Ella acordou e se descobriu sozinha na cama e o lado de Alcina já estava frio, o que significava que já havia se levantado a algum tempo, e gemeu internamente ao imaginar como havia estragado tudo. Alcina a chamou para morarem juntas, dividir tudo e começar uma vida, mas Ella só conseguiu pensar em como provavelmente havia estragado tudo ao dizer que ainda não estava preparada para tal passo e acabou ferrando com o melhor relacionamento que já teve.
Permaneceu deitada, encarando o teto, e pensando em como Alcina devia estar chateada e pensando em terminar tudo. Elas dormiram abraçadas, Ella deitou a cabeça no peito de Alcina como sempre fazia, e foi uma noite tranquila mas ainda assim podia dar errado.
Como não parecia que Alcina estava prestes a voltar, Ella resolveu levantar e se preparar para o dia. Após lavar o rosto e escovar os dentes, voltou ao quarto e só então notou que a tela da babá eletrônica havia desaparecido da mesa de cabeceira e isso queria dizer que sua namorada estava mantendo um olho em todas as crianças ao mesmo tempo.
Vestiu apenas o robe sobre o pijama e saiu do quarto, o corredor e todo o andar superior encontrava-se silencioso, o que significava que ou todas as meninas estavam dormindo ou com Alcina lá embaixo.
No entanto, o silêncio não durou muito tempo, Daniela saiu do seu quarto e parecia chorosa ao cambalear pelo corredor; ao vê-la, o bebê choramingou e fez um biquinho fofo ao tentar andar mais rápido em sua direção no mesmo instante em que Alcina terminava de subir as escadas.
- Oh – Alcina parou ao vê-la – Bom dia, querida. Vi Dani pela babá eletrônica.
As duas se abaixaram ao mesmo tempo para pegar Dani, o que fez a menininha chorar com mais intensidade.
- O que foi, neném? – Alcina perguntou – Conta pra mamãe o que aconteceu.
Daniela choramingou e murmurou algumas palavras que nenhuma delas pode entender muito bem.
- O que aconteceu, Dani? – Ella tentou novamente – Você teve um pesadelo?
Daniela bateu os pezinhos no chão e tentou falar de novo, mas não conseguiu se fazer entender e agarrou a mão da mãe para puxá-la. Sem entender muito bem o que estava acontecendo as duas a seguiram pelo corredor até o quarto que dividia com Cassandra; Dani correu até a própria cama e se deitou no chão bem ao lado do espaço sem grade de proteção, até bateu a cabecinha no chão (com cuidado) antes de voltar a chorar e balançar os bracinhos para ser pega.
- Mamãe! Mamãe!
Dessa vez Ella foi mais rápida e pegou Dani no colo para consolá-la, ao que Alcina rapidamente envolveu ambas em um abraço e beijou o rostinho da filha.
- Você caiu da cama e machucou a cabecinha? – Alcina perguntou – Tudo bem, amorzinho, eu sei que doeu mas vai passar.
Dani choramingou e deitou a cabeça no ombro de Ella, que esfregou suas costas.
- E você é um bebê tão inteligente! – Ella elogiou e então se virou para olhar diretamente para Alcina – Ela não conseguiu se comunicar através de palavras, e então o que fez? Praticamente uma reconstituição do acidente! Eu amo essa menina.
Alcina riu e beijou seus rostos, demorando-se um pouco mais ao beijar Ella.
- Ela é incrível, mas acabei de lembrar que temos três meninas sozinhas na cozinha – disse com um sorriso – Se importa em ajudar Dani e nos encontrar lá embaixo?
- Claro que não.
- Ótimo – Alcina a beijou novamente e acariciou os cabelos desalinhados da filha – Vamos ter um café da manhã em família, então fique de pijamas.
Antes que Alcina pudesse sair do quarto, Ella a chamou.
- Ei, Alci. Estamos bem?
- É claro, amor – Alcina sorriu – Apenas não demore, ok?
- Ok.
Ao ficarem sozinhas no quarto Ella soltou um suspiro que nem se deu conta de que estava segurando. Bem, ela havia negado o pedido de se mudar com a namorada e passou metade da noite com medo de que seu relacionamento acabasse por isso, o que era um pouco insano, mas não podia evitar.
Ajudou Daniela a escovar os dentinhos e trocou a fralda molhada antes de vesti-la novamente com os pijamas (felizmente, a fralda não havia vazado).
Encontraram Alcina e as meninas na cozinha e um cheiro delicioso de panquecas e torradas, além do café que seria muito bem vindo aquela manhã. Normalmente os cafés da manhã em sua casa eram tranquilos, talvez um pouco apressados, mas muito mais silenciosos apenas com Ella, Judy e Agatha; ter outras três crianças transformava tudo em uma grande cacofonia incontrolável, Bela era a mais quieta mas ao se juntar com Judith acabavam sempre tagarelando, já Cassandra estava pronta para brigar com qualquer uma que tentasse tocar seu bacon, e Daniela tentava se fazer ser ouvida por todos ao gritar e agitar os braços.
É claro, havia mais beijos roubados e trocas de sorrisos, principalmente quando Alcina decidia cozinhar e ter um tempo em família sem todas as empregadas em volta.
Nesses momentos Ella não sabia porque tinha medo da ideia de casamento, Alcina era perfeita e elas teriam a família perfeita com quatro filhas adoráveis. Mas casamento era mais do que esses momentos felizes, era sobre rotina e compromissos, e não entendia quando diziam que era apenas um namoro mesmo dividindo o mesmo teto e mesma cama todos os dias e ainda continuar afirmando que era apenas um namoro. Amava Alcina e as garotas com todas as forças, só precisava de tempo para pensar com calma e garantir que estava fazendo a melhor escolha para todos.
Passaram um dia em família, com as meninas animadas para a chegada do halloween e prontas para passar horas e horas conversando sobre suas fantasias e em como seria divertido. Como o outono estava com força total e as temperaturas da Romênia nem sempre eram as mais sutis, passaram a tarde na grande cama de Alcina assistindo filmes e tomando chocolate quente; o filme escolhido por Cassandra foi O Estranho Mundo de Jack e as músicas fizeram sucesso até mesmo com Daniela que não sentiu medo como Alcina imaginou a princípio, e no fim de tudo foi uma sorte ninguém ter derramado nada nos lençóis limpos.
[...]
A semana passou rapidamente e na quinta foi dia de levar as meninas para buscar doces antes da festa privada de halloween no bairro em que Alcina morava, porque é claro que um bairro fechado com mansões teria uma festa de halloween ridiculamente soberba.
Ella ajudou Judy vestir o uniforme de Hogwarts, grifinória é claro, e até desenhou uma cicatriz em sua testa para ser Harry Potter; Bela acabou mantendo a decisão de se vestir de Luna Luvegood e conseguiram um uniforme da Corvinal para ela, até mesmo um colar de rolha de cerveja amanteigada. Ella até tentou convencer Cassandra a usar um uniforme da sonserina, mas a menina se recusou veementemente porque queria ser uma vampira ou bruxa de verdade, a última parte ofendeu as outras duas mas não podiam fazer nada quanto a isso.
- Você está linda, Cassie – Ella elogiou ao retocar a maquiagem e o sangue falso da fantasia de vampira – Assustadora também.
- Isso – Cass fingiu rosnar – Aposto que as criancinhas vão ficar morrendo de medo.
Ella riu. Como se a própria Cassandra fosse muito grande.
- É claro que vai. Só precisamos esperar Dani ficar pronta.
- Estamos aqui! – disse Alcina ao descer as escadas com Dani nos braços – E olha que coisinha mais fofa.
Daniela usava uma fantasia de patinho e leggings brancas, mas o charme ficou por conta das galochas amarelas fofas (cada uma com um patinho na ponta) e sorriu parecendo muito animada.
- Olha só pra você! – Ella se maravilhou ao beijar o bebê na bochecha – Como o patinho faz?
- Quá-qua! – Dani imitou – Meu patinho...
- É, você tem um patinho.
Saíram da casa com as meninas em fila (após Alcina tirar centenas de fotos em grupo e individuais), ao alcançar a calçada Daniela insistiu em ser colocada no chão e andar com as irmãs ao que Cassandra segurou sua mão para ajudar. Alcina achava que ela estava se tornando uma boa irmã mais velha, aprendendo com Bela apesar de um deslize ou outro, mas a verdade é que Cass adorava ensinar coisas a Dani.
Bela e Judy seguiram na frente com suas bolsas para pedir doces, com Cassandra e Daniela logo atrás sendo seguidas de perto por Alcina e Ella que mantinham um olhar atento sobre todas as quatro.
O bairro todo estava decorado para o halloween com monstros falsos, bruxas, esqueletos e vampiros; nada como as produções hollywoodianas com monstrinhos camaradas, Ella pensou ao entrelaçar o braço ao se Alcina antes de colocar as mãos nos bolsos do casaco, aqueles eram mais realistas e tenebrosos. Aqui e ali abóboras esculpidas pareciam encará-las com olhos brilhantes e bruxuleantes.
- Elas são fofas – Ella sorriu – Dani está tendo o melhor dia da vida dela.
- Está sim! Queria que o primeiro halloween oficial dela fosse especial, ano passado ela era só um bebezinho.
- Bom, ela aperfeiçoou a arte de andar e correr bem a tempo.
Pararam na porta de uma das casas e assistiram as meninas irem até a porta para gritar “travessuras ou gostosuras”, e Bela até segurou a outra mão de Daniela para ajudar a subir os degraus.
- Só pra você saber, minha irmã está voltando para o país e vai passar algum tempo comigo – Alcina explicou ao notar que Ella pareceu não entender: - Helena, minha única irmã biológica, não que isso importe.
Ella se lembrava de Alcina contar sobre Helena, a irmã que se mudou para os Estados Unidos e era responsável pela exportação do sanguis virginis no continente americano, não eram tão próximas quanto com Donna, mas se davam bastante bem.
- Oh...
- Isso não vai mudar nada em nosso relacionamento, vamos continuar morando juntas nos fins de semana. A não ser que se sinta desconfortável com isso, então podemos pensar em algo.
Ella balançou a cabeça.
- Não, tudo bem.
- Tem certeza Eu posso mandar ela embora.
As garotas se aproximaram com as sacolas de doces e Ella se abaixou para pegar Daniela no colo.
- Certeza – Ella assegurou – Está tudo bem, amor.
Acabaram voltando pra casa horas depois com as crianças exaustas, Alcina precisou carregar Cassandra que mal conseguia se manter de olhos abertos após algumas rodadas no pula pula inflável e um monte de pipoca e outros lanches sem açúcar (Alcina não permitiria que comessem tanto açúcar logo antes de dormir, os doces ficaram para a manhã seguinte).
[...]
- Mal posso esperar para ver minhas sobrinhas!
Alcina sorriu sem tirar os olhos do trânsito. Encontrar Helena foi revigorante, principalmente porque não se viam há bastante tempo; Dani ainda era um bebê na última vez que viu a irmã, deixá-la no aeroporto foi difícil, principalmente porque ela esteve lá quando Bela e Cassandra chegaram em casa.
Helena e Alcina dividiam muitas características físicas, como os mesmos cabelos escuros e traços dos rostos, tinham os mesmos lábios e nariz; a única diferença visível, além de Helena ser três anos mais nova, eram os olhos. Enquanto Alcina tinha olhos dourados, os de Helena eram quase tão azuis quanto os de Ella.
- Bela e Cassandra estão ansiosas também – Alcina balançou a cabeça – Mas Dani não entende muito bem, e eu juro que tentei explicar quem você é.
- Não é minha culpa se ela está sempre dormindo quando posso fazer uma chamada de vídeo!
Alcina riu.
- Me desculpe se os horários do meu bebê não se encaixam em sua agenda.
- Também senti sua falta. Até do seu sarcasmo e tom mandão – Helena se inclinou no banco do passageiro e aumentou a temperatura – Esqueci que esse país pode ser um cubo de gelo!
- Morar em Los Angeles te deixou mal acostumada.
- É, preciso me acostumar de novo.
Os planos para o dia incluíam pegar as meninas na escola, Daniela com Ella na livraria e encerrar um dia cansativo.
Daniela teve febre enquanto estava na escola, vomitou e chorou, e Alcina estava em reunião quando ligaram para buscá-la; o segundo contato de emergência era Ella, que a buscou e cuidou dela desde então. O sentimento de culpa a assaltou como nunca antes, saber que seu bebê chorou enquanto chamava pela mamãe que estava incomunicável em uma reunião a destruiu de verdade; o tipo de culpa que Alcina ainda não havia experimentado, sempre foi tão cuidadosa quando se tratava de Bela e Cassandra que começou a se sentir confiante demais, o que resultou em Dani sozinha. Claro, Daniela não foi de fato abandonada, pelo contrário, estava segura com Ella.
Não sabia o que faria sem Ella para ajudá-la neste momento, e sabia que se sentiria ainda pior se não fosse a namorada e sim uma babá a ter que buscar Daniela na escola.
Tentando se sentir mais tranquila com o pensamento, afinal de contas Daniela estava bem e na companhia daquela que um dia seria sua segunda mãe. Afinal, não faria sentido algum Alcina convidar Ella para morarem juntas se não a quisesse ao lado de suas filhas
Não havia muitas crianças saindo da escola aquele horário, apenas as que tinham alguma atividade extracurricular como Cass que estava na aula de música, Bela no balé e Judith no karatê. As viram assim que saíram do carro, as duas primeiras correram em sua direção com as mochilas balançando nas costas e grandes sorrisos nos rostinhos, apesar disso apenas lhe deram um abraço rápido antes de se jogar nos braços da tia.
- Fui abandonada...
- Alci! – Judy comemorou ao se aproximar, ainda usava o quimono e apenas um casaco por cima – Você me dá uma carona pra casa, por favor?
Alcina a abraçou e beijou o topo da sua cabeça.
- É claro, querida. Eu vim buscar você também.
Levou Judith até a irmã para apresentá-las.
- Judy, essa é a sua tia Helena, ela é minha irmã. E Helena, essa aqui é a minha outra filha que infelizmente ainda não mora comigo.
- Oi, Judy – Helena sorriu quando a menina lhe acenou de volta ainda que continuasse abraçada à Alcina – Linda menina.
Helena a abraçou rapidamente antes de dizer que deviam voltar para o carro devido ao frio, Alcina não discutiu como uma boa mãe preocupada que era e fez com que as crianças entrassem no carro.
A viagem até a livraria que pertencia a Ella foi rápida e bem menos silenciosa do que antes, mesmo após um dia inteiro de aulas as crianças pareciam ter muito a dizer e compartilhar, mas era muito bom ouvi-las tão alegres, principalmente Bela que tinha dificuldade em fazer novas amizades.
Ao chegarem a seu destino, Alcina deixou Bela e Cassandra no carro com a tia para levar Judith até Ella. Correram até a entrada para tentar fugir do vento frio, e felizmente lá dentro estava aquecido e agradável; Ella estava atrás do balcão com Daniela sentada sobre ele enquanto terminavam de atender um cliente, o rapaz pagou pelo livro e agradeceu antes de sair. Dani tinha sua chupeta e abraçava seu patinho amarelo, e parecia bastante feliz por isso; sempre que Alcina passava algum tempo longe, seu bebê chorava ao vê-la e isso, segundo os livros de educação infantil, era completamente normal, Dani estava apenas se sentindo segura para demonstrar suas frustrações do dia, mas dessa vez sequer lhe deu muita atenção.
- Olha, Dani – disse Ella ao pegar Daniela no colo – Mamãe está aqui.
Judy se adiantou e abraçou Ella para dizer oi, mas quando Alcina se aproximou para pegar seu bebê não teve tanta sorte.
- Não – Dani negou ao se agarrar ao pescoço de Ella – Na-não!
- Na-não, não – Alcina retrucou – Vem com a mamãe.
- Na-não! – Daniela reclamou e deitou a cabecinha no ombro de Ella – Não!
- Que não o que, Daniela? Eu sou sua mãe.
Mas Daniela não parecia ser importar nem um pouquinho sequer com isso.
- Perdeu, Alci – Ella comentou com orgulho: - Aceita que Dani quer ficar comigo.
Alcina cruzou os braços.
- Ok, então levo essa aqui – disse ao apontar para Judith que apenas ria de toda a situação – Me sinto no meio de um divórcio, resolvendo quem fica com as crianças.
O comentário fez Ella baixar o olhar, o que fez Alcina se sentir mal porque não tinha a intenção de machucá-la.
- Sinto muito, amor – e tentou mudar de assunto rapidamente: - Como Dani está?
- Oh, ela ficou um pouco manhosa e quis ficar no colo o dia todo, mas tudo bem – Ella se apressou em explicar: - Foi como nos velhos tempos e ela fez muito sucesso entre os fregueses.
Daniela não precisa interessada em nada que não fosse seu patinho, a chupeta que sugava com vontade ou abraçar Ella.
- Nem sei como te agradecer por ficar com ela.
- Não foi nada, Alci. Eu amo Dani e foi bom cuidar dela de novo.
Era por momentos assim que Alcina tinha certeza de ter encontrado a pessoa certa, pouco importava já quanto tempo estavam juntas, afinal de contas que mãe não quer alguém que ame seus filhos. Ela mesma amava Judith como uma de suas filhas, então as despedidas nunca eram fáceis.
- Ainda assim agradeço pela ajuda – disse ao acariciar os cachinhos de Daniela – É melhor ir, Helena está com as crianças no carro e precisamos ir para casa.
- Sua irmã chegou?
Alcina aquiesceu.
- Vamos sair juntas amanhã, e Karl marcou um jantar de família no sábado e felizmente dessa vez será na casa dele – como Ella pareceu triste ao entender que não teriam qualquer tempo no fim de semana, Alcina se apressou em complementar: - Jantar em família inclui você e Judy, e antes que diga algo foi o próprio Karl quem frisou essa parte.
Ella sorriu brilhantemente.
- Então estaremos lá.
- Eu gosto do tio Karl – Judith comentou – Ele é engraçado.
- É claro que você iria gostar dele... – Alcina revirou os olhos em brincadeira – De todo jeito precisamos mesmo ir.
- Certo.
Ella balançou Dani em seus braços e beijou seu rostinho enquanto Alcina se despedia de Judith. Foi difícil pegar o bebê, Daniela chorou e tentou segurar a blusa de Ella para não ser afastada; tal comportamento causou sentimentos mistos em Alcina, como mãe ficava feliz por seu bebê gostar tanto da sua namorada mas, por outro lado, era difícil não ser mais a pessoa preferida.
- Vamos, Dani, suas irmãs estão esperando. Bela e Cassie querem ver você – Alcina a persuadiu – Você não quer ver suas irmãzinhas?
Depois de alguns segundos Daniela acabou por se dar por vencida e se deixar ser pega pela mãe.
- Dê tchau para Ella e para Judith – Alcina insistiu – Diga “tchau!”.
- Tchaau!
Daniela levantou a mãozinha gordinha e acenou para as duas, até mesmo tirou a chupeta para mandar um beijo estalado para Ella.
- Até mais, querida. Amo você – disse Alcina ao beijar o rosto de Judith, ao que foi imediatamente retribuída, e então fez o mesmo com Ella só que a beijou nos lábios – Até mais, meu amor. Eu te amo.
- Te amo muito – Ella sorriu e beijou Dani – Te amo também neném.
- Ti amo! – Dani gritou e bateu palmas – Ellaaa...
Depois de muita insistência foi possível tirar Daniela da livraria e da companhia de Ella, algo que não acontecia sempre já que o bebê praticamente se jogava sobre Alcina ao vê-la. Colocar Dani na cadeirinha foi um novo desafio, ela simplesmente não queria se sentar ou se deixar prender pelos cintos, e foi preciso que Bela a distraísse com um chaveiro preso na própria mochila, o penduricalho brilhante fez sua mágica quando Dani esticou as mãozinhas para pegá-lo e Alcina conseguiu prende-la na cadeirinha.
Seria bem mais fácil se pudessem agir como uma família e morar todas juntas.
[...]
Ella se espremeu entre as várias pessoas junto ao bar e foi rapidamente atendida, ao que pediu dois drinks, um martini para Agatha e uma cuba libre para si mesma, e enquanto esperava por seus pedidos lançou um olhar ao redor do bar. Ella teve uma noite livre já que Judith estava na festa do pijama de uma vizinha e resolveu sair com Agatha, não era sempre que podia se dar a esse luxo então quando tinha a oportunidade era melhor aproveitar.
Escolheram o mesmo bar em que teve o primeiro encontro não oficial com Alcina, o ambiente era agradável e as bebidas de boa qualidade logo não podiam pensar em um lugar melhor.
Olhou ao redor procurando pela amiga, mas Agatha ainda estava longe de ser vista após ter ido ao banheiro.
- Se ainda não tem uma bebida, posso te pegar uma.
Virou-se em direção a voz aveludada e deparou-se com uma bela mulher de intensos olhos azuis. Tinha a mesma altura que Ella, talvez alguns centímetros a menos, e belos cabelos escuros e feições que não pareciam completamente estranhas.
- Sabe que tenho a sensação que já te vi em algum lugar?
A mulher sorriu e pareceu ainda mais familiar.
- Não sei nada quanto a isso, mas adoraria te pagar uma bebida e te conhecer agora. Eu sou Helena.
- Não, obrigada – Ella sorriu educadamente – Eu tenho uma namorada.
- E quem seria essa namorada que não estou vendo?
Alguém pigarreou logo atrás e Ella ergueu o olhar para encontrar Alcina parecendo divertida e nada enciumada.
- Essa seria eu. Será que não posso ir ao banheiro sem que minha irmã comece a dar em cima da minha namorada?
- Ela é sua irmã?
- Ela é sua namorada?
Ella e Helena falaram ao mesmo tempo e riram.
- Helena, essa é minha namorada Elleanor, que prefere ser chamada de Ella – Alcina as apresentou – Ella, essa é a Helena, minha irmã que acabou de voltar ao país.
Cumprimentaram-se com um aperto de mão, Helena sorriu de forma gentil e pediu desculpas pela inconveniência; enquanto respondia com “imagina, está tudo bem”, Ella se chutou mentalmente por não ter percebido que a mulher se parecia bastante com sua namorada que havia lhe avisado que iria sair com a irmã justamente aquela noite. Apesar de ter sido uma coincidência, e de não terem combinado nada, Ella não podia ter deixado isso passar.
Felizmente, Agatha escolheu aquele exato momento para aparecer e salvá-la da saia justa e Alcina, ao abraçar Ella de forma possessiva, as chamou para juntar-se à elas em uma mesa mais afastada do bar e ainda assim em uma ótima localização. Aquele não era o tipo de lugar em que se podia reservar a melhor mesa, mas Ella aprendeu muito rápido que qualquer coisa é possível quando se tem dinheiro e no caso de Alcina – a mulher mais rica da cidade, a “toda poderosa” como Klaus chamava – era ainda mais fácil e tudo vinha com um estalar de dedos.
Pegaram seus drinks e Alcina as guiou até a mesa sem deixar Ella em momento algum, como se temesse que resolvesse fugir em um momento de distração.
- Então, Ella... – Helena começou a falar assim que se acomodaram – Esperava te conhecer amanhã no jantar em família.
- Oh, sim... Alcina me convidou.
- Não seja modesta, amor – Alcina segurou sua mão sob a mesa – Você e Judith são parte da família.
- Judy eu conheci! – Helena se alegrou – E justo quando achei que minha irmã não teria mais filhos.
- Agora tem uma escadinha – Agatha sorriu – Judy a adora.
Entraram em uma rápida discussão sobre crianças, Helena esteve lá na chegada de cada uma das sobrinhas – com exceção de Judy – e se orgulhava muito disso.
- Infelizmente também não vi a chegada da Rosemary. Karl pode negar, mas ele está feliz e gosta de ser pai aos fins de semana – Helena continuou com uma careta – Linda menininha, mas a mãe tem um péssimo gosto. Ela é namorada da...
- Miranda – Alcina completou – Nós soubemos.
- La Diabla – Helena continuou e todas riram – Se não fosse pelo pai e por Karl, essa garota teria grandes chances de se tornar a maníaca da machadinha.
- Ela é tão ruim? – Agatha perguntou.
- Pior – Alcina e Helena responderam juntas.
Ella riu e contou:
- Karl marcou um jantar para apresentar todo mundo, parece que a tal Miranda insistiu que deviam tirar a chupeta da Rose e ela tentou roubar a da Dani. E é claro que Daniela não deixou por isso mesmo, para resumir acabaram brigando por um brinquedo e Dani deu um tapa tão forte que todos puderam ouvir.
- Não acredito que perdi a briga de bebês – Agatha reclamou – Isso deve ter sido maravilhoso.
- Karl concorda com você.
As quatro riram juntas em uma espécie de camaradagem instantânea. Ella ainda não sabia toda a história de Alcina, não sobre o que dizia respeito a sua família e a criação que teve, e como parecia ser um tópico delicado simplesmente aceitou que devia esperar até que a namorada se sentisse bem para compartilhar; de toda forma, agora faltava conhecer apenas um de seus irmãos de criação, o que provavelmente aconteceria no jantar da noite seguinte.
Até mesmo Agatha e Helena pareceram se dar bem e envolveram-se em uma conversa particular por algum tempo, sem sequer lhes dar alguma atenção.
Já Alcina parecia determinada a ter Ella para si mesma, segurou seu rosto com cuidado e juntou seus lábios em um beijo carinhoso, sem pressa alguma, como se o mundo todo tivesse parado apenas para as duas. Ella se permitiu perder-se nos lábios da namorada, apreciar a sensação inebriante em um misto de paixão e pertencimento, Alcina era seu lar e sabia que já estavam criando sua crescente família.
Alcina interrompeu o beijo e se afastou devagar, apoiou a testa na de Ella e sorriram juntas, cúmplices em seus sentimentos.
- Eu te amo, draga mea.
- Te amo, Alci.
Seu pequeno momento foi interrompido pela chegada de um homem, era bonito e sorriu de forma educada ao falar com Agatha para perguntar seu nome e de poderia lhe pagar uma bebida, mas Ella notou que sua amiga não parecia interessada ainda que ele parecesse agradável.
- Não, obrigada.
- Tem certeza? Suas amigas não vão se importar se eu te roubar por alguns minutos.
Agatha ficou vermelha e sem jeito, Ella sabia que a amiga não se sentia a vontade com esse tipo de insistência e sempre tinha medo de ser desnecessariamente grossa, principalmente quando se tratava de um cara educado ainda que insistente.
- Ela está comigo – Helena falou com toda a segurança de uma Dimitrescu ao segurar a mão de Agatha sobre a mesa – Vou ter que pedir que deixe minha namorada em paz.
O cara desconhecido se desculpou várias vezes e se afastou parecendo sem jeito, Ella achou que devia ser de fora da cidade porque nenhum morador local chegaria daquele jeito em uma mesa ocupada por Alcina.
- Obrigada – Agatha agradeceu com um sorriso – Não sei lidar com esse tipo de situação.
- Tudo bem. Estou aqui para ser sua namorada por quanto tempo quiser.
Ao notar que a amiga corou consideravelmente, Ella sorriu e provocou Helena:
- Já atrás de outra? Achei que era seu tipo!
- Não, você é mais o tipo da minha irmã – Helena provocou de volta – Aliás, não me lembro de ver ela tão feliz com qualquer outra namorada.
Alcina não perdeu a oportunidade de passar o braço ao redor de Ella e puxá-la ainda para mais perto.
- É que essa aqui eu amo de verdade. É o amor que tornou todos os outros amores insignificantes.
Ella se sentiu derreter e nem mesmo ligou quando as outras duas entoaram um coro de “ooount”. Estava mais do que feliz e realizada com a mulher que amava, sentia e entendia exatamente suas palavras.
- Você é meu único amor – Ella sorriu e beijou Alcina rapidamente – Te amo demais.
Estavam felizes e nada iria atrapalhar isso, Ella até mesmo se inclinou para a alternativa de morar com Alcina e ter sua família completa todos os dias da semana.
- Te amo – repetiu e então continuou em voz baixa: - E nada poderá ficar entre nós.
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