História Ele é o Diabo - Ele me assusta

•••

- Talvez você devesse dormir mais. - Abri os olhos e me assustei um pouco tendo o rosto do Jongin tão perto ao meu, não que eu já não estivesse acostumado com esse tipo de coisa que ele faz todo dia, mas mesmo assim eu sempre me surpreendo, esquecendo que ele gosta de fazer esse tipo de coisa. - Há que horas você dormiu ontem? - Não poderia lhe dizer que meu sono durou algumas horas... Três... Quatro no máximo. - Quando eu cheguei você estava no escritório.

- Não vamos falar sobre isso. - Esses dias eu ando ocupado demais, meu trabalho exige muito de mim mesmo que maioria das pessoas dizem ser algo fácil e que qualquer um consegue fazer, mas esse trabalho fácil não é bem assim, exige muito em todas as áreas principalmente a física e psicológica. Jongin vive me dizendo para descansar e procurar outro trabalho, mas como eu vou sair de algo que eu gosto mesmo que não me faça tão bem quanto antes? - O que acha de irmos almoçar em um lugar diferente?

- Eu acho uma ótima ideia. - O sorriso que o moreno me presenteou era lindo, mesmo que todos os sorrisos dele sejam lindos, sem desmerecer nenhum, até os sorrisos mais tristes são lindos, Jongin tem algo de especial e se eu pudesse dizer o que é, diria que é o seu sorriso. - Então, agora você vai dormir mais um pouco e quando for a hora eu te acordo. - Fechei os olhos novamente e respirei fundo tentando dormir novamente.

Quando voltei a abrir os olhos já estava tudo um pouco escuro, xinguei Jongin de alguns nomes não muito bonitos, o que custava me acordar duas horas depois do meu cochilo? Agora que eu realmente não vou conseguir dormir de noite! Deixando isso de lado me levantei da cama ainda meio rabugento, senti o cheiro de comida sendo feita e fui seguindo o cheirinho gostoso. Durante meu caminho não tão curto até a cozinha, parei por um momento no corredor e fiquei observando as paredes cheias de fotos minhas e de Jongin - coisa que ele pegou do Park ficar tirando foto de tudo -, eram milhares delas e eu particularmente gosto de todas aquelas que apenas tinha o moreno e seu sorriso, acho que pelo fato de não gostar de fotos foi fazendo com que as "nossas" fotos fossem preenchidas apenas por Jongin, eu sei que isso o deixa triste, mas eu não posso fazer muita coisa sobre isso.

Olhei para o cantinho da parede a minha esquerda e sorri ao ter a lembrança daquele dia, Jongin estava me ensinando a andar de bicicleta, foi vergonhoso demais! Eu tinha 24 anos, velho demais para andar de bicicleta, mas Jongin sorria para mim e dizia que eu estava indo bem, no fim fomos parar no hospital por eu ter torcido o tornozelo e braço, naquele dia eu descobri duas coisas; Jongin podia conseguir tudo de mim apenas sorrindo e que andar de bicicleta definitivamente não é pra mim.

- Eu fiz almôndegas e macarrão. - Me levantei assustado ao ouvir a voz do moreno tão perto do meu ouvido, olhei para ele meio desnorteado e um norte, mas me recuperei rápido levantando do chão. - Eu te assustei amor? Me desculpa... - O safado estava rindo da minha cara, bati em seu ombro e continuei meu percurso até a cozinha. - E me desculpe por não ter te acordado, eu estava procurando uma receita pra fazer, uma que você fosse realmente comer e não apenas fingir que comeu. - Fiz uma careta ao escutar aquilo, mas Jongin tem toda razão, por isso sentei na cadeira e esperei o moreno terminar o que fazia antes.

Com o tempo meu trabalho me consumiu, Jongin nunca reclamou disso, sei que estou em falta sobre vários pontos do nosso relacionamento que sinceramente eu acho estar ficando desgastado... Meio batido, mas Jongin diz que é coisa da minha cabeça e continuamos juntos, eu tenho medo de perder o meu moreno, mas se ele quiser ir embora, não vou poder o impedir de fazer tal coisa, não posso o prender pra mim. - Está pensando na morte de quem? - Olhei para o moreno e ele sorria pra mim, me arrancando um sorriso também. - Como andam as coisas? Acha que consegue terminar tudo no prazo que te deram?

- Não sei... O Baek está feliz com o livro, mas o Chanyeol... - Respirei fundo antes de continuar o que iria falar, ainda é meio complicado pra mim pensar sobre os meus amigos, depois que eu entrei tão fundo na história deles, antes eu era apenas um telespectador e um amigo para todas as horas, eu ainda sou um amigo, mas infelizmente um amigo ocupado demais se lamentando com sua falta de criatividade. - O Chanyeol não gostou da ideia, e sempre que falamos sobre isso ele diz que não quer. - Baguncei meus cabelos já tão bagunçados quanto minha cabeça. - O problema é que eu estou à dois meses nessa cena e não consigo terminar!

- Calma amor, olha... - Quando se tem um "olha" na frase já se sabe que não é algo bom ou muito menos aproveitável de alguma forma. - O Chan só está com medo, porque não é o nome dele ou do Baekhyun que vão a mídia como o "casal gay e ainda por cima principal" e sim com nós dois, ele está preocupado pelo fato de você estar escrevendo um livro sobre a história deles, mas com os nossos nomes sendo que você nunca revelou seu nome... Aish! Eu fiquei perdido, você entendeu.

Claro que entendi, desde que eu conheço o Baek que eu queria fazer um livro sobre ele, contar sobre sua TDI e tentar fazer as pessoas entenderem o que realmente entre algumas aspas o que se passa com uma pessoa sobre múltiplas personalidades, mas então Chanyeol apareceu e mudou drasticamente tudo o que eu estava rabiscando em meu caderno, ele apareceu com sua perda de memória recente e novamente eu comecei a me interessar em fazer as pessoas conhecerem mais sobre esse tipo de "condição". Meus livros eram mais baseados em romances água com açúcar, lançar meus sete livros durante o colegial me ajudou a ser o que sou hoje, e depois de quase 20 anos o Baek me permitiu publicar o livro sobre ele e o Chanyeol, claro que fantasiando um pouco esse livro não é uma "auto biografia fiel", ou como as pessoas irão conhecer "sobre o Jongin e o KyungSoo". O problema principal nem é o Chanyeol com medo de que meu nome e o do Jongin sejam públicos pelo livro que milhares de pessoas estão esperando a anos, mas o grande problema é que eu não sei o que escrever para terminar todo o enredo, mesmo tendo meus rascunhos, entrevistas com o Baek e até com o próprio Chanyeol, ainda não é o suficiente, algo falta.

- Onde foi que eu me perdi Jongin? - Enconstei meu rosto no teclado do notebook em pura desistência. - Como descomplicar isso? Eu juro que tentei passar um pouco da realidade, deixar as coisas leves no começo, para no fim jogar a bomba, mas parece que eu me empolguei tanto que esqueci o real motivo de estar escrevendo. - Olhei para Jongin e o mais alto parecia tão confuso quanto eu... Tão fodidamente lindo.

- Onde parou? - Me ajeitei na cadeira e o chamei para sentar no meu colo, enquanto ele sentava abri a pasta onde estava tudo que escrevi até agora, coloquei onde parei e o esperei ler as últimas frases para falar algo. - Isso é quando o Baek desmaiou? - Fiz que sim com a cabeça e o moreno voltou a ler. - Você deveria escrever o que aconteceu sabe? Talvez fazer isso dê uma descomplicada a sua situação, ao menos sabemos que no final desse livro ninguém vai morrer... Né?

- Seu idiota... - Revirei os olhos sorrindo contido, claro que ninguém iria morrer, era a estória do meu melhor amigo alí, não iria o matar, Deus que me livre. - Não vou matar ninguém Jongin, agora sai do meu colo que você é pesado.

- Falou o senhor leve como pena. - O moreno fez um biquinho fofo demais para alguém da sua idade e saiu de cima das minhas pernas, fiquei o observando saí do meu escritório e finalmente voltei a digitar com minha inspiração renovada.

•••

Na minha cabeça tem um uma espécie de mundo, um espaço onde todos ficam, onde eu fico quando alguém assume o controle ou quando fico inconsciente de alguma maneira, no momento me encontro nesse lugar, chuto que talvez seja pelo acidente, mas eu nem sei o que realmente aconteceu.

Fora que da última vez que estive aqui as coisas não foram muito bem.

Eu conseguia ouvir vozes dos adultos e crianças falando várias coisas ao mesmo tempo, geralmente isso não acontece porque cada um sempre está fazendo algo diferente ou apenas descansado em algum lugar, isso quando querem sair por estarem no tédio, algum gatilho os puxa ou... Proteção pra algo que eu não possa me defender.

Está faltando a voz dele.

- Ele voltou. 

- Estou vendo. - Eles começaram a se aproximar de mim.

- É um inútil, quase nos matou.

- Não fale assim dele.

- Deixe o garoto em paz, vocês sabem que ele é o mais sensível entre todos nós.

- Ele é o mais idiota isso sim.

- Quieto! Vai acordar o Sung.

- Eu só quero ver no que nisso vai dar.

- Você só quer ver o circo pegar fogo Jun, seu idiota.

- Isso mesmo, Areun.

- Podem fazer um pouco de silêncio. - Perguntei um pouco baixo, mas alto o suficiente para que todos calassem a boca e olhassem para mim. - Por que eu estou aqui? - Olhei ao redor procurando por "ele". - Cadê ele?

- Eu não sei, você sabe que ele não gosta de se misturar muito com a gente.

- Certo... - Como eu voltaria? não posso ficar aqui nesse momento, enquanto eu estou aqui ele pode estar lá fora fazendo algo ou dizendo coisas ruins para o Jongin, meu pai e meus amigos. - Vocês não o viram em lugar algum? Por favor me digam a verdade, eu sei que não somos amigos e que eu usei vocês como escapatória, eu sou covarde, eu tenho medo, e sou um idiota, mas por favor não deixem que ele machuque as pessoas mais importantes para mim... Seunghee, você gosta do Baek, mas e se ele fizer mal ao nosso BaeBae? Areun você não disse que o papai é o melhor pai do mundo? Você sabe o que ele pode fazer com o nosso papai?

- Soo...

- Só me digam que ele está aqui. - Implorei mais uma vez e vi cada um deles abaixarem o olhar como se fossem culpados de algo. - Ele está no comando agora não é?

- Talvez você possa voltar, mas só quando ele quiser sair, alguém com coragem o chamar ou ficar como co piloto, você sabe que é assim que funciona, ele é um adulto.

Balancei a cabeça em afirmativo com uma vontade imensa de chorar, eu não sei bem ao certo mas quando estava tendo uma dissociação antes do acidente eu pude sentir que alguém estava ficando no meu lugar e posso jurar que ouvi essa pessoa dizer que iria concertar tudo.

O que estaria acontecendo do lado de fora? O que ele poderia fazer só pra concertar tudo ao modo dele?

- Você está triste? - Uma das crianças segurou minha mão me fazendo abaixar para ficarmos na mesma altura. - Me desculpa, eu queria tomar sorvete. - Olhei para a garotinha por uns segundos antes de a pegar no colo.

- Tudo bem, mas é "ele" que está lá fora agora? - Ela demorou um pouco pra responder como se não quisesse falar sobre isso e mudou de assunto. - O Sang gosta do Jun você sabia?

Respirei fundo de modo frustado, pelo visto eu não vou conseguir voltar tão cedo. - Eu não sabia.

•••

- Soo? - Era a voz do Baek. - Você está ai? - Abri os olhos ao ouvir sua voz quebrada e o fungar do seu nariz, finalmente voltando.

- Por que está chorando? - Minha garganta arranhou quando perguntei aquilo, mas fui surpreendido por um abraço repentino, logo minha cabeça pensou em mil e uma coisas, se eu estou aqui é porque "ele" havia "consertado" o que veio fazer aqui fora, Baekhyun se afastou de mim fazendo milhares de perguntas, mas nenhuma delas me davam pistas do que havia acontecido enquanto eu não estava, as memórias não me haviam sido compartilhadas, ele não queria que eu soubesse do que aconteceu. - Baekhyun cadê o Jongin? - Vi os olhos do meu melhor amigo se arregalarem e isso só deixou meu coração mais afoito. - O que aconteceu Baekhyun?! - Minha voz subiu uns decibéis a mais e eu não podia estar mais desesperado.

- O Jongin... Ele... - Sua falta de palavras estava me agonizando, logo havia acontecido com o Jongin, tentei levantar da cama mas algo me atrapalhou. - Você quebrou a perna Soo, não pode se mexer!

- Me diz onde está o Jongin. - Tentei mais uma vez e quando vi que o Baek não iria me responder bufei alto irritado com tudo aquilo. - Que droga.

- Me desculpe Soo eu não queria te dizer isso... Mas você fica realmente muito fofo todo preocupado com o Jongin. - Olhei para a pessoa que eu considerava ser meu melhor amigo rindo da minha cara. - Pode sair daí Jongin.

- Já? Você filmou? - Vi Jongin saindo de trás da porta do banheiro e fitei o moreno indignado.

- Filmei tudinho, depois te passo pelo PV do Line, agora explica tudo para o Soo. - Dito isso ele se levantou e foi embora com um Chanyeol que eu nem reparei que estava alí, fiquei olhando para porta ainda embasbacado e cheio de perguntas a serem feitas e antes que eu pudesse perguntar algo senti os lábios macios do moreno contra os meus em um selar demorado.

- Me desculpe pela brincadeira, mas a culpa é toda do Baek. - Fechei os olhos me sentindo mais aliviado ouvindo o que o mais velho falava. - Eu estive aqui todo esse tempo com você, desde o acidente até agora, eu estava assistindo "Marley e eu" com o Chanyeol e o Baekhyun começou a chorar, eu fui no banheiro, você acordou e bom, o resto você já sabe.

- Eu deveria te bater. - Abracei sua cintura enquanto fiquei sentindo seus dedos fazerem um carinho gostoso na minha nuca. - Aconteceu alguma coisa enquanto eu não estava aqui?

- Não, você só ficou dormindo, aí acordou ficando um bom tempo deitado olhando para o teto e resmungando, então você voltou a dormir e acordou agora. - Então ele só queria me assustar...

Esses infelizes!

- Eu estou feliz por ter voltado Soo, eu pensei que nunca ficaríamos juntos, e quando finalmente tudo estava dando certo você quase morreu na minha frente. - Ele se afastou um pouco para olhar em meus olhos. - Eu sei que você já sabe, mas eu vou repetir sempre que puder, eu te amo.

- Eu sei disso. - Sorri ao ver sua careta. - E eu sei que você já sabe, mas eu também te amo. - Posso sentir minhas bochechas pegando fogo. - Isso é constrangedor.

- E o Chanyeol gravou tudo.

- Kim Jongin, mande ele apagar isso agora! - Até tentei pegar o celular mas o gesso me impedia de movimentar a perna consequentemente me fazendo ficar apenas sentado com os braços esticados.

Eu não sei realmente o que aconteceu, mas depois de alguns dias eu vim a entender, "ele" queria me dar uma lição, ele disse que queria me assustar e se vingar pelo que eu estava fazendo mas não naquele momento, daquela forma, ele me disse que o acidente não foi proposital e que estava tentando trazer uma das crianças de volta e por um momento ninguém ficou no controle e o acidente aconteceu, eu quero acreditar nele até porquê uma dessas crianças me contou sobre o sorvete, então eu quero acreditar no KyungSoo das trevas, eu realmente aprendi minha lição, me arrependo muito de ter feito o que fiz com os outros e planejo me desculpar o quanto antes.

Mas não sabia como e nem quando.

Algum tempo depois um acordo mútuo foi feito entre todos nós, todos teriam seu lugar no sol, todos iriam sair ao menos uma vez na semana... Tinham aqueles que preferiam não sair também. Eu não achei que daria certo mas as coisas estavam caminhando para que aquilo fosse real, meu pai está me ajudando e tudo realmente parece estar em seu devido lugar.

Jongin ainda esquece de mim todas as vezes que abre os olhos pela manhã, mas eu sempre sou a primeira coisa que esses olhos escuros vêem quando abrem - menos nas quarta feiras a cada dois meses... O Sung faz caminhada de manhã - eu estou aqui com o Jongin o ajudando com tudo que precisasse, lhe mostrando todas as nossas lembranças, enxugando suas lágrimas, chorando consigo e o beijando com todo amor e carinho que eu tenho para dar.

Não haviam brigas entre nós dois, não temos tempo para isso, todos os dias são como páginas em branco prontas para que sejam escritas novamente e mesmo que todas as vezes Jongin não salve as histórias de nós dois eu ainda contínuo aqui firme e forte para o ajudar a escrever tudo novamente e fazer com nosso livro de uma página só seja escrito e reescrito todos os dias.

FIM.

•••

- Ficou muito bom Soo, complicado... Igualzinho a realidade. - Senti a boca do moreno beijar minha bochecha e o olhei enquanto sorria.

- Decidi não publicar ele, não agora, eu quero que o Baek leia e o Chanyeol também, quero que eles leiam com calma e digam se eu tenho que mudar ou acrescentar algo afinal, é a história deles. - Abri ainda mais o sorriso ao ver as expressões alheias. - Não me leve a mal, eu sei que passei um bom tempo escrevendo esse livro e que meu chefe vai comer meu fígado, mas não acho justo expor meus amigos desse jeito sem que eles vejam tudo antes sabe? - E eu também estava escrevendo outro livro junto a esse, sempre tenho um plano B.

- É uma escolha sua. Qual vai ser a próxima história? Tem uma em mente certo? - O moreno parecia um pouco preocupado sobre voltamos para a estaca zero novamente.

- Eu sempre tenho. - Falei convencido olhando para o Word aberto no meu computador.