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História Elipse - Tóxica


Escrita por: Kisara

Notas do Autor


Oláá!
=) Mais uma vez - e não pela última, prometo! - estou aqui, sendo absolutamente maravilhosa, e trazendo capítulo no dia combinado para vocês! No final do dia? É, mas é segunda então está valendo! =)

Capítulo de hoje dedicado ao meu amigo Arysson_96. Espero que Ely continue melhorando seus dias bem como a sua fanfic incrível melhora os meus.

Uma linda leitura a todos!
Vocês são todos incríveis!
Uma rápida observação: cês já desistiriam de linearidade por aqui? Nem eu, vez ou outra rola. Mas esta vez não é agora. Este é o capítulo mais não linear desta fanfic, até agora, tem data em todas as cenas.

Capítulo 18 - Tóxica


Fanfic / Fanfiction Elipse - Tóxica

[01 de Novembro de 2018]

 

Ino estava insuportável.

E ela sabia disso.

O mau humor em seu rosto era visível e quando indagada sobre o motivo disso, ela gritou um milhão de razões diferentes. Aparentemente havia passado o dia tendo que fazer suas próprias lições de casa, uma vez que quando o nerd da sua turma de Matemática Avançada a ligara, pedindo a lista dos exercícios que ela não havia feito ainda para que ele fizesse e, logo depois dela lhe dizer que não havia nem começado e de ele a tranquilizar quanto a isto, já que ele poderia fazer todos, e, quem sabe, poderiam finalmente fazer alguma coisa juntos depois disso, ela dissera que o mundo acabaria antes que eles fizessem qualquer coisa juntos. E, depois, se vira obrigada a gravar um áudio de uns dois minutos no Whatsapp para as horrorosas da Física que não entendiam que nem nascendo de novo teriam espaço entre as líderes de torcida porque, no final das contas e sendo bem sincera, nascer de novo se fosse pra crescerem da mesma forma que estavam agora, não serviria de nada!

Sem contar que a mãe havia descoberto que o seu estoque de bebidas não vinha esvaziando por osmose e que o vinho antigo que ela se orgulhava tanto de guardar para uma ocasião especial, já havia sido aberto há um bom tempo e que mais da metade dele havia sido preenchido com água da torneira para que ao menos a garrafa aparentasse estar cheia.

Ino estava insuportável – e ela sabia disso.

E quando a estúpida da turma de Francês fora até ela, logo que ela chegara ao colégio, e lhe dissera que começava a suspeitar de uma invejosa qualquer da natação ter sido a responsável por misturar a tinta colorida no shampoo dela e deixar os cabelos loiros dela num tom que parecia até verde, ela bufara e por mais que a mente quisesse dizer que podia ser aquela garota mesmo e que elas com certeza se vingariam dela da melhor forma possível, o que saiu de sua boca era que aquela garota era ainda mais imbecil do que parecia já que não percebia que fora ela própria, Ino Yamanaka, quem fizera aquilo e que ela devia era ser muito grata por ser só tinta colorida no cabelo dela que ela passara, já que irritante como ela era, Ino podia cogitar mil maneiras diferentes e muito melhores de aprontar com ela porque ela ficava lhe tirando do sério!

E enquanto a garota a observava incrédula e finalmente ia embora esbravejando qualquer coisa e lhe jurando ódio eterno, vinha mais uma garota surgida direto do Inferno que lhe fizera o favor de dizê-la que a blusa dela estava ao contrário!

Ela respirou fundo e tentou se acalmar.

Ela jurava que estava tentando.

Mas aí Sakura surgira, então, caminhando com Sai do lado dela, rindo de uma piada qualquer que ele havia lido em algum dos seus livros sobre como puxar assunto com uma pessoa, e quando Ino percebeu que eles estavam se aproximando dela e que o sorriso se convertia numa risada por simplesmente estarem olhando para a expressão de ódio que ela ostentava, ela desistiu de tentar.

Ela tirou a própria blusa, ficando de sutiã no meio do corredor, desvirou a blusa calmamente e a vestiu novamente.

E enquanto todos arregalavam os olhos e a garota surgida do inferno balbuciava, com descrença, que o banheiro feminino não estava tão longe assim e que ela era louca, ela fechou o próprio armário, batendo-o violentamente, e disse para aquela garota, com a maior sinceridade do mundo, que era uma pena que ela não podia desvirar a cara dela do avesso também, que infelizmente o rosto errado com todos os traços fora do lugar que ela tinha era assim mesmo e que ela ia precisar se acostumar com isso.

A garota a encarou com lágrimas nos olhos e saiu correndo.

E ela saiu marchando na direção contrária.

Aquela garota fazia suas lições de Biologia.

Fazia.

Um grito escapava de sua garganta enquanto, sim, ela se lembrava...

Estava mesmo insuportável naquele dia!

 

 

[2012. Orfanato de Konoha – Japão.]

 

“Garoto”, Tsunade o chamara, observando enquanto ele atirava kunais em alguns alvos. “Descanse um pouco”.

Naruto olhou para ela brevemente. Não tinham tido muito contato, ela era uma das donas do orfanato em que ele morava no Japão e bem como Jiraya e Orochimaru, administrava o local.

“Eu tenho que treinar muito!”, ele disse, atirando mais uma kunai em um dos alvos à sua frente. Começara o treino há algumas horas, com Sasuke, e mesmo quando este fora descansar, ele optara por continuar treinando. “Tenho que melhorar muito ainda para ir aos EUA com vocês e vencer deus.”

Tsunade arregalou os olhos castanhos, em seguida os estreitou, observando a criança que continuava se esforçando. Ela própria também queria muito vencer deus... Mas aquela determinação vinda de alguém tão jovem...

“Você acha que pode vencê-lo?”, ela questionou, arqueando a sobrancelha.

Naruto a encarou melhor e abriu um grande sorriso, como se estivesse tranquilizando-a.

“Eu com certeza vou!”, ele falou.

“E como você pretende fazer isso?”, Tsunade o desafiou. Ter uma boa mira não era garantia de nada... E, ao que parecia, ele nem era tão bom de mira assim – ela notou, vendo as kunais que não estavam realmente fincadas no centro dos alvos.

“Eu tenho um demônio dentro de mim e vou usar o poder dele para isso! Será uma batalha entre deus e o diabo!”, ele exclamou com convicção no olhar, fazendo a Senju dar um pouco de crédito ao que ele dizia.

“Mas você precisaria controlar esse poder primeiro”, ela o lembrou.

Ele assentiu.

“E eu com certeza irei! Me dê três dias e eu vou mostrar que posso controlá-lo!”, ele pediu.

Ela estreitou os olhos, hm.

“Se importa de fazer uma aposta?”*, ela questionou, intrigada.

“Uma aposta?”*, ele próprio parecia muito intrigado também.

“Darei uma semana a você, se conseguir mostrar que pode controlá-lo, admitirei que você é digno de enfrentar deus, eu até lhe darei meu colar... Caso perca, você vai tirar essa ideia estúpida da cabeça de ir comigo para os EUA.”*

“Senhora, eu aceito sua aposta!”*

Tsunade riu e o deixou continuar seu treinamento, duvidava que ele conseguisse.

 

 

[02 de Novembro de 2018]

 

Sakura estava muito brava com Sasuke. As palavras de Karin não lhe saíam da cabeça e todas as vezes que olhava para o namorado, ela só conseguia pensar que os mesmos lábios que a beijavam já haviam se encostado aos da ruiva também e o estômago dela embrulhava.

E ainda por cima, como ela mesma dissera, ele havia ficado com Karin antes de ficar com ela!

Tentou respirar fundo. Ia acabar enlouquecendo pensando nisso!

Não sabia o que a estressava mais nisso, se era o fato de ele de fato ter tido alguém antes dela ou se o fato de que nunca haviam conversado sobre isso. Bem, na verdade ela nunca pensara em realmente conversar a respeito disso, uma vez que ela própria não tinha muito que conversar sobre isso. Tinha sete anos quando se apaixonou por Sasuke, uma espécie de amor à primeira vista mesmo. Tinha quatorze quando ele se admitira apaixonado por ela também e começaram a namorar aos quinze. Nunca havia ficado com ninguém antes disso e se Naruto não a tivesse beijado, há alguns meses, não haveria ninguém mais na sua lista de caras que ela já havia beijado.

Respirou fundo, tamborilando as unhas sobre a carteira. Mindinho, anelar, dedo médio, indicador, polegar. Mindinho, anelar, dedo médio, indicador, polegar.

“Senhorita Haruno, favor comparecer à enfermaria, no quinto andar. Senhorita Haruno...”, ela ouviu, de repente. O som vinha do auto-falante que ficava na parede, próximo do teto, da sala de aula e a mensagem estava sendo transmitida da sala do Jornal.

Estreitou os olhos e se levantou de sua cadeira, rumando à saída da sala. A aula ainda não tinha começado, de repente podia ver logo do que se tratava aquele chamado e não perder tanto conteúdo assim.

Fez uma pequena pausa, no entanto, ao avistar Hinata e Ino conversando no corredor. Ino não estava mesmo nos seus melhores dias, tinha pena de Hinata tendo que aguentá-la.

“Boa noite, garotas!”, Sakura cumprimentou e Hinata sorriu, acenando.

Ino revirou os olhos.

“A noite não está nada boa, Testuda!”, ela bufava e Hinata é que revirava os olhos agora.

“O que houve?”, Sakura perguntou, arrependendo-se de fazê-lo de imediato, porque no minuto que se passou, Ino começou a listar todos os milhares de motivos que tinha para que a noite estivesse um desastre e que a Haruno podia resumir com o fato de que não mentir era um saco.

“É o segundo dia, já!”, Sakura lembrou-a. “Falta pouco!”

“Essas estão sendo as 48h mais longas na vida de todos!”, Hinata brincou, lembrando todos os desastres que a amiga já havia cometido. A última, ao que parecia, se resumia a ela ter resmungado com Hinata que achava um absurdo que o Professor Hatake pudesse ficar lendo seus livros no estilo 50 Tons de Cinza, enquanto que os alunos tinham que se virar com a literatura arcaica e chata que ele insistia em ensiná-los, e, claro, já que não estava lá nos seus dias de sorte, o professor estava bem atrás dela quando ela dizia isso e Hinata não sabia onde esconder o rosto agora que o professor provavelmente achava que ela concordava com o que Ino dissera.

“Por favor, Hinata!”, Ino começou, gritando impaciente. “Pra quem tem uma foto do Naruto sem camisa, colada no guarda-roupa, você é puritana demais!”

“Ela tem o quê?”, Sakura perguntou, começando a rir, bem como algumas pessoas que passavam por elas enquanto Ino gritava.

Ops”, Ino colocou as mãos na boca, mesmo sendo tarde demais.

Hinata estava muito vermelha, parecia querer cavar um buraco e se jogar dentro dele. E Sakura não conseguia parar de rir. Ficava imaginando o que Naruto acharia daquilo. Será que ela devia contar? Era muito tentador! Ainda mais que depois daquela festa e daquele encontro com Shion, Naruto praticamente desaparecera, mergulhado no trabalho, perseguindo pistas que não levavam a lugar nenhum e...

Fugindo de Hinata.

Ele com certeza estava fugindo de Hinata tal como Hinata parecia fugir dele e de todo e qualquer assunto em que mencionavam o nome dele nos últimos dois dias.

Suspirou, lembrando-se do compromisso que tinha na enfermaria do colégio.

Despediu-se de Ino enquanto Hinata já marchava para Selene sabia onde.

 

 

[2012. Orfanato de Konoha – Japão.]

 

Naruto não estava tendo progresso algum em controlar a Kyuubi, até porque ele não fazia ideia de como poderia fazê-lo. Essa era uma ideia que já passava pela sua cabeça há muito tempo: controlá-la. Desde que soubera sobre ela. Mas aquela conversa com a velha que não queria deixá-lo ir junto aos EUA – mesmo que ele houvesse estudado Inglês e se preparado há anos para isso – lutar contra deus, fizera-o falar demais. E agora ele não tinha alternativa a não ser fazer alguma coisa para conseguir esse controle.

Tentou fechar os olhos e abri-los, esperando que eles ficassem muito vermelhos no processo – tal como acontecera uma vez quando ficara com muita raiva de um babaca qualquer e batera nele até que o garoto não pudesse mais gritar por estar desmaiado e quando olhara seus próprios olhos, minutos depois, vira-os daquela cor, no reflexo da vidraça da sala do orfanato. –, mas de nada adiantava.

E ele até tentaria se estressar, para ver se assim a raposa demônio apareceria, mas desistiu ao cogitar que não era exatamente esse descontrole que sentira aquela vez que ele estava procurando para si mesmo. Não. Ele prometera controle.

Respirou fundo.

E de novo. E de novo.

Passara noites em claro tentando desde gritar consigo mesmo, a treinar até que o próprio corpo não aguentasse mais e que a raposa, de repente, o ajudasse a continuar o próprio treino, mas nada estava funcionando. Correra quilômetros em volta do orfanato, atirara kunais em centenas de alvos, treinara socos, chutes...

E nada.

Nem controle. Nem descontrole.

Nada mesmo.

Sentou-se no gramado que cercava o orfanato, então. E fitou o horizonte, encarando as construções que compunham a paisagem mais adiante dele. Diversos prédios, arranha-céus... Iluminados artificialmente para contrastar com a noite.

E piscou, então.

Suas pálpebras cobriam e descobriam seus olhos azuis assombrados.

Tudo ia desaparecendo, de repente. Ia sendo consumido por chamas negras muito nítidas que se aproximavam cada vez mais do orfanato e que enquanto seguiam seu caminho, transformavam tudo que tocava em cinza.

Ele se levantou, correndo apressado e gritando para que o ouvissem, estavam todos correndo muito perigo.

Talvez o maior que qualquer um ali há tivesse corrido.

 

 

[13 de Novembro de 2018]

 

Naruto não mandara nenhuma mensagem desde àquele jogo que Shion inventara de jogar. Não ligara, não aparecera nos corredores e tampouco nas aulas de Literatura Mundial e de Educação Física.

Nem mesmo nas de Astronomia.

Ela evitava falar dele e se estender em assuntos que podiam acabar obrigando alguém a falar dele. Mas a verdade era que todas as vezes que Sakura dizia algo e que ela fingia não se importar com o que era dito, tinha uma voz no fundo da mente dela que insistia em querer que Naruto fosse a pauta de qualquer conversa que tivessem.

“Shion continua desaparecida”, Sasuke comentou no refeitório, olhando para Sakura.

Sai não se importava com Shion, Ino não se importava com nada sobre Shion que não fosse ela própria exterminando-a do planeta, e ela, Hinata, esforçava-se para não se importar com Shion.

Ou com Naruto.

Ou com a voz no fundo da mente dela que a dizia o quanto Naruto estava fazendo uma falta absurda naqueles dias.

“Kakashi-sensei disse que conhecera um Obito, no passado, mas que acreditava que ele estivesse morto... Neji está verificando –”

... Mas Hinata não estava mais prestando atenção. Havia pegado o celular no bolso da calça jeans e por acidente – afinal, não seria proposital, certo? – havia clicado no contato de Naruto ou no Idiota da Hina, como Ino havia registrado há algum tempo e estava ali, olhando para a foto dele porque, se pensasse bem, encarar aquele sorriso ali e sorrir de volta para ele não era assim tão diferente de sorrir para o Naruto que ficava do lado de dentro de seu guarda-roupa.

Ela pediu licença aos amigos e se levantou sob o olhar intrigado de Ino, mas não estava ligando realmente para as dúvidas no olhar da amiga. Só queria sair dali o mais rápido possível e seguir para sua aula favorita.

Astronomia.

Levaria Naruto, que ainda a encarava com um sorriso bobo do seu celular, para a aula secreta dos dois.

A voz no fundo da mente dela, ela percebia, era mais forte do que qualquer outra voz.

 

 

[2012. Orfanato de Konoha – Japão.]

 

Evacuavam o orfanato o mais rápido que podiam. Não havia o que ser feito com aquelas chamas negras que vinham na direção dele. Elas não se extinguiriam até que o reduzissem a pó. Não podiam ser apagadas ou mesmo apaziguadas e tudo o que ficasse no caminho seria destruído.

Lentamente destruído.

Consumido pelo fogo do Inferno.

Naruto ajudava como podia, garantindo que o maior número de crianças possíveis fossem salvas.

Sasuke ajudava como podia.

Tsunade ajudava como podia.

Mas ninguém podia ajudar tanto assim.

Não contra àquelas chamas que continuavam queimando incessantes. A outrora paisagem composta por arranha-céus e iluminação artificial, era agora um montante de borrões que eram aos poucos consumidos pelo fogo e tornavam-se cinza.

Naruto mal teve tempo de saltar com a criança em seu colo para sua esquerda, quando o chão aos seus pés se rachou.

Ele olhou para o lado, era Tsunade, que havia desferido um soco com muita força no chão e o pedira para continuar correndo enquanto ela atrasava fosse quem fosse. Naruto não precisou de mais do que dois segundos para ignorá-la e pedir a criança que continuasse correndo sozinha.

Virou-se para encarar com precisão a direção que Tsunade fitava.

Piscara algumas vezes enquanto o via.

Ele era extremamente parecido com Sasuke.

Usava vestes escuras, tinha o rosto tão pálido quanto possível, os cabelos negros e médios em camadas e os olhos eram de um vermelho vivo com uma espécie de shuriken negra dentro de cada um deles.

Tsunade saltou, tentando acertar um soco no rapaz, que também saltava e facilmente se desviava. Naruto aproveitou e tentou acertar-lhe um chute enquanto ele aterrissava, mas também fora em vão.

Sasuke se juntava ao grupo.

Gritando.

Chamando-o pelo nome.

Itachi!

Todos atacavam ao mesmo tempo.

Todos os golpes eram facilmente repelidos.

Um a um.

Sem qualquer dificuldade.

E quando cansava de repelir e de se desviar dos golpes, ele começava a acertá-los.

Um a um.

Eles nem viam de onde vinham os golpes que lhe eram direcionados e só sabiam que haviam sido acertados quando as costelas começavam a doer...

Quando os músculos começavam a reclamar.

Quando o sangue desistia de somente percorrer o interior do corpo deles...

E percorria o exterior.

E enquanto isso...

O orfanato continuava queimando.

Crianças continuavam correndo.

Sasuke estava caído de um lado, Naruto de outro...

E Tsunade, com suas últimas forças, socava o chão mais uma vez, separando o local onde Itachi e ela estavam e onde os demais estavam.

Sacrificava-se.

Por todos.

 

 

[02 de Novembro de 2018]

 

A enfermaria de AHS estava exatamente como se lembrava dela: iluminada demais, lotada de leitos vazios, alguns tapados por cortinas. Paredes em tons pastéis, tudo absolutamente limpo. Não fazia ideia de por que era convocada a estar ali.

Respirou fundo, sentando em uma cama vazia qualquer e aguardando um pouco, até que pudesse concluir que havia sido um engano ser chamada ali e pudesse ir embora.

“Sakura Haruno”, uma voz chamou, era a de Sasuke, ela reconhecia, antes mesmo de levantar os olhos verdes irritados para ele. Ela se segurou para não rir ao olhar para ele. Sasuke estava vestindo um jaleco branco por cima de uma camisa azul, segurava uma prancheta em mãos e tinha um estetoscópio consigo pronto para uso. O que significava aquilo? “Muito bem... Aparentemente a paciente apresenta alguns problemas no coração”, ele fingia ler alguma coisa na prancheta enquanto Sakura arqueava a sobrancelha. “Vou precisar examiná-la”, ele informou.

E ela começou a rir, desistindo-se de se segurar para não fazê-lo.

“Deite-se, por favor”, ele pediu, ignorando as risadas dela, e ela o fez, ainda achando graça da situação. “Vamos ver...”, ele colocou a ponta do objeto no coração dela, por cima da blusa, e começou a ouvir. “É, está acelerado demais, como eu previa”, Sakura mordeu o lábio. “Vou precisar examinar melhor para ter certeza...”.

“O que você acha que eu tenho, Doutor Uchiha?”, Sakura perguntou, entrando na brincadeira. Ele sorriu, um sorriso frio. Um sorriso Sasuke demais para que os olhos dela não se revirassem automaticamente quando ela já pensava no quanto ele era lindo sorrindo daquela forma.

“Ciúme”, ela fechou a cara na hora e já ia reclamar, mas ele continuou. “Aparentemente seu namorado ficou com uma garota, há uns anos, para te esquecer quando estavam longe um do outro, e ele não falou sobre isso”, ela relaxou a expressão. “Foi só uma vez, mas ao que parece deixou danos mesmo assim”, ele suspirou, checando mais uma vez a prancheta que segurava com uma mão.

“E qual o tratamento sugerido, Doutor?”, ela questionou, percebendo como estava realmente adorando aquilo.

Sempre tivera muita facilidade com línguas, de tal forma que Naruto estava sempre reclamando do repertório de idiomas que ela demonstrava conhecer quando se tratava de xingá-lo de todas as formas possíveis que conhecia. Mas quando tivera a oportunidade de se aproximar de Tsunade-sensei, uma médica incrível que acabara por dar aulas de Biologia em AHS e, antes disso, administrava um orfanato, por questões pessoais, mas que era conhecedora do corpo humano como ninguém, ela logo foi descobrindo que a linguagem do corpo era com certeza a que mais a atraía. E não psicologicamente falando, não. Ela gostava de como o organismo se portava, de como os neurônios se comunicavam, de como as feridas abertas aos poucos iam reagindo a tratamentos...

E Sasuke estava ali, usando sua paixão a favor dele.

Embora ele próprio também fosse uma das paixões dela...

A maior delas.

“Um tempo a sós com seu médico”, ele finalmente respondeu. “E... menos roupas. Eu vou precisar te examinar melhor.”

Sakura arregalou os olhos, enquanto ele fechava a cortina do leito.

“Aqui?”, ela interrogou, descrente. “Você só pode estar brincando!”

Ele colocou a prancheta em cima de um banco ao lado da cama e colocou o estetoscópio por cima. Não havia nenhum barulho por ali e, pensando bem, Sakura não se lembrava de quando fora que alguém precisara da enfermaria desde Ino...

Isso justificava, inclusive, o fato de ter se surpreendido tanto quando fora convocada para estar ali.

“Quer apostar?”, ele perguntou, já se abaixando e beijando-lhe os lábios, sugando lentamente enquanto ela fechava os olhos.

E ela nem se atreveu a responder.

 

 

[23 de Novembro de 2018]

 

Sai e Ino estavam bem.

Ao que parecia, Ino já colocara Sai em situações muito piores e mais constrangedoras do que ter que dizer a verdade a todos – e, além disso, Ino, agora que não tinha mais a pulseira em seu braço, achava que havia sido um alívio poder cuspir toda a maldade que tinha acumulada dentro de si, como ela própria comentara –, então não havia por que demorarem mais para se acertarem pela sabia-se lá qual vez naquele ano.

Sasuke e Sakura estavam muito bem.

E Hinata já havia chegado à conclusão de que não queria detalhes a respeito disso, ainda mais quando Ino e Sakura se juntaram para dizer que Naruto teria muito gosto em mostrá-la ele mesmo do que estavam falando.

E numa dessas...

Por puro impulso...

Hinata se pegou dizendo que Naruto nem falava com ela mais, que dirá iria mostrá-la alguma coisa; e ela só percebia que acabara de cavar sua própria sepultura quando elas começaram a inundarem-na com piadinhas a respeito do fato de que ela não se dava ao trabalho de desmentir como estava louca para que o idiota loiro fosse logo o idiota dela também!

Ah, sim!

Sakura já estava muito a par dos apelidinhos de Ino para Naruto.

E estava adorando, por sinal.

Hinata não conseguia mais lidar com os 50 tons de Vermelho que existiam em seu próprio rosto toda vez que conversava com as duas.

E Ino já havia se despedido, entre risos, caminhando para sua turma de... Nem ela própria parecia saber que aula teria agora, que dirá Hinata!, quando a Hyuuga pegava sua apostila de Literatura Mundial no armário e suspirava, com Sakura ainda em seu encalce.

Mais uma aula que deveria ter com Naruto.

Mais uma aula que ele com certeza não iria só para não vê-la.

Isso era tão frustrante!

Era ela quem devia estar evitando-o...

Quem devia estar com raiva...

Quem devia precisar de um tempo!

Sentia os olhos começarem a lacrimejar.

Hey, Hina”, Sakura chamou, ainda do lado dela, e ela a fitou com os olhos úmidos e embaçados pelas lágrimas que ela estava esforçando muito para não deixar cair. “Ele te faz tanta falta assim?”, ela perguntou com certo pesar.

Hinata pensou em assentir, mas teve medo de que se o fizesse, as lágrimas se desprenderiam dos cílios e ela não pudesse mais segurá-las. Achou melhor responder:

“Sim”, e ela disse bem baixinho também, abraçando a apostila.

Sakura cruzou os braços e se apoiou no armário de alguém, que ficava ao lado do de Hinata.

“Hina...”, ela começou, balançando a cabeça. “O Naruto é o garoto mais idiota que eu já conheci... Ele é estúpido em todos os idiomas possíveis – e eu mesma posso citar vários se você quiser”, ela respirou, “e ele também tem um coração enorme. É exatamente isso: quando você além de extremamente burro, é também uma pessoa que se importa tanto com o outro, você é nada mais nada menos que o Naruto. E isso significa que você vai fazer sempre as escolhas mais imbecis possíveis!”, ela falava com raiva, parecia estar repassando alguma briga na própria mente. “Eu não sei como você foi se apaixonar logo por ele... Eu juro que eu não sei e eu provavelmente não vou entender nunca, mas, Hina... O Naruto também gosta de você”, ela dizia, como se fosse óbvio. “E ele gosta tanto de você que vai tentar te afastar o máximo possível só pra não arriscar que você se machuque no processo porque a Shion colocou na cabeça dele que as pessoas que estão perto dele se machucam!”, ela parecia estar realmente muito furiosa agora.

“A Shion é tóxica, Hina... E toda vez que ela passa pela vida do Naruto, ela deixa uma marca. Eu geralmente era aquela que colava os pedaços que sobravam do meu amigo quando ela o quebrava – e ela sempre quebra –, mas, sinceramente? Eu vou deixar isso pra você agora...”, ela descruzou os braços e seguiu para sua próxima aula.

Não sumiu da vista de Hinata, no entanto, sem antes se virar:

“E nem é porque eu sou preguiçosa ou porque estou desistindo, é porque você pode fazer melhor do que eu... Você pode reconstruí-lo.”

 

 

[11 de Novembro de 2018]

 

Ino não acreditou quando Sai apareceu na porta de sua casa, de repente, como se nada tivesse acontecido. Ela começou a gritar e ele dava muita sorte de que sua mãe não estava em casa, que se não ela ia aproveitar que agora já podia mentir novamente, e iria contar as piores mentiras possíveis sobre ele para a Senhora Yamanaka e garantir que ele nunca mais passasse perto da casa delas!

Mas Sai continuou impassível perante os gritos dela e quando ele começou a entrar na sua sala e ela estava se recuperando do choque disso, ela arremessou o controle remoto que segurava bem nas costas dele e já ia começar a atirar mais objetos.

Todavia...

Ele a segurou.

Suspirando como se lidar com loucas fosse sua especialidade!

“O que você quer?”, ela perguntou, tentando se desvencilhar das mãos dele.

“Fazer as pazes”, ele respondeu, tão simplesmente quanto quem desejava bom dia a alguém.

“Ah, é? E eu quero alguém que pague minhas contas, mas adivinha? Ninguém paga!”, ela exclamou, armazenando na mente a informação que gritava que sua mãe até pagava e que justamente por isso ela precisava honrar o castigo.

“Ino...”, ele começou, soltando-a e passando as mãos pelos cabelos escuros como se estivesse escolhendo as palavras com muito cuidado. “Eu não repeti a pergunta quando você estava com aquela pulseira e nem mesmo te fiz perguntas naqueles dias... Eu deixei você desabafar com o colégio todo sobre como odiava cada um deles”, e Ino se viu obrigada a rir. Pensando por esse lado... Fora um alívio mesmo. Ela dissera boas verdades a tanta gente que passara a vida ouvindo as mentiras mais absurdas possíveis! A fulaninha da secretaria, por exemplo, deveria beijar o chão que ela pisava só por alguém finalmente abrir os olhos dela a respeito do namorado que ela tinha e que a traía sempre que saía para almoçar! “A gente não precisa dar nome para o que sente... Não é só porque eu li que-”, ele parou enquanto era tempo, observando o olhar raivoso de Ino. Ela ia cometer um assassinato se ele citasse algum dos livros dele! “Enfim, a gente não precisa dar nome.”

Ino abriu um sorriso.

Mas abriu a porta e o indicou o caminho da saída de sua casa.

Ah, ele havia até começado bem...

Porém...

Ia precisar se esforçar um pouco mais ainda.

Achava que era só jogar uma frase bonitinha no ar... Dar um sorrisinho... E pronto?

Ah, por favor!

Ela era Ino Yamanaka, querido!

 

 

[13 de Novembro de 2018]

 

Estava acompanhada de Naruto quando chegou ao porão naquela noite... O loiro lhe sorria do seu celular e ela sorria de volta, desviando o olhar bem rapidamente para abrir a porta.

Mal começara a descer as escadas, no entanto, e sentira o coração falhar algumas batidas quando enxergou o outro Naruto – o que não era imóvel como o que lhe sorria pelo celular – pouco à frente dela. Olhando pela janela, mas não encarando o céu, realmente, só parecendo olhar para qualquer lugar enquanto segurava um cordão em sua mão.

Hinata parou no meio das escadas, virou-se para a porta, mas ficara em dúvida se saía realmente dali ou se continuava descendo; ficou alguns segundos ali, parada, incapaz de se decidir.

Foi então que ele decidiu por ela.

Ele tinha pernas longas, era atleta... E era muito rápido.

De alguma forma a tinha notado ali e antes que ela pudesse calcular o que de fato faria, ele estava ali, atrás dela, um degrau abaixo, abraçando-a como se não fizesse treze contados dias que ele não falava com ela. Como se não a estivesse ignorando.

Ele repousou o queixo no ombro dela.

E de repente ela não respirava mais.

Não respirava porque respirar relva depois de treze dias só sonhando com aquele cheiro, doía.

“Você ia me ligar?”, ele perguntou, vendo que com uma das mãos ela ainda segurava o celular e o contato dele estava selecionado – e ela não ia dizer que era porque estava falando com a foto dele, definitivamente não ia. –, e a voz dele era arrastada. E Hinata não estava exatamente surpresa porque ela podia sentir aquela aura demoníaca em volta dele e em volta dela enquanto ele a abraçava.

“Por que é que você está me evitando?”, ela questionou, não o respondendo. “Eu é que devia estar te evitando... Eu devia estar brava... Eu!”, ela desabafou, ainda abraçada por ele.

De repente respirando de novo...

Mas bem devagar.

Achando que, pensando bem, não doía tanto assim.

“E você está... Brava?”.

Ela continuou não respondendo.

Não tinha uma resposta.

Ela até tinha...

Antes...

Estava muito, muito brava.

Mas agora...                                                                                                         

Agora ele a estava abraçando e ela não queria pensar em nada além disso.

“Hina-chan”, ele chamou, e ela aguardou, “Eu não estou te evitando”, ele respondeu, finalmente, fazendo-a estreitar os olhos, aguardando o ‘mas’ que a entonação dele sugeria. “Mas eu preciso de um tempo.”

Ele beijou o ombro dela, por cima do casaco que ela usava e se afastou.

Hinata acompanhou com os olhos enquanto ele saía do porão e não precisou de mais do que um segundo para o calor do corpo dele fazer falta.

Uma falta absurda.

 

 

[2012. Orfanato de Konoha – Japão.]

 

Naruto fechou os olhos e voltou seus pensamentos ao mais fundo de sua mente que achava ser possível alcançar. Deixou-se ser levado pela dor que sentia e concentrava-se no ódio que o momento lhe causava. Seus olhos azuis se viram, então, em um corredor escuro, mas que aos poucos tinha sua escuridão quebrada por tons alaranjados cada vez mais intensos que clareavam o ambiente na medida em que transitava por ele. Pouco a pouco, o verde-musgo das paredes e das grades que prendiam a fonte de luz do lugar, era totalmente nítido.

Um monstro que passava por todos os tons de laranja que conhecia, sorria para ele de forma macabra e debochada, agora. Atrás das grades, a energia pesada do qual ele era composto parecia a ponto de explodir e se espalhar por todo o ambiente. Era de uma densidão imensurável. E tornava o ar ao redor espesso e tenso.

“Sua raposa asquerosa”, Naruto começou, “Você vive dentro de mim, você depende da minha existência pra continuar existindo também! A Velhota quebrou o solo à minha frente e eu vou saltar mesmo assim pra alcançá-la e resgatá-la daquele Itachi! Eu vou precisar da sua força e se não cooperar, nós dois morremos!”

Quem você acha que é pra falar comigo assim, garot-”

Mas Naruto interrompia.

Não tinha tempo para aquilo.

Não tinha paciência também.

“Eu sou o garoto que vai te usar para derrotar deus!”, ele exclamou e chutou as grandes que prendiam a raposa, chacoalhando um pouco o lugar. Não era forte o suficiente para soltá-la, mas já era possível sentir um pouco da intensidade daquele poder deixando a jaula e alcançando o espírito do garoto.

 

Naruto abriu os olhos, já correndo em direção ao buraco. Seus olhos estavam muito vermelhos, as cicatrizes do seu rosto estavam grossas, e uma aura alaranjada acompanhava seu corpo. Ele saltou, juntando os joelhos na altura do peito e então trazendo as pernas para frente, aterrissando perfeitamente na ponta do terreno que Tsunade havia dividido. Caiu primeiro com a ponta dos pés e então os calcanhares tocaram o solo, num salto preciso e cravado, equilibrava-se com os braços erguidos à frente de seu corpo, estabilizando-o.

Ele saltou outra vez, então, desferiu um soco muito forte em Itachi, logo que o alcançou, sob o olhar incrédulo de Tsunade.

E desferiu outro soco, e outro, e outro. Numa velocidade que era anormal.

E que por mais que Itachi conseguisse acompanhar, fazia-o com muita dificuldade.

Itachi tentou golpeá-lo também.

E ele desviou.

E um desviava do outro o tempo todo.

Vez ou outra se acertavam.

Sangue tingia o ar.

Não se sabia de quem.

De tão rápida que era a luta.

E continuariam os golpes...

Não fossem...

Helicópteros da Hyuuga Company sobrevoando o local. Um enorme HC nítido em cada um deles. Itachi percebera isso... e só tivera tempo de desviar de um último chute de Naruto antes de desaparecer dali.

Naruto caiu sem fôlego, Tsunade arrastou-se até ele.

A maior parte do sangue, notava-se agora, era dele.

Estava muito, muito ferido.

Mas eram feridas que pouco a pouco iam se curando pelo poder regenerativo da raposa.

Tsunade chorava em cima do corpo de Naruto.

E ele, antes de desmaiar, sorria-lhe e os dedos dele alcançaram o colar que ela usava.

Ganhara a aposta.

 

 

[23 de Novembro de 2018]

 

Já fazia vinte minutos que o Professor Hatake estava falando sobre Literatura Asiática.

Já fazia vinte minutos que ela não estava realmente ouvindo o que o professor dizia.

“Senhorita Hyuuga”, o professor a chamou, finalmente. “Pode dividir com a turma o que há de tão interessante nesse celular?”, ele pediu.

Hinata sentiu o rosto avermelhar.

O professor não era do tipo que se incomodava com o que os alunos fizessem, de fato, em sua aula, mas desde que Ino soltara aquele comentário sobre o peculiar gosto para livros dele, ele vinha se atentando mais à Hinata e sendo mais rígido com ela. Obrigada, Ino!

E é claro que ela não podia dividir nada com a turma, porque ela estava encarando há todos aqueles minutos a foto de Naruto e pensando no que Sakura dissera.

“E-eu”... ela não fazia ideia do que ia dizer. Beliscou-se por gaguejar e respirou fundo. Ela não queria realmente dizer algo.

Fechou os olhos, pensou em Selene.

Pedia coragem.

Para variar.

Ela nunca sabia se seus pedidos eram realmente acatados ou se o simples fato de que acreditava que ‘sim’ já funcionava, mas ela sempre se sentia renovada quando fazia sua pequena prece à sua deusa particular.

Sorriu.

E se desculpou mentalmente pelo sentimento de possessão com Selene.

“Com licença, Professor”, ela pediu, levantando-se, pegando seus materiais e saindo da sala sob o olhar descrente de todos.

Caminhou até seu armário, guardou seus materiais, e fechou o casaco em torno de si. Fora do colégio não podia contar com o aquecedor, no final das contas.

Seus passos a levaram direto para o exterior de AHS.

E ela começou a procurar por Naruto em absolutamente todos os lugares que lhe eram possíveis. Carro a carro do estacionamento, pedaço por pedaço do colégio. E nada. Suspirou. Foi então que ela se lembrou das rondas que ele fazia... A dele começaria depois das aulas e a última aula do dia que ele teria seria a que ele não estava assistindo bem como ela não estava mais.

Olhou para o alto do prédio do colégio e retornou aos interiores dele, pegou o elevador até o último andar e de lá subiu as escadas que a levariam para o terraço.

Ela não tinha muita ideia do que estava fazendo realmente...

Ele queria um tempo.

Ótimo.

Mas um tempo era quanto tempo?

Apertou-se mais em seu casaco, estava nevando e era muito frio ali. E muito alto também. O coração dela estava quase saindo pela boca enquanto ela andava pelo terraço. Era muito alto. Tudo bem, era só ela não ficar olhando para baixo. Estava no meio do terraço, não havia como cair dali.

Respirou fundo.

Não o enxergava.

Embora pudesse senti-lo.

A aura dele continuava pesada.

Ela fechou os olhos, pedindo mais uma vez a ajuda de Selene. E tinha a desculpa de que levara dezessete anos para pedi-la ajuda pela primeira vez, então...

Quem sabe...

Talvez tivesse um crédito por isso.

Por favor...

Ela suplicava.

E ao abrir os olhos...

Ela precisou piscar várias vezes para entender o que havia acontecido.

Ela podia sentir veias se elevarem em seu rosto, perto da têmpora, e ela podia enxergar muito melhor do que achava ser possível enxergar. Era como se tivessem implantado lentes de uma tecnologia incrível nela. Ela tinha uma visão até mesmo do interior das coisas agora.

Parecia que estava enxergando através dos olhos de Selene...

Que a Lua, que antes fitava tudo e todos do alto, agora a permitia fazer o mesmo.

Fitar todos e absolutamente tudo.

Ela agradeceu mentalmente e girou procurando Naruto, encontrando-o em cima de uma torre que havia ali no terraço.

Sentiu seu coração parar.

E acelerar.

E a respiração lhe faltar.

Era ainda mais alto do que o local em que estava...

Seguiu com passos trêmulos até o início da torre, tinha uma espécie de escada grudada a ela para que fosse escalada.

Ela pensou por uns segundos...

De quanto tempo Naruto precisava, afinal?

Talvez ela pudesse descer, desistir daquilo tudo, implorar ao Professor Hatake que a deixasse assistir ao final da aula e fazer alguma penitência pela próxima semana para se desculpar com Selene pelo trabalho que lhe dera por motivo nenhum...

E...

Balançou a cabeça, começando a subir a escada.

Segurava com as mãos trêmulas a barra de ferro acima de sua cabeça e subia com os pés mais trêmulos ainda. Não ia cair, não ia cair. Um pé de cada vez, juntava os dois, respirava, subia de novo. Um pé, o outro. Respirava. Não ia cair. Um pé, o...Ops, quase.

Quase.

Respirou fundo.

O coração batia tão rápido que parecia que já estava caindo.

As mãos estavam muito, muito suadas.

A cabeça girava.

Não queria olhar para baixo...

Não queria.

Mas...

Era muito alto mesmo!

Vertigem.

Ela podia até sentir o estômago vazio dando voltas.

Faltava pouco, continuou subindo.

Estava quase...

Quase lá.

Quando chegou ao topo, finalmente soltou o ar que havia prendido sabia-se lá quando.

Alívio...

Alívio era a melhor sensação do mundo.

Ela fechou os olhos, agradecendo à Selene pela ajuda, e eles voltaram ao normal.

Focalizou Naruto, então.

Surpreendendo-se ao finalmente vê-lo.

Ele estava tão diferente.

Para começo de conversa, dos lábios dele, anéis de fumaça eram assoprados, à medida que ele levava e tirava o cigarro deles. Havia uma barba rala e por fazer moldurando o rosto dele também. Era fininha e bem clara, concentrava-se mais densa no queixo, mas também era vista embaixo do lábio inferior, encontrava-se nas laterais com o bigode, contornando todo o lábio superior e se salpicava pelas maçãs do rosto, num tom de loiro menos vistoso que os cabelos dele.

Ela já o achava absolutamente lindo antes...

Não tinha palavras para descrevê-lo agora.

E observá-lo ali, soltando aqueles anéis no ar...

Inalando e expirando aquela fumaça tóxica...

Era como observar uma obra de arte.

Um quadro que se mexia.

Aproximou-se a passos muito lentos e sentou-se do lado dele.

“Eu não sabia que você fumava”, ela se atreveu a dizer. E era atrevimento mesmo, na cabeça dela, porque parecia até pecado interromper a beleza daquele silêncio com sua voz.

Ele sorriu, não o sorriso que ela amava mais que todos. Mas o sorriso que ela já entendera que também era capaz de amar. Aquele que era só um curvar de lábios.

Ele apagou o cigarro na torre e soltou os últimos anéis de fumaça lentamente.

Em completo silêncio enquanto eles se dissipavam no ar.

Tem muita coisa sobre mim que você não sabe”, ele argumentou, olhando-a com os olhos muito vermelhos.

Ela assentiu.

“Eu devia ter me aproveitado mais daquela pulseira”, ela disse, dando de ombros.

Ele riu.

Uma risada pesada.

Pesada e vermelha.

“O que você quer de mim, Hina-chan?”, ele questionou, bem direto.

Ela piscou, não ia se deixar intimidar.

Não depois de ter escalado uma torre por ele.

O que ela queria...

Começou a pensar...

Abraços, café da manhã juntos, passeios de mãos dadas, dormir e acordar juntos, carinho na bochecha, ele. Com todos os tons de olhos possíveis. Azuis, roxos, vermelhos...

Ele.

O que ela queria dele era simplesmente ele.

Sorriu.

“No momento?”, ela o encarou, sem deixar de sorrir. “Astronomia”.

Ele arqueou a sobrancelha.

“Não estamos no porão-”

“Astronomia é nossa aula secreta e o que ela precisa pra existir é da gente, não de um local definido”, ela interrompeu.

Ele assentiu.

“E depois vamos voltar com as nossas aulas de Literatura Mundial”, ela afirmou. “Você disse que ia ser meu melhor aluno, mas já faz quase um mês que não estudamos. Quero que você continue sendo aquele que não volta atrás com a sua palavra.”

“Mais alguma coisa, Professora?”, ele perguntou, com um sorriso no canto dos lábios, segurando o rosto dela.

Relva e cheiro de cigarro no hálito dele.

Não era nem um pouco ruim.

Ela assentiu.

“Tem, sim”, ela mordeu o lábio. “Não encosta em mim!”, ela exigiu, segurando os dedos dele.

Ele estreitou os olhos.

Mas retirou os dedos.

“Você perguntou se eu estava brava com você há alguns dias”, ela começou, “e eu estou. Muito!”.

Ela estava brava porque desde o início era ela quem devia tê-lo evitado. Porque numa hora ele disse coisas lindas para ela e na outra ele estava aos beijos com Shion – e ela não ia entrar no mérito de quem era a culpa porque não queria ficar pensando sobre isso! –. Porque ele sumira por quase um mês e era ela que precisava lidar com o fato de que não havia um buraco para se jogar dentro quando Sakura e Ino começavam com as piadinhas delas...

E porque...

Porque ela havia acabado de escalar uma torre e o coração dela ainda estava brincando de montanha-russa dentro dela e os olhos dele, que a fitavam com uma intensidade que podia queimá-la, estavam absolutamente vermelhos, então a torre que escalara fora para o Inferno...

E ela só conseguia pensar, toda vez que o via, que o Inferno era o melhor lugar para se estar...

E Selene provavelmente a deserdava por isso nesse momento.

’Tebayo”, ele coçou os cabelos, parecia com raiva, mas não dizia mais nada.

Ela suspirou.

“O que houve com você?”, ela questionou, enquanto ele rolava os olhos pelo horizonte.

Ele tirou um cordão do bolso.

Era preto, elástico. Tinha um pingente com uma grande pedra esverdeada no meio e um pequeno pingente metálico de cada lado da pedra.

Era da Vovó Tsunade...”, ele explicou, segurando o colar. “Eu o ganhei dela em uma aposta que fizemos... Eu disse que mostraria que era capaz de controlar a raposa dentro de mim e ela me deu o prazo de uma semana para mostrar isso... Eu não controlei, realmente, mas eu consegui usar o poder dela a meu favor quando era o momento de usar, então serviu”, ele riu. Uma risada dolorosa e vermelha que tomava conta do ar. “E eu estava lidando bem com isso... Até a Shion morrer”, a voz dele parecia cada vez mais sofrida. “Quando a enterrei, eu deixei o colar no corpo dela porque não estava mais interessado em controle – e esse cordão me lembrava de me controlar –, eu ia deixar que a raposa se divertisse mesmo... E eu deixei”, ele suspirou.

“Ela colocou isso no meu bolso no final daquele jogo e toda dor que eu causei nesse tempo parece ter passado diante dos meus olhos.”

“Não é culpa sua”, Hinata se apressou em dizer.

Ele a olhou bem.

“A gente sabe que é”...

Ela balançou a cabeça.

E os dedos dela tocaram o rosto dele...

Ela contornou com o indicador a barba rala dele, começando pelo queixo e traçou o caminho ao redor dos lábios dele...

Em seguida pelas maçãs do rosto...

Contornou cada uma das seis cicatrizes das bochechas dele.

E ele soltou um risinho pelo nariz porque não podia tocar nela, mas ela estava ali...

Redesenhando a face dele.

“Não é”, ela repetiu, recolhendo o dedo, a aspereza gostosa da barba dele ainda provocava um arrepio na pele dela. “Se você se culpar pelas coisas ruins que fez por causa da raposa, vai precisar se culpar pelas boas que fez usando o poder dela também”, ela falou. “E isso inclui me salvar”, ela sorriu.

“Você se culpa por ter me salvado, Naruto-kun?”

Ele arregalou os olhos, não acreditando no que Hinata perguntava.

“Nunca.”

Hinata sorriu e pegou o colar que ele segurava, colocando ela mesma o cordão no pescoço dele. Ele deixou e a observou deitar-se na torre, olhando para o céu.

Ele deitou também.

“Agora pega isso”, Hinata entregou um dos fones para ele, tirados do bolso do casaco, e colocou um no seu ouvido.

“Para quê?”

“Para ignorarmos um ao outro.”

Ela ainda estava brava.

Ou pelo menos tentando estar.

Ele riu.

E acompanhou os lábios dela se mexendo enquanto ela contava as estrelas que estava vendo...

Tinha várias para contar.

E a vista era linda dali.

Ele queria acender mais um cigarro, queria saber porque o colar no pescoço dele não parecia mais tão pesado, queria beijá-la... Queria saber o que tinha na cabeça para deixar a barba naquele tamanho... Estava coçando... Ou talvez estivesse sentindo falta dos dedos dela...

Hey, Hina-chan”, ele chamou, e ela olhou para ele. “Tem música? Tem uns pensamentos que eu preciso ignorar.”

“Achei que pensar não era o seu forte...”, ela brincou, tirando o celular do bolso e plugando o fone, dando play numa música qualquer.

Don't be afraid if I'll go crazy for you
(Não tenha medo se eu ficar louco por você)

Don't be surprised if I'll fall at your feet
(Não se surpreenda se eu cair aos seus pés)

I don't care about what they think of me
(Eu não me importo sobre o que pensam de mim)

“Você sempre me faz pensar demais”, ele suspirou. E ele soltou uma risadinha pelo nariz com a letra da música que Hinata colocara.

“Isso é ruim?”, ela questionou.

“Depende”, ele riu.

Ela piscou, reparando que os olhos dele estavam arroxeados agora.

I don't know what to do
(Eu não sei o que fazer)

'Cause I'm falling for you (for you)
(Porque eu estou me apaixonando por você (por você))

“Posso agir sem pensar agora?”, ela pediu olhando para ele, ele assentiu.

When I look in your eyes
(Quando eu olho em seus olhos)

I can see me and you
(Eu posso ver eu e você)

E ela se levantou um pouco e voltou a se deitar, mas apoiando a cabeça no peitoral dele.

Remember this time that will last 'til the end
(Lembre-se deste tempo que vai durar até o fim)

When I find you in my dreams
(
Quando eu encontrar você em meus sonhos)

I just won't let you go
(Eu só não vou deixar você ir)

I'll hold you in my heart
(Eu vou manter você no meu coração)

I can't live without you
(Eu não posso viver sem você)

I can't live without your love
(Eu não posso viver sem o seu amor)

Ela fechou os olhos.

“Me acorda daqui meia hora?”, ela pediu.

Ele sorriu.

Don't be afraid if I go crazy for you
(Não tenha medo se eu vou ficar louco por você)

Don't be surprised if I fall at your feet
(Não se surpreenda se eu cair aos seus pés)

I don't care about what they think of me
(Eu não me importo sobre o que pensam de mim)

 

“Estamos bem, então?”, ele perguntou, lembrando-se da raiva que ela dizia sentir.

Ela sorriu.

“Nem um pouco.”

Ele riu.

I don't know what to do
(Eu não sei o que fazer)

'Cause I'm falling for you (for you)
(Porque eu estou me apaixonando por você (por você))

 

Naruto deixou de olhar para o céu, e olhava para Hinata dormindo em seu peitoral. Parecia um anjo.

Um anjo que vinha para lhe salvar...

Oferecer-lhe redenção...

E que, pouco a pouco...

Levara cada vestígio de vermelho e agora o roxo dos olhos dele.

Deixando simples e somente...

O azul.


Notas Finais


*Frases do episódio 91 de Naruto Clássico, adaptadas para a fanfic. Tratam-se da aposta que Tsunade faz com o Naruto a respeito do colar que ela usava.

Música que Naruto e Hinata ouvem no final da fanfic é I can't live without your love - Dan Torres : https://www.youtube.com/watch?v=qXmKUNO3sOU
Eu amo essas musiquinhas melosas, awn. <3

(Hinatinha brava é lindo e era brava que ela protagonizava as melhores - e raras cenas que ela tinha .-. - no anime <3.)

Pouco a pouco eu vou encaixando o mundo do anime nesse mundo louco que criei e eu prometo que vou arranjar uma explicação pra isso, mantenham a calma. Assim como eu dei um jeito de citar o Byakugan da Hina aqui no estilo Ely, eu vou explicando cada detalhe que eu trouxer para a fanfic. Mas vamos dosando as revelações... Lembrem que quanto mais durarem os mistérios, mais tempo dura Ely. Awn <333


E, ah, sigam-me no instagram para ficarem por dentro das minhas próximas novidades, eu sempre deixo uns trechos ou algo do tipo, uns making of, por lá: https://www.instagram.com/jacquelineoli95/

Só isso mesmo.
Um beijo enorme.
Amo vocês.
Próximo capítulo é menor e vem na segunda também e não vou deixar o nome porque estou decidindo o nome dele ainda.


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