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História Encruzilhada - Capítulo VIII


Escrita por: Mira-a

Notas do Autor


Sobre a citação no inicio do capítulo anterior; vocês entenderão como ela combina com a Sakura agora.

Capítulo 8 - Capítulo VIII


Encruzilhada

Por ~ Miraa

399 a. c.

Persépolis – Palácio

 

— Estamos sendo atacados. — A resposta veio antes de qualquer pergunta.

                Sakura virou-se rapidamente em direção as portas com o coração desejoso de que aquilo fosse tudo um grande engano. Fugaku pediu aos guardas devidas explicações e os gritos invadiram o local, mostrando como o inimigo estava próximo.

                A atual Princesa da Pérsia não teve tempo nem mesmo de sair porta a fora antes de encontrar com o primeiro inimigo. Os guardas se posicionavam em frente os reis e a futura rainha. Sakura se encontrava diante a porta e ao adversário.

                Fugaku ainda a ordenou que voltasse, sacou da própria espada pronto para proteger a moça, sua família e seu reino, quando viu em questão de instantes o machado ser empunhado por ela e forçado sobre a perna do inimigo. O homem, centímetros maiores que a mulher, curvou o corpo levemente, gruindo pela dor e lançou um ataque contra ela, que desviou curvando o corpo para trás revidando logo em seguido e acertando o enorme machado exatamente no pescoço do homem, arrancando-lhe a cabeça com uma enorme precisam.

                Era preciso muita força para erguer aquela arma e manuseá-la com apenas uma mão, ainda mais para decepar uma cabeça com um único golpe.

                Os gritos que vinham de fora já haviam se misturado com os da princesa Alexia e da própria rainha. Depois do primeiro inimigo mais e mais foram surgindo; não havia como tirar Alexia e Mikoto da sala do trono, os guardas ficaram estáticos por minutos preciosos vendo Sakura lutar, logo recobrando a razão e a ajudando. Por mais boa que fosse, ela não conseguiria para tantos homens sozinha.

                Os minutos se estendiam enquanto o sangue que já banhava Sakura parecia lubrificar suas juntas enferrujadas pela falta de pratica; quanto mais ela matava, mais formidável ela se tornava. O rei, mesmo lutando, permanecia atento aos seus movimentos; a rainha observa as cabeças que ela fazia questão de separar dos corpos e Alexia já havia se entregado ao alento do chão.

                Foi assim, vendo-a tomada por uma sede de sangue, que o rei descobriu que Sakura não apenas parecia com um demônio; ela era.

                Não era um grande exército que sobrepujava o castelo persa, e sim um grupo isolado de homens que haviam se esgueirado pela cidade atacando unicamente naquele ponto. Sakura e todos os outros já haviam percebido isso, assim como sabiam qual era a missão destes.

                Outro fato havia sido percebido apenas por Sakura e isto a estava deixando preocupada. Ela conhecia aquele jeito de lutar, conhecia aquelas armas e a sede de sangue e desejo por morte que aqueles homens traziam nos olhos; ela havia crescido rodeada por eles. Se eles estavam atacando o castelo significava que seu pai considerara que ela havia falhado em sua missão, voltando-se assim para seu plano original.

                Sakura havia tido esperanças de que fossem outros inimigos a atacarem, a Pérsia possuía muitos, as esperanças dela eram válidas, mas haviam se esvaído. Poucos eram os inimigos que ainda se encontravam de pé. Muitos jaziam mortos sobre o chão, homens de ambos os lados. Sakura lutava de forma desesperada. Ela precisava matar aqueles homens e sair dali o mais rápido possível. Fugako não era um homem tolo, não poderia arriscar.

                E assim como Sakura imaginou, aconteceu; Fugako pareceu juntar as peças do quebra-cabeça, vendo o quão estranha era aquela situação. Seria uma coincidência Sakura desejar deixa o castelo pela primeira vez, desde o dia em que chegara ali, justamente no dia em que eles sofriam com um ataque inimigo?

                O rei também percebeu que ela lutava melhor contra os inimigos do que todos os seus homens juntos; ela parecia antecipar seus movimentos, sabia onde eles iriam atacar, desviava e feria seus pontos cegos. Exímios guerreiros eram capazes de fazer coisas parecidas, Sasuke ou Itachi fariam, mas eles lutavam a muito mais tempo que aquela garotinha e mesmo assim, eles não teriam tanta precisão quanto ela estava tendo agora contra um inimigo desconhecido, então, só restava uma única explicação, e ela era o início de uma guerra.

                Sakura parecia não só conhecer aquele estilo de luta, como conhecer aqueles homens. Ela não errava golpe algum, assim como não hesitava em matar qualquer um deles. Como se não pudesse deixar que nenhum deles sobrevivesse.  

                Quando o último caiu no chão, Fugaku, pela primeira vez em toda a sua vida, sentiu medo de uma mulher; Sakura caminhou pelo lugar, decepando a cabeça de cada homem morto, os que haviam caído perante ela já estavam decapitados, agora ela cortava a cabeça dos que foram mortos por ele e seus homens.

                Perto do trono, se arrastando pelo chão, restava um sobrevivente. Ele estava ferido, o rastro de sangue o seguia. Não era possível ver seu rosto, pois ele estava escondido por um pano negro, mas seus olhos que estavam visíveis já falavam tudo sobre suas intenções.

— Levem esse como prisioneiro, precisamos interroga-lo — essa havia sido a ordem do rei, porém, antes que qualquer um dos homens chegasse ao futuro prisioneiro, Sakura o alcançou. Fugaku e todos os outros apenas observaram silenciosos o subir e o descer do machado. A cabeça separada do corpo e de como a mulher pareceu, verdadeiramente, aliviada com isso.

                Ela ainda olhou a redor, como se para confirmar se todas as cabeças estavam devidamente separadas dos corpos. Fugaku observava seu corpo lateralmente; ela estava suja de sangue, seu machado cheio de restos mortais e quando ela virou apenas a face para observa-lo, ele se arrependeu de ter obrigado seu filho a se casar com aquele monstro.

— Eu já posso ir agora?! — O rei nem mesmo acreditou naquelas palavras. Alexia ainda chorava sentada no chão, Mikoto sequer parecia capaz de falar alguma coisa, e a princesa dos bárbaros lhe perguntava algo tão sem cabimento daquela forma, simplória.

                Contudo não foi a fala do rei a próxima a ser ouvida.

— Pelo menos alguma coisa você fez certo aqui, minha querida. — Sakura ainda olhava nos olhos de Fugaku quando ouviu aquela voz, por isso o rei foi capaz de ver o medo que tomou conta dela. Se ele achava que Sakura conhecia aqueles homens, agora ele possuía certeza. — Mas eu gostaria de saber o porquê de você estar matando seus aliados?

                Sakura voltou o rosto para a porta de entrada do salão novamente, ela o viu e temeu o que aconteceria dali por diante. Se ela não o matasse, seria claramente morta, e mesmo que ela o matasse, não era garantido que sairia viva dali depois de tudo aquilo. Fugaku tinha fama de sábio, não de piedoso.

— Eles não eram meus aliados, eu sou uma princesa persa agora. — Ela debochou, segurando uma saia invisível, cruzando as pernas e fazendo uma reverência ao homem. A brincadeira de Sakura se mostrou em grande erro.

                O homem que antes estava parado na porta, rodeado pelos guardas do castelo, jogou uma adaga em sua direção. Não houve como desviar, ela sentiu a lâmina entrando em sua carne, abrindo cominho de forma rápida e dolorosa. Ele não havia a lançado com intenção de matá-la, isso era claro já que a faca havia acertado seu ombro em vez de seu coração.

— Parece que sua pontaria já não é tão boa quanto antigamente, mestre. — Sakura disse arrancando a faca, o sangue surgiu junto e ela sentiu a vista ficar trêmula. Era óbvio, todas as armas de Orochimaru estariam envenenadas.

                Sakura sabia que não conseguiria vencê-lo. Não por ser fraca ou medrosa, e sim por ter sido bem treinada e saber reconhecer um oponente mais forte que ela.

— Você sabe, eu não erro. — Ele sorriu, girando a espada agora em punho, pronto para a luta.

— Protejam os reis e a futura rainha! — Ela ordenou as guardas que cercavam Orochimaru. Alguns ainda demoraram segundos para mover o corpo, indecisos sobre se deveriam ou não obedecer a princesa. Àquela altura todos já haviam percebido que, provavelmente, Sakura conhecia e talvez até mesmo estava do lado daqueles homens. Somente quando ela ergueu o machado, pronta para a luta, eles obedeceram.

                Rápidos, se posicionaram a frente dos reis, um deles ajudou Alexia a levantar e todos se preparavam para o pior.

                Orochimaru foi o primeiro a atacar. Sakura estava mais lenta devido ao veneno, graças isso o golpe acertou em cheio seu braço, mesmo que ela tenha tentado desviar. Ela não usava uma armadura, a carne era cortada facilmente. O Sangue coloriu toda a manga branca, mas os dedos não fraquejaram; ela devolveu o golpe, Orochimaru não viu dificuldades em desviar.

                Ambos lutavam sozinhos no salão. Era a oportunidade perfeita para que os reis fossem retirados dali, porém, Fugaku não se moveu e seus homens também não.

                Os golpes continuavam a acontecer. Sakura conseguiu acertar um ou dois golpes, todavia, ela havia sido ferida muito mais que o dobro disso. Os guardas entenderam, observando aquela luta, que assim que Sakura caísse eles não teriam chance alguma.

                Os primeiros inimigos que apareceram haviam sido mortos em maioria, por ela. Agora ela mal era capaz de se defender dos golpes daquele homem. Eles não tinham conhecimento do veneno que a corroía por dentro, enfraquecendo-a aos poucos.

— Os persas fizeram de você uma vergonha. Se fosse antes, você já teria me arrancado a cabeça. — Sakura sabia que aquilo não era uma verdade total, bem como, não era uma total mentira.

                Ela não treinava a quantos meses? A princípio havia sido porque ninguém lhe dava essa oportunidade, e depois se acostumou a Sasuke e toda a áurea de segurança que ele a proporcionava, e a partir disso, ela própria negava quando era chamada aos campos de treinos. Mas mesmo quando na Macedônia, ela não seria capaz de matar um dos metres, pelo menos não em uma luta justa.

                Mais um golpe foi imposto contra ela, não houve tempo para desviar ou atacar novamente, ela apenas sentiu a carne se abrindo na altura do abdômen e o baque das próprias costa no chão. O golpe final, entretanto, não veio. Orochimaru passou direto ao seu lado, fixo em cumprir sua missão; missão qual Sakura deveria ter cumprido.

                Ela tentou se levantar, a força exercida fez o sangue fluir em quantidades maiores de seu abdômen, e a dor misturada ao veneno lhe roubava toda a força. Ela não tirou os olhos de Orochimaru, que derrubou o primeiro guarda o segundo, e a cada passo se encontrava mais próximo de alcançar seu objetivo; ela não podia deixar isso acontecer.

                Forçou a mão sobre o piso para ter como firmar o corpo e assim levanta-lo e sentiu no chão, abaixo de sua palma a adaga com a qual havia sido primeiramente ferida. Foi uma questão de segundos; ela a pegou e a arremessou, sem nem mesmo levantar o corpo para fazer tal coisa. O punhal entrou totalmente na cabeça do homem, permanecendo apenas o cabo para fora, foi o suficiente para mata-lo, mas os guardas ao redor o cercarem e enfiarem suas lanças e espadas no corpo dele. O corpo caiu aos pés da Alexia, que mais uma vez se encontrava no chão.  

                Os olhos de ambas se encontraram antes de Sakura perder de vez os sentidos e ser entregue a escuridão.

 

[...]

Dias depois.

Estreito de Dardanelos.

 

Sasuke não confiava em alianças firmadas em casamentos ou quaisquer outras trocas de favores e privilégios; isso não constrói lealdade, não forma um Império duradouro, mas sim um cheio de rupturas, tão frágil que o menor dos grãos de areia soprado errado seria capaz de destruí-lo.

                Seu pai, o atual rei persa, entretanto, acreditava nessas negociações burocráticas, tanto que havia casado seus dois filhos com princesas estrangeiras, para evitar guerras que deveriam acontecer. Persas eram conquistadores, sempre foi assim; Fugaku Uchiha era conhecido com um homem valente, havia conquistado muitos territórios da forma correta, mas suas duas únicas falhas lhe custavam caro agora.

                Itachi Uchiha, primeiro príncipe da Pérsia e herdeiro do trono havia sido o primeiro a ter tal destino; o casamento com uma inimiga. Ele não aceitou de bom grado quando seu pai lhe disse que as batalhas contra a Grécia cessariam, e que ele deveria casar-se com a filha de Eron. Aquela foi a única vez em que o rapaz se levantou contra seu pai, ainda assim, ele perdeu aquela disputa. O fato da revolta não se dava por ele simplesmente não querer casar com a moça — qual ele se quer havia visto —, mas sim pelo motivo qual aquela guerra acontecia. Ele ainda havia pedido perdão ao irmão no dia daquele casamento e lhe jurado, que jamais o trairia novamente, não importava o que acontecesse.

                O dia de cumprir com essa promessa havia, finalmente, chegado.

                Ambos os príncipes e o exército persa haviam passado dias longe de casa, graças a traição dos malditos gregos. Suas fronteiras foram atacadas sem motivo aparente, sem aviso, sem ameaça. Alexia era a filho de Eron, rei da Grécia, e o miserável nem mesmo se importou com o fato de que sua filha estava no castelo persa e que eles poderiam usa-la como prisioneira de guerra. Não fariam isso é claro, afinal, Itachi amava aquela mulher mais do que a si próprio, bem diferente do pai dela. Ou o pai dela, assim como todos, conhecia desse fato.

                E Sasuke ainda estaria lá com ele, caso um dos homens que haviam ficado responsável de proteger a capital não houvesse vindo lhe trazer uma mensagem, a mando da princesa Alexia.

                Agora Sasuke cavalgava o mais rápido que podia em direção a sua casa, se perguntado qual seria o tamanho da loucura de seu pai. Levou malditos cinco dias para chegar lá, e quando o fez, percebeu que não havia como medir tal insanidade.

                Seus passos para dentro do castelo haviam sido desesperados. Sua armadura estava suja com o sangue seco das últimas batalhas e com a areia que o vento lançou contra ele. Mas Sasuke pouco se importava com isso. Suas mãos empurraram a porta dupla e ele entrou tão ferozmente na sala do trono que os guardas jugaram que seria outro ataque inimigo. Havia apenas 15 dias desde o último e os ânimos ainda estavam complicados. As lanças e espadas foram abaixadas, pois cada um deles conhecia o general e sua lealdade.

— Onde está Itachi? — Fugaku perguntou vendo o filho caminhar para mais próximo dele no imenso salão. Depois do ataque o rei havia tido finalmente notícias de seus filhos, as fronteiras estavam sitiadas e eles, lutavam a dias com os inimigos; muitas traições para uma única época.

                Sasuke não lhe respondeu, continuou seus passos, subindo os poucos degraus até chegar no trono onde o rei, continuava sentado. Ela parou em sua frente e Fugaku se perguntou, quando seu caçula havia se tornado tão grande.

— Onde ela está? — Havia algo no olhar do general, algo diferente. Ele já havia visto seu filho irado, e o odiando, mas ali, ele parecia estar sentido coisas piores que o próprio ódio. — Onde a minha mulher está? — As lanças dos guardas deveriam ter sido erguidas, afinal, Sasuke agora tinha as mãos sobre o cabo da espada, e todos perceberam que a resposta seguinte seria o estopim necessária para fazer a cabeça do rei, rolar. Muitas cabeças haviam rolado ali nos últimos dias.

— Está onde deveria estar. — Respondeu sem se intimidar ou mesmo mover seu corpo.

— Uma cela? — Ele sabia aonde ela estava, ainda assim perguntou, com sua voz banhada no mais puro deboche — por qual motivo minha princesa está em uma maldita cela?

                Quando a mensagem de Alexia havia chegado a eles, ambos os príncipes sequer ousaram acreditar, mesmo sabendo que não haveria motivos para Alexia contar tal mentira. Sasuke cogitou a possibilidade de ser traição, por parte de Alexia, talvez uma emboscada para o matar no caminho de casa, mas descartou essa possibilidade antes de torna-la conhecida do irmão. Ele conhecia sua cunhada, ela era a pessoa mais gentil do mundo, não seria capaz de fazer isso.  Agora de frente para o pai, ele percebia quem era o único traidor ali.

— Sim em uma cela. Ela, assim como os malditos gregos estavam conspirando contra nós. Tentaram nos matar. Sakura os conhecia.

— Sakura lutou contra eles, quando você estava acovardado demais sendo protegido por esses homens. Você foi protegido por ela. — O corpo curvava um pouco mais a cada nova palavra dita — Então me diga majestade; o pagamento pelos que arriscam a vida para lhe proteger, seria a condenação?

                Sasuke não esperou resposta do pai, voltou vários passos atrás antes que o matasse, já que erra essa a sua vontade.

— Ela lutou para salvar a própria vida, não a minha vida.

— Então por que o senhor acha que ela estava aliada a eles, sendo que teve que lutar para sobreviver? — A irá era tamanha que ele teve que desviar os olhos pai — Você me obrigou a casar com ela.

— Agora você está livre desse casamento. — Fugaku o interrompeu, bem como os próprios passos de Sasuke. A irá cresceu ainda mais, se é que isso fosse possível.

— Você — os títulos e o respeito já haviam há muito sido esquecidos — já me fez fazer muitas coisas contra minha vontade. Me faz recuar de guerras que eu não deveria, me fez perdoar o homem que matou minha filha — ele já estava quase sobre o Rei, seus olhos ardiam e seu sangue já bombeava forte demais pelo seu corpo, talvez por isso, o assunto que deveria ser para sempre intocado, veio à tona. — E eu fiz cada uma dessas coisas, mas eu não vou permitir que você machuque a minha mulher, porque ela é a única coisa que eu amo nesse mundo, e você não vai tira-la de mim.  

— Ela está lá por ordem minha — o rei falou alto, como se a imponência de sua voz fosse capaz de amedronta-lo — você é meu filho e meu general, porém não pode sair por aí fazendo o que bem entende.

— Tente me impedir então!

                Ele saiu pela porta, decidido a matar qualquer um que entrasse em seu caminho, seguindo direto para as celas, sendo observado por cada guarda, e cada um deles mal respirava. Eles haviam levado Sakura até ali, e quando o general visse o estado em que ela se encontrava, estariam mortos.

                A cela foi aberta quando ele estava ainda a alguns metros de distância. Seus passos, antes tão acelerados, cessaram mais uma vez. Seu corpo inteiro estanco diante a porta. Ele esqueceu de como se respirava, e ali mesmo, seus membros quase perderam a força.

 Um, dois, três. Apenas três passos foram o suficiente para alcança-la.

                Ela estava deitada sobre o chão sujo, suas roupas estavam com sangue seco em várias partes, e a mancha já negra na parte do abdômen fez sua visão se tornar turva. Ele se abaixou chamando seu nome em um sussurro. Sasuke costumava observa-la enquanto ela dormia, e sua face era sempre tão angelical que ele duvidou que aquela mulher, fosse sua bela esposa.

                Ela parecia ter sonhos horríveis, seu rosto estava contorcido em uma carreta, resmungos doloridos escapavam por seus lábios ressecados.

                Antes de acordá-la ele levantou os trapos restantes da chemise, observando o ferimento coberto por curativos já sujos demais. A pele queimava como fogo e uma secreção de odor forte saia dos ferimentos escoriados de seus braços — os quais nem mesmo havia recebido tratamento.

                Nem era possível saber como ela ainda estava viva depois de tantos dias naquela situação.

                Os olhos verdes foram abertos, ela piscou algumas vezes como se tentasse entender onde estava ou mesmo quem era aquele a sua frente, e quando esse entendimento chegou, ela fugiu de seus braços tão depressa, que a tosse veio cheia de sangue e cheiro de morte por sua boca. O corpo fragilizado parou de encontro a parede, mas os pés continuavam a empurrar o chão como se ela pudesse ir para mais longe.

                De que valia ser o general do maior império do mundo, se ele não era nem mesmo capaz de proteger a própria esposa? Ele não era capaz de proteger ninguém.

— Querida, sou eu. — Falou sem se aproximar, ela deveria estar delirando divido a febre e toda a dor que possivelmente sentia. — Se acalme, eu vou te tirar daqui. Ninguém vai mais machucar você.

                As palavras deveriam ser o maior consolo. Sakura havia pensado em ouvi-las nos primeiros dias que esteve naquela cela. Desejou que Sasuke viesse até ela e a salvasse. Desejou que ele matasse o maldito rei que a trancafiou ali, até que ela se lembrou que não podia desejar.

                As palavras esquecidas de seu pai, horas antes de seu casamento vieram à tona. A obsidiana negra, ainda pendurada no pescoço do marido, agora a sua frente, fazia com que elas fossem gritadas em sua mente.

                Ela era uma traidora. Desde o nascimento. Havia matado sua mãe ao nascer, havia matado tantos homens que sequer poderia contar, e apenas veio para a Pérsia para matar. Era sua missão. Era sua maldição. O que Sasuke diria se soubesse de tudo isso? O que ele diria se soubesse que ela havia vindo ali, para matar seu amado irmão e sua adorada cunhada? O que ele diria se soubesse, que desde o início ela foi enviada ali para se tornar a rainha da Pérsia, e que para isso, ela deveria eliminar qualquer obstáculo no caminho?

                Nos últimos dias naquela cela, a dor roubou sua lucidez, ela nem mesmo sabia dizer se havia protegido Alexia ou se ela própria a havia ferido. O rei vinha e a chamava de traidora, de escoria, de assassina. Alexia não via, nem mesmo para feri-la com palavras, talvez isso quisesse dizer que ela estava morta.

                O soluço começou baixinho, como o de uma criança assustada. Os pés paravam de empurrar o chão e se encolheram junto ao corpo. As mãos do general alcançaram seu rosto, e o levantou, enxergando os olhinhos verdes, tomados pelas lágrimas; não era um choro de dor, de medo e muito menos de alegria. Era um choro culpa, um choro arrependido, cheio de sofrimento.

— Por favor — ele suplicou quando entendeu. — Eu preciso apenas que me diga que te jogaram aqui sem culpa alguma. Me diga Sakura, que lutou para salvar a vidas dos meus pais e de minha cunhada, e eu te tirarei daqui e atearei fogo no mundo, casa seja preciso, para que ninguém nunca mais fira você. Me diga minha pequena estrela, basta apenas uma palavra.

                O corpo inteiro de Sasuke tremia. Sakura não poderia ter feito isso com ele. Ela não faria isso, não o trairia daquela forma.

— Eu te amo mulher, eu mataria meu próprio rei por você. Me diga que os homens que entraram aqui não era seus aliados. — Ele gritou sua última frase, e viu, com seu coração em pedaços o choro dela se intensificar.

                As mãos que ainda seguravam o rosto da mulher se afastaram, ele não conseguiu caminha para longe, apenas sentou não chão, com lágrimas escorrendo de seus próprios olhos.

                Ela era tudo o que ele tinha. Agora ele não possuía mais nada.


Notas Finais


Próximo capítulo sai dia 24/08
Tenho varias outras fics, ficaria feliz de ter vocês por lá também!
Espero que tenham gostado do capítulo, eu gostei bastante de escrevê-lo.


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