me aproximei mais um pouco e meu coração acelerou quando ele não fugiu. Quando me abaixei, colocando a água no lugar, o gatinho não se afastou. Ele ficou um tempo parado, me analisando e analisando as vasilhas, até caminhar lentamente até o potinho de água, cheirando e começando a beber.

— Bom garoto... — eu disse, me aproximando mais.

Ele estava tão concentrado em beber água que não ligou pra minha aproximação. Por isso comecei a acariciá-lo com carinho, pertinho do rabo, atrás das orelhas, até ele começar a ronronar. Fofinho!

Fiquei um tempo com o gatinho, até ele se esfregar na minha mão e ir comer. Quando ele ficou satisfeito, eu voltei para dentro de casa, pensando em contar para mamãe que fiz carinho no pretinho assim que ela chegar.

Peguei minhas coisas na sala de novo e comecei a subir os degraus para o meu quarto, mas, antes de chegar lá, o telefone tocou. 

— Opa.

Deixei minhas coisas no meio da escada e saí correndo. Quando atendi, ouvi:

Alô? É da casa do Jimin?

Era o Taehyung.

— Oi, Tae! — eu disse. — É, é sim.

Jiminnie! Tudo bem? — ele deu uma risadinha. — Cheguei agora e pensei em te ligar pra te contar uma coisa incrível. Podia esperar até amanhã, né? Mas não consegui! Então. Antes de sair da escola, a Namsoon me contou que vai ter um programa super legal na escola no fim do mês de agosto, aí queria te falar antes porque você é especial, é claro.

Tae fala tantas coisas, tão rápido, que eu fico perdidinho.

— Espera… sim, eu tô bem! E você? — eu disse. — E que tipo de programa? Tipo uma festa?

Tipo, não! É bem melhor! — ele disse, animado. — Vai ter um acampamento! 

— Um acampamento?

É! Vão contar pros alunos nessa sexta-feira, aí vão elaborar as autorizações e tudo mais! — ele disse. — Por que a gente não fala mais disso depois da escola, amanhã, na minha casa?

Espera.

O quê?

— Espera aí. Amanhã? — eu perguntei, um pouco perdido. — Na sua casa? Sério mesmo?

Sim! Eu adoro chamar meus amigos pra vir aqui em casa, ainda mais depois da escola, porque é quando eu fico sozinho — ele explicou, cuidadoso. — Você acha uma boa?

Sorri pequeno porque, sim… é claro que eu acho uma boa! É demais. Adoro ir na casa do Yoongi e pensar em ir, também, na casa do Tae, me faz sentir que estou fazendo mais um melhor amigo.

— Claro!

Taehyung parecia estar sorrindo do outro lado da linha quando disse que sua mãe poderia me deixar em casa depois, e que se a minha quisesse, era só ligar para sua casa depois das oito para confirmar tudo. Eu concordei e depois de algumas palavras trocadas, nós apenas desligamos.

Fiquei ainda mais feliz depois de falar com ele. Fui para meu quarto sorridente, guardando minhas coisas com animação, até que, enquanto pegava uma roupa de ficar em casa, me deparei com a capa de chuva amarela que emprestei para Jungkookie no dia que fomos para o centro juntos.

Awn… — Suspirei.

Foi engraçado como minha mente voou de Taehyung e sua casa, para Jungkook e sua fofura de repente.

Seu rostinho molhado de chuva, e como nos abraçamos pela primeira vez naquele dia… fora tudo de bom. Poxa, é difícil parar de pensar nele, tanto que fui tomar banho pensando em sua fofura e no dia de hoje (mais uma vez). Uma coisa engraçada até chegou a passar pela minha cabeça enquanto eu ensaboava os ombros: afinal... se Jeonggukie já consegue ser um fofo escrevendo bilhetinhos no escuro, imagina como ele seria um amor ditando seus votos?

Tipo… em um casamento.

No nosso casamento.

Cara. Cara… imagina só.

Jungkookie em um terninho. Com alianças, e tudo mais... falando um monte de melosidades adoráveis, só pra mim, e passando o resto da vida juntinho comigo…

Ah…!

Tenho certeza de que é cedo demais para pensar nisso, mas não posso evitar. Enquanto Jungkook existir, vou me imaginar casando com ele.

JUNGKOOK

 

“This is where I want to be, 

Here, with you so close to me

Until the final flicker of life's amber”

 

“Esse é o lugar onde quero estar, aqui, com você tão perto de mim. Até o final dos nossos dias”… —  repeti, escrevendo no caderno. Respirei fundo. — Puxa… 

Tem sido difícil estudar inglês por causa dele.

Jimin… puxa, Jimin. Jimin insiste em ficar na minha cabeça sempre que pode. Tenho o costume de, pelo menos duas ou três vezes por semana, tocar uma fita aleatória para tentar traduzir as músicas apenas ouvindo elas. Mas é difícil quando são músicas de amor. Eu acabo pensando em dedicar elas ao Jimin, ou escutá-las com ele, e isso sempre toma toda a minha atenção.

Não consigo estudar. Não consigo parar de pensar nele em cada uma dessas músicas e isso me arrepia todo, puxa… eu não consigo manter o foco. 

É que já sinto a falta dele.

Pensar em Jimin é como uma coisa perigosa. Tem sido assim ultimamente... às vezes, é como pensar em algo que me constrange muito, como um mico que paguei há muito tempo, porque as reações que tenho involuntariamente são as mesmas! Meu corpo se contorce e eu fico ofegante, tentando escapar da imagem de seus olhos, dom som de suas palavras, e do fato de que Jimin sempre é paciente comigo… mas esses fatos, essas imagens e lembranças me seguem o tempo todo! Fico cor de rosa.

E é assim... eu não consigo controlar minha timidez. Eu carrego comigo essa grande agonia, de pensar em Jimin toda hora do dia, até quando estamos juntos. Por isso é tão… puxa, é tão difícil! Porque nada esconde essa minha timidez! E sempre que Jimin percebe, ele tenta aliviá-la.

“Se você quiser, pode dar o primeiro beijo. Assim você não vai se sentir nervoso quando chegar perto, porque só você vai saber.”

Puxa...

Jimin é tão doce e cuidadoso que eu… eu não consigo parar de pensar nele. Minhas bochechas ficam ardendo tanto que eu fico todo molenga…

Tipo… Jiminnie. Jiminnie me beijando na sala de aula hoje. Só de lembrar, minha nuca se arrepia, como se ele estivesse aqui agora, me beijando como beijou mais cedo...

— Puxa… — Suspiro, vendo a hora. Eu deveria estar estudando. 

Mas com ele na minha cabeça, não dá...

Me debrucei sobre a escrivaninha, passando a música pelo toca fitas, ficando sonolento por causa do rubor nas bochechas. Depois, me sentei ereto, balancei o rosto, e comecei a traduzir mais. Mas é claro que, com o meu azar, começou outra música de amor depois de Here Comes The Moon do George Harrison. Uma música que me faz pensar muito em Jimin...

Blue velvet, do Bobby Vinton.

— Puxa… — Suspirei baixinho, bagunçando meus cabelos. — Eu gosto muito de você, mas sai da minha cabeça! — Bati na minha própria cabeça. — Sai só um pouquinho… — choraminguei.

Ele não saiu.

Ele nunca sai da minha cabeça.

Fiquei um tempo fitando o papel e minha caligrafia. Desistente, me levantei da cadeira e fui direto para cama, me deitando com o rosto quente e o coração pesado. Pensamentos sobre Jimin dançavam pela minha cabeça sem parar. Essa música me lembra tanto ele que é impossível não lembrar, sabe... o cantor fala da moça que ele ama, que veste veludo azul. Eu penso tanto em Jimin ao som dela que que já memorizei…

Bocejei um pouco.

— “Ela vestia veludo azul… mais azul que o veludo, era a noite. Mais macio que o cetim, era a luz das estrelas…” — sussurrei baixinho, abraçando meu travesseiro. — “Mais quente que Maio, eram seus suspiros carinhosos…”

Suspiro, fechando meus olhos, e minhas bochechas ardem mais. Pensar em Jiminnie me chamando de Ggukie bem baixinho me deixou completamente dormente. 

Por que sua voz tem que soar tão bem? Puxa… é difícil demais...

Me sinto em paz pensando nos olhos dele, enquanto ele sorri, enquanto fica vermelho… enquanto me olha… é tão gostoso que vou ficando sonolento… de amor...

Puxa… essa música me lembra Jimin por causa do azul. Jiminnie usou um suéter azul no primeiro dia de aula, assim como quando beijou meu polegar no parquinho… só consigo pensar nele com essa roupa quando escuto essa música. Penso nele e seus cabelos ruivos em uma imensidão de azul, enquanto a melodia soa… ao mesmo tempo que ele sorri… e diz meu nome sem parar…

Jeonggukie, Ggukie, Jungkookie… — ele diz. Quando me viro na cama e abro meus olhos, Jiminnie está deitado do meu lado e Moon River, do Andy Williams, começa a tocar. — Por que você está abraçando um travesseiro? — ele pergunta, rindo.

Seus cabelos estão grandes, como no dia que matamos aula juntos pela primeira vez. E ele está com o suéter azul.

— Não sei… — eu disse, me sentindo um pouco aéreo.

Jimin sorri.

É por que você está com saudades de mim? — ele se aproxima um pouco. 

Eu pressionei os lábios, balançando a cabeça, afirmando.

— É… — eu admiti.

Jiminnie se sentou na minha cama, e eu fiz o mesmo. Ele tocou meu nariz com a pontinha do dedo, rindo.

Se eu te beijar, vai passar?

Sinto sua mão na pontinha da minha orelha, e sorrio sem parar. É bom. É calmo.

— Vai… — eu respondi, sem hesitar.

Você quer? — De repente, percebi que ele não está usando óculos.

— Puxa… eu quero…

Jiminnie sorriu mais. Ele colocou a mão no topo da minha cabeça, fez um carinho, e a arrastou até minha bochecha. Fiquei olhando para a boca dele, fechei meus olhos e me aproximei com tudo, querendo beijá-lo primeiro, e amando quando...

Ai!

Eu caí da cama. 

E no caminho, bati a pontinha da minha sobrancelha na quina da minha mesinha de cabeceira, o que doeu muito.

— Ji… Jimin?! — eu chamei, sem entender o porquê logo depois. 

Minha cabeça doeu. E eu percebi, com a sobrancelha sangrando, e jogado no carpete do meu quarto, que Jimin e sua presença não haviam passado de um sonho.

Um sonho.

Quando foi que eu dormi?

Eu inspirei fundo, ainda atordoado com o fato de ter dormido sem perceber. Quando meu coração estava se acalmando, o toca-fitas soou alto:

HELP! I NEED SOMEBODY! 

Help, dos Beatles. 

A música perfeita para tomar um tremendo susto logo no começo.

— Ah! — eu me levantei com tudo, sem querer batendo o dedinho na gaveta da mesinha de cabeceira (essa idiota!) e me encolhendo logo depois. — Aaaaaaiiii

Apertei minha mão, sentindo meu mindinho latejar junto com minha sobrancelha. Não muito depois, minha pele começou a arder e a sangrar um tantinho. E como se tudo pudesse piorar, minha mãe abriu a porta do meu quarto no mesmo momento.

— Jungkook, te chamei para jantar, você… — Seus olhos se arregalaram quando ela me viu. — Criança!

Minha mãe correndo até mim desesperada e me apertando as bochechas ao som dos Beatles, foi a parte mais cômica da minha segunda-feira. Sangrando, eu percebi que, além de bagunçar minha mente, Jiminnie também bagunça a mim. Sem nem tentar! Puxa...

Depois de me fazer inúmeras perguntas, mamãe me levou para o banheiro e fez um curativo na minha sobrancelha, dizendo a todo momento que vou acabar morrendo antes dos vinte por causa desse meu jeito desastrado. Meu pai ficou rindo, na porta, a chamando de exagerada. Apesar dos pesares, foi uma situação engraçada...

Depois de fazer o curativo, nós fomos jantar. Ao sentarmos na mesa, meu pai puxou assunto:

— Jungkook, eu e sua mãe… — Eles se olharam. — Faz um tempo que estamos para te contar que eu… eu fui promovido! — ele contou, cuidadoso, enquanto eu pegava um pouco de arroz. Sorri ao ouvir isso (afinal, ser promovido era bom). — Vou ganhar quase o dobro do meu salário e vou ter muitos benefícios na empresa.

— Que legal, pai... — eu disse, sorrindo. — Você foi promovido a quê?

Meu pai parou de falar por um segundo. Ele e a mamãe se entreolharam mais uma vez.

— Então, querido… seu pai quis dizer que ele foi… transferido — mamãe sorriu, acolhedora. — Ele vai trabalhar na capital.

Eu arregalei os olhos.

Espera.

Espera, espera…

— O quê… — Eu soltei os talheres. — V-vamos nos mudar? 

— Não, não. Só eu vou, filho. — Meu pai segurou minha mão. — Eu vou ficar lá de segunda à sexta, mas volto nos finais de semana. Vou começar em setembro.

— Que dia de setembro? — perguntei, com o coração apertado.

— Na segunda semana. — Ele sorriu. — O que você acha?

Meu coração acelerou. Eu não sabia ao certo o que responder porque… puxa, eu não me sentia bem com essa novidade. Eu não queria ficar tanto tempo longe do meu pai. Estou acostumado a jantar com ele todos os dias, a tomar o café da tarde e… sempre saímos juntos.

É esquisito pensar que ele vai ficar longe por tanto tempo a partir de agora.

— Eu… — Percebi que a atenção deles estavam em mim. — Eu acho legal. É-é legal… — Sorri, um pouco distraído com a dorzinha no meu peito.

— Ainda temos um mês, então não precisa se preocupar — ele falou, com firmeza. — Além do mais, podemos nos mudar para lá no futuro. Caso sua mãe se interesse em alguma empresa localizada lá, ou você goste de algum colégio, sabe, a capital é cheia de oportunidades...

— E-eu gosto daqui… — falei, pensando no Jin e no Jimin. 

— Sabemos disso, querido. Estou muito envolvida com o meu trabalho aqui, então esses planos são muito distantes… — mamãe disse.

— Sim — meu pai confirmou. 

— Talvez seu pai não goste de trabalhar lá, então volte a trabalhar aqui. A diferença de cidade pequena para grande é enorme. O que importa é ficarmos todos bem. Por isso ainda não sabemos, certo? Mas todas as nossas escolhas serão feitas com a sua participação, então não precisa se preocupar — mamãe estendeu a mão na mesa, acariciando a minha.

— T-tudo bem… — eu disse, respirando fundo. — É que… eu realmente gosto daqui. 

— Tudo bem, filho. Nós também gostamos. — Meu pai abriu um sorriso. — Talvez eu não aguente nem uma semana lá e volte! Ouvi dizer que as pessoas na capital são rudes demais!

Eu e minha mãe rimos do comentário e depois comentamos coisas que ouvimos sobre a capital. Eu fiquei menos tenso quando comecei a comer, junto deles, e no fim do jantar, meu pai me abraçou.

— Saiba que, como seus pais, nós nunca faríamos algo para te deixar infeliz, Jungkook. — Ele acariciou minha cabeça. — Mas... nós também sabemos quando a infelicidade é passageira. 

Eu ouvi atentamente. Logo, o abracei de volta, sentindo um pouco de saudade. E apesar de não ter entendido muito bem a última parte, apenas assenti. Porque confiava no meu pai… confiava com todo o meu ser.

E sentiria muita falta dele.

JIMIN

 

Ai. Meu. Deus.

Eu saí correndo pela casa, subindo as escadas rapidamente enquanto segurava aquilo apenas com a ponta dos dedos. Era inevitável fazer uma careta porque, céus, eu nunca pensei que passaria por isso com ela! Era constrangedor! Mas, mais do que constrangedor, era intrigante e eu com certeza precisava de explicações.

Por isso, abri a porta do quarto da minha mãe com tudo.

Leonor, deitada na cama e pronta para dormir, me olhou confusa. Mas só até ver o que eu estava segurando.

Seus olhos se arregalaram enquanto eu dizia:

— Mamãe, de quem é isso?! — indaguei, me sentindo extremamente desconfortável enquanto balançava aquela cueca desconhecida por mim, que encontrei enquanto pendurava as roupas recém-lavadas.

Leonor se sentou na cama de supetão.

— É uma cueca! — ela falou.

— Eu não perguntei o que é! Perguntei de quem é!

Ela deu uma risada nervosa.

— É sua, é claro! 

— Não é, mãe! É maior do que eu, e eu sou gordo! — eu coloquei a cueca do lado da minha cintura, comparando os tamanhos. — De quem é esse negócio?! 

— É sua, Jimin! Quer saber, deve ter esticado porque coloquei a roupa pra centrifugar duas vezes! — Ela se levantou, vindo até mim, e o que ela disse nem tem sentido! Leonor puxou a peça de roupa íntima da minha mão. — Bobo, de quem poderia ser?!

— Não sei! De quem poderia ser?!

Leonor caminhou até sua cômoda, enfiou a cueca ali dentro e fechou a gaveta com força. 

Fiquei a encarando, esperando ela dizer alguma coisa sobre a cueca. Mas ela não disse nada.

Pelo menos não sobre isso.

— Jimin?

Eu vi ela se virar para mim.

— O quê? — perguntei, atento.

Descabelada e de pijama, mamãe, com a voz fria, indagou:

— Por que você só está pendurando a roupa agora?

Eu fechei a boca. Engoli em seco.

— É… eu… — Mordi o lábio.

— Eu não tinha pedido para você pendurar assim que chegasse da escola? — Ela se aproximou, com passos lentos.

— É… — Seu olhar me assustou um pouquinho. Abaixei a cabeça quando ela tocou meu ombro com firmeza. — Ahm… é, é mesmo. E-eu vou terminar de pendurar.

— Muito bem. Vai.

E ela me empurrou para fora do quarto. Quando Leonor fechou a porta, me dei conta de que ela estava desviando do assunto principal — e muito bem, porque na hora de dar bronca, ela assustava muito!

Mas mamãe não me engana. Aquela cueca era amarela e eu não tenho cueca amarela porque elas são horríveis. Não é minha, não é mesmo...

De quem é aquela cueca?

***

Pela manhã, minha mãe não disse nada sobre o suposto dono da roupa íntima amarela. 

Isso fez com que nosso café da manhã fosse esquisito... tanto que quase não nos falamos. Eu me sentia tímido sempre que nossos olhares se encontravam. Quando eu terminei de comer e subi para me arrumar, minha mãe desejou que eu tivesse um bom dia na casa do meu amigo — é, ela deixou eu ir. Eu apenas balancei a cabeça, confirmando e seguindo meu caminho para o quarto.

Enquanto me lavava para a escola, fiquei pensando na possibilidade daquilo ser de algum namorado da minha mãe, e... Sinceramente? Era muito esquisito pensar nela saindo com alguém.

Sabe, Leonor sempre foi muito neutra quanto a isso. Quando assistimos novela juntos, ela nunca diz nada sobre os galãs. Minhas tias sempre gritavam quando eles apareciam e mamãe só ria delas e das cenas clichês. Quando somos só nós dois, eu até comento sobre o quão bonitas as atrizes são… mas ela nunca faz o mesmo com os atores. Por isso pensei que ela não ligava para romance, ou pelo menos não sentisse vontade de viver mais um. 

— Por que ela não me contaria? Ela não confia em mim? — me perguntei, baixinho, um pouco magoado. Poxa...

Eu gostaria que Leonor confiasse em mim.

Quando saí do banheiro, me arrumei rapidamente por causa do horário. E, é claro… me perfumei. 

Há um detalhe sobre perfumes que eu gosto muito. Sempre que eu passo um pouco, minha mente voa para uma lembrança doce que me deixa com uma sensação gostosa no peito. Vovó

Vovó e sua doce teoria sobre perfumes e amor!

Dona Park, minha avó, costumava dizer que a única coisa que lembramos em relação ao nosso primeiro amor, é o cheiro. Ela, por exemplo, não sabia mais o nome do primeiro menino que amou, mas lembrava perfeitamente do cheirinho que a blusa dele tinha. "Lavanda com tangerina!". Por isso ela dizia que se perfumar na hora de ver o broto era mais importante que qualquer coisa!

Desde que comecei a gostar de Jeonggukie, penso em suas doces palavras. Portanto, me perfumo com muito carinho... 

Penso sobre isso em frente ao espelho e sorrio, com os cabelos bem penteados. Por hoje ter clube de música, posso ficar de chameguinho com Jungkookie, e eu acho essa coisa dos cheiros tão amável que não posso evitar querer ficar sempre bem perfumado para abraçar meu amorzinho e misturar nossos cheiros — afinal, ele cheira tão bem também! 

— Pronto. — Sorri.

Coloquei a mochila nas costas e desci as escadas, pronto para ir para a escola. Minha mãe já tinha saído para o trabalho, então somente tranquei tudo e fui para o ponto.

O ônibus virou a esquina quando eu estava colocando meus fones de ouvido. Ainda queria pensar sobre minha mãe e aquela história romântica dos cheiros, por isso decidi escutar música no caminho ao invés de jogar conversa fora.

Subi as escadinhas do busão, e me curvei para o motorista, entrando e me sentando com Yoongi logo depois — dando uma olhadinha em Jungkookie antes, é claro. Ele estava lindo, lindo, lindo de tudo e…

Com um curativo?

Jeonggukie também estava com os fones de ouvido, então decidi perguntar o que tinha acontecido com sua sobrancelha mais tarde. Espero que não tenha sido nada muito doloroso...

Chegando na escola, as aulas foram as mesmas de sempre. Meio chatas, meio legais, meio… meio tudo

Durante o exercício de matemática, Seokjin e Jungkook começaram a discutir baixinho, como sempre faziam em certa parte do dia. E como eu já havia terminado as minhas continhas, parei para ver qual era o motivo dessa vez.

— Não vou te dar nada não! — Seokjin o empurrava. — Desiste. Sai, sai.

Ergui minha postura, tentando ver o que Jin não queria compartilhar com Jungkookie.

— Você é o pior melhor amigo que existe no mundo inteiro! — meu amor disse, afastando sua mesa da de Seokjin.

— Diz isso pro John Lennon!

— Até ele é melhor do que você!

Nhe nhe nhe nhe… — Seokjin fez uma careta, se balançando e imitando-o.

Vi Jungkookie fechar a cara e, apressadamente, colocar os fones de ouvido. Quando ele voltou a escrever em seu caderno, emburrado, percebi que Seokjin estava comendo chocolate, tão emburrado quanto.

Então… eles brigaram por causa de chocolate?

Oh…

Fiquei observando como Jeonggukie escrevia, concentrado e afastado de Jin. Ele queria comer chocolate? Por isso ficou tão chateado?

— Awn… — sussurrei, o fitando. 

Jungkookie quer chocolate. Poxa…

Eu vou dar chocolate para ele.

Quando o sinal para o intervalo tocou, depois de alguns minutos, o professor deu um breve aviso sobre a lista de exercícios e nos liberou. Jungkook foi um dos primeiros a sair da sala, marchando, bravo, para longe e é claro, sem Seokjin.

No segundo seguinte, peguei meu cartão na mochila e me levantei apressadamente.

— Yoongi, eu vou comprar umas coisas! — eu falei para meu amigo que, normalmente, espera a sala esvaziar para sair. 

Não deu tempo dele dizer nada porque logo eu peguei meu cartão ilimitado e me levantei apressado, passando por todos, inclusive Seokjin, para fora da sala de aula.

Saí no meio da multidão para chegar na cantina antes de uma fila gigante ser formada. Quando cheguei, tinha duas garotas na minha frente, o que me fez suspirar aliviado por não estar muito cheio.

— Bom dia… — eu disse, quando chegou minha vez. — Que chocolates vocês têm?

A funcionária apontou para as caixas no canto da cantina.

— Tem de amendoim, de biscoito, de morango, meio a meio, M&M's, cremoso… ah, tem chocolate branco também. — Ela ia me mostrando as caixinhas. — Qual você vai querer?

Dei um sorriso.

— Todos.

A moça pareceu um pouco surpresa com minha resposta. No entanto, quando eu peguei o cartão da escola, ela não protestou, apenas começou a colocar as barras em uma sacolinha, fazendo as contas na calculadora. Pedi para ela adicionar algumas trufas também. Quando ela terminou, eu paguei direitinho, agradeci e fui embora. Agora só preciso achar Jeonggukie com minha bolsinha da felicidade: chocolates.

Saí pela escola, espiando o refeitório, e não encontrando Jungkookie. Se ele não está aqui, só pode estar no parquinho… ou no pátio.

Passei pelo pátio primeiramente, e quando não o encontrei, fui para o corredor-fim-do-mundo, que tinha nossos preciosos armários e o caminho para o parque abandonado. Quando desci as escadas, forçando a vista, me surpreendi por vê-lo ali.

Kook estava mexendo em seu armário.

Ele parecia concentrado e ainda muito irritado, sem notar minha presença. Cheguei de fininho e, quando estava perto o suficiente, espontaneamente brinquei:

— Você está preso em nome da lei! — disse, em tom alto.

Mas é claro que foi uma grande besteira da minha parte. 

— Ah!

Jeongguk se assustou. 

Para ser mais específico: Jeongguk tentou fechar a porta do armário muito rápido por causa do susto, mas sua cabeça estava no caminho, então ele só bateu com a porta de aço na própria cabeça.

O barulho foi extremamente alto, mas não mais que meu desespero.

— Jeonggukie! — eu disse, me aproximando para vê-lo melhor. — Meu Deus, desculpa! 

Ele se afastou do armário e apesar de não estar sangrando, a lateral do seu rosto está vermelhinha, com uma marca perfeita da lateral da porta.

— Jiminnie… você me deu um susto… — ele disse, um pouco ofegante e também tonto.

— Tadinho… me desculpa, me desculpa... — eu disse, segurando seu rosto bem vermelhinho na parte que levou uma bofetada.

Esfreguei uma mão contra a outra, esquentando minhas palmas antes de colocá-las sobre sobre sua pele. Ficou vermelho mesmo! Ô dó...

Jeongguk parece não ter processado tudo muito bem ainda, então só me olha serenamente enquanto repito o processo de aquecer minhas mãos e pressionar, cuidadosamente, a lateral de seu rosto. 

— Eu não te vi chegando — ele disse, de repente. — Tudo bem, Jimin, não dói muito… 

— Mentira. — eu disse, fazendo um biquinho, porque deve ter doído muito sim.

Ele balançou a cabeça negativamente, abaixando seus olhinhos doces.

— É sério… puxa. — Sorri amavelmente para mim. — Por que eu estou preso? — pergunta e, por um momento, não sei do que ele está falando.

Quando me lembro, dou um sorriso, mesmo que esteja me sentindo culpado por assustá-lo.

Por roubar meu coraçãozinho. Por que mais seria?

Jungkook fica vermelho nas bochechas, e já vi isso acontecendo tantas vezes que já sei exatamente o que ele vai dizer:

— P-puxa… — diz. Depois, acerta-me o ombro com um tapinha que não dói nada. — O… o que está fazendo aqui?

— Procurando você. — eu disse. — É que eu meio que vi você e o Seokjin brigando...

Ele fez um biquinho.

— É que ele… ele não divide as coisas comigo! — reclamou. — Eu sempre divido as coisas com ele, mas às vezes ele é um idiota.

— Humm… — escutei atentamente. 

— E eu não trouxe nada hoje pra comprar um lanche. Não queria ir com ele no refeitório porque, puxa… ele me irritou! — Nota mental: Jeonggukie fica fofo irritado. — Então… bem, eu ia passar o tempo escutando música.

— Ia? 

Ele suspirou um pouco, enfim, fechando seu armário.

— É… bom. Me desculpa por falar tantas coisas de repente… eu só fiquei cheio disso… — ele falou, suspirando e ajeitando os cabelos bagunçados.

Eu neguei com a cabeça, porque Jungkook podia falar tudo que ele quisesse pra mim.

— Que isso… você sabe que pode me dizer qualquer coisa — eu disse, tocando sua sobrancelha com muito cuidado. — Mas me conta… o que aconteceu dessa vez?

Jungkook não entendeu minha pergunta de primeira. Até se lembrar, espontaneamente, do curativo em sua sobrancelha.

— Ah… eu caí da cama e bati aqui... — Apontou para a sobrancelha. — … na quina da minha mesinha de cabeceira. — Deixei de tocá-lo, apenas fitando-o. — Aí ficou um cortezinho. Mas não dói muito, não.

— Tem certeza? — Olhei em seus olhos, e ele assentiu.

— Tenho… — Sorriu pequenininho. — Essas machucados só doem na hora… sabe? — ele acariciou seu rosto também, onde o armário bateu.

Ai. Meu amorzinho…

— Sim. Me desculpa de novo… — eu disse, com o coração apertado.

— Tudo bem, é sério. — Ele dá um sorriso amável. — Eu… e-eu gostei quando vi que era você… mesmo levando esse tabefe.

Ele ri baixo e eu também. Assim eu me sinto tão especial...

— Bobinho… — eu digo, o dando um empurrão que não é nada forte. — Certo… então, vem comigo. Vamos pedir alguma coisa na cantina, assim você vai estar bem alimentado na hora de fazer as pazes com o Jin — eu disse, segurando sua mão.

Sem querer, a sacolinha de chocolates bateu levemente em sua perna quando eu o fiz. Logo me lembrei que tinha comprado um monte só para ele...

— Tudo bem… — ele disse, sem perceber os docinhos, apertando minha mão de volta. — Como sabe que vamos fazer as pazes? E… ah, é... e-eu não estou com dinheiro para lanchar na cantina...

Eu voltei a fitá-lo.

— Vocês sempre fazem… — respondo, soltando sua mão. — Eu tenho dinheiro aqui. Ou esqueceu do meu super-cartão-ilimitado?

Ergui o cartão, fazendo uma pose. Jungkookie apenas riu de mim, confirmando, porque ele também sabe da história do cartão.

— Tudo bem, então... depois eu te pago, pode ser?

— Nem pensar! É por minha conta… quer dizer, pela conta do diretor. E com esse calor, vamos pedir uma bebida bem gelada e o que você quiser comer.

— Mas... 

— Sem protestar ou eu vou roubar seu cachorro!

Ele riu.

— Tá bom! Então... pode ser cachorro-quente?

Sorri.

— Com certeza! — Jungkook sorriu também.

Nós ficamos esperando o outro começar a caminhar em direção a cantina. Jeongguk me olhava com certa expectativa, e eu, o olhava com um pouco de nervosismo.

Os chocolates…

— Mas antes… — eu sussurrei, pegando sua mão de novo, olhando em volta. — Vem comigo.

Segurei seus dedos com mais firmeza, o puxando. Jungkookie não protestou quando o levei até a escada longa que dá caminho para as turmas do oitavo ano, mas quando, ao invés de subi-la, dei a volta e o puxei para debaixo dos degraus, sua reação foi outra.

Jeongguk fez um ruído surpreso, um tanto quanto alto.

— J-Jimin… — ele sussurrou, muito baixinho, logo depois.

Não percebendo o que se passava na cabeça dele, eu apenas o trouxe comigo até a parte mais isolada da nossa escola: embaixo da escada. 

Tinha algumas carteiras quebradas guardadas por ali e eu passei por elas com Jungkookie ao meu enlaço, até ficarmos bem escondidos naquele lugarzinho secreto.

Segurei a sacola com mais força e, enfim, olhei para Jeonggukie, me surpreendendo ao perceber seu estado.

Jeongguk está completamente rosa.

Fiquei surpreso. Principalmente por ter sido do nada. Jungkookie estava uma mistura de rosa, com laranja, com vermelho... para falar a verdade, o rosto de Jeongguk parecia um verdadeiro pêssego naquele momento. E ele não parecia disposto a olhar para mim tão cedo.

Eu parei no lugar, notando mais uma dezena de detalhes a respeito do seu nervosismo repentino. Como seu corpo, que estava tremelicando, e seus dedos, se mexendo sem parar, e também sua cabeça... completamente inclinada para baixo.

Foi quando me dei conta de que Jungkook achava que eu tinha o levado ali para beijar.

Beijar na boca.

Ai meu Deus.

— G-Gguk! — eu chamei, ficando envergonhado e ansioso para acabar com aquele mal entendido. — Eu… eu vi que você e o Seokjin estavam brigando por causa de chocolate, e que você ficou sem! E que ficou chateado. Então… então eu… — Olhei para a sacolinha na minha mão, a empurrando contra o peito de Jungkook. — Eu comprei chocolate para você. 

Ofeguei. Jungkook, primeiramente, ficou sem reação. Demorou um pouco para ele se mexer e, finalmente, olhar para mim, segurando a sacolinha com chocolate. Coloquei minhas mãos atrás do corpo após isso.

Esperei ele dizer alguma coisa, mas Jungkook ficou em completo silêncio. Apenas piscou os olhos, atordoado e confuso e, assim como quando eu o dei um disco de presente, Jungkook não entendeu.

Ou pelo menos pareceu não entender.

— Espera. Sério? Qual desses? — perguntou, os olhos se arregalando quando viu todos aqueles chocolates.

— Todos.

— Todos?! — indagou com os olhos duplicando de tamanho.

— Sim… — Me balanço um pouco.

— Por quê? — indagou de novo. — Espera. Todos o quê? Todos os chocolates? — pergunta extremamente rápido.

Eu sorri pequeno. Ah, qual é... pra que ser tão lindinho assim, garoto? Já disse que é injusto!

— Kookie… — Eu hesitei um pouco, o olhando. Mas, sem delongas, ergui minha mão. — São todos pra você. — Toquei sua bochecha sutilmente, com a pontinha dos dedos. — O porquê? Bom… é que gosto muito de você… e quero te dar chocolates...

Seus lábios delicados se abriram lentamente. Ele ainda estava olhando para a variedade de chocolates na bolsa. Todo o rubor foi cessando aos poucos, até ficaram presentes apenas em suas lindas maçãs do rosto.

Jeongguk pressionou os lábios. Então, sorriu…

Aquele belo sorriso de sempre. Seu, e só seu, sorriso…

— Jiminnie… — ele sussurrou baixinho e percebi seus olhos vagando pela minha camiseta, pescoço, queixo… até chegar em meus olhos. — Você é doidinho… aqui tem muito chocolate!

— Eu não sabia qual era o seu favorito porque você sempre come um sabor diferente, então peguei tudinho! — eu disse, sorrindo porque ele não parece nervoso com minha mão em seu rosto e eu gosto muito disso. 

Amo quando ele parece calmo e confortável.

— Isso é porque eu gosto de todos! — ele disse, sorridente que só, mexendo nos chocolates. — Puxa… você comprou trufas também…

— Você gosta? — eu arrastei meus dedos até sua orelha e, em seguida, toquei sua nuca quentinha.

Quando fiz carinho ali, massageando seu cabelo macio, Jeonggukie deu uma risadinha manhosa, encolhendo o pescoço.

— Puxa, eu gosto muito, Jiminnie… — Seu sorriso cresce até sua pele ficar cheia de ruguinhas. Eu intensifiquei o carinho e ele riu mais uma vez. — Estou sentindo aquele nervosinho de novo — ele me conta, sem parar de sorrir. Até seus olhos estão sorrindo.

E que olhos. Ele está olhando nos meus sem medo agora. Seu sorriso é enorme e, apesar de estar vermelho, meu bem parece tão feliz e confortável agora… é tão amoroso e bonito. Não posso evitar sorrir muito, muito mesmo, porque essa é a minha versão favorita de Jeon Jeongguk.

Como eu o amo.

— Amo seu sorriso, Jeonggukie… — eu disse, e minha voz sai um pouco diferente por conta de tudo que estou sentindo agora.

Jeonggukie não diz nada. Ele aperta os olhos e, espontaneamente, se aproxima e me abraça.

Seus braços chegam até mim, passando por cima dos meus ombros com muito carinho. Já os meus, vão em direção às suas costas magrinhas. O aperto, e ele me aperta de volta, deixando-me sentir seu cheiro bom com tudo que tenho. O cheiro do meu primeiro amor.

O cheiro que jamais vou esquecer.

Faço carinho nele, sobre seu casaco macio e sinto cosquinha quando ele acaricia o meio das minhas costas de volta, mas é tão gostoso também que, no fim, somente sorrio e aprecio o que eu poderia facilmente fazer por toda a minha vida: abraçar Jeon Jungkook.

Ficamos assim por um tempo, mas ele está tão cheiroso que fico tentado. Não consigo me segurar e acabo me mexendo todo, enfiando meu rosto na união de seu ombro com o pescoço, que é extremamente caloroso.

Cheiro e suspiro ali, melodiosamente, porque, sinceramente… ele cheira a flores. É tão bom...

— Ain… — ele murmura, risonho. Soa tão engraçado e fofinho que dou um sorriso. — O que você tá fazendo?

Dou uma risadinha em sua pele e ele se arrepia todinho. Cheiro mais seu perfume e sinto, com muito mais carinho, a maciez de sua derme.

— Cheirando seu cangote — respondo, manhoso. — Sentindo seu cheirinho bom… — completo, mais baixinho, o apertando mais.

Jeongguk fica em silêncio por um tempinho, passando as mãos abertas pelos meus ombros, em um carinho tão bom que poderia ser facilmente confundido com uma massagem. É o paraíso… eu amo seu carinho…

Então, ele me surpreende. Penso de verdade que Jungkook vai encerrar nosso abraço quando começa a se mexer, até demais, em meus braços. Mas não é o que acontece. Muito pelo contrário…

Jeongguk me aperta mais e abaixa sua cabeça, se grudando em mim como um coalinha. Quando ele toca meu ombro com a pontinha do nariz, bem pertinho, sinto que vou explodir.

Eu não estava preparado!

— E-ei! — eu digo, mas de repente, solto uma risada abafada quando ele arrasta o nariz pelo meu ombro até chegar em meu pescoço, fungando minha pele diretamente. — Faz cócegas… — digo, começando a rir, porque minha barriga ficou fria e meu coração aceleradíssimo. — Ai. Eu vou morrer... Que que você tá fazendo, Jungkookie? — perguntei, porque nem tive tempo de entender essa enxurrada de chameguinhos e sentimentos.

Sério, eu não estava preparado...

— S-sentindo seu cheirinho bom… também... — ele responde, a vozinha abafada no meu cangote.

É tão gostoso que fico perdidinho e risonho... bobo que só.

— Você gosta do meu cheiro? — perguntei, com o coração acelerando. 

Jungkook balança a cabeça, ainda pertinho da minha pele, esfregando os cabelos cheirosos em mim.

— Gosto… é muito cheiroso… puxa... — diz.

De novo… eu não estava preparado!

— Você vai me matar… — eu digo. É tão gozado o som que ele faz enquanto me dá um cheirinho que eu fico rindo manso, sem parar. — Kookie... parece até que somos cachorrinhos nos cheirando assim. — Ele ri da minha fala, bem pertinho da minha orelha. — Jungkookie é o meu filhotinho… — completo, fazendo carinho no topo de sua cabeça, meio atrapalhado, até.  

Ele ri e fica mais um tempo pertinho de mim, até que afasta o rosto lentamente. Jungkook está com um sorriso bonito nos lábios e nos olhos, que me dão a sensação de que vou derreter que nem um sorvete, direto no chão, bem rápido...

Na boa… estou todo molinho agora.

— Foi você que me cheirou primeiro... — ele disse, sorrindo de lado, lindo, tudo de bom.

Olho para ele, com as bochechas vermelhas e os olhos brilhando. Jeongguk está tão lindo…

— Puxa… — eu digo, quase sem fôlego. 

Jeonggukie, então, percebe a forma a qual estou namorando cada um de seus traços com meus olhos agora. Por isso, ele abaixa sua cabeça, ficando ainda mais vermelho. Meu fofinho...

Meu filhotinho...

— Vem... — digo, endireitando minha postura e me desfazendo desse abraço especial. Logo em seguida, seguro sua mão quentinha. — Vamos lanchar antes que o sinal toque… certo?

Meu amorzinho balança a cabeça positivamente.

— C-certo… — Sorri.

Jeongguk segura minha mão de volta, com muita firmeza, até sairmos dali juntos. Apesar de termos que afastá-las depois, eu continuo me sentindo em contato com Jeongguk o tempo todo. 

Esse é o efeito que ele tem sobre mim. Meu verdadeiro amor...

Meu filhotinho.

***

Pelo resto do dia, fiquei pensando em Jungkook cheirando meu cangote e dizendo, com todas as letrinhas, que eu sou cheiroso.

Céus... foi um ato tão intenso e espontâneo de sua parte! Tanto que às vezes eu ainda posso senti-lo pertinho de mim... quando me recordo do momento, do seu narizinho perto da minha pele, eu sinto, mais uma vez, aquele arrepio no pescoço e aquele frio na barriga. Resultado: fiquei viajando e rindo sozinho na aula…

Durante ela, eu também percebi que Jungkook estava olhando para mim por cima de seu ombro. Eu sorria para ele e sentia um frio na espinha quando ele sorria de volta… sabe, era tão eletrizante quando ele demorava para virar para frente e apenas me paquerava demoradamente! Tão amável quando nos olhávamos por mais tempo que o normal… derretendo, eternamente, eu estou…

— Onde você se se enfiou no intervalo? — Yoongi me perguntou em certa parte da aula de língua coreana.

No cangote do Jungkookie.

— Eu fui comprar comida na cantina, mas tinha uma fila enorme… desculpa te deixar sozinho — digo. Yoongi apenas balança a cabeça.

— Tudo bem… foi diferente. O Seokjin lanchou comigo — ele me contou e, realmente, é diferente. 

— Foi legal? — perguntei.

— Aham… mas, se liga, você ainda me deixou. Imperdoável. — Fez uma carranca. — Trate de comprar um café pra mim antes de ir pro seu clube de música!

Ergui as sobrancelhas. Ah, é. O clube, a casa de Taehyung… tudo isso…

Tinha me esquecido completamente… hehe...

— Pode deixar — falei, rindo. — Não vou voltar no nosso ônibus hoje, aliás… — avisei.

— Por quê? — indagou.

Pressionei meus lábios, aflito, sem saber como Yoongi reagiria a isso:

— Vou na casa do Taehyung — digo, sincero, olhando em seus olhos.

Yoongi parece um pouco surpreso, mas seus olhos transmitem outra coisa. Algo como medo e… 

Tristeza?

— Ah, sim… — Se virou para seu caderno. —  Tá bom… — E volta a copiar a matéria.

Fiquei o fitando, um pouco pensativo e curioso. Será que enfim descobrirei o que aconteceu entre eles dois? 

Poxa. Eu espero que sim…

Suspirando, voltei a segurar minha caneta com firmeza. Quando levantei os olhos para o quadro, percebi Jungkook me olhando de novo.

Awn...

O olhei de volta. Sem me segurar, dei um sorriso e uma piscadinha. Eu nunca pisquei pra ninguém antes — só jogando Detetive — então, não faço ideia se isso foi fofo ou esquisito da minha parte! Mas de uma coisa eu sei…

Gostei de fazer isso.

Esperei Jungkook reagir, mas ele só piscou umas três vezes, arregalando seus olhos e se virando rapidamente. Dei uma risadinha quando, se entregando completamente, Kookie deixou-me ver sua nuca ficando cada vez mais vermelhinha. Fofinho… eu me saí bem, então?

Depois disso, ele não me olhou mais... mas quando a aula terminou, Jeongguk se levantou e deixou uma folha dobradinha sobre minha mesa, saindo de perto antes que eu pudesse desdobrá-la e vê-la. 

Quando abri, com ele longe, não pude evitar sorrir:

 

“Não pisque pra mim na sala de novo.

Por favor. 

Eu quase morri.”

 

Embaixo da mensagem, havia um desenho: um garoto jogado no chão, sorrindo, com vários corações flutuando sobre seu corpo. Uma flecha do amor estava fincada bem no seu peito.

— Bobo… — digo, quando vejo que há uma setinha que aponta para o bonequinho apaixonado, escrito “Esse sou eu... puxa”. Jungkookie, Jungkookie… — Bobo!

— O quê? — Yoongi se vira pra mim, mas, apressadamente, fecho o papelzinho e o guardo no meu caderno.

— Não é nada… — digo, o fitando com as bochechas vermelhas. — Vamos comprar seu café.

Ele dá de ombros e guarda suas coisas calmamente, assentindo e vindo comigo em seguida.

Depois de tomar um café com Yoongi, o acompanhei até o laboratório de química e segui meu caminho para o clube de música seguidamente. Quando cheguei, abri a porta com calma e me deparei com Hoseok, Taehyung e… uma menina?

Passei para dentro, um pouco tímido porque não a conhecia. Ela estava de costas para mim, com fones e lendo, assim como Hoseok, então apenas Taehyung me percebeu chegando, olhando-me e sorrindo alegre logo depois.

— Jiminnie! — ele disse, se levantando e vindo até mim.

— Oi, Tae — eu disse, sorrindo e recebendo um abraço caloroso seu. 

— Tô tão animado pra você ir lá em casa hoje! — ele se afastou de mim brevemente, segurando minha mão. — Ah, é! Essa aqui é a Niuke! — Taehyung chamou, alto, tirando os fones da cabeça dela. — Niuke, esse é o Jiminnie.

Quando ela se virou, olhando para mim, me lembrei perfeitamente de quem ela é. Niuke.

A menina que o Yoongi gosta.

— Olá… — eu disse, sorrindo sem graça porque ela está me olhando de um jeitinho diferente.

Não que ela esteja fazendo uma careta ou qualquer expressão do tipo, mas… é um semblante diferente e curioso. Uma de suas sobrancelhas está arqueada e seus lábios estão curvados para o lado, me analisando.

Mas, então, ela apenas sorriu — com os olhos estreitos, como se me conhecesse de algum lugar — enfim parando de fazer aquela cara.

— E aí. — Ela mexeu a cabeça num cumprimento mudo.

Enquanto ela fazia isso, percebi que seu cabelo está maior do que da última vez que a vi.

— Oi, Jimin! — Hoseok, que antes estava distraído, me cumprimentou com um belo sorriso. — Cadê o resto?

— Oi, Hoseok! Acho que estão chegando. 

— Legal! Hoje vamos discutir nossa apresentação. A Niuke até trouxe a guitarra dela! — Hoseok disse, muito animado, e Niuke fez um gesto de Rock com os dedos, parecendo animada também. — Quando o resto do pessoal chegar, vamos decidir que música tocar.

— Espero que seja uma do Sex Pistols! — Niuke disse e imediatamente me lembrei do Yoongi.

Yoongi e ela gostam da mesma banda. Uhhh… coisas de casal.

— Que seja algo dos Beatles! — Taehyung rebateu.

— Que seja algo do Electric Light Orchestra! — Hoseok também rebateu.

Então, os três olharam para mim, esperando. Um pouco tímido, sorri e rebati:

— Que seja algo… — sussurrei e então, fiquei confiante. — Que seja algo do Pink Floyd!

E os preparativos para nossa apresentação começaram.

Quando Seokjin e Jungkook chegaram, eles já tinham feito as pazes. Namsoon apareceu depois e estava muito animada, mas não trocou nem uma palavra com Niuke — assim como Niuke, com ela.

Nós nos sentamos no chão em uma roda gigante, e fiquei entre Jungkook e Taehyung. Foi divertido quando começamos a discutir tanto qual música apresentaríamos, que tivemos que fazer um sorteio. Cada um de nós escreveu uma música em um papel e entregou pra Namsoon sortear.

Ela sacudiu as mãos e Hoseok pegou o papel sorteado, lendo em voz alta:

— I Want You Back, do The Jackson 5! — ele disse e, na mesma hora, Seokjin se levantou, comemorando.

— Uhuuul! — exclamou ele, balançando os braços e fazendo todo mundo rir. — É a minha música!

— Nossa, eu tinha colocado uma dos Jackson 5 também! — Namsoon disse, ficando de pé também e fazendo um cumprimento de mão com ele. 

Jin, sorrindo galanteador, logo disse para ela:

— É por isso que você é tão bonita: tem um gosto musical bom.

Pensei que isso causaria impacto nela, mas... não. Nam só riu e saiu andando para o outro canto da sala — a cara do Jin sendo ignorado foi imperdível. 

— Jiminnie… eu acho que você vai amar essa música. É a sua cara — Jungkookie disse, chegando pertinho de mim de repente. — Isso se você já não amar… ela é bem famosa!

Me virei para ele e sorri, dizendo:

— Se você diz, eu tenho certeza que a amo. — Pisquei meus olhos lentamente. 

Jeonggukie sorriu também, me olhando com cuidado para, depois, olhar para frente. Quando fiz o mesmo, dei de cara com Niuke olhando para mim e para ele com um sorrisinho estranho.

Mas o quê…

— Jiminnie! Você vai ficar comigo no palco — Tae disse, puxando minhas mãos para segurá-las. Deixei Niuke de lado para fitá-lo. — Nós podemos cantar juntos!

— Tae, eu sou um péssimo cantor!

— Eu duvido! Sua voz é tão macia e gostosa — elogiou, tão de repente que minhas bochechas queimaram.

— A-ah… — Abaixei o olhar, fazendo-o rir.

— Bobinho! Vem, vou te mostrar como é o ritmo dela no piano! — E ele se levantou, me puxando consigo para o piano.

Dei uma olhadinha para Jungkook e sorri. Ele prensou os lábios, com as bochechas vermelhas ainda, e sorriu de volta.

Depois disso, foi uma bagunça que só. Nós ficamos tocando, brincando, rindo e jogando jogos divertidos. Até jogamos Detetive — logo hoje, que irônico, não? — e sempre que eu era o Assassino e piscava para o Jeonggukie, ele ficava vermelho, o que era bem fofinho... 

E a gente morria de rir quando Seokjin era o Assassino ou o Detetive, também, porque suas orelhas ficavam vermelhas de nervoso e isso o entregava completamente! Por causa delas, Jin ficou com o capuz na cabeça e conseguiu ser um bom Assassino nas próximas partidas. 

Niuke e Namsoon ficaram trocando farpas o tempo todo, também. 

— Você está preso em nome da lei! — disse Namsoon, para Hoseok, que bufou e riu, porque perdeu.

— Droga! — disse ele, fazendo todos rirem, menos Niuke, que comentou:

— Punindo as pessoas como sempre, né, Namsoon?

Nam, não gostando disso, se virou para ela e questionou com o cenho franzido:

— O que quer dizer com isso, hein?

E elas começaram...

— Vai se fazer de besta, é?

— Não.

— Então você sabe o que quero dizer.

— Quer saber? Acho que sei sim — Namsoon disse.

— Ah, é?

 — É. Você admira como eu puno alguém que, claramente, está fazendo algo errado. Hoseok era o Assassino e eu a Detetive, fiz o meu dever, como sempre faço. Muito obrigada por observar bem.

E Niuke ficava quieta, com uma cara raivosa, e eu e os meninos ficávamos meio tímidos. Mas só até sortearmos e jogarmos de novo, aliviando o clima tenso. Garotas são assustadoras...

Quando o horário de ir embora estava chegando, nós nos juntamos para arrumar a sala. Por acaso, eu e Niuke ficamos juntando as cartas juntos e, como o ótimo amigo que sou, promovi Yoongi para ela:

— Sabe, eu tenho um amigo que ama o Sex Pistols também.

Ela me fitou, arqueando uma sobrancelha, parecendo atenta.

— É? — Sorriu de lado.

— Sim.

— Qual o nome dele? — perguntou, guardando as cartas do baralho na caixinha.

— Min Yoongi — eu disse.

Ela parou e pensou um pouco. Depois, fez uma careta.

— O arregão? — perguntou.

E eu? 

Eu fiquei sem reação.

— Arregão…?

— É. Taehyung já me falou dele.

Franzi o cenho, confuso. Quando guardei as cartas, ela deu de ombros e saiu bocejando, sem me explicar nada…

Céus… arregão? O que você fez, hein, Yoongi?

— Jiminnie? — Jeonggukie, de repente, apareceu, com a mochila nas costas. — Tudo bem? Você parece preocupado.

Dei um sorrisinho porque, apenas vê-lo, já me faz ficar animado e distraído.

— Tudo sim… é só um soninho.

— Ah, sim… puxa. — Ele coçou a nuca. — Seokjin está falando com os meninos e eu ia na frente. Quer ir comigo?

— Sim! Mas hoje vou embora com o Tae, então só vou te acompanhar até lá fora...

Jungkookie pareceu surpreso com a informação. Seus olhos ficaram maiores e ele, novamente, pressionou os lábios, balançando a cabeça.

— Tá… — disse, por fim.

— Só vou pegar minha mochila — eu disse, sorrindo, e ele confirmou, ainda travado. 

Peguei minha mochila e disse para Taehyung que estaria lá fora o esperando, então, apenas saí com Jeongguk — percebendo olhares da Niuke mais uma vez.

No caminho para o estacionamento, eu e Jungkookie conversamos brevemente. Depois, compartilhamos um silêncio gostoso, trocando olhares e sorrisos.

— Tchau… — eu disse, quando vimos Seokjin e o pessoal se aproximando.

— Tchau, Jiminnie… — Ele deu um sorriso grande, e é claro que morri de vontade de beijá-lo. — Obrigado pelos chocolates de novo…

Balancei a cabeça, ficando vermelho porque agradecimentos me deixam assim.

— Você merece. — O pessoal já estava perto. — Eu te adoro.

Sussurrei. Jungkookie sorriu, vermelhinho, e sussurrou de volta:

Eu também.

Nós tivemos que nos separar logo depois. Seokjin e ele foram para o outro lado do estacionamento e o ônibus do Tae e do Hoseok chegou primeiro, então nem tive tempo de procurar Yoongi para me despedir… mas, sem pensar muito, apenas segui com eles com um sorriso feliz e amoroso — tanto pelo clube, quanto pelo meu amorzinho. Ai ai… 

— Jiminnie, você pode ir na janela! — Tae disse, assim que subimos no busão e sentamos na poltrona dos fundos (uhh galera do fundão).

Foi engraçado quando, após eu sentar, Taehyung sentou do meu lado e Hoseok do lado dele, ficando os três espremidinhos no banco que normalmente é para dois.

No caminho, percebi que o ônibus deles tem menos pessoas e é muito mais tranquilo. Descobri, também, que Niuke vai para a aula de bicicleta e nós acabamos conversando sobre Namsoon e ela.

Curioso como eu sou, perguntei o que havia acontecido para elas se odiarem tanto.

— É que elas já foram muito amigas! Mas, sabe… Niuke é uma delinquente e Namsoon um exemplo para a escola. Não deu muito certo… — Hobi começou.

— É, é! Niuke guarda mágoa porque Namsoon não pôde encobri-la quando ela pichou uma besteira no muro da escola. Aí ela diz que Nam é má amiga e que só liga pra reputação dela.

— Puts… — eu murmurei, pensativo.

E eles contaram mais um monte de fofocas. Foram tantas que eu fiquei confuso, sentindo-me em uma novela por conta da dose extra de drama. Mas admito que foi bem divertido...

— Depois a gente fala mais! É aqui que eu vou descer hoje — Hoseok disse, se levantando e dando um grande abraço de urso em nós dois. — Sayōnara!

Eu e Taehyung rimos, acenando quando ele se foi.

— Hoseokie é maluquinho… — Tae disse, o fitando, com uma voz macia.

Eu assenti. Continuamos nossa viagem e, não muito tempo depois, finalmente descemos do ônibus.

— Minha casa é pertinho, tá? — ele falou, olhando para mim.

— Tá! — E nos calamos.

Então, passou um tempinho. 

E nós continuamos quietos…

Hum...

Eu sei que o silêncio é normal. Mas… sei lá, somos nós. Sempre falamos um monte no clube de música e nos damos super bem… pensei que teríamos mil e uma coisas para falar sobre, mas desde que descemos do ônibus, o assunto não fluiu muito bem. E até que Taehyung está normal, sorrindo para mim e caminhando alegremente pela calçada, como se não sentisse o que estou sentindo sobre esse silêncio (possivelmente estranho).

— Você gosta de frango, né? — ele perguntou de repente, me olhando, ainda sorridente.

Sorri de volta, me sentindo sem graça ao balançar a cabeça positivamente.

— Certo! Minha mãe não está em casa ainda e minha avó só chega mais tarde, então eu pedi pra minha vizinha fazer frango frito pra gente! Aí vamos passar lá pra pegar, ok?

Sorri.

— Ok! 

E essa foi a deixa para o silêncio reinar entre nós até chegarmos em sua casa.

Quando Taehyung repentinamente parou, eu me atentei as casas a nossa volta. Eram todas bonitinhas e pequenas, com apenas um andar, quintais muito bem cuidados e varandas fofinhas…

Taehyung, então, disse que iria pegar a comida e entrou na casa da sua — provavelmente — vizinha, pelo portão que fazia um barulho engraçado, me deixando sozinho por um tempo. 

Caminhei um pouco mais para a frente, vendo a casa amarela e marrom que poderia ser sua casa. Então, dei a volta e fui até a casa do outro lado, que era uma mistura de branco com cinza, meio incerta e desgastada. 

Fiquei ali por mais uns minutinhos e pensei um pouco. Tipo… eu, Yoongi e Taehyung, quase sempre ficamos sozinhos em casa. E eu realmente não sei se isso é bom, se é ruim, ou se é normal, mas… é curioso.

Acho que deu para perceber que estou entediado e perdido, certo?

Ah.

— Jiminnie. — Escutei o barulho do portãozinho de novo, me virando para Taehyung, que carregava uma bandeja com um paninho embaixo. — Vamos? Minha casa é pra cá, hehe.

— Ah, sim! Claro… — eu disse, me apressando para acompanhá-lo. — Quer que eu segure? — perguntei, já aprontando minhas mãos.

— Nah, não precisa, é bem aqui… — disse ele, já atravessando o seu jardim. No caso, sua casa é a amarela com marrom. — Só abre a porta pra mim, hehe.

— Tá bom… — Dei uma risadinha, e nem sei o porquê. Estou tímido? — Cadê a chave?

— Ah, é! Tá aqui — ele disse, se virando de costas para mim.

— Espera… aonde? — perguntei, meio hesitante.

— No bolsinho menor!

Ah. Ufa. Pensei que teria que enfiar a mão no bolso da calça dele… isso seria estranho… 

Que maluquice! Por que fiquei tímido do nada? Aff...

Remexi minha cabeça, pegando, enfim, a chave no bolsinho. Abri a porta da sua casa com facilidade, dando espaço para ele entrar posteriormente.

Entrei também e fechei a porta. Imediatamente percebi que sua casa era tão bonitinha por fora, quanto por dentro. Wow… É uma bela casa! 

Tinha artesanato, sofás coloridos, e várias plantinhas perto da janela. O ambiente me fez lembrar da casa da vovó e eu acabei sorrindo, um pouco melancólico com esse fato, mas não me perdi tanto nos pensamentos. Apenas continuei seguindo Taehyung pela sua casa, até chegarmos em sua cozinha, que era americana e bem piquitita.

— Vou esquentar arroz pra gente — ele disse, feliz. — Isso se o Hoseok não tiver comido tudo ontem…

Hoseokie

— Como assim? — indaguei, me perguntando se ele morava aqui. — Ele estava aqui?

— Ah, ele meio que sempre está aqui! É. O Hoseokie é meu quase vizinho e basicamente come aqui, tipo, o tempo todo! — ele disse, começando a ajeitar as coisas para esquentar a comida. — Ele é guloso demais. E espaçoso! Nem sei se ele arrumou a cama dele hoje de manhã, então se meu quarto estiver uma bagunça, é tudo culpa dele, tá?

Ai, meu Deus. Muita informação para poucos segundinhos!

— Espera aí! Agora fiquei curioso… Hoseok dorme aqui também? — perguntei, me sentindo um pouco mais confortável por termos arranjado um assunto.

— Ah, é! Nem te contei sobre o Hobi! — ele deixou as coisas no fogo e veio até mim. — Primeiro, tira essa mochila das costas — ele pediu, pegando na alça da minha mochila e a jogando em uma das cadeiras que tinha em torno da mesa pequena de sua cozinha. — E me fala que não vai contar nada do que eu te disser aqui pra ninguém!

Olhei em seus olhos e, depois, notei sua mão grande perto da minha. Ele levantou seu mindinho, apontando para o meu, e foi inevitável não sorrir para sua atitude… adoro promessas de mindinhos! São as mais verdadeiras que existem.

Por isso, ri baixinho e levantei meu mindinho. Nós o entrelaçamos e quando os separamos, Tae deu uma risada engraçada e alta.

— Cara! Seu mindinho é muito pequeno… — ele comentou e eu acabei rindo de mim mesmo também.

Sim, meus dedos são pequenos, mas perto da mão dele, minhas mãozinhas ficam mais inhas que o usual.

— Às vezes me pergunto se realmente tem um osso nisso aqui — eu disse, dobrando meu mindinho, fazendo ele rir ainda mais.

— Você é tão divertido! — Taehyung disse e foi tão repentino que não pude evitar sentir minhas bochechas esquentarem. De novo. Ele é bem legal… — Vem! Senta aqui. Vou te contar sobre o Hoseokie. Você é super confiável.

Taehyung segurou minhas mãos pequenas e me puxou até uma das cadeiras. Assim que me sentei, ele me acompanhou, sentando-se na minha frente logo depois.

Um pouco tímido, eu acabei falando, também:

— Você também é muito divertido, Tae...

Taehyung deu um grande sorriso e fez um gesto com a cabeça, parecendo levemente tímido também.

— Então... vamos começar pelo começo — ele disse. — Bom. O Hoseokie sempre morou aqui, quase do lado da minha casa. Infelizmente, a mãe dele morreu muito cedo. Minha avó conhecia muito bem a família dele, então percebeu quando o pai do Hoseokie começou a ficar deprimido e ansioso demais… sabe como é, né? O triste é que o Hobi ainda era bem bebezinho nessa época — ele falava bem rápido. — Mas ele sempre estava tristinho e seu pai brigava muito com ele. Deixava minha avó triste demais! E eu também. Porque ele era muito fofinho — disse. — Mas se ele fosse feioso eu também ficaria triste.

— Sei — eu disse, dando uma risada pelo seu jeitinho.

— Hehe, ok… então. Depois disso, minha vó começou a visitar eles o tempo todo, confortando o pai do Hobi até ele ceder. Ele procurou um terapeuta e foi tratar a tristeza sem fim dele… e com ele tão distante, o Hoseok precisou de mais atenção do que seu pai poderia proporcionar. Então, ele começou a frequentar aqui em casa, tipo, muito. A gente virou amigo rapidinho… — Tae deu um sorrisinho, como se… como se houvesse alguma coisa oculta naquela história. — O pai dele está melhor, mas ele fica muito tempo fora trabalhando, e como Hoseokie se acostumou com a nossa casa, ele sempre está aqui. Mamãe adora ele, então se ele não aparece aqui pelo menos uma vez por dia, ela vai procurar ele! Hehe, fico até com ciúmes...

Dei um sorrisinho, absorvendo essas informações. Parecia legal ser tão próximo assim de alguém e eu gostei imensamente de ouvi-lo falar e de saber que ele e Hoseok se dão tão bem. Essa amizade é tão verdadeira, com uma história tão bonita.

Poxa, isso é tão legal…

— Parece legal, Tae... — eu disse, com um sorrisinho. — A amizade de vocês é tão bonita e verdadeira!

Taehyung pareceu surpreso com a última parte. Até deu uma risadinha um pouco sem graça, desviando o olhar por um segundo.

— É. — Ele sorriu. — Mas, Jiminnie, como é na sua casa? É divertido?

— Hum… é bem calmo, pra falar a verdade — eu disse, pensativo. — Eu queria passar tanto tempo assim com alguém… desde que me mudei para a casa da minha mãe, fico muito sozinho, porque ela trabalha o dia inteiro! Só tenho meu gatinho, e às vezes minha vizinha me prende em umas conversas aleatórias quando chego da escola — eu disse, pensando na senhora Bong.

— Queria ter um gatinho, mas minha avó tem pavor! Acredita? — Nós rimos um pouco. — Com quem você morava antes da sua mãe?

— Com minha avó! E minhas seis primas. Era bem divertido… — eu disse, pensando em como a casa era barulhenta e cheia. — Mas minha avó… bem, ela se foi ano passado, então todo mundo se mudou… — eu disse, um pouco sem graça.

Tae ficou um pouco sem fala.

— Jimin… poxa. Isso parece bem difícil. E você começou a estudar só esse ano, não é? Foram tantas mudanças…

Eu tinha contado para ele sobre isso na primeira vez que nos vimos e ele perguntou “Como nunca te vi antes?”. Mas como fazia tempo, pensei que ele não se lembrava. Nossa...

— Hum… sim… — eu disse, me sentindo um pouco… tocado?

Não sei. Mas é que eu dificilmente falo disso, e ele ver minha situação com tanta compaixão me deixou meio besta.

— Mas… sua mãe pelo menos é legal, né? — ele perguntou, voltando a sorrir.

— Sim! Bastante. Ela é bem jovem e divertida… — eu disse, pensando em Leonor. — No começo foi esquisito, mas agora eu me adaptei a todas as mudanças.

— Isso me parece bom! — ele disse, sorrindo. — Ah, espera aí! Quero saber sobre como suas primas são, mas primeiro vamos comer!

— Certo! — eu disse, sorrindo e me sentindo muito mais confortável, agora.

Nos próximos minutos, Taehyung serviu arroz, frango frito e molho para a gente. Também tinha refrigerante e, além da comida estar muito gostosa, a conversa estava muito boa também. Conversamos sobre minhas primas, sobre sua avó, sobre minha avó, e sobre o meu conhecimento a respeito dos Beatles — ele ficou chocado com o fato de eu não saber quase nada sobre eles. Ele até me explicou que eles já apareceram nas novelas e eu finalmente percebi que os conhecia pelo menos um pouquinho.

Demos risada quando falamos que a professora de história nova era uma megera ao mesmo tempo. Fiquei feliz durante todo aquele almoço...

— Ah, é… e eu não quero que a gente não fale disso, então vou te contar o porquê eu ando sempre com isso.

Taehyung, então, apontou para o aparelho auditivo em seu ouvido.

— Hum… — Demonstrei que estava ouvindo, bebendo um pouco do meu refri.

— Sabe, quando eu nasci, todo mundo pensava que eu era surdo. Eu não escutava quase nada, e pra falar a verdade, sem isso aqui, eu ainda não escuto. — Ele apontou para seu aparelho auditivo. — Mas quando fui ficando um pouquinho mais velho, minha avó e minha mãe perceberam que alguns estrondos altos me assustavam. Isso só ficou claro quando meu primo estourou um balão de festa bem do lado da minha cabeça e eu dei um grito pelo susto — ele disse, parecendo ter contado aquela história muitas vezes… a conhecia perfeitamente. — Aí teve as consultas e mais consultas e descobrimos que eu meio que escuto um pouquinho. Sorte a minha… — Ele deu um sorriso. — Quando não estou com o aparelho auditivo, sinto um chiado muito alto de… nada. Tipo o barulho do mar em uma conchinha, sabe? Só que bem mais alto — ele me contou. — Então, agora tenho a minha audição biônica. Mas às vezes me sinto desconfortável com o aparelho auditivo e simplesmente o tiro… por isso o Hoseokie fala através de sinais comigo do nada. Meio que desajusto ele sem querer… e às vezes e não consigo escutar quase nada, ou só tiro ele… mas agradeço muito por essa tecnologia! Imagina não poder escutar música? Poxa, fico bem aliviado.

Dei um sorriso.

Taehyung era… extraordinário.

Diferente de todas as coisas as quais conversamos, dessa vez, Tae foi calmo e lento. Ele parecia confortável e orgulhoso de tudo que passou e superou. Eu fiquei tão feliz por poder saber dessas coisas sobre ele… me fez sentir que somos amigos de verdade, agora.

— Taehyungie… isso é tão bom. Ainda bem que você pode escutar música! — eu disse, sorrindo. — Sabe, acho que vou aprender a língua de sinais só pra falar com você! 

Taehyung sorriu abertamente.

— Isso seria demais, Jiminnie! — ele exclamou.

Eu sorri bastante também. E depois, começamos a falar sobre seu aparelho auditivo, linguagens de sinais e mais um monte de coisas que me faziam sentir que Taehyung era muito humano… e, apesar de tudo, um garoto muito forte.

Demonstrei empatia e compaixão à sua história também. E nós nos divertimos por um tempão, só conversando.

Um pouco depois, Tae segurou minha mão com firmeza e me levou até seu quarto. Fiquei surpreso com o tanto de pôsteres, discos, cartazes, e… tudo, que havia sobre os Beatles ali. Uau…

Como ele mesmo diz várias vezes: um verdadeiro Beatlemaníaco!

— Como eu te disse… sou muito fã deles! Mas um fã inteligente, né? — ele contou. — Minha mãe e minha avó já foram em um show deles! Mas eu ainda era muito bebezão. Aff. Queria poder ter visto os Beatles ao-vivo, antes deles virarem esses crianções de quarenta anos… e cadáveres... — Suspirou, se sentando em sua cama de solteiro. 

Era engraçado como ele criticava e gostava deles ao mesmo tempo. 

— Tem uma música deles que eu amo… — eu disse, me sentando ao seu lado. 

— Qual?! — Se animou.

— Baby It’s you! — eu disse, sorrindo e ele riu do meu inglês. Ri também. — Essa música… ah! Ela é tão boa... 

— Eu amo! Esses primeiros álbuns são… ah! São meu ponto fraco — Tae disse, tirando os sapatos e ficando só de meias. Fiz o mesmo. — Sabe, acho que Please Please Me é o meu favorito para desestressar… melhor álbum de todos! — ele sorria tanto e falava tantas coisas felizes que seu rosto tinha ficado todo corado.

O meu deve estar assim também.

— É engraçado pensar que eu não reconheci os Beatles de primeira… — eu disse, me lembrando da loja de discos. — Eu só me lembrava do… — Pensei um pouco. — John… 

— Sabe que ainda tô chocado com isso também? Tipo… são os Beatles!

— Hehe… quando eu era pequeno, minhas tias não escutavam muitas bandas. Elas gostam dos clássicos e das músicas da minha avó… então eu só conhecia um pouquinho deles das novelas, mas nem lembrava! Só me dei conta quando você disse. — Eu me lembrei da minha infância.

— Acho que entendo isso… tipo, querendo ou não, você estava vivendo em uma bolha por não ir pra escola! E nessa bolha não tinha Beatles… então não acho que seja esquisito você não conhecer… — Ele deu um sorriso, compreensivo. Eu confirmei. — Como conheceu essa música, então?

Através do amor da minha vida.

Sorri.

— Através do Jungkook. — Eu disse, me segurando. — Na verdade, acho que ele me apresentou quase tudo sobre música… — Dei um sorrisinho, colocando os pés na cama, abraçando meus joelhos. — Yoongi também me apresentou alguns artistas…

Taehyung parou.

O sorriso se desprendeu de seu rosto.

— Yoongi? — ele indagou. — Yoongi…?

— Min Yoongi — eu disse, me sentindo… nervoso? — É… ele é da minha turma, somos muito amigos.

Taehyung pareceu um pouco surpreso e incomodado com isso. Ele até virou um pouco para o outro lado e, bom... foi inevitável como minha mente trouxe todas as informações que eu tenho sobre isso à tona.

Sabe… o primeiro dia que fui na casa do Yoon. Como ele se sentiu sobre Taehyung… e disse que ele o odiava. E agora, Niuke.

O que pode ter acontecido entre eles? Os dois são tão legais. Não consigo imaginar por que eles não são mais amigos...

— Eu… eu já fui amigo dele — ele disse. — Mas acabou.

Pressionei os lábios. Acabou...

— Por… por que, Tae? — perguntei, me arrependendo ao perceber que… bem… eu poderia estar sendo invasivo. — Não precisa responder se não quiser, o Yoon também não quis conversar sobre isso…

— Então ele falou de mim? — perguntou.

— Na verdade, eu meio que descobri… mas… — Parei. — Hum… desculpa se esse assunto te deixou desconfortável. Não precisamos conversar sobre isso...

— Não, tudo bem… — ele disse, abraçando seus joelhos. — Acho que tudo bem se eu te contar o que aconteceu.

O quê?

— Sério? — perguntei, surpreso, porque definitivamente não esperava por essa.

Pensei que ele fosse se sentir mal. Como Yoongi… mas ele parecia bem em falar disso, diferente do meu outro amigo.

— Sério. — Ele deu um sorriso pequeno. — Bem… como posso te dizer? Ah... — Suspirou. — O Yoongi meio que me abandonou quando eu mais precisava dele.

Uau...

— Como assim? — Franzi o cenho.

Tae fechou seus olhos. Ele engoliu em seco e suspirou demoradamente. Talvez não esteja tudo tão bem em falar disso…

Pensei que ele fosse desistir da conversa e, bom, por mim tudo bem. Eu não queria que fosse desconfortável… poxa.

Mas, contrário aos meus pensamentos, Taehyung começou a me contar:

— Hum… eu acho que você não deve saber disso, mas eu já fui muito perseguido na nossa escola — ele disse. — Principalmente do ano passado pra trás. Eu era bem diferente do que sou hoje em dia… era bem tímido e só me soltava com o Hoseokie e com o Yoongi. As garotas e aqueles babacas da escola achavam que eu tinha jeito de “viadinho” — Fez aspas com o dedo. — Ah. Danem-se eles. Eu não ligo mais, mas na época era difícil… bem difícil, sabe? — Olhou nos meus olhos.

Confirmei com a cabeça.

— Sim… — eu disse, pensando.

— Então… mas isso ficou um pouco feio em novembro do ano passado. Eu meio que me senti tão, tão humilhado, que respondi um deles… isso resultou em todos se juntando contra mim e me enchendo de porrada — ele falou, me deixando um pouco assustado. — Foi quando percebi que Yoongi não era meu amigo. — Ele me olhou nos olhos. Me surpreendi porque praticamente tinha esquecido que isso era sobre o Yoon… — Sabe, Jimin. Se você visse cinco caras gigantes me batendo, o que você faria? — Pensei.

Caras gigantes… Não precisei de muito tempo para saber exatamente o que responder:

— Tentaria ajudar! É claro… — eu disse, me sentindo um pouco angustiado por isso ter acontecido com o Tae.

— Exatamente! Você sim é meu amigo — ele disse. — Eu… eu nunca vou me esquecer daquele dia. — Ele desviou o olhar. — Sabe, Jimin… naquele dia, enquanto os caras me batiam, eu vi o Yoongi no meio da multidão… — Me fitou. — Ele estava com medo, dava pra ver no rosto dele… eu estava sentindo tanta dor que comecei a chamar por ele, queria que ele me ajudasse, mas ele… — Fechou os olhos. — Ele nem saiu do lugar. — Bufou. — Quando os caras perceberam que era ele quem eu estava chamando, o Yoongi simplesmente… ele simplesmente foi embora! Saiu correndo, e não voltou… caramba. Eu fiquei tão triste, porque éramos muito amigos. Não pensei que ele seria tão covarde, tão mal, tão ruim comigo… por que ele não me ajudou? — Taehyung parecia realmente chateado.

E eu? Eu estava… surpreso.

E um pouco curioso.

Eu não queria tomar decisões precipitadas, mas… fiquei chateado com Yoongi pelo Tae. Mas eu não sabia a história do meu amigo, então, como eu poderia culpá-lo?

Apesar de não entender como ele poderia deixar alguém como Taehyung na mão, não sabia o que tinha acontecido para ele ter o feito. Será que ele só foi um covarde?

Ah, Yoongi…

— Tae… eu sinto muito mesmo — eu disse, tocando seu joelho com ternura. — Não consigo imaginar como isso deve ter sido difícil pra você.

— Hum… tudo bem — ele disse, baixinho. — Quando o Yoongi foi embora, eu fiquei feliz, porque percebi outra coisa… — Ele começou a sorrir. — Diferente dele, Hoseok entrou no meio da briga com tudo. Ele começou a empurrar os caras, e mal conseguia, mas não desistiu. Hobi conseguiu apanhar ainda mais do que eu por tentar tanto… — Ele falava com certo brilho no olhar. — Eu nunca vou me esquecer de como ele se jogou em cima de mim quando estavam me chutando… eu disse para ele ir embora, mas ele disse que não iria. Que doía mais quando eu levava os chutes do que quando ele levava os chutes. — Suas bochechas ficaram vermelhas. — Naquele dia eu entendi que o Hoseokie era para minha vida toda. Então, acho que valeu a pena…

Taehyung deu um pequeno sorriso. Ele escondeu seu rosto no meio dos joelhos e tudo que ele parecia estar sentindo e falando me deixou bem.

Acho que Taehyung sentiu muito amor naquele dia.

— Isso é bem legal… — Eu sorri. — Não sabia que o Hoseok era tão corajoso.

— Ele é! — Levantou o rosto, sorrindo. — Ele também é bom com desenhos, sabe lidar bem com as pessoas, ele é demais… quero que vocês virem muito amigos logo!

Sorri.

— Também quero — eu disse, sorrindo feliz. 

Taehyung sorriu de novo. Sentou com as pernas cruzadas e suspirou de uma forma lenta e longa, como se falar disso tivesse sido a melhor coisa que ele poderia ter feito hoje.

Ficamos em silêncio por um tempo, só respirando e pensando. Eu aproveitei dessa pausa confortável para processar as informações mais uma vez...

Sabe, eu conheço Yoongi muito bem. Ele é um garoto que demonstra pouco às vezes, mas que tem um lado doce muito profundo. Ele só se esconde demais… talvez pela sua personalidade introvertida, eu não sei, mas eu não posso culpá-lo e julgá-lo pelo o que aconteceu. Eu gostaria de saber o que ele sentiu e por que fez isso com o Tae… tenho certeza de que deve ter um motivo, um medo, um pensamento ruim que o fez vacilar. Afinal, ele é humano.

Espero que um dia ele divida isso comigo.

— Jiminnie… — Tae chamou, de repente. O fitei. — Você já viveu um momento tão bom que fez você sentir que nunca estaria sozinho? Como se a pessoa estivesse ali no momento perfeito. Como se ela fosse a única pessoa que poderia estar ali por você…

Meu coração palpitou. 

Alguém único, para estar aqui por mim…

— Sim… — eu disse, sorrindo um pouco. — Tem alguém que esteve comigo de uma forma muito doce.

— Sério? — ele indagou, com a voz suave. — E como foi?

Eu não hesitei em responder.

— Foi muito bom… — eu disse. — Sabe… teve uma vez que um babaca me machucou na frente de todo mundo. — Me lembrei daquela cena no refeitório. — Ele me humilhou e me deixou triste… eu consegui dar a volta por cima, mas não me senti bem com isso, sabe? E esse alguém foi o único a perceber isso. Ele foi único… — eu disse. — Ele fez um curativo no meu rosto… e me fez esquecer tudo de ruim com alguns jogos de carta e adedanha… — Eu sorri, com as bochechas queimando de saudade. — Poxa… e teve uma vez que me senti tão sozinho. Eu perguntei se ele queria me visitar, ele disse que sim. E apareceu em uma hora… e nunca tinha ido na minha casa antes! — Sorri ainda mais, com as mãos tremelicando. — Também teve uma vez em que eu estava me culpando… me sentindo triste por pensar em pessoas que já me fizeram lamentar o meu jeito de ser. E Jungkook cantou uma coisa tão engraçada…! Ele me fez rir tanto que eu esqueci que estava chateado… — Completei, sentimental. — É como se ele fosse um presente… do universo… de Deus… um presente muito bom...

Enquanto contava todos esses meus sentimentos, não olhei para Taehyung. Somente olhei para minhas mãos e sorri, tanto que meus olhos se fecharam. Meu rosto estava pegando fogo e minha barriga estava tremendo, gelando, seguindo o ritmo do meu coração. Foi como me lembrar, vividamente, de Jungkook em meu quarto. Me fez ferver de saudades e gratidão por poder estar vivendo um amor tão, tão bom.

Mas... 

Após acalmar meu coração agitado, fitei Taehyung. Olhei para seu rosto, me perguntando qual poderia ter sido sua reação sobre isso e… 

Ele estava cor de rosa.

E com os olhos muito arregalados.

— Jiminnie… — ele chamou, erguendo as sobrancelhas. 

— O quê? — perguntei, hesitante, com medo de ter deixado alguma informação importante passar sem querer.

Taehyung me encarou. Sorriu e, então, somente negou com a cabeça.

— Eu… eu só queria dizer que somos mais parecidos do que você pensa. E que estou muito feliz por você ter vindo aqui hoje e compartilhado tantos sentimentos comigo… — disse com muito carinho. — Isso me fez um bem danado...

Não tardei em sorrir também, porque… qual é? Taehyung era tão legal. Eu me sentia muito confortável perto dele. Era quase surreal.

— Eu também estou muito feliz, Tae… — Sorri. — Espero que a gente possa fazer isso mais vezes! — falei, alegremente.

— Eu também... — ele exclamou, com seu sorriso em formato de caixinha. — Eu também, Jiminnie… — ele tocou minha bochecha com o indicador, rindo comigo.

Depois disso, o resto do dia na casa do Taehyung foi ótimo. Ele me mostrou outras partes da sua casa, incluindo a mini horta da sua avó e o piano no quarto de sua mãe. Conversamos sobre música e ele me emprestou uma fita com músicas diversas dos Beatles, e uma mixtape chamada “para ouvir apaixonado”. Foi bem divertido…

Quando estava escurecendo, a mãe do Taehyung chegou. Ela era muito divertida e sociável, e me fez muitas perguntas engraçadas, além de falar do mesmo jeitinho que o Tae… eu me senti tão bem. Ela me levou até minha casa e Tae também foi, e a conversa entre nós três fora tão engraçada e leve que eu fiquei cheio de euforia! Eu realmente quero manter uma amizade de longa data com ele...

Quando chegamos em casa, me despedi dela e do Tae. Mas antes de descer do carro, Tae me deu um abraço apertado e disse, bem baixinho, para só eu escutar:

Se um dia você quiser me contar, eu vou adorar saber.

Eu fiquei surpreso.

De primeira, não entendi sobre o que ele estava falando. Mas bastou alguns minutos na rua, observando seu carro ir embora, para saber. E para perceber, também, o que eu fiz…

Quando falei da pessoa que era única para mim… sem querer deixei escapar o nome de Jungkook! E Taehyung percebeu.

Fiquei um pouco desnorteado com isso, com o fato dele possivelmente saber. Até tentei esquecer isso enquanto entrava, falava com minha mãe — que estava menos esquisita — e fazia carinho no Menino, mas, quando tomei meu banho para dormir, voltei a pensar nisso. E também pensei em como Taehyung disse que tínhamos muito mais em comum do que eu pensava.

E se eles for como eu e Jungkook?

Eu não tinha parado para pensar nisso. Quando me toquei, um sorriso surgiu em meus lábios e eu decidi que, um dia, tomaria coragem para esclarecer esses sentimentos com Taehyung. Porque Jungkookie era único…. para mim, ele era como Hoseok era, para Taehyung. 

Jeongguk era a pessoa da minha vida. Era incrível, bonito, divertido... Jeongguk era tudo. Era infinito, assim como o universo.

E eu adoraria ficar com ele para todo o sempre.

***

Eu e Jungkook não nos beijamos na semana seguinte.

Também não saímos sozinhos — apesar de termos ligado um para o outro depois da escola na quinta e na sexta —, mas damos nossas mãos carinhosamente sempre que há uma brechinha.

Meu coração batia forte quando eu percebia que Jeonggukie estava ficando cada vez mais confortável perto de mim. E, o observando com todo o carinho que meu coração tinha, eu percebi umas coisas e igualmente mudei minha mentalidade sobre o nosso beijo.

Tipo, na boa… é claro que eu ainda quero o beijar com todo o meu serzinho! E isso me faz resmungar pela casa quando me pego pensando em como seus lábios são delicados e — céus — aparentemente macios, doces e… tudinho de bom. Mas ficou diferente nesses últimos dias… ainda mais quando eu percebi que Jeongguk ficava nervoso como nunca quando achava que eu iria o dar uma beijoca. Meu bebê...

Eu gostava quando ele ficava nervoso. Quando ele tremia, gaguejava, eu ficava completamente bobinho porque… era fofo. E além de fofo, eu sabia… tinha em mente suas doces palavras sobre como era bom quando ele ficava daquele jeito. Tudo sobre Jeonggukie era extraordinariamente bom, bonito e gostoso de sentir, e às vezes era difícil segurar minhas vontades quanto a ele por causa dos sentimentos que ele, sem perceber, deu a mim.

Amar Jeon Jungkookie significava viver cheio de vontades e pensamentos românticos. 

E era perfeito.

Mas… apesar de gostar tanto do seu jeitinho tímido, eu amava infinitamente mais quando Jeongguk ficava calmo. Simplesmente... calmo. 

Só Deus sabe o quanto meu coração bate forte quando ele olha nos meus olhos e fala comigo tão suavemente, demonstrando o quão confortável ele está se sentindo perto de mim. Isso é perfeito… me faz sentir que Jeongguk poderia, um dia, me mostrar cada parte sua sem hesitar...

Eu fiquei pensando nisso sem parar. Foi quando me dei conta de que, antes, eu só queria beijar ele o mais rápido possível. E agora… bem. Agora eu quero mais do que isso. Mais do que um beijo desesperado e nervoso… eu quero Jeonggukie.

Quero de verdade.

Quero Jeonggukie olhando nos meus olhos e me beijando… se sentindo calmo, bem calminho, com a voz suave como quando ele fica com sono. Eu esperaria uma eternidade por isso, por Jungkook. Ele simplesmente vale a pena...

Por isso, eu parei de tentar beijá-lo a cada segundo que a escola — e o mundo — nos dava uma brechinha. Eu decidi que, por ora, só faria carinho em seu rostinho e em seus dedos, esperando o momento certo para chegar mais perto… e, céus, apenas isso era tão bom, tão bom. Jungkookie sempre sorria quando eu lhe dava carinho, e fazia tanto sentido que eu me perguntava se não era essa minha missão aqui na terra: fazer carinho em Jungkook.

Como eu o amava.

E as minha atitudes lentas não passaram despercebidas por ele… eu senti isso. Senti que ele estava se acalmando aos pouquinhos já que, conforme os dias foram passando, Jeonggukie deixou, lentamente, de ficar extremamente nervoso e trêmulo com a minha presença. Muito pelo contrário… ele parecia cada vez mais confortável comigo por perto, sempre sorrindo e olhando para mim, como se permitisse fazer isso… era como se ele fosse o meu pedacinho do paraíso na terra. Jungkook era… tudo.

Quando nos falamos no telefone a sexta-feira, após ficarmos sabendo sobre o acampamento — que, aliás, todos nós vamos! — eu o chamei para ir ao nosso lugar, passar o tempo, mas ele já havia feito planos com Seokjin. 

Eu, sem nem pensar, divaguei em voz alta um dos meus desejos bobinhos:

— Será que um dia você vai ser todinho meu?

Um segundo depois, percebi como aquilo soou meio possessivo e estranho (céus, não era sério, apenas uma gracinha!). Mas Jungkook só riu baixinho.

Uma risada meio tremida e engasgada, mas… doce demais.

T-todinho? — ele sussurrou, gaguejando e rindo.

Eu senti que iria explodir.

— Caramba, Ggukie... — eu sussurrei também. — Que fofo…

O quê?

— Você falando “todinho”... — eu senti minhas bochechas arderem. — Eu poderia ouvir você falando isso por toda a eternidade. 

Jungkook suspirou perto do telefone. Eu queria poder estar com ele.

To… — Eu pude ouvir ele lambendo os lábios. — T-todinho. Todinho? Puxa…

Eu me encolhi contra o telefone. Leonor estava no andar de cima, mas se ela não estivesse em casa, eu simplesmente gritaria.

Eu te amo, eu te amo, eu te amo…

— Eu te adoro… — eu ri baixinho, cobrindo meus olhos com a mão. — Te adoro… — sussurrei.

Pude ouvir a voz da mãe dele no fundo da ligação e, alguns segundos depois, Jungkookie sussurrou:

A-até segunda-feira.  — ele grudou os lábios no telefone. — Também te adoro.

E desligou.

Foi difícil pra mim depois disso. Eu pensei nele falando “Todinho” o final de semana inteiro e não consegui parar de sorrir. Até fiquei imaginando o que teria acontecido se eu tivesse dito…

— Eu te amo… — eu murmurava, sozinho no quarto. — Eu te amo, Jungkookie… — Pensava em suas bochechas vermelhas. — Te amo, te amo, te amo…

Foi tão intenso que eu fiquei me perguntando quando sabemos que amamos alguém. Eu não sabia o que era preciso para amar alguém, mas por algum motivo, sentia que amava Jungkook com todo meu coração… era tão confuso só sentir e não entender.

Pensei tanto nisso que perguntei para Yoongi — que eu ainda converso normalmente, apesar de pensar sempre no que ele fez com Tae — como sabemos que é amor, e ele me respondeu isso:

— Sei lá. — Naquele momento ele parecia distraído, como se minha pergunta fosse boba demais para merecer sua atenção. — Tipo, imagina se você ainda gostaria da pessoa se ela perdesse todos os dentes, ou fosse azul. Se sim, acho que é amor.

Eu pensei por alguns segundos e, bem, parecia simples demais. Se fosse assim, eu com certeza amava Jungkook. Mesmo se ele fosse banguela e todo azul… eu gostaria de ficar pertinho dele...

— Só isso? — indaguei. 

— Imagina ela fedendo também.

— Mais o quê? 

— Um terceiro mamilo — ele disse, me fitando.

Depois disso, eu acabei rindo. E ele também.

— Certo, você com certeza esclareceu minhas dúvidas, muito obrigado! — eu disse, debochado, deixando o assunto de lado enquanto ele ria audivelmente.

— De nada! 

E apesar das risadas, pensei muito em amar depois. 

Ainda mais quando ele estava por perto. Quando o via de longe, ou, quando ele conversava comigo… ou só estava por perto. Eu só conseguia pensar em amor, o conceito de amar… de dizer que ama alguém.

É que… sinto tantas coisas. E estou sentindo tantas a mais agora. É assustador às vezes… mas eu sinto tanto, tanto. É tão forte e bom… é por isso que dizem que o amor é perigoso? Por ser tão forte e bom?

Há uma euforia tão única quando estou perto dele… eu me sinto feliz em outros momentos da minha vida, é claro que me sinto, muitos dos meus dias são felizes. Mas quando estou com ele, esse feliz se torna tão diferente do usual… tem tanta adrenalina e rubor nas bochechas! E eu fico todo gelado por causa da  intensidade...

Quando eu descobri a história de amor da minha mãe Leonor e do meu pai Euijin, fiquei um pouco assustado, eu admito… ainda não estava imerso em romances para entender como o amor podia ser doloroso. Me lembro de, naquela época, chegar na conclusão de que amar não fazia bem, já que a mamãe ficou tão triste quando meu pai morreu.

Mas agora é diferente.

Enquanto sentava atrás do Jungkookie nas aulas de história durante o mês de julho e agosto e sentia seu cheiro bom, eu me perguntava… qual seria a graça da vida se não tivesse amor? Todo tipo de amor. Eu era tão bobo por pensar que não deveria sentir amor... imagina não amar por medo do que pode acontecer depois?

Sabe, se eu o amo mesmo… não vou ficar me reprimindo. Jungkook é tão amoroso comigo que sinto fielmente que ele não me machucaria de propósito, jamais, então porque eu não deveria dar toda essa parte do meu coração para ele, já que ele me faz tão bem?

Eu estava de olhos fechados enquanto pensava em tudo isso. É um pouco estranho pensar nessas coisas sempre, mas a cada dia que se passa, a cada momento que temos, mais eu sinto amor por ele. É um sentimento tão limpo e puro, e me faz bem. Eu não vou me reprimir. Vou sentir essas coisas boas.

Eu quero amar, afinal… não quero abrir mão disso, não. Eu não tenho medo… contanto que eu não esteja sozinho, não tenho medo.

Eu espero que Jungkook me deixe amá-lo.

***

Duas semanas depois, na sexta-feira, a lista dos dias do acampamentos e alunos autorizados saiu.

Ah, é! Eu mal falei do acampamento, mas ele vai acontecer em dois finais de semana: dia 20 e 21 de agosto, e dia 27 e 28 de agosto também — o primeiro final de semana é daqui a uma semana! Os ônibus para lá saem sexta de tarde, então são quase três dias.

É um acampamento-não-tão-acampamento, já que vamos ficar em chalés, mas parece muito divertido! Vamos pra cidade vizinha, terá um lago, gincanas, atividades… basicamente, um presente para os alunos e a escola, que está completando 20 anos de idade (estou aqui há só um ano, mas já me sinto super orgulhoso).

— Poxa, não vamos no mesmo dia! — Taehyung disse para mim, vendo que vai na semana que vem.

Estávamos todos reunidos, no intervalo, vendo as datas. No dia 20 e 21, iriam Niuke, Namsoon, Hoseok e Taehyung. No dia 27 e 28 de agosto, iremos eu, Yoongi, Seokjin, e Jungkookie… isso!

— Jimin! — Eu olhei para o lado e me deparei com Jieun. — Vamos no mesmo dia. — Ela sorriu.

— Demais! — Sorri também, porque ela é muito legal.

Jogamos conversa fora e, quando a fome bateu, seguimos nosso caminho para o refeitório. Yoongi tinha faltado hoje, por isso fiquei com Tae, Hobi, Niuke, Jungkookie e Seokjin.

Nós nos sentamos em uma mesa grande e lanchamos, sorridentes e animados com o acampamento. Jungkookie sentou do meu lado e estava com um potinho na mão desde que saiu da sala, meio quietinho, mas sempre me respondendo quando eu falava com ele.

Quando todos estavam distraídos, ele chegou pertinho de mim e colocou o pote no meu colo.

— É bolo de laranja… — ele disse, baixinho, para mim.

Meu sorriso cresceu. Ah, é… também tem isso acontecendo.

Eu e Jungkookie temos nos presenteando muito nas últimas semanas. Às vezes compro doce para ele, e ele me devolve um mimo, dias depois, como bolos e biscoitos. Era um doce e eu até sentia que éramos namorados…

— Obrigado, Ggukie… — sussurrei, o fitando com amor. — Você é demais.

Jeonggukie sorriu de volta, vermelho, e trocamos um olhar rápido. Até que ele disse, baixinho:

— Eu também gravei uma nova fita — sussurrou. — Deixei no meu armário… vamos nos encontrar lá depois?

— Sim… — eu disse. — Podemos ouvir juntos no parquinho. — Sorri ladino.

— Matar aula? — ele indagou e é claro que eu assenti. — Tá bom! — Sorriu, feliz com isso.

— Antes, eu vou guardar o bolo na minha mochila… você deveria ter me dado antes de eu lanchar! Agora vou ter que comer depois — eu disse, com um biquinho, lhe dando um tapinha. Jungkook riu.

— Desculpa, puxa… — Continuou sorrindo. 

Ai. Esse fofinho!

Após meu coração falhar algumas batidas, decidi colocar nosso plano em ação. Como faltava menos de cinco minutos para o intervalo acabar, decidi ir na frente para guardar o bolo e depois encontrá-lo no armário. Expliquei para todos que ia para a sala antes e me despedi, dizendo baixinho para Jungkookie:

— Me encontra no seu armário.

Quando me afastei dele, após ele confirmar, peguei Niuke nos olhando daquele jeito de novo — agora, acompanhada de Taehyung.

Ora essa…

— Até mais tarde, gente — eu disse, sorrindo e acenando.

— Até, Jiminnie!

— Até!

— Te vejo depois, Minnie!

Sorri para eles e, risonho, saí do refeitório, imensamente grato pelos amigos que tenho.

Fui até a sala e guardei o bolo na mochila, cuidadosamente a fechando e deixando-a sobre a mesa. No mesmo momento, o sinal tocou, então me apressei em pegar minha escova de dentes e a pasta para ir o banheiro, escovar meus dentinhos.

Depois de fazê-lo, guardei ambas as coisas no bolso da frente do meu casaco já que, obviamente, não posso voltar para a sala e deixá-las lá. Ainda enrolei um pouquinho ajeitando o cabelo e me vendo no espelho, afinal, vou encontrar meu amorzinho… 

Quando estava completamente pronto, eu saí do banheiro e segui meu rumo — rumo ao Jeonggukie, hehe.

Por ter ido ao banheiro, acabei ficando muito afastado do corredor, então decidi cortar caminho passando por fora da escola. Dei um sorrisinho, caminhando pela área aberta com calma, me sentindo feliz. 

Mas algo, então, me fez parar no lugar. 

Mais especificamente: antes de entrar no prédio, escutei um barulho esquisito no meio dos arbustos perto da escola. E curioso como sou, é claro que tive que parar para olhar.

Quando vi, com meus próprios olhos, o que estava acontecendo, fiquei um pouco… surpreso

Era… o Idiota. O Idiota, fumando um cigarro. Dentro da escola, o que é muito, muito errado. 

Caramba!

Eu fiquei tão entorpecido com a cena que fiquei ali, parado, sem saber o que fazer. Porque, enquanto ele bufava a fumaça, tossindo um tanto, eu me perguntei se dedurar era a escolha certa. Afinal, eu não gosto dele e seria ótimo não vê-lo mais (sério)! Mas também… ah. Vai saber como uma expulsão ou suspensão pode afetar na vida dele, não é? Ele ainda é uma pessoa e...

Ah.

Ele me viu.

Divagando como um idiota, me esqueci da (real) questão aqui:

Kim, Idiota, não deveria saber que eu o vi fumando na escola.

E, bom… ele está parado, olhando para mim bem agora.

— Meleca… — Engoli em seco, vendo seu semblante se tornar irritado a cada suspiro que eu dava. 

Me dei mal!

Minha mente borbulhou um pouco e comecei a me afastar, pensando em formas de escapar dessa situação horrível e, provavelmente, muito violenta. Pensa, Jimin, pensa, pensa...

Bom. Eu não pensei muito. Na verdade, não deu tempo de pensar em nada quando ele começou a se aproximar, com muita raiva e os punhos cerrados. Por isso, eu só fiz o que deveria fazer desde o começo:

Saí correndo como um maluco.

— Volta aqui, …! — Ouvi ele me xingar de um palavrão, mas eu já estava correndo para dentro do prédio da escola como um foguete. 

Essa droga de curiosidade ainda vai me matar!

Meus tênis arranhavam o chão a cada pisada que eu dava para longe do Idiota, que não desistiu e correu atrás de mim mesmo assim. E, caramba, como eu estava frito! Porque ele é rápido como um lobo e eu sou lento como uma lebre! 

— Droga, droga, droga! — reclamo, virando um corredor, descobrindo, no segundo seguinte, que esse foi meu maior erro.

Porque, como se já não estivesse encrencado o bastante, mais uma coisa terrível aconteceu (cacetada!). Essa coisa terrível é o meu cartão ilimitado para a cantina, que com a minha curva apressada, saiu voando do meu bolso e caiu diretamente no chão, me fazendo parar repentinamente.

E eu sei… eu sei! Eu sei que não deveria parar por causa do meu cartão e, com certeza, não o faria se não estivesse completamente exaltado, nervoso e ofegante! A melhor escolha seria deixá-lo para trás e pegá-lo depois, mas no desespero do momento, eu apenas parei. 

Bastaram apenas alguns míseros segundos para o Kim, Idiota, chegar até mim e me agarrar bruscamente pelo colarinho da minha camiseta, me batendo no armário com tanta força que meu óculos tremeram em meu rosto.

— Eu mandei você parar, bichona! — E esse é o cumprimento dele.

Segurei seu braço, que me agarrava e, com medo, gritei:

— Me solta!

— Estava pensando em me dedurar para o diretor, seu filho da… — ele chamou minha mãe de uma coisa muito feia. — Não mexe comigo, rolha de poço!

Fiquei indignado com a última parte.

— Eu não mexo com você! — eu rebati porque, sério, eu nem saberia da existência dele se ele não me perturbasse! — Me deixa em paz! — pedi, tentando empurrar ele, mas sou fraco demais, então ele nem saiu do lugar.

Mas não desisti. Continuei me debatendo, com medo dele quebrar meu óculos ou rasgar a minha preciosa camiseta, e com toda essa minha afobação, o Idiota acabou segurando os meus dois pulsos, os prendendo ao lado da minha cabeça com violência.

— Me deixa em paz você, saco de banha! — Ele grita de novo. — Me deixa em paz!

Ele solta uma das minhas mãos, batendo no armário atrás de mim, me assustando. E eu só consigo me perguntar o porquê, céus. Eu nunca fiz nada com ele! Nada! Eu ao menos olho para ele!

Quis falar tudo isso, mas por medo, não consegui. Apenas fiquei quieto, abaixando a cabeça, pensando sigilosamente no que fazer. Ele continuou bufando, perto de mim, fedendo a cigarro. Minha única esperança era de alguém chegar e ver o que estava acontecendo e, céus... me ajudar! Não importo de ser suspenso de novo, só não quero que ele quebre nada meu… 

Eu fecho meus olhos com força. Como isso me deixa bravo! Porque eu nunca fiz nada contra ele. Nunca o tratei mal, nunca o diminuí, mas ele faz isso comigo desde meu primeiro dia. Sempre me persegue, me ofende… por que ele tem que ser assim? Por que ele tem que me odiar pelo simples fato de eu ser eu?

Eu costumo não pensar nisso, mas em um momento como esse, eu não consigo o ignorar. Porque, com essa violência, eu me lembrei do dia em que ele tentou me humilhar no refeitório, machucando-me o rosto. Eu me senti mal com isso por dias. Quando ele sumiu por semanas, eu acabei me esquecendo dele porque, sinceramente, eu não preciso de lembranças ruins! Mas depois das férias, ele voltou. Voltou me xingando no ônibus, me olhando torto, se sentando sempre que pode atrás de mim… voltou me odiando desse jeito problemático que eu não entendo, tentando reprimir tudo que eu sou sempre. 

E eu não entendo. Não entendo como ele não vê o quão triste ele é por ter essas atitudes.

Meu rosto esquentou de raiva e frustração. Eu sabia que não era páreo para ele, sou incapaz de bater em alguém, não sinto vontade, mas eu estava começando a ficar tão irritado e enojado. Por isso, só por isso, eu não hesitei em levantar minha cabeça, o fitando com o cenho franzido e os olhos afiados, tentando demonstrar o quanto eu desrespeitava e desprezava todo seu ódio por mim apenas com isso.

 Eu encarei ele. Eu estava tão brabo… tanto que…

Tanto que eu não percebi que ele não estava mais vermelho de raiva. 

O Idiota estava em silêncio, me olhando… demoradamente.

Mas ele não estava olhando nos meus olhos.

Espera...

Espera aí. 

Ei, ei, ei… isso tá ficando muito estranho!

— Me deixa em paz… — ele sussurrou, o tom de voz diferente.

Meu âmago ficou surpreso, porque ele estava olhando para a minha… minha boca. Mas, hein?! 

O quêeee?!

No segundo seguinte, ele olhou nos meus olhos e, por um momento, por um segundo, eu vi algo diferente ali. E eu até cogitei que aquilo era apenas coisa da minha cabeça nos meus breves segundos de pânico, mas ele confirmou tudo que eu achava quando tentou tocar meu rosto de maneira suave com a outra mão. Foi quando percebi que era sério, e percebendo isso, eu senti... ânsia... 

Senti nojo.

Bastou um segundo para eu ver que ele estava planejando se aproximar, sorrateiramente, do meu rosto.

E bastou menos do que isso para eu levantar minha mão e acertar um tapa forte em seu rosto.

Eu bati nele. 

Eu realmente fiz isso.

Bati no Idiota e continuei ofegando indignado depois de fazê-lo, porque ele deixou claro que iria me beijar, ou pelo menos, tocar em mim. E apesar de eu não entender o que está acontecendo, ele ainda tentou.

Ele parecia tão chocado com minha atitude quanto eu. Ainda com o rosto virado e minha palma marcada em sua bochecha, Kim arregalou os olhos. Quando ele começou a virar o rosto para mim, retomando aos poucos aquela feição furiosa, eu tive certeza que estava ferrado.

Ou, pelo menos, estaria, caso o alarme de incêndio não tivesse começado a tocar de repente e certo alguém não estivesse vindo correndo até nós dois no segundo seguinte.

Era Jungkook.

Vindo na minha direção mais rápido que um foguete!

JUNGKOOK

 

Eu não pensei direito.

Se todo mundo que me conhece respondesse um questionário sobre essa situação, daria para saber que eu não estou com a cabeça no lugar. Puxa, ficaria claro como a água que eu não sou o tipo de pessoa que faz coisas como essa! E até minha mãe, se me visse agora, não me reconheceria. Ela, inclusive, juraria que sou apenas um garoto desmiolado que se parece com seu filho!

Eu poderia tentar explicar o que fiz com todas as palavras, mas a adrenalina não deixaria. Eu só sei que… puxa, eu estava procurando Jimin pelos corredores, preocupado porque ele estava demorando muito para chegar, e de repente, ouvi gritos estranhos. E é claro que eu segui o som, me perguntando se ele estava bem ou não.

Foi quando eu virei aquele corredor.

Eu senti tudo em mim entrar em pânico ao presenciar Jimin acertar o maior valentão da escola no rosto.

Por isso, eu não pensei direito. Por isso fiz o que eu fiz. E eu sabia que teria muitos problemas depois, tanto quanto sabia que meus pais ficariam chateados comigo, mas eu não consegui pensar, muito menos me segurar, porque era Jimin ali e eu sabia muito bem o quanto Kim poderia machucar ele.

Foi por isso que, com o meu próprio walkman, acertei o vidro do alarme de incêndio, o quebrando e, desesperadamente, acionando-o.

Foi quando a sirene começou a tocar e a escola encher de água. Eu segurei meu walkman com bastante força e comecei a correr na direção deles dois, como um maluco! Maluco por Jimin. Até fechei meus olhos no processo, morrendo de medo por dentro, mas sem hesitar um segundo sequer. Por não querer que nada acontecesse à Jimin, eu fui e empurrei o Kim com toda a força do meu corpo, fazendo ele tropeçar para longe de Jimin e cair no chão

Meu braço doeu a beça, e eu abri e arregalei meus olhos após perceber o que eu fiz.

Meu Deus.

Eu empurrei o maior valentão da escola!

— Jeonggukie! — Olhei para Jimin, percebendo sua surpresa e seus olhos tensos quando ele olhou para mim. 

Me aproximei. Segurei sua mão com força e comecei a correr, gritando:

— Vamos sair daqui!

E nós saímos. 

Não apenas nós. Os alunos começaram a sair das salas de aula, assustados e apressados, porque o alarme de incêndio tocou pela primeira vez em muito tempo.

Foi quando percebi o problemão que causei.

Eu estava tenso nos ombros e com o estômago gelado de nervoso, mas já não estava tão desesperado. Porque quando Jimin e eu paramos, nos escondendo dentro de uma sala vazia, ele estava bem. 

Ele estava bem… e, puxa, essa era a coisa mais importante naquela situação maluca.

— Ggukie! — Jimin exclamou de novo, enquanto ofegava junto comigo. — Por que nos trouxe pra cá? Temos que sair da escola! Tem um incêndio!

Eu neguei com a cabeça, com meus cabelos levemente úmidos.

— Não tem… — Ofeguei.

— Não tem? 

— Não… — eu bufei, tentando retomar meu fôlego. O cabelo dele também estava molhado.

— Como assim? Como sabe? Nós temos que sair daqui… — ele segurou minha mão com força, segurando a maçaneta da porta da sala. — Já devem ter controlado o fogo, mas precisamos sair mesmo assim.

— Não tem fogo, Jiminnie… foi um alarme falso — eu disse, sem saber como dizer que fui eu quem toquei o alarme de incêndio.

Foi por sua causa, mas… eu não queria dizer isso, puxa vida, eu nem queria contar que fui eu! Não parecia certo. Seria como colocar parte da culpa desse caos nele quando fiz tudo sozinho...

— Como você sabe?

— Alguém me disse…

— Como? Nós estávamos juntos quando o alarme tocou… — Olhou nos meus olhos.

— Eu… 

Somos interrompidos pela porta se abrindo rapidamente por um professor. Ele nos olha, um pouco exaltado, e diz:

— Saiam da escola imediatamente!

Depois disso, não tivemos tempo para falar. Jiminnie e eu corremos para fora da sala e pelos corredores junto com outros alunos e funcionários da escola. 

Puxa. Que... que problemão!

Do lado de fora, todos estavam molhados, seguindo fila para fora do colégio pelo portão de emergência. Jimin segurou minha mão com força quando nos enfiamos no meio da multidão, e como se já não fosse o bastante, quando finalmente conseguimos sair da escola, uma ambulância chegou, acompanhada de um caminhão gigantesco de bombeiros, e todos eles correram para dentro do colégio.

— Ai meu Deus do céu... — choraminguei.

— Espero que esteja todo mundo bem… — Jimin disse, me segurando com bastante força. 

Eu engoli em seco. Naquele momento, vendo o caos que causei por amor, tive certeza de que deveria adicionar a letra M, de Maluquice, ao teorema Rheya. 

Porque… olha só! Olha esse caos, essa confusão, esse desespero! Eu causei isso.

Eu, realmente, causei isso.

— Puxa vida… — praguejei baixinho. 

E, agora, não tinha mais volta.

***

Uma hora depois, todos os alunos estavam no pátio do segundo prédio da escola — o que não está molhado — esperando ansiosamente por uma liberação para ir para casa, já que o diretor exigiu que ninguém fosse embora antes do horário até descobrirem quem acionou o alarme de incêndio.

Na multidão de pessoas espalhadas pelo pátio, Jimin e eu encontramos Seokjin, que estava completamente seco por não estar presente no primeiro prédio quando toda aquela água caiu. 

Nós nos sentamos do lado dele, no chão, assim como a maioria dos alunos estavam.

Seokjin perguntou se estava tudo bem e eu não consegui respondê-lo por estar completamente tonto com o que fiz. Fiquei em silêncio o tempo todo, pensativo, sem saber o que fazer porque... puxa vida, eu estou com medo, muito medo... e não me sinto corajoso o suficiente para ir até a diretoria confessar que fui eu que causei um problemão para o colégio. Eu estou com medo de tudo. 

O que eu faço?

Jimin ficou conversando com Seokjin, mas, depois de um tempo, começou a olhar para mim com atenção.

— Gguk… você está bem? — ele perguntou, acariciando meu ombro. Primeiramente, me assustei com o toque, mas quando me dei conta que era seu, relaxei.. — Ficou muito assustado?

Meus lábios tremelicaram. Sim. Eu fiquei e ainda estou tremendamente assustado.

— S-sim… — Balancei a cabeça. Jimin intensificou o carinho em meus ombros e deu um sorriso pequeno e muito carinhoso.

— Já passou… — ele murmurou e, puxa… como eu queria que fosse verdade.

Como eu queria que já tivesse passado.

Nós continuamos ali. Jimin e Jin conversando e eu, sozinho, roendo as unhas de nervosismo, tentando tomar coragem para me levantar e ir até a diretoria dizer que fui eu. Fui eu! E se eu confessar, vai ser melhor, não é? É melhor confessar do que ser descoberto! Preciso me confessar, certo? Certo? Certo? 

Certo?

— Jimin?

Meus pensamentos se silenciaram.

Tanto eu, quanto Jimin e Seokjin, levantamos a cabeça para o chamado repentino. Era Sayuri, a orientadora da escola, que se aproximou tão sorrateiramente que não a vimos chegando.

— Sim? — Jimin ajeitou a postura, atento a ela.

Sayuri apenas pressionou os lábios e balançou a cabeça para Jimin em resposta.

— Preciso que você venha comigo, Jimin — disse mais baixinho. — O diretor quer falar com você.

Meu coração apertou no meu peito.

— O quê? Por quê? — eu perguntei, afobado, enquanto Jiminnie apenas se levantava para acompanhá-la.

— Já já eu volto, Gguk. Não se preocupe. — Jiminnie sorriu para mim, tentando me acalmar, mas minhas mãos já estavam tremendo, ainda mais porque Sayuri não me respondeu.

Eu me senti sufocado. Quando eles começaram a se afastar, minha cabeça se encheu de um monte de questões e suposições, que ficaram ainda mais gritantes quando Jimin sumiu da minha vista.

— Por quê? Por que levaram ele para a sala do diretor? — eu perguntei, para Jin.

— Não sei… talvez achem que foi ele que acionou o alarme…

Eu arregalei ainda mais olhos.

Queriam… culpar o Jimin?!

Eu apertei minhas mãos, ficando ainda mais exaltado quando Sayuri voltou sem o Jimin, parecendo um pouco tensa. Meu Deus, eles querem culpar Jimin pelo o que eu fiz!

Eu não posso deixar isso acontecer!

— Jungkook? — Jin questionou, ao me ver levantando de repente, mas eu não pude o responder. Não naquela hora, não naquela situação.

Eu simplesmente não pude.

Andando com velocidade em direção a Sayuri, apressado e ofegante, eu anunciei para ela:

— Fui eu que acionei o alarme!

Ela me fitou com os olhos arregalados. Outros funcionários que estavam perto me fitaram também, mas ela apenas me encarou.

— Jungkook… — Seu tom era de repreensão. — Sei que você não é de brincadeirinhas. Por isso peço que não tente levar a culpa por Jimin. Por favor... — disse ela, sem ao menos me ouvir.

Eu não disse que ninguém que me conhece acreditaria que eu era capaz de fazer isso? Era verdade, puxa!

— Senhorita Sayuri, é sério! Eu...

— O cartão do Jimin foi achado perto do alarme acionado. Já sabemos que foi ele — disse ela, me cortando. — Nem pense em tentar.

— Tentar o quê? Dizer a verdade? — eu franzi o cenho, pegando meu walkman no bolso do meu casaco. — Olha! Eu quebrei o vidro do alarme de incêndio com meu walkman. Ele está todo arranhado!

Sayuri não olhou para meu walkman, mas juntou as sobrancelhas, duvidosa, quando eu disse que usei outra coisa para quebrar o vidro do alarme.

— Como assim? Por que você não usaria o martelo específico para quebrá-lo?

— Eu estava muito desesperado! Eu só apertei para tentar impedir algo ruim, e… aqui! Um vidrinho até entrou no meu dedo — eu mostrei meu dedo anelar, que tinha um corte bem pequeno. — Por favor, Sayuri, fui eu… puxa, eu não estou mentindo, só não quero que ele leve a culpa pelo o que eu fiz!

Sayuri olhou para mim cautelosamente ao ouvir meus relatos. Eu apertei meu walkman com os dedos, ansioso para que ela me deixasse explicar. Céus, me deixe provar que fui eu… por favor, por favor...

Por favor.

— Tudo bem. Vou te levar até a sala do diretor.

Eu respirei, aliviado ao ouvir sua resposta. Ela falou brevemente com os outros funcionários e me pediu para segui-la até a sala do Sr. Yoon-Soek.

Quando chegamos lá, Jimin estava de saída, com um semblante assustado e confuso. Quando me viu, sua confusão pareceu triplicar de tamanho.

— Sayuri, preciso que chame Kim Hook também — o diretor disse, lento e desanimado, até que me notou. — O que Jeongguk faz aqui? — ele apontou para mim, confuso.

— Jungkook acabou de me dizer que foi ele quem acionou o alarme.

Eu prendi a respiração. Senti o olhar de Jimin sobre meu rosto e, enquanto Sayuri explicava o que eu disse, para o diretor, o olhei de volta. 

Ele parecia estar me perguntando se era verdade.

E eu não pude mentir. Por isso fechei meus olhos ao confirmar com a cabeça, respondendo, mudo, que era verdade.

Eu fiz aquilo.

— Pode entrar, Jeongguk. — O diretor ditou, e eu entrei na sala dele.

— Ggukie… — pude ouvir a voz de Jimin, bem baixinha, mas o diretor já estava fechando a porta... eu não pude respondê-lo.

Meu coração estava acelerado quando me sentei na cadeira, de frente para o diretor, mas eu fiz o que tinha que fazer. Eu contei tudo para ele. Disse que estava andando quando vi Jimin prestes a ser agredido pelo Kim e que na hora do susto, quebrei o alarme de incêndio com o meu walkman.

Expliquei detalhadamente todo o resto do ocorrido. O diretor ouviu tudo em silêncio e, no fim, quando eu estava ofegante de tanto falar, ele somente respirou fundo. Já eu, fiquei tremendo na cadeira, extremamente nervoso e retraído pelos olhares de frieza e decepção que ele estava me lançando.

Cruelmente, ele me disse:

— Eu nunca pensei que precisaria ligar para seus pais por um motivo ruim, Jeongguk. — Ele começou a discar os números, infeliz. — Você nunca fez nada de errado nessa escola, mas acabou de conseguir ser expulso.

Foi quando percebi que ele havia aceitado que eu era culpado.

— Expulso… — Eu puxei a pelinha dos meus lábios. — Mas... do quê? — eu perguntei, pensando no clube de música.

Ele não respondeu. Apenas falou no telefone com minha mãe — reconheci a voz dela daqui — e depois desligou, respirando fundo, sem responder minha pergunta.

Ansioso, perguntei novamente:

— Diretor… eu fui expulso do quê?

Ele me olhou friamente.

Da minha escola.

Foi demais para a minha cabeça atordoada e cheia. 

Eu fiquei o fitando com os olhos arregalados e o coração tão barulhento que eu mal podia escutar os ruídos a minha volta. As palavras ditas pelo Sr. Yoon-Soek ficaram se repetindo sem parar na minha cabeça, e foi tão intenso que eu só percebi que minha mãe tinha chegado quando ela tocou meus ombros e perguntou se eu estava bem.

Depois disso, foi um pouco barulhento. Mamãe quis saber o que aconteceu e, quando o diretor contou o ocorrido com todos os meus relatos, mamãe se exaltou e me defendeu. Eu ouvi ela falar que eu ganhei muitas medalhas de olimpíadas de matemática para a escola, que estudo aqui desde que eu era criança, e que eu só estava assustado porque um amigo estava sofrendo bullying — e eu não deveria ser expulso por isso.

— E por que não tinha ninguém no corredor para proteger o outro menino? Por que Jungkook teve que empurrá-lo para longe?! — ela rebatia, brava, e eu comecei a ficar... triste.

Eu sabia que não era culpa minha não ter ninguém lá, mas estava me sentindo culpado porque… puxa, eu não queria que minha mãe se irritasse.

Mas ela se irritou. Quando o diretor disse que o que fiz custou muito prejuízo, como um prédio inteiro com materiais molhados e visitas desnecessárias da emergência, mamãe continuou pressionando a mesma tecla de que, se alguém estivesse lá para proteger eu e meu amigo do valentão, nada disso teria acontecido.

Aquela discussão durou mais tempo do que eu pude contar. Depois de muito tempo perdido em devaneios e arrependimentos, eu pude me encontrar ao escutar quando o diretor proferiu as seguintes palavras:

— Eu vou suspender Jeongguk das aulas por duas semanas, então.

Eu me mexi na cadeira.

— Não vou ser expulso? — perguntei, mas nem um dos dois me respondeu.

— Eu quero que ele vá ao acampamento também, Sr. Yoon-Soek — mamãe disse, me fazendo olhá-la, exaltado.

— Creio que não será possível.

— Será, sim. A autorização já foi feita e ele já tem um lugar no ônibus! — ela disse. — Ele vai! Porque tanto eu quanto você sabemos que essa situação é culpa da administração da sua escola, e não do meu filho.

Ela parecia muito furiosa. Eu fiquei quieto, trêmulo, e nervoso com o que o diretor teria a dizer. Mas ele apenas respirou fundo e balançou a cabeça, se levantando.

— Vou discutir com o conselho e te retorno na semana que vem.

— Pode deixar que eu venho pessoalmente falar com cada pessoa do conselho se considerarem não deixar Jungkook participar disso — mamãe disse, puxando-me pela mão. — Boa tarde, Sr. Yoon-Soek.

E ela me puxou mais, até enfim, estarmos fora da sala dele.

— Mamãe, eu… — comecei, a fitando.

— Em casa vamos conversar, Jeongguk. — E como se não tivesse me defendido com unhas e dentes, mamãe me cortou.

Foi quando eu percebi que Jimin e sua mãe também estavam ali. Eu tentei falar com ele, mas minha mãe não deixou. Ela apenas cumprimentou Leonor brevemente, enquanto eu olhava nos olhos de Jimin, que parecia tão ansioso para falar comigo quanto. Mas ele ficou. E eu fui embora.

Sendo arrastado pela minha mãe até o estacionamento, eu fiquei pensando sem parar em Jimin e no quanto eu queria me explicar para ele... mas eu não pude.

Me afogando em ansiedade, eu entrei no veículo com minha mãe e assisti a escola desaparecer pela janela do carro lentamente quando ela acelerou. E quando ela sumiu, a ficha finalmente caiu. 

Eu, Jeon Jungkook, ficarei longe da escola por duas semanas.


Notas Finais


Muito boa noite!

Primeiramente, um recadinho pra quem fez o ENEM: O seu máximo, é o seu melhor! Vai dar tudo certo pra você, independente de como você foi nessa prova. Espero que tenha feito uma boa avaliação (apesar de ser sempre chato quando o assunto é o ENEM ou avaliações no geral), e saiba que estou torcendo por você... espero que essa att possa ter deixado você entretida e/ou feliz depois de toda a pressão pela qual você passou 💜

Segundamente...AISSHKASBWKNSWKWKJW <- essa foi a minha reação ao escrever uma TRETA em EECR!

AAAAAAAA!

Genteeeee, sim, o Idiota Kim é um viadinho! Um verdadeiro clichê, né? Mas eu amei revelar pra vocês o porquê dele ser tão fixado no nosso Jiminzinho (apaixonado de um jeito tóxico). Ele vai sumir da vista de vocês, leitores, por agora... mas podem ter CERTEZA de que ele vai sofrer as consequências pelo o que fez com o Jimin (nessa situação)!

E... bem, eu queria explicar também o porquê de eu ter demorado tanto pra atualizar. Acho que a maioria de vocês que me acompanha pelo Twitter, ou no grupo de leitores ou aqui mesmo no quadro do wattpad, sabe que eu fiquei sem computador por um tempão. E sabe eu perdi o jeito quando o assunto é escrever pelo celular, então nem deu pra produzir um conteúdo bom pra vocês... PORÉM! Graças a Deus, agora, eu tô com um pczinho~ espero poder atualizar bastante pra vocês até o fim do ano 💜 muito obrigada pela paciência e compreensão! Vocês são como Rheya pra mim 🥺🥰💝💕

Bom, agora eu realmente fico por aqui! Me digam o que acharam desses acontecimentos e dessa atualização ENORME! Quero saber qual foi a parte favorita de vocês, se ficaram surpresos, tensos, irritados... enfim, me contem tudinho!!!

Beijinhosss~~


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