História Encontro Marcado - De volta pra Casa

Ao entrar no carro, Luís se depara com as cartas de Vitória, que ele deixou sobre o banco de carona.  Ele desiste de dar partida. E pega a primeira carta.  É apenas um comunicado de Vitória dizendo ter algo importante a dizer e se ele gostaria de vê-la e fornece seu endereço…. Carta esta que ainda tem o carimbo de mudou-se, embora apagado pelo tempo.  Se lamenta pela carta que nunca chegou, mas ele não quer pensar nisso agora.  Então ele pega a segunda carta.. esta não tem remetente e nem destinatário… Curioso, começa a ler….

“ É madrugada… Mas a insônia me castiga e não consigo dormir. Nem sei porque estou fazendo isso. Acho que tenho me sentindo tão sozinha, tão preocupada que a razão se perdeu de mim...

Ah, Luis! Queria tanto saber onde encontrar você… Já tem um mês que nossa menina nasceu e você nem sabe de sua existência. Começo a pensar que nunca vai saber.. isso me enlouquece de angústia, só de pensar em criar a minha pequena sem o pai dela.

E já foi tão dificil chegar até aqui…..

Sabe o nome que escolhi? Acho que você gostaria de saber que a batizei de Ana Beatriz…. Ainda me lembro como você adorava esse nome…. Acho que ainda gosta.

E ela é tão bonitinha a danadinha. Tão parecida com você.  Se bem que aposto que você diria que ela se parece comigo. E até pode ser…  Mas os olhinhos castanhos são idênticos aos seus… Quando ela sorrir, quando ela me olha, é como se uma parte sua estivesse aqui, sorrindo pra mim, me dando força e o apoio necessário para prosseguir. Uma parte tão única, tão forte sua…  É como se ela fizesse questão de me lembrar de você, mantendo viva em mim a nossa história.

Sabe que as vezes a pego perdida, explorando tudo com aqueles olhinhos curiosos como se buscasse algo? Chego até a pensar que sente falta de alguma coisa, como se soubesse que falta uma pecinha no nosso xadrez. Eu sei, é tolice.  Culpe a minha saudade, ela me deixa insana... Não há nada no mundo que eu desejasse mais do que ter você aqui ao meu lado.

Eu sinto tanto.. tanto medo… Ela é tão pequenininha, tão frágil… E se eu fizer algo errado? Luís, por que você não está aqui? Como hoje… Ela chorou tanto, tanto.. que nem meu acalento era suficiente. Está tão chatinha para mamar… a sinto tão quentinha. Tenho medo que ela possa estar doente …. Ontem de madrugada ela nem acordou para mamar, e acho que hoje vai ser a mesma coisa….  Me sinto tão perdida…

Eu não tinha a imensidão do quanto você era importante para mim… Sempre sendo meu norte, o porto seguro. Você me fazia crer que tudo era possível. Com você o medo não existia…  E você não sabe a falta que me fez na hora de ter a nossa garotinha.

Foi tão doloroso, acho que todo mundo sabe disso. Mas só quem geriu pode ter imensidão dessa dor….. E Acredita que a teimosinha (sei que vai dizer que ela teve a quem puxar) não queria nascer de jeito maneira? Foram mais de  20 horas…. Eu gritei tanto por você… acho que ainda continuo a gritar!

Eu sei, sei que  você deve estar com outra família… Mas em momentos insanos como esse, prefiro acreditar que você estar em algum lugar a me procurar.  E um dia, você vai bater na minha porta… e em seus braços, finalmente vou sentir que estou em casa”

Com os olhos marejados, emocionado pelo que leu, Luis deu partida. Aquela carta lhe deu a certeza de que… ele não poderia abandonar Vitória novamente, muito menos agora, conscientemente.

Ele estaciona o carro, certo que apesar da hora, ela está acordada.. Ele toca a campainha e como aconteceu mais cedo, é Vitória que abre a porta.

O vestido está um pouco amassado, os pés estão descalços… Ela tem os olhos vermelhos de tanto chorar, a maquiagem já não pode mais esconder.

Ela parece surpresa, um tanto confusa em vê-lo, mas nenhum dos dois quebra aquele silêncio inicial

— Eu te amo – Ele abre os braços para ela que o abraça... como se fosse a única forma de sobreviver.

— Você está em casa... – ele diz ao seu ouvido – Faremos isso juntos –