História End of the day - 1 - Lips like air!

Pov Harry

 

Cheguei para o ensaio em meio a uma forte chuva. Entrei me chacoalhando, sorrindo ao ver Lauren sentada em um dos cantos. Sempre concentrada em alguma coisa.

 

-Boa tarde H! -me abraçou-

-Olá Linz, tudo bem? 

-Sim e você? O céu resolveu chorar hoje.

-Eu sei huh? Que bom que todos chegaram bem.

 

Afirmei, olhando em volta, arrumando minhas coisas.

 

-Harry, olá, você poderia me tirar uma dúvida? 

 

Gabriel perguntou, me fazendo virar para ele.

 

-Claro, está tudo bem?

 

O homem à minha frente me perguntara sobre alguns acordes, Lauren continuava sozinha.

 

Anotei rapidamente num papel, para que ele pudesse memorizar mais facilmente.

 

-Continue tentando, começaremos por ela hoje.

 

O instruí. Por mais que eu tentasse não parecer tão óbvio ou invasivo, minhas pernas insistiam em caminhar em direção à mulher mais bonita da sala. Da banda. Do ano.

 

-Olá, por quê tão escondida? 

 

Sem esperar qualquer resposta, me inclinei para beija-lá na bochecha, sentindo vergonha na mesma hora. 

 

-Harry! 

 

Seu sorriso era brilhante. Lauren ficou sobre os dois pés e me envolveu em um abraço apertado, sem medo.

 

Dei uma leve apertada em sua cintura quando senti um beijo ser depositado em meu pescoço. Me causando arrepios.

 

Foi um abraço caloroso, rápido e necessário. Lauren foi obrigada a se afastar, embora parecesse muito difícil para ela fazê-lo. 

 

A soltei devagar, queria apenas admira-la. 

 

Lauren parecia carregar o amor como uma rosa carregaria seu perfume.

 

-O quê? Estou muito fora do clima hoje?

 

A garota desajeitadamente mexeu em suas roupas, recuando para trás, certamente tão nervosa quanto eu.

 

-Está muito bonita, na verdade. 

 

Assumi, eu não queria esconder mais. 

 

-Oh... -sorriu, sem me olhar- Você me deixa envergonhada... 

-Não fique, estou sendo sincero.

 

Eu estava estado de adoração, sorrindo mais do que os lábios poderiam suportar. 

 

-Obrigada pelas flores ontem, são encantadoras! 

 

Corei.

 

-Flores? 

-Sim... -me olhou- As que você mandou, certo?

 

Franzi a testa, a fazendo ficar mais séria do que nunca. 

 

-Estou brincando, fui eu quem mandou sim. -sorri-

-Nossa... -riu- Por um segundo me preocupei.

-Elas combinavam com você, então decidi te mandar. 

 

Eu queria deixar claro que me importava o suficiente para poder sempre surpreendê-la.

 

-Muito gentil da sua parte, nunca vi mais bonitas...

 

Havia genuinidade em suas palavras. Eu poderia mostrar um mundo inteiro mais bonito apenas para ela.

 

[...]

 

Deixei o microfone no suporte, me virando para a banda.

 

-Querem uns minutinhos agora?

-Acho que podemos seguir, podemos?

 

Um dos garotos perguntou, e o restante votou em uníssono como um sim. 

 

-Certo, duas.

 

Olhei para Lauren, esperando que ela desse a sua opinião também. Mas, mais uma vez, ela apenas mexia os olhos. Algo parecia errado.

 

Ela era tímida, usava poucas palavras em público e aquilo eu já sabia, mas seu silêncio repentino durante todo o ensaio me fez pensar.

 

Me virei para o microfone novamente, ajeitei o violão em meus ombros e ela continuava sem qualquer reação.

 

Eu teria ido rápido demais? Invasivo demais? Desrespeitoso demais? Tomei metade da garrafa de água, eu não queria que algo desse errado tão cedo.

 

-Lauren, está tudo bem?

 

A olhei, tão perto de seu rosto... Meu peito a centímetros de suas costas.

 

-Percebi você um pouco séria no ensaio, aconteceu alguma coisa? Há algo que não tenha te agradado?

 

Silêncio. 

 

-Porque podemos mudar. Sinta-se a vontade para falar.

 

Me sentei ao seu lado.

 

-Não Harry, claro que não! Não precisa se preocupar, talvez eu esteja apenas cansada. 

-Tem certeza?

 

Arqueei as sobrancelhas, a garota hesitou.

 

-Está tudo bem, obrigada.

 

E então ficamos em silêncio. Eu não podia obriga-la a dizer alguma coisa, mas eu também não poderia deixá-la sozinha. 

 

Foi quando escutei seu primeiro suspiro. Me inclinei para olhá-la novamente e pude ver lágrimas silenciosas descerem suas bochechas antes tão vivas. 

 

Senti meu coração se quebrar em dez. Apoiei meu braço na cadeira e fiz um leve esforço, me aproximando dela. Passei o mesmo em seu ombro, a trazendo para mim. 

 

Lauren positivamente reagiu, encostando a cabeça em meu peito. Ambos sabíamos que ela provavelmente mancharia minha camiseta, mas não nos importávamos. 

 

Eu não me importaria, se aquilo significasse ela se sentir bem de novo.

 

-Shh... Está tudo bem, estou aqui com você. 

 

Cochichei com o queixo apoiado em sua cabeça, para que só ela escutasse.

 

Lauren tinha um choro abafado, porém sentido. Eu mantinha os olhos fechados e as mãos fortes ao redor dela.

 

-Me desculpa, eu... -se recompôs- Eu não sei o que aconteceu, me desculpe.

 

Lauren rapidamente se virou, passando ambas as mãos nos olhos. 

 

-Olhe para mim. 

 

A toquei, pela primeira vez. Suavemente a toquei, segurando seu rosto com uma das mãos. 

 

Caminhei o polegar delicadamente por entre sua bochecha, impedindo que outra lágrima caísse. 

 

-Eu não sei o que aconteceu, mas sei que é mais forte do que isso. 

 

Eu a olhava fundo nos olhos. 

 

-Eu preciso que saiba que não precisa passar por situações sozinha, e que te ver assim me deixa preocupado. 

 

Lauren desviou o olhar, envergonhada.

 

-Estou aqui para ajudar.

-Eu nem sei como contar isso à alguém...

 

A garota afirmou, soltando um suspiro pesado.

 

-Tenho medo. -me olhou- Estou com medo.

 

Lauren estava tão concentrada em desviar o olhar que sequer notou que eu a admirava, persistindo em alguns segundos de silêncio.

 

-Eu estava na escola cumprindo o meu horário. Meu penúltimo dia. -sorriu fraco- Então uma pessoa inesperada veio ao meu encontro.

 

Outra singela lágrima caiu de seus olhos, me preocupando.

 

-Mas eu não queria conversar... E ele.. -respirou- Ele me segurou forte pelo braço e disse que era pra conversar sim. 

 

Lauren me olhou, eu tentava respirar.

 

-Ele passou a mão em mim. Ele queria passar a mão em mim e eu estava paralisada, em choque, com medo. 

 

Sua voz era trêmula. Eu queria fazer tantas coisas naquela hora mas simplesmente me acalmei, por ela. Eu não podia vê-la assim. Eu não sabia o que dizer...

 

-Lauren, eu...

-Eu sei Harry, não precisa dizer. Obrigada por ouvir. Por querer ouvir.

 

Ela tentou sorrir, eu tentei não surtar.

 

-Lauren, quem foi? 

 

Silêncio.

 

-Quero dizer, isso é muito sério e não deveria ter que ficar assim. É a sua escolha, mas eu não queria ter que aceitar. Por favor, quem foi? 

 

Ela hesitou por um segundo. 

 

-David.

 

Lauren respondeu e eu senti meu estômago embrulhar. Uma onda de suor frio atravessava o meu corpo e caía sobre minha testa.

 

-Aquele... Aquele ali? Que trabalha com a gente? Todos os dias? 

 

Apontei incrédulo, enjoado, nervoso.

 

-Por favor, não fale nada... 

-Lauren! -a vi abaixar a cabeça-

-Por favor...

 

Para mim, ele não estaria na banda mais. Ou em qualquer coisa relacionada à ela.

 

-Ele não trabalha mais aqui. 

 

Me levantei como num pulo, pronto para resolver o problema. Lauren rapidamente segurou minha mão esquerda, me fazendo virar para ela.

 

-Por favor, esse pode ser o sonho dele também. -me soltou- Estar aqui.

-Ele tentou... -eu estava atordoado-

-É o sonho dele também, eu não posso impedir isso.

 

Sussurrava. Me sentei, retrucando. 

 

-Ele tentou te machucar. Como eu vou olhá-lo nos olhos agora? Ele é uma ameaça, tentou te machucar! 

 

Sussurrei de volta, ela tinha medo e eu sede por justiça.

 

-Podemos fazer um combinado? 

 

Balancei a cabeça negativamente, contradizendo minha próxima resposta. Fitei o chão. 

 

-Dê uma chance. Se acontecer qualquer coisa, aí você faz o que bem entender.

 

-Então vamos esperar outra coisa acontecer? Sem chance, eu não consigo... Não sobre você...

-Eu prometo que te ligo se acontecer qualquer coisa. 

-Ele tentou te machucar... Estava sozinha?

-Harry, obrigada pela preocupação, nada vai acontecer. Eu mesma o avisei.

 

Eu não queria ter que aceitar, mas não era minha decisão. Lauren sorriu com os lábios e me puxou para outro abraço, necessário para ambas as partes.

 

-Obrigada por se importar, eu gosto de você assim...

 

Cochichou em meu ouvido, enterrando seu rosto no espaço entre meu ombro e pescoço em seguida.

 

-Eu gosto muito de você...

 

Eu tinha fios de seu cabelo longo por entre meus dedos e um coração pronto para recebê-la. As palavras tinham peso.

 

-Ele não vai chegar perto de você. Eu prometo.

 

A soltei, segurando sua mão então. Dalí para frente eu faria o possível para não olhar para o David, poderia vomitar a qualquer momento.  

 

Deixei ela no teclado e nos posicionamos calmamente. As horas passaram lentamente naquela tarde, eu não tinha a menor condição de deixá-lo ali. 

 

Talvez Mary soubesse o que fazer. Propositalmente esperei até que todos fossem embora, restando somente eu e ela. 

 

O clima estava diferente por diversos motivos. Eu não poderia afirmar que estava completamente bem, não estava, mas havia uma reação natural ao olhar para ela. 

 

Sorrisos. 

 

Eu acabei gostando muito mais do que imaginaria. E agora ela sabia. 

 

-Nossa música está pronta, dê uma olhada. 

 

Entreguei meu MacBook para ela. Um sorriso se formava em seu rosto dócil. 

 

-Somos uma boa dupla, admito. 

 

Sorri, concordando. 

 

Admitir que gostávamos um do outro era apenas metade da batalha. Para onde iria a partir dali?

 

Ela me agradecia pela música e eu sequer tinha o que falar. Haviam explosões dentro de mim.

 

-Não me agradeça, eu quem tenho que te agradecer por ter chegado em minha vida.

 

Sorriu grande, confusa. 

 

-Quando eu disse que gostava de você... Eu realmente quis dizer isso. 

 

Lauren abriu a boca para dizer algo, interrompida por seu telefone.

 

-Droga, me desculpa!

 

Se levantou.

 

Lauren permaneceu de costas, sem perceber que eu também me aproximava.

 

-Oi, sim... -falava- Sim, eu passei para a Beatriz e os alunos já estão cientes.

 

Seu cabelo da cor do mel iam compridos até o fim de sua cintura. Ele tinha um brilho especial.

 

-Isso, falarei com ela e retorno amanhã,tudo bem? Sim... Obrigada.

 

Ela finalizou a ligação e foi quando perdi o fôlego. 

 

Lauren se mexeu para guardar o celular e eu, tremendo, a toquei no braço direito. Ela sorriu, era a confirmação de que precisava. Desci minhas mãos até sua cintura, a deixando contra a parede. 

 

Lauren não hesitou então. Sua respiração era mais forte, assim como a minha. Eu olhava para os seus olhos até então, mas ao descer os olhos para os seus lábios...

 

Nenhuma palavra.

 

Rostos cada vez mais próximos, respiração cada vez mais bagunçada. Ela me olhava com desejo, eu queria explorá-la. Dividíamos o mesmo ar. Podia sentir minhas mãos tremendo ao trazê-la para mais perto de mim. O suficiente para ser impossível escapar.

 

-Seu coração bate sempre assim? 

 

Sussurrou contra a minha boca, com um sorriso invejável no rosto.

 

Meu olhar era intercalado entre os seus olhos e os seu lábios. Sorri tímido, estava em chamas.

 

Nossos narizes se encontraram e eu não poderia evitar. Selei nossos lábios da forma mais calma e pura possível, sentindo uma corrente quente e maluca em mim. 

 

Uma. Duas vezes. Pedi passagem na terceira. Era calmo, mas ao mesmo tempo era quente.

 

Lauren cedeu passagem e eu a beijei suave, sem pressa. Explorando. Me apaixonando.

 

Natural. Surreal.

 

Lauren por fim sugou o meu lábio inferior o puxando para os dela. Mordi seu lábio superior como resposta e senti um sorriso se formando ali, acompanhado de um suspiro de cumplicidade. Tinha gosto bom.

 

Timidamente ela levou as mãos ate o meu peito inquieto, apoiando sua testa na minha. Eu podia senti-la tremer, sorri me afastando. Bem pouco. 

 

-Tudo bem? 

 

Perguntei, abrindo os olhos. Lauren apenas balançou a cabeça, rindo sozinha. 

 

Nos beijamos como se nossos lábios fossem o ar e não podíamos respirar.