História Enquanto você dormia - Viver o hoje porque o amanhã não nos pertence

No capítulo anterior:

 

- Eu sou uma pessoa ruim né, Ishida-kun? – murmura.

 

- Claro que não. – Levanta o queixo dela para fitá-la. A menina estava com o rosto banhado em lágrimas. – Você ainda é aquela garota que eu amei desde o primeiro dia que a vi, sei que é. Só está perdida em seus próprios sentimentos.

 

- Me ajuda, Ishida-kun. Por favor... me ajuda... - Ela o abraça afundando o rosto na camisa dele e chora um choro tão sofrido que faz o coração do jovem ficar apertado no peito ao ver a mulher que ama sofrendo tanto. 

 

- Não se preocupe que vou cuidar de você, Inoue-san. Sempre estarei ao seu lado.

 

O Quincy não a abandonaria e faria de tudo para aliviar aquela dor, pois a amava, sempre amou e sua maior alegria era vê-la sorrindo e feliz.

 

Viver o hoje porque o amanhã não nos pertence

 

Rukia estava parada de frente aquela porta há algum tempo. Ela ameaçava bater e logo em seguida se arrependia e seguia ao elevador para ir embora, mas acabava voltando e se via novamente parada de frente ao apartamento de Kurosaki Ichigo. Era um conflito interno tão grande, sabia que estava cometendo um erro em ir vê-lo, entretanto sua preocupação ao saber por Seiji que ele não estava indo trabalhar falou mais alto que qualquer razão. Ela queria tanto bem a pessoa que provavelmente encontrava-se do outro lado da parta.

 

Algumas horas antes:

Rukia tinha aceitado o convite de Seiji para almoçarem juntos. Já havia alguns dias que ela não saia com ele. Estava incomodada pelo jovem ainda manter esperanças de uma possível relação amorosa com sua pessoa. Não queria alimentar o sentimento do amigo.

 

- Como assim Ichigo não tem aparecido para trabalhar? – fala em tom alto.

 

Na mesma hora Seiji percebe que fez uma grande besteira em tocar nesse assunto. Mas ele também estava preocupado. Durante os dois anos que trabalhava naquele hospital nunca viu ou soube que Ichigo faltou ao trabalho e segundo os murmurinhos que corriam nos corredores  já tinha quatro dias que ele não aparecia.

 

- O que fiquei sabendo foi isso que lhe disse, Kuchiki. Faz alguns dias que ele não aparece e seus pacientes estão sendo atendidos pelo doutor Ishida.

 

- Não deve ser nada grave. – tentou disfarçar sua preocupação, mas não conseguiu Seiji já a conhecia muito bem.

 

Durante toda à tarde Rukia ficou pensativa sobre o que o amigo havia lhe falado. Ela até pensou em ir falar com Ishida, com certeza ele teria como informá-la sobre o “desaparecimento” de Ichigo. Mas, achou melhor não se envolver.

 

Entretanto, no final de seu expediente ela o encontrou no corredor e não conseguiu se conter e acabou perguntando. Tentou ser bem discreta para não aparentar que estava preocupada.

 

- Fiquei sabendo que Ichigo não tem vindo ao trabalho. Sabe alguma coisa sobre isso?

 

- Não sei muito. Só que ele está em seu apartamento. – mentiu. Ele mesmo quem deu uma semana de folga para Ichigo. O rapaz estava abalado com os últimos acontecimentos e não tinha condição de trabalhar. Ele achou que uma visita de Rukia o faria muito bem já que quando eles se falavam o jovem sempre perguntava por ela.

 

A morena ficou mais preocupada ainda. Até onde sabia, Ichigo estava morando com Inoue. Se nem mesmo Ishida que era seu amigo sabia porque do sumiço, a coisa deveria mesmo ser grave.

 

Ao chegar em casa ela fez de tudo para esquecer Ichigo, mas infelizmente não conseguiu. Movida por um impulso Rukia foi até a casa dele, não conseguiria dormir tranquila sem ter certeza que o jovem estava bem.

 

Tempos atuais.

 

- Droga...O QUE ESTOU FAZENDO?  Eu deveria ter ido à casa do Isshin e não vindo aqui, lá teria informação com certeza. – resmunga desnorteada. A nobre fez o trajeto entre a porta do apartamento de Ichigo  e a saída para longe dali algumas vezes, mas quando ela finalmente decide que estava fazendo uma besteira sem tamanho e dá as costas para ir embora a porta se abre, a morena escuta aquela voz grave a chamar:

 

- Rukia?

 

- Ichigo... – ela se vira para ele e fica surpresa porque não esperava que ele abrisse a porta repentinamente.

 

- Ia embora sem falar comigo? – fica intrigado. Porque Rukia vem a sua casa e desiste da visita quando já estava de frente a porta?

 

- E-Eu não vim a sua casa. – fala meio irritada para disfarçar seu constrangimento por ter sido flagrada na porta dele.

 

- Veio fazer o que então? – arqueia as sobrancelhas em desconfiança. Até parece que ele era idiota em acreditar em algo tão estúpido.

  

- Isso não é da sua conta. – Vira o rosto para o lado e cruza os braços. – E você? O que faz aqui? Me espionando?

 

- Não exatamente. Estava na janela e a vi entrando no prédio. Fiquei no hall de entrada esperando você tocar a campainha e vi como estava agitada. – fala com um sorriso no rosto.

 

- E viu como? Através da parede? – não conseguia esconder sua irritação, tinha vontade de tirar o sorrisinho do rosto de Ichigo com um soco.

 

- Claro que não, sua boba. Consegui ver a agitação que estava por sua sombra debaixo da porta.

 

Ela ficou calada. Não tinha mesmo como negar o que foi fazer ali, nem um álibi decente a bela tinha. Mas por outro lado valeu a pena toda aquela confusão, seja lá o motivo que fez Ichigo faltar ao trabalho não era de doença, ele parecia vender saúde.

 

- Vou indo. – ela queria sair dali o mais rápido possível, a forma como Ichigo a olhava estava a deixando desestabilizada.

 

- Espera, Rukia. – O ruivo segurou em sua mão antes que ela se afastasse. – Você nem falou o que veio fazer aqui.

 

Ela ficou o encarando pensando em uma mentira para contar, mas...

 

- Fiquei sabendo que tinha quatro dias que não aparecia no hospital. Só vim ver se estava tudo bem. – péssima idéia. Deveria ter mentido, pois teve certeza disso ao ver o sorriso no rosto de Ichigo. Não queria dar falsas esperanças para ele.

 

- Quer entrar? Conversamos lá dentro. – ele apontou para a porta, mas ainda segurava na mão dela.

 

- Melhor não. Já estou vendo que você está muito... Ei, ichigoo... – ele nem esperou ela terminar e a arrastou para dentro de sua casa.

 

Rukia ficou olhando o jovem trancar a porta e colocar a chave no bolso. O que ele tinha em mente?

 

- Não fica me encarando como se eu fosse um tarado. Isso é para garantir que vamos ter uma conversa civilizada sem você tentar fugir. – fala se divertindo com a expressão de assustada e irritada de Rukia.

 

- Você é um idiota, não deveria ter perdido meu tempo vindo te ver. – vira o rosto para o lado emburrada.

 

- Não faz esse bico, fica ainda mais linda. - implica com ela.

 

- Acho que me equivoquei ao achar que tinha algum problema, está feliz até demais para meu gosto. – na mesma hora que Rukia fala ela nota que a expressão de Ichigo mudou.

 

- Vou fazer um chá para nós. – já não era mais o mesmo cara sorridente.

 

Ela o acompanha até a cozinha e se senta na cadeira que ficava ao lado do balcão. O que será que aconteceu para Ichigo estar em sua casa novamente? Queria perguntar, mas achou melhor se calar, aquela situação já estava desagradável demais.

 

Ele a serviu e ficou de pé do outro lado do balcão. Ambos tomavam seu chá sem trocar palavras ou um olhar que fosse. Ichigo sentia-se feliz por Rukia ter vindo até sua casa, significava que ela ainda se importava com ele. Já a nobre por sua vez estava se achando uma idiota por se preocupar com alguém que aparentava estar ótimo.

 

Ela levantou a cabeça e o olhou. Ichigo assoprava o líquido quente. Pensando bem, ele não aparentava estar tão bem assim, ela o conhecia até demais para notar que algo o estava incomodando.

 

- Não foi trabalhar esses dias por algum motivo grave? Estava doente? – ela finalmente conseguiu falar o que estava engasgado em sua garganta.

 

O ruivo levanta a cabeça e se depara com aqueles lindos olhos violetas o analisando. Fica por alguns segundos a encarando. Para Rukia não deve ter sido nada fácil estar em sua casa quando ela mesma sugeriu que eles nunca mais se vissem, entretanto ainda assim ela estava ali. Aquela linda morena ainda o amava e a prova disso era sua preocupação e o brilho que havia em seus olhos quando o fitava.

 

- Não tinha cabeça para trabalho. Faz quatro dias que voltei para casa e não foi nada fácil ver Inoue tão triste, e-eu... – Abaixa a cabeça. – Me sinto culpado por ter deixado as coisas chegarem a esse ponto. – fala visivelmente arrasado.

 

Então ele tinha se separado da ruiva novamente. Sentiu-se a pior pessoa do mundo por se alegrar com essa noticia, a amiga deveria estar devastada, mas ela não pode evitar, aquela noticia soo tão bom. Era um sentimento que gritava dentro de si.

 

- As coisas nem sempre saem como planejamos, mas se acha que essa decisão é a melhor para você e ela então não tem porque se lamentar, com o tempo as coisas se ajeitam. – Rukia sabia que Ichigo se culpava demais por uma situação que ele não era culpado sozinho, se chegaram a esse ponto a ruiva tinha sua parcela de culpa também.

 

- Pensei que achasse que o melhor era eu ficar ao lado de Inoue. – Ichigo se surpreende com o que a morena falou.

 

- Achei sim, mas se não está dando certo não é justo uma pessoa se sacrificar para o outro ser feliz.  

 

Ele a olha intrigado. – Percebe o que acabou de falar?

 

- Hã?

 

- Você tá se sacrificando para outra pessoa ser feliz.

 

Ela abaixa a cabeça. Ichigo tinha razão. Para não magoar a amiga Rukia abriu mão de sua relação com Ichigo e isso a deixou sem chão, ainda não tinha conseguido se acostumar à vida sem ele ao seu lado. Será que tinha tomado a decisão mais sensata?

 

- Podemos recomeçar novamente, Rukia. E desta vez sem nos preocupar com mais ninguém além de nós. – ele se aproxima dela e coloca sua mão no rosto da morena que o olhava com os olhos arregalados.

 

- Ichigoo... – sussurra.

 

- Você ainda me ama não é? Sei que ama. Vamos pelo menos tentar, Rukia. – seu dedo polegar circulava os lábios dela.

 

Ela fecha os olhos e deixa se levar pelo som da voz do ruivo que fazia seu corpo inteiro se arrepiar. A mão dele em seus lábios era gostoso e o corpo do jovem quase junto ao seu a fazia se sentir aquecida, era um calor tão bom que tinha vontade de se aninhar em seus braços e nunca mais sair.

 

- Ichigo... – abre os olhos -... Eu tentei ficar longe de você, tentei muito mesmo, mas... eu não consigo. – a última frase saiu em um murmúrio.

 

- Então me deixa cuidar de você, Rukia. Eu também não consigo mais seguir sem você. - Rukia o abraçou. Sua cabeça estava encostada na curvatura do pescoço masculino.

 

- Você é tão cheiroso. – ela queria mudar o foco da conversa, mesmo sabendo que nunca conseguiria ficar longe de Ichigo ainda não se sentia a vontade em ficar com ele, só conseguia imaginar em como Inoue sofreria.

 

Ichigo roça seu nariz no topo da cabeça dela e sente o aroma gostoso que seus cabelos tinham. – Você também é. Eu adoro seu cheiro. – ela levanta a cabeça e seus narizes se encostam. – Sei que ainda não consegue tomar uma decisão agora e eu realmente entendo. Entretanto... não vou mais desistir de você porque eu te amo e sei que sou correspondido.

 

- Ichigo eu...

 

Ele coloca o dedo nos lábios dela não a permitindo falar.

 

- Rukia, quando eu te pedi em casamento achei que teríamos a vida toda pela frente. E-Eu... fiz tantos planos. Sonhei em como seria viver ao seu lado e quando acordasse todos os dias a primeira coisa que veria seria seu rosto. Mas você entrou em coma e o destino me mostrou que nem sempre temos a vida toda pela frente. – Encosta seus lábios ao dela delicadamente. – Consegue perceber o tempo que estamos perdendo com esse vai e volta? Eu quero viver o hoje com você, Rukia, porque o amanhã para mim é desconhecido.

 

As palavras de Ichigo preenchiam o coração da nobre. Ela o olhava intensamente sentido o baque de cada sílaba pronunciada e ele tinha mesmo razão, talvez não teriam a vida toda pela frente e ela estava desperdiçando o tempo que tinha para viver esse amor.

 

Continua...