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História Encröachment - Oh God, The Pull Of A Trigger


Escrita por: TheUnspoken

Notas do Autor


Olá, pessoas lindas! Cheguei mais cedo dessa vez, porque quero compensar a demora do outro capítulo, e agradecer pelos fucking 30 favoritos! Vocês são incríveis!
Fora isso, não tenho muito o que dizer, então, boa leitura <3

Capítulo 9 - Oh God, The Pull Of A Trigger


Meu coração parou. Seu tom de voz era realmente assustado, e sua expressão de incredulidade foi logo se transformando em um olhar frio e raivoso. Agora fodeu de vez.

- É melhor começar a explicar agora porquê caralhos está aqui. Rápido.

            Seu tom contido me arrepiou até o último fio de cabelo, mas não foi de um jeito bom. Me lembrei daquele Andy me ameaçando no quarto. Mas no momento, ele realmente tinha seus motivos. Eu era uma intrusa dessa vez.

- Andy... Eu... - tentei pensar numa mentira mais rápido o possível, porque o verdadeiro motivo de eu estar ali... Era coisa de mais, loucura de mais - Eu preciso falar com ela - apontei para Taylor, e ele me olhou incrédulo - Eu conheço ela - Acho que soei bem convincente, porque após analisar minha expressão, a de Andy se tornou assustada.

            Mas no fim, o que eu havia falado não era uma mentira. Eu conhecia, sim, Taylor Scout. Já sabia algo sobre ela que muitas pessoas, ou talvez ninguém, soubesse. A parte omitida ali, era que ela não me conhecia.

- Isso é verdade? - Olhou em meus olhos, franzindo o cenho e com os olhos arregalados. Assenti, firmemente - Mas como?

            A confusão e o desespero eram claros, tanto em seu rosto quanto em sua voz, que saira sussurrada, rouca e trêmula. Não sei o que ele pensava sobre eu conhecer Taylor. Talvez ele achasse que ela escondesse algo dele. Mas por algum motivo, sentia que tudo em sua cabeça apontava para Taylor. Culpava apenas a ela, quando ela era a mais inocente nessa sala. Ouvi a porta batendo, e percebi que a enfermeira tinha entendido que aquilo era bem particular. E eu, apenas esperava o que minha intuição vinha a me dizer: ele terá um surto. Raiva. Muita raiva. Respire, porque você provocou o deslizamento e vai ter que aguentar a queda.

- Andy... Eu realmente queria te contar tudo o que está acontecendo - minha voz estava trêmula, e o olhar suplicante de Andy, um tanto escondido atrás dos cabelos negros, demonstrava um sentimento que eu conhecia muito bem. A vontade de saber. De entender. Entender porque ele havia perdido a namorada para loucura, e porque a culpa parecia ser apenas dele. E eu realmente queria ajudar, mas agora era hora de ser forte e ter sangue-frio ao menos uma vez na vida -. Você tem total direito de entender tudo. Eu sei o que está sentindo, e não queria ter que te fazer passar por isso, mas por enquanto, é bem melhor não saber de nada. Para você, e para todos que te rodeiam.

            Disse tudo de forma bem clara. Não contei nenhuma mentira ali. Apenas não revelei a história inteira, e era melhor assim, pois no final, mentiras sempre causam complicação. Karma é uma vadia, não?

            Mantive o olhar fixo em Andy. Sua expressão não era nada boa. A raiva começava ase mostrar em seus olhos, que estavam intensamente azuis. Podia ouvir seus pensamentos querendo sair, ele parecia gritar. Por que não posso saber? Ela era minha namorada, eu mereço saber tudo sobre ela! Você não tem direito de saber mais do que eu. Toda a sua raiva direcionada a um único ser vivo. Provavelmente, o que estava menos preparado para o impacto do seu ódio. Eu.

            Biersack se levantou, e por um segundo, vi algo que me fez tremer: vi asas se erguendo atrás dele. Asas negras, enormes, de parede a parede. Vi um demônio me encurralando, senti medo. Me senti uma simples presa, e a forma como isso refletiu em mim foi sinistra, como um soco, me deixando desnorteada, quase me derrubando, mas ainda assim, consciente do que estava acontecendo. Pisquei, atônita, e elas não estavam mais lá, porém Andy se aproximou. Com apenas dois passos dele e um recuo meu, ele me alcançou, e, em menos de um segundo, senti um ardor no lado esquerdo do meu rosto, e caí no chão, os cabelos sobre o rosto, olhando, incrédula, os coturnos de couro a minha frente. Biersack havia me batido. Com força.

- Você realmente acha que tem o direito de esconder uma coisa desse tipo de mim? - Ele falou baixo e ameaçador, extremamente claro, e contido.

            Tendo o meu silêncio como resposta, tanto porque eu não sabia o que responder, tanto por eu não conseguir formular nada, os coturnos se moveram, e eu senti uma mão em minha nuca. Andy me ergueu pelos cabelos, me fazendo olhar em seus olhos. Eu não falava nada, apenas o encarava, com medo. Isso estava mesmo acontecendo?

            Enquanto ele me encarava, o susto inicial foi passando, e, como eu sempre faço, tento parecer não ter medo de quem me ameaça. Senti uma vontade enorme de cuspir naquela carinha linda.

- Fale. Agora. - Disse firme e pausadamente.

- Chupa meu pau - respondi, tentando me libertar, o que só o fez puxar com mais força.

            Ouvi uma risada baixa e cruel, e me senti arremessada. Andy me jogou para o lado e foi em minha direção.

- Drizzle, você não vai querer se meter comigo - ergueu minha cabeça, até delicadamente, me fazendo olhar em seus olhos -. Não pode esconder algo assim de mim. Você entendeu o quanto ela significa para mim.

            Isso me partiu o coração. Realmente, ele ainda a ama. E claramente, não vai hesitar me espancar para conseguir qualquer coisa que possa ajudá-la a ser sua garota novamente. Ele me olhava, um tanto piedoso, com as sobrancelhas juntas, esperando uma resposta. Mas ele não a teria, porque já havia soltado sua raiva. Era minha vez.

Cuspi no seu rosto. Biersack soltou um suspiro cansado, enquanto limpava a face, com uma raiva contida que podia ser sentida a quilômetros de distância.

- Desculpe por isso, Drizzle, mas você quem pediu.

         Ele estava prestes a me bater novamente. Vi sua mão entrando dentro de sua jaqueta e retornando com um soco inglês. Estremeci ao ver que eu estava prestes a levar um soco bem doído, então apenas fechei os olhos. Mas quando sua mão se erguia acima de mim, quase descendo, uma voz lenta e cansada cortou o silêncio frio do quarto.

- A-andy... - a voz vinha da cama. Taylor havia acordado, e provavelmente lutava contra o sono causado pelos sedativos excessivos.

            Biersack me soltou imediatamente e correu para a garota. Ao vê-lo, com suas vestes negras e o soco inglês na mão direita, ela estremeceu. Mas eu sabia que não era por isso. Sabia o que ela via, e entendi perfeitamente o porquê de seu medo. Entendi agora, porque ela o chamava de demônio e entrava em pânico. Ele realmente era um. Ou ao menos podia ser um quando queria.

- Taylor... - Andy murmurou, os olhos marejados, olhando a morena, que encarava o teto, como se não quisesse olhá-lo - Taylor, eu achei que nunca mais falaria comigo.

            Seus olhos marejaram, e por mais que eu tivesse a obrigação de estar com raiva dele, eu senti pena. No fundo, por mais que meu rosto queimasse e minha nunca ainda doesse muito pelo puxão, eu queria consolá-lo. Mas não vou ser tão fraca assim, então apenas observei os dois, a mão sobre o local do tapa, tentando aliviar a dor.

- Andy, me deixe falar com ela - Taylor murmurou, lentamente.

            Os olhos de Andy se arregalaram, com uma surpresa tão grande quanto a minha. Ele olhou para mim com uma fúria avassaladora, e por mais que por dentro, eu estivesse me cagando, dei um sorriso debochado. Eu sou uma confusão muito grande. Sinto pena de quem deveria sentir raiva e debocho de quem me deixa com medo. Essa sou eu, prazer.

- Mas Taylor... - antes que Six continuasse, o olhar dela encontrou o de Andy, e ela manteve uma expressão séria. Andy abaixou o olhar e sem dizer nada, se levantou e me encarou pela última vez, pelo canto do olho. Entendi o que ele queria dizer. Sabe quando sua mãe diz “depois a gente conversa”? Foi bem isso. Então ele saiu e bateu a porta.

            Eu não sabia bem como prosseguir. Eu fiquei em pé e me recompus, colocando a mão sobre o lugar do tapa por alguns segundos. Então caminhei e me sentei na poltrona em que Andy estava. Scout não olhou para mim em nenhum segundo. Manteve o olhar no teto, sem expressão. Parei para observá-la, e realmente, ela era linda. Os cabelos castanhos caindo sobre os ombros e os traços delicados de seu rosto. Imaginei como ela era antes de entrar na clínica. A pele, provavelmente com mais cor, e não pálida. Os cabelos mais bem cuidados. Brilho nos olhos.

- Você também viu? - Perguntou, continuando com o olhar no teto. Seu tom não era mais dopado. Ela estava bem acordada. Aquilo fora apenas fingimento. E bem convincente - Você também vê?

            Seu tom não expressava nada. Não haviam sentimentos naquelas palavras. Ou ela os escondia, ou estava vazia.

            Decidi que esse era o momento de colocar o treinamento em prática. Fechei os olhos, e desejei ver os dois planos. Alguns segundos depois, os abri novamente. Tudo parecia normal. Até que olhei para onde Taylor olhava.

            Havia um círculo de podridão no teto. Apenas um círculo, marrom e mofado. Úmido, parecia que algo estava prestes a sair. Bem no meio dele, uma gota escura parecia prestes a pingar.

- Sim. Eu vejo tudo o que você vê. Não está tão sozinha.

            Disse tudo calmamente, com o olhar fixo na gota. Taylor se virou para mim imediatamente, os olhos arregalados.

- Então... isso tudo... é real? - Seus olhos marejavam. Aquilo a consumia por dentro, eu sabia. Ela precisava de alguém para dizer que estava tudo bem.

- Não se preocupe, Taylor - a gota, ao contrário do que eu esperava, escorreu pelo teto, como se a gravidade a atraísse para a parede. Era um líquido negro, quase como se fosse a forma pura da podridão -. Eles não vão te fazer mal.

            Realmente, não iriam. Ela não era pura. Já fora de alguém. Havia sido de Andy. Não tinha a pureza necessária para eles.

- Você não é pura. Eles não vão encostar em você. O máximo que vão fazer é te observar - uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha. Ela então secou as lágrimas teimosas, e começou a rir.

            Ela ria muito. Gargalhava alto ali. Senti um calafrio com seu olhar insano. Ela podia rir muito, mas seu olhar continuava inexpressivo e frio.

- Você é louca - ela continuava rindo -. Ninguém vê nada disso. São meus companheiros. Eles brincam comigo quando estou sozinha - olhou em volta, rapidamente, procurando por “eles” - Venham, amigos!

            Taylor abraçou as próprias pernas, balançado para frente e para trás.

- Taylor... Eles...

- Eles vão vir - ela me interrompeu -. Eles sempre vêm - Ela agora me olhava nos olhos, com um sorriso gigante e insano, e nenhum brilho nos olhos.

- Sim, eles virão - concordei firmemente, com uma força que eu não sabia ter, fazendo-a se encolher -. Mas eles não farão nada com você. Eles não precisam de você. Não tem que se preocupar com nada disso - seu sorriso sumiu, as lágrimas enchendo seus olhos novamente -. Você não precisa estar aqui. Apenas acredite em mim, e você poderá voltar para o Andy - dizer aquilo doeu, mas eu queria ajuda-la. E não tinha opção melhor. E acho que Andy já deixou bem claro que não gosta de mim. Ele só quer a Taylor. Mas ainda assim, não estou fazendo isso por ele. Antes, era sim, parcialmente, uma atitude para a felicidade de Andy, mas depois do que ele fez, não há perdão.

            Assim que terminei de falar, Taylor arregalou os olhos e se encolheu no canto em que a cama se encontrava com a parede, abraçando os joelhos, com medo, tremendo.

- Andy não... - ela murmurava, olhando para o nada, roendo as unhas - Andy não... Andy não... Demônio - ela pronunciou a última palavra me olhando com os olhos arregalados.

- Andy não é um demônio - falei sem pensar. Era triste vê-la naquela situação. Com medo de quem a amava - Ele é apenas um anjo. Um anjo que caiu - disse em um tom mais calmo.

- Mas... Ele te bateu - ela se aproximou de mim, quase como um animal acuado, e passou a mão pela lateral esquerda do meu rosto, que provavelmente estava vermelha - Ele é um monstro.

- Não, ele não é um monstro - segurei sua mão, colocando-a sobre o colchão, enquanto ela me olhava como uma criança curiosa - Ele só ama você. E faria tudo para te ter de volta - Ela franziu o cenho, virando a cabeça para o lado.

- Mas eu não amo - respondeu, um tanto confusa -. Por que ele ama alguém que não o ama?

- ... - suas palavras me assustaram por um segundo. A loucura era clara nela. Ela parecia prestes a chorar, rir, gritar ou me matar a qualquer segundo -. Porque não é possível controlar o amor.

            Ela ergueu as sobrancelhas, pensativa. Pensei em Eros. O que ele pensaria sobre Taylor? Reparei então, no quanto ele e Andy eram parecidos. Perderam quem amavam para a loucura. Para a mesma loucura.

            Repentinamente, Taylor começou a ficar ofegante. Ela se sentou no canto da cama, na parede novamente, abraçando os joelhos fortemente. Ela respirava como se o ar do quarto fosse acabar. Só então reparei: ela tentava segurar o choro. Seus olhos marejavam, e lágrimas teimosas escorriam por seu rosto.

- Por que está segurando? - Questionei, inexpressiva.

- Segurando o que? - Ela me olhou, com os olhos arregalados, as olheiras evidentes com o rosto molhado.

- Não precisa segurar. Pode chorar. Eu sei que está doendo. Eu sei que está difícil. Chore tudo o que você tem para chorar.

            E após alguns segundos me encarando, ela abraçou o travesseiro e gritou. Gritou muito. E chorou. Chorou como nunca havia visto ninguém chorar. E após alguns minutos de lágrimas que pareciam infinitas, Taylor estava deitada, ela segurara minha mão por vontade própria, e parecia escrever coisas no ar com o dedo indicador, fungando, as últimas lágrimas caindo.

- O que está escrevendo? - Perguntei calmamente, acariciando seus cabelos.

- Eu quero lembrar que conheci alguém que não diz que sou louca - ela sorria olhando para as palavras invisíveis -. Alguém que também vê eles.

            Ficamos em silêncio por alguns segundos. Olhei para o teto. O líquido preto parara de escorrer, mas deixara um rastro negro no teto. Decidi então que eu não precisava mais ver os dois planos. E então, quando pisquei, a mancha não estava mais lá. Eu me sentia um pouco cansada, mas não da forma como estive na primeira vez. Era suportável.

- Qual seu nome? - Ela parou de escrever, mas continuou olhando para o nada, ou para suas palavras invisíveis.

- Drizzle.

- Que bonito - ela sorriu, como uma criança -. Vem de “garoa”, não é?

- Acredito que sim - sorri também. Era como uma criança. Ela claramente tinha um humor instável, e nesse momento, ela parecia muito com uma criança, vendo beleza em tudo.

- Por que... - começou, hesitante - Por que Andy caiu? - Ela se virou para mim, com uma expressão de dúvida. Eu suspirei.

- Eu não sei - confessei -. Mas acho que ele gostava de alguém. Gostava muito. Por isso não podia ficar no céu.

- E gostar muito de alguém é errado? - Ela franziu o cenho. Suspirei novamente, pensando no quanto poderia ser certo e errado ao mesmo tempo.

- Não. Não é errado. Mas os anjos não podem amar.

            Taylor não respondeu nada. Ficou quieta, voltando a olhar para o nada. Até que segurou meu pulso levemente.

- Drizzle - olhei para ela - ele vai te fazer algum mal? - Nem precisava dizer quem era. Eu sabia.

- Honestamente - respirei fundo - não sei.

- Ele está vindo - começou a se encolher - Eu tenho medo. As asas... Não...

            Ela se encolhia, e eu apertei sua mão com força, dando confiança. Ela se calou e fechou os olhos. A porta abriu. Ele entrou, silencioso.

            Sem pronunciar nenhuma palavra, se sentou ao lado de Taylor, na cama. Não ousei olhar em seus olhos, mas sabia que me olhava. Também sabia que ele notara que Taylor apertava a minha mão, tensa.

- Você falou com ela? - Sua voz quebrou o silêncio; baixa, rouca e fraca.

            Não queria falar com ele. Estava com raiva. E adivinhe? Meu rosto ainda ardia.

            Então apenas assenti.

            Em silêncio, ele olhou para ela por alguns segundos, nos quais me atrevi a olhar em seus olhos. Sua franja os cobria quase que completamente, e ele parecia bem mais calmo agora. Meu coração parou quando uma lágrima solitária rolou por sua bochecha, mas ele a limpou rapidamente, voltando a olhar para mim, um tanto acuado.

            Lentamente, quase em câmera lenta, ele começou a levar uma mão, trêmulo, até meu rosto. Eu tentei recuar, mas ele continuou. Quando sua mão tocou o lado que me batera, senti uma corrente elétrica se espalhar dali por todo meu corpo, enquanto meus músculos se retesavam, nervosos.

            Seu polegar acariciou lentamente minha bochecha, enquanto ele me olhava com as sobrancelhas unidas, em uma expressão indecifrável.

- Por que eu fiz isso? - Pareceu perguntar mais para si mesmo do que para mim.

- Porque você é um idiota - tirei sua mão de meu rosto, desviando o olhar para Taylor, que parecia dormir tranquilamente. Acredito que ela realmente tenha caído no sono, porque o aperto em minha mão afrouxara.

            Andy suspirou, triste. Estaria ele arrependido? Pouco provável. Por alguns segundos, ele apensa encarou Taylor. As feições dela estavam extremamente tranquilas, talvez sonhando com seu Andy antigo. Aquele que não lhe parecia um demônio.

            Andy estendeu uma mão em direção a Taylor. Se aproximou do rosto dela, como fizera comigo, mas a centímetros de distância, recuou. Parecia ter medo de machucá-la, ou apenas de a acordar, e trazer os gritos de volta.

- Estou indo embora - falou, se levantando, em um tom frio -. Você vem comigo?

            Definitivamente, não queria ir com ele. Mas eu tinha outra opção?

            Não respondi nada. Apenas apertei levemente a mão de Taylor, e para minha surpresa, ela retribuiu. Acho que fiz uma amiga.

 

(...)

 

            O cheiro dele. Era esse o cheiro espalhado pelo carro. O perfume de Andy estava impregnado por todo o veículo, me embriagando. Cheiro que bagunçava meus sentidos, me preocupava e me relaxava ao mesmo tempo. E eu não podia perder a consciência ali.

- Você não é menor de idade? - Perguntei, fria, enquanto Andy girava a chave.

- Sou - respondeu no mesmo tom, e a viagem começou.

            Eu não queria falar nada, mas o silêncio entre nós tinha milhões de palavras engolidas. O barulho da chuva fraca que começava a cair se misturava com o do rádio ligado, tocando uma música qualquer, a qual nem fiz questão de tentar me lembrar qual era. Eu me encolhi no banco, abraçando o moletom, com frio.

- Você vai mesmo ficar com raiva de mim? - A voz grave cortou o silêncio.

- Vou.

- Qual é, Drizzle - me olhou pelo canto do olho -. Eu estava fora de mim. Não queria ter feito aquilo.

- Mas fez.

- Mas estou dizendo que estou arrependido! - Esbravejou.

- Não me importo. Um grande foda-se para você.

            Andy murmurou mais alguma coisa, indignado, a qual não fiz questão de ouvir. O resto da viagem se seguiu silenciosa, apenas o som triste da chuva fraco nos acompanhando. Estávamos andando por uma estrada cercada de pinheiros, e eu apenas apoiava a cabeça no vidro, observando o vidro levemente embaçado, as gotas de chuva, a estrada e as árvores ao mesmo tempo.

            Até que vi algo. Como uma senhora parada na chuva. O carro passou quase que lentamente por ela. Vi seu rosto. Um sorriso cruel, e olhos fixos em mim.

            Não me assustei. Já vi muitos deles assim. Querem me assustar. Querem que eu grite e faça o motorista perder o controle do carro. Querem sangue e morte. Mas não sou tão idiota. Apenas ignorei, até que acabei caindo no sono.

 

(...)

 

- Drizzle - alguém me sacudia levemente, tentado me acordar -. Qual é, eu não acordar as pessoas delicadamente... - Murmurava, embaraçado - Drizzle! - Me sacudiu com um pouco mais de força.

- Que é? - Esfreguei os olhos, confusa, o cara do rádio falava alguma coisa, mas eu não entendia nada, por causa da chuva.

- Chegamos - apontou para minha casa, e eu semicerrei os olhos, olhando pelos vidros de filme escuro.

-Obrigada - já estava prestes a sair do carro quando Andy me segurou pelo pulso, como se pedisse um instante. Nem me virei para olhar em seus olhos - O que você quer?

- Eu... - Parecia estar um pouco envergonhado - Ah, merda... Me desculpa?

- Você me dá um tapa na cara, quase arranca meu cabelo, e por muito pouco, não me espanca com um soco inglês, e espera que um pedido de desculpas me faça sorrir e dizer que não foi nada demais? - Esbravejei, olhando em seus olhos, enquanto ele desviava o olhar para os bancos traseiros.

- Eu sei que fiz merda, mas caramba, você sabe como eu me sinto em relação a tudo o que acontece com ela! - Se explicou, olhando para mim, de uma forma impaciente e suplicante. Eu estava prestes a responder, mas ele me intrometeu -. Por favor não fica brava, eu quis fazer isso a viagem inteira - antes que eu pudesse pensar, senti seus lábios me convidando para um beijo.

            Eu tentei, juro que tentei recuar e afastá-lo no começo, mas ele me envolvia, o seu cheiro me engolia, suas mãos me puxando pela cintura me impediam de sair, e seus lábios, doces, com um leve gosto de nicotina misturado, eram aveludados, macios e venenosos. Não conseguiria recusar nem que quisesse um veneno tão maravilhoso. Quando ele pediu passagem, eu já estava mole, e já havia perdido o controle de mim mesma.

            Havia desejo naquele beijo, definitivamente. Mas eu sentia que haviam também palavras caladas. Tudo o que nós dois engolíamos, e nos recusávamos a dizer estava ali. O pedido de desculpas dele estava ali. Assim como o meu, por não contar o que ele merece saber.

            Andy começou a se aproximar, colocando uma perna entre as minha e acariciando minha nuca. Então, quase que propositalmente, Sweet Dreams, Marilyn Manson, começou a tocar no rádio, abafando o som da chuva. O ritmo lento e provocante me arrepiava tanto quanto as mãos de Andy passeando por minha cintura e bagunçando meus cabelos.

            Senti o banco que apoiava minhas costas descer, e eu ficar deitada com Andy sobre mim. Suas duas mãos estavam em minha cintura, me apertando, enquanto as minhas estavam passeando do seu peito para sua nuca, e dali para seu cabelo, sentindo o quanto eram macios.

- Me desculpa, Drizz... - murmurou em meu ouvido, a voz rouca. Me arrepiei com aquilo, e mordi o lábio tentando não ser tão facilmente vencida, tentando afastá-lo, tentando encontrar forças para recusar aquelas carícias. O nosso trato? Tinha ido pro caralho. Eu e ele sabíamos que isso não duraria, e não adiantava tentar reafirma-lo. Aquilo eram só palavras para convencer a nós mesmos de que não nos precisávamos. Mas isso era uma mentira, por que eu achava o corpo dele sobre o meu bastante necessário - Drizzle... Não vai acontecer novamente...

            Após sussurrar a última frase, Andy lambeu meu pescoço de baixo para cima enquanto apertava minha cintura e a forçava contra o banco com um pouco de força, me transportando para outra dimensão. Aquilo doeu um pouco, sim, mas não queria que parasse.

            Eu estava prestes a esquecer de tudo e dizer que o desculpava, mas algumas batidas no vidro me impediram. Tão assustado quanto eu, Andy se levantou rapidamente e arrumou o banco, se sentando no seu lugar, enquanto eu me recompunha e arrumava meu cabelo, tentando parecer normal.

- Drizzle? - Ouvi a voz de minha mãe do lado de fora do carro, tentando ver através do vidro, que graças a Deus ou ao Diabo, era de filme escuro, e impossibilitava a visão. Abri o mesmo, com o fôlego recuperado, me deparando com minha mãe, com um guarda-chuva, me olhando confusa e preocupada - Por onde andou?

- E-eu... - comecei a gaguejar sob o olhar avaliador de minha mãe. Espíritos me encarando na estrada não me assustam como ela.

- Ela ficou para ver o ensaio da minha banda, e como estava chovendo, eu a trouxe de volta - Andy, respondeu, despreocupado, acenando descontraído para minha mãe.

- Ah, Andy! - Sua expressão se suavizou imediatamente - Você tem uma banda? - Ergueu as sobrancelhas, e Andy assentiu, sorrindo - Incrível! Espero poder ir um show de vocês - ela sorriu, animada, antes de se voltar para mim - Drizzle, eu vou entrando, estou fazendo o jantar, já são 18:26. E Andy, se quiser ficar para jantar conosco, não sinta vergonha, querido.

- Ok, pode deixar - sorriu, assentindo. Já falei que isso é sinistro?

Minha mãe caminhou calmamente pela chuva fraca, com o guarda-chuva, e entrou. Só então, me virei para Biersack.

- O que você fez? - Esbravejei, me referindo ao beijo.

- Te ajudei a escapar da sua mãe. Não mereço um obrigado? - Sorriu de canto, convencido.

- Não estou falando disso - murmurei entredentes, tentando manter a calma e não espancar aquele rosto perfeito.

- O que houve? - Se fez de desentendido, e eu o olhei, com cara de bunda - Ah, claro, o beijo - fingiu ter se lembrado apenas agora. Revirei os olhos e ele sorriu, extremamente malicioso - Não gostou?

- O-o que? - Me afastei, ou ao menos tentei me afastar, enquanto ele me encarava de perto, impedindo que me concentrasse em qualquer coisa que não fosse ele - N-não é isso - por que caralhos estou gaguejando?

- De qualquer forma espero que tenha me perdoado - se aproximou mais, e eu me arrepiava um pouquinho mais com sua voz próxima -. Eu te salvei de uma. E, diga a sua mãe que não posso ficar para jantar, pois meus pais me aguardam.

            Eu não respondi. Só me virei para sair correndo dali o mais rápido possível, mas quando fechei a porta, prestes a correr loucamente para minha casa e tentar processar as coisas de forma descente, fui puxada novamente para dentro, ficando com metade do corpo parrado pela janela.

- Ainda não - sussurrou, antes de me dar um selinho demorado -. Agora sim. Até, Drizz.

            Fiquei ali na calçada, olhando atônica o seu carro se afastar, mas seu cheiro e seu gosto ficarem. O que aconteceu? Primeiro ele me bate, depois ficamos sem falar um com o outro, e então estamos nos pegando em frente à minha casa e nos despedindo com selinhos? Alguém, por favor, me dê o manual de instruções desse cara? Acho que algo não está certo.

            Mas ao menos, eu havia conseguido a confiança de Taylor, creio eu. Tê-la ao meu lado parecia algo essencial. Eu ainda não sabia exatamente o porquê, mas acreditava que ela poderia ser importante. E esse não era meu único motivo. Minha necessidade de ajudar era maior do que o senso de responsabilidade as vezes.

            Só que por enquanto, eu só quero comer até me empanturrar, e dormir. Dormir muito, porque estava física e mentalmente cansada. Então, quando acordar, pensarei em como lidar com Biersack amanhã, isso se eu acordar. O beijo que ele me deu... Foi como se apontasse uma maldita arma para minha cabeça. Só falta apertar o gatilho.

 

 

 

“Você me deixou violar você

Você me deixou profanar você

Você me deixou penetrar você

Você me deixou complicar você

Ajude-me

Eu quebrei meu interior

Ajude-me

Eu não tenho alma para vender

Ajude-me

A única coisa que funciona para mim

Ajude-me a fugir de mim mesmo

Eu quero foder você como um animal

Eu quero sentir você por dentro

Eu quero foder você como um animal

Minha existência inteira é falha

Você me aproxima de Deus”

Asking Alexandria


Notas Finais


E aí? O capítulo tá uma merda ou tá aceitável?
Beijos da July º3º


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