História Ele é o Diabo - Ele é irritante!

Era apenas mais um dia comum na minha vida, tudo ia bem, eu já tinha feito minha oração ao senhor do submundo antes de sair de casa, pedindo por proteção contra meus inimigos do presente e possivelmente do futuro, que o professor de educação física sofresse um pequeno acidente se impossibilitando de comparecer para as aulas, e que ninguém notasse minha presença na escola, coisas básicas do dia a dia que se pede em uma oração matinal.

Não é fácil sobreviver ao ensino médio, ser adolescente não é bom, você não tem auto estima, espinhas são suas únicas amigas e a vontade de sair batendo em todo mundo é gigante, a cada 10 pessoas na minha classe, eu quero socar a cara de 11 e cometer um crime de ódio em 13, não tem benefício algum, só decepção.

Bem, nem tudo estava indo tão mal assim... Estava bem até demais para ser verdade e eu confesso que estava chegando a estranhar, Baekhyun e Chanyeol estavam milagrosamente quietos ao meu lado e não fofocando igual duas tias futriquentas e isso meus queridos não era coisa de Deus e muito menos do tio Luci, mas eu decidi não falar nada e ficar na minha, porque não tem coisa melhor que o silêncio.

Só que quando a esmola é demais, desconfie. E esse dia foi cheio de desconfiança, admito que tive um pouco de medo dos meus inimigos antigos estarem tramando algo contra mim, mas era algo pior, muito pior, tinha nome e sobrenome, pele bronzeada, lábios grossos e um sorriso... Um sorriso diabólico! E nem é no sentido bom da palavra!

Foi a primeira vez que Kim Jongin apareceu na minha frente, e então eu consegui entender o porquê da dupla de beagles estavar tão quietinhos e domesticados. Jongin era o encrenqueiro do terceiro ano, assim como foi em todos os anos passados, ele simplesmente batia em todo mundo e se pergunta-se a ele o porquê, ele te bateria porque você perguntou, e eu só sei dessas coisas porque um dos meus lacaios irritantes tem a boca de sacola, sai fofocando pela escola e acha que meu ouvido é penico para falar tanta merda sobre a vida dos outros e esquecer de cuidar da dele.

Graças a minha pessoa e ao tio Luci por enconder minha presença, esse coiso nunca encostou o dedo em mim, mas alí estava ele na minha frente, atrapalhando minha visão da garota que caiu no meio do refeitório e estava toda melecada com a gororoba do dia, quis rir, e foi isso que eu fiz. Só que comecei a me irritar quando o poste não saía da minha frente, eu sabia que era invisível para certas pessoas, mas estranhamente o moreno não parecia querer se mover e deixar eu me deliciar com a desgraça alheia.

Infelizmente não tem como tudo sair como queremos, o farofeiro continuou na minha frente, consegui ouvir Chanyeol cochichar para o Baekhyun algum tipo de "fudeu"na giria de nerds dos dois, e eu só não sabia se tinha fodido pra mim ou pra o Jongin... Com toda certeza fodeu pra ele.

- Sai. - Eu não costumo falar muito, Chanyeol por exemplo, só ouviu minha voz no ano passado e ele me segue por aí com o Baekhyun tem uns 4 anos ... Eu sempre quero alguma coisa, e no momento eu só queria que o enviado do cara lá de cima saísse do meu campo de visão e deixasse eu me deliciar com o mico alheio.

- Olha... Ele fala! - Revirei os olhos com o tom de voz usado pelo energúmeno, ele estava sendo sarcástico comigo, e eu não gosto disso. - Hey pequeno, não vai olhar pra mim? Tô falando contigo!

Ele teve a audácia de me chamar de pequeno, meu sangue ferveu de uma maneira intensa, eu não tenho culpa se meus centímetros foram substituídos por maldade!

Olhei para a criatura abusada e ridiculamente alta demais, e quase caí para trás se não estivesse sentado. O garoto parecia aquele vampiro gay do crepúsculo, brilhava demais, mas algo alí era maligno e eu meio que gostei... Não sei talvez meus divertidamente sejam bipolares.

- Sai. - Bom, ser educado talvez fosse funcionar, mas é claro que não funcionou, não sei o que deu nesse garoto para me ver em plena luz do dia, vir falar comigo e ser tão audacioso ao ponto de tentar me ofender ao me chamar de pequeno. - Não vou falar outra vez.

Agora eu já estava de pé, e mesmo que nossas alturas não tivessem mudado muita coisa de quando eu estava sentado (tipo uns 3 centímetros) eu estava impondo minha aura das trevas e como sempre, funcionou, ele deu um passo para trás me dando espaço para ir embora.

Não quis olhar para trás enquanto me retirava daquele refeitório que fedia a adolescentes na puberdade, comida ruim e gente feia, estava me sufocando, eu podia sentir o olhar daquelas pessoas que não tinham nada de melhor para fazer, também não ouvi a voz do Baekhyun, nem muito menos o irritante do Chanyeol.

O palhaço continuou parado me olhando, mas graças ao tio Luci nada aconteceu e eu pude ir embora sem mais complicações.

Que se dane os dois!

E naquele dia, eu descobri que Kim Jongin só estava começando com seu plano de fazer minha vida um inferno, e não é no sentido bom da palavra.

•••

Eu estava tentando seguir minha vida normalmente depois daquele dia, mas fácil não estava sendo. Todos os dias eu enfiava uma agulha no coração do bonequinho que eu fiz do moleque irritante e orava para o tio Luci fazer esse garoto esquecer minha existência maléfica, mas parece que a cada agulha mais grudento ele ficava.

Poderia até ser suportável ficar perto dele, porque ao menos antes, o moreno tinha uma aura obscura, colocava medo em todo mundo, era mau, e eu até gostava um pouco disso, uma vez até pensei que poderíamos ser amigos.

Mas eu já tenho muitos amigos, esses que não eram Chanyeol e Baekhyun, não confunda as coisas, meus amigos sou eu e o tio Luci.

Eu deveria estar um pouco louco quando pensei que poderia ser amigo de um ser desprezível como Kim Jongin, ele era irritante demais, grudento demais, falava demais, e o que mais me irritava é que perto de mim o coiso era todo inocente e meigo, odeio esse tipo de gente, vem todo fofinho cheio de aegyo pra cima de mim.

Nesse dia eu bati nele.

Mas foi por justa causa, ele me deu um apelido (um dos muitos) escroto. Eu poderia ser chamado de SatanSoo, Corujinha encapetada, pinguim satânico, entre outros, mas Kyunggie, Kyunnie, Soo-Soo, e principalmente bombonzinho... Foi a gota de água que eu não tomo, para dar tudo errado e eu me estressar. Já estávamos nisso a uma semana e todo dia o garoto chegava em mim com um apelido diferente, não consegui me conter e esmurrei o rosto bonitinho dele.

Foi engraçado ver ele me olhando incrédulo com a mão na frente do nariz sangrando, naquele momento eu senti que o verdadeiro Jongin estava vindo, aquele moleque endemoniado de antes, mas nem três segundos de indignação foram o suficiente e logo ele começou a rir de mim, e o que antes era só um "Eu gosto de você" virou algo que me fez ter vontade de me converter e ser evangélico.

- Você foi o primeiro garoto a me bater... Vamos ficar juntos!

Acho que bati com muita força e o cérebro dele desceu pela garganta, não podia ser real! Não é possível! Com toda minha soberania de senhor das trevas, novamente me retirei do local e deixei as pessoas pra trás. Tudo que eu conseguia pensar era em invocar um demônio e mandar ele ir atrás do Jongin, só que não iria funcionar, todos que eu mandei nunca voltaram.

Estranho.

•••

Já faziam exatos 13 dias desde que o marginal do colégio tinha começado a me seguir para todos os lados como um cachorrinho adestrado, ele ficava quieto na maioria das vezes, mas se já não bastasse ter o menino problema colado em mim, sua trupe de porra louquinhas grudaram em mim também. Como diria Byun Baekhyun.

Me emputeci.

As duas primeiras aulas de hoje seriam de educação física, e com minha oração já feita, só fui pra biblioteca ler algum livro na sessão de ocultismo, estava indo tudo bem, tudo maravilhoso, Jongin era um dos atletas da escola, ele não poderia ficar me seguindo durante os 80 minutos de lazer que eu teria.

Deitado em umas almofadas que jaziam no sofá no fim do corredor, comecei a folhear meu livro sobre as bruxas na idade média, achei um absurdo terem queimado pessoas tão extraordinárias, como seria o mundo cheio de bruxos? Seria um mundo bem melhor, com toda certeza...

Desfrutar dos livros da sessão de ocultismo era um dos meus passatempos favoritos, claro que dormir está em primeiro lugar! Em segundo fazer minhas orações e tentar envocar seres das trevas, em terceiro vem o aprendizado sobre as coisas importantes para que eu seja um ser mais maligno do que já sou.

- Sabia que estaria aqui. - Aquela voz... - Você parece um ratinho se escondendo no meio dessas almofadas. - Olhei para o moreno que caminhava em minha direção, respirei fundo antes de fingir que ele era uma alucinação da minha cabeça como todas as outras e simplesmente evaporar da terra. - Não faz isso comigo bebê, seja um bom donsaeng e fale com seu hyung. - Mas nem por cima do cadáver dele que o chamaria de hyung.

- Não tenho culpa se você reprovou o terceiro ano duas vezes. - Não aguentei, tive que passar na cara dele que ele era burro.

Ele ficou calado por uns segundos e eu até quis olhar para ele pelo silêncio repentino. - Olha aí, não é tão difícil falar comigo, é? - Novamente o sorriso estava em seus lábios, e eu nem preciso tirar meus olhos do livro para saber desse detalhe. - Dá espaço para eu sentar ai também, bebê.

Tem certas coisas na vida que nós conseguimos aguentar, mas Jongin estava começando a me fazer odiá-lo, me chamar de bebê duas vezes no mesmo dia, já era passar dos limites do limite que eu impus mesmo que não tenha dito sobre limite algum.

Mesmo que eu não tenha me movido um centímetro se quer para o filhote de urubu se sentar perto de mim, impondo claramente que ele NÃO podeia sentar comigo, alí estava ele, colado a minha pessoa, querendo ou fingindo ler o que eu estava lendo, em minha cabeça coisas diabólicas passavam, algo como uma faca passando pelo pescoço bonitinho dele ou essa mesma faca enfiada em sua testa.

- Você fica ainda mais bonito com essa carinha de quem está pensando demais. - Não sei exatamente que cara ele pensa que eu estava fazendo, mas parecia ser hilária, porque ele estava com a aquele sorriso debochado de volta.

Novamente fingi estar sozinho, mesmo que tivesse uma garoto com quase dois metros de altura grudado em mim dando palpites sobre os acontecimentos do livro, e isso estava sendo ainda mais irritante do que normalmente é, porque ele estava perto demais, era tudo demais, desde seu rosto perto do meu pescoço, seu braço ao redor da minha cintura e seu corpo tão colado ao meu.

Desgruda carrapato!

Se eu fosse claustrofóbico, estaria morto por falta de espaço pessoal, se dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, Jongin com toda certeza do universo não sabe disso. Sabe o pior de tudo isso? Sua voz estava baixinha e rouca, como se estivesse tentando me seduzir, e isso foi o fim.

- Vou te dar três segundos para se afastar de mim. - Com toda calma que eu nunca tive, pedi educadamente. - Ou eu vou enfiar meus dedos no seus olhos e cutucar no seu cérebro com eles até você morrer.

- Já disse que você fica cada vez mais fofo? Todo defensivo... Eu gosto disso! - Sua felicidade me irritava, bufei contando até dez mentalmente, pensando no que fazer.

Talvez se eu apenas bater na cabeça dele com esse livro não lhe mate, mas seja o suficiente para que fique apagado por algumas horas.

Enquanto eu pensava em modos diferente para dar um jeito no garoto moreno, esse que deveria estar do meu lado, mas que do nada sumiu, ou eu achava ter sumido.

Ele só tinha levantado para atender o celular, que eu nem escutei tocar em algum momento, talvez estivesse no modo não perturbe como o meu também fica, mas nesse modo não tem como saber que estão te ligando, por isso eu sempre perco as chamadas do Baekhyun...

Okay, quando eu vejo que ele está me ligando, eu desligo.

Mas isso é outra coisa.

Fiquei satisfeito com meu espaço pessoal de volta e novamente retomei minha leitura de onde havia parado, só que eu não conseguia me concentrar, claro que eu não queria saber com quem Jongin tanto falava pelo celular, mas em algum momento da conversa "animada" que ele estava tendo, o garoto simplesmente saiu da biblioteca e olha, eu ficaria feliz, ficaria sim, mas geralmente ele viria ser grudento e dizer que teria de ir embora, não é que esteja me acostumando com o carrapato, é questão de educação!

Mas como eu já disse antes, quando a esmola é demais, desconfie.

De fato o garoto chiclete evaporou, quando o sinal tocou e a terceira aula começou diferente do que eu imaginei, ele não veio me irritar e realmente sumiu... Até pensei que logo brotaria do chão e seria todo chiclete como vinha sendo durante essas duas semanas, só que eu não esperava por isso e não vou dizer que não gostei, porque eu gostei sim.

Foi ótimo, foi maravilhoso, foi perfeito, sensacional!

•••

Quando o sinal tocou avisando que a última aula estava no fim, eu ainda estava perdido em pensamentos, mesmo que eu tentasse pensar no garoto problema, eu ainda assim pensava nele e isso é irritante!

Fiquei o tempo todo pensando no que teria acontecido para que o moreno saísse da biblioteca sem ao menos avisar, talvez sua mãe tenha infartado durante a ligação, mas nada me garante que ele estava falando com a mãe... Talvez tenha sido o pai, o homem devia estar animado falando com o filho, mas estava andando sem olhar para os lados e foi atropelado por um caminhão, mas também ninguém me garante que ele estava conversando com o pai dele.

Talvez fosse a irmã, ela estava secando o cabelo ai esqueceu o secador ligado, ligou para o irmão durante o banho de banheira e sem querer o secador caiu na água, mas eu também não estou muito certo dessa suposição, pode ter sido qualquer coisa, Jongin é estranho, gente estranha faz coisa estranha, está na genética estranha deles.

- Soo, você me ouviu? - Olhei para Baekhyun que parecia impaciente, ele sempre estava perdendo a paciência, nada novo. - Você não escutou, ultimamente você não me escuta.

- Estava pensando em coisas importantes. - Claro que Jongin não é importante para mim, mas Baekhyun não precisa saber disso. - O que foi? - Como sou muito educado, vou tentar ser um colega legal.

- Poxa Soo, você é meu melhor amigo! Mas as vezes acho que você nem gosta de mim...

- Não gosto. - Mentir é feio, e eu não gosto de mentiras, não sei de onde o Baekhyun tirou que somos melhores amigos, o conhecer a mais de 10 anos não nos faz melhores amigos. - O que foi? - Repeti a pergunta para ver se o garoto me deixava ir embora de uma vez.

- Você está me trocando pelo Jongin! - Agora ele deu pra alucinar. - Não me olhe assim! Eu estou percebendo que vocês dois estão colados demais, você está me trocando, na minha frente, na minha presença, na frente dos meus olhos, poxa cara, eu te amo tanto, me troca não.

- Você só pode estar brincando. - Respirei fundo fechando os olhos e contando até dez, coisa mais ridícula, nunca, jamais eu seria amigo de um ser tão brilhante e grudento como Kim Jongin. - Pare de pensar besteira, eu não sou amigo de ninguém.

- Ai que bom! Achei que estivesse sendo trocado. - O filhotinho agarrou em meu braço todo feliz e serelepe, e só porque estávamos apenas nós dois na sala, eu também sorri. - Você é tão fofinho quando sorri.

Ai o sorriso morreu.

•••

No dia seguinte as coisas estavam em seus devidos lugares, Baekhyun estava sendo irritante junto a Chanyeol, os alunos estavam sendo irritantes como sempre foram, as tias da cantina estavam de mau humor como de praxe e eu estava achando tudo aquilo normal demais. Ultimamente eu venho pensando muito assim, até porquê, Kim Jongin apareceu na minha vida sombria e trevosa.

Meu filho, você não venha querer colocar um sol e uma arco íris aqui não, que de colorido já basta o Baekhyun.

Sentei na minha cadeira de sempre (tinha até meu nome nela com caneta permanente) e abri um livro novo que encontrei escondido na última prateleira da sessão de ocultismo da biblioteca, nem sei porque estava tão escondido, é até um livro educativo e legal, "Invocações e feitiços" o nome dele.

- Olha Soo... É o seu amiguinho... - Baekhyun disse, com um bico nos lábios e uma voz de deboche, nem liguei para isso, mas fiquei curioso.

Talvez alguma coisa tivesse acontecido com o moleque chiclete, todos da sala estavam olhando para um ponto específico, esse ponto era bronzeado, tinha os cabelos rosas e se chama Jongin.

Deixando passar o cabelo rosa, porque até ontem ele tinha os fios em um preto tão escuro quanto minha alma, vamos focar em uma coisa que ele me disse na primeira semana que nos conhecemos formalmente.

"Você foi o primeiro garoto que me bateu... Vamos ficar juntos!" foi o que ele disse.

Então, se vamos ficar juntos, porquê tem uma garota com a cara de porta fazendo cosplay daquele garoto lá, o Sehun, segurando a mão do carrapato que disse que EU e ELE iriamos ficar juntos?

- Olha lá Baek!

- Quem é ela Chan?

Isso Chanyeol, quem é ela? Só preciso do nome...

- Ela é a noiva do Jongin, Jung Krystal.

Ótimo.