"E de repente o cabra esperto
fica todo abestalhado
quando vê ela passando
a baba escorre de lado
perdido nos olhos teus
inté parece que Deus
tinha tudo planejado."
(Bráulio Bessa)
O loiro passava as mãos nos cabelos em desespero, mais um encontro que apenas lhe mostrou mais uma vez que nenhuma mulher ocuparia o lugar de seu amor. Locksley acalmou-se antes de entrar em casa sabia que sua pequena princesa estaria acordada esperando seu beijo de boa noite. O homem entrou e a primeira visão que teve foi a de sua irmã mais nova dormindo no sofá, o loiro viu a oportunidade perfeita de se vingar da irmã pelo encontro com a mulher mais superficial que havia tido o desprazer de conhecer.
--Para de babar nas almofadas! --O loiro gritou e a morena levantou assustada.
--Robin! Que merda quase me matou! Qual o seu problema?! --Ruby cruzou os braços abaixo dos seios.
--O problema é você tentando encontrar alguém para mim, esse que é o problema. --O semblante da mais nova mudou de tenso para preocupado.
--Foi um desastre? --Ela sentou novamente no sofá, o loiro acompanhou a mais nova sentando do lado oposto permitindo o azul de suas orbes cruzar com o verde dos olhos de sua irmã.
--Foi um desastre, maninha agradeço suas tentativas, mas acho que está escolhendo mal essas mulheres, Ruby você conhecia Meg, sabe o quanto ela era perfeita para mim, quero isso na minha vida e não uma mulher como essas que você me apresenta. --O mais velho falou jogando a cabeça para trás deitando-a sobre o braço do sofá. A morena olhou com tristeza para o irmão, entendendo o porque de nunca dar certo seus encontros, nunca houve uma mulher que passou de um jantar com Robin.
--Robin, você não pode fazer isso, sei que amava sua esposa, mas não pode procurar no mundo uma segunda Meg, você tem que aceitar a morte dela, já fazem cinco anos Rob, nunca vai conseguir se apaixonar por uma pessoa se ainda sente como se traísse sua mulher, não pode procurar alguém como a Meg, ela era única, assim como todos nós somos. --As orbes azuis desviaram do teto para retornar ao encontro com o olhar preocupado da irmã.
--Eu sei, você está certa, sinto falta da Meg e por mais que seja difícil, eu admito que todas as vezes que encontro alguém acabo não querendo conhecer mais a mulher porque no fundo quando chego nos lugares para encontrar a minha companheira… eu tenho a esperança de encontrar ela. --O amor verdadeiro é a força mais poderosa do mundo e Robin havia vivido isto com Meg, como poderia haver dois amores de sua vida?
Para o loiro a ideia de existir outro alguém perfeito para ele era completamente utópica.
--Pare de cobrar tanto delas Robin, Meg não era perfeita, você não é perfeito, por que as mulheres que eu encontro para você precisam ser? --Ruby segurou as mãos do irmão em forma de conforto, o loiro tinha lágrimas em seus olhos cor do céu.
--Eu apenas tenho medo Ruby. --O mais velho sempre viu sua pequena irmã como uma conselheira particular, alguém com quem ele sempre poderia contar, o vínculo entre eles sempre foi forte.
--Medo de…
--Se eu encontrar alguém, vai ser como fechar o ciclo que abri com Meg… eu não sei se estou preparado para deixar minha esposa partir…
--Robin… Meg partiu a muito tempo.
--Tudo bem, prometo que da próxima vez eu vou tentar, não vou comparar… mas não posso prometer que vou esquecer meu amor. --Ruby sorriu orgulhosa do irmão.
--Seguir em frente não significa esquecer os mortos Robin, e se amou uma vez deve se permitir tentar de novo.
--Vou tentar maninha, mas por enquanto vou ver minha loira favorita. --O mais velho levantou depositando um beijo na testa de sua irmã. Seguiu seu caminho pelo corredor até a porta cor vermelha com nuvens pintadas a mão, assim que abriu a imagem da pequena loira de olhos azuis brincando com seu coelhinho de pelúcia não o surpreendeu. --Lembro de ter dito para uma certa princesinha dormir cedo.
--Papi! Tava demolando. --A pequena correu até o pai e quase caiu da cama, por sorte o mais velho já estava próximo e conseguiu segurar sua pequena travessa.
--Epa moranguinho, cuidado. --Um sorriso instalou-se nos lábios finos ao ter sua miniatura nos braços. --Repete com o papai… "Demorando". --O loiro silabava para a pequena que ainda tinha algumas dificuldades com a fala aprender a pronúncia correta.
--De…Mo…Ran…Do… --A pequena falou lentamente ainda tentando assimilar a palavra. --Demorando papai, acertei?
--Acertou sim moranguinho, é a pequena mais inteligente que conheço. --Lia riu abertamente quando o pai apertou seu pequeno nariz. --Certo tampinha, está na hora de dormir. --Robin colocou Lia sobre a cama e cobriu seu pequeno corpinho com o edredom vermelho a cor favorita da pequena Locksley.
--Papai canta? --Os olhinhos azuis ganharam um ar "pidão" e os lábios cheios formaram um pequeno bico.
--Pedindo assim, como o papai pode dizer não? O que você quer que eu cante?
--Aquela que eu gosto. --O loiro sabia perfeitamente qual música sua pequena queria, Lia tinha muito da mãe por mais que não a tivesse conhecido.
--Então fecha os olhinhos que o papai canta tudo bem? --A mais nova fechou os olhos depois de dar um beijo na bochecha do pai e desejar boa noite. --Love me tender, love me sweet
Never let me go
You have made my life complete
And I love you so
Love me tender, love me true
All my dreams fulfilled
For my darlin', I love you
And I always will… --O homem cantava Love Me Tender de Elvis Presley perfeitamente, pois tal música era sua favorita e também de sua amada Meg. Após cantar o último verso a pequena havia dormido e o mais velho ligou o abajur do quarto e desligou a luz antes de sair do quarto branco e vermelho. Seguiu mais leve para o quarto de porta branca, suspirou antes de adentrar seu aposento, logo estava retirando as roupas que pareciam sufoca-ló. Após um banho quente e escovar os dentes Robin deitou na ampla cama de casal que agora não parecia ter sentido para ele.
A aurora estava de volta e com ela a rotina nada convencional do pintor, Locksley acordou cedo para fazer o café da manhã, sem dúvidas um café reforçado, apesar de não ser fã de legumes e hábitos saudáveis se preocupava com a saúde da sua pequena. Assim que terminou o trabalho na cozinha subiu para o quarto vermelho e branco para acordar a garotinha.
--Parece que tem um moranguinho acordado nesse quarto. --O loiro falou ao ver a pequena fingindo dormir, mas os olhos apertados exageradamente denunciavam a mentira. --Não adianta fingir mocinha, sei que está acordada. --O pintor começou a fazer cosquinhas, o pequeno corpo de sua filha se contorceu e a risada gostosa de Lia preencheu o vazio da casa como em todos os dias.
--Hahahaha Para papai… hahahahaha... Minha barriguinha tá doendo papa hahahaha. --O mais velho parou enchendo o rosto de Lia com beijos doces.
--Vem, vamos escovar os dentinhos moranguinho. --A pequena foi suspendida pelos braços do pai até o banheiro, Locksley colocou creme dental na escova e ajudou sua filha à escovar os dentes. Depois que Lia estava de banho tomado e dentes escovados ambos desceram para a cozinha, a pequena sapeca estava sentada nos ombros de Robin que simplesmente adorava ver sua bebê sorrindo alegre por se achar tão alta. Ruby não demorou a se juntar aos membros de sua família na mesa, as manhãs no lar Locksley foram assim nos últimos cinco anos, repletos de risadas, a pequena nasceu para levar luz a escuridão na vida do pai.
--Hora de trabalhar, beijo no papai? --Lia que estava sentada sobre a mesa ficou de pé e beijou a bochecha do pai e sorriu alegre. Robin não tinha uma rotina específica, seu trabalho dependia muito de sua inspiração e vontade, então sempre tinha muito tempo para sua pequena.
O loiro se dirigiu até o museu onde seriam expostas suas novas obras, o pintor gostava de estar por dentro de toda a organização, a arte era sua vida e zelava por ela.
--Bom dia Mégara. --Robin falou ao entrar no local do museu dedicado a suas obras, Hanna era uma mulher da idade do loiro, com cabelos negros e olhos da mesma cor, mas ela sempre variava a cor do cabelo.
--Bom dia Robin, ansioso? --A mulher perguntou sorrindo.
--Sempre, mais tarde vou cantar em um bar para relaxar, espero estar bem para a exposição de amanhã. --O loiro analisava suas telas ainda fora dos lugares.
--Por favor apenas não chegue bêbado amanhã. --Robin nunca foi exatamente o exemplo de sobriedade, mas desde que sua filha nasceu nunca mais havia tido um episódio catastrófico, ou pelo menos até uma semana atrás.
--Aquilo foi apenas um dia de muita dor para mim, achei que a melhor amiga da minha esposa entenderia. --O loiro falou saindo da sala. Hanna era melhor amiga de Meg e por associação de Robin, a mulher foi um grande apoio para o loiro após a morte de sua amada. O dia em questão seria o aniversário de casamento deles, o loiro desabou e acabou bebendo mais que o necessário, o problema foi que no dia seguinte havia um exposição e ele não compareceu.
O homem dirigiu até o local de descanso da sua amada, Locksley acreditava que o corpo era apenas um envoltório para a alma e que um dia encontraria ela linda e saudável como sempre foi. O loiro ajoelhou-se em frente ao túmulo e as lágrimas rolaram cortantes pelo rosto.
--Meg… eu preciso de você, não sei o que fazer, eu te amo, mas todos parecem esquecer o que vivemos, todos querem que eu te esqueça, mas como eu posso fazer isso?
--Eu disse, seguir em frente não significa esquecer os mortos. --Ruby surgiu atrás do loiro. --Mégara falou que saiu do museu atordoado, então vim procurar você.
--Eu estou bem. --Robin levantou-se secando as lágrimas e começando a caminha em direção a saída.
--Sei que não está Robin, é meu irmão, não pode mentir para mim. --O mais velho parou e virou para irmã antes de falar.
--Uma vez você disse que o tempo cura tudo, mas a cada ano que passa Lia sente mais falta de uma figura materna, a cada ano que passa eu sinto mais dor, a cada ano que passa eu sinto que nunca vou conseguir superar ela.
--Robin eu entendo…
--Não Ruby! Você não entende, então por favor me deixa sozinho! --Robin entrou em seu carro deixando a mais nova para trás. As ruas pareciam não ter fim então o loiro parou o carro próximo a um jardim geralmente usado por casais e grávidas para ensaios fotográficos. Ele caminhava por entre as diversas flores imerso em devaneios, o sol já estava no alto do céu e o artista admirava os girassóis em seus movimentos imperceptíveis ao seguir a grandiosa estrela, mas o loiro não parecia ser o único a observar a natureza. As orbes azuis encontraram a figura morena de costas que tocava com delicadeza as pétalas das flores, por um instante Locksley esqueceu-se do mundo ao seu redor, a pele morena refletia a luz do sol de uma forma sobrenatural, o donos dos olhos azuis poderia jurar que estava observando a aura da mulher. O loiro decidiu se aproximar, mas acabou pisando na beirada do carteiro de tulipas fazendo um breve barulho que não passou despercebido pela morena que virou para o lado oposto por um instante, Robin amaldiçoou o momento em que decidiu se mover, além de perder a visão da morena que saiu do campo em seguida também não conseguiu ver o seu rosto pois os cabelos negros cobriram quando ela virou. Frustrado Robin decidiu voltar para casa dispensar a babá e passar o dia com seu "moranguinho", pelo menos até a noite quando iria cantar em um bar. A música sempre relaxou o pintor e o dono do bar era amigo então viu uma oportunidade de relaxar e ajudar um amigo já que o cantor contratado para animar a noite havia cancelado.
Após uma tarde um tanto cansativa de brincadeiras contando que a pequena Lia tinha energia para dar e vender, Locksley vestiu uma roupa simples para ir ao bar, calça jeans escura, camisa de mangas curtas cor branca com a gola em "V", tênis e o relógio prateado. Pegou seu violão e afinou antes de ir para o "Bar dos sonhos" como se chamava o estabelecimento. O local não era longe, em oito minutos Robin estava adentrando o bar e cumprimentando o dono.
--Robin valeu mesmo cara, a namorava da minha irmã vem comemorar o aniversário da irmã dela hoje, prometi que teria música ao vivo, imagina como minha irmã ia ficar se eu estragasse o aniversário da cunhada dela?
--Hahahaha estaria encrencado, está me… --O loiro não conseguiu terminar a frase pois uma morena surgiu em seu campo de visão, agora podia ver seu rosto assim que ela entrou, o vento proveniente do lado de fora movia os cabelos negros e a morena sorria sem separar os lábios, no exato momento o cérebro de Locksley parecia ter entrado em curto, como pode ter tanta sorte duas vezes no mesmo dia?
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