- E-Eu quero minha mãe! Mãe! Dói Tia! - Kyungsoo gritava cada vez mais alto a medida que apertava com as próprias mãozinhas a perna quebrada.
A professora de Kyungsoo andava ao lado da maca do garoto, a mulher estava desesperada tentando ligar para a Senhora Do, mas ela não atendia.
- Aguenta só mais um pouquinho Kyungsoo, sua mamãe já está chegando.
Mas era mentira e Kyungsoo sabia disso, porque sua mãe era uma mulher ocupada demais para o filho.
~xXx ~
- E a mãe dele? - O médico perguntou perto da porta, sem perceber que o garoto dentro do quarto já estava acordando. Felizmente a cirurgia havia sido rápida e sem complicações, mas ele precisaria de repouso e alguém para cuidar dele direito enquanto isso. Mas a senhora Do já havia deixado uma mensagem pela sua secretaria que só a comunicassem novamente quando o filho estivesse andando com as duas pernas boas.
A professora tentou argumentar com a secretária, mas a moça disse estar apenas passando um recado e que nada poderia fazer. A Senhora Do também havia dito que não tinha tempo para procurar um babá descente, o filho teria que ficar no hospital e que as contas ficariam por sua responsabilidade.
Após a secretária passar todas as informações necessárias para a internação do menino Do ao hospital desligou, sem prolongar nenhuma possível discussão.
- A mãe dele está muito ocupada Doutor, não poderá vir vê-lo. Eu tenho que ir embora agora, já bateu até meu horário de trabalho, mas eu fico preocupada com o Kyungsoo, ele vai ficar sozinho aqui...
- Ora, se é isso que te preocupa, nós podemos dar um jeito. Aqui no hospital tem um garoto de 10 anos, apenas um ano mais novo e ele não vai ter alta antes do seu aluno, o que acha?
- Eu não sei se a mãe dele vai gostar muito disso doutor, mas faça isso, por favor. Eu assumo a responsabilidade se algo acontecer! - A professora exclamou e se despediu do médico, que também foi para outra área do hospital para organizar a internação do menino em outro quarto.
Enquanto Kyungsoo chorava baixinho dentro do quarto.
~xXx~
- Kyungsoo-ssi! Como se sente? - O médico perguntou assim que entrou no quarto, vendo o menino confuso com a aparência do lugar, havia dormido em um quarto e acordado em outro com outra cama, que estranho.
- uhm? Eu pedi para que trouxessem para cá, você vai dividir o quarto com outro menino, tudo bem? - O Do assentiu, sem realmente se importar. - Kyungsoo, você vai ficar aqui até a sua perna melhorar, okay? A sua mamãe não po-
- Não quer me ver, eu sei. - O menino o interrompeu.
- Ela só está muito ocupada, com fique bravo... - Enquanto o médico falava a porta se abriu e um menino entrou indo direto para a própria cama. - Ah, esse é Jongin, ele acabou de voltar da fisioterapia, deve estar muito cansado. Bom, vou deixar você aqui, está vendo esse aparelho aqui - mostrou uma pequena caixinha com um botão em cima do criado - É para quando precisar de alguma coisa é só apertar que algum enfermeiro vem.
O médico se despediu do pequeno e saiu do quarto, deixando os dois meninos sozinhos.
Kyungsoo voltou a chorar baixinho, ele sentia tanta falta da mãe. E foi se perdendo em seus próprios pensamentos do porque ela não o dava atenção que não percebeu o outro garotinho se arrastar até sua cama e deitar ao seu lado.
- Oi - Ele disse sonolento, assustando o pequeno Do - Meu nome é Jongin, você vai dividir quarto comigo? Qual o seu nome?
Kyungsoo encarou Jongin, ele era diferente. Tinha a pele bronzeada e os cabelos negros de mais.
- K-kyungsoo, meu nome é Kyungsoo. - Disse limpando as lágrimas, afastando um pouco, Jongin estava muito perto.
- É um nome bonito, posso dormir com você hoje, Kyungsoo? - Os olhos do menino já estavam fechados, falando baixinho e embolado demais. Jongin virou-se para o lado oposto de Kyungsoo e dormiu, sem conseguir esperar por uma resposta.
Kyungsoo achou Jongin estranho, mas já era noite, em outro momento formaria uma opinião sobre ele, agora pequeno Do só queria dormir também. Puxou o edredom que estava no pé da cama e cobriu-se junto a Jongin, seu novo colega de quarto.
~xXx~
Alguns dias se passaram. Os dois garotos acabaram ficando mais amigos do que imaginaram. Kyungsoo descobriu que Jongin ou Kai - como as enfermeiras o apelidaram - tinha câncer, e que estava internado há três anos.
Kyungsoo descobriu também do porque achava os cabelos de Kai tão escuros, na verdade era uma peruca. Ele até tentou disfarçar a surpresa ao constatar isso quando Jongin dormiu consigo pela segunda vez e a peruca saiu pela noite, mas ele acabou chorando e acordando o amigo, que ficou envergonhado e evitou Kyungsoo por dois dias. Porém acabou não conseguindo ficar sem falar com o amigo por muito tempo, até promessa de que iriam morar juntos quando ficassem mais velhos, os dois haviam feito.
- Para onde estamos indo Jongin? Tem certeza que podemos andar por aqui? - O pequeno Do perguntou, enquanto andava de muletas ao lado do amigo.
- Não podemos - O moreno respondeu rindo - Mas você vai gostar, é muito engraçado.
Enfim chegaram a uma curva de um corredor e Jongin se escondeu ali, esperando o amigo se esconder também.
- Olha, aquela moça é enfermeira, mas ela fica na recepção da área não crítica - Apontou para a mulher atrás de uma bancada - Quantas horas são?
- Eu não sei Jongin! Vamos voltar, se nos pegarem aqui vamos levar bronca!
- Kyungsoo, ninguém vai nos pegar aqui, deixa de ser medroso.
- Você disse isso na semana passada quando me fez entrar no banheiro feminino com você, e nos pegaram!
- OH, é agora, olha! - Jongin o ignorou e voltou a olhar para a enfermeira, sendo acompanhado por Kyungsoo que desistiu de convencer o amigo.
Um médico apareceu, ele estava andando estranho, como se estivesse fazendo algo escondido. Quando chegou na recepcionista a moça ficou toda envergonhada, olhando para os lados se certificando que ninguém estava por perto. Quando estavam de frente um para o outro a enfermeira/ recepcionista se levantou e começou a beijar o médico, mas não era um simples beijo, era um beijão, de língua e tudo mais.
- ECA, JONGIN! - Kyungsoo olhou incrédulo para Jongin, que ria como se fizessem cócegas nele. - Que nojo, isso não tem graça!
- Como não? Olha só, ele está indo embora como se nada tivesse acontecido, é muito engraçado.
Kyungsoo ficou morrendo de vergonha por ter visto aquilo, se levantou antes de Jongin e foi andando na medida do possível de volta ao quarto.
- Soo, foi engraçado, você não achou?
- Não Jongin, que nojo!
- Não é nojento! As pessoas fazem isso quando ficam adultas! - O Moreno cruzou os braços e parou na frente de Kyungsoo, o impedindo de continuar.
- Eca! Eu nunca vou fazer isso! - O Do fez careta, tentando mostrar para o amigo o quanto tinha achado estranho.
- Mas e quando nós formos morar juntos? Vamos ter que fazer isso, pessoas que moram juntas fazem isso o tempo todo! - Sorriu vitorioso, como se tivesse usado o melhor argumento do mundo.
Kyungsoo encarou o amigo se perguntando o que ele tinha entendido por morar juntos, não é como se fossem namorar nem nada, morariam juntos como amigo, certo? Não, espera.
- Eu não vou fazer isso com você, Jongin! AHN, que nojo.
Jongin tinha entendido tudo errado, Kyungsoo pensou. E Jongin ouviu aquilo como um insulto, porque não faria isso consigo? Ele tinha nojo de si? Isso, talvez fosse isso, assim como seus pais que o abandonaram naquele hospital quando perdeu os cabelos, mas... Kyungsoo, não pensaria como eles, ou pensaria?
- Você tem nojo de mim, Soo? - Perguntou desfazendo todo o tom defensivo de antes. Com os olhinhos já marejados.
- É-é claro que não! Eu só tenho nojo de fazer aquilo com você! - Mas não era a mesma coisa? Jongin entendeu que sim. Virou de costas para o amigo e começou a chorar, exclamando bem alto que não era mais amigo do pequeno Do antes de sair correndo.
Kyungsoo, até tentou ir atrás do amigo, mas as muletas não estavam ajudando, e quando chegou ao quarto Jongin não estava, já havia ido para a fisioterapia.
Na manhã seguinte Jongin ainda não havia voltado e preocupado o Do foi atrás do médico responsável pelos dois, perguntar sobre o amigo.
- Ele passou mal durante uma seção de fisioterapia, Kyungsoo. Ele vai voltar para o quarto hoje, mas noite passada teve que ficar em observação, não se preocupe, não foi nada grave.
Só de pensar em Jongin mais fraco do que estava. Kyungsoo teve vontade de chorar, e se ele tivesse passado mal por sua culpa, já que fez o amigo chorar, talvez tivesse sido isso.
Almoçou com o médico e foi para o quarto esperar Jongin.
No meio da tarde, a porta se abriu. Duas enfermeiras entraram, uma empurrando a cadeira de rodas de Jongin e a outra o soro ligado ao braço direito do garotinho.
- J-Jongin! - Kyungsoo praticamente pulou da cama, indo até o amigo. Mas o mesmo nem mesmo levantou o olhar para vê-lo.
As enfermeiras colocaram o menino na cama e saíram do quarto, antes explicaram para Kyungsoo que Jongin tinha que ficar de repouso, estava muito fraco.
O tempo foi passando e quando o Do viu, já havia anoitecido. Jongin tinha dormido a tarde toda e parecia que não acordaria por tão cedo, ele não se importaria de Kyungsoo deitar ao seu lado, os dois dormiam juntos desde que o primeiro dia do mais velho no hospital.
Então Kyungsoo apenas pegou seu edredom e deitou-se ao lado do amigo, segurou a mão esquerda de Jongin, entrelaçando os dedos uns nos outros. Deu boa noite ao amigo e dormiu, esperando que no dia seguinte ele acordasse melhor.
Mas de madrugada, Kyungsoo acordou ouvindo Jongin gemer de dor, agonia, algo assim, ele não sabia. O moreno estava suando tanto, que o Do se desesperou, o que estava acontecendo? Se levantou e pegou o aparelho em cima do criado, apertando várias vezes, Jongin estava passando mal de novo e ele não conseguia fazer nada além de olhar e chorar.
- J-jongin? Jongin? - Kyungsoo subiu novamente na cama, o amigo parecia estar se engasgando, e as enfermeiras não chegavam, ele tinha que fazer alguma coisa.
Ajudou o amigo a se sentar e abraçou a costas dele antes de pendurar o troco de Jongin para fora da cama, como se desengasgava uma pessoa? Onde diabos estavam as enfermeiras?
Jongin estava quase caindo de seus braços, então Kyungsoo foi obrigado a apertar de uma vez o abraço, consequentemente fazendo força no estomago do amigo que começou a vomitar.
Kyungsoo não sabia se aquilo era bom ou não, ele apenas chorava gritando o nome do moreno, que aos poucos parou de vomitar.
As enfermeiras entraram logo depois, o pediram para esperar do lado de fora e foi isso que ele fez, ele esperou, mesmo que fosse incomodo ficar em pé por causa da perna engessada, ele esperou em pé, até que alguém dissesse que Jongin estivesse bem.
Já passava das dez da manhã e Kyungsoo não tinha notícias de Jongin. Seu médico o levou para tomar café da manhã no térreo do hospital, mas o pequeno quase não comeu. Ele estava preocupado.
- Jongin vai ficar bem, não vai doutor?
- Vai sim, Kyungsoo. Fiquei sabendo que você o ajudou hoje, parabéns, se não fosse por você o seu amigo podia ter sufocado. Mas você também tem que melhorar logo, se não comer direito a sua perna não vai sarar! Jongin vai ficar triste se você não melhorar.
É verdade, Kyungsoo pensou. Eu tenho que estar bem quando Jongin melhorar.
O café da manhã passou, o almoçou também, até que o Do fosse autorizado a voltar para o quarto.
Abriu a porta eufórico, ansioso para falar com o amigo, mas assim que olhou para Jongin deitado, toda a euforia foi embora, dando lugar a tristeza.
- Jongin? - Se aproximou e sentou na ponta da cama.
- Soo? - Chamou baixinho, como se estivesse rouco pela fraqueza.
- Como você se sente? - Perguntou analisando as olheiras fundas que o outro tinha. Como podia um ser tão novo estar naquele estado?
- Ah! - Exclamou, como se estivesse se lembrando de algo - Não te interessa, você não é mais meu amigo!
Tentou virar-se para o lado oposto de Kyungsoo, mas não conseguiu, então resolveu apenas cruzar os braços e fazer bico.
- Você ainda está bravo comigo, Nini? - Indagou com os olhos marejados.
- Nini? De onde saiu isso?
- Ué! Você me chama de Soo, eu posso te chamar do que eu quiser!
- Mas Soo é bonitinho... Nini é estranho, me faz parecer um bebê!
- Você é quase isso, é mais novo que eu - Disse rindo.
- Aish! Você não sabe de nada, Soo. Não fala comigo - Fez novamente o bico e fechou os olhos, tentando fingir que Kyungsoo não estava ali.
Kyungsoo observou a cabeça de Jongin, ele estava sem a peruca, provavelmente as enfermeiras pegaram para limpar, já que ela caiu quando o moreno estava vomitando.
O Do passou os dedinhos na careca do amigo, o fazendo rir, mas não abrir os olhos. Foi então que resolveu fazer o que o amigo queria. Ele não tinha nojo de Jongin, nunca admitiria mais Jongin era o amigo mais bonito que conhecia.
Desceu a mão da cabeça do amigo, para a bochecha do mesmo e fechou com força os olhinhos enquanto aproximava os rostos, até encostar desajeitadamente os lábios uns nos outros.
Apenas um selar.
Se afastou de Jongin, sentindo suas bochechas queimarem de vergonha, sem saber que o amigo estava na mesma situação. Não havia sido ruim como imaginava.
- KYUNGSOO! QUE NOJO! - Jongin exclamou escondendo o rosto vermelho entre as mãos.
E o Do riu, riu tanto da reação do amigo que o mesmo começou a rir também depois de um tempo. E aquele quarto foi inundado de risadas gostosas.
Do lado de fora do quarto, o médico que estava prestes a abrir a porta desistiu e resolveu voltar em outro momento, se dissesse agora que Kyungsoo já podia tirar o gesso, a alegria toda daquele quarto ia para o ralo, e ele não queria isso.
~xXx~
- Kyungsoo? - Uma enfermeira abriu a porta e chamou o pequeno. - O médico está te chamando.
- Tá! Já volto, Nini. - Se despediu do amigo e foi com a enfermeira até a sala do Doutor. Assim que entrou, ele soube o que o Doutor faria, ele tiraria o gesso, ou seja, teria que ir embora.
- Boa noite, Kyungsoo. Como Jongin está? - O médico perguntou, vendo Kyungsoo se sentar na cadeira em sua frente.
- Ele está bem...
- Que ótimo. Logo que tirarmos esse gesso você também vai estar novo em folha.
- Eu tenho que tirar mesmo? Eu não posso ficar só mais uma semana, Doutor?
O médico olhou carinhoso para o menino, Kyungsoo havia se apegado a Jongin. Mas crianças são assim mesmo, em um mês ele esqueceria o amiguinho, o médico pensou.
- Não pode, Kyungsoo. Eu sei que você quer ficar perto de Jongin, mas você pode visita-lo sempre que quiser. - Já começava a umedecer o gesso para ficar mais fácil cortar.
- Mas Doutor...
- Amanhã de manhã sua mãe vem te buscar, certo? Arrume suas coisas. - O gesso foi retirado e um Kyungsoo cabisbaixo voltou para o quarto andando. Ele não queria ir embora.
Quando entrou no quarto, foi direto para a cama de Jongin, abraçando o amiguinho e explicando para ele que ia embora ao dia seguinte.
Na manhã seguinte, antes das sete horas, a enfermeira foi acordar Kyungsoo, sua mãe já estava o esperando para irem embora. O Do não queria ir, abraçou Jongin na cama e começou a chorar dizendo que só ia embora arrastado. E foi o próprio amiguinho que pediu para a enfermeira esperar do lado de fora, pois Kyungsoo já estava indo.
- Soo, não chora, sua mamãe está esperando.
- Que importa? Eu não vou te deixar sozinho, Nini.
Jongin respirou fundo, ele odiava despedidas, eram sempre assim, cheias de tristeza.
- Eu não vou ficar sozinho, Soo. Depois de você, outra criança que chegar vai vir para cá e em algum momento ela vai embora assim como você está indo agora. Você vai fazer outros amigos, Soo, vai me esquecer.
- N-não vou. Nini, eu vou vir te ver, eu prometo.
- Soo, para vir, primeiro você tem que ir, você sabe, né? - Riu do amigo, que não parava de chorar.
- Eu sei. Idiota!
Ambos continuaram daquele jeito, querendo prolongar o máximo aquele momento, mas duas batidas na porta os lembraram de que Kyungsoo tinha mesmo quer ir.
- Eu tenho que ir agora, Jongin. - O Do se levantou, sendo seguido por Jongin.
- Soo? - Quando virou recebeu um rápido selar - Até mais.
Kyungsoo sorriu para o amigo, e seguiu a enfermeira. Sua mãe estava dentro do carro dela do lado de fora do hospital, apenas esperando o pequeno para irem embora.
Antes de entrar no carro, acenou para o Doutor que cuidou de si pelas semanas que ficou lá, prometendo ao ir embora que não seria o tipo de pessoa que não sabe o que fazer quando alguém precisa de ajuda, ele não esqueceria Jongin, se tornaria um médico e cuidaria dele. Era uma promessa.
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