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História Enamorei a Morte - À noite


Escrita por: Miahwe

Notas do Autor


Oi sumida (??)
kkkkk
Tudo bom com vocês? Espero que gostem do capitulo.

Betado por nossa querida Ana Bridge sz.

Boa leitura ^^

Capítulo 18 - À noite


            Era fim de tarde quando o Conde de Buckinghamshire voltava para casa. O olhar estava voltado para teto da carruagem, os pensamentos repassavam o encontro com o capitão Da Silva.

            Encontrou o homem fumando tabaco sentado em um barril perto de várias cordas navais e barris em uma parte pouco movimentada do porto. Quando aproximou-se, pensando que o homem não poderia estar em melhor local para conversarem, notou que ele não estava sozinho. Um rapaz, talvez na casa dos vinte anos, estava deitado no chão, a boca sangrava, o olho direito estava inchado e a respiração era irregular.

            ― É por isso, garoto, que não se pode roubar. ― Minato ouviu o homem, Capitão Da Silva, falar. ― Está doendo muito?

            O rapaz tossiu e depois se retorceu ao se engasgar, talvez com o próprio sangue.

            ― O que aconteceu? ― o Conde indagou lacônico.

            ― Nada que lhe interesse ― Da Silva respondeu. Então, logo após analisar Minato de cima a baixo disse: ― Você não é daqui. O que quer?

            ― Sou amigo de Zabuza Momochi, vim aqui saber sobre tráfico humano, ele disse que você sabe de tudo que acontece por essas águas.

            Da Silva soprou uma nuvem de fumaça e jogou o cigarro no chão. ― Tráfico humano? De onde veio essa ideia? Aqui no porto? Acha mesmo que se estivesse ocorrendo um tráfico humano pelos navios já não teria sido descoberto? Ai, diga-me, quem lhe deu essa informação?

            ― Por que não pensei nisso antes? ― murmurou para si mesmo na carruagem. ― Não fazia sentido, realmente. Se houvesse algum movimento tão grande assim no porto, é possível que, claro, já tivesse sido descoberto... A não ser que Da Silva estivesse escondendo alguma coisa...

            Suspirou, já estava chegando cada vez mais perto de Belgravia.

            ― Mais rápido ― pediu ao cocheiro.

            ― Sim, senhor. ― E o chicote estalou do lado de fora.

            Era provável que chegasse em Belgravia perto das sete horas da noite. Não achava que o caso iria durar mais do que três meses, mas lá estava ele, sem nada em mãos, totalmente perdido. Sentia falta de Buckinghamshire, da calma de sua mansão em Saint Magdalene. E, infelizmente, estava voltando para Belgravia, para casa, sem pistas novamente. Gastara horas viajando para o litoral, pois Da Silva não se encontrava mais no porto de Londres e...

            Os cavalos relincharam, a carruagem foi para trás. ― O que... ― Começou, mas foi calado pelo grito do cocheiro. Em seguida ouviu-se um rosnado e o barulho de algo quebrando, a carruagem chocoalhou, começou a andar rapidamente, então parou. Um relincho, um grito, algo se soltou, a carruagem pendeu para o lado, Minato desnorteado acompanhou a virada e bateu na porta que se abriu e o derrubou no chão.

            O Conde reprimiu um arquejo pelo impacto e pelo susto, as mãos nas quais se apoiou ao cair no chão doíam por causa das pedras da rua. Então o rosnado se repetiu e Minato percebeu que já tinha escutado o som... era idêntico ao que ouviu na madrugada após o baile de Orochimaru.

            Agora ele sabia o que era aquele rosnado. Uma corrente de adrenalina disparou como flechas por suas veias, sentou-se de imediato e arrastou-se para longe da carruagem. O cocheiro não estava mais ali, um dos cavalos também tinha desaparecido, quanto ao outro, estava no chão, o pescoço aberto de maneira brutal, assim como a barriga de onde o intestino se projetava. Minato se sentiu enjoado com o cheiro do sangue, com a cena a sua frente e antes que percebesse, virou o rosto o vomitou.

            Outro rosnado.

            Olhou para trás ao escutar o barulho enquanto limpava a boca com a manga da casaca. O coração pulsando contra o peito. Outro rosnado, parecia mais perto, porém não importava para onde quer que olhasse, pois não via nada.

Sentia que estava cercado, sentia que os demônios se aproximavam cada vez mais, sentia um medo desesperador, um suor gélido escorria pelos poros, as mãos esquentavam dentro das luvas.

Escutou um barulho, algo raspando no chão, e correu, sabe-se lá com quais forças. Apenas correu, para onde não sabia. Em sua mente só tinha uma frase: “não posso morrer ainda”.

― Não vá, ele vai morrer. Não podemos interferir ― uma voz falou em algum lugar naquela escuridão.

― O nome não está na lista, ele não irá morrer hoje ― outra voz falou.

― Está pensando em salvá-lo? Esse não é o nosso trabalho, vamos ser penalizados ― a primeira voz falou novamente.

― Esperem, ele é... ele não pode ser... oh, não... ― uma voz feminina disse.

Minato estava ficando sem ar, sentia-se tonto. Não conseguia descobrir de onde vinham as vozes, talvez estivesse delirando. Os rosnados apareciam de vez em quando, conseguia escutar um som de passos, ou patas, nas pedras da rua. Sentia vontade de vomitar, as entranhas do cavalo e o cheiro forte de sangue ainda estavam presentes.

            Não posso morrer aqui...

            Virou em alguma esquina, tropeçou, mas continuou correndo.

            ― Por aí não, vire a próxima esquerda, depois a segunda direita ― a voz feminina falou de algum lugar. Sua mente não raciocinava mais, então o Lorde nada discutiu, apenas seguiu o conselho.

            Assim que virou a esquerda três pessoas surgiram de uma ruela e correram em sua direção. ― Fujam! ― o Lorde gritou fazendo gestos com as mãos.

            ― Continue correndo ― um deles falou, uma voz masculina, ao passarem por ele. Um dos homens, o que passou a sua esquerda segurava uma arma longa, não conseguiu ver muitos detalhes.

            Minato continuou correndo.

            Ao virar a segunda direita, encontrou com um rosto conhecido.

 

 

 

                                                ***

 

 

Já tinha se passado quatro dias desde que tiveram a reunião com os Caçadores na parte Norte de Londres, na mansão Senju. Naquele momento, Yahiko estava andando por Londres após o trabalho, a casaca jogada no ombro, a bolsa pendurada ao lado do corpo, os braços cansados de tanto carregar bandejas e limpar pratos no restaurante. Tinha sido um dia bastante movimentado, geralmente quinta-feira era um dia bem agitado, assim como o resto do final de semana. O rapaz sempre se perguntava se ele não poderia ganhar mais por conta disso, mas o chefe era pão duro demais para uma bondade deste tamanho.

Suspirou, estava cansado, sem dinheiro e sozinho. O mais triste era que estava sozinho. Se perguntava se iria morrer assim. Talvez. Que mulher se casaria com um homem que não tem dinheiro e trabalha em um restaurante sem classe, e agora, aparentemente, trabalha para caçar criaturas do diabo?

Chutou uma pedrinha enquanto atravessava de uma rua para outra. Sempre ficava depressivo quando estava cansado mentalmente, estressado e sem dinheiro. Esperava que o caso dos assassinatos que estavam acontecendo não demorasse muito, mas aparente e terrivelmente iria demorar. O Conde sempre dava a ele e a Konan um tanto do dinheiro que a Rainha o recompensava, e um tanto era bastante para Yahiko ter uma vida digna por um tempo agradável. Tal fato que o fazia desejar, às vezes, que tivessem mais incidentes em Londres.

― Humpft, mas o que eu estou pensando? ― questionou a si mesmo. Sabia que precisava descansar. Todavia, o caso não saía de sua cabeça. Estava tudo errado. Tinha algo de estranho acontecendo.

Na última reunião que teve apenas entre Konan e o Lorde, no começo da semana, os três tinham avaliado e feito anotações no mapa e no caderno sobre os ocorridos nos últimos dias. Chegaram a uma infeliz conclusão, ou talvez feliz? Yahiko não conseguiu decidir.

Os casos de desaparecimentos não foram mais notificados, as mortes causadas de forma “limpa” por algum provável assassino tinham parado de acontecer e apenas dois casos de mortes pelas possíveis Criaturas ocorreram. Estranho. Mas talvez tivessem realmente parado, apenas com o tempo para avaliar esse pensamento.

O fato que deixou Yahiko, o Conde e Konan estressados, foi que, se a situação estancasse, eles não iriam ter uma boa carga de pistas para chegar ao culpado e, quem sabe, no caso do sequestro, salvar as pessoas. Isso era um grande problema.

― Problema... problema... ― balbuciou consigo mesmo.

 

 

                                               ***

 

 

            Sasori e Tenten estavam patrulhando a zona sul de Londres quando ouviram um barulho estranho. Como se algo estivesse mastigando ou rasgando algo, não conseguiam diferir, havia burburinhos e ruídos, que chamaram a atenção dos jovens.

            Ambos se encararam. Sasori torceu para que não fosse o que ele estava pensando, mas...

            ― Temos que ir lá olhar ― falou de maneira nervosa.

            A companheira assentiu e ambos começaram a andar em direção ao som, era difícil de segui-lo, às vezes parava, às vezes parecia o vento. A iluminação dos postes não ajudava muito e as nuvens que abraçavam a lua impediam que o brilho natural desse a eles uma luz guia.

            ― Acho que é... virando... aqui...? ― a senhorita Mitsashi comentou e viraram à esquerda em uma ruazinha que tinha as pedras da pavimentação bastante irregulares.

            ― É sim... ― Sasori concordou ao encararem uma cena quase inesperada.

            Era uma criatura, sim. Sem pelos, apenas um olho no centro do rosto e uma quantidade estranha de pernas. Ao lado dela, no chão, havia uma forma grande, caída e imóvel. Graças à falta de luminosidade, Sasori demorou para deduzir que aquilo era um cavalo.

            ― Mas... o-o-qu- ― começou, mas gaguejou nervoso.

            ― Meu Deus, misericórdia ― Tenten falou assustada em alto e bom tom.

            Era a primeira vez que viam um demônio. Era assustador, era medonho, era perturbador.

            Sasori engoliu em seco e buscou a arma no cinto de forma afoita, as mãos trêmulas cheias de adrenalina e medo. Olhou para a companheira, mas Tenten já estava armada, cada mão com uma pistola, os lábios trêmulos batiam um no outro. Ela também estava com medo, ele constatou para si mesmo.

            A criatura demorou para vê-los ali, e quando o fez, avançou sem aviso, de maneira brusca e selvagem.

            Atiraram e atiraram. Os estrondos das três pistolas gritavam pela noite. O jovem mal sentia os solavancos que a arma dava em suas mãos, seu coração batia rápido em desespero, pois receava que a besta conseguisse se aproximar demais.

            Quando pararam, o demônio estava caído no chão, contorcendo-se e guinchando um barulho irritante. Sasori não soube dizer se tinha acertado algum tiro pela maneira como as mãos e os braços tremiam, mas o que importava era que o demônio estava no chão. Puxou o ar com força para os pulmões e o soltou bruscamente.

            ― Tudo bem... tudo bem... ― balbuciou para si. Retirou os olhos da criatura que ainda estava debatendo-se e viu que a senhorita Mitsashi estava sentada no chão, ambas as pistolas deitadas no vestido, as mãos tão trêmulas quanto as suas, não conseguia ver direito, mas imaginou que a face dela estava pálida. Algo em vê-la tão assustada o fez abaixar-se e a abraçar, puxando-a contra o peito. ― Está tudo bem... tudo bem... ― agora falava mais para ela do que para si, enquanto tentava virar o rosto da companheira para seu peito, para que ela não visse mais a criatura em seu processo de morte. Pelo menos ele estava esperando que ela morresse, aquele barulho que ela fazia era desconcertante aos ouvidos, algo como um ganido de um cachorro, porém grave como um rugido de um leão adulto. ― Ela está morrendo, nós a matamos, está tudo bem agora.

            Ela não se mexeu. Sasori ainda tremia por si só, e agora estava preocupado com  Tenten. Sua respiração não estava muito regular e havia um frio na barriga que o implorava para sair de lá, para fugir.

            Aos poucos o brilho da lua começou a iluminar o local onde estavam, o jovem pôde ver melhor o monstro que aos poucos parava de se contorcer, o grunhido terrível se esvaía pela noite e, em troca, um cheiro acre se espalhava pela rua, vinda da criatura. Era o pior cheiro que Sasori sentiu em toda a sua vida, talvez pudesse ser comparado ao cheiro de um cadáver humano se decompondo em um lugar fechado. Torceu o nariz, prendeu a respiração. Era melhor que saíssem dali e procurassem ajuda para limpar o local.

            Tentou se acalmar novamente, precisava ter forças naquele momento.

            ― Tenten, está tudo bem, ela morreu, vamos procurar ajuda para limpar isso aqui ― ele falou afrouxando os braços que a acalentavam, a luz da lua, agora, permitia a ele ver o quão pálida ela estava.

            A senhorita Mitsashi não respondeu. Ele repetiu, e não teve resposta.

            ― Tenten, Tenten! ― Ele a sacudiu um pouco. Ela estava em estado de choque, ele percebeu. ― Meu Deus, alguém me ajude ― pediu enquanto se ajeitava no chão para ficar em pé, pegando a senhorita Mitsashi no colo, passando uma mão atrás dos joelhos e a outra debaixo dos braços, com cuidado para não derrubar as pistolas que estavam no colo de Tenten. Suas pernas ainda estavam levemente trêmulas e a garota pesava em seus braços, ele não sabia se era porque ele não estava com os nervos em bons estados ou se porque ela realmente era pesada.

            Não sabia para onde tinha que ir, não conhecia Londres, então apenas começou a andar, esperava poder encontrar alguém que o ajudasse.

 

            

                                                                       ***

 

 

            Hidan havia chegado perto do fim da tarde, com um semblante preocupado, as mãos nervosas dentro do bolso do sobretudo.

            Orochimaru o deixou entrar, ficou preocupado com a aparição repentina. Algo de ruim devia ter acontecido.

            Levou-o até o escritório e pediu a Kimimaru que não deixasse ninguém os interromper.

            ― Aceita uma bebida? Está frio lá fora.

            O homem aceitou. Orochimaru foi até a cômoda onde estava sua bandeja de bebidas alcoólicas e preparou um drink para os dois. O cômodo era pequeno, porém estava bem arrumado em tons neutros do bege ao preto e estava bastante aquecido.

            Entregou a bebida a Hidan, sentado na poltrona em frente à mesa do escritório e foi até sua própria cadeira atrás da mesma mesa.

            ― O que aconteceu? Seja direto, por favor, odeio rodeios.

            ― Medito ao meu Deus desde o começo da semana, pois desde a reunião do Círculo, as criaturas de meu Deus não foram mais invocadas, no entanto, bem... as mortes, elas continuam. Eu avisei que uma criatura havia fugido do meu círculo de invocação, estou tentando pedir ajuda ao meu Deus para encontrá-la, sinto que ela está trazendo outros demônios para a capital.

            Orochimaru o encarou. Encarou-o. Encarou-o.

            ― Você ainda não sabe onde ela possa estar?

            Hidan negou dando um longo gole na bebida.

            ― Os Caçadores devem estar por aqui, não é possível que não estejam... ― murmurou para si mesmo de maneira que Hidan nem sequer escutou.

            ― O Leão... ― O homem começou.

            ― Ele deve estar confuso com os assassinatos do meu Sasuke e os das suas bestas. Talvez não tenha sido tão negativo deixar algumas à solta, o problema agora são os Caçadores, se eles voltarem a Londres, não sei... não consigo pensar em como isso possa nos atingir.

            ― Talvez. Talvez não nos atinja, quem imaginaria que foi culpa nossa? 

            Orochimaru imaginava, oh, se imaginava, mas era um segredo dele. Sentiu vontade de explodir ali naquela sala. Se os Caçadores soubessem que ele estava em Londres poderiam juntar algumas peças, poderiam chegar a investigá-lo, isso não seria nada positivo, nada, nada positivo. E era um problema dele, um segredo dele. E ali estava ele preso em Londres porque dois policiais de Fugaku, da porcaria da Scotland Yard, o estavam prendendo como suspeito.

            Como havia chegado naquele ponto? E como iria sair daquela possível encruzilhada?

            ― Hidan... ― Respirou fundo, estava se sentindo impaciente, mas de nada adiantaria, por isso apenas manteve-se controlado. ― Como uma dessas criaturas pode invocar outras?

            ― Depende, considerando que para fugir de um círculo de invocação controlado precisa de uma certa esperteza, creio que esta criatura possa ter sido capaz de controlar algum humano, não sei bem, essas coisas podem acontecer, mas eu nunca na minha vida tive a necessidade e a infelicidade de presenciar algo tão terrível.

            Orochimaru pensou um pouco. Pelo visto, se não podia contar com o Círculo, tinha que resolver aquilo antes que o problema chegasse a ele de forma completa. 

            ― Certo, vamos esperar que nada aconteça com nosso plano.

            Hidan assentiu. O copo da bebida já estava vazio em cima da mesa.

            ― Orochimaru, tenho uma notícia sobre Kakuzu. Parece que um dos homens dele capturou uma mulher de sangue nobre na quarta-feira do baile, aquela antes da quinta-feira da reunião do Círculo. Fiquei sabendo ao me encontrar com ele e com o Duque Uchiha no fim de semana em Dover.

            ― Sequestraram uma mulher de sangue nobre?! Que tipo de loucura é esta que você me conta?

            ― Não é loucura, é verdade.

            ― E o que ele fez a respeito disso?

            ― Não sei se ele já fez alguma coisa, mas comentou sobre possibilidades de matá-la, de usá-la como refém, de vendê-la como escrava no Sul. Mas se fez algo, não sei.

            ― Inacreditável... Se já faz todo esse tempo, então a Scotland Yard já sabe, o Cão da Rainha deve saber também, devem estar atrás dela, se tem sangue nobre. Kakuzu está com um grande problema.

            ― Sim, está ― concordou de forma lacônica e levantou-se da poltrona. ― É, estou precisando ir agora, meu tempo hoje está curto.

            Orochimaru assentiu compreensivo e até mesmo aliviado, pois temia que se Hidan ficasse mais cinco minutos iria lembrar de outra notícia ruim para contar.

            Acompanhou-o até a porta e por coincidência Sasuke chegou a tempo de cumprimentá-lo na despedida.

            ― Aconteceu algo ruim? Ele parecia preocupado ― Sasuke indagou enquanto entrava em casa, tirando o casaco.

            ― Coisas acontecem, não te interessa agora... eu queria conversar com você, te perguntar algumas coisas ― comentou, estava bastante chateado, Hidan acabou com o bom dia que estava tendo. ― Vamos ao escritório ― ordenou, se seu dia já estava ruim, era melhor aproveitar o péssimo momento para, talvez, ficar irritado com rapaz.

            Sasuke apenas assentiu, mas Orochimaru o conhecia bem demais e conseguiu ver a expressão preocupada dele, um leve contrair dos lábios, um franzir na sobrancelha.

            Se está preocupado é porque está me escondendo algo, mas eu o ensinei a não mentir.

            Subiram as escadas e caminharam pelo corredor, pobre em decoração, até o escritório.

            Sasuke entrou atrás de Orochimaru.

            ― Sente-se, meu querido ― o tutor falou indicando a poltrona e indo sentar-se na sua.

            ― Sim, senhor.

            ― Faz tempo que não nos sentamos para conversar. ― Orochimaru começou.

            ― Sim, senhor.

            ― E você anda chegando tarde em casa. Sai para a UCL e volta tarde, discute com Kimimaru...

            Sem resposta, ele só estava esperando uma pergunta direta para responder, era sempre assim.

            ― Algo me diz que você está me escondendo alguma coisa. Encontrei você com um cigarro na mão na noite do baile, e você odeia fumar, fiquei curioso para saber o que lhe fez querer tragar.

            ― Encontrei um rapaz, senhor, nesta cidade bagunçada, cheia de fumaça e fria, encontrei alguém para poder me distrair, ninguém importante, afinal não preciso criar laços com ninguém nesse lugar temporário. Naquela noite eu fumei porque estava tendo problemas com ele.

            Orochimaru apoiou-se nas costas da cadeira. Aquilo era uma verdade muito mal contada, cheia de omissões. Não sabia se perguntava mais sobre o tal rapaz, ou se simplesmente se poupava de saber sobre a vida sexual do subordinado, algo que repudiava e reprimia, mas que tinha simplesmente aceitado ignorar, para dar a Sasuke ao menos uma válvula de escape. Afinal, não precisava de um assassino com problemas emocionais dentro de casa.             

            ― Não quero você chegando depois de meia-noite em casa.

            ― Sim, senhor.

            ― E não se envolva demais com quem quer que seja, não fará bem para nós se você tiver alguém com quem se preocupar além da gente.

            ― Sim, senhor.

            ― E se eu descobrir que esse rapaz está me atrapalhando, vou dar uma diversão a Kimimaru, sei que ele adora te deixar irritado.

            ― Sim, senhor.

            ― Bom, tudo bem, pode sair. Desça para o jantar.

            ― Sim, senhor.

            Sasuke levantou-se da cadeira e saiu do cômodo, fechando a porta atrás de si.

            Orochimaru recostou-se na poltrona e começou a sentir a cabeça ferver com tanta coisa para organizar, para pensar... Não podia deixar nada desandar.

            

 

                                                           ***

 

 

            Yahiko encarou o Conde de Buckinghamshire com surpresa e alarde.

            ― Lorde?

            O homem o encarou com um misto estranho de alívio e pavor. Yahiko não conseguiu entender muito bem o que estava acontecendo.

            ― Yahiko.... Yahiko... Deus é bom ― o Leão falou, olhou para trás por alguns segundos, então respirou fundo, olhou para trás novamente e, por fim falou: ― Venha, precisamos sair daqui o mais rápido possível. Onde fica a sua casa?

            ― Minha casa? ― Yahiko indagou sem entender o que estava acontecendo ao certo, o Conde começou a andar de forma bastante acelerada.

            ― Sim, sim.

            ― Daqui a duas quadras, senhor.

            ― Irei pernoitar em sua casa, vamos, ande logo, há demônios por aqui, atacaram minha carruagem, meu cocheiro... Luís... meus cavalos... Eu... eu preciso descansar, estou passando mal, Belgravia é muito longe, e a esta hora da noite, não, não. Voltarei para casa amanhã pela manhã.

            O rapaz estava desnorteado e surpreso, era muita informação, tudo parecia tão irreal, mas o Lorde não inventaria algo a respeito, não àquela hora.

            Acompanhando o passo do Conde Namikaze, chegaram rapidamente à pensão. Yahiko abriu a porta e levou o chefe para o quarto.

            ― É bem simples, mas espero que não se incomode... ― comentou enquanto subiam as escadas de madeira da sala que levavam ao primeiro piso.

            ― Não se preocupe ― o Lorde respondeu em um fiapo de voz.

            Yahiko o guiou pelo corredor estreito até a última porta à direita, então a abriu. O quarto era pequeno, tinha uma cama simples, uma cômoda para guardar suas roupas, um criado mudo e duas cadeiras encostadas na parede. O chão era de madeira velha e as paredes eram pintadas de branco. Havia um pequeno caqueiro com uma planta morta que ele mal lembrava que espécie era.  ― Pode entrar, senhor ― falou enquanto se dirigia para as quatro velas em seu quarto, acendendo-as.

            Quando terminou e olhou para o Lorde, viu-o sentado em uma das cadeiras da parede, as mãos enterradas no rosto. Nunca o vira assim antes, sentia-se preocupado.

            ― Irei buscar um jarro com água lá na cozinha ― avisou e saiu do quarto, esperava que desse para dar ao Conde um tempo de privacidade.

            Desceu as escadas com as sobrancelhas franzidas.

            O que será que aconteceu? Por que ele estava tão desesperado? E o que ele está fazendo em Londres sozinho, sem a carruagem, essa hora da noite...? Ele tinha dito que iria atrás de Da Silva no porto, hum...hum…será...

            ― Boa noite ― cumprimentou as pessoas que ceiavam na cozinha.

            ― Boa noite ― alguns responderam.

            Yahiko pegou uma jarra e a encheu de água, pegou dois copos e subiu.

            ― Dois copos? ― a senhora Davies indagou, curiosa como sempre. ― Trouxe alguma moça, meu jovem? Sempre achei que você era solitário demais, espero que seja uma boa jovem, ou é uma rameira? Acho que a nossa querida hospedeira não iria querer ter uma rameira aqui dentro da casa dela, eu acho...

            ― Senhora Davies ― Yahiko interrompeu constrangido. As pessoas ali já a conheciam, felizmente, mas ainda assim era vergonhoso ser acusado dessa maneira. ― Não tenho obrigação de me justificar para a senhora, peço que respeite minha privacidade ― pediu e se dirigiu para fora da pequena cozinha. Subiu as escadas e entrou no quarto.

            O Conde tinha retirado a casaca, aberto os botões da blusa e retirado os sapatos.

            Yahiko deu-lhe um copo com água e sentou-se na cama com outro. ― Se me permite perguntar... o que aconteceu?

            ― Minha carruagem foi atacada pelas criaturas, meu cocheiro desapareceu junto com um dos cavalos, o outro cavalo foi rasgado lá mesmo na carruagem. Eu saí da carruagem quando ela tombou para o lado. ― O Lorde Namikaze o encarou enquanto bebia a água. ― Foi terrível, eu senti que eu era uma presa, que tinha algo me farejando, algo vindo pelos lados, cada vez mais perto. Senti um pânico terrível, comecei a correr, e o mais estranho aconteceu, eu comecei a ouvir vozes conversando. ― O Conde se levantou da cadeira enquanto falava, gesticulando e parando em alguns momentos para fazer ênfases. ― Conversando! Não entendi nada do que falaram exatamente, apenas que me falaram para virar na rua em que eu te encontrei. Quando eu estava indo para tal rua, apareceram duas pessoas armadas, falaram para eu continuar correndo e passaram por mim na direção da carruagem... eu continuei correndo, agora estou aqui ― ele falou parando, colocou o copo vazio na cômoda e cruzou os braços. ― O que aconteceu? Talvez eu devesse ter voltado..., mas, não sei, meu corpo apenas queria sair dali.

            ― Não eram nenhum dos Caçadores?

            ― Não, creio que não, acho que eu os teria reconhecido.

            Yahiko franziu as sobrancelhas. ― Estranho. Bem... mas o senhor está se sentindo melhor? Quer mais água?

            O Leão assentiu e pegou o copo para que Yahiko enchesse. ― Sinto-me melhor. Preciso andar mais preparado, talvez eu não tenha a mesma sorte se acontecer novamente.

            ― Sim, é verdade.

            ― Vou mandar uma carta para os irmãos Senju amanhã quando eu chegar em casa, tem problema se eu dormi aqui?

            Yahiko negou com a cabeça, um pouco relutante, pois não queria dormir no chão. Suspirou internamente. ― Não, o senhor dorme na cama e eu posso dormir no ch...

            ― Ah, não, não, eu não gostaria de tirar o seu conforto, irei pagar uma noite aqui nessa pensão, sabe dizer-me se tem algum quarto vago?

            ― Sim, tem dois ou três eu acho ― respondeu com um certo alívio, sorriu para si mesmo.

            ― Excelente ― disse e apoiou-se na cômoda com o antebraço direito. ― Meu encontro com Da Silva foi um fiasco terrível, não deu em nada, ele não sabe, segundo ele...

            ― É, ele não diria se ele tivesse algo a ver com a situação.

            ― Sim, eu pensei nisso, vou pedir a Guther para que ele envie alguns informantes por lá.

            Yahiko concordou. ― E Zabuza... ele disse que não sabe de nada, mas... não sei, não confio muito nele.

            ― Bem, Yahiko, Zabuza está preso a um favor comigo, mas vou levar sua opinião em conta sobre ele. Todavia, ele é o que diz, ele é um assassino de aluguel, o problema dele é quem o contrata. Ele sabe que eu posso prendê-lo quando eu bem entender, mas ele está mais dentro do submundo do que eu, é uma boa fonte de informações e é um bom subordinado, por conta disso. Não consigo ver como seria positivo prendê-lo... ele não é a maior peste do submundo.

            ― Entendo. Aliás, ― Yahiko lembrou de repente ― tenho quase certeza de que a Scotland descobriu alguma coisa. Eu vi aqueles dois policiais plantados vigiando alguma coisa, nas várias vezes que passei por Westminster essa semana, não acredito que tenha sido mera coincidência.

            ― O que é sobrinho de Fugaku e o mais calado?

            ― Sim, sim, eles mesmo.

            ― Acho eles engraçados. Tão esforçados, já até pensei em chamá-los para trabalhar para mim, mas acho que Fugaku odiaria isso ― disse sorrindo de canto.

            ― Só seria algo a mais na lista de coisas que ele não gosta no senhor.

            O Conde assentiu e ambos deram uma curta risada.

 

            

                                                           ***

 

 

            Sasori não percebeu o quanto andou até encontrar um bar movimentado. Tenten em seu colo já estava respirando normalmente, balbuciava algumas coisas, parecia estar voltando a si.

            ― Vou comprar algo para bebermos. Você consegue ficar em pé? Pode se apoiar no meu braço.

            Ela assentiu e o jovem a colocou no chão, dando o braço a ela em seguida.

            ― Estamos parecendo um casal ― ela comentou, enquanto guardava as duas pistolas na bolsa.

            ― Só nós para sabermos o que passamos ― disse com um sorrisinho. ― Vamos?

            ― Vamos.

            Atravessaram a rua e entraram no estabelecimento. Conseguiram uma mesinha perto do centro que tinha duas cadeiras. Era um salão grande, espaçoso, bem iluminado. Tinha um palco pequeno onde havia algumas apresentações de dança.

            Ficaram ali por alguns minutos esperando um garçom.

            ― O que vocês estão fazendo aqui? ― uma voz feminina apareceu atrás de ambos, assustando-os.

            ― Konan? ― ambos falaram surpresos.

            ― Eu trabalho aqui, como dançarina e como garçonete.

            ― Ahh ― ambos falaram novamente. ― Senhorita, Konan, que bom vê-la, nós acabamos de passar uns maus bocados ― Sasori informou e começou a explicar o ocorrido.

            Konan escutou tudo com atenção, suas expressões transformando-se desde uma sobrancelha franzida, um olhar arregalado e uma mão na boca.

            ― Não acredito... que bom que vocês conseguiram matar ele, que bom que estão bem, deve ter sido terrível.

            ― Foi ― a senhorita Mitsashi respondeu com um sussurro.

            Konan sorriu para ela. ― Vou buscar algo para vocês comerem e beberem. Um instante.

            ― Não sabia que a Konan era dançarina ― Tenten comentou.

            ― É algo que vocês têm em comum.

            ― Sim, é.

            ― Como está se sentindo?

            ― Eu me sinto melhor, eu não sei porque fiquei daquela forma, eu senti tanto medo. Desculpe tê-lo feito me carregar até aqui, eu deveria ter sido mais forte.

            ― Não se preocupe com isso. Somos uma dupla ― ele falou. ― Eu tremi tanto que eu acredito que apenas os seus tiros acertaram aquela coisa.

            ― Eu não lembro muito bem o que aconteceu. Parece que tem um branco na minha mente.

            ― Eu comecei a tremer tanto, senti tanta adrenalina no meu corpo. Não consigo lembrar bem de tudo o que aconteceu também... é uma sensação estranha ― Sasori comentou observando as pessoas em movimento pelas mesas. A conversa ali e a música eram altas, chegava a ser reconfortante em contraste com a solidão da rua onde estavam. Ele agradecia também a iluminação e a quantidade de gente.

            ― Foi nossa primeira vez como Caçadores de fato.

            ― Foi, espero estar mais consciente da próxima vez.

            Ela assentiu. ― Eu também... olha, Konan já está vindo.

            ― Que rápida...

            ― Sim, mas que bom.

 

 

                                               ***

 

            Sasuke acordou meia-noite com o olho cego ardendo, sentou-se na cama assustado e se viu acordando novamente. Tinha sido um sonho.

            Suspirou pesadamente colocando a mão no olho, psicologicamente ainda sentia aquele terrível ardor.

            Então fechou os olhos e dormiu novamente.


Notas Finais


Espero que tenham gostado,
até o próximo ^^


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