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História EmMUSAS - The Lost Canvas - Não precisa temer


Escrita por: guerrakkya

Notas do Autor


Olá, queridxs leitorxs!
Sim, sim, eu sei que demorei cinco dias para postar, mas peço para que se acostumem, pois será assim de agora em diante, infelizmente.
Queria enfatizar minha alegria por ter vocês acompanhando a fic, seguido escuto bons comentários positivos mais privados sobre ela e só me instigo a escrever mais! Tô preparando uma surpresa pra vocês, algo especial, então me ajudem aqui a continuar no pique, por favor hahaha E vocês, fantasminhas, agradeço muito também porque sei que me acompanham pelo número de exibições que os caps tem em poucos dias - sim, piro demais com isso! :D
Falar só uma coisinha sobre esse cap.: o título é uma abertura para a compreensão de medos não tão evidentes, nas entrelinhas de certos diálogos, que farão diferença mais à frente! Acho que, para alguns, o que virá será bem satisfatório!
E outra coisa, não sei se vocês perceberam, mas em certas partes que envolvem os pensamentos da Terpsícore, há frases em itálico - algumas até contradizem a frase anterior -, prestem atenção nelas que vocês vão perceber algo a mais sobre o que tá rolando com a musa - isso se alguns já não perceberam nos caps. anteriores hahaha
Bom, sem mais palavras, boa leitura!

Capítulo 23 - Não precisa temer


Fanfic / Fanfiction EmMUSAS - The Lost Canvas - Não precisa temer

Capítulo 23

Seus pés não estavam mais tão acostumados a correr por entre as árvores e raízes. Em seu vale, o qual conhecia perfeitamente, podia se esconder e isolar sem ter que correr e desviar como estava fazendo. Os pulmões até pediram para que ela parasse por um instante, apenas para sincronizar a respirar e dar mais resistência na corrida, mas ela não se importou nem um pouco, apenas continuou o trajeto impensado, pulando e contornando as grossas raízes da floresta do Santuário.

Que ironia! Não se surpreenderia se ele estivesse caçando-a naquele momento, pois não era isso que ele gostava de fazer: caçá-la? Ela não era sua presa favorita? Aquele tipo de presa que o predador prefere assustar e bagunçar psicologicamente a paz interna. Justo, era Terpsícore.

Tal pensamento não a assustou, porém.

Se Defteros pretendia caçá-la, pois que fosse! Seria menos um sintoma desse momento de ignoradas entre eles. Por ela, até pararia de correr, mas algo dizia que não estava sendo caçada, e isso era frustrante. Terpsícore chacoalhou a cabeça, reprovando-se. Devia estar feliz por ter se livrado daquele “carinho” todo; ela ainda estava machucada e se lembrava perfeitamente de todos os instantes passados com eles. Mas ela fazia questão de se lembrar deles. Além do mais, a dor de ter que sentir o olhar penetrante do cavaleiro de gêmeos de longe parecia pulsar mais do que qualquer dor que ele tenha proporcionado a ela fisicamente. Dor e prazer, ele disse. Nessa dor que ela sentia, não havia mais prazer.

As pisadas leves de Terpsícore, até então, tiveram sucesso na corrida, mas uma raiz não cooperou com a distração da musa e envolveu seu tornozelo sem querer. Era isso: mais uma queda por ter sido tola. Defteros acertou o tempo todo quando ofendeu sua inteligência, ela quase não a dominava mais depois da intervenção dele em sua vida. Os instintos aflorados apenas a guiaram para o que acharam saudável, mas nada disso era ou parecia prudente. Afinal, por que correu em direção à floresta depois de ser assustada por ele pela décima vez? Ah, sim, porque dessa vez ele falou sério.

- Ah! – a musa arfou assim que sentiu uma mão impedi-la de beijar o chão. Assim que erguida, respirou fundo e abriu os olhos. – Quem é você?

- Yuzuriha, amazona de Grou.

Sem estender a mão, a amazona permaneceu encarando Terpsícore com uma expressão indecifrável. A musa fez o mesmo, mas, em sua expressão, a confusão era evidente. Observou a garota e se deparou com uma vestimenta incomum: uma blusa branca tapada parcialmente por um short alto e um cachecol num tom meio carmesin, uma meia até um pouco depois no joelho – em uma perna só! – num tom meio opaco do roxo e faixas nas panturrilhas e braços. Franziu o cenho diante da última parte da vestimenta, não compreendeu o uso daquelas faixas - que provavelmente machucavam a pele, considerando o sol quente. Os cabelos claros da amazona eram enormes e lisos, presos apenas por uma presilha que os derramavam livremente; era muito bonita e possuía uma aparência delicada para uma amazona. Os olhos num tom mais escuro do verde encaravam a musa e, acima deles, dois pontinhos familiares. Sim, Terps já os tinha visto no cavaleiro de Áries.

- Ei, estou falando com você. – a voz da amazona era suave, porém firme.

- O quê?

- Está bem? Por que estava correndo? – colocou as mãos na cintura e passou a analisar a musa.

- Eu só... Eu meio que... Me assustei, apenas.

A pergunta foi um incômodo para Terps, pois ela acabou descobrindo que não sabia como respondê-la. Estava correndo de que, afinal?

- Você é uma das musas, não é? – Yuzuriha apresentou um tom mais ameno na voz.

- Sim, Musa da Dança, Terpsícore. Muito prazer. – Terps estendeu a mão, que foi pega pela da amazona.

- Prazer. Pretende continuar por aqui ou quer companhia para a volta?

Boa pergunta; Terpsícore não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo em que queria voltar para a área das arenas, não queria encarar o cavaleiro de gêmeos depois da grosseria ouvida; mas ficar sozinha na floresta não era uma opção, pois realmente sentiu medo por um momento.

- Sim, agradeço desde já. – Terpsícore educadamente sorriu. Após uma pequena caminhada, ela observou a agilidade da amazona por entre as árvores e raízes, e uma dúvida surgiu. – Seria muito inconveniente se eu perguntasse o que veio fazer por aqui?

- Não, eu praticamente lhe perguntei isso. – disse a amazona, séria; mas havia algo agradável em sua voz, algo que não oprimia. – Gosto de me aquecer na floresta, há muitos obstáculos.

- Ah, sim, você é uma amazona. – Terps, por um segundo, quase se esqueceu do fato. Yuzuriha era delicada até mesmo agindo por entre a floresta, parecia dançar. Seus movimentos eram leves, porém precisos. Yuzuriha sorriu de canto.

- Com o que você se assustou?

Silêncio. O rosto da musa enrubesceu, mas a amazona estava ocupada demais se desviando para perceber.

- Tudo bem se não quiser falar. – Yuzuriha deu de ombros.

- Na verdade, estou me sentindo um pouco envergonhada por ter me assustado com isso... Devia parar de temer as pessoas. – ela respondeu e suspirou no final, após se abaixar por causa de um grosso galho.

- Alguém lhe assustou, então? – dessa vez, ela olhou para a musa, que assentiu timidamente. – Não devia temer as pessoas mesmo, mas, se teme, porque não busca uma forma de enfrentá-las?

Terps franziu a testa.

- Como assim?

- Busque uma forma de se sentir segura diante de pessoas que lhe assustam. Pare para observar a si mesmo diante desses momentos, é sempre bom para descobrir coisas. – Yuzuriha pulou de uma pedra para uma grossa raiz. – E você é uma Musa, como pode ser tão fraca?

Terps não se sentiu ofendida pela amazona, apesar de que ser fraca não fosse algo bom, mas sentiu que, pela primeira vez, alguém estava lhe dizendo a verdade sem se importar com as formalidades para com uma musa. Yuzuriha tinha um jeito tão espontâneo e descontraído que, em minutos de conversa, já amenizou a sensação ruim que se instalou após entrar na floresta.

- Eu não sei... – de repente, as palavras da musa saíram mais naturalmente. – Não saberia o que buscar, eu acho.

- Sabe... Athena sabe lutar. Acredito que ela não teme as pessoas, talvez alguns deuses, mas ela aprendeu a lutar não apenas para se proteger. Se formos considerar seu poder divino em relação a meros humanos que somos, ela nem precisaria aprender a lutar, mas aprendeu e buscou uma forma de proteger algo a mais, de se sentir segura perante tudo que importa para ela. – a amazona respirou fundo, recuperando o fôlego. – Pode não ser a mesma situação, mas é o mesmo princípio. Observe-se e ache algo que lhe deixa segura, aprofunde e viva sem medo.

- Eu não sabia que Athena lutava. – Terps estava surpresa com as palavras, que pareciam ter um peso maior ainda por saírem da boca de uma amazona tão firme. – Eu... Vivo sem medo, mas no meu vale, onde nada me assusta.

- Então que bom que está aqui no Santuário, onde não pode fugir do seu medo.

As duas seguiram em silêncio, Terpsícore o pegou para pensar em tais palavras – o que lhe rendeu alguns tropeços, mas nada grave – e para aproveitar o ar sereno que preenchia a floresta, que já não a assustava mais. Ainda bem que aceitou a companhia da amazona, pois não saberia como lidar com a situação seguinte.

Assim que as duas saíram do local, deram de cara com um dos pequenos alojamentos que ficavam próximos da arena das amazonas. Teria sido tudo bem se fosse apenas essa descoberta que Terpsícore fizera, mas, passando para a parte de trás do alojamento, Defteros caminhava, sem camisa e completamente suado, com a mãos direita nas costas de uma amazona em igual estado. Como se não pudesse piorar, a amazona que o acompanhava o arranhou nas costas com a mão esquerda e teve o cabelo puxado por ele em resposta. Uma tensão sexual era evidente entre eles, Terpsícore pôde ver de longe.

Yuzuriha percebeu o estado incrédulo e horrorizado da musa.

- Acho melhor aprofundar sua força física e espiritual para enfrentar esse medo, Terpsícore. – a amazona colocou a mão no ombro da musa.

Terps não disse nada, apenas enrubesceu ainda mais e assentiu para a garota, que, nesse momento, não tinha mais dúvidas sobre o que assustara a musa anteriormente.

 ~

Estava pronto e tinha uma cor levemente avermelhada. O líquido tinha um aspecto convidativo dentro do pequeno vidrinho onde estava; não cheirava a morte, pelo contrário. Assim como a rosa do cavaleiro de peixes, o elixir de Antúrio possuía uma beleza perigosa, mas Mel quis mexer um pouquinho mais aquele vidrinho.

- Mel, beba logo isso e vá deitar. – Redka estava suando.

- Colocou mais uma dose aqui dentro? – perguntou a musa, sem tirar os olhos do vidrinho que girava.

- Sim.

- Nem parece de tão clarinho que está! – ela riu, a florista bufou.

Redka não estava de bom humor, era perceptível, mas algo maior parecia incomodá-la. Depois da décima franzida de testa que a ruiva deu, Mel a olhou com questionamento.

- Afinal, o que você tem?

- Medo, Mel. Tenho medo, essa é a verdade. Essa sua obcessão por beber veneno cada vez mais está me deixando tensa, eu sou a culpada se algo acontecer a você! Sinto-me uma péssima pessoa, não sei se meu apoio é saudável e, sinceramente, às vezes dá vontade de voltar no tempo para desfazer essa decisão de mexer com elixir. – desabafou, eufórica.

Mel não podia julgá-la, sabia que o cargo daquele segredo era tão pesado para a amiga quanto para ela, mas não podia desistir. Não agora. Talvez devesse tomar mais cuidado, de fato; o problema, no entanto, era desacelerar o processo interno de seu corpo em relação ao veneno. Ela não arriscaria reverter o efeito caso voltasse a tomar doses menores. Não mesmo.

- Red. – Mel pegou as mãos da amiga, que se afastaram assim que sentiram o toque. Definitivamente, a musa estava envenenada. – Desculpe-me. – recolheu as mãos junto ao peito. – Olhe nos meus olhos, serei muito sincera agora.

- Você sempre é...

- Sim, eu sou, mas minha sinceridade agora não é apenas verdadeira, é totalmente feliz. – disse, enquanto abria o sorriso. Redka se manteve como observadora e atenta às palavras. – Eu sei que está sendo difícil para você, eu ficaria do mesmo jeito se lhe visse inserindo veneno no corpo... Mas você não imagina como isso foi a solução perfeita. – os olhos de Mel mostraram sinais de lágrimas, denunciando toda a sua emoção. – Foi difícil no início, mas eu consegui mostrar para Albafica que nós somos possíveis, Redka. Consegui fazê-lo perceber que não precisa mais temer meu toque e, Red, você tinha que ver a felicidade estampada no rosto dele! – parou por uns segundos e suspirou apaixonadamente. As lágrimas iniciaram o deslize pelas bochechas. – Acho que nunca vi um sorriso tão formidável... E por esse sorriso eu beberia elixir da planta mais venenosa, apenas para ver de perto e admirar a pessoa que eu encontrei. E graças a você, eu pude comprovar que somos possíveis. Eh... – inspirou fundo procurando recuperar o estado emocional, mas acabou rindo. – Eu não sabia o que significava quando as pessoas falavam que, às vezes, temos que nos sacrificar pelo amor, agora entendo. De que adianta possuir esse corpo sem veneno se não posso chegar perto do corpo que me cura de todos os sentimentos ruins?

Red nem reparou que chorava também, ou talvez tenha reparado e ignorado, só tinha olhos para a amiga que desabafava a felicidade - a qual ela considerava sua também. Ver Mel feliz não tinha preço. Ergueu a mão, desfez suavemente os caminhos formados pelas lágrimas, na bochecha da musa, com o polegar, e se permitiu sorrir - após tirar a mão, que levou um rápido choque.

- Eu admiro você, Mel. Não sei se teria coragem.

- Acho que, do jeito que estou, não há opção. – devolveu o sorriso e fungou o nariz.

- Posso saber como você provou a ele que são possíveis? Apenas o tocou? – perguntou a ruiva, querendo descontrair um pouco.

- Não apenas com as mãos, mas com os lábios. Eu o beijei, Red. Eu o beijei! – o sorriso cresceu e o de Red, consequentemente, fez o mesmo.

- Aiii! – exclamou, batendo palminhas em homenagem à revelação. – Isso é quase inacreditável até para mim! Mel você está tão apaixonada...

- E você também! Pensa que não vejo como você fica quando o cavaleiro de aquário passa por aqui? Não quero que Clio saiba mais do que eu... – murmurou e fez um bico, desencadeando uma risada na florista.

- Você mudou, sabia? Está mais descontraída e comunicativa.

- Em algum momento, eu teria que me revoltar, Red. O destino já foi ruim demais por exigir um preço tão alto de Albafica, e depois que o colocou no meu caminho... Hunf! Acho bom ele parar de me sacanear, pois vou desafiá-lo até o fim. Sinto como se estivesse mais inspirada do que inspiradora, e essa sensação maravilhosa não será levada tão facilmente.

Mel estava evidentemente determinada, preferia deixar sua meiguice de lado se fosse para desafiar realmente o destino, pois ela ainda não admitia a crueldade por trás disso tudo. Foi se apaixonar logo pelo cavaleiro que não pode se aproximar de ninguém – uma história de amor trágica, claro, porque tudo, para ela, tinha que envolver sua representação. Dessa vez, ela não aceitaria; sentia algo absurdamente forte dentro de si que incentivava a desmedida, então assim seria.

~

 - Dispensados. – a palavra final de El Cid não poderia ter sido mais bem recebida pelos aspirantes depois de mais um treino puxado, no qual nenhum deslize era perdoado, e sim usado como base para uma lição severa e aprofundada sobre erros, principalmente se esses envolvessem distração por parte deles.

O capricorniano, por vezes, não sabia como encarar a reação dos aspirantes diante de suas condições, às vezes aplicava pequenos testes individuais em casos mais necessários, mas nunca desperdiçava as falhas que detectava. Normal alguns não compreenderem sua cisma, até achava saudável vê-los expressarem certas indignações, só servia para enfatizar o fato de que o inimigo não esperaria um ataque de frustração acabar para atacá-los – e quando isso era dito, eles logo se mostravam mansos e compreensíveis. Tais observações, geralmente, desencadeavam um tímido sorriso de canto do cavaleiro; era pura satisfação.

El Cid foi tirado dos devaneios assim que ouviu alguém pigarrear.

- Vai me falar sobre esse jantar ou terei que adivinhar as informações? – Clio perguntou, aparecendo suavemente atrás dele. Percebeu um leve rubor nas bochechas do capricorniano.

- Eh... Sobre aquilo, perdoe-me, fui precipitado.

- Em que sentido? – a musa franziu a testa.

- Percebi que Kárdia estava lhe deixando constrangida. – quem estava constrangido agora era ele, que denunciou isso ao passar a mão pelo cabelo, nervoso. Mal conseguia olhar para ela, não foi assim que planejou o convite.

- Entendo. Obrigada por intervir, realmente achei incômodo. – ela se silenciou por alguns instantes, esperando alguma resposta que não veio. – Não há problema se aquela ideia foi apenas uma ajuda, El Cid, mas seria bom que esclarecesse.

Agora sim ela conseguiu fazê-lo corar fervorosamente. Definitivamente, não foi assim que pensou em chamá-la para um jantar, mas, pensamento bem, se já tinha iniciado o convite de alguma forma, era melhor realizá-lo por completo. Antes, o cavaleiro engoliu seco.

- Na verdade eu... Pretendia convidá-la antes, mas... Acabei – limpou a garganta em busca de tempo. – me focando muito no treino e me esqueci de fazê-lo. De qualquer forma, gostaria de convidá-la para jantar comigo. – travou, simplesmente travou, não sabia mais o que dizer, embora tivesse todo o convite em mente.

Clio segurou um riso ao ver como o cavaleiro estava desconcentrado; ela podia ser solitária, mas compreendia certos sinais do corpo.

- Eu aceito, só preciso saber onde e quando.

- Ah, sim. Acredito que se eu lhe disser, não saberá onde fica, portanto pretendo lhe buscar. Esteja pronta às oito. – respondeu seco, mas um seco diferente, sem um aparente desgosto na voz.

Clio sorriu estranhamente e franziu a testa. Para ela, El Cid, às vezes, passava a impressão de que tudo em sua volta o incomodava.

- Perfeitamente, cavaleiro. Agradeço, desde já, pelo convite. – ofereceu um sorriso, que pareceu desconcentrá-lo ainda mais, e saiu graciosamente, sendo acompanhada pelo olhar do cavaleiro.

“Perfeitamente, cavaleiro”. Que tipo de resposta foi essa?, ele pensou. Questionou-se se não foi rude demais ao pedir, não, ordenar a presença dela em tal horário. E se ela, no fundo, não quisesse ir e tivesse aceitado apenas por seu tom hostil? Pouco provável, Clio não parecia ser o tipo de mulher que aceitava calada – e mostrou muito bem isso quando foi tirar satisfações com o cavaleiro de gêmeos. Ah, as bocas vivas do Santuário...

- Ah, Clio! – gritou El Cid, fazendo a musa se virar de imediato. – Você gosta de vinhos, certo? – ela assentiu e ele acenou, sorrindo, com a cabeça.

Ótimo, tinha o lugar perfeito em mente e sabia que não apenas Clio iria gostar do lugar, mas o lugar iria gostar dela.

~

Calíope iniciou a subida das doze casas, seu corpo completamente molhado, protegido de olhares apenas com o vestido colado no corpo, proporcionou uma sensação refrescante ao sentir o vento indo ao seu encontro. Há tempos não sentia tal sensação, apenas em seu vale a sentia com frequência - quase considerava essa a melhor parte do banho de cachoeira. Ela se aliviou bastante após a saída de Asmita, não que a presença dele fosse desagradável – pelo contrário -, mas um tempo sozinha fazia parte de seu processo de meditação, portanto era inevitável, para ela, agir daquela maneira de vez em quando. Talvez não fosse má ideia passar na sexta casa para esclarecer o fato.

Devido ao sol quente, ela chegou na Casa de Virgem quase seca, exceto por seus cabelos desalinhados, porém charmosos, e menos volumosos. Asmita sentiu o cheiro doce da água imediatamente e deixou um sorriso de canto sair, ela estava ali em sua casa, da mesma forma que esteve na cachoeira. Exceto, talvez, por estar vestida – fato lembrado que fez o virginiano franzir levemente o cenho. Preferiu permanecer em seu altar, sem ir atrás, para ver se ela pretendia ficar por ali ou apenas passar livremente. Não soube dizer se ficou surpreso ou não ao sentir o aroma da musa cada vez mais próximo.

Então ela ficaria? Asmita sorriu novamente, soube que ela o observava assim que adentrou o Salão Principal da casa.

- Se eu lhe convidar novamente para o chá...

- Eu aceitarei. – ela respondeu, precisa.

~

Depois do broto de dúvidas que surgiu na mente de Tália, ela optou por se deixar aproximar do cavaleiro de câncer – não que não estivesse fazendo isso antes, mas agora teria realmente intenções. Decidiu que seria melhor acompanhá-lo de perto para entender essa nova perspectiva, que ainda era um mistério, e analisar se encaixava com seus valores. Claro, não se entregaria abertamente para mudanças, ela não era assim, gostava de fluxos e acasos, mesmo quando lhe pregavam peças. De cetra forma, Manigold era uma peça em sua vida, pois a intrigava como ninguém e acompanhava seu humor sem hesitar; geralmente, era tratada da forma oposta por pessoas mais... Convencionais. E ele estava longe de ser isso, assim como ela.

Ela estava novamente naquele local onde o pegara, horas antes, falando bobagens com o cavaleiro de Leão. Francamente, era desagradável pensar nisso, mas faria um esforço; afinal, ele parecia fazer também. Não deixou de notar as várias vezes que o canceriano virou o rosto em sua direção, exibindo um sorriso espontâneo, como se gostasse que ela estivesse o assistindo treinar os aspirantes. Viu, ao longe, Clio se afastar da arena e, por um momento, pensou em falar com ela, porém a tensão estabelecida falou mais forte. Tália simplesmente odiava essa tensão, não havia nada de bonito nela. Pouco tempo depois, Manigold se aproximou, após informar o término do treino para os futuros cavaleiros.

- E então, cavaleiro, quer dar uma volta? Talvez paquerar traseiros alheios? Eu topo! – Tália perguntou, brincando. Mas claro que havia uma verdade por trás da intenção. Manigold não pareceu gostar e revirou os olhos.

- Não, já olhei demais por hoje – que bobagem, ele nunca se cansava de olhá-los. -, mas você poderia dar uma volta aqui na minha frente. – retrucou com sarcasmo, apesar de ter verdade em sua intenção também.

Tália gostou de vê-lo entrando em seu jogo, e acabou lhe oferecendo um sorriso zombeteiro.

- Você não é privilegiado só porque teve meu primeiro beijo. - disse ela, meio corada. Entendeu a intenção dele no pedido.

- Só não sou porque você não deixa.

- Claro, tenho amor pelas minhas virtudes. – gabou-se, encostando a mão no peito. - E por que eu deixaria quando você se ocupa com esse privilégio nos outros? Aliás, nas outras.

- Hmm, não tá sentindo? – olhou o ar com a testa franzida, como se focasse em algo. Tália levantou uma sobrancelha.

- Sentindo o quê?

- O cheiro de ciúme que se instaurou aqui de repente. – ele se aproximou lentamente ao vê-la avoada e de braços cruzados, acabou segurando uma risada.

- De você? Porque, me poupe, também tenho amor pela minha paz interna. - ela riu e ele também.

- Pois não é o que parece... – num rápido movimento, depositou um beijo na têmpora dela, o que a fez se arrepiar. - Acha que eu não percebo os efeitos, musinha? – ah, isso era satisfatório demais para ele.

- Quando vai deixar de ser convencido? – perguntou ela, num ar de pouca importância. Manigold mordeu o lábio e passou os braços em volta da cintura da musa, que continuava com os seus cruzados na altura do peito.

- É inevitável, Tália, aceite.

- Assim como é inevitável tirar o privilégio de você. - a afirmação teve um quê de pergunta.

- Não faz isso comigo... – fez um bico, quase arrancando uma risada dela.

- Eu faço o que quiser, você já está na palma da minha mão! - ela brincou, mas ele se incomodou.

- Claro que não! - e a soltou. - Quem te contou essa piada absurda?

- Acha que eu não percebo os efeitos, sirizinho? – Tália tinha disso: usava as frases dos outros contra eles mesmos e, geralmente, apresentava um sorriso sarcástico em seguida.

Manigold a olhou incrédulo, mas ela não poupou:

- Fale-me sobre não conseguir ficar longe de mim. – abriu um sorriso convencido.

- HAHAHAH E por acaso eu vim aqui lhe ver treinar os aspirantes, musinha?

- São poucos os entretenimentos por aqui, cavaleiro. Temos que nos contentar com o que há, mesmo que a qualidade diminua com o tempo. E lembro que você quis que eu assistisse seu treino, não? – não resistiu em lançar um olhar provocante para ele.

- Continue falando assim e eu mostrarei minha qualidade, ao mesmo tempo em que quebrarei essa sua barreira do privilégio. - o tom sexy a fez estremecer.

- Você não faz sentido, cavaleiro. Precisa de alguém te provocando pra iniciar as ações?

- É simples: eu sou complicado.

- Não é como se eu estivesse precisando de complicações atualmente. - ela disse. Os dois viam o rumo da conversa, não estavam prontos ainda pra isso. – Apenas vamos logo, estou a fim de ler. A não ser que vá subir mais tarde...

- Você é estranha, musinha. – afirmou ele e, em seguida, acompanhou a musa.

Sim, Tália sabia que era estranha, sempre soube e nunca se incomodou por ouvir isso. Na maioria das vezes, encarava essa frase como algo bom, significava que não colaborava diretamente com o padrão monótono e superficial da maioria das pessoas. Obviamente, seu pensamento era avançado demais para que pudesse tentar introduzi-lo para outras pessoas, então preferia se manter tranquila, afinal, era um valor dela. Mas, estranhamente, ela não se sentiu tranquila ao ouvir tais palavras proferidas por ele.


Notas Finais


Gente, uma pergunta: se eu for dividir o que falta para finalizar esse dia, restarão dois capítulos ainda. Vocês preferem que eu poste só um, beeem longo e daqui a uma semana, ou dois mais curtos daqui a uns 4 dias um e depois mais 4 o outro?

Beijos, espero que gostem! Vem um jantar por aí... Ou dois :x


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