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História Endlessly - Novos Começos


Escrita por: eveelima

Notas do Autor


Olá de volta!

Primeiro, gostaria de agradecer por todo o apoio que eu tive pra essa continuação!
Segundo, como prometido (bem na deadline, haha), o capítulo novo!

Boa leitura!

Capítulo 2 - Novos Começos


O som agudo de centenas de armas sendo atiradas ao chão marcava o fim da batalha. A chuva leve do fim da tarde lavava o sangue do solo e o suor dos rostos cansados dos soldados que se encontravam de joelhos, as cabeças abaixadas, as respirações pesadas. Aos poucos, o cheiro forte da morte era tomado pelo aroma nostálgico de terra molhada.

No centro de tudo aquilo, a figura alva do Inuyoukai permanecia de pé dentre os corpos caídos. Silenciosamente, ele ergueu uma mão e, prontamente, os soldados do Oeste recolheram as armas também, em um movimento perfeitamente sincronizado. Mas em vez de apenas atirá-las ao chão como os rendidos haviam feito, estes, elegantemente, postaram as pontas das lanças contra o chão com um baque que ecoou pelo campo com imponência, deixando claro o lado vencedor.

— Fazem bem em render-se. — Sesshomaru disse, não precisando elevar o tom de voz para que ela saísse perfeitamente clara, enquanto passava por entre seus homens para ficar frente a frente com a linha adversária.

Os olhares de pesar nos rostos daqueles homens denotavam claramente o horror de perder uma batalha que não haviam comprado. A dúvida, o medo. Eles lutavam sob um líder, o governante daquela região. Agora, no entanto, a cabeça do senhor deles estava rolando por algum lugar da confusão do campo de batalha, após experimentar a lâmina da poderosa Bakusaiga.

Aquelas pequenas terras nomeadas de Kiyoshina eram posse de alguém que não podia ser considerado um líder digno de tê-las, de forma que sua execução não poderia ter sido mais justa. De certa forma, Sesshomaru imaginava que até mesmo os locais estavam, em parte, aliviados pelo fim do desgraçado. Entretanto, a perspectiva de que agora seriam dominados pelo próprio Sesshomaru, o youkai mais temido daquelas bandas, podia não parecer tão mais promissora assim.

Sesshomaru podia ver alguns deles tremendo, sem coragem de olhar para seu rosto enquanto passava por eles. Os gestos de pavor transbordavam em lágrimas de desespero e pelo temor à morte. Era uma reação normal para qualquer um que cruzasse seu caminho em um campo de batalha, então não podia culpá-los, não quando sua fama o precedia. Mas sabia que aquela reação inicial logo passaria, uma vez que aqueles pobres miseráveis conhecessem aquela responsável por toda aquela missão.

Sim, logo eles entenderiam o propósito de tudo.

— Levantem-se e vão para as suas casas. — Ordenou o daiyoukai, para a surpresa de muitos que já esperavam a morte certa chegar pelas mãos do cruel inu que, até ali, havia matado sem demonstrar piedade.  O que eles não imaginavam, no entanto, era que aquela batalha não teria demorado tanto, não fosse pelo esforço do inuyoukai em manter o número de vítimas fatais ao mínimo.

Afinal, também havia sido um pedido de Rin.

Lentamente, o exército começou a se colocar de pé, ainda em confusão, que, rapidamente, se tornou alívio. Aquela batalha já durava dois longos meses e, para eles, ir para casa parecia uma perspectiva distante até ali, a não ser que fosse na forma de um corpo para ser enterrado.

Vários sussurros de agradecimentos respeitosos e reservados podiam ser ouvidos enquanto eles se retiravam e Sesshomaru esperou até que o último desaparecesse, antes de sinalizar para que os seus próprios guerreiros o seguissem.

— Excelente, senhor Sesshomaru! — Jaken apareceu correndo entre as pernas dos soldados inu, finalmente saído do esconderijo onde tinha se enfiado durante a batalha. — Finalmente esses perdedores desistiram e se renderam à grandiosidade que é o senhor!

Sesshomaru o ignorou por um momento enquanto continuava a caminhar em direção ao centro da cidade e, consequentemente, em direção à pequena mansão que comandava a região.

— Mande minha mensagem à Rin. — Ele instruiu o questionável ministro depois de um tempo, quando cruzaram os portões destruídos com a invasão. — Precisaremos dela aqui.

 

xXx

 

Sesshomaru procurou organizar o que podia, mantendo-se extremamente ocupado por quase duas semanas, enquanto esperava o tempo de envio de sua carta ao Oeste e o tempo adicional da extensa viagem de lá até ali.

Era sempre complicado colocar as coisas de volta nos eixos após uma nova conquista, o território se encontrava frágil e abalado, os habitantes locais estavam inseguros e não tinham confiança em sua liderança ainda. As provisões começavam a se recuperar da escassez enquanto ele realinhava as negociações com mercadores após a batalha e a população retornava ao cultivo dos campos. A província aos poucos começava a se reconstruir dos danos causados.

Desde o princípio, aquela não era uma região de seu interesse. Geograficamente, era distante de todos os seus outros territórios e, principalmente, do centro administrativo, o castelo do Oeste.

Mas, quando as histórias da tirania que se alojava ali acabaram chegando até o Oeste, é claro, havia sido Rin a lhe pedir para cuidar da situação pessoalmente e garantir que aquelas pessoas tivesse um líder mais competente. Depois de ela tê-lo insistentemente convencido, não importando o quanto Sesshomaru lhe apontasse as desvantagens daquela intervenção, a dificuldade administrativa...

Afinal, o mais provável era que Kiyoshina fosse mais um prejuízo para o Oeste do que qualquer outra coisa, mas a senhora do Oeste não cedeu em sua decisão.

Que seja, ela havia dito. Sesshomaru balançou a cabeça em divertimento ao lembrar-se da conversa.

Com a lembrança, veio aquela sensação desconfortável que se alastrava por ele quando pensava em quando havia sido a última vez que ouvira a voz dela, ou a risada dos filhotes. Parecia que havia sido há uma eternidade, o que era engraçado quando comparava com os séculos de vida que ele contava. As cartas que haviam trocado eram seu único conforto, as palavras de Rin tentavam sempre manter a formalidade que era esperada de correspondências entre dois governantes: as provisões, os problemas políticos, as finanças, os armamentos, a população. Mas, bem no finalzinho, era sempre gritantemente claro como ela apenas não conseguia se segurar, quando as palavras começavam a se derramar em caracteres quase suaves ao toque, enquanto ela começava a declarar o quanto sentia a falta dele e o que pensava em fazer quando se encontrassem de novo.

Aqueles últimos trechos sempre deixavam Sesshomaru à beira de largar tudo ali e voar de volta até o Oeste.

Sim, Rin tinha uma tarefa importante a cumprir ali. Afinal, ela não o havia metido naquela enrascada para que ele lidasse com todos os problemas sozinho. Mas não havia sido apenas com o propósito político que ele a havia convocado.

O daiyoukai fechou os olhos, distanciando-se do que estivera fazendo e deixando sua mente navegar pelas últimas memórias que conseguia invocar. O formato do sorriso dela que tentava esconder a leve tristeza da despedida; a maciez da palma da mão de Miyuki quando ela lhe tocara o rosto pela última vez; o olhar inocente de Hayashi, que não entendia ainda o porquê de toda a comoção... Mas, principalmente, ainda podia sentir o gosto dos lábios dela que parecia permanecer nos seus após aquele último beijo de adeus luas atrás, o calor de sua pele na última vez em que a teve pressionada contra seu corpo nos lençóis.

Os lençóis de Kiyoshina nunca pareciam ser confortáveis o bastante sem ela ali.

Como que prevendo a deixa, um soldado apressado bateu à sua porta, curvando-se ao entrar, dissipando os devaneios de seu senhor que teria ficado mais irritado, não fosse a notícia que ele vinha trazer.

— Senhor, a senhora Rin e seus nobres filhotes estão chegando à cidade nesse momento.

Sesshomaru imediatamente pôs-se de pé, largando mão de seus tediosos papéis para receber a esposa na entrada da cidade. Sentia-se como se seus passos não pudessem ser rápidos o suficiente enquanto andava pelo corredor. Afinal, havia se passado dois meses e ele mal podia esperar para vê-la de novo. Quase podia sentir o cheiro dela mais uma vez, se fechasse os olhos podia imaginar perfeitamente a forma que ela lhe sorriria quando se encontrassem. Aquela imagem mental tinha sido sua única companheira durante aqueles meses.

E agora estava prestes a vê-la em carne e osso.

Apressado, embora ele conseguisse de alguma forma ocultar tal fato através da maneira graciosa com a qual se movia, o daiyoukai não hesitou em recorrer ao voo uma vez que chegou ao pátio aberto, cruzando a cidade inteira em uma velocidade impressionante, chegando aos portões a tempo de ver a Companhia de Rin vindo bem ao longe no horizonte.

Ela montava Ah-Un, com Miyuki segura entre suas pernas e o pequeno Hayashi embalado em um braço. Escoltando-a dos dois lados, vinha a Guarda do Lírio. Ao redor, mais alguns guardas extras com montarias e lanças a acompanhavam. Na cauda da formação, vinham suas aias pessoais.

Sesshomaru esperou pacientemente até que terminassem de cruzar o extenso campo aberto que os separava. Mas Rin não parecia tão paciente, já que, faltando apenas alguns metros, ela entregou o bebê de colo à Asai, sua criada mais próxima, desmontou em um salto e correu o restante da distância até se chocar com o peito de seu senhor, que a aparou habilidosamente em seus braços.

Normalmente não faria aquilo, não com seus soldados assistindo, mas, naquela hora, não podia se importar menos com a conduta apropriada. O cheiro, o sorriso. Era ainda melhor do que ele lembrava. Sesshomaru a beijou com entrega e exigência, erguendo-a do chão para que pudesse tê-la na altura adequada. Ela tinha os olhos fechados em deleite, os braços apertados ao redor do pescoço dele como se nunca mais pretendesse soltar.

E não soltou por um bom tempo.

Eventualmente, Jaken apareceu e arriscou um sugestivo pigarreio para lembrá-los da audiência.

Sesshomaru o chutou de lado sem nem olhar em sua direção, os lábios ainda colados aos da esposa.

Por fim, no seu tempo, Rin o soltou e ele a colocou no chão. Ela tinha o rosto extremamente corado, mas o sorriso escancarado. Ele quase a agarrou de novo, mas a Companhia já chegava ao portão agora e a atenção de Rin fora roubada de volta ao filho nos braços da criada e à filha ainda montada no dragão com o apoio dos guardas ao redor dela.

Rin ajudou Miyuki a desmontar e a colocou no chão com cuidado, para que a menina pudesse andar desajeitadamente até o pai e agarrar-lhe uma perna. Casualmente, ele apoiou a palma da mão no topo da cabeça dela como saudação.

— Confio que tenham feito boa viagem. — Ele deduziu, enquanto a humana pegava de volta Hayashi e o trazia até ele também.

— Longa, mas segura. — Ela confessou, deixando que o filho tocasse o rosto do pai como parecia estar pedindo ao esticar as mãozinhas insistentemente. — Estou exausta.

Sesshomaru assentiu, pegando Miyuki do chão em um só braço, já que ela era a mais pesada dos dois filhotes, e usando o braço livre para envolver a cintura da humana e guiá-la para dentro da cidade, assentindo para que os outros viessem também.

— Tudo já deve estar nos conformes agora. — Ele comentou enquanto andavam pela rua principal. — No entanto...

Ele deixou a cena falar por si, enquanto passavam e viam as pessoas rapidamente se escondendo dentro das casas, o medo estampado em seus rostos, visíveis apenas por breves segundos antes de eles se ocultarem da comitiva.

— Estou vendo. — Ela disse, entendendo onde ele queria chegar. Era por isso que estava ali, afinal.

A fama de Sesshomaru era sem precedentes quanto ao seu poder imensurável e era mais que óbvio que os habitantes de Kiyoshina, majoritariamente youkais camponeses de baixo nível, se sentiam temerosos com a ameaça de mais uma liderança opressora em seu horizonte. Os coitados preocupavam-se em estarem agora nas mãos de um ser ainda mais impossível de ser derrotado do que o senhor feudal anterior, um ser potencialmente ainda mais cruel.

Mas era Rin quem vinha trazer conforto àquelas pobres pessoas, depois de tudo o que haviam passado com a prolongada batalha, sem contar com todos os problemas que haviam enfrentado antes da invasão do Oeste. Seu senhor Sesshomaru já havia dado seu melhor em ter se deslocado até aquele lugar miserável apenas porque ela lhe pedira muito, além de ter passado todo aquele tempo cuidadosamente administrando uma guerra justa, quando podia apenas aniquilar todos de uma só vez. Afinal, não havia sido para isso que ela havia decidido intervir e tomar o território para a posse do Oeste, mas sim para ajudar aquelas pessoas a ter uma vida mais digna.

No que dizia respeito àquilo, era parte de seu trabalho garantir a confiança dos novos subordinados e ela mal podia esperar para começar a agir. Durante todo aquele tempo, estivera realmente preocupada com a situação deles e não queria nada mais do que tentar ajudar da melhor forma que pudesse.

Rin tomou fôlego para começar a falar em voz alta a quem conseguisse ouvir ao redor, mas Sesshomaru a interrompeu antes que pudesse dar início ao discurso:

— Descanse hoje. Se preocupe com isso amanhã.

— Mas-

— Eu disse amanhã. — Ele enfatizou, cortando o protesto antes de começar. O youkai sabia muito bem que uma vez que Rin decidisse se dedicar à sua tarefa, provavelmente ficaria o dia e a noite inteira focada nisso e não pararia até o último dos problemas estar resolvido e todos estivessem devidamente satisfeitos.

E, depois de todo aquele tempo sem dividirem um futon, o inuyoukai tinha outras prioridades para ela no momento.

Eles alcançaram a mansão rapidamente, sem maiores problemas além de o bebê Hayashi decidir que já havia ficado em silêncio por mais tempo do que o necessário e que precisava urgentemente sair do sol, enquanto Rin se apressava para acalmá-lo

Uma vez que finalmente estavam na sombra do salão principal, Sesshomaru foi rapidamente requisitado para tratar de ainda mais assuntos remanescentes da batalha. Rin não estava a par dos detalhes, portanto não viu necessidade de acompanhá-lo, tendo também tanta coisa a fazer.

E não havia sido nada difícil para ela tomar imediato controle sobre a gestão doméstica da mansão, organizando a equipe de criados conforme fosse mais apropriado e, uma vez que ela tinha isso concluído, as coisas estavam funcionando quase tão bem quanto era no Oeste.

Havia algumas questões, no entanto, que poderiam levar um pouco mais de tempo para serem resolvidas. Ao passar em frente ao pequeno jardim, Rin decidiu que este era definitivamente uma dessas questões.

As plantas pareciam tristes, as pétalas tinham cores desbotadas e aparência frágil, enquanto as folhas não eram tão verdes quanto deveriam ser, levemente murchas e amareladas, mesmo com a luz do sol plena que brilhava sobre elas. O jardim definitivamente precisava de cuidados, embora parecesse ser uma questão secundária, dado todo o resto da situação, Rin sabia que não podia deixá-lo daquele jeito.

Mas, quanto mais ela investigava, mais percebia que eram apenas as plantas que pareciam mal cuidadas naquele castelo, talvez apenas porque as plantas precisassem de amor para poder crescer, vistosas e saudáveis. Todo o resto do lugar, no entanto, era repleto de decorações belas e caras, muito além da estatura de uma mansão pequena como aquela, para uma cidade pequena como aquela.

Mal conseguiu tomar seu chá da tarde com a consciência em paz, quando a porcelana que lhe ofereciam era talvez melhor do que a que usavam no Oeste. Não podia deixar de levar em consideração que tudo aquilo havia, muito provavelmente, sido adquirido em cima da gestão abusiva de recursos usurpados dos trabalhadores locais, que não ganharam nada em retorno além de miséria absoluta e violência de seu senhor anterior.

Ela suspirou, tentando planejar como fariam para readministrar todos aqueles objetos desnecessariamente valiosos e redirecionar os fundos para reerguer a vida dos que realmente trabalharam duro para merecer ao menos o suficiente para viver. Era claro que um castelo, ou mesmo uma mansão com aquela, precisava de bastante contribuição para se manter, e um senhor feudal tinha seu próprio trabalho a executar, ao proteger e trazer prosperidade ao seu território, então era justo que pudesse viver em um relativo luxo em troca de sua contribuição de grande importância. Sem ele, qualquer aglomeração de pessoas vivendo em um só lugar tornava-se suscetível a ataques de grupos mais fortes. Mas aquilo que ela via ali era muito discrepante, não havia preocupação com a proteção nem prosperidade da cidade, apenas a ganância de um homem cruel.

Decidindo seguir o conselho — ou ordem — de seu senhor, a senhora do Oeste procurou deixar esses pensamentos pesados para o dia seguinte, aproveitando o resto daquela tarde para que pudesse descansar um pouco da longa viagem. Após encontrar um bom quarto onde suas coisas haviam sido colocadas após o desmonte da bagagem, a humana pode se dedicar apenas a cantarolar alegremente para si mesma enquanto amamentava o pequeno Hayashi e vigiava Miyuki brincando logo à frente com todos os infinitos brinquedos que ela fizera questão de trazer.

O tempo correu um pouco mais, permitindo que o sol do lado de fora começasse a se deitar no horizonte, projetando uma bela luz alaranjada pelo cômodo.

Apesar de o filhote já ter idade o suficiente para comer praticamente de tudo — e ele certamente comia — Hayashi já estava gulosamente secando seu segundo seio quando Sesshomaru finalmente entrou no cômodo para checar a pequena família, após ter resolvido o que quer que tivesse requisitado sua atenção mais cedo.

— Ele já está bem maior. — O daiyoukai comentou, referindo-se ao filho aninhado nos braços de sua mãe.

Era impressionante como, apenas naquele curto período de tempo sem vê-lo, o jovem príncipe já se apresentava com feições mais maduras e membros mais longilíneos. Sesshomau sabia que ele seria alto em estatura.

— Alimentando-se bem desse jeito, não me admira que cresça tão rápido. — Ela respondeu, rindo, mas sem deixar de se admirar com seu príncipe, começando mais um de seus diálogos unilaterais com ele. — Você quer ser muito forte também, não é? Que nem o seu pai?

Sesshomaru sentou-se ao lado da esposa, observando em silêncio enquanto ela conversava sozinha com o filhote macho, que finalmente havia terminado sua refeição e apenas a ouvia com atenção, parecendo se esforçar para entender o conjunto de palavras ainda desconhecidas que ela usava.

Enquanto isso, Miyuki se colocava sobre os dois pés com habilidade, usando ambas as mãos como apoio e trazendo consigo uma boneca de pano nas mãos enquanto cambaleava até o pai.

— Aki. — Ela disse brevemente quando o alcançou, fazendo o youkai erguer uma sobrancelha em questionamento. Sem fornecer maiores explicações, a princesa apenas colocou a boneca cuidadosamente entre as pernas cruzadas dele, virando-se em seguida para retornar até a pilha de brinquedos no centro do cômodo.

Escolhendo mais um entre eles, a menina tornou a colocá-lo sob a guarda do pai, bem ao lado da boneca.

— Mu. — Recitou, apenas para contribuir com a expressão intrigada do inu.

E então ela começava um percurso sem fim de ida e volta pelo quarto, acrescentando um brinquedo diferente a cada vez e pronunciando alguma palavra sem sentido ao fazê-lo, até que houvesse uma verdadeira pilha entre as pernas de Sesshomaru.

Rin riu audivelmente e o parceiro a fitou com confusão.

— São os nomes dos brinquedos. — A humana explicou, divertida, vendo a filha finalmente trazer o último de seus pertences para juntar-se aos outros.

— Nai. — Finalizou ela, parecendo orgulhosa de si mesma, sorrindo com os olhos dourados e os pequenos caninos.

— Ela decorou todos esses nomes? — Sesshomaru perguntou, realmente surpreso. Devia haver mais de vinte objetos amontados sobre ele ali.

Rin assentiu, ajeitando Hayashi em seu colo para que pudesse estender uma mão até o rosto da filha, gentilmente acariciando sua bochecha fofa com as pontas dos dedos.

— Ela é tão esperta. — Elogiou, com um sorriso.

Sesshomaru apenas concordou com um breve aceno de cabeça.

Indiferente ao diálogo entre seus pais, Miyuki se afastou do toque confortável da mãe, apenas para que pudesse aventurar-se a escalar por entre seus brinquedos, alegremente embrenhando-se em meio à bagunça e repousando ali no colo de Sesshomaru quando achou uma posição confortável.

O daiyoukai não protestou, apoiando-se com uma mão no chão e levando a outra às orelhas da pequena que agora abraçava um animal feito de tecido e enchimento — ele já não lembrava o nome daquele, ou de nenhum outro.

Enquanto Miyuki brincava, a atenção de Sesshomaru voltou-se para Rin que agora se colocava de pé para que pudesse embalar Hayashi, deslizando pelo quarto quase como se estivesse dançando em passos leves como o ar, voltando a cantarolar sua suave música de ninar. O próprio Sesshomaru quase se permitiu fechar os olhos por um instante, ao menos para ouvir com mais concentração o som doce da voz dela

 Em pouco tempo, ela estava deitando o bebê adormecido em seu futon e Sesshomaru estava retirando cuidadosamente um animal de mentira de entre os dedinhos inanimados da princesa igualmente desmaiada em seu colo, para que também pudesse pegá-la e colocá-la na cama ao lado do irmão mais novo.

— Agora podem finalmente descansar no conforto. — Rin comentou em voz baixa, feliz por ter quatro paredes sólidas e um teto ao redor dos filhos de novo.

Concordando silenciosamente com a parceira, Sesshomaru sorrateiramente a envolveu pela cintura, lentamente trazendo-a para mais perto até que a tivesse grudada em seu peito.

— E eu espero que você tenha descansado o suficiente. — Ele sussurrou em seu ouvido, o lábio inferior delicadamente tocando a ponta de sua orelha. — Tenho mais uma tarefa para você.

O dia até ali havia sido insuportavelmente agonizante, quando não havia sido nada do que ele havia imaginado que seria quando finalmente estivessem a menos de um dia de viagem de distância um do outro novamente. Havia passado o dia inteiro preso em debates sem sentido, sabendo que Rin estava bem ali do lado, a apenas alguns cômodos de distância e, ainda assim, não podia tocá-la.

Agora que a tinha de volta em seus braços, no entanto, era como acender uma boa lareira durante o inverno, aconchegante e familiar. Se fechasse os olhos e focasse apenas no resto que sentia ali, a textura da pele dela, o som suave da respiração de seus filhotes adormecidos ao fundo, os cheiros reconfortantes de sua família... Quase podia sentir-se de volta no Oeste. Em casa.

Ele a segurou mais apertado, procurando mais contato.

— Hmmm... — Ela murmurou, derretendo-se completamente naquele abraço, o rosto inclinando-se para que pudesse encostar a ponta do nariz na garganta do parceiro, aspirando seu aroma familiar. — O senhor não faz ideia do quanto senti sua falta.

Finalmente, ele a soltou, embora os olhos dourados permanecessem queimando sobre os dela, o queixo sugestivamente apontando a direção dos aposentos que compartilhariam enquanto estivessem ali.

— Mostre-me.

— Guie o caminho e eu mostrarei. — Ela prometeu, estendendo uma mão como sinal para que ele passasse à frente.

Sesshomaru virou-se em direção à porta do cômodo, ansioso por seguir seu plano para a noite que se iniciava, mas, assim que lhe voltou as costas, pôde sentir Rin seguindo-o por trás, com os passos leves e cautelosos, de forma suspeita, como quem está planejando alguma coisa.

Ele a observou de relance pela visão periférica, seus instintos automaticamente tomando conta, olhos fixados na sombra que se estendia pelo chão, ouvidos atentos ao mais sutil som da respiração dela.

O que era aquilo? A presa tentando capturar o predador?

Certamente seria um prazer colocá-la de volta em seu devido lugar.

 Rin estava prestes a emboscá-lo em um abraço surpresa pelas costas — ou, pelo menos, tentar — quando o youkai virou-se como um raio e deslizou um pé sob os dela, fazendo-a perder o equilíbrio no mesmo instante e descender no que seria uma queda feia, se ele não a tivesse capturado em seus braços tão rápido quanto, imediatamente levantando-a sobre o ombro, mantendo as pernas delas presas contra o peito por um braço enquanto a cabeça pendia de suas costas.

Rin deu um pequeno grito de surpresa que durou menos que um segundo, antes de lembrar-se dos bebês adormecidos e cobrir a boca com as duas mãos, agora tentando segurar risadinhas enquanto seu senhor a carregava como um saco de arroz e a levava até a saída.

— Silêncio. Você não vai querer acordar a fera. — Ele avisou em voz baixa, referindo-se ao jovem herdeiro e ao desastre que seria se este fosse despertado abruptamente naquele momento. Nem precisava mencionar Miyuki. Som algum era capaz de acordar aquela lá.

Rin inspirou profundamente, segurando a voz enquanto o marido a carregava porta afora, levando-a até o quarto do casal para a noite. Tinham muita coisa para colocar em dia.

xXx

A manhã irrompeu pelas janelas e Rin despertou, completamente descansada e ainda mais satisfeita. Sesshomaru deitava ao seu lado, despreocupadamente correndo garras suaves pelas costas nuas da parceira, deixando-a ainda mais relaxada em seus braços, pelo menos até presenteá-la com um aviso:

— Posso ouvir daqui o seu filho chamando por você.

A humana pulou do futon em um movimento fluido, rapidamente procurando algumas roupas apresentáveis. Será que havia dormido demais?

— Oh céus, acho que até eu consigo ouvir!

Sesshomaru tentou segurar a humana frenética, agarrando-a pelos braços para que pudesse fazê-la parar um instante.

— Você não toma jeito nunca. — Ele zombou, balançando a cabeça. — Fique. Eu vou buscá-lo para você.

Só então Rin notou que ele já estava perfeitamente vestido para o dia, sempre um passo na frente. Por um lado, não deixava de apreciar que ele houvesse decidido ficar no quarto e fazer companhia a ela até que acordasse, quando provavelmente tinha assuntos a resolver logo cedo.

— Não, não. — Ela negou, desvencilhando-se das mãos dele e atando a faixa na cintura para prender os quimonos no lugar. — Eu preciso levantar, de qualquer forma. Hoje tenho mais do que apenas Hayashi para me preocupar.

E aquilo era verdade.

A humana procurou passar pelas obrigações matinais pessoais com a maior velocidade que pudesse, ciente de que aquela cidade já havia passado por situações adversas o suficiente e era mais do que hora de finalmente resolver o que estivesse em seu poder.

Uma vez que tinha tudo pronto, organizou sua Guarda para acompanhá-la até a cidade para uma primeira sondagem mais a fundo. Ela analisou em detalhes a estrutura do que tinham ali, comparando-a mentalmente com a prosperidade do Oeste, para tivesse alguma ideia de como poderia aprimorá-la.

Os habitantes ainda eram tímidos e desconfiados quando a viam passar cercada por guardas inu, intrigados e receosos na mesma medida.

— Aquela é a parceira do nosso novo senhor. — Ela os ouvia sussurrar, o choque sendo demasiado para que conseguissem manter a conversa discreta o suficiente.

— É uma humana mesmo?

— Eu não acreditei quando ouvi.

— Aquela é a senhora Rin, idiotas! — Mais um acrescentava, um pouco exaltado. — A humana que não pode ser morta. Não ouviram falar?

— O quê?! — Um coro se seguia, perplexo.

Rin decidiu que já havia ouvido o suficiente enquanto fingia analisar as maçãs brilhantes dispostas em uma das bancas de venda ao redor da praça, percebendo que aquelas pessoas haviam escutado nada ou muito pouco a seu respeito. Aqueles youkais em particular pareciam ser o tipo ideal que estava procurando, um grupo popular na cidade que gostava de espalhar conversa. Casualmente, ela adentrou a roda de discussão como se fosse só mais uma interessada na fofoca, com um sorriso amigável.

— Bom dia, senhores! — Saudou alegremente, ganhando olhares ainda mais surpresos dos que a cercavam. — Eu estava mesmo querendo conversar com alguns de vocês.

Os homens afastaram-se alguns passos, as cabeças abaixando-se em arrependimento instantâneo.

— Oh, nobre senhora, perdão se dissemos algo...

— Ah, não! Não é nada disso! — Rin imediatamente corrigiu, ansiosa para desfazer aquele temor inicial que qualquer um que tenha enfrentado seu senhor em batalha tendia a ter quando descobria que estava falando com a esposa dele. — Na verdade, queria pedir a ajuda de vocês.

Se eles queriam dizer algo, não conseguiram fazer mais do que a olhar, embasbacados e boquiabertos. A humana decidiu prosseguir, pelo bem do fluxo do diálogo:

— Gostaria de pedir que me ajudassem a comunicar a todos os habitantes que teremos uma recepção na mansão como comemoração pelo fim da batalha e boas-vindas aos novos tempos. — Ela anunciou, convidativa. — Por favor, digam que estão todos convidados para tomar um chá comigo e comer à vontade. Enquanto durar a recepção, eu vou receber cada um e ouvir qualquer solicitação que tenham a fazer.

A Senhora do Oeste precisou passar mais um bom tempo explicando a todas aquelas pessoas os motivos por trás do convite e que sim, ela tinha permissão de Sesshomaru para tal e que não, ele não mataria ninguém que resolvesse aparecer na mansão.

Rin ansiava por conectar-se e fazer novas amizades com as pessoas que viviam ali, entendendo suas necessidades e certificando-se de tivessem tudo o que precisavam. Sabia que a cidade passava por um longo período de escassez de comida, graças à exploração do daimyo derrubado. Sabia também que Sesshomaru já havia resolvido esse problema trazendo provisões de mercadores que negociavam diretamente com o Oeste. Toda a comida havia sido entregue diretamente na mansão para que pudesse ser melhor administrada e redistribuída. Era uma excelente oportunidade para que Rin pudesse não apenas ter alimento livremente preparado para todos, como também conhecer o povo que constituía o mais novo anexo de suas terras.

Não era a primeira vez que ela fazia aquilo, agir como anfitriã em um evento organizado por ela mesma, em prol da causa de seu senhor Sesshomaru. Ainda assim, a humana não podia deixar de ficar nervosa que tudo fosse dar errado. E se ninguém aparecesse? E se houvesse uma rebelião e Sesshomaru precisasse matar a todos? E se no fundo ela fosse realmente patética por desejar apenas que pudesse haver alguma proximidade harmônica entre líderes e subordinados?

Assim como das outras vezes, seus medos se revelaram infrutíferos no fim das contas.

Já ao fim da tarde, de volta à mansão, tudo estava preparado conforme planejara. Havia comida e chá fluindo em livre demanda para todos os acomodados no grande salão, toda a cidade parecia de alguma forma estar amontoada ali. E, dentre os plebeus da cidade, estava sentada a senhora do Oeste, embora o general inu não a acompanhasse tão de perto quanto era esperado.

Sesshomaru preferia deixar aqueles assuntos sob a jurisdição dela, de forma que apenas assistia à reunião de seu pedestal ao fundo do grande cômodo, atento a qualquer atitude hostil que pudesse detectar.

Mas a humana parecia perfeitamente à vontade entre todos, já que, apesar de serem youkais, sua origem humilde a permitia se conectar facilmente com as dificuldades e modo de viver daquele povo.

Rin recebia os grupos com um sorriso animado no rosto, entre uma bebericada de chá e outra, enquanto Miyuki enrolava para comer um bolinho de carne ao seu lado e Hayashi, sentado em seu colo, insistentemente brincava de puxar suas roupas.

— Então, senhora, há várias estações que minhas terras foram tomadas e minha família não tem mais onde cultivar.

Rin ouvia atentamente, mesmo tendo que passar seu bebê para outro braço de tempos em tempos quando ele arrumava alguma coisa para atrapalhá-la, como agora que começava a tentar puxar o enfeite de cabelo da irmã mais velha.

— Ah, eu ouvi sobre isso. — Ela comentou, franzindo o cenho. Não era a primeira reclamação daquele gênero que ouvia naquele dia. O governante antigo havia desapropriado as terras para construir um armazém de armamentos, ao que parecia.  — Não se preocupe, vou me lembrar de dar atenção à essa questão.

De início, muitas das pessoas ali pareciam acanhadas demais até para servirem-se das delícias oferecidas, mas, à medida que Rin os acolhia tão generosamente e com genuína preocupação, logo todos foram se mostrando mais e mais à vontade para falar livremente, até mesmo sobre suas vidas pessoais.

Sesshomaru observava a luz do sol diminuir gradualmente pelas janelas até um tom caloroso de laranja-vívido tingir os cabelos negros de sua humana em tons de luz que eram mais do que apropriados para ela. Ele suspirou discretamente ao fitá-la em uma fixação inquestionável.

Nunca deixaria de se surpreender com o quão maravilhosamente perfeita ela era, em todos os aspectos que pudesse imaginar. Sabia disso desde o momento em que havia tomado sua decisão de tê-la ao seu lado para aquela missão, mas, ainda assim, o admirava ver quão bem ela se saía.

Considerando que ele não pretendia governar sobre um bando de cadáveres, levara a ele dois meses inteiros para conquistar aquela cidade para si através da espada.

Em apenas um dia, Rin a havia conquistado de uma maneira completamente diferente.


Notas Finais


Fanart do capítulo (se é que posso chamar disso): https://live.staticflickr.com/65535/48032142296_e7965fa5c8_z.jpg

Então, agora temos mais um território e a Rin finalmente mostrando pra que veio haha
Temos mais algumas cenas fofinhas com os bebês que eu não resisti, mas o melhor de tudo pra mim é o Sessh todo com saudade do mozão <3


Espero que estejam gostando! Vou tentar revisar o próximo em menos tempo dessa vez, to atrasada porque to tentando terminar de escrever outra coisa .-.

Enfim, até mais ver!


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