POV LAUREN
Cheguei em casa depois de um dia exaustivo no trabalho, eu havia passado no apartamento de Dinah para buscar Martim. Eu amava minha melhor amiga, mas tínhamos que confessar que ela era uma folgada, além de eu ficar com um dos seus cachorros, eu ainda tinha que buscá-lo na porta de sua casa.
Brad, por algum milagre divino, não estava. Ele provavelmente deveria estar em algum bar enchendo a cara ou tentando convencer alguma louca de se deitar com ele. Subi as escadas, tomei um banho relaxante enquanto Martim ficava sentado na porta do banheiro me observando.
— Por que está me olhando assim? – o questionei como se ele fosse me responder – Para de me encarar com esses seus olhinhos de piedade. Eu não sou nenhuma coitada, só estou tentando salvar meu casamento. Eu não quero ser nenhuma fracassada, não quero dar o braço a torcer – Martim inclinou levemente sua cabeça e grunhiu como se estivesse realmente com dó de mim – pode parar com isso, ok? Está me assustando.
Terminei meu banho, vesti meu roupão e desci as escadas. Adentrei na cozinha e Brad estava caçando alguma coisa na geladeira.
— Ah, você já chegou – murmurei bufando.
— O que esse monstro nojento está fazendo aqui? – perguntou ele voltando sua atenção para mim e para Martim.
— Essa já é a segunda pessoa que te chama de monstro – falei olhando para Martim que também me encarava.
— O que disse? – perguntou meu marido.
— Nada – respondi dando de ombros enquanto abria os armários em busca de algo para comer.
— Acabou a cerveja? – questionou Brad.
— Não sou eu quem toma cerveja nessa casa e nem que fica aqui o dia todo, então é óbvio que eu não sei. – cuspi as palavras.
— Nem vou me dar ao trabalho de te responder Lauren – disse ele enquanto passava por mim com uma garrafa de vinho nas mãos.
Brad foi até a sala e se sentou em sua poltrona habitual. Fui atrás dele e me sentei em um dos sofás. Eu havia passado grande parte do meu dia pesquisando clínicas de reabilitação para alcoólatras. Como disse para Martim, eu não queria ser uma fracassada que tinha um casamento arruinado.
— Brad – comecei e ele apenas murmurou um “hum” – será que podemos conversar?
— Acho que já estamos fazendo isso Lauren – respondeu ele sem tirar os olhos da TV. Peguei o controle que estava no braço do sofá e desliguei a televisão – por que fez isso?
— Porque precisamos conversar – tentei dizer firme.
— Ok, Lauren, do que quer falar? – perguntou ele ironicamente.
— Bom, é... você não acha que bebe demais? – questionei e ele pareceu pensar um pouco antes de me responder.
— Na verdade, acho que bebo pouco. Se minha mãe me pagasse uma mesada maior ou se você fosse mais caridosa, eu com certeza beberia mais – disse ele dando de ombros.
— E você não acha que isso é um problema? – perguntei como se Brad fosse um dos meus clientes. Eu lidava com esse tipo de problema todos os dias, na verdade, acho que lidava com todos os problemas do mundo. Assim que terminei minha pergunta Brad começou a gargalhar como se eu tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo.
— Você é engraçada, Lauren, muito engraçada – falou ainda rindo e depois deu um gole em seu vinho.
— Você realmente acha que não é um alcoólatra? – perguntei sem acreditar no que meu marido havia acabado de falar.
— Alcoólatra? Acha mesmo que eu sou um alcoólatra? Lauren, olha para mim... – tornou ele.
— Exatamente – explodi e me levantei do sofá – olha para você! Nunca trabalhou! Sempre dependeu dos seus pais e de mim até para beber sua preciosa cerveja. Você não consegue enxergar o quanto é um fracasso Bradley...
— CALA A BOCA, SUA VÁDIA IMUNDA – esbravejou ele se levantando de sua poltrona.
— O quê?! Você me chamou do que? – perguntei chocada. Martim começou a latir e rosnar para Brad sem parar.
— Você é surda? – rebateu meu marido.
— Você é nojento Bradley! Eu não sei onde estava com a cabeça quando me casei com você, eu só poderia estar cega – falei com cara de nojo.
— Você é tão nojenta e fracassada quanto eu, Lauren. E você não tem para onde ir, porque essa casa e até mesmo o carro que você usa, foram meus pais que deram. Você é uma vádia imunda.
— CALA A BOCA – foi a minha vez de gritar – CALA ESSA MALDITA BOCA. – continuei e dei um tapa no vinho em suas mãos. Brad ficou olhando a garrafa se quebrar em mil pedaços e depois me encarou com fúria nos olhos.
— Você não fez isso... – disse ele andando em minha direção.
— Fiz e faria de novo! E eu tenho para onde ir Bradley, você não me achou na rua – falei de peito estufado.
Ele avançou contra mim segurando meus braços com uma mão enquanto a outra depositava um tapa em meu rosto. Em toda a minha vida, eu nunca havia levado um tapa na cara, minha vó costumava dizer que essa atitude não tinha perdão, antes dizer mil verdades para uma pessoa do que bater nela. Nem mesmo minha mãe e nem ninguém, nunca tinha sequer levantado a mão para mim.
No segundo tapa, eu já nem conseguia sentir a dor. Os latidos de Martim pareciam estar bem distantes e o tempo pareceu congelar. Eu tentei salvar meu casamento e suportei muita coisa nesses anos todos, mas a partir daquele momento, Brad havia morrido para mim. Ele não me deu apenas um tapa, mas 4. 4 tapas, 4 vezes que um longo filme se passou em minha mente, 4 vezes que eu desejei voltar no tempo e dizer “não” na frente de toda aquela igreja.
Brad segurou em meu rosto e me jogou contra o sofá. E sem dizer uma palavra sequer, saiu porta a fora de casa. Subi as escadas correndo e vesti a primeira roupa que encontrei. Peguei uma mala em cima do meu guarda-roupa e fui colocando tudo o que era meu ali dentro.
— Chega dessa vida! – murmurei para mim mesma. – Chega Lauren.
POV DINAH
— Ele fez o quê? – perguntei me levantando. Lauren havia chego em meu apartamento há algum tempo, acho que nunca a vi tão... acabada. Ela estava molhada e seus sapatos sujos de barro quando chegou, carregava uma mala num ombro e Martim enrolado de qualquer jeito numa toalha. Fiz ela entrar, tomar um bom banho, se aquecer e só depois parei para ouvir o que tinha acontecido.
— Por favor, não me faça repetir – pediu minha amiga de cabeça baixa. Eu nunca gostei de Brad e esperava qualquer coisa vinda daquele traste, quer dizer, eu achava que esperava qualquer coisa. Mas bater em Lauren? Na mulher que lavava, limpava, passava e cozinhava para ele durante 9 anos?
— Você tem que pedir o divórcio. – conclui enquanto andava de um lado para o outro.
— Estava com medo que dissesse isso – disse minha amiga ainda sem me encarar.
— Com medo? Qual é Lauren, o cara te bateu. – falei parando em sua frente.
— Eu sei, mas... – disse Lauren finalmente me encarando, sua bochecha esquerda estava começando a ficar cada vez maior e seu nariz ainda estava um pouco sujo de sangue.
— Não tem “mas” Lauren. Acabou, entende? Na verdade, nunca deveria ter começado, diga-se de passagem. Mas acabou. Você lida com isso todos os dias naquela clínica, quantas mulheres já te procuraram na mesma situação que a sua? Não tem volta, Lauren. Não tem perdão. Não tem “mas”. – falei voltando-me a sentar ao seu lado. – Olha pra mim – pedi e assim ela o fez, peguei em sua mão e olhei dentro dos seus olhos – você merece ser feliz mais do que ninguém nessa vida, você merece alguém melhor que ele. E foi ele quem perdeu, Lauren, tenha sempre isso em mente.
— Obrigada Janezinha – disse ela com lágrimas nos olhos. A abracei fortemente em meus braços, eu odiava ver Lauren chorando e principalmente, odiava a ver nessa situação.
— Não precisa me agradecer, eu estou aqui, lembra? – perguntei ainda agarrada a ela.
— Desculpa estragar as coisas com a Normani – disse Lauren depois que se desvencilhou dos meus braços – eu vou atrás de um lugar pra mim, não precisa se preocupar.
— Lauren, aqui sempre foi e sempre será o seu lar. – falei oferecendo meu melhor sorriso.
— Mas eu vou achar um lugar para ficar pelo menos por essa semana, ok? Não quero mesmo atrapalhar seu lance com a bonitona – brincou minha amiga.
— Tudo bem, nem vou questionar. Na verdade, eu agradeço e pode levar Martim com você. Eu o amo, mas leve, por favor – pedi fazendo biquinho.
— O que você pede e que eu não faço? – perguntou Lauren dando de ombros. A abracei novamente e acariciei seus cabelos. Já precisei muito de Lauren, mas agora, era ela quem precisava de mim.
…
— Se lembra daquela festa da faculdade que a gente ficou muito louca? – perguntou Lauren. Estávamos sentadas no tapete da sala tomando um bom e velho vinho, quer dizer, Lauren estava. É óbvio que eu estava com minha garrafa de cerveja nas mãos.
— Naquela que você fumou maconha pela primeira vez? – rebati. Lauren riu alto jogando sua cabeça para trás, era óbvio que ela estava bêbada, mas confesso que também não estava 100% sóbria.
— Primeira vez e última! – respondeu Lauren tentando ficar séria. Um silêncio se estendeu sobre nós duas e ambas demos um longo gole em nossas bebidas – Ei, por que não vamos dar uma volta?
— Dar uma volta? Onde? – perguntei inocentemente.
— Não sei, só não quero passar o meu sábado a noite em casa. – respondeu ela brincando com a garrafa em suas mãos.
— Você já fica em casa todo sábado a noite. – falei dando de ombros.
— Mas vamos sair e comemorar minha nova vida, poxa... – disse fazendo biquinho.
— Tudo bem, mas antes... – levantei-me do chão e liguei meu notbook – vamos achar um bom advogado para você, mocinha.
— Não podemos fazer isso amanhã? – Lauren perguntou ainda sentada no chão. Me virei em sua direção e cruzei meus braços.
— Não vamos deixar para amanhã, o que podemos fazer hoje – falei firme e minha amiga apenas concordou.
Joguei no google “advogados em Miami” e mil pareceram, corri os olhos por todos os anúncios e apenas um deles chamou minha atenção. “Dra. Cabello”. Cara, quem tem esse sobrenome? Cabello. Que ridículo. Mas mesmo assim cliquei no link, peguei um pedaço de folha e uma caneta, anotei telefone e endereço. Depois fui até minha cozinha e grudei o pequeno papel na geladeira. Ótimo, assim eu não esqueceria de fazer Lauren ligar e marcar uma hora com essa doutora na segunda-feira.
— Ok, vamos nos trocar e ir – falei entrando na sala novamente. Lauren se levantou com certa dificuldade e eu tirei a garrafa de vinho de suas mãos. – chega de vinho por hoje, certo?
— Como queira. Só quero fazer uma loucura. – respondeu minha amiga alisando meu rosto com carinho.
— Já tem algo em mente? – perguntei curiosa.
— Digamos que sim – respondeu ela me dando uma piscada.
…
Acordei no dia seguinte com uma mega dor de cabeça, acho que exagerei na cerveja. Me levantei com certa dificuldade da cama me desvencilhando dos braços de Lauren e praticamente me arrastei até o banheiro. O antigo quarto dela era agora o quarto dos meus cachorros, então até eu arrumar tudo, buscarmos as coisas de Lauren, dar uma pintada nas paredes, minha amiga dormiria ou na sala ou comigo no quarto.
— Odeio domingos – conclui enquanto colocava a pasta de dente em minha escova.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA – ouvi Lauren gritar. Larguei tudo o que estava fazendo e corri em direção ao meu quarto.
— O que aconteceu? – perguntei antes mesmo de entrar. Assim que coloquei os pés pra dentro do recinto, pude ver Lauren se olhando no espelho enquanto segurava seu celular atrás da nuca, dando a ela uma visão ruim do que estava naquela parte do seu corpo.
— Dinah... como...? – começou ela me olhando surpresa.
— Olha Lauren, eu sei que quando você bebe, você costuma esquecer muita coisa e...
— Deixou eu fazer uma tatuagem? – interrompe-me minha amiga.
— Eu tentei impedir, mas você disse que era importante e que marcava o começo de “uma nova era”. – falei me lembrando exatamente do que Lauren tinha me dito na noite anterior. Ela queria muito sair e fazer uma loucura, e essa tinha sido sua maior loucura. – Mas pensa pelo lado positivo, é na nuca, você pode soltar o cabelo e ninguém vai ver.
— Não acredito que eu bebi tanto assim... eu nem consigo ver o que é – disse ela voltando sua atenção para o celular e para o espelho.
— É uma libélula – falei revirando os olhos – “espírito selvagem e livre”, qual é? Não se lembra do que o tatuador falou?
— Não. Eu não me lembro de quase nada, só de beber vinho no seu tapete – respondeu ela dando de ombros.
— Cara, você precisa de um médico. Não é normal beber e esquecer tudo no outro dia – falei sentando-me na cama.
— Dinah?! Não perde o foco, você precisa me ajudar – falou Lauren finalmente me encarando.
— Não tem como te ajudar, é uma tatuagem permanente, não vai sair com água. – rebati tirando sarro – Deveria ter feito um vídeo. – continuei pensando alto. Peguei meu celular no criado-mudo e entrei no google, digitei “tatuagem de libélula, significado” com agilidade e cliquei no primeiro link. – Ok, olhe isso: “Como as borboletas, a libélula também passa por metamorfose. Isso significa mudanças, as pessoas que usam essa tatuagem acreditam na mudança e no poder que ela possui...”
— O que você fez Lauren Jauregui? – perguntou minha amiga me interrompendo e voltando a se encarar no espelho.
— Você realmente precisa de um médico. – conclui.
POV NORMANI
Dinah e eu nos falamos brevemente durante esse fim de semana, ela apenas me explicou a situação com sua amiga de forma básica e marcamos de nos ver hoje, segunda-feira. Acordei no mesmo horário de sempre, tomei meu banho, me arrumei e fui para meu consultório. Avisei ao William sobre minha semana de férias e o pedi para desmarcar todos os meus pacientes naquela semana, por sorte não havia muitos, mas ainda daria um pequeno trabalho ao meu secretário. Uma criança já tinha chegado para consulta, olhei em meu relógio e notei que ainda faltava 40 minutos para ver a Dinah. Chamei a garota que aparentava ter 9 anos e resolvi dar uma olhada em seus dentes, afinal, por que não?
…
Saí do meu consultório feliz e saltitante, nada além de uma bela e grande cárie deixava meu dia melhor. Fui em direção ao apartamento de Dinah, iria buscá-la para sairmos e depois iríamos para minha casa. Nós ainda não havíamos decidido onde ficaríamos durante essa semana, mas eu não via problema nenhum em revesar entre minha casa e a dela, contanto que seus cachorros não estivessem lá.
Desci do carro após estacioná-lo na vaga de Dinah, acredito que ela havia deixado minha entrada liberada com o porteiro ou então esse prédio deixava qualquer pessoa entrar. Parei em frente a porta de Dinah, apertei a campainha e uma linda loira apareceu rapidamente. O rosto de Dinah ainda estava inchado, o que indicava que ela havia acordado há pouco tempo.
—Bom dia! Te acordei? – Perguntei enquanto Dinah cedia espaço para eu entrar em seu apartamento.
—Bom dia! Não, eu estava tomando café. – Dinah falou sorrindo. Seu cachorro menor apareceu assim que eu coloquei o pé para dentro, seus latidos eram tão estridentes que eu achei que ficaria surda. Os barulhos só cessaram quando ele passou a puxar a barra de minha calça.
—Dinah, faça alguma coisa! – Falei em pânico enquanto balançava minha perna para se livrar daquele cachorro que mais se parecia com um rato barulhento.
—Martim! Que coisa feia! Largue a calça de Normani, anda. – Dinah gritava com ele em vão. Então ela se abaixou, pegou a criaturinha em seu colo e saiu de perto de mim conversando com ele. —É… Me desculpe por isso, Martim nunca se comportou assim com ninguém, não sei o que deu nele. – Dinah falou após voltar sem o cachorro.
—Tudo bem, não foi nada… – Menti e sorri fraco para Dinah.
—Está bem-arrumada, tudo isso é para me ver? – Dinah falou sorridente enquanto segurava em minha mão e me guiava para seu quarto.
—Claro, eu não poderia vir te buscar de moletom, não é? – Perguntei sorrindo.
—Você tem algo contra moletom? – Dinah perguntou se virando de frente para mim.
—Não, não tenho. Mas acho que é uma peça para se usar em casa. – Falei dando de ombros.
—Não acho isso, acho que moletom você pode usar quando quiser e onde quiser. – Ela rebateu me encarando.
—Pode ser, mas moletom me lembra depressão. Acho que moletom se usa para dormir ou quando você está no fundo do poço e não quer usar mais nada.
…
Depois da nossa pequena discussão sobre moletom, saímos da casa de Dinah em direção ao shopping. Notei que o apartamento de Dinah ficava perto da clínica que Camila havia me dado o cartão, então resolvi passar por lá para marcar uma sessão de massagem.
—Se importa se eu passar em um lugar? – Perguntei para Dinah sem tirar os olhos do caminho.
—Não, por mim tudo bem. – Ela falou sorrindo enquanto procurava uma rádio do seu gosto. Dinah mexia no som do meu carro sem pedir minha autorização, mas eu gostava disso nela, mostrava que ela era uma mulher espontânea e não ligava se eu permitia ela fazer aquilo ou não. Dinah parecia ter uma tendência a não obedecer regras e eu achava isso incrivelmente sexy.
—Chegamos, eu não vou demorar, prometo. – Falei enquanto estacionava em frente a clínica.
—O que estamos fazendo aqui? – Dinah perguntou enquanto olhava para o lado de fora do carro.
—Eu vim marcar um horário com a massoterapeuta, mas fica tranquila, sua massagem vai continuar sendo a minha favorita. – Falei sorrindo e acariciei seu rosto.
—Claro que vai, eu sou a massoterapeuta daqui! – Dinah falou me encarando. Arregalei meus olhos e olhei para a clínica, será que tinha o nome de Dinah? Pisquei meus olhos algumas vezes e li o que estava escrito na fachada do local: Clínica Massoterapêutica Hansen & Jauregui.
—Seu sobrenome é Jauregui? – Perguntei insegura.
—Não, meu sobrenome é Hansen.
—Mas como... – Comecei dizendo.
—Mas como pergunto eu. Como conseguiu o endereço da minha clínica?
—Minha amiga Camila é sua cliente, eu pedi o número da massoterapeuta dela depois que me fez uma massagem, pois eu gostei, mas não queria ficar abusando de você e sua boa vontade. – Falei sinceramente e Dinah arqueou uma sobrancelha.
—Camila? Então a Camila minha cliente é a Camila sua amiga? – Dinah perguntou com uma cara pensativa.
—Sim, você se lembra dela?
—Acredite, não tem como esquecer a Camila. – Dinah falou enquanto me olhava.
—Por quê? Acha ela bonita? – Perguntei curiosa e algo em meu peito se apertou.
—Não, não é isso... Sua amiga é rica? – Dinah perguntou enquanto me encavara.
—Bom, ela não é pobre. A profissão dela rende bastante dinheiro, mas por quê? – Tornei a perguntar.
—Nada não, vocês são amigas há muito tempo?
—Sim! Você a conheceu Dinah! No casamento de meu pai com sua tia, Camila é a amiga que eu havia perdido na festa. – Falei e Dinah fez uma cara de surpresa ainda maior. Seu olhar se tornou nostálgico e ela pareceu se lembrar daquele dia.
—Meu Deus… Camila… Ela… Ela é solteira? – Dinah perguntou quando voltou a me encarar.
—Está interessada nela agora? – Perguntei encarando-a seriamente.
—Não, não é isso… Ai, vamos para o shopping e lá eu te explico. Não precisa marcar um horário, eu fiquei sabendo que a mulher que faz massagem está de férias. – Dinah falou sorrindo e piscou para mim enquanto se ajeitava no banco do carro. Dei partida no mesmo e dirigi até o shopping sem falar nada. Dinah teria que me explicar certinho esse seu interesse em Camila.
POV CAMILA
Meu horário de almoço havia acabado e eu me sentia ainda mais cansada. Essa viagem para Cuba só serviu para me desgastar e não resolveu nada, meu tio havia batido em sua mulher e contra isso nada poderia ser feito. Achei um absurdo a justificativa dele e nem fiz esforço para defender o homem que jurou estar arrependido em minha frente. Ele não era meu tio mesmo, apenas um amigo do meu pai que ele considerava como seu irmão. O que tornava toda a situação ainda mais ridícula. Meu pai insistiu tanto por minha ajuda que acabei indicando um amigo meu para o caso, eu não cuidaria disso nem que me pagassem três vezes a mais do que eu ganharia. Eu odiava defender machistas e valentões, se eu entrasse em algum caso que uma pessoa dessa fizesse parte, eu, com certeza, estaria do lado da mulher que apanhou. Em mulher não se bate, jamais. Para tudo há uma boa e velha conversa.
—Senhorita Camila, a sua cliente está atrasada, mas já ligou avisando que está a caminho. – Minha recepcionista me avisou assim que parei em frente a sua mesa.
—Ah sim, obrigada Ashley, quando ela chegar acompanhe-a até minha sala, tudo bem? – Perguntei enquanto me afastava.
—Claro. – A loira concordou sorrindo. Me virei e entrei no corredor que dava acesso à minha sala. Entrei e fechei a porta atrás de mim.
Coloquei minha bolsa dentro do meu grande armário, ajeitei minha blusa social, liguei o ar condicionado e me sentei em minha cadeira. Como de costume havia um papel em minha mesa com alguns dados da minha cliente, li seu nome, seu endereço e seu telefone. Nada era comum para mim, que bom, eu não a conheço.
…
Ouvi algumas batidas na porta, levantei meu olhar e vi Ashley entrar em minha sala.
—Sua cliente chegou doutora.
—Pode pedir para ela entrar, por favor. – Pedi e me ajeitei na cadeira.
—Obrigada. – Uma voz rouca soou do lado de fora da minha sala, encarei a porta e vi uma bela morena entrar.
—Boa tarde! – Declarei sorrindo e estendi minha mão em sua direção. —Meu nome é Camila Cabello.
—Boa tarde! Me chamo Lauren Jauregui. – A morena declarou sorrindo e apertou minha mão com firmeza. Senti um arrepio percorrer minha espinha, puxei minha mão rapidamente de volta e fiz sinal para que a mulher sentasse em uma das cadeiras na frente de minha mesa. Minha sala estava realmente gelada ou o arrepio foi causado pela mulher em minha frente?
—O que posso fazer por você senhora Jauregui? – Perguntei enquanto a olhava.
—Bom, eu quero me divorciar. – Ela falou sem encarar meus olhos.
—Certo. Acredito que está aqui porque precisa de ajuda, é isso? – Perguntei sugestiva e finalmente Lauren olhou em meus olhos. Não tinha percebido como seus olhos eram lindos e familiares. De onde eu conhecia esses olhos?
—Isso! Eu nunca passei por isso antes e demorei muito para tomar essa decisão, nem sei por onde começar na verdade. – Ela falou com as bochechas um pouco ruborizadas.
—Hum, a senhora tentou fazer dar certo primeiro? – Perguntei e peguei uma ficha que usava para anotar os dados de meus clientes.
—Tentei, como sabe? Ah, pode me chamar de você ou Lauren? – Ela perguntou enquanto me encarava de forma engraçada.
—Bom, eu lido bastante com divórcios Lauren. – Falei sorrindo de lado. —Muitas mulheres me procuram depois de anos em um casamento infeliz e sempre alegam que precisavam fazer dar certo primeiro ou, pelo menos, tentar dar certo.
—Foi justamente o que aconteceu comigo, eu tentei de tudo, mas… – Ela começou e voltou a olhar para baixo.
—Lauren, não há motivos para se envergonhar disso. Tem relações que não dão certo e você se separar é algo bom, assim você dará a chance de seu parceiro encontrar uma pessoa que o faça feliz. – Falei sorrindo gentilmente. Tentei fazer meu discurso não parecer algo decorado, pois eu sempre dizia isso a todas as pessoas que se divorciavam e me procuravam. —Mas em primeiro lugar é necessário eu perguntar… Você tem certeza disso? É importante eu deixar claro para você que não terá volta.
—Eu tenho certeza! – Lauren declarou convicta e eu sorri. Por que diabos eu estava sorrindo tanto? Essa mulher parecia muito familiar para mim, até sua voz era reconhecida por meus ouvidos. Será que eu já havia dormido com ela?
—Bom, eu preciso que você me traga alguns papéis para darmos entrada no processo, mas antes farei algumas perguntas, tudo bem? – Perguntei encarando a ficha em minha mão.
—Tudo bem! – Ela falou e se mexeu um pouco na cadeira.
—Há quanto tempo vocês são casados?
—Nove anos! – Lauren falou e eu anotei na ficha.
—Vocês tem filhos?
—Não!
—Ele precisará te pagar uma pensão?
—Não sei, em quais casos isso é necessário? – Ela perguntou com uma expressão confusa.
—Bom, isso acontece quando você para de estudar ou trabalhar para se dedicar ao seu casamento, aos filhos… Você pode não ter desenvolvido uma profissão por conta de seu casamento e como a união de vocês é estável, você pode pedir uma pensão. – Expliquei.
—Ah não, isso não. Eu tenho minha profissão e praticamente sustento a casa.
—Então, seu marido não trabalha?
—Não, ele se dedica a uma banda, mas eles não fazem mais sucesso. Ele nunca trabalhou em nada fixo, sempre arrumou um jeito de ser mandado embora de todos os empregos. – Lauren falou enquanto mexia seus dedos sobre minha mesa.
—Ele está de acordo com esse divórcio Lauren? – Perguntei curiosa.
—Oh, provavelmente não. Ele surtará ao saber que não sustentarei mais suas cervejas. – Ela falou e sorriu sem o menor ânimo.
—Tem possibilidades de ele exigir uma pensão de você? Ele é agressivo? O que te levou a vir até aqui? – Perguntei enquanto anotava tudo que ela me contava.
Lauren respondeu a todas as minhas perguntas sem questionar nada, fiz diversas delas e expliquei tudo o que era realmente necessário para minha cliente trazer ao meu escritório na próxima vez. Para minha felicidade, Lauren disse que providenciaria tudo o mais rápido possível e isso fez meu coração pular dentro do peito. Eu não sabia o motivo, mas queria vê-la novamente. Essa mulher mexeu comigo e mesmo sendo antiético sair com uma de minhas clientes, confesso que ela despertou um desejo de quebrar essa “regra”. Por mais incrível que pareça, Lauren é uma pessoa que tenho sensação de já ter conhecido antes, mas não consigo me recordar de onde. Entreguei a ela um papel com todos os documentos necessários e alguns extras que poderiam nos ajudar, caso seu marido reagisse mal. E não sei a razão por ter feito isso, mas anotei meu celular pessoal para que ela pudesse me ligar quando e se quisesse.
—Obrigada mais uma vez. – Lauren falou enquanto se levantava.
—Imagina, espero que tenha ficado tudo claro. – Falei sorrindo enquanto dava a volta na minha mesa.
—Ficou perfeitamente claro, obrigada! – Lauren tornou me agradecer sorridente. —Eu pago para sua secretária?
—Oh não, não vai ser nada cobrado por essa primeira visita. Quando entrarmos com o pedido de divórcio, ai sim conversaremos sobre isso, tudo bem? – Perguntei sorrindo e abri a porta para minha cliente.
—Tudo bem, até mais senhorita Cabello. – Ela declarou e virou as costas para sair de meu escritório. Encostei na porta após fechá-la e inalei o cheiro de Lauren que ainda estava presente na sala. Meu Deus, o que essa mulher tem?
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