História Enquanto você dormia - Aprendendo a viver como humana

No capítulo anterior:

- Eu ouvi o que o senhor tinha para me dizer e agradeço a preocupação, mas Ichigo e eu seguimos por caminhos diferentes e não tem mais volta. – ouvir o que Isshin tinha para dizer mudou a forma como ela via tudo em relação ao ex-noivo e a amiga, porém Rukia não voltaria atrás em sua palavra, apesar de tudo, Inoue ainda era uma pessoa de quem gostava muito e não queria ser a causadora de seu sofrimento.

- Só peço que reflita em pouco. – Isshin não aguentava mais ver o sofrimento do filho. Durante sete anos ele viveu a agonia de ver a pessoa que amava em coma e agora que ela finalmente tinha acordado era obrigado a ficar afastado dela. Perguntava-se quando esse martírio terminaria.

O restante da tarde foi bem agradável, Rukia se divertiu muito com as palhaçadas de Isshin e a animação de Yuzu. Estava tão feliz pela visita. A família Kurosaki era a base que Rukia tinha de como era uma família feliz.

Aprendendo a viver como humana

A bela morena de olhos azul-violeta andava de um lado para o outro inquieta. Já tinha uma semana que havia se mudado para o apartamento que Byakuya lhe dera, isso deveria ser motivo para ficar feliz, mas infelizmente as coisas não iam tão bem como ela gostaria.

Os seus dias eram tediantes, porque ela não tinha absolutamente nada para fazer. A família Kurosaki não podia estar tão presente em sua vida, pois as meninas estavam na faculdade e trabalhavam e Isshin tinha suas obrigações em sua clinica. Seu Nii-sama e Renji se esforçavam muito para vir  vê-la, mas também tinham uma vida corrida. A única pessoa que a visitava quase todos os dias era Seiji, mas ainda assim Rukia se sentia sozinha. Sempre teve sua rotina agitada lutando contra hollows e agora teria de se acostumar a vida pacata de uma humana. Ainda buscava seu lugar nesse mundo que já conhecia há algum tempo, mas que agora lhe parecia totalmente desconhecido.

Byakuya pagava todas as suas contas para que a irmã tivesse tudo do bom e do melhor. Entretanto aquela nunca foi a vida que a bela desejou para si. Mas não tinha como reclamar, estava viva e mesmo com tantas coisas contra ela ainda tinha pessoas ao seu lado que a ajudavam a seguir em frente isso era um bônus que o destino lhe dera.

Sentou-se no sofá e respirou fundo ao ver que o relógio ainda marcava oito da noite. Se estivesse na casa de Ichigo eles estariam jantando. A hora das refeições lá era sempre divertida, e Rukia gostava muito das brigas de Ichigo com seu pai. Era o ápice de seu dia na casa dos Kurosaki.

Ah Ichigo... Como não pensar nele? Como não se lembrar dos momentos bons que passou ao seu lado, seus beijos, abraços. Se fechasse os olhos poderia jurar que escutava a voz rouca dele dizer que a amava. Não tinha como negar que sentia falta do jovem e seu coração chegava a doer quando a imagem de seu rosto vinha em sua mente.

Há uma semana Inoue havia dito que Ichigo tinha dado um fim em seu relacionamento e ela afirmou que ele procuraria Rukia para tentar se reconciliar, mas nem sinal do jovem médico. A amiga se enganou.

Se a bela dissesse que não estava frustrada por ele não aparecer estaria mentindo. Ela vivia em um conflito interior muito grande. Queria voltar a vê-lo, sentia saudade do homem que amava, porém, o mais sensato era se manter longe do rapaz para tentar esquecê-lo e ao que parece Ichigo tinha facilitado as coisas, talvez tivesse desistindo dela e seguiria em frente com sua vida.

- Droga... – disse irritada. Queria tirar Ichigo de seus pensamentos, mas como faria isso? A última vez que ela o viu as palavras do jovem tocaram seu coração. Rukia realmente acreditava que o jovem a amava, entretanto para eles não havia mais esperança.

Foi até a janela. A noite estava linda e tinha pessoas andando pelas ruas. Pegou seu casaco e decidiu caminhar um pouco já que estava sozinha e sem nada para fazer e ao julgar por sua inquietação não conseguiria dormir tão logo.

-

-

-

Realmente fora uma excelente idéia sair para caminhar. A noite estava tão linda, o céu estrelado e a lua cheia deixava o cenário ainda mais perfeito para os casais que passeavam de mãos dadas pelas ruas de Karakura.

Rukia não tinha destino certo, apenas seguia até onde suas pernas a levariam até que se deparou com uma imensa área gramada com alguns brinquedos de playground e bancos de madeiras. Aquele lugar não era estranho para ela.

A bela sentou-se em um dos bancos e ficou olhando tudo ao seu redor até que finalmente percebeu onde estava. – Aqui ficava o parque onde Ichigo me trouxe na noite que antecedeu a luta com o hollow. – Estava surpresa por sua memória inconsciente a ter levado aquele lugar onde foi tão feliz com o jovem.  Mesmo fazendo um esforço grande para esquecê-lo sua mente e coração não queriam obedecer.

- Se lembra deste lugar? – ela estava tão distraída que não notou o jovem chegar próximo de si.

- Ichigo? – o coração acelerou tão forte no peito – O que faz aqui? – indagou após dar um longo suspiro e se acalmar.

- Eu vi quando saiu de casa e vim atrás de você. – ele estava de pé ao lado dela com as mãos no bolso.

- E posso saber o que fazia próximo a minha casa? – fala meio irritada, mas por dentro estava feliz, sabia que ele deveria estar esperando por ela, isso era meio ridículo, mas o que podia fazer? Conseguiria enganar a todos a sua volta menos a si mesma.

- Sempre que saio do hospital passo por seu prédio na esperança de te ver pelo menos de longe e hoje tive sorte. – fala de cabeça baixa. Estava triste por não poder abraçar Rukia, sentia tanta falta dela.

- O parque... – ela fala baixo.

- Como? – ficou sem entendê-la.

- Me perguntou se lembrava que lugar é esse. Ficava aqui o parque que me trouxe antes do acidente com o hollow. – evitava olhar em seus olhos, tinha medo de se perder nos castanhos que sempre lhe seduziram.

- Foi muito bom passar aquele dia ao seu lado. Uma pena que não temos como voltar atrás. – balbucia.

- Voltar atrás? – ela finalmente o fita, mas ele ainda permanecia de cabeça baixa.

- Se pudesse voltar no tempo nunca teria deixado você sair do meu lado no dia seguinte. Eu acordei com você em meus braços, deveria ter te prendido neles para sempre. – Abaixa a cabeça. Pensar naquele dia era arrasador para o jovem - Teria ido com você na casa do Ishida até terminar de provar o vestido. Não teria me descuidado na luta contra o hollow e talvez hoje... estivéssemos felizes juntos. – a morena conseguia sentir a tristeza de Ichigo através de suas palavras e isso a deixava de igual modo.

- A vida não é feita de talvez ou porquês, Ichigo. Mas sim de momentos e escolhas e eu escolhi por sua vida ao invés da minha. Não precisa se sentir culpado pelo que aconteceu, eu não me arrependo do que fiz e faria quantas vezes fossem preciso para lhe proteger. - Ela toca na mão dele com a ponta dos dedos - As coisas não aconteceram como imaginávamos e infelizmente não tem como mudar esse fato. Agora é cada um seguir por seu caminho e tentar ser feliz.

Ichigo segura forte em sua mão e se agacha na frente dela ficando com seu rosto equiparado ao da morena. - Não quero seguir por um caminho diferente do seu, Rukia. Isso não é justo. - a olhava intensamente.

A nobre se sentiu balançada por tê-lo tão próximo de si e olhar naquele lindo castanho não ajudava nem um pouco. - A vida nem sempre é justa, e quanto mais cedo entender isso menos vai sofrer. - Toca de forma tímida no rosto dele. – Lamento... Ichigo.

- Se desse outra oportunidade para nós tenho certeza que desta vez daria certo. - segura a mão dela contra seu rosto.

- Esta falando isso porque se separou da Inoue né. - ela puxa a mão, não podia se deixar seduzir.

- Como ficou sabendo? Não falei para ninguém. – se surpreende, nem mesmo sua família sabia deste fato.

- Inoue.

- Ah claro, nem deveria me surpreender. Até posso imaginar o que ela lhe disse. – diz em completo desânimo.

- O que ela disse não tem importância, não mudou em nada a opinião que já tinha sobre nós. Não existe mais possibilidade de eu reconsiderar - ela estava sendo verdadeira. Não construiria sua felicidade à custa da infelicidade de ninguém.

- Tem algo que eu possa fazer para que você reconsidere? - as palavras da morena foram como um balde de água fria no pouco de esperança que ainda tinha de voltar com Rukia.

- Volta para sua mulher e tente ser feliz com ela, não tem nada que vai me fazer mudar de ideia. - Rukia se levanta na intenção de ir embora , mas  Ichigo segura em seu braço a impedindo - O que pensa que está fazendo, Ichigo? - fala irritada.

Ele ignora sua irritação e a abraça. Uma de suas mãos estavam na cabeça da bela a fazendo ficar recostada em seu ombro e a outra mão nas costas dela. O jovem sentia o perfume de Rukia invadir suas narinas, o coração parecia uma escola de samba de tão descompensado que se encontrava. Com a mão que estava nas costas dela Ichigo a pressionava ainda mais contra seu corpo, tinha tanto medo de largá-la e nunca mais tê-la em seus braços.

- Nunca vou conseguir ser feliz sem você, Rukia. – depois de algum tempo abraçados ele finalmente falou algo.

- Então vamos ter que encontrar algo que possa se assemelhar a felicidade. – os olhos dela estavam fechados e os braços envoltos na cintura do jovem. Rukia se sentia tão bem quando Ichigo a abraçava era uma segurança que nunca havia sentido em lugar nenhum. Ela sentia-se como se ele fosse aquele algo que estava faltando quando estavam longe um do outro, eles se completavam.

Ele deslizou sua cabeça nos cabelos dela até ficar a milímetros de seu rosto, estavam tão próximos que seus narizes se tocavam. – Se não posso ficar com você, prefiro viver sozinho. – sussurra.

- Fala isso agora, quando colocar as idéias no lugar e entender que ficarmos separados é o melhor a se fazer vai seguir com sua vida como fez enquanto eu estava dormindo. – era tão difícil ter a boca tão próxima da dele e não poder beijá-la. A morena tinha que usar todo seu alto controle para conseguir resistir.

- Isso que tá falando é um monte de besteiras e vou te fazer mudar de idéia.  - tentou beijá-la, mas a nobre virou o rosto e os lábios dele tocaram em sua bochecha. – Não quer me beijar? – segura o rosto da bela a obrigando a fitá-lo.

- Não! – fala firme.

- Mentirosa! Eu conheço muito bem esses olhos. Sempre me olhava desta forma quando me pedia para te beijar. – ele toca nos lábios dela com a ponta dos dedos e logo em seguida as mãos discorrem pelo rosto da nobre lhe fazendo carinho.

- Isso não faz diferença. – ela tentou sair de seus braços, mas Ichigo a segurou e não permitiu.

- Me dá um beijo? – ele pediu com um tom tão triste na voz, mas Rukia não podia se deixar vencer senão sempre se veria envolvida com o jovem e ela queria mesmo dar um ponto final em tudo aquilo.

- Não, Ichigo. Já disse que nossa relação vai ser apenas de amizade, não podemos ultrapassar esse limite. – mas uma vez ela tentou sair e ele a impediu segurava forte em seu braço.

- Lembra quando você me pedia um beijo? Eu achava tão lindo. – apesar de ter um meio sorriso no rosto ele não estava feliz, era doloroso demais ser rejeitado pela mulher que amava.

- Para você isso aconteceu há sete anos, mas para mim é como se fosse há algumas semanas então é claro que me lembro. – tentava não olhar para ele senão suas defesas seriam vencidas.

- Será que nunca mais vou ouvi-la pedir novamente?

Agora ela voltou a fitá-lo. Os olhos do jovem estavam tomados por tanta tristeza. Doía e muito, ela queria vê-lo feliz mesmo que fosse com outra pessoa. Então se viu obrigada a dizer o que ele queria ouvir quem sabe assim não teria um sorriso no rosto daquele que tanto amava, mesmo sabendo que era uma decisão arriscada de se tomar.

 – Me dá um beijo, Ichigo? – sussurra.

O coração do jovem quase saiu pela boca ao ouvi-la novamente lhe pedir um beijo como ela fazia antigamente. Mas... Aquele olhar não transparecia a felicidade que ele sempre via em seus olhos quando ela lhe fazia esse pedido. Talvez Rukia tivesse mesmo razão, eles teriam que se conformar em viver apenas como amigos.

Ichigo dá um beijo na testa dela e solta seus braços.

- Você sabe que nunca faria nada que não fosse bom para você também. Seus lábios dizem uma coisa, mas seus olhos não confirmam. – Se afasta um pouco dela, abaixa a cabeça e logo em seguida volta a fitá-la. - Não pensa que vai se livrar de mim tão facilmente... Rukia. Ainda não desisti de nós.  – ele coloca a mão no bolso e sai andando para longe da bela morena que ficou sem palavras diante da atitude inusitada de Ichigo. 

Continue...