História Enlace (Larry Stylinson - ABO) - XIII. Da pior decepção ao melhor amor

Estava na sala de espera do escritório de meu pai. Ao que tudo indicava, ele estava em um telefonema importante, o que já estava me fazendo esperar por quarenta minutos. Durante esse tempo, li dois artigos sobre gravidez que minha mãe havia mandado, mas devo confessar que teve o efeito contrário em mim, já que me senti ainda mais entediado do que quando apenas olhava para o nada. Quando ele finalmente apareceu para me receber, não parecia muito feliz e tinha uma ruga permanente em sua testa. 

– Harry. – Ele sorriu, abriu os braços para mim e eu me aconcheguei ali, recebendo um pouco de seu carinho. – Me desculpe pelo tempo que te fiz esperar, estava resolvendo um problema. 

– Sem problemas. – Sorri compreensivo, sabendo que ele era mesmo um homem bem ocupado. 

– Vamos comer donuts na cafeteria da esquina? – Ele sorriu ao lembrar de nosso ritual sagrado sempre que eu lhe fazia uma visita no trabalho. 

– Na verdade, eu vim para um encontro profissional. – Me afastei dele e ajeitei a postura, tentando parecer mais altivo. 

– Sua barriga está enorme. – Ele desviou o olhar para minha barriga, que nem estava assim tão grande, logo que ela se tornou mais visível. – Eu nem acredito que o meu bebê está carregando outro bebê. – Sua voz soou tão cheia de pesar que minha consciência pesou novamente por estar causando todas essas mudanças na vida de meus pais. Fiquei totalmente sem palavras e um silêncio horrível se instalou até que ele percebesse. – Você está lindo, Harold. – Me abraçou novamente e eu abri um sorriso fraco, sabendo que ele havia dito aquilo apenas para não me magoar mais. – Vamos até a minha sala ter essa conversa super profissional. 

Ele nos encaminhou até sua sala e eu me sentei na cadeira a sua frente, o que o fez olhar para mim admirado, já que eu geralmente corria para sentar em sua cadeira de chefe ou me jogava no sofá que havia no canto. Ele colocou uma xícara de chá à minha frente e se sentou em sua cadeira, olhando-me decidido. 

– Sr. Styles. – Comecei e ele segurou o riso. – Depois de muito pesquisar e de muitos estudos feitos, cheguei à conclusão de que sua empresa precisa de um funcionário como eu. – Disse sério.

– Oh! Você chegou à conclusão? – Ele disse divertido. – E por que eu deveria ter a honra de te contratar? 

– Obviamente não pelo fato de termos ligações sanguíneas e afetivas. – Mantive a pose séria. – Mas sim porque eu sou uma pessoa totalmente dedicada, que com toda a certeza irá ajudar sua empresa a prosperar. 

– Você é o máximo, Sr. Styles. – Ele disse divertido, caindo na risada logo depois. 

– Isso quer dizer que eu estou contratado? – Perguntei esperançoso. 

– Claro que não. – Senti toda a minha animação se esvair. – Filho, você está grávido. – Ele disse tentando soar compreensivo. 

– E o que isso muda? – Minha pergunta deixou transparecer toda a irritação que eu sentia. 

– Isso muda tudo! - Sua voz era calma, mas ele foi tão enfático que só fez minha irritação crescer. – Eu nunca achei um problema ter um filho ômega. – Minha incredulidade só aumentou. Que tipo de pessoa acharia isso um problema? – Por isso sempre imaginei que você ajudaria sua irmã a conduzir a empresa. Porém, para meu total desgosto, Gemma tomou gosto pela profissão de Robin e não pela minha. Mas tudo bem, eu não conseguiria segurá-la comigo mesmo. Então todas as minhas esperanças foram para você, Harry. Eu estava realmente disposto a te dar um emprego aqui e mostrar a você o quanto o marketing e a publicidade podem ser fascinantes, mas tendo um filho, as coisas mudam. 

– Você tem dois filhos. – Eu sibilei irritado. 

– Mas as coisas são diferentes para os ômegas. – Bufei. – Olha, Harry, eu aceitei sua decisão de ter esse bebê e acredite, estou feliz que vou ser avô, então é claro que eu quero te ajudar, mas não sei se posso fazer isso te dando um emprego. 

– Mais cedo ou mais tarde eu iria ter filhos. Se não ao dezesseis, aos vinte ou trinta e seis. – Argumentei irritado. – E eu estaria trabalhando aqui, já que você decidiu que me fará gostar desse lugar. Você é meu pai, se você não me der um emprego, quem dará? – Olhei para ele incrédulo. 

– É aquele garoto, não é? – Eu olhei para ele confuso. – Por isso eu queria que você não tivesse esse bebê. Aquele garoto Louis é um irresponsável, é claro que ia te deixar ou nem se importar com o filho...

– Pai, pelo amor de Deus! – Eu levantei da cadeira irritado. – Isso não tem nada a ver com Louis! Tem a ver comigo! 

– É claro que tem. Você merece alguém que tenha condições e cuidar de você e do seu bebê, te dar uma vida estável em que você não tenha que se preocupar com nada e...

– Alguém como Nathan? – Olhei para ele irritado. – Acha que eu me importo com a posição que ele ocupa nessa empresa ou com quanto dinheiro ele tem?  

– Pelo menos com Nathan você não ia precisar ficar se humilhando em troca de um emprego.

– Me humilhando? Pedir um emprego a meu próprio pai agora é me humilhar? – Minha irritação se fez presente de forma avassaladora. – Sabe como eu me sentiria humilhado? – Fiz uma pergunta retórica. – Ficando trancado em uma casa imensa o dia todo, tendo as empregadas como companhia e cuidando dos bebês enquanto meu maridinho trabalha para me sustentar. – Cuspi todas as palavras, me recusando a acreditar que esse era o sonho de meu pai para mim agora, já que ironicamente se transformou em meu pior pesadelo. – Louis, que por sinal é meu namorado e o pai do meu filho, tinha razão, você é igual ao pai dele. Uma droga de alfa que deixa os filhos aos cuidados do ômega e acha que dar dinheiro a ele te faz pai. – Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu a limpei. – Nunca estive tão decepcionado em toda a minha vida. – Finalizei saindo da sala que eu costumava amar visitar totalmente dominado pelos sentimentos, chorando e me sentindo totalmente perdido.

Se meu pai não estava disposto a ajudar o filho grávido e dar-lhe um emprego, quem estaria? Depois de anos de luta para que os ômegas conquistassem seu espaço na sociedade, ainda era assim que as pessoas os tratavam? Como se gerar um bebê fosse uma prisão? 

– Harry, espera... – Ele me chamou, mas eu o ignorei, continuando a caminhar. – Filho! 

Estava caminhando rápido pelo corredor quando esbarrei em alguém. Mas a pessoa foi rápida o suficiente para me segurar antes que eu caísse. 

– Ei. – A mão grande ergueu meu rosto e eu pude ver Nathan olhando preocupado para mim. – O que aconteceu, baby? 

– Nada. – Me afastei e sequei as lágrimas. 

– Você está tremendo, Harry. – Ele segurou minha mão. – Vem, vamos tomar uma água. – Ele me puxou para sua sala e me fez sentar em um sofá que havia ali, me trazendo um copo de água logo depois. – O que houve? – Disse depois que viu que eu já estava mais calmo. 

– Problemas paternos. – Expliquei brevemente.

– Que tipo de problemas e com qual pai? - Olhei para ele confuso e ele apontou para minha barriga, o que me fez rir. 

– Com meu pai. – Suspirei. 

– Des é sempre tão compreensivo, o que aconteceu? – Ele olhou para mim confuso.

– Sim, ele é totalmente compreensivo, menos com o filho ômega e grávido. Isso porque eu vim pedir um emprego, imagina se não fosse algo importante.

– Você quer um emprego? – Ele disse surpreso e eu apenas assenti, não querendo aumentar a conversa e ter que ouvir de novo que eu sou um ômega grávido e não posso trabalhar. – Eu posso te ajudar com isso.

– Como assim? – Olhei para ele. 

– Meu assistente vai casar e morar em outra cidade, eu teria que contratar alguém de qualquer modo, por que não você? 

– Está falando sério? – Senti minha animação crescer novamente. 

– Claro que sim, tenho certeza que será um ótimo assistente. – Ele sorriu e eu fiz o mesmo. 

– Não, espera. – Meu sorriso morreu. – Não quero te deixar mal com meu pai. 

– Deixa que com Des eu me resolvo. Concentre-se apenas no fato de que irá começar a trabalhar em duas semanas.

– Você tem certeza?

– Claro. Vai ser ótimo ter você por perto. – Nathan sorriu para mim e um frio percorreu minha espinha, mas do tipo que Louis me causava, foi mais intenso, mais temeroso, não me fez sentir bem. Por isso, me levantei e fui até a janela, afastando-me dele.

– Eu tenho que assinar um contrato? – Disse sorrindo, tentando disfarçar meu desconforto.

– Claro, eu tenho que prepará-lo. – Ele disse solícito. – Eu te ligo quando ele ficar pronto e a gente se encontra para conversar sobre tudo o que você precisa saber.

– Tudo bem. – Caminhei até ele e estendi a mão, como se faz quando se firma um acordo. – Espero seu telefonema.

– Claro. – Ele também apertou minha mão e sorriu.

Me encaminhei até a saída e me despedi com um aceno, encontrando-o me olhando intensamente com um sorriso nos lábios, abri um sorriso envergonhado e parti.

No caminho peguei meu celular e mandei uma mensagem para Louis e Niall convidando-os para jantar em minha casa em comemoração. Poucos segundos depois Louis me ligou.

– Me ligando no meio do serviço. Que feio, Sr. Tomlinson. – Eu atendi fazendo um falso tom de repreensão.

– Saiba que estou em meu intervalo, Sr. Styles. – Ele riu do outro lado. – Pelo bom humor vejo que a conversa com seu pai foi boa.

– Na verdade, foi péssima. – Suspirei. – Lou, porque nossos pais parecem querer dizer o que temos que fazer o tempo todo. Meu pai nunca tinha sido assim comigo antes.

– Acho que a partir do momento que você ficou grávido, eles acham que sua vida deixou de ser sua. – Ele disse com pesar. – Eu mesmo fiz isso com você, não é? – Confessou.

– Isso é uma droga, sabia? E eu só te perdoei porque você se redimiu.

– Eu sei, me desculpe. – Ele suspirou também. – Eu nem imagino o quão ruim deve ser ter alguém querendo te dizer o que fazer ou não, aonde ir, como ir, com quem ficar. E acho que isso só vai piorar quando o bebê nascer, porque aí todo mundo vai querer te ensinar a cuidar, como se você precisasse de um curso de todos os outros para ser o melhor pai ômega do mundo. – Ele estava mesmo indignado com tudo isso, o que me fez esconder um sorriso feliz por ver que ele entendia tudo o que eu estava passando. – Droga, Hazz. Eu me odeio por ter feito isso com você! Você tem total permissão para dar na minha cara se eu fizer isso de novo. – Ele estava irritado agora e eu gargalhei.

– Você pode dizer isso de novo para que eu grave? Quero ter provas disso. – Ele riu também. – Mas você tem mudado em relação a isso, por isso nós estamos namorando. Eu acabei entendendo que você só queria o nosso bebezinho. E agora eu o quero também. – Abri um sorriso e coloquei a mão sobre a barriga.

– Eu também queria você. Queria a minha família. – Meu coração falhou uma batida e meu sorriso aumentou. – Eu te amo, Hazz. – Fechei os olhos e suspirei. Era a primeira vez que ele me confessava seus sentimentos. – Estraguei tudo dizendo isso pelo telefone, não é? – Ele riu.

– Você pode dizer isso para mim de novo hoje à noite. Aí eu posso pular no seu colo e te beijar como eu quero fazer nesse exato momento. – Ele riu do outro lado e eu ri também.

– Tenho que voltar a trabalhar. – Ele se despediu. – Até a noite, Hazz.

– Até a noite. – Mordi o lábio em expectativa, ponderando se deveria ou não dizer o que estava martelando em minha mente e fazendo meu coração bater mais forte. Então resolvi apenas parar de pensar e dizer. – Eu te amo.