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História Ele NÃO é o herói - Distância e Aproximação


Escrita por: vminpearl

Notas do Autor


hey, FINALMENTE voltei!

Acabei atrasando na postagem porque viajei e fiquei uns dias sem o notebook, mas agora estou de volta <3

Boa leitura!

Capítulo 5 - Distância e Aproximação


Fanfic / Fanfiction Ele NÃO é o herói - Distância e Aproximação

Taehyung estava confuso, o que era algo e tanto: ele geralmente tinha um raciocínio rápido, entendia as coisas com muita facilidade e tomava decisões com agilidade. Jeongguk geralmente era o lento da dupla, era péssimo para agir sobre pressão e quando ficava ansioso, simplesmente paralisava. Então, foi com grande surpresa que o Kim viu os papéis serem invertidos ao ser beijado pelo melhor amigo.

O beijo de Jeongguk pressionado no centro do seus lábios teve o mesmo efeito que um soco bem aplicado, pois o estudante de música teve a leve impressão de ser nocauteado quando finalmente processou o contato íntimo. A sensação era que ele havia sido empurrado para fora do próprio corpo e estava simplesmente flutuando, presenciando a cena  como um mero espectador da própria vida. 

Do beijo no qual estava envolvido.

Ainda conseguia escutar as pessoas que há pouco lhe perseguiam muito próximas, mas seus sentidos estavam tão bagunçados que ele não conseguia dizer com precisão se os passos estavam ali ou apenas próximos. Tudo que conseguia sentir com certeza era a pressão da boca de Jeongguk contra a sua começando a formigar. O mais novo suspirou impaciente, quebrando o selinho demorado por segundos suficiente para alcançar os braços moles de Taehyung e posicioná-los nos próprios ombros, apertando as mãos do melhor amigo com força em um gesto silencioso para que ele segurasse ali e, ao se voltar para o Kim novamente, puxou-o pela lapela do sobretudo e Taehyung simplesmente... foi. Tão leve e sem controle que tropeçou nos pés do Jeon. 

— D-desculpa — murmurou baixinho e Jeongguk não se deu o trabalho de responder; apenas inclinou a cabeça para a esquerda e largou o amigo, os dedos leves passando do sobretudo para peito, tocando a aranha gravada em alto relevo no uniforme, sentindo o peito subir fora de ritmo antes de continuar a trilhar o caminho para cima, subindo e subindo, parando na gola do pescoço, hesitando entre a pele quente e o uniforme que deveria, a todo custo, esconder das pessoas que o caçavam. 

Quando Jeongguk se aproximou mais uma vez, Taehyung acordou. Percebeu que aquela era a maneira que o mais novo encontrou de escondê-lo da entrada do beco, com o próprio corpo. Os adolescentes, por mais que fossem malucos a ponto de seguir o herói como se ele fosse uma verdadeira celebridade, não teriam coragem de interromper um contato entre dois homens para verificar se algum deles por acaso era quem estava procurando: eles certamente varreria o olhar pelo beco superficialmente e, ao ver o momento íntimo, desviaria o olhar e seguiria em frente com a procura. 

Foi só após entender todo o contexto daquele beijo que o mais velho finalmente agiu, processando o calor do amigo próximo, íntimo demais e retribuindo com fervor. As mãos apoiadas nos ombros firmes desceram pelas costas de Jeongguk até pararem na altura da cintura, apertando ali em busca de apoio. Jeongguk beijou-o em outro selinho demorado, a boca aberta na de Taehyung e recuando momentos depois. O Kim seguiu-o de perto, perseguindo seus lábios e tomando-os com os próprios lábios. Mal conteve o suspiro quando Jeongguk continuou ali, retribuindo o contato e a língua quente deslizando no seu lábio inferior. O herói repetiu o ato do mais novo e a boca aberta de Jeongguk permitiu que a língua de Taehyung deslizasse para dentro, acariciando e perseguindo a sua. O mais velho suspirou baixinho, subindo a mão esquerda até o pescoço do melhor amigo, imitando a maneira como ele mesmo era segurado, aprofundando o contato e brincando com os fios curtos na nuca de Jeongguk. 

Depois disso, eles se esqueceram de tudo mais que acontecia: Jeongguk não sabia dizer se as pessoas que momentos atrás estavam perseguindo o Homem-Aranha já havia ou não passado pelo beco, nem se o beijo parecia convincente para quem via de fora — embora, para ele, estivesse sendo muito, muito convincente. Só conseguia retribuir os toques de Taehyung, concentrado nas carícias que recebia em lugares tão bons: o cabelo da nuca, a cintura segurada com a pressão certa e a boca que massageava sua própria. 

Jeongguk enlaçou os braços ao redor do pescoço de Taehyung, mantendo-o tão perto quanto mais cedo, quando estava se preparando para ser erguido até a viga. Além do cheiro inebriante do outro, agora também conseguia sentir a respiração batendo contra sua bochecha, o osso proeminente da pelve pressionado contra o seu já que eles tinham a mesma altura. Jeongguk sempre achou confortável ter os mesmos exatos centímetros que  o melhor amigo porque aquilo permitia que eles dividissem roupas e sentiu o estômago embrulhar ao pensar que, além de ser ótimo para compartilhar roupas, as alturas equivalentes também era benéficas na hora de beijar: ele não precisava se inclinar para cima ou se fazer pequeno nos braços de Taehyung, bastava encurtar a distância entre os rostos que a boca macia do amigo estava ali, acessível.

Acessível, pensou Jeongguk enquanto retribuía o beijo com afinco, acompanhando os lábios do melhor amigo que aumentavam a pressão e o ritmo. Taehyung era sempre acessível: estava ao seu lado desde que se entendia por gente. Enfrentaram a escola, vestibular e agora a faculdade, juntos. Ele era acessível quando queria companhia para estudar, jogar ou simplesmente para ficar em casa sem fazer nada. Era acessível no local de trabalho, quando Jeongguk estava tendo um dia de merda e precisava de alguma distração; era acessível com sua risada gostosa, seu sorriso bonito e seu olhar marcante. 

Acessível, acessível, acessível.

Foi retirado dos próprios pensamentos perigosos quando sentiu uma pressão no lábio inferior e prendeu a respiração ao perceber que era simplesmente Taehyung mordiscando seu lábio inferior. O mais velho levou uma das mãos até seu rosto, o polegar que acariciava o osso do maxilar grudava um pouquinho na pele macia e Jeongguk riu, baixinho, ao perceber que eram os filamentos de aranha do amigo que, por mais que ele estivesse melhorando no domínio, ainda saia do controle quando ele estava em uma situação que lhe deixava nervoso.

A hipótese de Taehyung estar nervoso ao beijá-lo deixava o próprio Jeongguk nervoso. Com esse pensamento em mente, o mais novo se afastou vagarosamente, virando o rosto para o lado e o próximo beijo de Taehyung acertou-lhe na bochecha.

— Acho… acho que eles já foram — falou, limpando a garganta antes de concluir a frase. As mãos que antes enlaçavam o pescoço do mais velho desceram, tímidas, para os ombros largos. Jeongguk não teve coragem de se afastar mais do que isso, então olhou Taehyung de pertinho, observando o olhar confuso deste, as sobrancelhas levemente franzidas.

— Huh? — Taehyung tinha um bico nos lábios e a voz saiu meio fina, quase infantil. Jeongguk desceu os olhos para os lábios do amigo, piscando devagar ao observar a região avermelhada e inchada.

Ele havia feito aquilo. Tinha beijado Taehyung, seu melhor amigo, em um ato de desespero e, por Deus, havia gostado tanto. Tanto

— As pessoas... que estavam te perseguindo. — Voltou a explicar, a voz saindo rouca e falha. — Acho que já passaram por aqui e seguiram em frente. — E limpou a garganta mais uma vez, esclarecendo:

— Ahn, eu... E-eu te beijei por isso… Achei que eles passariam direto se vissem, uh, um c-casal se beijando…

— Eu sei… — Taehyung ainda tinha aquele olhar perdido no rosto e estava tão focado na boca de Jeongguk que o mais novo sentiu tentado a beijá-lo novamente. — Percebi que essa tinha sido sua ideia.

— É…

Ficaram em silêncio mais alguns instantes, as respirações voltando ao normal e tomando ciência dos barulhos da cidade: sirenes distantes, conversas aqui e ali, o miado de um gato e um grilo cantando no beco. 

— Nós deveríamos ir. — Jeongguk tornou a falar, embora sua vontade fosse completamente o oposto. — Deixei nossas coisas no armazém.

Taehyung fechou os olhos por alguns segundos, respirando profundamente. Jeongguk não percebeu, mas o mais velho fechava e abria as mãos nas laterais do próprio corpo, tentando se recompor.

— Claro. É… o...brigado. — Se obrigou a dizer, a voz falhando porque odiou agradecer o beijo que ganhou do melhor amigo. Beijos não deveriam ser agradecidos, pensava consigo mesmo, deveriam ser retribuídos e repetidos. Ele queria repetir naquele mesmo instante, sentir o arco do cupido delineado de Jeongguk com sua própria boca outra vez, mas sabia que o único motivo pelo qual havia sido beijado foi porque aquela foi a única maneira que o Jeon encontrou de disfarçar ali no beco, então mesmo contra a própria vontade, se obrigou a agradecê-lo:

— Pela sua ajuda. — Jeongguk acenou positivamente. Seu coração se encheu de esperanças quando o Kim abriu a boca uma última vez, mas tão rápido ele fechou, enfiando as mãos nos bolsos do sobretudo e permanecendo silencioso. O mais novo balançou a cabeça, tentando se livrar de pensamentos inoportunos e não conseguiu deixar de perceber que, pelo resto da noite, Taehyung continuou com o cenho franzido, um bico nos lábios e o olhar perdido como se estivesse tentando desvendar uma partitura particularmente difícil do seu saxofone. 

-

Os primeiros dias após o beijo foram estranhos e incômodos. Os dois trocavam sorrisos sem graça e sempre que tentavam fazer um carinho ou uma brincadeira, percebiam o que estavam fazendo e abaixavam o braço antes de tocar no outro. Eles não citaram a palavra que começava com B, mas era como se estivessem tentando evitar um elefante sentado no meio da sala. Continuaram com a rotina normal: encontros na faculdade depois das aulas, treinos esporádicos de defesa pessoal na academia, mas tudo parecia diferente para ambos, mesmo que não admitissem.

Não foram poucas as vezes que Jeongguk pegou Taehyung encarando seus lábios e vice versa, e toda vez que um deles eram pegos, a tensão parecia ficar ainda maior. Jeongguk evitou a casa do Kim por quatro dias inteiros e até mesmo os irmãos pequenos de Taehyung pareceram notar.

— Hyung, onde ‘tá o Jeonggukie hyung? — Junggyu perguntou na manhã do quarto dia sem o Jeon aparecer por ali. Taehyung, que estava lavando as louças, deixou um copo ensaboado cair na pia, fazendo um barulho brusco.

— Na casa dele, ué — respondeu dando os ombros.

— Vocês brigaram? — Eunjin questionou, observando o irmão com os olhinhos curiosos e mordiscando o canudo do seu copo de abelhinhas. 

— Claro que não — disse, e mentalmente completou: teria sido mais fácil se tivéssemos. — Ele só está ocupado.

— Eu acho que ele ‘tá mentindo. — Junggyu disse para a irmã em um tom que deveria ser um sussurro, mas o mais velho ouviu mesmo assim; porém achou mais fácil ignorar e fingir que não havia escutado nada.

Não era como se Taehyung quisesse ignorar o melhor amigo, mas também não era como se fosse fácil fingir que nada havia acontecido: durante as noventa e seis horas que se passaram após o beijo, o Kim havia sonhado com a boca do melhor amigo três vezes, apenas para acordar afobado no meio da noite, sentindo-se perdido no meio dos lençóis e sem sinal de Jeongguk ou da sua boca macia.

Pare com isso, se repreendeu mentalmente, esfregando uma panela com vigor. Era só um beijo. Apenas um beijinho! Não tinha motivo para esse alvoroço todo, Taehyung já havia sonhado — dormindo e acordado — beijando o melhor amigo inúmeras vezes e nunca agiu estranho com ele. Agora que seu sonho finalmente era concreto, existia no mundo físico, porque era tão difícil manter o olhar nos olhos do Jeon, sem parecer um completo pervertido que, a todo instante, focava naquela boca tão charmosa?

Porque você gostou de beijá-lo, sua mente maligna reforçava, lotando seus pensamentos com memórias dos lábios macios de Jeongguk que deslizavam pelos seus próprios com a maior facilidade do mundo, devido aquele lipbalm de pessêgo idiota que o mais novo tanto gostava de usar. 

— Hyung, hyung! — Junggyu gritou, pisando no seu pé para chamar sua atenção. Taehyung largou a panela, lançando um olhar irritado para o irmão mais novo que interrompia suas derivações justo no momento que o Kim fantasiava Jeongguk dizendo que lhe amava de volta e aceitando viver consigo para sempre em uma casinha beira mar onde poderiam instalar uma torre de internet apenas para eles, adotar vários animaizinhos e fazer competições de jogos onde o vencedor ganharia beijos infinitos do perdedor.

Parecia uma boa perspectiva de vida. 

— O que é, hein? 

— Você ‘tava amassando a panela. Uah, você é tão forte, hyung! — Taehyung olhou para a panela que antes esfregava, notando que havia praticamente empurrado uma das partes do alumínio para dentro.

Balançou a cabeça fortemente, afastando-se da pia e pedindo para os irmãos terminarem de lavar a louça por si, alegando uma dor de cabeça que não era realmente mentira. 

-

Jeon Jeongguk estava na biblioteca quando a oportunidade perfeita para esquecer o melhor apareceu em forma de um convite por parte de Min Yoongi.

— Um dos meus colegas de casa decidiu dar uma festa — disse o mais velho, e o revirar dos olhos demonstrava que ele era totalmente contra a ideia. — Você quer ir?

— Não sabia que você dividia casa, hyung. 

— Jimin e Hoseok me dão muita dor de cabeça, mas ao menos são legais. Exceto pelas festas. — Jeongguk conhecia Jimin pelo nome, e porque ele era amigo de Taehyung. Imediatamente fez uma careta, porque havia apostado consigo mesmo que era perfeitamente capaz de ficar cinco horas sem pensar no melhor amigo e havia acabado de perder a aposta com menos de duas horas passadas.

— O que foi? Você não gosta deles? — Yoongi questionou, interpretando erroneamente a careta do Jeon.

— Hã? Não! Nada disso. Eu só me distrai pensamento em umas coisas e… é, eu aceito ir na festa sim, hyung. 

— Ótimo. Chama o Taehyung-ssi, também.

Jeongguk arregalou os olhos.

— O quê? Por quê? — Yoongi lhe lançou um olhar estranho e Jeongguk até tentou permanecer calmo, mas sua inquietação denunciava que havia algo errado.

— Bem, ele é seu melhor amigo, não é? Achei que você fosse querer a companhia dele lá, sei lá…

— O Jimin-ssi deve ser chamado ele — desconversou. — Ele são amigos, até.

— Certo… — Yoongi franziu as sobrancelhas para o amigo, observando-o debruçar em um desenho inacabado. — Está tudo bem com você? Tipo… Você parece meio estranho.

— Impressão sua. — Jeongguk respondeu com um sorriso tenso, sentindo vontade de chorar ou sair correndo. — Eu estou estupendo.

— Se você diz… — Yoongi replicou, obviamente sem acreditar nas palavras do outro, mas também sem insistir outra vez.

A festa chegou mais rápido do que Jeongguk gostaria. Ele continuou encontrando Taehyung nos intervalos e dando seu melhor para agir naturalmente, mas essa palavra parecia ter sido banida do seu dicionário após provar o gosto da boca do Kim. Precisou de todo autocontrole do mundo para não convidá-lo para a festa; tinha certeza que ele iria por causa de Jimin, então seria estranho convidá-lo sabendo disso, certo? E se soasse como um encontro? Por Deus, Jeongguk corava só de pensar em tal possibilidade.

Ele foi para a casa de Yoongi de ônibus, sentindo-se meio abandonado e sozinho durante todo o trajeto, com saudades das conversas aleatórias que tinha com o melhor amigo no transporte público, a voz macia falando sobre teorias conspiratórias, curiosidades que ninguém mais conhecia e qualquer outra coisa que viesse a sua cabeça. Jeongguk passou todo o trajeto se convencendo que tinha tomado a decisão certa, afinal, e se Taehyung pedisse uma opinião sobre a roupa que pretendia usar na festa? Ele sempre se vestia ridiculamente bem para essas ocasiões e Jeongguk tinha certeza que seus sentimentos ficariam óbvios e estampados em uma placa neon piscante na sua cabeça, caso passasse pela situação onde precisasse elogiar o amigo.

A casa que Yoongi dividia com os dois alunos de dança ficava em um bairro universitário e não era a única da rua com uma festa rolando. Ele checou o número duas vezes antes de entrar, porque pior do que entrar na festa errada era fazer isso sozinho

Jeongguk cruzou o jardim em passos rápidos, mantendo uma feição séria e evitando olhar para os lados porque, na sua opinião, ele com certeza parecia terrivelmente patético com o olhar perdido de quem não costuma ir em festas sozinho. A porta da sala estava aberta e quando ultrapassou-a, foi recebido com o mormaço que muitos corpos em um ambiente pequeno forneciam, as pessoas conversavam e bebiam enquanto Senorita tocava no volume máximo. As luzes escuras criavam sombras em todo mundo, mas Jeongguk não teve dificuldades de encontrar Yoongi porque, como imaginou, o mais velho se encontrava no lugar menos lotado da casa: o jardim dos fundos.

— Oi hyung, tudo bem? — Yoongi cumprimentou-o com o olhar emburrado.

— Não. Jimin e Hoseok me proibiram de ficar no meu quarto e três pessoas já derrubaram um pouco de bebida na minha camiseta. Em menos de duas horas de festa, devo dizer. — Jeongguk deu uma risada fraca. 

— Então você não gosta muito de festas?

— Não festas universitárias na minha casa lotada de jovens adultos com mentalidade de adolescentes e que vão bagunçar tudo e vou ter que contribuir na ajuda no dia seguinte. E você?

— Ahn, eu gosto de dançar. Nas festas, digo — respondeu, olhando para os lados procurando uma certa pessoa. — Mas não gosto de fazer isso sozinho. — E Taehyung sempre me acompanhava nessas coisas, completou mentalmente.

— Bom, não me peça para te acompanhar. — Yoongi declarou, bebendo um gole de uma longneck de soju. — Mas eu posso te apresentar meus colegas de casa. Eles certamente vão amar a proposta.

 — Não, não! — replicou apressadamente, respirando fundo quando o mais velho lhe lançou um olhar inquisidor. — Não precisa, hyung. Eu não estou com vontade de dançar hoje.

— Certo. Se mudar de ideia, é só avisar. 

Eles continuaram ali por algumas horas e Jeongguk também pegou uma longneck de soju para si. Por ser consideravelmente fraco com bebidas, ele bebeu mais devagar, a atenção dividida entre o que Yoongi falava e no ambiente ao redor de si, procurando Taehyung.

Era estranho não ter encontrado o melhor amigo ainda. Taehyung geralmente não perdia festas por nada e tão pouco chegava atrasado, pelo contrário: ele era o primeiro a chegar e o último a sair. 

Quando Yoongi pediu um instante para cumprimentar um amigo, Jeongguk declinou educadamente a proposta de se juntar a dupla e afirmou que daria uma volta pelo lugar. Usou a banheiro, trocou a bebida por um vinho que um desconhecido lhe ofereceu na cozinha e deu uma olhadela na sala, onde as pessoas dançavam ao som de uma música animada.

Onze e trinta e dois. Nenhum sinal de Taehyung.

— Ahn, com licença. — O Jeon reuniu toda a coragem escassa que possuía e foi até o garoto de cabelos cor de rosa que sabia ser Jimin. — Meu nome é Jeon Jeongguk e…

— Eu conheço você! — Jimin disse em um tom meio alto, sorrindo tanto que os olhos se fecharam. — Você é o melhor amigo do Taetae e também é amigo do Yoonie hyung!

— Sim… — Afirmou, curvando-se mais uma vez. — É um prazer, Jimin-ssi. — O dançarino sorriu mais uma vez e ficou em silêncio, esperando o mais novo continuar. — Eu queria saber se você sabe me dizer onde o Tae está? Eu procurei ele e ainda não encontrei-o aqui…

 — Ah. — O sorriso do mais velho diminuiu um pouquinho e ele fez uma carinha confusa. — O Tae me disse que não viria hoje, vocês não se falaram? A menos que ele tenha mudado de ideia e não me comunicou…

 — Ah. — Jeongguk engoliu em seco, piscando levemente e sentindo as bochechas arderem. — Ah. Obrigado, Jimin-ssi. Eu não tinha falado com ele. Obrigado, de verdade.

Curvou-se uma última vez e se afastou em passos rápidos, o coração apertado. Nem percebeu o olhar confuso que Jimin lhe lançou, preocupado demais com a própria situação: estava em uma festa lotada de gente que ele conhecia, mas não o suficiente para iniciar uma conversa. Se sentia terrivelmente deslocado e a única pessoa com quem se sentia confortável conversando — Yoongi — obviamente tinha outros amigos e não tinha a obrigação de fazê-lo companhia a noite inteira.

Deus, o que ele estava fazendo ali?

Caminhou na direção do jardim da frente, puxando o celular do bolso e meio sem pensar, abriu o chat com Taehyung.

Jeongguk [23:41]

Onde você está?

Você não vem para a festa do Jimin-ssi?

Taetae [23:41]

O quê?

Você tá na festa dele?????

Por que não me disse que ia?

Jeongguk [23:41]

Eu decidi de última hora…

E achei que você viria.

Mas já estou indo embora

Taetae [23:41]

NÃO

perai

Não sai dai

Calma

Eu tô indo

Já tava saindo de casa

Só me atrasei

Não vai embora, tá?

Jeongguk [23:42]

… okay

           

Taehyung chegou em menos de quinze minutos, os cabelos bagunçados, olhos arregalados e a mochila preta nas costas. Ele estava vestindo calças de tecido e um suéter por cima de uma camisa, uma roupa totalmente diferente do que ele costumava vestir para festas (camisas de cetim com decotes, calças coladas e muita, muita bijuteria brilhante) e o conjunto por inteiro foi o suficiente para Jeongguk descobrir o que tinha acontecido.

            — Oi Guk, com… Ei, o que aconteceu? — Taehyung perguntou quando o mais novo puxou-o pelo pulso, atravessando o aglomerado de pessoas na sala até o corredor da casa.

— Você não estava vindo para cá — acusou quando estavam relativamente sozinhos, lançando um olhar sério para o melhor amigo. Taehyung trocou o peso do corpo de uma perna para outra, sem saber o que dizer.

— Por que você diz isso? — questionou enfim.

 — Você não ‘tá usando roupas de festa. Seu cabelo ‘tá todo bagunçado como se tivesse vindo literalmente correndo e… a mochila. Você estava trabalhando? — Sua voz soou mais cautelosa e baixa na pergunta, a ênfase deixava claro a qual tipo de trabalho estava se referindo.

— Talvez.

Jeongguk suspirou.

— Taehyung-ah, isso é perigoso. O que você… Aigoo, porque você não ia vir? 

O constrangimento dos outros dias finalmente se fez presente, como se a pergunta tivesse lembrado ambos do porquê eles estavam agindo estranho. Taehyung coçou a cabeça, desviando o olhar para a sala e respondeu timidamente:

— Não estava com muito ânimo, sei lá.

— Tudo bem. Ahn, certo. Tudo bem. Vamos... encontrar Yoongi, pedir para ele guardar sua mochila — disse, arquitetando um plano na cabeça. — E depois vamos achar algum jogo idiota para participarmos e bebermos.

Eles encontraram Yoongi ainda do lado de fora e com algumas explicações fajutas, ambos gaguejando, corados e se contradizendo a todo instante, conseguiram convencer o mais velho a entrar na casa e abrir a porta do próprio quarto. 

— Pode jogar aí dentro — disse, segurando a porta aberta para Taehyung colocar a mochila. Ele segurou o objeto contra o peito, meio inseguro.

— Tem certeza que é… seguro guardar aqui? Ninguém vai, uh, bisbilhotar? — Yoongi lhe lançou um olhar analítico, daqueles que vez ou outra recebia como se estivesse sendo analisado pelo Min. 

— O que você carrega aí de tão precioso? Um segredo? — debochou do Kim, que precisou de todo autocontrole que tinha para abrir um sorriso divertido e revirar os olhos.

— Vários — respondeu calmamente, torcendo para parecer tranquilo e irônico. Jogou a mochila na cama do Min se sentindo terrivelmente exposto ao perigo, mas a sensação melhorou ao observar Yoongi fechar a porta e trancar com a chave. 

Jeongguk agradeceu repetidas vezes ao amigo e depois que Yoongi voltou para fora da casa, eles caminharam afastados até um canto da sala onde quatro pessoas pareciam jogar um jogo. Uma das pessoas era Jimin, que levantou do chão em um pulo, abraçando Taehyung pelos ombros com um sorriso enorme no rosto.

— VOCÊ VEIOOO! Agora os astros estão alinhados e a festa está perfeita. — Puxou o amigo para o chão, empurrando Jeongguk na mesma direção e explicando:

— Nós estamos jogando verdadeiro ou falso, só que em duplas.

— Parece infantil e perigoso. — Taehyung resmungou. — Adorei. 

O comentário arrancou risadas das pessoas ali sentadas e as regras foram explicadas: alguém fazia duas afirmações sobre uma pessoa da dupla e a pessoa restante precisava dizer se era verdadeiro ou falso. Caso acertasse, a pessoa sobre quem a afirmação era feita bebia, e se errasse, a pessoa que respondeu bebia.

O jogo começou pelas quatro pessoas que já estavam ali, as afirmações mais absurdas e sem sentido eram feitas. Sempre que chegava a vez de Jimin, Jeongguk tinha a leve impressão que o dançarino errava de propósito, já que parecia muito satisfeito em beber. Ele próprio errou algumas coisas sobre Taehyung e precisou beber shots de tequila e agora estava meio tonto, a garganta ardendo. Na quinta rodada Jimin se voluntariou para fazer as perguntas para a dupla de amigos, sorrindo abertamente e parecendo animado demais.

— Por quem eu começo? — questionou.

— Começa fazendo afirmações sobre mim. — Taehyung disse.

— Ok. Taehyungie fazia xixi na cama quando era pequeno? 

— Falso. — Jeongguk nem hesitou, dormia com o mais velho desde muito pequeno e sabia que ele nunca tivera esse tipo de problema.

— Acertou. — Taehyung resmungou, tomando um dos shots e fazendo uma careta quando o líquido desceu rasgando.

— Taehyungie atualmente está apaixonado em alguém? 

A pergunta causou uma pontada no peito de Jeon, mas novamente ele não hesitou ao negar.

— Falso.

Houve uma pausa na qual todos encararam o Kim fixamente, inclusive Jeongguk. Ele esperava que o mais velho fosse reclamar sobre precisar beber novamente, mas ao invés disso foi surpreendido com o olhar intenso do amigo, não exatamente em si, mas em alguma parte do seu corpo próximo dos olhos, ao responder:

— Ele… Ele errou.

Os outros participantes comemoram alto e Jeongguk teve a impressão de sentir o coração despencando no estômago.

Como assim Taehyung estava apaixonado? Há quanto tempo? Por quem? Por que ele não havia dito nada? Jeongguk havia beijado o melhor amigo quando este gostava de outra pessoa e agora o desconforto do Kim consigo após o beijo parecia ter uma explicação clara. Havia ficado aqueles dias todos se culpando por beijá-lo, pensando que o desconforto era proveniente do mais velho enxergá-lo somente como melhor amigo, mas o problema era maior: ele estava desconfortável porque era apaixonado por alguém.

Jeongguk nem sentiu a bebida queimar, tamanha sua perplexidade. A próxima pergunta também foi feita e ele prestava pouca atenção quando Jimin questionou:

— Jeongguk-ssi tem interesse em garotos? — Assim como o Jeon, Taehyung não pensou duas vezes antes de responder.

— Falso.

Os olhares se voltaram para o mais novo, que encarava Taehyung com os olhos arregalados que logo se transformaram em um cenho franzido, as bochechas coradas. 

— Hã… É verdade. Você... errou? — Sua afirmação soou como uma pergunta, tamanha sua surpresa ao ver seu melhor amigo errar algo tão simples ao seu respeito.

Quê? — Taehyung questionou alto demais, tomando o shot que Jimin lhe passava impacientemente, apoiando o pequeno copo no chão com força demais e o tronco virado na direção do Jeon, exalando incredulidade. — Eu err- Como assim você gosta de garotos?

Jeongguk se remexeu no lugar, incomodado com a platéia.

— Ahn, eu- Meu primeiro beijo foi com um garoto, Tae.

Os olhos de Taehyung dobraram de tamanho com a revelação e ele engasgou com a própria saliva, do nada. Sem dar atenção aos outros que jogavam, agarrou a mão de Jeongguk e puxou-o para cima, caminhando em passos apressados para o quintal dos fundos. A quantidade de álcool que havia ingerido não tinha lhe deixado bêbado ainda, mas ele sentia uma onda de inquietude que não sabia se era culpa da bebida quente no estômago ou das palavras proferidas pelo melhor amigo. Eles acharam um lugar mais distante e vazio perto da churrasqueira e quando pararam ali, o mais velho começou a andar de um lado para a outro.

— Seu primeiro beijo foi com um garoto? O qu… Por que… Quem?

Jeongguk sentiu as bochechas vermelhas quando Taehyung lhe encarou de verdade: fazia dias que o olhar do Kim não ficava em si por mais de poucos segundos e agora ele estava ali, há poucos metros de distância, encarando-o profundamente e parecendo tão perdido quanto no dia que se beijaram.

— Com o Bonhwa da nona série… — respondeu. 

— Mas… mas eu achei que… Eu só te vi com garotas a vida inteira e… Aigoo, eu sou seu melhor amigo. Por que nunca conversamos sobre isso?

Jeongguk deu os ombros, se sentindo deslocado. Ele não sabia como explicar a situação para o melhor amigo sem dar na cara, mas tentou seu melhor:

— Sei lá, Tae… A gente só… Nunca falou sobre relacionamentos amorosos.

— Mas você sabe tudo sobre mim! Sobre quem já namorei, digo.

— Porque todo mundo sabia sobre… Você nunca foi exatamente discreto. Na verdade, acho que o primeiro segredo que você manteve nessa vida foi sua segunda identidade. — Jeongguk respondeu em um tom baixo, verificando se não tinha ninguém por perto.

Jeongguk estava errado. Aquele era o segundo segredo que Taehyung mantinha guardado na vida, o primeiro deles estava consigo há muito, muito tempo. 

— Eu vou ignorar sua suposição sobre eu gritar aos quatro cantos do mundo quando estou saindo com alguém pelo bem da nossa amizade — disse o mais velho em um tom de alívio cômico. — Mas… Mas e as garotas?

Jeongguk deu os ombros.

— Eu sou igual você, ué. Sinto atração por ambos.

— Eu entendi isso, é só que… Por que eu nunca te vi com um garoto?

É claro que ele faria essa pergunta, pensou o Jeon, com vontade de rir da própria desgraça.

— Porque eu não fiquei com muitos. — Tentou ser honesto. — Embora eu tenha preferência por garotos. 

— Se você tem preferências por eles, porque é que ficou com mais garotas? — Jeongguk sentiu vontade de gritar ao observar o semblante confuso e inocente do melhor amigo. Será que ele era realmente bom em esconder os próprios sentimentos, ou o Kim que era um completo tapado? 

Como explicaria para Taehyung que, apesar de sentir maior atração por garotos, acabava se envolvendo mais com meninas porque toda vez que beijava um garoto sentia que algo faltava e era preenchido por uma frustração absurda, proveniente de estar beijando um garoto que não era aquele que nutria um penhasco por, ou seja, seu melhor amigo, Kim Taehyung?

— É complicado — disse, suspirando e com vontade de ir embora. — Olha, deixa isso ‘pra lá. Isso não muda nada, de qualquer forma — resmungou baixinho, mas foi surpreendido pela mão quente de Taehyung apertando a sua, o primeiro contato firme e intencional desde o beijo. Se isso por si só já não tivesse abalado o Jeon, a resposta séria de Taehyung cumpriu o objetivo:

— Isso muda tudo, Jeongguk-ah. — A voz do melhor amigo estava terrivelmente grossa e rouca ao afirmar, com uma feição séria no rosto. — Muda tudo


Notas Finais


A carinha confusa que o Tae fez quando o Jk separa o beijo, na minha imaginação, é essa aqui https://twitter.com/vminpearl/status/1157007719108403200

fofo demais :(

E então, o que vocês acharam? Aconteceu muita coisa nesse capítulo, né. Me digam o que acharam do beijo, do desconforto do casal, de tudo <3

Agora que o Taehyung descobriu que o Jk também tem interesse em garotos, será que as coisas vão mudar mesmo? rs

STREAM WINTER BEAR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Eu não consigo parar de escutar essa música PERFEITA e ontem a noite enquanto limpava casa tava escutando e praticamente usando minhas lágrimas pra enxaguar o piso kkkkkkkkkkkk

Vejo vocês no próximo capítulo!


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