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História EmMUSAS - The Lost Canvas - Noite de rejeição - II


Escrita por: guerrakkya

Notas do Autor


LEIAM ISTO POR FAVOR

Olá, galera, tudo bem? Como vocês viram, demorei de novo e não vou mais dizer que vou postar logo o próximo, mesmo que ele esteja 98% escrito. Só faltava uma parte para este capítulo, mas ela demorou para sair porque eu não estava gostando. Peço para que vocês LEIAM AS NOTAS FINAIS. Enfim, me desculpem pelo atraso de novo, mas minha vida tá bem louca, cheia de coisas, e eu to mais lendo livros do que escrevendo coisas. Espero que entendam.

UM AVISO: Gente, não levem a mal o que direi agora, tentem compreender. Tô sabendo que há leitorxs que já sabem meu nome, meu sobrenome e até minha cara. Por conta disso, vim pedir uma coisa aos que sabem: NÃO divulguem. Peço isso por três motivos: 1) não cabe a vocês revelarem algo sobre mim, cabe só a mim; 2) no espaço do spirit, não quero ser a Fulana, quero ser a Guerrakia e ponto; 3) se eu vir meu nome aparecendo nos comentários depois deste aviso ou ficar sabendo que há pessoas espalhando quem eu sou por aí, não vou nem atrás de saber quem é: excluo meu perfil, ou seja, excluo a fic EmMusas - daqui e do Nyah. Não estou brincando. Tomem cuidado, por favor, porque eu não desejo ser conhecida.

Se você quer ser meu amigo ou amiga, basta falar comigo, eu sempre respondo tanto comentários quanto mensagens. Quer me ter no Face? Criei um perfil especialmente pra isso, não me adiciona no meu perfil de Fulana. Estou dizendo tudo isso porque se mostrou necessário.

No mais, boa leitura, tava com saudade de vocês <3

Capítulo 68 - Noite de rejeição - II


Capítulo 68 - Noite de rejeição - II

O cheiro de madeira misturado ao da cerveja dourada de mates especiais e lúpulos florais espalhava-se por todos os cantos da Toca do Desafinado, incentivando os que chegavam a pedir imediatamente uma. Não era noite de vinhos, embora alguns fregueses os preferissem. Era noite de algo refrescante, em especial para os corpos suados e vibrantes estimulados pelo som das canções. Os músicos, como sempre animados, deixavam mais claro a cada minuto que seu repertório havia sido pensado com dedicação aos gostos dos presentes - uma postura que colocava a Toca como um espaço altamente recomendado na Vila de Rodório. Música boa era garantida.

A verdade sobre as apresentações musicais era tão grande que Euterpe fazia questão de demonstrar sua concordância, permitindo que o corpo fluísse numa nuance dançante. Havia arrastado Terpsícore consigo a fim de distraí-la das cicatrizes - afinal, a irmã teria de aprender a conviver com elas algum dia. Queria ter puxado Clio e Erato, mas a amargura de ambas era tão gritante que preferiu deixá-las em suas muralhas até que o vinho exercesse a função de libertá-las. O vinho era quase sempre um estímulo confiável, na mais humilde opinião de Euterpe. Enquanto isso, ela bebia sem escrúpulos, com uma garrafa própria em mãos, feliz por não dever nada a ninguém. Dava seus goles da boca da garrafa e não se importava com os olhares alheios e com o fato de isso ser inconveniente para uma moça. Sua maior preocupação naquele instante era a quem provocar: o tocador de rabeca ou o flautista. E ambos mantinham um olhar atento às suas curvas.

Infelizmente, Euterpe não estava apenas provocando quem queria. Do outro lado da mesa das musas, ao lado de onde a musa dançava, Kárdia dispensava uma concubina pelo único motivo de não conseguir tirar os olhos de Euterpe. Seus olhos, contudo, não eram amigáveis, mas densamente críticos. Analisava cada pequeno gesto e consequência que acontecia entre ela e os músicos que a observavam. Por alguma razão, o flautista o incomodava mais do que o outro.

Kárdia estava morrendo de ciúmes e se odiando por isso. Estava, sobretudo, chateado por não receber atenção dela. Chateado por ela ter aparentado infelicidade ao vê-lo, como se sua presença fosse repugnante. Chateado também por não ser o foco dos olhos dela, embora tivesse deixado bastante evidente o lugar onde estava sentado, para caso ela decidisse lhe acompanhar. Aquela estava sendo uma noite de merda. Seus dedos se fecharam até suas mãos virarem punhos cerrados, cerrados assim como os dentes. Era uma raiva avassaladora por não controlar o que via. Queria estar acompanhado, o único problema era que esse desejo, irritantemente, se limitava à uma única pessoa.

Um rápido murmurinho desviou a atenção de Kárdia até a porta, por onde duas figuras imponentes acabavam de passar. Defteros e Régulus. Kárdia quase exclamou de alegria. Finalmente uma distração. No entanto, ambos pareciam sérios demais.

Kárdia os viu se aproximar do balcão onde estava.

- Não resistiram, hein?

Defteros não respondeu, apenas apoiou um dos cotovelos no balcão enquanto procurava alguém com os olhos.

- Não sei como me aproximar - Régulus disse, encarando a mesa das musas de longe.

- Se fosse qualquer uma das outras, eu diria para você chegar e pronto. Mas você se envolve logo com a mais bipolar, que com certeza vai te atacar - Kárdia respondeu e deu um gole despreocupado na caneca.

- Quão pior uma musa raivosa pode ser de um espectro de Hades? - O leonino suspirou.

- Bastante, dependendo do nível de maturidade.

- Ah, você entende tanto sobre isso… - O mais novo ironizou.

- Me respeita, garoto - Kárdia retrucou.

- Você acha que ela parece incomodada?

- Não - Kárdia disse. Porém, ao ver esperança nos olhos do leonino, acrescentou maldosamente: - Ela parece bem pior.

Régulus bufou. Defteros, logo ao lado, virou-se para ele com olhos sombrios:

- Apenas vá informá-la de sua tarefa e volte pra cá. Não ficaremos por muito tempo.

O cavaleiro de leão assentiu, um tanto inconformado, embora reconhecesse a gentileza do colega ao permitir que fossem até a Toca para esclarecer sua falta de compromisso à Erato. Portanto, sentia-se brevemente agradecido.

Distante, Defteros acompanhava Régulus com os olhos, até pousá-los em Terpsícore, que dançava em volta da mesa, saltitante e alegre. O vestido longo era novidade para o geminiano, considerando que sabia o quanto a musa desfrutava de vestidos curtos. E havia um xale - dispensável, em sua opinião - cobrindo os ombros dela. Tapada demais, algo com que ele não estava acostumado. De repente, fez sentido. Ela estava escondendo as cicatrizes. Ridícula.

A maioria dos olhares ali presentes admirava a musa de cabelos pretos que dançava ao lado dela, porém a quantidade mais do que suficiente de admiradores de Terpsícore deixava Defteros furioso. Ele reconhecia a insensatez da própria raiva e atribuía a culpa ao destino que colocara aquela musa idiota em sua vida, apenas para embaralhar seus princípios e menosprezar seu autocontrole. Lá no fundo, sentia-se  satisfeito por ela estar bem o suficiente para continuar dançando após o acidente. Queria ter tido a oportunidade de ajudá-la, mesmo que não soubesse como, mas foi rudemente rejeitado. Era uma batalha enorme que ele não desejava enfrentar: deixá-la em paz para o bem de ambos.

 

A música rumou para uma melodia composta apenas por instrumentos de corda e percussão. Uma forma de dar espaço para alguns músicos beberem água - ou algo qualquer alcoolizado que incentivasse os ânimos - e petiscarem e a música não parar. Na mesa das musas, a taça de vinho de Clio permaneceu cheia, enquanto a de Erato se esvaziou num instante. E quando a mais nova pousou a taça na mesa, deparou-se com o rosto inseguro de Régulus. Erato não soube bem como reagir, portanto permaneceu inexpressiva, buscando referência. Estava feliz, mas também irritada. Ou irritada e de repente feliz. Não soube definir. Encarou-o silenciosamente, recebendo um sorriso torto de volta.

Régulus coçou a nuca e se ajeitou no banco curvado de madeira. A armadura era um pouco incômoda.

- Perdoe meu atraso, senhorita - ele arriscou. - Eu juro que me esqueci dessa ronda maldita.

Erato o analisou - tempo suficiente para causar maiores desconfortos no cavaleiro.

- Eu até perdoo. Mas preciso de mais vinho e não vou pagar por ele.

- Sim, senhorita.

- E pare de me chamar de senhorita.

- Sim… Erato.

- Bem melhor. Me diga - Erato se aproximou sinuosamente dele, imitando os trejeitos de Euterpe, e, perto o bastante, encarou-o com os olhos carmins -, você viu algo interessante nessa ronda?

- Mal a comecei… - ele respondeu, fitando a boca delicada dela, pensando nas melhores maneiras de beijá-la.

- E… - Erato corou ao perceber para onde ele olhava, e sua postura de mulher madura se desfez rapidamente. - Pare de me olhar assim! - Ela exclamou. E logo baixou a voz: - Pelo menos não ao lado de Clio.

Régulus riu, feliz, e encostou os dedos da mão esquerda discretamente nos de Erato. Uma carícia delicada de dedos começou, enquanto ele fazia questão de observar os detalhes do rosto cheio de sardas da jovem musa.

- É um pouco inevitável - ele admitiu. Estava apaixonado, sabia disso. E também era algo inevitável.

Erato ficou em silêncio, o que fez com que o leonino se perguntasse qual seria a resposta caso ele admitisse os sentimentos. Talvez a assustasse, mas havia grande possibilidade de deixá-la feliz. Ela era musa da poesia romântica, afinal, não? No entanto, Régulus não tinha certeza sobre a influência dos títulos, então era difícil deduzir algo a partir deles. E tampouco seria fácil definir Erato a partir da personalidade inconstante dela. Era, então, mais seguro permanecer na zona de conforto e não mencionar sentimentos.

- Me conte o que viu pela ronda! - Erato pediu animada, levantando o braço para chamar um serviçal da taverna.


 

Para Kárdia, estar ao lado de Defteros e estar sozinho era basicamente a mesma situação. O geminiano mantinha uma muralha entre os dois, permanecendo apenas parado, e Kárdia não fazia questão de quebrá-la. Ele simplesmente não teria assunto para debater com o colega. Pudera! Não conseguia pensar em outra coisa além de Euterpe sentada em uma mesa ao lado de uma bela moça. Ao contrário da musa, a moça tinha os cabelos cacheados e loiros, num tom puxado para um amarelo queimado, e os ombros eram um pouco curvados, embora o restante do corpo fosse bastante empinado - no que interessava ao escorpiano.

 

Kárdia observou um homem se aproximar da mesa e se sentar ao lado da moça loira, porém os olhos dele não fitavam outra coisa que não fosse a musa. E ela parecia gostar disso. Kárdia riu. Euterpe flertando com um homem acompanhado, que belo caráter. Claro que ele mesmo não tinha o direito de julgá-la, porém estava magoado demais para ser ético. Euterpe perderia essa, com certeza. Entretanto, não deixou de notar que não apenas o homem observava a musa com olhos maliciosos, mas também sua acompanhante.

Uma teoria bastante indecente se formou na mente de Kardia. Não era possível. Talvez não fosse provável. Afinal, era possível até demais, considerando quem Euterpe era, mas ele simplesmente se recusou a acreditar.

Como se o tempo fosse parar, Kárdia apressou passos até a mesa onde Clio, Erato e Régulus esvaziavam uma garrafa de vinho, e se sentou ao lado da primeira. Clio se espantou com a repentina presença.

- Preciso que seja franca comigo - Kárdia se adiantou, olhando-a com olhos urgentes.

- Mas é claro. - Clio endireitou o corpo para lhe dar total atenção, deixando Erato e Régulus mais à vontade.

- Por que ela é assim? - Ele bufou, descontente. Apoiou os cotovelos na mesa e a testa nas mãos.

Clio não precisou perguntar de quem ele estava falando, mas pensou bem antes de responder:

- Não sei por que ela é assim. Para falar a verdade, ela é a irmã que mais me intriga em seu jeito de ser. Mas o que sei é que ela não finge ser quem é, o que considero um ponto positivo dentre suas qualidades, embora eu reprove muitas de suas ações. - Clio bebericou o vinho e pousou a taça na mesa, de forma quase erudita. 

Kárdia não reparou nos gestos, seus olhos estavam ocupados demais com Euterpe, mas sentiu que a resposta de Clio respondeu absolutamente nada.

- Clio - ele recomeçou, um tanto irritado -, vou tentar de novo: por que ela é tão diferente? Como é possível que ela não entenda como um relacionamento funciona?

- Bom, acredito que para se discutir um relacionamento é preciso estar em um.

- O que quer dizer com isso?

- Que eu não acho que vocês estejam num relacionamento. É, sobretudo, pouco provável que Euterpe inicie um - Clio disse, normalmente. Assim que viu incredulidade na expressão de Kárdia, decidiu acrescentar, sentindo-se um tanto culpada: - Mas é uma opinião particular.

- O quê?! Ah, não me venha com essa! - Kárdia exclamou, inconformado. - Não é possível que Euterpe seja besta a ponto de não entender o que está acontecendo aqui!

- De fato, não é provável que ela seja besta nessa questão - Clio disse, com calma. Não quis dizer, mas em sua mente, era evidente que quem estava desentendido sobre o caso era o próprio cavaleiro. Achou melhor não ser tão franca.

- Argh! - Ele bateu o punho na mesa, fazendo as taças tremerem. - Desculpe-me. Mas o que significa estar numa relação para vocês?

Clio abriu a boca para responder, mas nada saiu dela. Por um instante, aquela pareceu a pergunta ideal para fazer a si mesma. Queria devolver a indagação para Kárdia. Não, para El Cid. Talvez precisasse entender o que o havia motivado a agir diferente. E talvez isso fizesse parte do conceito de relação que o cavaleiro de capricórnio tinha. Talvez, Clio tivesse estragado uma chance maior de aproximação. De repente, sentiu-se mal.

- Clio?

- Kárdia, vou lhe dar um conselho: não espere que Euterpe compreenda as coisas da mesma maneira que você. Digamos que - Clio olhou para Euterpe e, internamente, a admirou pela firmeza de suas decisões - ela é uma musa à frente de seu tempo.

- Acho que não quero entender isso - ele retrucou, amargurado. Na tentativa de mudar de assunto, perguntou: - Onde está El Cid, afinal? Não é possível que até mesmo Régulus e Defteros, que estão de ronda, estejam aqui e ele não!

Clio praguejou baixinho. Gostava da companhia de Kárdia, mas suas palavras haviam acabado de deixá-la ainda inquieta.

 

Na pequena praça, em frente à Toca, El Cid observava o céu, enquanto caminhava de um lado para o outro, a passos largos. Estava frustrado demais para entrar na taverna e impaciente o bastante para encarar Clio. Sabia que, no fundo, a frustração havia começado havia tempo. A falta de sexo se tornava cada vez mais insuportável e mal entendia o porquê de insistir em esperar que ela se sentisse pronta, podendo se aliviar com moças menos exigentes e mais experientes. Gostava da musa, mais do que queria, mas sentiu o orgulho e a masculinidade serem feridos ao ser afastado do beijo quente de horas passadas. Nunca havia aguardado tanto uma mulher, ou se dedicado a seguir seu tempo, sem implicar com investidas maiores. Ao tentar com ela, foi afastado.

El Cid praguejou alto. Era como sentir um desejo, alimentá-lo e não ter oportunidade de sequer provocar. E era, acima de tudo, frustrante.

- Oh, mas que inusitado. - Uma voz fina e morna chamou atenção do cavaleiro.

Quando El Cid se virou para ver, deparou-se com uma bela moça de cabelos lisos e escuros que se desciam à altura dos seios - aparentemente pequenos. Elena. Um rosto que ele conhecia. El Cid não abriu um sorriso, mas foi cordial:

- Que surpresa revigorante.

- Lhe agrada? - Elena se aproximou um tanto ansiosa e parou na frente dele, logo abaixo de uma das lamparinas da praça. Observou o porte atraente do homem e sorriu ambiguamente.

- Sim - ele se limitou a responder, analisando-a. Podia ver o colo delicado e bronzeado dela pelo decote um tanto aberto. Os seios não eram grandes, mas poderiam caber confortavelmente em suas mãos largas.

El Cid tentou se reprovar pelos próprios pensamentos, mas não conseguiu. Não podia negar que Elena era excitante. Ou talvez fosse sua enorme vontade de ir para a cama com uma mulher. Sua prioridade podia ser Clio, porém estava cansado de esperar. Sequer sabia por que o estava fazendo, considerando que não estavam selados num contrato matrimonial. Não era como se estivesse sendo infiel.

- Não te vejo há tanto tempo, mas sempre se espalham as fofocas a seu respeito - Elena disse, soando entretida.

- Fofocas?

- Bem, estou brincando! Embora Cléo possa ter dito algo por aí… Ela deu a entender que você estava amarrado. - A moça fez biquinho, como se sentisse dó da informação. El Cid quase sorriu com o canto da boca. Quase.

- Não vou nem perguntar o que mais ela pode ter dito. Mas vou lhe dar um conselho: desconfie. - Ele virou o rosto para olhar qualquer outro ponto do espaço. Pensava que as mulheres geralmente se sentiam excitadas quando os homens lhe davam atenção e depois a retiravam. E estava achando o flerte bastante agradável.

- Não faça isso comigo, El Cid. Tive de me certificar de que estava bonita o bastante para atrair sua atenção.

El Cid virou-se para ela novamente e a olhou dos pés à cabeça.

- Quem quer que tenha lhe aprovado possui um bom gosto.

- Existem diferentes tipos de gostos, e alguns só são conhecidos quando eu deixo - Elena sussurrou, erguendo-se pela ponta dos pés e aproximando a boca do ouvido dele. Quando terminou, deu alguns passos para trás e acrescentou: - Caso esteja com humor para dar uma caminhada, estarei perto do Poço Sem Fundo… Você sabe, caso esteja com vontade de caminhar

Poço Sem Fundo só podia ser o bar próximo ao restaurante de Dora.

El Cid sentiu a área de baixo do corpo formigar. O indício de excitação. Engoliu seco ao ver Elena ir embora, estranhando o efeito imediato. Era um tanto vergonhoso que estivesse exigindo tão pouco para ficar duro. Não que a moça fosse simples, mas o flerte fora rápido demais. Ficou curioso com ela, não a havia conhecido entre os lençóis ainda.

- El Cid?

Ele se virou. Era a voz de Clio.

- Você realmente não vai entrar?

- Não estou com vontade. - Ele cruzou os braços na altura do peito.

- Então por que está aqui? - Clio se aproximou, menos calma do que antes. - Por que aceitou vir?

- É de minha responsabili-

- Não diga inverdades num momento como este - Clio disse, em tom cortante. - Quero entender o motivo de você estar diferente.

- Diferente? - Ele encarou os olhos de mel da musa. - Não fui eu quem agiu diferente hoje cedo.

- Oh, então eu estava certa. - Clio o viu desviar o olhar para a praça. - Você está incomodado com meu comportamento. - Sua voz retomou o tom compreensível de sempre. - Bom, eu também estou incomodada com o seu. Mas talvez possamos, através desta conversa, resolver o que-

- Pare. Apenas pare. - Ele se virou para ela e, em gesto mínimo, estreitou os olhos. - O que há de errado com você? Tão inteligente, mas tão ingênua.

- Existem assuntos que eu não domino, El Cid. Assim como você.

- Existem assuntos que requerem práticas para serem entendidos.

- Sim, como uma luta, um treino e-

- Como o sexo, Clio.

    Dane-se, ele pensou. Havia acabado de revelar o motivo de tudo e não queria se arrepender. Embora reconhecesse a grosseria, não poderia voltar atrás - e nem o queria.

- Entendo. - Clio fez uma breve pausa antes de prosseguir: - Você quer fazer sexo comigo. Bom, por que não disse? Quero dizer, eu sei que há desejo intrínseco no que temos, mas eu não compreendo todos os sinais ainda, então preciso que me explique algumas coisas.

Não era possível, El Cid pensou. Simplesmente não era possível que estivesse ouvindo algo tão isento de expressão sobre o assunto. Não era nada excitante conversar sobre sexo da forma que Clio estava conduzindo a conversa. Racionalmente. Ela parecia querer uma receita. Era muita falta de tato.

- Clio, eu não vou dizer a você mais do que já digo. Se você não sabe como agir, por que não tenta confiar em quem sabe?

- Eu não sou assim El Cid. Eu não simplesmente confio nas pessoas em relação a assuntos que desconheço. É para isso que vínculos são criados. E requer certo tempo.

- Vínculos. - El Cid analisou a palavra. - O que temos não seria um?

- Estamos construindo.

El Cid bufou alto, irritado. O que mais ela poderia querer dele? Uma declaração?

Clio recuou, sentindo-se intimidada e magoada, mas não demonstrou em seu semblante.

- El Cid, é tão importante assim que eu durma com você?

- É! Sim, é! - El Cid exclamou, de braços abertos. A armadura tilintou.

Ela estranhou aquela expressividade toda vinda dele. Em instantes, calou-se. Optou por pensar bem antes de falar, e acabou não falando nada. A falta de resposta aumentou a frustração do cavaleiro. El Cid também optou pelo silêncio, pois qualquer palavra que dissesse, das que se passavam em sua mente, poderiam magoá-la profundamente. Mas algo precisava ser dito como desfecho daquela triste conversa, e ele se adiantou:

- Volte para dentro, Clio. Vou dar uma caminhada.


 

A alguns metros dali, Euterpe observava Clio ser deixada,  aparentemente confusa, pelo cavaleiro de capricórnio, que - na perspectiva de Euterpe - covardemente se afastou. Era óbvio que algo estava errado entre os dois, e ela sabia que, se Clio não havia conseguido resolver através do diálogo, então o cavaleiro deveria estar de coração partido ou algo semelhante. Conhecia bem a capacidade da irmã de ser insensível em temas amorosos, mas não a culpava de jeito nenhum. Algumas coisas só eram compreendidas com mais experiências e menos leituras.

Sentindo-se defensora, Euterpe se pôs na frente de Clio e disse, em tom severo:

- Volte lá para dentro e se divirta. É uma ordem.

- O quê? - Clio ergueu uma sobrancelha, achando-a impertinente.

- Terpsícore e Erato estão lá sozinhas. Bom, o cavaleiro de leão está lá, mas isso não conta. Por favor, volte para lá - Euterpe insistiu.

- E você?

- Leve-as para casa. Pretendo passar a noite fora. Ou ao menos quero ter essa possibilidade.

Clio franziu a testa, pensativa, até notar um casal parado na porta da taverna, olhando fixamente para Euterpe. Deduziu que a aguardavam e, então, tudo fez sentido. Clio olhou a irmã e fez uma careta. Euterpe e seus fetiches...

- Aquele é o flautista?

- Não julgue meus gostos.

- Bom, tome cuidado com seus gostos, pois um deles está vindo para cá e parece bastante ofendido com sua ignorância.

Euterpe sentiu um engodo antes mesmo de se virar para ver a quem a irmã se referia. Engoliu seco ao ver o escorpiano se aproximar a passos largos e pesados. Com raiva. Ela revirou os olhos pela segunda vez naquela noite, sentindo um calor estranho. Uma dor de cabeça. Kárdia não estava ali para brincar, pelo visto. E nem ela.

Clio a encarou por alguns segundos, comunicando uma rápida opinião, que Euterpe ignorou, e seguiu em direção à taverna, com os pensamentos à mil.
 

- O que foi agora? - Euterpe cruzou os braços na altura dos seios e apoiou o peso do corpo na perna direita, procurando relaxar e falhando descaradamente.

- Me diga que você está brincando. Diga que tudo isso é um jogo. Eu admito, eu perdi, mas pare com isso. Apenas não seja essa vadia insolente e me dê atenção - Kárdia cuspiu as palavras sem pensar, impulsionado pela angústia que havia se apossado dele desde o início da noite. Mas imediatamente se arrependeu ao ver os lábios de Euterpe se curvarem para baixo.

- Brincando? Eu estou brincando? O que você acha que é brincadeira, Kárdia? - Ela soltou os braços e cerrou os punhos, indignada, tentando manter a voz baixa e nítida. - Eu não brinco com os sentimentos das pessoas. Desde o início fui franca com você e se há alguma brincadeira aqui é invenção da sua cabeça que não consegue separar as coisas!

- Oh, sim, Euterpe, eu me provoco sozinho - ele ironizou.

- Não, esse não é o problema. O problema está inteiramente em seu modo de enxergar as mulheres. Porque qualquer gesto, o mínimo que seja, pode ser interpretado com malícia por você. Esse é o problema! - Com o dedo indicador, cutucou-o no peito rapidamente. - Dói quando lhe mostram como você pode estar errado, não é?

- Eu interpreto errado? Quer dizer que você nunca me provocou? Nunca teve intenções maliciosas? Vá mentir para outro, Euterpe.

- Não estou negando e desmerecendo nossas provocações, Kárdia - ela disse, controlando a voz e encarando-o com acidez. - Mas eu não sou só composta por elas. Não vim aqui para provocar mais um jogo entre nós. A minha função não gira em torno disso. Eu só queria estar aqui com minhas irmãs!

- Você está aqui por suas irmãs? - Kárdia agravou a voz. - Não me faça de idiota, Euterpe. É só olhar para a cara de Clio que se percebe que há algo errado e você aqui! É uma egoísta.

- Você parece muito incomodado com o meu jeito, não?

- Claro, seus defeitos me afetam! - Ele exclamou, de braços abertos.

Euterpe quis rir da resposta ridícula.

- E que tal ficar distante, como um favor a nós dois? - Ela propôs.

Kárdia sorriu com escárnio e apoiou as mãos na cintura.

- Como se quiséssemos isso, Euterpe!

- Está enganado, Kárdia. - Euterpe adquiriu maior seriedade. - Quem não quer é você, que é tão egoísta quanto eu e tenta ter uma posse absurda sobre minhas decisões. Não é nada charmoso que queira me prender a você quando o que mais me inspira é a liberdade com que trilho minha vida. O amor é muito mais do que dizer eu te amo, Kárdia. Geralmente, essas palavras são bem limitadas para expressar o que realmente significa amar alguém.

- De onde surgiu isso, garota? - Ele arregalou os olhos, incrédulo. - Você só pode ser louca! Você dá a entender uma coisa e diz outra!

- Não, você é que quer entender da forma que lhe é conveniente. Já lhe disse que não sou sua posse. Já critiquei seu ciúme e já lhe mostrei como ele pode ser destrutivo, mas parece que você não quer entender. Estou cansada de ser cobrada por você. Não estamos num relacionamento!

Cada palavra era um soco no estômago, no rosto, no peito, no pau, em tudo. Kárdia só não admitiria o soco no coração. Seria tão humilhante quanto as palavras que ouvia naquele instante.

- Não estamos num… - Kárdia começou, sem conseguir falar direito, atrapalhado pela decepção e pelo orgulho ferido, e se odiando por isso. - Como não?

- Como sim? Você acha que nossos encontros causais fomentaram um relacionamento, Kárdia? Quando foi que definimos qualquer coisa? Acha que eu ia querer ter uma relação com você? Eu não confio em você e odeio seu desrespeito pelas mulheres. Você as objetifica, as enxerga como algo que pode chamar de seu. Eu não nutro grandes sentimentos por você além de um carinho especial, que não é especial o bastante para que eu atropele meus princípios e deixe você tomar conta de mim como se eu fosse dependente do seu ego.

Kárdia não soube o que dizer. Estava embasbacado, de boca aberta, incrédulo e envergonhado porque, provavelmente, quem estava por perto havia ouvido tudo aquilo. Não disse nada porque não havia o que ser dito, Euterpe fora clara até demais desde sempre, estava ali parada, linda e sensual, encarando-o com os olhos azuis e vibrantes, repetindo palavras que ele já havia ouvido e acrescentando mais. Mais palavras que ele não queria guardar.

- Eu não acredito que você não nutra nada por mim… - Foram as únicas palavras que pareceram sensatas a se dizer após aquele discurso feroz. Principalmente porque ele realmente não acreditava naquela verdade.

- Eu nutri, mas suas atitudes me desanimaram. E mesmo que tivesse nutrido mais, ainda não seria o bastante para o que acabei de lhe dizer. Apenas aceite, escorpião, isso facilitará para nós dois.

Mas ele não queria aceitar, sentia-se humilhado. Uma dor estranha e desconhecida cutucava seu peito embora ele tentasse ignorar. Quase riu com a ironia de que estava finalmente apaixonado por alguém e não era recíproco. Já havia despedaçado corações por ter sido negligente para com as respectivas donas deles. Costumava rir dos enamorados porque considerava o vínculo estável uma condenação. Privar-se de provar o gosto de várias mulheres? Jamais. E lá estava ele, aceitando abdicar de tudo isso por uma frase positiva de Euterpe. Que ironia.

- Kárdia…

- Apenas vá - ele disse, cabisbaixo. Não queria encará-la com a vergonha que sentia.

 

Kárdia a viu se afastar, com o casal logo atrás. Suspirou pesadamente. Precisava urgente de uma caneca de cerveja - ou dez. Precisava sair dali, talvez, e acompanhado. Ou não. Por fim, seus pensamentos foram cortados por um som tumultuado vindo de dentro da taverna, para onde se apressou a correr.

A cena era absurda, mas nada tão surpreendente: Defteros segurava os antebraços de Terpsícore com certo cuidado enquanto se colocava entre ela e um dos músicos da banda, cuja rabeca já se encontrava no chão, esquecida. Os olhares dos presentes na taverna miravam curiosos aquela confusão de intenções que oscilava a cada gesto dos envolvidos. Terpsícore tentou se desvencilhar agressivamente das mãos de Defteros e não houve dificuldade. Ele a soltou normalmente, embora, nas profundidades de seu âmago, estivesse com uma vontade quase irracional de tirá-la dali e gritar com ela. Entretanto, estranhamente, ele sabia que seria muito errado.

Defteros já havia perdido a primeira batalha interna: apenas observar Terpsícore, de longe. A segunda consistia em não tocá-la, caso a primeira batalha fosse perdida. A terceira batalha era menos simples: não gritar com ela. E Defteros estava prestes a mandar todas aquelas batalhas à merda. No entanto, retesou qualquer brutalidade ao ver um inóspito olhar da musa diretamente ao seu. E soltou-a.

Terpsícore massageou os antebraços, embora não sentisse dor alguma - foi puramente instantâneo -, e repetiu uma série de desculpas falsas para o músico, que educadamente aceitou. Ela não concordava em levar a culpa pela inconveniência de Defteros, mas, de repente, sair dali pareceu mais importante, e portanto precisou de um desfecho rápido.

Ela viu Erato se levantar da mesa em que estava, Régulus impedi-la e apontar para Clio, e Clio caminhar, bufando, em sua direção. Terps não esperou a irmã se aproximar para saber o que fazer, mas acabou ouvindo um imperativo “resolva logo isso”, como esperado de Clio. Quis responder com grosseria, porém a impaciência levou Terps a puxar o pulso esquerdo do geminiano e arrastá-lo para fora do espaço.

- Cá estamos nós. De novo. O que tiver para falar, fale, mas pare com isso - Ela disse, séria, de forma nunca antes vista por ele.

Defteros a observou. Terpsícore estava mudada. Pudera! Ele havia contribuído da pior maneira possível. E sabia muito bem disso. No entanto, ele apenas cruzou os braços e a admirou sem querer.

O silêncio não intimidou Terps dessa vez.

- Você é como uma sombra! Parece que a cada momento vai aparecer para me julgar ou impedir de fazer alguma coisa. É como uma sombra que fica à espreita, observando pelos cantos até achar conveniente atrapalhar. Uma sombra! É assustador viver num lugar onde alguém assim exista!

Terps sentia-se bem falando aquelas coisas. Sentia-se bem com a possibilidade de ferir Defteros com palavras, embora ele não parecesse se afetar. Isso a frustrou por um momento.

- É ainda pior quando você me faz passar por coisas assim e não fala nada, não tenta se justificar! Você só me confunde. Diz palavras hostis e me afasta, para depois aparecer e pressupor que preciso de você. Ou então tenta, em sua forma doentia, me proteger de nada. Tudo faz cada vez menos sentido e ao mesmo tempo parece mais claro. Eu só sei que… - Terps desviou o olhar. Seu coração parecia mais calmo. - Não quero sua loucura perto de mim. Você se fechou para mim. Acredito que nunca tenha se aberto de verdade. Talvez… Talvez eu tenha sido apenas uma peça das suas brincadeiras. Eu já não sei. Mas estou certa de que tudo isso não vale essa aflição que você me causa. Por favor, não se aproxime mais.

Alguns segundos de denso silêncio depois, Defteros assentiu uma vez e através do olhar fez sinal para que ela voltasse para dentro. Não a deixaria voltar sozinha, mesmo que não estivessem tão longe da entrada. Ao mesmo tempo, não a seguiria, apenas cuidaria de longe. Quando voltou a mirá-la nos olhos, teve a impressão de vê-la engolir seco.

Terps sentiu um leve êngodo. O olhar cortante que havia acabado de aceitar suas palavras era intenso. Era inegável o amor que tinha pelo olhar e seu dono, mas não podia continuar com isso. Não sabia até onde aquilo era de verdade e decidiu não arriscar mais. Doía. Queria chorar, mas seria forte. Queria ser forte. Sentia-se forte.

Defteros acompanhou de longe cada passo dela até a porta da taverna. Havia dado certo. Embora no fundo não quisesse o resultado, precisava afastá-la de vez. Claro que nem tudo foi planejado. Ele sabia que uma hora viria a oportunidade de criar a pior das impressões ou então confundi-la de verdade. Era bem provável que ela não tivesse caído em seu papo de que tudo era fingimento e ele tinha de aguardar um tempo para mostrar que poderia ser um tremendo idiota.

O motivo, desde o início, havia sido ciúme - era fato. Não aguentou vê-la dançar tão alegre com o tocador de rabeca. Não aguentou vê-la se expressando dentro de uma tranquilidade que ela nunca conseguiu cativar com ele próprio. Então, sem ímpeto algum, se meteu entre os dois. Foi uma ação impensada e com certeza o Grande Mestre o repreenderia por aquilo. Mas foi necessária. Como ela mesmo disse: ele era como uma sombra que fica à espreita, observando pelos cantos até achar conveniente atrapalhar. Foi conveniente lá, na frente de todos, arrecadando também o ódio das irmãs da musa.

Havia dado certo. E Defteros retornou às próprias sombras.

 

Erato estranhou a melancolia da música. Talvez fosse para ilustrar o humor de todos após a cena que Defteros havia feito com Terpsícore. Na opinião dela, a irmã havia se saído bem puxando o cara para fora, pois dali não sairia nada melhor. Houve murmurinho após isso, mas os músicos souberam retomar a atmosfera muito bem. Erato estava meio satisfeita. Quando se deu conta da expressão negativa de Clio, imediatamente a absorveu. Sua vertente, no entanto, era uma preocupação com o desconhecido: desconhecia completamente o que se passava na mente de Clio. Isso a incomodava. E ela sabia que Clio, sem intenção, estava influenciando o ambiente com seu humor.

Sentiu falta de casa - o Monte Parnaso -, onde todas moravam perto, em seus templos, e recebiam pessoas felizes para louvá-las. Eram felizes lá e pareciam ter chegado ao Santuário apenas para sofrer. Era o que ela pensava.

Ao lado de Erato, Régulus também observava Clio, porém com uma leve suspeita de que El Cid tivesse a ver com aquilo. Movido a um impulso, beijou rapidamente a bochecha de Erato para descontraí-la e ofereceu a mão à Clio. O convite estava subentendido.

Erato de forma alguma se enciumou com o ato. No fundo, embora não fosse admitir para ele, sentiu orgulho. Era bom confiar em alguém que nos mais sutis pensamentos pensava em cuidar de suas irmãs também. Podia ver um sorriso se formar no rosto de Clio e isso a irradiou de felicidade.

Clio não quis pensar no quanto o ato foi inusitado nem o que os demais poderia achar dela ao vê-la dançando com o cavaleiro interessado em sua irmã. Não quis pensar nem um pouco no fato de não dançar com alguém havia tempos e no que isso poderia acarretar - esperava não machucar o jovem cavaleiro. Não quis pensar em quanto gostaria que El Cid estivesse no lugar de Régulus. Não quis pensar em El Cid. Diferentemente do capricorniano, Régulus a estava tratando uma gentileza genuína e inspiradora. Algo desprendido de um afeto mais íntimo, mas movido a um carinho diferente, um carinho amigo muito mais verdadeiro do que ela havia provado em outras vezes, com outras pessoas. A espontaneidade era revigorante. Clio aproveitou o carinho cálido e cuidadoso, desprovido de qualquer malícia, que Régulus estava oferecendo. E dançou com ele no pequeno espaço da taverna. Era assim que queria ser tratada e não entendia o que poderia haver de errado.

 

- Eu espero que elas estejam se divertindo.

- Alguém deveria estar!

- Pare de reclamar, arbusto.

- O que foi que você me prometeu?

- Não estou vendo a troca.

- Seria melhor se você estivesse nua, musinha.

Tália gargalhou alto antes de cair de costas na cama larga do quarto principal da Casa de Câncer. Havia subido às pressas pela escada, como se fugisse dos abraços afobados de Manigold, contudo se divertia apenas. Podia ver a excitação nos olhos dele e sentir a própria excitação na respiração acelerada. Ela estava ansiosa, sem dúvidas.

Manigold cobriu o pequeno corpo de Tália com o seu e colou os lábios nos dela, impedindo mais uma gargalhada que se formava. Manteve os olhos abertos, queria ver cada expressão do leque que ela possuía e que ele tanto gostava. Era o charme inegável de Tália. Deixava-o sem caber em si de tanta felicidade por finalmente tê-la sem preocupações nos braços.

Ele subiu as mãos pelas laterais das pernas dela até parar na borda do estranho short que ela usava. Não se obrigava a entender as manias excêntricas de Tália, porém o short era algo que o inquietava. Nenhuma das musas usava, mas Tália defendia a praticidade da roupa. Ainda assim, ele não entendia, achava bizarro e tiraria aquele short naquele momento.

 - Mas que diabo!

- Tem um botãozinho, basta ter paciência - Tália comentou, despreocupada. Colocou os braços atrás da cabeça e observou o canceriano tirá-lo.

- Cazzo.

Em três segundos, ele rasgou o short. Sentiu uma leve satisfação interna por descontar naquela peça toda a opinião que tinha sobre isso.

- Não acredito que você rasgou meu short!

- Se você não cooperar, rasgo a blusa também.

Manigold se sentiu aliviado ao ouvir Tália rir do comentário. Então ela estava se divertindo? Ótimo, ele se divertiria também.

- Não é necessário. - Tália pegou a borda da blusa e subiu num ritmo não tão lento até tirá-la por completo. Quis se enfiar num buraco ao ver que Manigold a olhava de forma ilegível. - Pronto...

Ela inspirou fundo e fechou os olhos.

- Nervosa? - Ele perguntou normalmente.

- Um pouco… Ou um muito, não sei…

Manigold riu baixo e passou a afagar a barriga à mostra de Tália com a ponta dos dedos, traçando caminhos aleatórios entre a roupa íntima e os seios pequenos. Tinha evitado aquela parte quando a observou se despir, mas agora o impulso era tremendo. Ficou repentinamente tímido por sentir o membro enrijecer enquanto se acomodava em cima de Tália. Ela com certeza o sentiria. Ele ainda estava de roupa, mas não queria mover a atenção para outra coisa. Estava tão bom vê-la respirar pesadamente enquanto ele a estimulava ameaçando tocá-la nos seios.

Era estranho o silêncio sagrado predominante, e ao mesmo tempo era extremamente bem-vindo. Eles não eram conhecidos por ser um casal quieto, mas o silêncio pareceu algo familiar naquele instante.

Manigold se curvou até encostar os lábios na lateral do pescoço de Tália, enquanto as mãos trabalharam na retirada da própria camisa. Afastou-se para tirá-la por completo e aproveitou para beijar o outro lado do pescoço da musa. Embora estivesse ansioso, não teve pressa, saboreava a pele que beijava. Queria que ela relaxasse, mas parecia improvável. Então, ele improvisou: colocou carinhosamente a camisa no rosto de Tália, de forma que tapasse apenas os olhos e deixasse o restante livre para suas carícias. Assim, ela poderia abrir os olhos e não vê-lo, já que parecia ser o fator primordial da tensão de Tália.

Manigold riu internamente. Imaginar uma Tália tão tímida era incomum.

Tália sorriu, sentindo-se mais relaxada enquanto se envolvia com a sensação prazerosa das mãos dele contornando-lhe a cintura.

- Não durma - ele sussurrou, bem humorado.

- Nunca que eu desafiaria um cavaleiro de ouro dessa forma… - ela respondeu, controlando o riso, não querendo dispersar.

- É melhor não desafiar de forma alguma. - Ele se levantou fora da cama para retirar a calça. Viu-a procurá-lo com os braços estendidos e riu. - Quem precisa ser paciente agora?

Antes que ela pudesse responder, ele voltou. O corpo quente a cobriu novamente, enquanto a boca a encheu de beijos na altura do colo, mordiscando as clavículas, evitando falsamente os seios, apenas para atiçá-la. Tália reclamava com baixos resmungos. As mãos dele roçaram pela borda da peça íntima que faltava no chão, e Manigold a tirou rapidamente, já impaciente.

- Muito bem, não rasgou dessa vez - Tália comentou baixinho, mordendo o lábio inferior.

- Mereço uma recompensa…

- Sim, vou descontar na hora de cobrar um short novo.

Manigold bufou, mas achou graça. Seguiu a boca para a orelha esquerda dela e, antes de falar, depositou um beijo singelo naquela mesma lateral.

- Tália… - Ele parou ao sentir as mãos dela subirem pelas costas. Já estava quase zonzo de tanta excitação reprimida.

- Hmmm.

- Se você sentir… Hã… Alguma dor que seja, eu… É só dizer.

- Dor? Nem de longe será uma dor perto da felicidade que já estou sentindo, Manigold.

Manigold se sentiu estranhamento emocionado. Agradeceu silenciosamente por ela não poder vê-lo. Seria constrangedor. Havia uma euforia incomum estampada em sua face também.

Cuidadosamente, encaixou-se, mas não avançou. Foi uma tortura desnecessária, em sua opinião. Ela estava absurdamente molhada e ele estava esperando alguma confirmação. Que estupidez. Mas queria ter certeza de que ela o queria. Pela primeira vez na vida, se importou mais com sua parceira do que consigo.

- Eu devo me mexer? - Tália perguntou.

- Não. - Ele inspirou fundo. O clima havia sido cortado. Não. Era só o jeito de Tália. De repente, riu só. - Não, apenas me ame de volta.

Ele não esperou resposta. Não quis, teve um medo bobo de ser rejeitado. Nunca havia dito algo parecido. Amor não era sua palavra favorita, muito menos dito com sua voz. Parecia, de início, uma fraqueza, mas aos poucos ele percebia que o engrandecia. O amor que sentia por Tália o deixava mais forte, mais maduro, mais esperançoso. Então era disso que Athena falava ao alegar a proteção do amor na Terra? Seria mais grandioso que isso? Manigold havia crescido sem provar um amor assim. Não sabia dizer. No entanto, agora via muito mais sentido na sua função de cavaleiro.

E assim, ele avançou, com amor.

 

Na manhã seguinte

Tenma observou atentamente cada uma daquelas lápides pedra espalhadas no campo verde do Santuário. Cada nome referente a um cavaleiro grandioso que um dia havia cultivado as mesmas esperanças e lutado semelhantes batalhas em prol do que acreditavam. Sentiu-se triste e miserável. Não estava ajudando em nada permanecer no Santuário. Sentia profundamente a perda de Hasgard e se sentia culpado sem questionar.

Ajeitou a pesada caixa da armadura de Pégaso nas costas. Estava determinado a partir. Seria melhor. Seria mais útil e poderia lutar contra o perigo sozinho, sem envolver seus amigos. Poderia protegê-los sem proporcionar mais riscos, poderia…

- Ora, ora. Então você é o tal do Pégaso? - Uma voz arranhada quebrou o silêncio matinal. - Não devia estar vagando por aqui numa situação de emergência. Se bem que eu não tenho moral para falar de você, não é mesmo?

- Quem é você? - Tenma perguntou, paralisado. Não esperava nada daquilo.

- Eu? Sou Manigold, o cavaleiro de ouro de Câncer.

Manigold sorriu com maldade. Teria prazer em encher o saco do garoto arrogante.


Notas Finais


EU SEI que não foi Tália&Mani do jeito que vocês queriam, do modo que vocês estão acostumados aqui. Só que eu demorei meses por conta dessa parte especificamente. Eu não queria que fosse detalhado e tão erótico quanto os outros porque eu não consigo ver esse momento dos dois dessa forma. Eu sinto que é algo que deve ser imaginado particularmente, em especial porque é o casal favorito daqui. E esse momento é deles, não de vocês, não meu, então eu "segui meu coração" e escrevi o que achei que deveria ser deles. É engraçado porque não tive isso com nenhum outro casal, mas eu não quero entrar na privacidade desses dois. Talvez tenha um pouco a ver com meu humor ao escrever esse momento, não foi no meu melhor dia, então procurei conforto em Tália e Mani. Não foi totalmente narrado, mas não acho q o sexo era o mais importante desse momento, gente. Espero que vocês consigam se abrir para esse olhar diferente.

Beijos, comentem, por favor :*


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