— Bom... — rompi o silêncio constrangedor que havíamos formado. — Vamos voltar? Os convidados estão desamparados sem a aniversariante — arrisquei uma brincadeira e Jeon riu.
— Vamos logo antes que ela termine esse jogo todo só hoje — pegou a Hee no colo e retirou o tablet das suas mãos. — Você é muito inteligente, vai acabar com isso rapidinho — beijou a testa da menor quando um bico surgiu em seus lábios.
— Não, sem choro — repreendi ao notar os seus olhos marejados. — Você vai poder jogar mais um pouco depois.
— Azul — Heeji gritou enquanto se esticava para o tablet e Jeongguk e eu arregalamos os olhos ao mesmo tempo. Essa palavra havia sido repetida pelo boneco várias vezes no pouco tempo em que a menina esteve com o aplicativo aberto e certamente fez algum sentido para ela.
— Mas... Como? Já? — Eu perguntei baixo, muito confusa. — O que tem nesse jogo, Jeongguk? — Cruzei os braços e o maior riu.
— Estou prevendo que a Hee vai passar da primeira fase ainda nessa semana — ergueu a menina e chacoalhou com leveza, fazendo-a gargalhar. — Quero que me chame de appa o mais rápido possível! Até o seu bonequinho foi agraciado, então por que eu não?
Voltamos para o andar de baixo e Jeon fez questão de contar aos nossos pais e amigos que havia feito um jogo especialmente para Heeji. E é óbvio que assim como eu, todos o encararam com profunda admiração. Por mais que repita isso tantas vezes, eu confesso que nunca imaginei que Jeongguk se transformaria em um pai tão dedicado algum dia. Ele é maravilhoso, incrível. E a nossa filha estava tão agradecida pelo presente que não quis sair do seu colo durante o restante da festa. Jeon teve que levá-la a todos os lugares que ela queria, além de alimentá-la. Quando os convidados foram embora, finalmente pudemos descansar enquanto a Hee se distraía com o seu presente mais amado.
[...]
— E ela pediu água? — Haneul me encarou com surpresa. — A Hee preguiçosa?
— Sim! — Falei animada. Eu estava tão satisfeita. — O jogo está sendo um salvador com apenas uma semana de uso. Nem acreditei quando ouvi a palavra nova.
— Eu estava assistindo a um programa sobre crianças e vi que nós temos que fazer perguntas e deixar que ela decida — a loira disse enquanto conferia o cardápio. — Dessa forma, eles vão aprendendo a formular frases e a tomar decisões.
— Interessante... Vou testar.
— Você deveria ler mais um pouquinho sobre o assunto, pois a Hee precisa.
— E você fala isso só porque está quase conseguindo a guarda do Doyun — cerrei os olhos para ela, que riu. — Quando terão a resposta?
— Olha... — respirou fundo. — Normalmente demoraria bem mais, só que o Doyun está no hospital e tem pressa pra ser acolhido — me olhou. — Então o Taehyung conseguiu uma audiência pra daqui a dois meses.
— Ainda?
— É o mais rápido que se pode, amiga — suspirou. — Em alguns casos, o processo durou dois anos. O bebê foi adotado com quase três anos de idade.
— Nossa! — Arregalei os olhos. — Que lentidão!
— E eu e o Jisub ainda temos um agravante, que é bem sério.
— Qual?
— Nos casamos há pouquíssimo tempo — entortou a boca. — Quando penso que já poderíamos estar casados há anos...
— Isso conta?
— E muito. O meu maior medo é esse, inclusive.
— Mas o Tae é muito bom e eu tenho certeza de que ele vai conseguir driblar todos os obstáculos.
— Eu acredito totalmente — ela riu. — O Taehyung já conseguiu acelerar o processo, então não duvido de mais nada.
— Ele trabalha com muita excelência — sorri ao lembrar do moreno. — E olha que é especializado em assuntos empresariais.
— Você ainda o encontra?
— Daquele modo? — Ela assentiu. — Não. Nós não nos encontramos a sós há longos meses. Na verdade, desde um pouco antes da viagem pra Busan.
— E o que você sente sobre isso?
— Normal — dei de ombros. — Já te falei que não sentia nada forte pelo Kim.
— Se afastou do Tae por causa do Jeon?
— Jeon? — Ri fraco. — Não, nós dois não temos nada. Combinamos que aquilo aconteceria apenas em Busan e assim foi.
— Eu iria começar um assunto chato, mas vou deixar pra depois — suspirou alto e eu fiz o mesmo. Haneul certamente falaria sobre a maldita vingança que me atormentava todos os dias. Continuar ou não? Ainda fazia algum sentido? — Quero aproveitar o gostinho de saber que em breve posso ter o meu Doyun nos braços.
— Vamos beber pra comemorar! — Tomei o último gole da minha taça de vinho. — O Steven vem nos buscar, então não se preocupe com direção.
— Ah, era tudo o que eu precisava ouvir — a loira gargalhou. — Mas e o meu carrinho? — Era sábado e ela havia me retirado de casa para que fizéssemos um passeio de amigas.
— Ele vem de táxi e nós voltamos no seu carro, fique tranquila — peguei a garrafa de vinho e nos servi. — Vamos aproveitar, Haneul! Vai dar tudo certo nesse processo, eu tenho certeza!
Jeon Jeongguk
— Eu vou conversar com a (s/n), mãe — falei enquanto caminhava pela sala. — Isso faz muito sentido. A senhora aconselha que idade?
— Quatro. Você foi pra escola com três porque não tínhamos com quem te deixar — suspirou. — Mas a Heeji tem babá, tem pais dedicados que podem ensinar tudo o que necessita no momento e é mais seguro ir pra escola com uma idade em que ela pode contar tudo o que acontece na sala de aula.
— O que está falando?
— E se algum coleguinha bater nela e ninguém ver? A Hee com dois anos não vai conseguir contar nada quando chegar em casa.
— Mas as cuidadoras verão, mãe — ri do seu exagero.
— E se não verem?
— Tudo bem — respirei fundo. — Eu vou conversar com a (s/n) e nós decidiremos o que for melhor pra Hee — sorri. — Mas obrigado por ligar pra falar sobre isso, mãe. Ajudou muito.
— Se precisar de algo, me liguem. A vovó está aqui pra Hee — tive que rir ao ouvi-la dizer aquilo, pois nunca havia visto a minha mãe sendo tão melosa antes. — Ela está por perto, filho?
— Não, a Boram está dando um banho nela — ri novamente ao lembrar-me do que aconteceu nos minutos que antecederam a sua ligação. — A sua netinha secou um pote de tinta azul jogando o conteúdo no chão e depois mergulhou na poça — neguei com a cabeça. — Ficou idêntica ao boneco quadrado lá — nós dois gargalhamos. — Foi bem engraçado.
— É o avatar da vovó — ela brincou me fazendo rir ainda mais. — Bom, filho, agora tenho que abrir o nosso restaurante.
— Está tão exibida... — brinquei. — Gostou da reforma?
— Muito! Parece que agora sou dona de um lugar metido a besta — comentou animada e eu gargalhei alto. — O seu pai está apaixonado até pelas paredes e eu arrisco dizer que falta muito pouco pra que ele comece a dormir no restaurante.
— Quando era um bar, ele vivia mal-humorado — falei entre o riso. — Mas eu estou muito feliz por ver que vocês estão alegres.
Após alguns minutos de conversa com a minha mãe, finalmente consegui desligar e constatei que havíamos passado quarenta minutos naquela chamada. Ela se empolgava muito fácil, ainda mais quando o assunto era a neta. O meu celular tocou novamente, porém agora por causa de uma ligação de Hisoka. O japonês estressado queria tratar de assuntos relacionados à Softway. Nós dois estávamos em uma sequência intensa de trabalho porque a minha posse como presidente do complexo se aproximava e eu precisava deixar tudo extremamente impecável na minha empresa, pois ela tinha que ser o modelo para os outros empreendimentos do local. Enquanto Hisoka falava sobre alguns cortes que deveríamos fazer no orçamento, ouvi a voz de Heeji ao longe. É... A minha menina já estava na ativa de novo.
— Mas você não acha que esse valor é o suficiente? Se cortarmos ainda mais, eu posso me foder — analisei. — A Softway precisa estar sempre em movimento, já que é uma empresa que envolve tecnologia.
— Eu sugeri que adiássemos a troca de móveis.
— Hisoka, pensa bem — respirei fundo antes de continuar. Precisava de paciência para pensar em tudo e tomar as minhas decisões. — Quando você pensa em uma empresa de jogos, o que te vem na cabeça?
— Cadeira gamer pra todos os funcionários e um tobogã no meio do saguão.
— Ah, vai se foder! — Neguei com a cabeça ouvindo o homem do outro lado rir. — Idiota pra porra.
— Mas eu entendo a sua posição e vou repassar as suas ordens, senhor.
— Temos que ter tudo o que for de mais moderno em todos os espaços da empresa, entendeu? Vamos investir pesado no visual da Softway, eu faço questão disso.
— Os televisores também?
— Não, eu não quero mais me ver quando chegar lá — revirei os olhos ao lembrar-me da minha arrogância assim que cheguei na Coreia há alguns anos. — Vamos tentar deixar um ambiente aconchegante, mas muito luxuoso e muito moderno. Quero encher os olhos das pessoas.
— Tudo bem, mas... E a produção dos jogos? Como ficarão? Não teremos dinheiro pra tudo.
— Eu vou buscar investimentos — disse firme.
— A Marie vai fechar conosco?
— Está analisando, mas ontem eu recebi uma resposta animadora — sorri. A nossa parceria daria muito certo se eles realmente aceitassem. — Ela quer jantar comigo pra acertar os pontos finais, de acordo com as suas palavras.
— Então já é certo — Hisoka disse animado e eu concordei com a cabeça. — E nós temos de onde tirar o dinheiro pra que a produção não pare. Já vou falar com o pessoal do setor.
— Ótimo! Preciso que você seja os meus olhos e ouvidos na Softway.
— Não vem hoje de novo?
— A Hee amanheceu um pouco quente e quietinha demais, então eu preferi ficar em casa pra conferir isso de perto.
— Aposto que ela já está fazendo aquela bagunça terrível pela casa — riu.
— Já! Você nem imagina o que essa garotinha é capaz de fazer quando está solta nessa sala, Hisoka — acompanhei-o na risada. — Bom, deixe-me ir que eu vou...
— Appa!
De repente, aquela voz que eu tanto amava entoou a palavra que eu tanto quis ouvir desde que descobri ser pai. Completamente assustado e chocado, larguei o celular e permaneci na mesma posição enquanto observava a menininha sorridente que vinha correndo na minha direção. Aquilo era sério mesmo? Ela me chamou de pai pela primeira vez na vida? Eu tinha os olhos bem arregalados, mal podia acreditar. Até pensava que se fechasse os olhos, seria capaz de me dar conta de que tudo aquilo era um sonho maravilhoso. Quando Heeji se aproximou de mim e segurou as minhas pernas, pude despertar do transe e acreditar que era mesmo real. Nesse momento, eu já tinha os olhos marejados e não conseguia ver a minha menina bem, porém nada me impediu de segurá-la e abraçá-la fortemente enquanto me permitia chorar.
— Fala de novo, meu amor — pedi antes de encará-la. Ela tinha um sorriso sapeca, sequer entendia o significado daquela palavra para mim. — Me chama de papai de novo — acariciei as suas bochechinhas que estavam avermelhadas por causa do breve esforço de correr.
— Pa — Heeji riu e eu fiz o mesmo enquanto ainda chorava.
— Minha menina... Eu estou tão feliz, Hee — beijei a sua testa por várias vezes. — Você vai ter que me chamar assim na frente de todo mundo, certo? Quero que o mundo saiba que a minha filha me reconhece como pai.
— Appa — ela falou mais uma vez e foi impossível me controlar naquele instante.
Levantei do sofá e a atirei para cima, ouvindo o seu grito animado quando a segurei de novo. Eu só fazia isso quando (s/n) não estava perto porque sabia que ouviria muitas reclamações e era algo até perigoso, pois ela poderia emitir algum som que me assustasse e me fizesse deixar que a Heeji caísse no chão. Céus! Não quero nem imaginar. Em seguida, já com a minha menina nos braços, corri pela casa e anunciei para todos os funcionários que vi pela frente que a Hee havia me chamado de pai. Após receber algumas felicitações, liguei para (s/n) e a comuniquei com euforia. A minha ex-namorada riu bastante e também chorou de alegria por mim. É... Ela tinha razão. Nós dois somos pais muito bobos.
[...]
— Vamos aos negócios antes de qualquer coisa? — Marie disse sorridente e eu assenti, animado e ansioso. Havíamos chegado há alguns minutos e conversávamos sobre a reforma no restaurante, que antes era bar, dos meus pais. — Estou realmente ansiosa pra te dizer a resposta.
— Suponho que seja positiva — ri. —Você não me chamaria aqui pra negar — bebi um pouco de vinho na tentativa de controlar o nervosismo. Eu precisava muito daquela parceria com a empresa que ela representava. Marie havia chegado aqui na Coreia alegando ser uma investidora que iria avaliar a possibilidade de negócio, porém me surpreendeu e contou, em um jantar como o de hoje, que, na verdade, era diretora da empresa e não a dona. A intenção disso? Não faço ideia. — Por favor, fale logo.
— Mostrei todos os documentos para o meu chefe e ele ficou apaixonado pela Softway — sorriu largo e eu suspirei de alívio. Ótimo sinal. — Quer fechar negócio hoje mesmo.
— O quê? — Quase gritei. — Quero dizer... Nossa! Eu fico muito feliz — controlei o volume da voz e sorriu brevemente. — Será um prazer trabalhar com uma grande empresa como a de vocês.
— Ele vai oferecer preços baixíssimos nas instalações pra realização dos testes na Califórnia, mas quer porcentagens boas sobre os jogos que serão lançados a partir do uso do lugar.
— Perfeito — concordei com a cabeça. — Nós usaremos a estrutura majestosa que ele tem na Califórnia com um custo anual reduzido e ele terá parte do aluguel com a renda dos jogos — concluí. — Só iremos calcular pra que nada ultrapasse o valor limite de custo anual com o local. Não queremos sair no prejuízo.
— Eu iria te alertar sobre isso — Marie riu. — O meu chefe é muito esperto e ele pode querer sair na vantagem.
— O seu chefe é uma raposa e eu sinto informar que também sou.
— Gosto disso, Jeongguk — ela ergueu a sua taça e eu levei a minha até a dela, brindando o nosso sucesso. — Mal posso esperar pela minha parte nesse contrato milionário.
— Vai tirar umas férias? — Questionei assim que bebemos um gole de vinho ao mesmo tempo.
— Até queria, mas tenho muito trabalho depois desse — entortou a boca. — Vou pra Sicília.
— Itália?
— Isso.
— Que maravilhoso! — Sorri. — Eu quero muito conhecer esse lugar, já ouvi alguns parceiros de negócio falarem muito bem.
— Por que não vem comigo? — Arqueou uma sobrancelha e eu arregalei os olhos. — Você tem o Hisoka, então pode largar tudo e embarcar nessa aventura ao meu lado.
— Até posso largar tudo relacionado à Softway, mas na vida pessoal não dá — ri fraco, envergonhado. Ela era muito direta e isso me desestabilizava um pouco. — A Heeji precisa muito de mim.
— Vamos com a sua filhinha, então — deu de ombros. — Você é o pai.
— A (s/n), que é mãe dela, não deixaria.
— E qual seria o problema? — Franziu o cenho e agora eu suspirei. Essa ideia não daria certo nem em pensamento.
— Ela é muito ligada à Heeji e é impossível convencê-la a separar-se da filha por alguns dias, ainda mais indo pra outro país — neguei com a cabeça. — Acho que (s/n) choraria do primeiro dia ao último.
— Nossa...
— Você não é mãe e não entende — falei em tom normal, não queria ser grosseiro. — É muito normal. Eu, por exemplo, só compreendi algumas coisas que os meus pais falavam e faziam depois que me senti pai da Hee.
— É verdade... — ela sorriu brevemente. — Desculpe se fui indelicada.
— Não se preocupe — pisquei o olho, instigando-a a rir. — Vamos pedir algo doce? Eu estou tão animado!
— Vamos! — A mulher pegou o cardápio, mas logo desistiu e me encarou. — Podemos fazer melhor.
— O quê?
— Passamos em uma loja especializada em doces e levamos a nossa compra pra minha casa — sorriu de forma ladina e eu ri soprado. Que tentação... Tenha foco no trabalho, Jeongguk. — Ficaremos mais à vontade.
— Marie...
— Eu vou embora em breve, Jeon — me interrompeu. — Você realmente não vai ouvir os sinais do seu corpo? — Segurou a minha mão sobre a mesa e eu lhe retribuí ao entrelaçar os nossos dedos. Foda-se o trabalho. — Eu vejo o quanto fica tenso perto de mim.
— Nós já conversamos sobre isso — encarei as nossas mãos. — Eu te disse que ainda amo outra mulher.
— E o que isso muda? — Encarei-a assustado e ela encolheu os ombros. — Você é casado, mas a união não é verdadeira. Você ama uma mulher, mas disse que ela viverá melhor sem a sua presença e que por isso não lutará pra tê-la de volta — eu não havia contado que a mulher que amo era (s/n), pois isso a deixaria ainda mais curiosa sobre o nosso relacionamento atual e poderia prejudicar tudo o que conseguimos até aqui. — O que há? O que tem de errado? Você é um homem livre, Jeongguk. É livre e pode fazer o que quiser.
— Eu sei, mas é que... — calei-me ao perceber o caminho que estava tomando. Não posso me fechar para as possibilidades dessa forma. Eu sabia que não tinha mais chances com (s/n), então por que não tentar a Marie? — Eu me sinto muito atraído por você, é verdade, mas não há outro sentimento fora esse. Não quero te magoar, Marie. Você é uma mulher maravilhosa.
— Eu sei que sou — riu e eu a acompanhei. — Jeongguk, isso aqui é puramente carnal e às vezes é assim que começa — encolheu os ombros. — Não vamos seguir com pressão, com arrependimentos ou medo de algo. Se você quiser se jogar nisso, vem de corpo inteiro. Eu já estou aqui.
— Eu não vou ser capaz de encarar um relacionamento agora.
— Te pedi em namoro e não lembro? — Ela pôs a mão sobre a testa e eu ri antes de negar. — Ah, achei que estava maluca.
— Você deve estar mesmo — mordi o lábio inferior, incerto. Será que deveria aceitar? Mesmo? — Querer um homem como eu é um indício forte de loucura.
— Um homem como você? — Franziu o cenho. — Lindo, extremamente atraente, esperto e gentil? Olha... Acho que o maluco é você, senhor Jeon.
— Talvez.
— E o que me diz? — Apertou a minha mão e eu ponderei. Céus... Por que me sinto como se estivesse indo trair a (s/n)? Nós não temos nada, certo? — A não ser que você sinta algo pela sua esposa de mentirinha — riu.
— Não vamos falar sobre ela, por favor — pedi baixo. — (s/n) e Heeji são as pessoas mais importantes na minha vida. A Hee por motivos óbvios e a (s/n) porque é a mãe dela.
— Tudo bem. Me desculpe.
— Bom... — respirei fundo, tomando coragem para fazer aquilo. Vamos, Jeongguk, você tem que seguir em frente de verdade e esse será o começo de tudo. — Jeon Jeongguk acaba de colocar as mãos sobre os olhos e vai se jogar sem paraquedas sobre essa possibilidade — falei de maneira divertida, fazendo a mulher rir. — Quero ouvir os meus instintos, Marie. Eu vou com você.
— Então vamos logo.
Assim que me encarreguei de pagar a nossa conta, após insistir bastante para isso, praticamente fui arrastado até o exterior do estabelecimento. Marie estava bem animada e o seu estado me instigava também. Por termos bebido, decidimos deixar os nossos carros no estacionamento do local e fomos juntos até o ponto de táxi. Eu preferi deixar Steven em casa para o caso de alguma emergência envolvendo Heeij e vim sozinho para o restaurante. Ultimamente, o meu lado protetor estava se sobressaindo com frequência. Enquanto aguardávamos um veículo chegar, Marie se aproximou e me puxou para mais um de seus beijos afobados.
— Eu definitivamente adoro te beijar — confessou enquanto mantinha os lábios grudados aos meus. Eu ri.
— Você só me beijou duas ou três vezes desde que nos conhecemos — circundei a sua cintura com os meus braços.
— Quatro com essa — piscou o olho, esticando-se para me beijar da mesma forma mais uma vez. — E só fica melhor — ela sugou o meu lábio inferior. — Você é viciante, Jeongguk.
Uma buzina soou ao nosso lado e nós nos afastamos para finalmente embarcar no automóvel e, horas mais tarde, liberar toda a tensão que vínhamos permitindo que crescesse a cada encontro. É óbvio que eu ainda sentia muito amor por (s/n), mas simplesmente não conseguia ignorar as outras mulheres nessa situação em que me encontrava. Mesmo estando ao lado da minha primeira namorada todos os dias, eu me sentia sozinho amorosamente falando. Nossa... Por tantas vezes eu quis que os nossos beijos se intensificassem e que nós dois pudéssemos nos tocar da maneira que tanto desejávamos, mas nada acontecia e isso só servia para me deixar ainda mais frustrado. Eu tinha que liberar toda a minha carga sexual naquela noite ou sentia que poderia entrar em colapso a qualquer momento.
(S/N)
— Senhora (s/n), a Heeji já dormiu — Boram avisou enquanto descia a escada. — Deseja algo mais?
— Não, Boram. Você já pode ir dormir em paz — sorri brevemente, ainda preocupada. — Desculpa por te atrapalhar no seu momento de descanso.
— Não se preocupe — ela sorriu de forma gentil. — Estou no meu quarto se precisar de algo.
Inquieta, conferi o meu celular mais uma vez. Nada. Nenhuma mensagem de Jeongguk informando onde ou o que estava fazendo no meio da madrugada. Heeji, por sentir a falta do pai, não dormiu até que Boram se ocupasse de cansá-la com brincadeiras. Eu estava tão angustiada que não conseguia me concentrar em qualquer outra coisa. Fiz ligações para Haneul, para Hisoka, para Jin e para os pais de Jeongguk como da outra vez, mas nenhuma notícia. Ninguém sabia onde Jeon estava. E para não deixar os seus pais preocupados, eu criei a desculpa de que ele havia esquecido o celular em casa.
— Quatro da manhã... — murmurei ao observar a tela. — Onde você está, Jeongguk? — Caminhei até a janela de casa e bufei ao ver tudo escuro. Tentei ligar para o irresponsável mais uma vez, porém chamava e ele não atendia. — Será que foi assaltado? Céus... — Arregalei os olhos. — Espero que esteja bem — retornei para o sofá e me acomodei melhor para dormir ali, pois certamente não conseguiria ficar na cama sem ter informações sobre o meu marido.
— Sim, cheguei em casa — fui despertada com o barulho da porta seguido da frase de quem eu tanto aguardava. Jeongguk havia chegado. — Nos vemos amanhã — levantei do sofá às pressas e, cambaleante, caminhei até o mais alto. — Estava dormindo no sofá?
— Você está bem? — Conferi o seu corpo com o olhar. Jeon trazia o paletó sobre o antebraço, a sua camisa social preta tinha três botões abertos, o seu rosto estava um pouco vermelho e os cabelos desalinhados. — Aconteceu algo? Você foi atacado?
— Está preocupada comigo?
— Claro! — Falei mais alto, nervosa. Por que ele não respondia logo? — São... Que horas são?
— Sete.
— São sete horas da manhã e você chega desse jeito, Jeon Jeongguk! — Segurei a vontade de chorar. Eu estava aliviada por vê-lo, mas por um momento pensei que algo grave tivesse acontecido. — Você saiu às oito da noite e não voltou. O seu celular estava ligado, mas as minhas ligações não eram atendidas. Eu até pensei que tivessem te roubado e que tinham feito alguma coisa contigo.
— Ah... Sério? — Me encarou com culpa. — Me desculpa, por favor. Eu realmente não... Não... — pôs a mão sobre a testa e calou-se. — Ah, droga...
— Não lembrou de mim? — Afastei-me com alguns passos. — Eu liguei pra todos os nossos conhecidos, incomodei todo mundo pra você dizer que esqueceu de mim?
— Eu não disse isso, (s/n).
— Sabia que a esposa do Hisoka acordou com a minha ligação no meio da madrugada? — O encarei com revolta. — Ele estava trabalhando na Softway naquele horário e havia esquecido o celular em casa.
— Eu estava com o Hisoka — disse alto, rápido.
— Como? — Ri sem vontade. — Olha, me fala a verdade que será menos horrível depois disso que você fez.
— Por que fala assim?
— Hisoka estava na Softway, você não — rebati. — Eu liguei pra lá e me disseram que você havia ido embora.
— Quem foi que disse?
— Alguém da sua empresa. Eu não perguntei o nome.
— Provavelmente foi antes do que aconteceu com o Hisoka — engoliu em seco. Jeon estava estranho e isso me intrigava cada vez mais. — Com certeza.
— O que houve?
— Ele se desequilibrou e caiu dentro da sala — encolheu os ombros. — Não sei como aconteceu porque quando cheguei na empresa, já o vi caído. Você sabe que antes disso eu fui jantar com a... Com a Marie.
— Nossa, mas... Sério? Pobrezinho... — murmurei envergonhada. Eu havia sido injusta com Jeongguk novamente. — E você estava com ele?
— Sim, no hospital — falou após fechar os olhos brevemente e massagear a testa, impaciente. — Eu deixei o celular no meu carro, foi isso.
— Você deve estar cansado, eu vou fazer algo pra...
— Não — me interrompeu com firmeza, assustando-me. — Depois da madrugada terrível que você teve por minha culpa, eu não quero que faça nada por mim. Não mereço a sua bondade.
— Mas...
— Por favor, não me faça... — calou-se para suspirar. — Eu não quero me sentir ainda pior. Por favor.
— Mas foi um acidente, você não teve culpa — justifiquei. — Na verdade, deveria ter me ligado pra que eu levasse uma roupa mais confortável e...
— Mesmo assim — caminhou até a cozinha enquanto encarava o chão. O que acontecia? — Por favor, me deixe sozinho.
— Tudo bem — murmurei com tristeza. Por que Jeon me afastava dessa forma? Nós tínhamos uma parceria e eu estava disposta a ajuda-lo agora. — Tenha um bom dia.
— Você também — suspirou alto. — Vá dormir.
Levemente chateada, caminhei devagar até o quarto de Heeji e deixei um beijo em sua testa antes de seguir para o meu. Tomei um banho enquanto deixava que os pensamentos sobre o que havia acontecido ocupassem a minha mente e suspirei com pesar ao me dar conta de que fiquei extremamente preocupada à toa. Jeongguk poderia muito bem ter arranjando um jeito de me ligar quando estava no hospital, então por que não fez? Será que o acidente aconteceu antes ou depois que eu liguei para o celular de Hisoka? Céus... Isso estava me consumindo, mas eu tinha que esquecer. Não adianta levar esse assunto para frente quando tudo já está resolvido. Jeon está em casa e é isso o que importa.
— Jin ligou ontem — falei ainda enquanto observava Heeji brincando com Boram no jardim. Eu havia dormido pouco e quando desci, encontrei Jeongguk trabalhando na varanda.
— O que ele disse? — Me olhou sobre os óculos de grau. — Seokjin ainda não me ligou hoje — conferiu o celular e entortou a boca.
— Disse que você tinha que treinar o discurso de posse.
— Droga... — murmurou. — Esqueci completamente.
— Achei que estivesse ansioso.
— E estou, mas é que ontem eu... — calou-se de repente, pigarreando logo após. — Eu fiquei muito preocupado com o Hisoka e esqueci de tudo.
— Vocês se gostam muito, não é? — Ri fraco.
— Ele é como um pai e um irmão mais velho em uma só pessoa.
— Tem notícias?
— Hisoka está bem — suspirou antes de olhar para o notebook. — De repouso.
— Que bom — voltei a atenção para a minha filha e pude sentir que agora era observada por ele. O que Jeongguk tinha? — Estamos em um clima estranho.
— É? — Falou alto. — Por que diz isso?
— Você parece nervoso com tudo o que digo e me afasta sempre que pode desde que chegou — encarei-o novamente. — Achei que tivéssemos uma parceria.
— E temos — disse firme. — A Hee é a nossa maior prioridade e nós somos parceiros por causa dela.
— Entendi... — murmurei antes de sorrir fechado. Por algum motivo, aquilo me incomodou bastante. Não acredito que inconscientemente alimentei a ideia de voltarmos um dia. Burra. — Bom, eu vou... Vou dar uma volta — anunciei e praticamente corri para longe dali em seguida.
O que droga estava acontecendo comigo? Eu não podia me trair dessa forma. Tenho que manter firme a minha posição de não voltar mais para Jeongguk e o que aconteceu pela manhã e agora só deixava isso mais claro. O que nós tivemos foi péssimo e seria assim para sempre pelo simples fato de não sermos feitos para dar certo como um casal. Eu tinha que lembrar disso a todo o momento para que não me perdesse mais uma vez e não me sentisse tão mal como nesse instante.
[...]
— Parabéns, Jeongguk! — Namjoon o abraçou fortemente. — Eu estou muito orgulhoso! O meu amigo é um presidente agora!
— Não sou o presidente do país, Namjoon — Jeon disse e nós rimos. — Mas obrigado por estar aqui comemorando comigo e por compartilhar a minha alegria. Vocês todos são uns amigos e tanto! — Olhou para os demais, que sorriram enquanto erguiam as suas taças de champanhe.
— Mas devo ser inconveniente e dizer que Heeji roubou toda a cena hoje — Jimin falou antes de se aproximar de nós duas apenas para apertar a bochecha da menor. — Os fotógrafos se bateram pra tirar fotos dela.
— E ainda teve as palminhas — Jin disse enquanto ria. — Todo mundo achou engraçado.
— Eu quase morri de vergonha — falei causando a gargalhada de todos. — O Jeongguk discursando no palco e a Heeji batendo palmas e pulando no meu colo. Parecia que a nossa filha não havia recebido educação em casa — cerrei os olhos para a mais nova, que continuou focada na interação com Jimin.
— Ela só estava apoiando o pai — Namjoon falou, rindo logo depois. — Não leve tão a sério, (s/n).
— É a minha maior fã — o moreno a retirou do meu colo. — E a pessoa que me motiva a ser cada vez melhor — beijou a sua bochecha. — Se me permitem um conselho — olhou para os amigos —, tenham filhos logo. Eles salvam as nossas vidas.
Ainda passamos algum tempo naquela conversa até que os meus pais chegaram e nós, Jeongguk, Heeji e eu, fomos recebê-los. A nossa casa não estava cheia, mas havia uma quantidade considerável de pessoas ali. Sang havia convidado alguns empresários que ele considerava importantes para uma aliança com Jeon e isso em um primeiro momento havia irritado o rapaz, que só se acalmou quando viu Heeji jogando Azulândia. Era incrível como a nossa filha tinha a capacidade de mudar o seu humor com tanta rapidez. Hisoka chegou minutos mais tarde e eu notei que o clima ficou esquisito entre Jeongguk e ele quando perguntei sobre o seu acidente. O homem respondeu dizendo que não aconteceu nada grave e que só precisou passar algumas pomadas no pé. Que estranho...
— Você teve sorte, então — ri fraco, incomodada com aquela situação entre nós três. — Bom, eu vou conversar com a Haneul senão é capaz de ela lançar uma taça na minha direção — nós rimos. — Quer vir comigo? — Perguntei para Kaori, a esposa de Hisoka. — Shin está com aquela expressão assassina, mas eu te garanto que é apenas ciúmes porque ainda não falei com ela.
— Ah, eu vou — a mulher sorriu. — Não aguento a conversa sobre trabalho desses dois — ela ajeitou o filho no colo e me acompanhou até Haneul. Heeji estava na companhia dos quatro avós e tinha toda a atenção que ela tanto amava.
Apresentei as duas e apesar de mais velha, a esposa de Hisoka entrou facilmente na brincadeira de Haneul sobre a potência sexual de seu marido. Eu até fiquei envergonhada por um momento, mas logo relaxei quando percebi que ela era tão maliciosa quanto a minha amiga. Algumas horas de confraternização se passaram e tudo ia bem, Jeon já havia feito um breve discurso agradecendo a nossa presença e os seus pais já haviam chorado de orgulho do filho. E eu confesso que também chorei, principalmente quando lembrei daquele Jeongguk que participava de torneios em busca dos prêmios para financiar o seu sonho de desenvolver jogos.
— Nossa! Você chegou agora! — Ouvi a voz de Jeon soar mais alto do que o burburinho de conversas dos convidados e a minha intenção foi para quem estava na porta. Marie. — Achei que não viria.
— Eu tive uma emergência na empresa — a francesa bufou. Para ouvir melhor, caminhei lentamente até eles e fingi interesse em algo no meu celular por um breve momento. — O meu chefe está ansioso com a parceria e não para de pedir documentos, mas nada me impediria de te prestigiar — sorriu largo e logo foi retribuída por ele. — Parabéns, Jeongguk. Você não para de surpreender.
— Não mereço um abraço? — O moreno riu.
— Merece muito mais — Marie disse mais baixo e eu ouvi apenas pela proximidade. Havia tanta intimidade naquela frase. — Porém eu vou fazer o que posso no momento — e o abraçou fortemente em seguida.
Afetada pela relação daqueles dois, caminhei entre os convidados para retornar ao meu lugar enquanto tentava associar o que havia acontecido. O que Marie estava querendo dizer quando falou que Jeongguk merecia muito mais? Será que era o que eu estava pensando? Um beijo? Na boca? Pelos céus... Eu vou enlouquecer se pensar nisso por muito tempo. Agora levemente nervosa, peguei a taça de champanhe de Haneul e tomei todo o líquido em apenas um gole. A loira, assim como Kaori, me encarou de olhos arregalados em completa surpresa.
— O que te deu? — Shin perguntou.
— Acho que estou delirando e entendi algo completamente errado — falei após respirar fundo. — Jeongguk e Marie.
— O que tem os dois?
— Caso.
— O quê? — A esposa de Hisoka quase gritou. — Eu sei que o casamento de vocês não é verdadeiro, mas... Isso seria traição também, certo? — Nos entreolhamos, incertas. Eu apenas me limitei a suspirar.
— Eu acho que sim — Haneul tinha o cenho franzido. — Vocês não haviam se definido como parceiros até o mês passado?
— Sim, mas isso não impede nada.
— Mas ele deveria ter te contato — Cruzou os braços. — Ou não?
— Ah, não sei... — murmurei chateada. Por que isso me afetava tanto? Que ódio! — Eu só queria entrar no meu quarto e não sair de lá até amanhã.
— Ficou mexida, não foi? — A minha amiga suspirou antes de me abraçar de lado. — Você ainda gosta desse homem e não adianta negar pra quem te conhece há anos como eu.
— Não quero pensar nisso.
— E se formos dar uma volta pelo jardim? — A mais velha de nós três sugeriu. — Levamos as crianças junto.
— A Heeji? — Eu ri fraco, desanimada. — Eu não seria maluca de tirá-la do colo dos avós agora. Vamos apenas nós quatro.
Antes de seguir o trajeto até o local, olhei para trás e fui obrigada a presenciar a cena de Jeongguk apresentando Marie para os seus amigos. Quem não soubesse que o rapaz era casado comigo, certamente pensaria naquele momento que a moça era a sua amada companheira. Jeon estava tão sorridente ao seu lado que aquilo me serviu de alerta. Eu realmente só faço mal a ele e estava me iludindo muito quando pensei que éramos uma família feliz, mesmo que por tempo determinado. O que aconteceu, na verdade, foi que estávamos nos aturando por causa de Heeji. Jeongguk não estava bem ao meu lado e eu só me dei conta disso agora, quando vi o seu sorriso sincero ao lado de outra.
— O ciúme está te cegando — a voz repentina de Haneul me assustou. — Não pense muito porque vai acabar imaginando algo que não existe.
— Eu vi verdades agora, Shin.
— Converse com ele antes de formar algo nessa sua cabecinha louca — segurou o meu braço. — Vem com a gente.
E observando os dois mais um pouco, obtive a atenção de Jeongguk. O moreno me olhou com um pouco de desinteresse, mas logo mudou de postura ao perceber que era eu que estava ali parada apenas assistindo a tudo. Jeon afastou-se de Marie como se apenas a aproximação de ambos pudesse entregar algo e ali eu tive a certeza: eles tinham algo. Já irritada, soltei o meu braço do aperto de Haneul e caminhei em passos rápidos até o jardim. Quando chegamos ao local, eu me ocupei de respirar fundo por diversas vezes enquanto Haneul e Kaori tentavam me acalmar. Por que Jeongguk não foi sincero sobre o que estava acontecendo? Eu sabia que ele não tinha a obrigação de me dizer, mas estávamos próximos o suficiente para que tivesse a liberdade de contar. Estávamos tão ligados nos últimos meses que até nos beijávamos às vezes. Inferno! E se esse mentiroso me enganou de novo?
— Não se preocupa, Haneul — neguei com a cabeça. — Eu não vou fazer nada a respeito, não vou causar tumulto nessa festa — tranquilizei-a. — Jeon não é nem o meu marido de verdade. Eu estou farta disso.
— Mas...
— Ainda bem que ele foi eleito e que nos divorciaremos já na próxima semana.
— Já? — A loira arregalou os olhos.
— É, mas ele só falará sobre isso com a imprensa no próximo mês.
— E como se sente?
— Quando recebi a notícia, eu fiquei péssima porque me senti completamente descartável, mas agora... Agora eu estou feliz por me livrar dessa merda toda — prendi a vontade de chorar. Eu estava tão frustrada! — Eu quero distância desse homem, quero que ele suma e que leve essa mulher junto.
— Mas ele é solteiro e...
— Eu sei! Eu sei, Haneul! — Gritei, interrompendo-a. — Eu sei que ele é solteiro e que pode comer quem quiser, porra! Que inferno! — Caminhei de um lado para o outro na tentativa de dissipar a raiva crescente. Você tem que se controlar, (s/n). O que está acontecendo contigo? Foca no que importa, que é a sua filha. — Desculpa. Eu estou alterada, admito.
— Senta aqui, você precisa se acalmar — Kaori disse enquanto ajeitava o filho em seu colo, já sentada em um banco de jardim. — Ninguém pode perceber o seu estresse.
— Ela tem razão, você precisa voltar ao normal antes de entrar na casa de novo.
— Minha vontade é de escancarar tudo e acabar com essa porcaria — sentei-me no banco, ao lado de Kaori. — Que ódio! Como eu fui burra! — Bati em minha testa com força. — Vocês acreditam que o Jeon me pediu um beijo no aniversário e que isso se repetiu depois? Acreditam que ele ainda me dizia coisas bonitas? — Elas assentiram lentamente. — Eu me sinto traída. Sim, me sinto traída. Jeongguk deveria ter sido verdadeiro sobre isso.
— Mas... Amiga... — Haneul me encarou de olhos bem abertos e ali eu percebi o que ela queria dizer. É, eu fiz a mesma coisa no início do nosso casamento. Mas quando eu vi que nós dois ainda tínhamos alguma ligação, inconscientemente me desprendi de Taehyung. Aconteceu o inverso. — Pensa bem.
— Já pens...
— Jeongguk, espera! — A voz de Marie se fez presente de repente e nós focamos em quem chegava no jardim. Jeon.
— Podemos conversar sozinhos? — O moreno perguntou assim que me localizou ali.
— Não estou em condições de conversar agora — falei mais baixo, controlando a vontade de chorar. Fraca. Burra. Boba. — Nos falamos depois, prometo.
— (s/n), por favor...
— Quem pede por favor sou eu, Jeongguk — encarei-o com cansaço e a francesa surgiu atrás dele. — Preciso de um tempo.
— Mas eu tenho que...
— Porra! — Haneul falou alto, interrompendo-o. — Você não percebe nada, caralho? — Cruzou os braços ao encarar o rapaz. Ótimo, irritaram justo quem conseguia me acalmar. — Parece que pede pra que ela perca o controle e se torne a errada da história. Que inferno, Jeongguk! — O maior engoliu em seco. — Deixa a minha amiga em paz. Vai embora.
— Haneul, eu só...
— Não! — Ela se aproximou dele e o empurrou pelo peito. — Depois vocês conversam, não ouviu o que (s/n) disse?
— Vem, Jeongguk — Marie pôs a mão possessivamente sobre o peito do coreano e o levou para mais perto de si. — Não vale a pena — aquilo era uma provocação? Céus! Eu vou explodir se ouvir mais alguma coisa. — Vem comigo — pôs a outra mão sobre o seu ombro, apertando-o levemente. Jeon ainda me encarava com firmeza e eu não fazia o menor esforço para retribui-lo. — Jeongguk — insistiu.
— Eu te procuro mais tarde — ele disse antes de caminhar pelo jardim, saindo do meu campo de visão.
— Não vão voltar pra dentro da casa? — Haneul pôs as mãos na cintura, irritada.
— É muita audácia — Kaori tinha o cenho franzido, impaciente também. — Vão ficar a sós? — Passamos poucos minutos em completo silêncio e de repente ouvimos um barulho típico de beijo. Eu não podia acreditar. — É o que eu estou pen... — a mais velha calou-se de repente.
— Puta merda... — Haneul murmurou e ao olhar na mesma direção que as duas, tive o desprazer de ver Marie abraçada a Jeongguk enquanto o moreno a beijava ou, na melhor das hipóteses, retribuía o seu beijo.
— Jeon! — Haneul gritou e a partir daquele momento, eu já não podia ver muita coisa por ter a vista embaçada pelas lágrimas que passaram a cair em abundância. — Filho da puta! — Disse antes de me segurar pelo braço mais uma vez no dia. — Vem, (s/n), eu vou te livrar dessa visão do inferno — manteve o volume da voz. E sensibilizada, eu apenas me permiti ser guiada pela minha amiga enquanto ouvia os pedidos de desculpa de Jeongguk se tornarem cada vez mais altos.
— Me perdoa, (s/n). Eu não quis...
— Dá um tempo, Jeongguk — a loira o interceptou quando o maior tentou se aproximar e impedir que entrássemos em casa. Eu chorava em silencio, discretamente, segurando-me ao máximo para não fazer alguma bobagem e assim chamar a atenção dos convidados dele. — O problema não é você ter alguém.
— Eu sei disso, mas é que foi acontecendo e... — ele se calou. — (s/n), me desculpa. Por favor.
— Heeji, espera! — Boram falou alto e aquilo despertou a minha atenção no mesmo instante. O assunto com Jeon tornou-se mínimo diante da possibilidade de a babá ter perdido o controle sobre a minha filha. — Um minutinho, minha linda.
— Quero a mamãe — a frase embolada da minha Heeji foi como um alento e eu suspirei alto, aliviada. — Mamãe! — Ela gritou enquanto caminhava em passos rápidos até mim. Eu me abaixei para recebê-la em meus braços e ao ter o seu corpo junto ao meu, não fui mais capaz de segurar o choro e me envergonhava por isso.
— Vamos para o quarto — Haneul sussurrou em meu ouvido quando ficou na nossa altura. — Algumas pessoas já estão olhando.
— Vamos pelo outro lado — murmurei antes de levantar com a minha filha no colo, seguindo para a outra entrada da casa logo depois. — Eu vou embora, Haneul. Não quero continuar aqui.
— Você tem certeza?
— Tenho — falei firme, mesmo tendo a voz embargada. Hee segurava o meu pescoço com as duas mãos e observava tudo ao nosso redor, atenta. — Eu não vou aguentar isso. Cheguei à conclusão de que não consigo ver o Jeongguk com outra mulher e esse é um problema só meu.
— Eu te entendo.
— Não vou atrapalhar a vida dele e nem a minha, chega disso — passei pela porta, cruzei a parte mais reservada da cozinha e segui para a área dos quartos do andar de baixo. — Eu só preciso que você pegue as minhas coisas mais importantes.
— Eu? — Haneul arregalou os olhos.
— Quem mais seria? — Bufei. — O meu fantasminha de estimação?
— (s/n), você vai embora sem dizer nada ao Jeongguk?
— Vou.
— Mas é errado!
— Nós já vamos nos separar na próxima semana, então eu só irei adiantar as coisas — respirei fundo para tentar conter o choro que queria retornar. Força, (s/n). Seja forte agora. — Se você não for pegar, eu vou ficar muito...
— Eu vou — ela me interrompeu e suspirou. — Mas tem que haver uma conversa entre vocês dois.
— Depois, com certeza.
— Tudo bem — Shin assentiu e eu abri a porta de um dos quartos para esperar ali. — Volto logo.
— Não esquece do tablet da Heeji e do boneco azul, por favor.
— Certo.
Nervosa, caminhei de um lado para o outro enquanto distribuía beijos pelo rosto da minha Hee. Ela me encarava atentamente e eu dizia que estava tudo bem, que iríamos fazer um passeio muito legal daqui a pouco. Eu sabia que a minha filha havia percebido que algo estava estranho, mas não queria que ela chegasse ao ponto de chorar por me ver tão agitada. Isso só me faria piorar. Minutos se passaram e o barulho de passos apressados ecoaram no corredor, fazendo-me soltar um suspiro alto de alívio. Finalmente vou poder ir embora dessa casa e parar de fazer o papel de esposa traída, que definitivamente não é o meu.
— Ainda bem que você foi rápida, Haneul — falei enquanto abria a porta, porém tive a surpresa de encontrar Jeongguk parado diante dela.
— Appa — Hee chamou enquanto esticava os bracinhos. Não, filha, não me abandone.
— Conversa comigo, por favor — Jeon pediu antes de entrar sem ser convidado e fechar a porta. Eu me ocupei de analisar o seu rosto e não consegui negar o seu pedido. O moreno tinha o nariz avermelhado e a região dos olhos bem molhada. — Eu não quis te fazer mal, esse foi o meu maior objetivo.
— E por que me pedia beijos enquanto estava com ela?
— Eu não estava com ela.
— E agora está?
— É complicado... — ele suspirou. — Não temos nada definido.
— E enquanto não definia o relacionamento com ela, você se divertia comigo?
— O quê? — Franziu o cenho. — Eu nunca faria isso, ainda mais contigo — rebateu firme. — Eu não queria que o clima entre a gente mudasse e por isso não contei que estava me aproximando da Marie — suspirou. — Nós estávamos nos saindo tão bem juntos e eu tinha certeza de que você correria de mim assim que soubesse.
— Appa! — Heeji insistiu e o moreno a retirou do meu colo, fazendo um sorriso de felicidade surgir em seu rosto.
— Claro que correria, Jeongguk! Eu não iria querer atrapalhar vocês dois!
— E eu não queria ficar longe de vocês duas — falou mais alto, nervoso. — Estou confuso, (s/n). Você sabe que eu ainda sinto o mesmo por você, mas também sabe a minha posição sobre nós dois — nos encaramos firmemente. Ambos com os olhos marejados. — E eu gosto da Marie, nós temos muito em comum.
— Que bom pra você.
— Eu não te usei, você tem que saber disso — se aproximou, porém eu me afastei rapidamente. — Eu fiz a idiotice de deixar que a situação fosse evoluindo sozinha, não controlei tudo por medo. Eu tinha medo de que você fosse embora daqui em um momento tão bom e ao mesmo tempo tinha medo de perder uma oportunidade de ser feliz porque sei que você nunca mais vai me querer nessa vida — engoliu em seco antes de continuar. — Foi por isso que não te contei a verdade quando cheguei de manhã naquele dia que você ficou aqui me esperando.
— Você... Estava com ela? — Meus olhos estavam bem arregalados agora.
— Estava. Eu não falei porque não quis te magoar, juro que foi apenas por isso — pressionou os lábios. — Você estava me esperando e como se sentiria se ouvisse de mim que estava com outra? Eu não podia te chatear desse modo, não mesmo.
— Não vale a pena ficar discutindo sobre isso, Jeon — neguei com a cabeça, desolada. — Você está seguindo em frente e eu te desejo, de verdade, tudo de bom nessa etapa, mas a minha parte nisso tudo acaba aqui — decretei. — Nos separaremos na semana que vem e é fim da linha. A Hee continua sendo a sua filha e eu nunca vou interferir na relação bonita de vocês, é isso — observei os dois juntos. Tão parecidos e tão lindos... — Mas a nossa convivência será impossível a partir de hoje.
— Por quê? Eu não vou trazer a Marie pra cá, (s/n) — disse rápido, nervoso. — Não vai embora.
— Não vai dar, Jeongguk — quase sussurrei. — Não vai.
— Me dá um motivo! — A sua voz saiu embargada e aquilo foi o suficiente para me fazer chorar de novo. — Me diz porque está indo embora antes do previsto. Por favor, me diz.
— Eu não quero te ver com outra mulher — soltei de uma vez. Envergonhada, caminhei até a janela do quarto e aproveitei o breve silêncio que se formou para continuar. — Eu não vou conseguir, não vai rolar. Nós continuaremos tendo uma relação boa por causa da Hee, mas nada além disso — respirei fundo, buscando me acalmar. — Cada um deve seguir o seu caminho como deveria ter sido feito desde a primeira vez que nos separamos.
— Você... Você não conseguiria me ver com outra?
— Não.
— É por que você ainda me ama, não é? — Nada respondi, apenas chorei mais. — Por favor...
— Não vou te responder, Jeongguk — me esforcei para parar de chorar e enxuguei os olhos antes de encará-lo de novo. Eu não queria atrapalhar todo o processo de superação e por isso não confessaria os meus sentimentos novamente. Eu ainda o amava muito, mas não poderia dizer isso nunca mais. — Não importa o que eu sinto por você agora.
— Claro que...
— Amiga, eu trouxe tudo — Jeon foi interrompido por Haneul. — Jeongguk? Como a encontrou aqui? — O moreno não lhe respondeu e continuou me encarando.
— Ele conhece a casa — me aproximei da loira para pegar as mochilas. — Você pode levar a Heeji até o táxi — anunciei para o rapaz, porém sem encará-lo.
— Essa é a sua decisão final? — A sua voz saiu falha.
— É — respondi firme. — Chegou a hora de ir, Jeongguk. Estamos rompendo os laços de verdade agora — sorri brevemente ao encará-lo, sentindo o peso sobre o peito. — O único que sobrará, e que será eterno, é o que nos une a Heeji. E falando nela, você poderá visitá-la quando e a hora que quiser — as lágrimas caíam em abundância por suas bochechas. — Estarei na casa dos meus pais até conseguir um lugar legal pra nós duas.
— Eu... Eu vou mandar o Steven levar vocês — Jeon murmurou a frase. — Posso ir com a Hee?
— Ela é a sua filha — respondi baixo e ele apenas assentiu antes de sair dali com a menina no colo. — Parece que estou rompendo com o Jeongguk pela milésima vez, Haneul — murmurei chorosa e logo fui envolvida pelos braços amorosos da minha amiga. — E a pior parte é que ainda dói na mesma intensidade.
— Por que a história de vocês tem que ser tão complicada? — Shin bufou. — Parece que nunca vai pra frente, que nunca anda. Você tem que dar um basta nisso, (s/n) — acariciou as minhas costas. — E não vai ser tirando tudo o que Jeongguk tem que vai conseguir.
— Eu vou falar com o Tae — suspirei alto. — Pretendo desistir dessa loucura.
— Sério? — Afastou-se para me encarar com surpresa.
— É, amiga. Eu não quero mexer mais nessa sujeira — sem que pudesse mais segurar, chorei de novo. — Quero criar coragem pra ter uma conversa séria com ele sobre tudo o que aconteceu e depois disso vou focar única e exclusivamente na minha filha.
— Mas não esqueça de que você é uma mulher e que precisa de cuidados também — sorriu largo, claramente feliz por mim.
— Vou pensar se mereço — falei enquanto a puxava para mais um abraço. — Tenho tanta raiva por ter sido tão boba durante esses anos. Por que não me impus logo? Por que não tive forças pra seguir o meu caminho? Eu só queria fugir daqui, Haneul — neguei com a cabeça, triste. — Eu estou cansada de viver dessa maneira.
— Leve quanto tempo for preciso, mas junte os seus cacos. Eu só posso te garantir uma coisa — separou-se para que pudéssemos nos encarar. — Eu sempre... Ouça bem, amiga... — segurou o meu rosto com as duas mãos. — Eu sempre vou estar contigo, sempre estarei ao seu lado e vou te ajudar em tudo o que precisar. Eu amo você, certo?
— Ah, Haneul... Muito obrigada... — abracei-a novamente e me permiti chorar um pouco mais. — Eu também te amo. Muito.
— O Steven já está esperando — a voz contida de Jeongguk surgiu minutos depois. — Quer falar com os seus pais ou deseja alguma outra coisa?
— Não, eu só quero sair daqui rápido — peguei as mochilas com a minha amiga e caminhei rapidamente até a área externa, sendo seguida por ela e por Jeongguk. — Você pode ir vê-la quando quiser, saiba disso — olhei para Jeon.
— Então eu já vou amanhã — disse após posicionar a mais nova dentro do automóvel, em sua cadeirinha. — Se opõe?
— Você tem passe livre.
— Nos vemos depois — Haneul disse para mim. — Vou chamar o Jisub pra ir embora daqui agora porque não consigo ficar nem mais um segundo nessa festa — caminhou rapidamente para o interior da residência e nos deixou sozinhos.
— Bom... É isso... — olhei para a casa e suspirei alto, mas logo voltei a atenção para Jeongguk. — Não quero que ache que estou pensando que você é um desgraçado que me enganou. Eu falei tudo aquilo no meio da emoção. Depois do que me disse, eu vi que realmente estava confuso e isso é compreensível — pus a mão em seu ombro. — Eu me sinto da mesma forma em vários momentos e a nossa situação é tão intensa que tudo vira incerteza.
— Que bom que me entende, (s/n) — ele sorriu sem vontade. — Não quero me indispor contigo. Nunca mais.
— E não se indispôs — encolhi os ombros. — O único problema foi o desenrolar da revelação e o local. Estávamos entre familiares fingindo que somos casados e você beijou outra bem na minha frente. E se alguém visse? — Jeon suspirou alto. — Isso me dói, mas logo passa.
— Me perdoe — segurou as minhas mãos, apertando-as fortemente. — Eu fiquei tão surpreso, estava tão assustado por você ter percebido que apenas retribuí aquele beijo da Marie. Não pensei em mais nada, só em amenizar a angústia que sentia no momento.
— Bom... De qualquer forma, te desejo muita felicidade — soltei as minhas mãos das suas. — E no dia em que formos assinar o nosso divórcio, eu pretendo te contar algo sério e ter uma conversa bem importante contigo — respirei fundo, desejando coragem para fazer aquilo. — Só não te falo agora porque ainda preciso acertar alguns pontos, mas... Espero que você esteja disposto a me dizer toda a verdade e que possamos ter uma conversa sincera e definitiva sobre tudo o que aconteceu entre nós dois desde que o nosso relacionamento começou a dar errado — o maior engoliu em seco, nervoso talvez. — Eu quero me livrar desse peso, Jeongguk. Quero ser livre, quero seguir adiante como você está fazendo, mas antes eu preciso largar algumas pedras que carrego.
— Não fale como se estivesse sendo fácil pra mim — Jeon negou com a cabeça. — Me dói muito te ver indo embora e me dói mil vezes mais ver a minha filha indo junto. Eu estou destroçado de novo, mas sei que dessa vez é necessário. Nós já tivemos a nossa chance e eu tenho que aceitar isso, por mais difícil que seja — pegou as minhas mãos novamente e as beijou. — Acredite, eu só estou com outra pessoa porque não posso te ter. O meu amor ainda é o mesmo e nada nesse mundo vai...
— Jeongguk — o interrompi com a voz embargada. — Não faz isso — pedi. — Não me fala essas coisas, por favor — ele assentiu e eu o abracei fortemente. — Preciso ir embora e sei que você concorda. Esse casamento nunca existiu — mantive o nosso contato mesmo após ouvir o seu choro. — E não dá mais.
— Até amanhã — sussurrou antes de me soltar. — Te vejo pela manhã, minha bebê — se esticou para alcançar Heeji e deixou um beijo demorado em sua testa. — E você, (s/n), já sabe — me olhou. — Se precisar de algo...
— Eu te ligo — pisquei o olho e me esforcei para sorrir. — Se cuida.
— Você também — enxugou as bochechas e respirou fundo. — Não esquece de colocar a Heeji pra jogar. Ela está avançando muito com o aplicativo.
— Pode deixar — falei enquanto caminhava até a outra porta para embarcar no veículo. — Eu te mando vídeos e fotos, não se preocupe.
— Appa! — Hee chamou de repente e Jeongguk rapidamente abaixou-se para vê-la. — Vem!
— Ah, meu amor... — Jeon murmurou antes de voltar a chorar e eu me esforcei para continuar firme. Que droga... — Eu te vejo amanhã, filha. Prometo.
— Vem, appa! — A mais nova fez sinal com as mãozinhas e eu fechei os olhos por um breve momento, destinada a manter a decisão.
Eu sabia que, a partir dali, começaríamos uma rotina exaustiva até que Heeji finalmente se acostumasse com a ausência do seu pai em alguns momentos do seu dia. E como seria no horário de dormir? Céus! Eu já podia ver as noites que passaremos juntas e acordadas enquanto a minha menina espera por, pelo menos, sentir o cheiro do pai. Enquanto Jeongguk chorava e se despedia, eu me concentrava em olhar para os arbustos do outro lado da rua. Não queria piorar tudo ao chorar também. Jeon beijou a testa de Heeji pela última vez e fez uma brincadeira com os dedos para distrai-la um pouco. E após duas ou três rodadas daquela interação, o moreno liberou Steven para dar início ao caminho. E enquanto a janela do outro lado da porta subia, nós nos encaramos com tanta intensidade que até imaginei, por um instante, que nunca mais nos veríamos depois dali.
— Será o melhor pra todos nós — sussurrei diversas vezes enquanto tentava acreditar nisso a qualquer preço.
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