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História Encruzilhada - Capitulo III


Escrita por: Mira-a

Capítulo 3 - Capitulo III


 

Encruzilhada

Por ~ Mira-a

 

Caminhos para os estreitos.

Macedônia.

400 a. C.

 

                Como esperado, Itachi reclamava sem parar, fazendo com que a cabeça enfermada de Sasuke latejasse em novas dores a cada palavra berrada pelo irmão. Não apenas Itachi sabia do ocorrido na noite de núpcias, como o próprio Taros.

                Diferente do imaginado, o rei não exigiu uma conferência a portas fechadas com o príncipe da Pérsia, e sim, com sua filha. Horas haviam se passado, os guardas haviam sido dispensados da sala do trono e dois dos filhos de Taros guarneciam a porta, enquanto apenas Hidan, o mais velho dos homens, tivera permissão de entrar.

                Itachi usava com fervor esse tempo de espera para deixar claro o quão decepcionado estava, o quão decepcionados seus pais ficariam ao saber daquele ocorrido. Sasuke não era mais um jovem, possuía mais de 30 anos e era esperado que ele agisse como homem. Em nenhum momento seu irmão esperara por tais ações e o que parecia deixa-lo mais enervado era o fato de que Sasuke não demonstrava mínimo arrependimento.

— E ainda quer levar a mulher. Você sabe o que isso custou? Eu tive que a comprar Sasuke, e me custou muito caro. O que dirá a sua esposa quando ela souber que invés da serva que escolheu para ir com ela para nosso país, ela será acompanhada pela mulher com quem você dormiu na sua noite de núpcias? Que tipo de homem você se tornou? — Itachi tocou a própria face, buscando tranquilidade — estamos tentando evitar uma guerra Sasuke, não provocar uma.

— Não pedi que substituísse as servas, apenas que garantisse que a que escolhi fosse junto. E quanto lhe custou, ficarei feliz em ressarci-lo irmão. — Aquelas pareciam ser as únicas coisas a qual Sasuke deu importância.

                Itachi o olhou com ódio, como a muito não fazia. Era o mesmo olhar que o irmão lhe despejava quando eram crianças e Sasuke fazia algo muito errado. O olhar que precedia uma surra. Há quanto tempo ele não era surrado por Itachi?

— Cale sua maldita boca, antes que eu esqueça que você já é um homem crescido e lhe ensine bons modos.

                Dito isso, saiu do quarto onde Sasuke estava, encontrando porta afora com a tal criada que vinha acanhada preparar o banho do novo senhor. Itachi não teve dó dela, como sabia que o irmão havia tido, porque toda a dó que ele podia sentir fora direcionada a sua cunhada.

               

[...]

 

                Não conseguiram partir antes do meio dia, então todos tiveram que compartilhar da refeição mais amarga de suas vidas. Sakura sentada ao lado de Sasuke respirava lentamente, movia-se com sutileza e comera pouco.

                Alexia direcionava olhares feios ao cunhado e olhares piedosos a moça que tão carinhosamente já chamava de irmã. Itachi tentava manter as aparências ao passo que Hidan devorava os pedaços de frango com tanta fúria que chegava a assustar as criadas.

                Os outros irmãos e irmãs de Sakura pareciam pouco ligar para situação, os dois homens mais entretidos em beber e as duas mulheres a dar risadinhas.

                Taros desempenhava o mesmo papel que Itachi, fora o fato de direcionar olhares mortais tanto para a filha quanto para o genro.

                Antes de partirem, Taros finalmente foi ter com Sasuke, não mais que poucas palavras. E nenhuma delas relacionadas ao incidente.

                A serva que deveria partir com Sakura também estava presente na despedida, os olhos avermelhados e inchados pelo choro recente. Ela entregou um pequeno baú a jovem e lhe segredou algumas coisas, as quais Sakura devotou grande atenção. Entregou o baú para um dos carregadores e disse-lhe que aquele deveria ir junto dela na carruagem.

                Não houve um caloroso abraço entre elas, mas, Elis segurou firmemente as mãos de sua princesa e disse que faria todos os dias petições aos deuses em seu favor.

                O povo ainda festejava quando partiram, Sakura conseguia ouvi-los enquanto a carruagem seguia junto a comitiva para fora de sua cidade, e seu país. Dentro da mesma carruagem se encontrava sua nova criada — a escolhida do marido — e sua cunhada, a falante princesa Alexia.

                Essa deveria ter seguido em sua própria carruagem, porém, por motivos que Sakura não era capaz de compreender ela vinha na sua, com suas perguntas inacabáveis e seus assuntos aleatórios. Ainda contou histórias sobre quando se casou e sobre uma moça, que antes dela era a preferida do marido: também relatou em detalhes como acabou com a vida dessa mulher, infernizando-a até os dias de hoje. 

— Agora ela não dorme mais com homem algum. — Relatou, contente em explanar seus feitos. — A fiz trabalhar na cozinha em vez de ficar em vestes de seda e deitada sobre almofadas à espera do meu marido ou do marido de outras. O cabelo dela era lindo, parecido com o seu, apenas um pouco mais escuro. Talvez fosse isso que o atraía, foi o que pensei na época, então, mandei corta-lo e permiti que ela apenas o usasse como os homens usam.

                Tomando liberdades que não lhe foram dadas, Alexia segurou as mãos de Sakura e falou, em um seguro tom de voz:

— Não se preocupe, quando chegarmos em casa, eu mesma cuidarei de tudo para você.

                Sakura estranho o toque e as palavras, até ver a serva encolhida no canto da carruagem. Alexia devia pensar que Sakura sofria com o ocorrido da noite de núpcias, por isso estava ali, e todas aquelas histórias deveriam ser para assustar a pobre menina que já estava morrendo de medo.

                Pouco lhe importava com quem o marido dormia, quem era sua preferida ou quem deixava de ser. Não haviam se casado por amor, e ela não esperava isso dele. Até mesmo preferia que seu fatídico momento intimo com ele fosse adiado o máximo possível.

                Sasuke era um homem bonito, havia notado isso e Elis, enquanto a preparava para a noite anterior, fizera questão de a lembrar, falando como sua senhora era sortuda por ter um tão belo e valoroso esposo. Coitada, ficara arrasada com o ocorrido e tudo que Sakura pode fazer para consola-la foi ficar em silêncio. Elis era quem merecia uma vingança e um pomposo pedido de desculpas.

                Sakura não gostava de conversar, era quieta, mas sabia que Alexia merecia algo depois de suas tão boas intenções, então a moça sorriu docemente e devolveu o aperto de mãos.

                Não houve muitas conversas após aquilo, Alexia era uma mulher frágil e meio dia na estrada já parecia ter lhe cansando. Ela dormira no banco acolchoado, mesmo com os solavancos constantes que faziam Sakura bater as costas involuntariamente no que deveria ser um confortável e macio encosto de costas, que mais lhe parecia um item de tortura. 

                Nunca gostara de carruagens, ela não conseguia ver o que acontecia a sua volta, sentia-se encurralada e em sua atual situação acreditava que cavalgar seria a melhor opção. Contudo, como faria isso se não havia cavalos livres e mesmo se houvesse, nunca seria aceito uma mulher viajar em uma tão longa jornada sobre o lombo de um animal.

                A noite chegou e junto dela sua agonia apenas piorava. Se Alexia ao menos voltasse para sua carruagem ou se parassem para dormir em tendas, seria mais fácil para ela. A segunda opção era quase impossível visto que em uma viagem longa como aquela eles tentariam ganhar o máximo de tempo possível e isso incluía viajar durante a noite. Não faziam pausas maiores que duas horas, nesse tempo eles comiam, alimentavam os cavalos e os deixam descansar.  Uma vez ao dia uma bacia pequena com água aquecida era oferecida as duas princesas, para que pudessem limpar seus corpos, e esse era todo o conforto que teriam.

                No terceiro dia nessa tortura, Sakura descobriu que não aguentaria se continuasse ali dentro com aquelas mulheres, então decidiu fazer algo que realmente não gostaria;

— Princesa Alexia, poderia me fazer um favor? — Pediu com voz branda e cheia de doçura, fazendo com que os olhos da outra brilhassem.

                Por mais que tentasse conversar, Sakura não parecia disposta a dar brechas. Alexia até já pensava em voltar para sua própria carruagem, mas aquele pedido mudava tudo.

— Claro. Faria qualquer coisa a meu alcance. — Respondeu depressa, de forma até afobada. Não podia deixar Sakura desistir do que quer que fosse.

— Eu não consigo mais ficar aqui dentro. Tenho pavor de locais pequenos e abafados como esse, estou no meu limite.

— Você deseja uma pausa maior? Tomar um ar fresco seria ótimo, você nunca sai para fora quando paramos. Tem que se exercitar — Alexia a atropelou com as próprias ideias, já se prontificando a para a carruagem.  

— Não, não é isso. — Sakura tocou-lhe as mãos — eu gostaria de fazer o restante da viagem a cavalo. Havia pedido isso a meu pai, mas ele não permitiu. Meu marido também não permitirá, porém, caso fale com o seu, creio que terei uma chance.

                Alexia pensou por algum tempo antes de responder a amiga.

— É uma viagem longa, levara mais de um mês até estarmos em casa, Itachi jamais permitiria isso. — Lamentou-se, vendo o rosto esperançoso de Sakura voltar as comuns inexpressões. — Entretanto, posso convencê-lo de deixa-la cavalgar por hoje, e em outros dias também, para que não se sinta tão confinada. O que me diz?

                Não era de certo o que Sakura queria, contudo, era alguma coisa. Suas costas com curativos mal feitos agradeceriam, foi o que ela pensou.

                Na próxima pausa para descanso, Alexia usou todo seu charme sobre o marido para conseguir dele uma resposta positiva, porém, Sakura só poderia cavalgar no raiar do dia seguinte, já que escurecia e as noites tendiam a ser perigosas para homens e ainda mais para mulheres.

                A noite foi longa para Sakura, e o dia despertou com um sol apagado e ventos gélidos. O inverno se aproximava, em poucos meses a neve cobriria os picos verdes e tornaria impossível uma viagem como aquela.

                Mas, Sakura pouco se importou, trocou-se sozinha como havia feito nos dias anteriores, passou como pode o unguento nas feridas que trazia no corpo e as cobriu com uma limpa faixa de pano, como Elis havia lhe instruído. Também deveria estar tomando a infusão das ervas que trouxe, mas temia que alguém perguntasse o porquê delas caso vissem sua serva as preparar. Sem elas a dor não cessava e as vezes seu corpo tremia devido a febre. Ela era resistente, por isso aguentava tão bem, porém, possuía seus limites.

                De toda forma cavalgar seria melhor, suas costas não sofreriam agressão a cada solavanco, respiraria ar puro e ninguém descobriria de seus males, o que estava claro que aconteceria se continuasse enclausurada com Alexia por mais um dia.

                Itachi lhe cederia o cavalo, por isso, ele passaria o dia com a esposa na carruagem. Aquele era o quarto dia de viagem, levariam mais seis até a primeira estalagem daquela região. Sakura não sabia ao certo o que esperar dela, já que nunca chegara tão longe indo em direção aos estreitos, contudo, uma cama seria bem-vinda.

                Quando saiu da carruagem viu que todos já se preparavam para partir, os cavalos já estavam descansados. Muitos olhares foram direcionados a ela, que ia de encontro a Itachi e o garanhão de cor escura que ele segurava pela corda.

— Tem certeza que não vai se machucar? Não é que eu duvide de suas capacidades, só quero garantir. Meu irmão não aprovou muito a ideia, e caso você se machuque a culpa será toda minha.

— Não se preocupe, eu sei bem como fazer isso. — Sakura entendia que Itachi não estava preocupado com o bem-estar dela, e sim com o seu. E ela aceitava isso de bom grado, ainda mais depois de ele ser tão sincero.   

                Sasuke se aproximou para lhe colocar sobre o animal, sua ajuda foi dispensando e para surpresa ainda maior Sakura não se sentou de lado como as moças faziam, e sim como um homem. Acariciou o pelo do animal e o fez dar passos calmos, agradecendo a Itachi antes de se afastar.

— Sua responsabilidade. — Sasuke o relembrou antes de sair.

                Quando Itachi veio lhe falar sobre tal absurdo ele negou de imediato, porém, o irmão jogou em sua face como ele havia sido horrível com a esposa e como ainda agora, a obrigava a permanecer na mesma carruagem com a mulher pela qual foi trocada na noite de seu casamento, com isso, Sasuke não teve muito a dizer.

                Aquela era uma ideia idiota, eles teriam problemas, Sasuke conseguia sentir isso no ar. Todos montaram seus cavalos e tomaram seus lugares nas carruagens para seguir viagem. Ambos, marido e mulher, em algum ponto do caminho passaram a cavalgar lado a lado.

                Sakura devotava toda sua atenção a paisagem, capturando cada detalhe desconhecido e belo daquelas terras. Talvez ela não tivesse outra oportunidade de fazê-lo. As primeiras horas de viagem foram proveitosas, mas cavalgar por tanto tempo em sua atual situação se mostrou mais desgastante do que ela havia imaginado.

                O sol não escaldava seu corpo, já que permanecia encoberto pelas nuvens, ainda assim, ela passou a respirar com maior dificuldade depois do meio dia. Se manter em uma posição ereta também se mostrará uma árdua tarefa, e a dor parecia apenas se intensificar.

                Sasuke notou algo de errado com a esposa apenas ao entardecer. Seus olhares eram direcionados a ela volta e meia, estava curioso para saber por quanto tempo ela aguentaria antes das assaduras entre as pernas se tornarem insuportáveis. Ela não possuía experiência em longas cavalgadas, por mais que montasse bem, duvidava que Taros deixasse sua filha sobre o lombo de animais por tanto tempo. Mas, orgulhosa, ela não havia dado sinais de fadiga até aquele momento. Eles poderiam seguir por algumas milhas antes de descansarem os animais, só que Sakura não parecia em condições de aguentar isso. Sasuke pensou seriamente em prolongar o sofrimento da mulher, seria merecido após seu atrevimento de manipular Alexia para que essa manipulasse seu irmão contra ele, porém, não o fez.

                Deu sinal aos homens que parecem, seguindo para a lateral da estrada por qual seguiam, se afastando pouco por entre as arvores, descendo de seu cavalo e o deixando nas mãos do cavalariço que já se aproximava.

                Sakura havia descido só de seu cavalo na pausa que haviam feito anteriormente, pouco menos de cinco horas antes, mas agora, ela parecia prestes a despencar do lombo do animal. Em passos rápidos ele alcançou o cavalo da mulher, trazendo-o para perto do seu e o deixando amarrado. Sakura permaneceu no mesmo lugar por todo o tempo e Sasuke teve certeza de que ela não estava bem quando ele lhe estendeu os braços oferecendo ajuda e foi aceito.

                Inclinando o corpo para baixo ela apoiou as mãos em seus ombros enquanto ele lhe segurava firme pela cintura a trazendo para baixo. Já com a mulher no chão percebeu como ela se recusava em aceitar bem o toque de seus dedos em sua costa e como suava mesmo em um clima ameno. Também estava pálida. Soltando-lhe o corpo, viu Sakura fraquejar sobre as pernas. Foi rápido ao ampara-la antes do chão.

— Sakura, Sakura. — Chamou de forma agoniada. Não teve resposta. Ela parecia agonizar em dor e aquilo era estranho mesmo que ela estivesse cansada pelo longo dia. Achou sim que teria que a carregar de volta até a carruagem, mas não que levaria a esposa desfalecida daquela forma.

                Alexia que descia da carruagem viu a situação e já se desesperou com gritos estridentes e exagerados. Sasuke levou Sakura para a carruagem, deixando-a sobre o banco eo os cuidados das mulheres, já que ele não sabia o que fazer em uma situação como aquela.

                Tanto Alexia, como sua serva e a de Sakura entraram apressadas. Uma saiu logo em seguida para buscar água e panos limpos, enquanto as outras duas permaneceram lá dentro. Levou mais de uma hora até que Alexia saísse de lá, sozinha, e fosse falar direto com o marido.

                Sasuke estava com os homens, conversando e rindo. A fama da princesa sangrenta aparentemente era apenas isso. Não que algum deles verbalizasse esse pensamento.

                Sasuke fingia indiferença mesmo estando preocupado. Logo partiriam novamente, e algo nisso não lhe parecia certo. Viu Alexia sair e ir falar com Itachi, estranhou, pois pensou que a cunhada viria lhe dar informações sobre a esposa. Uma das servas saiu e ficou do lado de fora da carruagem, ela parecia assustada.

                Era seu direito como marido saber o que acontecia ali, portanto, Sasuke seguiu para a carruagem sendo intercedido pelo irmão, que o convidou nada gentilmente a seguir com ele por outro caminho. Alexia voltou a se entocar lá dentro, sem lhe direcionar nem um olhar.

                Já afastados dos outros homens, Itachi deu voltas em torno do nada antes de começar a falar.

— Eu quero entender essa situação, quero mesmo irmão. Quero poder ficar a seu lado, mas não encontro uma explicação plausível. Que tipo de homem você tem se tornado irmão? — Perguntou furioso, batendo o punho fechado em uma arvore.

— Você ainda não é meu rei, então não tem direito algum de falar nesse tom de voz comigo. E eu nem mesmo sei do que fala. — Sasuke indignou-se. Não se importava em ser repreendido quando errado, mas ali, ele era inocente pois nem mesmo sabia do que o acusavam.  

— Não sabe irmão? — Perguntou irado. — Sua esposa Sasuke, como se não bastasse ter dormido com outra em vez de consumar essa união, você bateu naquela mulher. Bateu com o chicote aponto de ferir sua carne. Quando você viu nosso pai fazer isso a nossa mãe? Ou eu com Alexia? Me diga?

                Maridos que agrediam esposas não eram incomuns. Isso era bastante frequente em todas as classes e países, mas nunca fora algo comum em sua família. As mulheres eram respeitadas, e conheciam seu lugar. Medidas como aquela eram consideradas abominação para Itachi, e deveriam ser para Sasuke também, ou pelo menos era o que o mais velho dos irmãos imaginara.

                Sasuke parecia aturdido com aquelas palavras, não respondeu nada ao irmão e caminho a passos firmes rumo a carruagem. Itachi o seguiu de perto, ainda enfurecido. Quando empurrou a pequena portinha e viu a cena, seu corpo tremeu.

                Sakura estava de costa, abaixada no chão, tendo a parte superior do corpo despida, Alexia tinha os olhos chorosos enquanto segurava uma de suas mãos e as outras duas mulheres humedeciam flanelas brancas na água já tingida de vermelho e limpavam as feridas que a Sakura levava nas costas.

                Ela havia sido chicoteada, seis ou sete vezes, ele não contou direito. Algumas das chibatadas levantaram um vergão vermelho na pele, mas outras, três delas, haviam rasgado a carne e pareciam infeccionadas.

                Itachi ficou do lado de fora, não poderia entrar para conhecer a nudez de sua cunhada, e ele não queria fazer um alarde com tantos soldados ali presente. Aquele não era um assunto que deveria se espalhar.

— Saiam — Itachi ouviu a ordem do irmão, direcionada as três mulheres que estavam lá dentro.  

                As duas servas obedeceram de imediato, abandonando na bacia de água os panos e saindo tremulas do local. Alexia desejava ficar e proteger Sakura, mas agora ela sabia que Sasuke não faria nenhum mal a ela, então saiu chorando, sendo recebida pelos braços do marido.

                Itachi era o esposo mais querido de todos. O melhor que Alexia poderia ter querido, e ela chorava pôr em sua tolice ter causado problemas que não eram de seu feitio. Suas decisões quando Sakura estava envolvida não eram dignas de uma futura rainha. Ela agia desesperada, como se fosse o único socorro de uma amada irmã mais nova.

                Dentro da carruagem Sasuke abaixou-se ao lado de Sasuke, tocou seu rosto e fez com que ela olhasse em seus olhos.

— Meu irmão acha que sou o responsável por essas feridas, mas você sabe que eu não toquei em você, nem para o bem, nem para o mal. Então me diga mulher, por qual motivo quer joga-lo contra mim? — Sasuke estava tomado por ódio, e não conseguia enxergar um palmo diante do nariz.

— Eu não disse nada a seu irmão, Alexia tomou suas próprias conclusões e saiu antes que eu pudesse lhe explicar qualquer coisa. Depois voltou chorosa, e então, eu perguntei o que ela havia feito. — Sakura disse de forma calma, entre suspiros profundos e doloridos. Sasuke a olhava com fúria, mas ela não possuía o menor medo. — Agora já expliquei a ela o que realmente houve, o senhor, meu marido, já está livre de qualquer injuria.

                Ao final da frase, não permaneceu encarando o homem e ambos entraram em um conflitante silencio. Sakura queria que Alexia voltasse e a ajudasse, queria que Sasuke saísse junto de seu olhar inquisidor, e por fim, queria morrer por inimigos a terem visto em uma situação tão patética.

                Assim como Sasuke ela repudiava aquele casamento e tudo que ele representava. Preferia a morte, mas seu pai a dominava como se faz com um animal selvagem.

                Sasuke observou as feridas e viu como eram recentes. Algumas sumiam na pele enquanto outras ainda permaneciam lá, mostrando seus sinais. As três mais profundas eram as únicas em estado calamitoso.

— Quem a feriu? — Perguntou ainda irado. Seu ódio não se extinguia tão facilmente. Ele havia acreditado nas palavras da mulher, e mesmo que ela fosse sua inimiga também era sua esposa e homem nenhum deveria tocar nela, de forma alguma.

— Meu pai. No diga seguinte ao casamento. — Sakura explicou, sabendo que meias respostas não saciariam o marido.

                Sasuke não disse mais nada, deixou a mulher só e foi direto a Itachi, que àquela altura estava a par de toda a verdade.

— Dormiremos aqui essa noite, Sakura não está em condições de seguir viagem. — Informou Itachi, que logo avisou aos demais para que as providencias fossem tomadas.

— Sasuke, — Itachi chamou o irmão, precisava se desculpar depois da burrada que havia feito.

— Estou decepcionado irmão, como pode achar que eu faria aquilo a uma mulher? Qualquer que fosse a mulher? — Sasuke cuspiu raivoso. Tudo o deixava irado naquele momento.

                Sua vontade era a de ir até Taros e lhe cortar como havia feito com Sakura, afinal, depois do casamento ela era sua esposa e ele como pai não possuía mais direito sobre ela. Outra parte em sua mente o mandava não se importar, eles eram bárbaros e aquela mulher nada significava para ele, e apenas por essa voz existir em sua cabeça sentia ainda mais raiva; em que tipo de homem tornara-se?

— Me perdoe — Itachi disse, tocando seu ombro. — E não precisa se culpar, não tinha como imaginar que Taros direcionaria a fúria para a própria filha.

                Itachi declarou, achando que o ódio que emanava de Sasuke era por ele se culpar pelo ocorrido quando na verdade ele mais uma vez não sabia sobre o que era dito ali, e Itachi percebeu isso quando o irmão lhe observou com olhos confusos. Com um suspiro cansado, respondeu à pergunta silenciosa de seu caçulo;

— Taros fez aquilo porque segundo ele, Sakura é vergonha. Nunca se ouviu falar em um marido que recusa a esposa em sua noite de núpcias, por mais horrenda que seja. — Dito isso, deixou o local e seu irmão, presos nos pensamentos.

                Alexia não era a única a se tornar irracional próximo de Sakura. Sasuke não havia medido suas ações, e foi a esposa quem pagou por elas.

                As mulheres voltaram a cuidar de Sakura, limparam devidamente as feridas, passaram a mistura que Sakura lhes entregou e cobriram-nas com panos limpos. A mistura de ervas também foi levada ao fogo e o chá entregue para que ela tomasse.

                Tendas haviam sido armadas e Alexia acompanhou Sakura até a que era sua. Ela deitou de bruços sobre os lençóis grossos e agradeceu silenciosamente por isso. Adormecendo tão rápido que nem mesmo vira quando foi deixada sozinha.

                No meio da noite Sasuke entrou na tenda e observou por horas o sono silencioso da esposa. Sakura era bonita, ele já havia notado isso, e enquanto dormia tão serena, tornava-se ainda mais bela. O tipo de mulher que agradaria qualquer homem como esposa.

                Sasuke nunca quis se casar, mas se Sakura fosse de outro povo ou mesmo houvessem se conhecido de outra forma, ela muito provavelmente pararia em sua cama. Era impossível negar que sentia por ela alguma atração. Também sentia culpa, afinal, o estado em que se encontrava era sua responsabilidade.

                Os cabelos estavam soltos e encobriam um pouco a face, sem se ater aos movimentos aproximou-se e os afastou, fazendo uma caricia na pele lisa. Ela estava quente, devia dormir daquela forma apenas pelo cansaço.

                Tirando parte da roupa, deitou junto a esposa. Descansaria um pouco. Não foi fácil dormir, ainda mais com a balburdia lá fora, os homens conversavam sobre sua mulher, resmungavam o quão perigoso era estarem acampados ali por caprichos femininos — eles não sabiam dos verdadeiros males que acometiam Sakura, pensava apenas que a cavalgada fora demais para ela —, Sasuke concordava que era perigoso, só que ouvir falarem de Sakura despertou novamente sua raiva.

                No dia seguinte, levantou-se antes da mulher acordar, avisando a Itachi que necessitariam de mais um dia antes que Sakura pudesse voltar a viajar. 

                Um dia inteiro ali renderia muita conversa aos soldados. Essa não deveria ser a maior preocupação de Sasuke, afinal, estavam desprotegidos, poderiam ser atacados a qualquer instante. Serem agora aliados de Taros não garantia segurança total por aquelas bandas. Grupos de bandidos eram comuns, assim como as facções que se opunha ao rei.

                Perto do meio dia Naruto lhe trouxe mais um assunto desagradável; ao que parecia, Saiuri, a criada de sua esposa, havia comentado com alguns soldados sobre o verdadeiro estado de Sakura, dizendo aos quatro ventos que agora entendia o porquê de Sasuke a ter recusado em sua primeira noite. Sakura possuía feridas horrendas, que desagradariam a qualquer homem. Ela jamais poderia vestir-se como Alexia, ou como qualquer outra mulher do ocidente sem se envergonhar.

                Ao ouvir tais barbáries, Sasuke se perguntou onde estava com a cabeça quando trouxera tão indesejada mulher. Precisou pedir a Naruto que desse um jeito de calar o buchicho entre os homens e que a mandasse imediatamente ter com ele.

                A mulher foi até ele, cheia de si por ter sua presença requisitada, tendo como presente apenas uma clara ameaça; se mais uma palavra sobre Sakura fosse dita por ela, teria sua língua arrancada. Sasuke ainda a ordenou que entrasse naquela tenta onde Sakura descansava e saísse de lá apenas a mando de sua senhora, porque se ele a visse passeando entre seus soldados mais uma vez aquele dia, a mataria ali mesmo e deixaria seu corpo para ser devorado pelos animais.

                Com lágrimas presas nos olhos ela se foi, com suas parcas esperanças destruídas e o coração antes envaidecido, cheia de ódio.

 

[...]

 

                A noite chegou novamente e Sakura se encontrava melhor, a febre havia se extinguido depois de beber mais algumas vezes o preparo de ervas, suas feridas haviam sido limpas mais uma vez e segundo a própria estava bem para continuarem viagem.

— Seguiremos ao amanhecer então — foi o que Sasuke lhe disse.

                Saiuri estava no local como ordenado, e Sasuke não lhe olhara nenhuma vez.

                Alexia como era esperado passava a maior parte do tempo ao lado de Sakura, com cuidados exagerados, que Sakura permitia apenas para não parecer grossa. Ela não gostava de toda aquela proximidade.

                Sasuke as deixou a sós e foi para junto dos outros homens.

                Estavam distraídas quando se ouviu gritos do lado de fora, os cavalos agitaram-se e o som de laminas se chocando fez-se audível. Alexia foi seguir para fora, em completo desespero, mas Sakura a segurou dentro da tenda.

                Com sussurros pediu que ela fizesse silêncio, bem como as outras duas mulheres. Com os olhos ligeiros procurou por algo que pudesse usar para se defender e agradeceu ao ver o punhado que o marido costumava levar preso na cocha, esquecido perto dos lençóis. Ela não sabia quando ele o tinha deixado ali, mas pouco importava.

                Ela agarrou a arma com a mão direita, com a lamina para cima, escondida pelo braço. Alexia se encontrava abaixada, atrás de si, e as outras duas mulheres um pouco mais para o lado, ambas abraçadas e em pranto.

— Façam silêncio, por favor. — Pediu mais uma vez, temendo que os bandidos as encontrassem. Em situações normais ela não temeria daquela forma, mas seu corpo estava debilitado e ainda pior, as lembranças das ordens de seu pai sobre seus costumes estranhos para uma mulher não serem revelados. Taros a faria sofre por mil mortes se ela provocasse mortes desnecessárias. Foi isso que ele disse, uma única cabeça apartada do corpo e ela iria desejar a morte como nunca antes havia feito.

                Mais as mulheres não calavam a boca, desse jeito chamariam toda a atenção que elas não precisavam, e foi exatamente o que aconteceu. Por entra a fenda no tecido, um homem magro, não muito grande e com a face coberta apareceu. Não havia muitos sinais de luta em seu corpo, o que significava que ele deveria ter se esgueirado até ali; Sakura pensou imediatamente que o alvo podia ser Alexia, e se colou mais a sua frente. Aquela mulher não poderia morrer ali. As outras duas aumentaram a intensidade do choro e o homem, que Sakura jurou que a atacaria, correu ao encontro delas.

                Sakura foi rápida em pega-lo antes que ele alcançasse as mulheres, fincou o punha na lateral do pescoço do homem, forçando-o para frente, fazendo-o cair no chão semi decapitado. Outro vulto se fez presente na entrada e ela atirou o punha com uma precisão absurda para quem sequer tinha olhado direito, só não acertou o alvo porque Sasuke foi muito rápido em desviar, mas a faca ainda lhe cortou uns fios de cabelo.

                Quando Sakura viu que era o marido que entrava, ficou apavorada. O homem estava morto no chão, as mulheres choravam desesperadas, suas mãos banhadas em sangue e ela quase o havia matada. Se seu pai sonhasse com aquelas coisas, a chibatadas que havia levado pareceriam um amoroso afago.  

— Você ficou louca mulher? — Foi tudo que Sasuke disse, entrando na tenda e verificando se o sangue nas mãos de Sakura era apenas do inimigo. — Matou ele com um punhal? — Perguntou descrente do que via.

                Sakura não disse nada, apenas olhou para trás verificando o estado de Alexia que de tão muda, chegava a assustar.

— Você está bem? — Sakura perguntou, ainda com Sasuke lhe segurando as mãos e só então a princesa desatou em choro, sendo socorrida pelo marido que entrava naquele instante.

— O que está acontecendo? — Sakura perguntou a Sasuke, vendo que Alexia estava em boas mãos.

— Ladrões nos atacaram, já foi tudo resolvido. Não sei como esse passou despercebido, desculpe-me por isso. — Sasuke disse sinceramente, apesar de notar que Sakura havia se saído extremamente bem.

                O resto da noite foi uma bagunça, os corpos tiveram de ser arrastados e empilhados longe do acampamento. Não passava de vinte homens, e nenhum dos soldados persas havia perdido a vida naquela noite. Sasuke pensou que se não fosse por Sakura, talvez quatro mulheres tivessem morrido. Ele não comentou o fato com mais ninguém, apenas com o irmão enquanto carregavam o corpo do morto para fora da tenda, afinal, aquele era o único corpo quase sem cabeça.

— Você acha que pode ser verdade tudo que dizem sobre ela? — Itachi perguntou sério. Sakura havia protegido Alexia naquela noite, mas se tudo que diziam sobre ela fosse verdade, ela poderia representar perigo no futuro, para todos que conviveriam com ela.

— Não sei. Devemos ficar atentos. Isso não deve ser uma coincidência.

                A horas seguinte a isso foi uma eterna vigia, até o dia clarear. Alexia não voltou para perto de Sakura, e mesmo que Sasuke não houvesse dito uma palavra sequer, ele pouco tirou os olhos da esposa, vigiando seus próximos passos.

                Partiram na manhã seguinte, com uma enfurecida Sakura dentro da carruagem e dessa vez apenas com Sauiri como companhia. Ela jurava em pensamentos que mataria aquele homem arrogante na primeira oportunidade que tivesse.  Ele havia dito que ela estava fraca demais para cavalgar e que de fato, o lugar de mulheres era em carruagens, não sobre o lombo de um animal.

                Ele estava certo, apenas Sakura não via isso.  

               

              



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